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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

CONSTITUCIONAL

MÓDULO FEVEREIRO – 2024 – DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Coordenador:

Flávio Martins

Tutora:

Thaís Minke Maron


SEJAM BEM-VINDOS(AS)!

Prezados alunos, sejam muito bem-vindos a mais um módulo da Pós-


Graduação em Direito Constitucional do Curso Damásio, coordenado pelo
professor Flávio Martins.

O tema deste módulo é DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.


Dentre outros temas, trataremos sobre:

• Teoria Geral e Direitos Individuais


• Direitos individuais: intimidade, inviolabilidade, reunião associação e fake
news
• Direitos individuais
• Direitos Individuais (Remédios Constitucionais)
• Direito de Nacionalidade
• Direito à Igualdade, Não discriminação, Dignidade e Liberdade e Direitos
Sociais
• Direitos Políticos

Esperamos que vocês aproveitem bem esse material e as aulas do curso.

Ótimos estudos.
SUMÁRIO

1. TEORIA GERAL E DIREITOS INDIVIDUAIS .................................................. 4

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................... 4


LEGISLAÇÃO ..................................................................................................................... 6
JURISPRUDÊNCIA ............................................................................................................. 6
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ........................................................................ 8
2. DIREITOS INDIVIDUAIS: INTIMIDADE, INVIOLABILIDADE, REUNIÃO
ASSOCIAÇÃO E FAKE NEWS .......................................................................... 10

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 10


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 12
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 12
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 17
3. DIREITOS INDIVIDUAIS ................................................................................ 18

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 18


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 19
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 19
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 21
4. DIREITOS INDIVIDUAIS – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS ..................... 22

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 22


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 22
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 23
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 27
5. DIREITO DE NACIONALIDADE .................................................................... 28

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 28


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 30
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 30
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 33
6. DIREITO À IGUALDADE, NÃO DISCRIMINAÇÃO, DIGNIDADE E
LIBERDADE E DIREITOS SOCIAIS .................................................................. 35

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 35


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 37
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 37
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 45
7. DIREITOS POLÍTICOS ................................................................................... 47

NOÇÕES GERAIS ............................................................................................................. 47


LEGISLAÇÃO ................................................................................................................... 48
JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 48
INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR ...................................................................... 55
1. TEORIA GERAL E DIREITOS INDIVIDUAIS

A Constituição Federal, em seu título II, classifica o gênero direitos e


garantias individuais nas seguintes espécies:
• Direitos e deveres individuais e coletivos;
• Direitos sociais;
• Direitos de nacionalidade;
• Direitos políticos;
• Partidos políticos.

Importante esclarecer que, conforme entendimento do STF, os direitos e


os deveres individuais e coletivos não se restringem aos previstos no art. 5⁰ da
CF, podendo ser encontrados por todo o texto da Constituição, de forma
expressa ou decorrente.

São exemplos de direitos individuais:


• Direito à vida – art. 5⁰, caput;
• Princípio da igualdade – art. 5⁰, caput, I;
• Princípio da legalidade – art. 5⁰, II;
• Proibição da tortura – art. 5⁰, III;
• Liberdade de manifestação de pensamento – art. 5⁰, IV e V;
• Liberdade de consciência, crença e culto – art. 5⁰, VI a VIII;
• Liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de
comunicação – art. 5⁰, IX e X;
• Inviolabilidade da intimidade, da vida privada, honra e imagem das
pessoas – art. 5⁰, X;
• Inviolabilidade domiciliar – art. 5⁰, XI;
• Sigilo de correspondência e comunicações – art. 5⁰, XII;
• Liberdade de profissão – art. 5⁰, XIII;
• Liberdade de informação – art. 5⁰, XIV e XXXIII;
• Liberdade de locomoção – art. 5⁰, XV e LXI;
• Direito de reunião – art. 5⁰, XVI;
• Direito de associação – art. 5⁰, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI;
• Direito de propriedade – art. 5⁰, XXII, XXIII, XXIV, XXV, XXVI;
• Direito de herança e estatuto sucessório – art. 5⁰, XXX e XXXI;
• Propriedade intelectual – art. 5⁰, XXVII, XXVIII e XXIX;
• Defesa do consumidor – art. 5⁰, XXXII;
• Direito de petição e obtenção de certidões – art. 5⁰, XXXIV;
• Princípio da inafastabilidade da jurisdição – art. 5⁰, XXXV;
• Limites à retroatividade da lei – art. 5⁰, XXXVI;
• Princípio do promotor natural – art. 5⁰, LIII;
• Princípio do juiz natural ou legal – art. 5⁰, XXXVII e LIII;
• Tribunal Penal Internacional – art. 5⁰, §4⁰;
• Tribunal do Júri – art. 5⁰, XXXVIII;
• Segurança jurídica em matéria criminal – art. 5⁰, XXXIX a LXVII;
• Devido processo legal, contraditório e ampla defesa – art. 5⁰, LIV e
LV;
• Devido processo legal substantivo ou material – art. 5⁰, LV;
• Provas ilícitas – art. 5⁰, LVI;
• Publicidade dos atos processuais e dever de motivação das
decisões judiciais – art. 5⁰, LX e art. 93, IX;
• Assistência jurídica integral e gratuita – art. 5⁰, LXXIV;
• Erro judiciário – art. 5⁰, LXXV;
• Gratuidade das certidões de nascimento e de óbito – art. 5⁰, LXXVI;
• Gratuidade nas ações de habeas corpus e habeas data – art. 5⁰,
LXXVII;
• Celeridade processual – art. 5⁰, LXXVIII.

A doutrina divide os Direitos Fundamentais em gerações/dimensões:

• 1ª geração/dimensão: dizem respeito às liberdades políticas e aos


direitos políticos, ou seja, direitos civis e políticos a traduzir o valor liberdade.
• 2ª geração/dimensão: direitos sociais, culturais e econômicos, bem
como os direitos coletivos, correspondendo ao valor igualdade.
• 3ª geração/dimensão: são direitos transindividuais e traduzem o
valor fraternidade.
• 4ª geração/dimensão: aqui há divergência doutrinária. Para
Norberto Bobbio seriam direitos decorrentes dos avanços na engenharia
genética. Já, para Paulo Bonavides seriam direitos decorrentes da globalização
dos direitos fundamentais, destacando-se os direitos à democracia, à informação
e ao pluralismo.
• 5ª geração/dimensão: para Paulo Bonavides, trata-se do direito à
paz, que é axioma da democracia participativa ou ainda do supremo direito da
humanidade.

Constituição Federal de 1988.

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 20 E 21 DA LEI N.


10.406/2002 (CÓDIGO CIVIL). PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA
REJEITADA. REQUISITOS LEGAIS OBSERVADOS. MÉRITO: APARENTE
CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS: LIBERDADE DE
EXPRESSÃO, DE INFORMAÇÃO, ARTÍSTICA E CULTURAL, INDEPENDENTE
DE CENSURA OU AUTORIZAÇÃO PRÉVIA (ART. 5º INCS. IV, IX, XIV; 220, §§
1º E 2º) E INVIOLABILIDADE DA INTIMIDADE, VIDA PRIVADA, HONRA E
IMAGEM DAS PESSOAS (ART. 5º, INC. X). ADOÇÃO DE CRITÉRIO DA
PONDERAÇÃO PARA INTERPRETAÇÃO DE PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL.
PROIBIÇÃO DE CENSURA (ESTATAL OU PARTICULAR). GARANTIA
CONSTITUCIONAL DE INDENIZAÇÃO E DE DIREITO DE RESPOSTA. AÇÃO
DIRETA JULGADA PROCEDENTE PARA DAR INTERPRETAÇÃO
CONFORME À CONSTITUIÇÃO AOS ARTS. 20 E 21 DO CÓDIGO CIVIL, SEM
REDUÇÃO DE TEXTO. 1. A Associação Nacional dos Editores de Livros - Anel
congrega a classe dos editores, considerados, para fins estatutários, a pessoa
natural ou jurídica à qual se atribui o direito de reprodução de obra literária,
artística ou científica, podendo publicá-la e divulgá-la. A correlação entre o
conteúdo da norma impugnada e os objetivos da Autora preenche o requisito de
pertinência temática e a presença de seus associados em nove Estados da
Federação comprova sua representação nacional, nos termos da jurisprudência
deste Supremo Tribunal. Preliminar de ilegitimidade ativa rejeitada. 2. O objeto
da presente ação restringe-se à interpretação dos arts. 20 e 21 do Código Civil
relativas à divulgação de escritos, à transmissão da palavra, à produção,
publicação, exposição ou utilização da imagem de pessoa biografada. 3. A
Constituição do Brasil proíbe qualquer censura. O exercício do direito à liberdade
de expressão não pode ser cerceada pelo Estado ou por particular. 4. O direito
de informação, constitucionalmente garantido, contém a liberdade de informar,
de se informar e de ser informado. O primeiro refere-se à formação da opinião
pública, considerado cada qual dos cidadãos que pode receber livremente dados
sobre assuntos de interesse da coletividade e sobre as pessoas cujas ações,
público-estatais ou público-sociais, interferem em sua esfera do acervo do direito
de saber, de aprender sobre temas relacionados a suas legítimas cogitações. 5.
Biografia é história. A vida não se desenvolve apenas a partir da soleira da porta
de casa. 6. Autorização prévia para biografia constitui censura prévia particular.
O recolhimento de obras é censura judicial, a substituir a administrativa. O risco
é próprio do viver. Erros corrigem-se segundo o direito, não se coartando
liberdades conquistadas. A reparação de danos e o direito de resposta devem
ser exercidos nos termos da lei. 7. A liberdade é constitucionalmente garantida,
não se podendo anular por outra norma constitucional (inc. IV do art. 60), menos
ainda por norma de hierarquia inferior (lei civil), ainda que sob o argumento de
se estar a resguardar e proteger outro direito constitucionalmente assegurado,
qual seja, o da inviolabilidade do direito à intimidade, à privacidade, à honra e à
imagem. 8. Para a coexistência das normas constitucionais dos incs. IV, IX e X
do art. 5º, há de se acolher o balanceamento de direitos, conjugando-se o direito
às liberdades com a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da
imagem da pessoa biografada e daqueles que pretendem elaborar as biografias.
9. Ação direta julgada procedente para dar interpretação conforme à
Constituição aos arts. 20 e 21 do Código Civil, sem redução de texto, para, em
consonância com os direitos fundamentais à liberdade de pensamento e de sua
expressão, de criação artística, produção científica, declarar inexigível
autorização de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou
audiovisuais, sendo também desnecessária autorização de pessoas retratadas
como coadjuvantes (ou de seus familiares, em caso de pessoas falecidas ou
ausentes).
(ADI 4815, Relator(a): CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 10/06/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-
2016)

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direitos fundamentais, transcendentalismo


e redução da complexidade. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/111606
DIMOULIS, Dimitri; MARTINS; Leonardo. Teoria Geral dos Direito
Fundamentais. 6ª ed. Ed. RT, 2018.

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

PINTO, Oriana Piske de Azevedo Magalhães. Direitos fundamentais: cerne do


Estado Democrático de Direito. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/105779

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.

VICTORINO, Fábio Rodrigo. Evolução da teoria dos direitos fundamentais.


Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/115081
2. DIREITOS INDIVIDUAIS: INTIMIDADE, INVIOLABILIDADE,
REUNIÃO ASSOCIAÇÃO E FAKE NEWS

De acordo com o art. 5º, X, da CF, são invioláveis a intimidade, a vida


privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

O art. 5º, XI, da CF dispõe que a casa é asilo inviolável do indivíduo,


ninguém nela podendo penetrar sem o consentimento do morador, salvo em
caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial.

Dispõe o art. 5º, XVI, da CF que todos podem reunir-se pacificamente,


sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização,
desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo
local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente.

O direito de associação está previsto no art. 5º, XVII, XVIII, XIX, XX e XXI,
que assim dispõe:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar;
XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de
cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento;
XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em
julgado;
XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a
permanecer associado;
XXI - as entidades associativas, quando expressamente
autorizadas, têm legitimidade para representar seus
filiados judicial ou extrajudicialmente;

Ao ser questionado sobre o conceito de fake news o professor Diogo Rais,


assim respondeu: "É difícil definir, porque a tradução literal, “notícia falsa”, não
dá conta, por ser um paradoxo em si mesmo: se algo é notícia, não pode ser
falso; e se é falso, não pode ser notícia. Organizações internacionais,
universidades e cientistas de diversas áreas vêm tratando o tema sob um ângulo
ainda mais amplo, o da ideia de “desinformação”. Considerando o caso brasileiro
e, especificamente, o âmbito jurídico, talvez uma boa tradução não seja “notícia
falsa”, mas “notícia fraudulenta”. A mentira, nesse contexto, parece ser mais
objeto da Ética que do Direito, sendo a fraude o adjetivo mais próximo da face
jurídica da desinformação.”1

Sobre o tema, prossegue o professor: “São necessários três elementos


fundamentais para identificar fake news como objeto do Direito: falsidade, dolo
e dano. Ou seja, no contexto jurídico, fake news é o conteúdo comprovada e
propositadamente falso, mas com aparência de verdadeiro, capaz de provocar
algum dano, efetivo ou em potencial.” 2

Constituição Federal de 1988.

ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ADPF.


PORTARIA GP Nº 69 DE 2019. PRELIMINARES SUPERADAS. JULGAMENTO
DE MEDIDA CAUTELAR CONVERTIDO NO MÉRITO. PROCESSO
SUFICIENTEMENTE INSTRUÍDO. INCITAMENTO AO FECHAMENTO DO
STF. AMEAÇA DE MORTE E PRISÃO DE SEUS MEMBROS.
DESOBEDIÊNCIA. PEDIDO IMPROCEDENTE NAS ESPECÍFICAS E
PRÓPRIAS CIRCUNSTÂNCIAS DE FATO EXCLUSIVAMENTE ENVOLVIDAS
COM A PORTARIA IMPUGNADA. LIMITES. PEÇA INFORMATIVA.

1 A melhor tradução para fake news não é notícia falsa, é notícia fraudulenta. Disponível em:
https://www.conjur.com.br/2018-ago-12/entrevista-diogo-rais-professor-direito-eleitoral
2 A melhor tradução para fake news não é notícia falsa, é notícia fraudulenta. Disponível em:

https://www.conjur.com.br/2018-ago-12/entrevista-diogo-rais-professor-direito-eleitoral
ACOMPANHAMENTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. SÚMULA VINCULANTE
Nº 14. OBJETO LIMITADO A MANIFESTAÇÕES QUE DENOTEM RISCO
EFETIVO À INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO. PROTEÇÃO DA
LIBERDADE DE EXPRESSÃO E DE IMPRENSA. 1. Preliminarmente, trata-se
de partido político com representação no Congresso Nacional e, portanto,
legitimado universal apto à jurisdição do controle abstrato de constitucionalidade,
e a procuração atende à “descrição mínima do objeto digno de hostilização”. A
alegação de descabimento pela ofensa reflexa é questão que se confunde com
o mérito, uma vez que o autor sustenta que o ato impugnado ofendeu
diretamente à Constituição. E, na esteira da jurisprudência desta Corte, compete
ao Supremo Tribunal Federal o juízo acerca do que se há de compreender, no
sistema constitucional brasileiro, como preceito fundamental e, diante da
vocação da Constituição de 1988 de reinstaurar o Estado Democrático de Direito,
fundado na “dignidade da pessoa humana” (CR, art. 1º, III), a liberdade pessoal
e a garantia do devido processo legal, e seus corolários, assim como o princípio
do juiz natural, são preceitos fundamentais. Por fim, a subsidiariedade exigida
para o cabimento da ADPF resigna-se com a ineficácia de outro meio e, aqui,
nenhum outro parece, de fato, solver todas as alegadas violações decorrentes
da instauração e das decisões subsequentes. 2. Nos limites desse processo,
diante de incitamento ao fechamento do STF, de ameaça de morte ou de prisão
de seus membros, de apregoada desobediência a decisões judiciais, arguição
de descumprimento de preceito fundamental julgada totalmente improcedente,
nos termos expressos em que foi formulado o pedido ao final da petição inicial,
para declarar a constitucionalidade da Portaria GP n.º 69/2019 enquanto
constitucional o artigo 43 do RISTF, nas específicas e próprias circunstâncias de
fato com esse ato exclusivamente envolvidas. 3. Resta assentado o sentido
adequado do referido ato a fim de que o procedimento, no limite de uma peça
informativa: (a) seja acompanhado pelo Ministério Público; (b) seja integralmente
observada a Súmula Vinculante nº14; (c) limite o objeto do inquérito a
manifestações que, denotando risco efetivo à independência do Poder Judiciário
(CRFB, art. 2º), pela via da ameaça aos membros do Supremo Tribunal Federal
e a seus familiares, atentam contra os Poderes instituídos, contra o Estado de
Direito e contra a Democracia; e (d) observe a proteção da liberdade de
expressão e de imprensa nos termos da Constituição, excluindo do escopo do
inquérito matérias jornalísticas e postagens, compartilhamentos ou outras
manifestações (inclusive pessoais) na internet, feitas anonimamente ou não,
desde que não integrem esquemas de financiamento e divulgação em massa
nas redes sociais.
(ADPF 572, Relator(a): EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
18/06/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-271 DIVULG 12-11-2020 PUBLIC
13-11-2020)

Recurso ordinário em habeas corpus. Ação penal. Associação criminosa, fraude


a licitação, lavagem de dinheiro e peculato (arts. 288 e 313-A, CP; art. 90 da Lei
nº 8.666/93; art. 1º da Lei nº 9.613/98 e art. 1º, I e II, do DL nº 201/67).
Trancamento. Descabimento. Sigilo bancário. Inexistência. Conta corrente de
titularidade da municipalidade. Operações financeiras que envolvem recursos
públicos. Requisição de dados bancários diretamente pelo Ministério Público.
Admissibilidade. Precedentes. Extensão aos registros de operações bancárias
realizadas por particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela
conta. Princípio da publicidade (art. 37, caput, CF). Prova lícita. Recurso não
provido. 1. Como decidido pelo Supremo Tribunal Federal, ao tratar de
requisição, pelo Tribunal de Contas da União, de registros de operações
financeiras, “o sigilo de informações necessárias para a preservação da
intimidade é relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se
conhecer o destino dos recursos públicos” (MS nº 33.340/DF, Primeira Turma,
Relator o Ministro Luiz Fux, DJe de 3/8/15). 2. Assentou-se nesse julgado que
as “operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas
pelo sigilo bancário a que alude a Lei Complementar nº 105/2001, visto que as
operações dessa espécie estão submetidas aos princípios da administração
pública insculpidos no art. 37 da Constituição Federal (…)”. 3. O Supremo
Tribunal Federal reconheceu ao Ministério Público Federal o poder de requisitar
informações bancárias relativas a empréstimos subsidiados pelo Tesouro
Nacional, ao fundamento de que “se se trata de operação em que há dinheiro
público, a publicidade deve ser nota característica dessa operação” (MS nº
21.729/DF, Pleno, Relator para o acórdão o Ministro Néri da Silveira, DJ
19/10/01). 4. Na espécie, diante da existência de indícios da prática de ilícitos
penais com verbas públicas, o Ministério Público solicitou diretamente à
instituição financeira cópias de extratos bancários e microfilmagens da conta
corrente da municipalidade, além de fitas de caixa, para a apuração do real
destino das verbas. 5. O poder do Ministério Público de requisitar informações
bancárias de conta corrente de titularidade da prefeitura municipal compreende,
por extensão, o acesso aos registros das operações bancárias realizadas por
particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. 6. De nada
adiantaria permitir ao Ministério Público requisitar diretamente os registros das
operações feitas na conta bancária da municipalidade e negar-lhe o principal: o
acesso ao real destino dos recursos públicos, a partir do exame de operações
bancárias sucessivas (v.g., desconto de cheque emitido pela Municipalidade na
boca do caixa, seguido de transferência a particular do valor sacado). 7.
Entendimento em sentido diverso implicaria o esvaziamento da própria finalidade
do princípio da publicidade, que é permitir o controle da atuação do administrador
público e do emprego de verbas públicas. 8. Inexistência de prova ilícita capaz
de conduzir ao trancamento da ação penal. 9. Recurso não provido.
(RHC 133118, Relator(a): DIAS TOFFOLI, Segunda Turma, julgado em
26/09/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-045 DIVULG 08-03-2018 PUBLIC
09-03-2018)

Recurso extraordinário representativo da controvérsia. Repercussão geral. 2.


Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar
sem mandado judicial em caso de crime permanente. Possibilidade. A
Constituição dispensa o mandado judicial para ingresso forçado em residência
em caso de flagrante delito. No crime permanente, a situação de flagrância se
protrai no tempo. 3. Período noturno. A cláusula que limita o ingresso ao período
do dia é aplicável apenas aos casos em que a busca é determinada por ordem
judicial. Nos demais casos – flagrante delito, desastre ou para prestar socorro –
a Constituição não faz exigência quanto ao período do dia. 4. Controle judicial a
posteriori. Necessidade de preservação da inviolabilidade domiciliar.
Interpretação da Constituição. Proteção contra ingerências arbitrárias no
domicílio. Muito embora o flagrante delito legitime o ingresso forçado em casa
sem determinação judicial, a medida deve ser controlada judicialmente. A
inexistência de controle judicial, ainda que posterior à execução da medida,
esvaziaria o núcleo fundamental da garantia contra a inviolabilidade da casa (art.
5, XI, da CF) e deixaria de proteger contra ingerências arbitrárias no domicílio
(Pacto de São José da Costa Rica, artigo 11, 2, e Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, artigo 17, 1). O controle judicial a posteriori decorre
tanto da interpretação da Constituição, quanto da aplicação da proteção
consagrada em tratados internacionais sobre direitos humanos incorporados ao
ordenamento jurídico. Normas internacionais de caráter judicial que se
incorporam à cláusula do devido processo legal. 5. Justa causa. A entrada
forçada em domicílio, sem uma justificativa prévia conforme o direito, é arbitrária.
Não será a constatação de situação de flagrância, posterior ao ingresso, que
justificará a medida. Os agentes estatais devem demonstrar que havia
elementos mínimos a caracterizar fundadas razões (justa causa) para a medida.
6. Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado
judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas
razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa
ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil
e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados. 7. Caso
concreto. Existência de fundadas razões para suspeitar de flagrante de tráfico
de drogas. Negativa de provimento ao recurso.
(RE 603616, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em
05/11/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-093 DIVULG 09-05-2016 PUBLIC 10-05-2016)

ASTURIANO, Gisele; REIS, Clayton. Os reflexos do ciberdireito ao direito da


personalidade: informação vs. direito à intimidade. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/74798

CANELLAS, Maria Isabel Jesus Costa; BONSI, Júnior, Luiz. O regime jurídico
especial dos direitos à imagem, à intimidade e à vida privada: os limites da mídia.
Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/19907

COÊLHO, Marcus Vinícius Furtado. Fake news, liberdade de expressão e


democracia. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/147827

DIMOULIS, Dimitri; MARTINS; Leonardo. Teoria Geral dos Direito


Fundamentais. 6ª ed. Ed. RT, 2018.

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

PORTO, Ciro Benigno. A proteção à intimidade na Constituição da República de


1988. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/55933

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.
3. DIREITOS INDIVIDUAIS

A CF/88 foi a primeira a estabelecer direitos não só de indivíduos, mas


também de grupos sociais, os denominados direitos coletivos. As pessoas
passaram a ser coletivamente consideradas.

Os direitos individuais são prerrogativas usadas pelo indivíduo para opor-


se ao arbítrio estatal. São reconhecidos como um ramo dos direitos
fundamentais e ancorados nos princípios dos direitos humanos de primeira
geração.

Já os direitos coletivos pertencem a uma coletividade que se vincula


juridicamente, como os sindicatos. Estão relacionados com a segunda geração
dos direitos humanos.

No Brasil os direitos individuais estão previstos principalmente no art.


5° da CF/88, mas não só nele. Importante ressaltar que todos os direitos
individuais estão previstos no texto constitucional e assegurados principalmente
de maneira igualitária independentemente de gênero, cor da pele, crença ou
posição social. Já os direitos sociais estão previstos principalmente no art. 6° da
CF/88.

São características dos direitos individuais:


• Imprescritibilidade: não se perdem com o tempo mesmo que não
utilizados
• Inalienabilidade: não podem ser nem vendidos, nem doados, nem
emprestados (com exceção do direito à propriedade)
• Indisponibilidade: importam não apenas ao titular dos direitos, mas
também a toda a coletividade (exceto a intimidade e a privacidade)
• Indivisibilidade: por serem um conjunto não podem ser analisados
de maneira separada

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal de 1988.

JURISPRUDÊNCIA

Direito constitucional. Recurso extraordinário com agravo. Obrigatoriedade de


vacinação de menores. Liberdade de consciência e de crença dos pais.
Presença de Repercussão geral. 1. Constitui questão constitucional saber se os
pais podem deixar de vacinar os seus filhos, tendo como fundamento convicções
filosóficas, religiosas, morais e existenciais. 2. Repercussão geral reconhecida.
Tese fixada pelo STF: É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio
de vacina que, registrada em órgão de vigilância sanitária, (i) tenha sido incluída
no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória
determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito
Federal ou município, com base em consenso médico-científico. Em tais casos,
não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica
dos pais ou responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.
STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e
17/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 1103) (Info 1003).

LIBERDADE DE REUNIÃO – AUTORIDADE COMPETENTE – PRÉVIO AVISO


– ARTIGO 5º, INCISO XVI, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL – ALCANCE –
RECURSO EXTRAORDINÁRIO – REPERCUSSÃO GERAL CONFIGURADA.
Possui repercussão geral a controvérsia alusiva ao alcance da exigência de
prévio aviso à autoridade competente como pressuposto para o exercício do
direito versado no artigo 5º, inciso XVI, da Carta de 1988.
Tese fixada pelo STF: A exigência constitucional de aviso prévio relativamente
ao direito de reunião é satisfeita com a veiculação de informação que permita ao
poder público zelar para que seu exercício se dê de forma pacífica ou para que
não frustre outra reunião no mesmo local.
STF. Plenário. RE 806339/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min.
Edson Fachin, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 855) (Info
1003).

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL –


PREVIDENCIÁRIO – REVOGAÇÃO DA LEI Nº 7.672/82 (QUE DISPÕE SOBRE
O INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL) –
ALEGADA PERDA DE OBJETO DO APELO EXTREMO – INOCORRÊNCIA –
PEDIDO DE DESAFETAÇÃO – INDEFERIMENTO – INCIDÊNCIA DO
CRITÉRIO “TEMPUS REGIT ACTUM” – EXIGÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
INVALIDEZ E DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA UNICAMENTE IMPOSTA AO
CÔNJUGE VARÃO – INADMISSIBILIDADE – TRATAMENTO DIFERENCIADO
ESTABELECIDO EM DETRIMENTO DO CÔNJUGE VARÃO PARA EFEITO DE
CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE DE SUA MULHER SERVIDORA
PÚBLICA (CÔNJUGE OU COMPANHEIRA) – INCONSTITUCIONALIDADE
DESSA EXIGÊNCIA PORQUE SOMENTE IMPOSTA AO CÔNJUGE VARÃO –
DESEQUIPARAÇÃO ARBITRÁRIA, SEM FUNDAMENTO LÓGICO-RACIONAL,
ENTRE HOMENS E MULHERES – OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA
(CF, ART. 5º, I) – INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO, DE OUTRO LADO,
À CLÁUSULA DE INDICAÇÃO DA FONTE DE CUSTEIO (CF, ART. 195, § 5º) E
AO CRITÉRIO DA EQUAÇÃO ECONÔMICO- -FINANCEIRA (CF, ART. 201, V)
– RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO.
(RE 659424, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PUBLIC 26-11-2020)

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

PALU, Oswaldo Luiz. Direitos e garantias individuais e criminalidade. Disponível


em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/22573

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.

SILVEIRA, Paulo Fernando. O poder judiciário e os direitos individuais: duas


poderosas forças antimajoritárias. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/20756
4. DIREITOS INDIVIDUAIS – REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

NOÇÕES GERAIS

Os Remédios constitucionais são garantias instrumentais destinadas à


proteção dos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal. Servem
como instrumentos à disposição das pessoas para reclamarem, em juízo, uma
proteção a seus direitos, motivo pelo qual são também conhecidos como ações
constitucionais.

Decorrem dos direitos e garantias fundamentais, descritos no artigo 5º da


Constituição, que são essenciais para proteger e assegurar, a todos os
brasileiros e estrangeiros, o direito à vida, à liberdade, à igualdade, segurança e
à propriedade privada.

São os remédios constitucionais:

• Habeas Corpus - artigo 5º, LXVIII da CF; artigo 647 do CPP.


• Mandado de Segurança - artigo 5º, LXIX e LXX da CF e Lei
12.016/09.
• Mandado de Injunção - artigo 5º, LXXI da CF.
• Habeas Data - artigo 5º, X da CF e Lei 9.507/97.
• Ação Popular - artigo 5º, LXXIII da CF; Lei 4.717/65
• Ação Civil Pública – artigo 129, III, da CF e Lei 7.347/85

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal de 1988.


Código de Processo Penal
Lei 4.717/65
Lei 7.347/85
Lei 9.507/97
Lei 12.016/09

JURISPRUDÊNCIA

Habeas corpus coletivo. Admissibilidade. Lesão a direitos individuais


homogêneos. Caracterização do habeas corpus como cláusula pétrea e garantia
fundamental. Máxima efetividade do writ. Acesso à justiça. 2. Direito Penal.
Processo Penal. Pedido de concessão de prisão domiciliar a pais e responsáveis
por crianças menores ou pessoas com deficiência. 3. Doutrina da proteção
integral conferida pela Constituição de 1988 a crianças, adolescentes e pessoas
com deficiência. Normas internacionais de proteção a pessoas com deficiência,
incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro com status de emenda
constitucional. Consideração dos perniciosos efeitos que decorrem da
separação das crianças e pessoas com deficiência dos seus responsáveis. 4.
Previsão legislativa no art. 318, III e VI, do CPP. 5. Situação agravada pela
urgência em saúde pública decorrente da propagação da Covid-19 no Brasil.
Resolução 62/2020 do CNJ. 6. Parecer da PGR pelo conhecimento da ação e
concessão da ordem. 7. Extensão dos efeitos do acórdão proferido nos autos do
HC 143.641, com o estabelecimento das condicionantes trazidas neste
precedente, nos arts. 318, III e VI, do CPP e na Resolução 62/2020 do CNJ.
Possibilidade de substituição de prisão preventiva pela domiciliar aos pais
(homens), desde que seja o único responsável pelos cuidados do menor de 12
(doze) anos ou de pessoa com deficiência, desde que não tenha cometido crime
com grave violência ou ameaça ou, ainda, contra a sua prole. Substituição de
prisão preventiva por domiciliar para outros responsáveis que sejam
imprescindíveis aos cuidados do menor de 6 (seis) anos de idade ou da pessoa
com deficiência. 8. Concessão do habeas corpus coletivo.
(HC 165704, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em
20/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-2021 PUBLIC
24-02-2021)

HABEAS CORPUS COLETIVO. ADMISSIBILIDADE. DOUTRINA BRASILEIRA


DO HABEAS CORPUS. MÁXIMA EFETIVIDADE DO WRIT. MÃES E
GESTANTES PRESAS. RELAÇÕES SOCIAIS MASSIFICADAS E
BUROCRATIZADAS. GRUPOS SOCIAIS VULNERÁVEIS. ACESSO À
JUSTIÇA. FACILITAÇÃO. EMPREGO DE REMÉDIOS PROCESSUAIS
ADEQUADOS. LEGITIMIDADE ATIVA. APLICAÇÃO ANALÓGICA DA LEI
13.300/2016. MULHERES GRÁVIDAS OU COM CRIANÇAS SOB SUA
GUARDA. PRISÕES PREVENTIVAS CUMPRIDAS EM CONDIÇÕES
DEGRADANTES. INADMISSIBILIDADE. PRIVAÇÃO DE CUIDADOS MÉDICOS
PRÉ-NATAL E PÓS-PARTO. FALTA DE BERÇARIOS E CRECHES. ADPF 347
MC/DF. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO. ESTADO DE COISAS
INCONSTITUCIONAL. CULTURA DO ENCARCERAMENTO. NECESSIDADE
DE SUPERAÇÃO. DETENÇÕES CAUTELARES DECRETADAS DE FORMA
ABUSIVA E IRRAZOÁVEL. INCAPACIDADE DO ESTADO DE ASSEGURAR
DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS ENCARCERADAS. OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO E DE DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. REGRAS DE
BANGKOK. ESTATUTO DA PRIMEIRA INFÂNCIA. APLICAÇÃO À ESPÉCIE.
ORDEM CONCEDIDA. EXTENSÃO DE OFÍCIO. I – Existência de relações
sociais massificadas e burocratizadas, cujos problemas estão a exigir soluções
a partir de remédios processuais coletivos, especialmente para coibir ou prevenir
lesões a direitos de grupos vulneráveis. II – Conhecimento do writ coletivo
homenageia nossa tradição jurídica de conferir a maior amplitude possível ao
remédio heroico, conhecida como doutrina brasileira do habeas corpus. III –
Entendimento que se amolda ao disposto no art. 654, § 2º, do Código de
Processo Penal - CPP, o qual outorga aos juízes e tribunais competência para
expedir, de ofício, ordem de habeas corpus, quando no curso de processo,
verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal. IV –
Compreensão que se harmoniza também com o previsto no art. 580 do CPP,
que faculta a extensão da ordem a todos que se encontram na mesma situação
processual. V - Tramitação de mais de 100 milhões de processos no Poder
Judiciário, a cargo de pouco mais de 16 mil juízes, a qual exige que o STF
prestigie remédios processuais de natureza coletiva para emprestar a máxima
eficácia ao mandamento constitucional da razoável duração do processo e ao
princípio universal da efetividade da prestação jurisdicional VI - A legitimidade
ativa do habeas corpus coletivo, a princípio, deve ser reservada àqueles listados
no art. 12 da Lei 13.300/2016, por analogia ao que dispõe a legislação referente
ao mandado de injunção coletivo. VII – Comprovação nos autos de existência de
situação estrutural em que mulheres grávidas e mães de crianças (entendido o
vocábulo aqui em seu sentido legal, como a pessoa de até doze anos de idade
incompletos, nos termos do art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente -
ECA) estão, de fato, cumprindo prisão preventiva em situação degradante,
privadas de cuidados médicos pré-natais e pós-parto, inexistindo, outrossim
berçários e creches para seus filhos. VIII – “Cultura do encarceramento” que se
evidencia pela exagerada e irrazoável imposição de prisões provisórias a
mulheres pobres e vulneráveis, em decorrência de excessos na interpretação e
aplicação da lei penal, bem assim da processual penal, mesmo diante da
existência de outras soluções, de caráter humanitário, abrigadas no
ordenamento jurídico vigente. IX – Quadro fático especialmente inquietante que
se revela pela incapacidade de o Estado brasileiro garantir cuidados mínimos
relativos à maternidade, até mesmo às mulheres que não estão em situação
prisional, como comprova o “caso Alyne Pimentel”, julgado pelo Comitê para a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher das Nações
Unidas. X – Tanto o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio nº 5 (melhorar a
saúde materna) quanto o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 5
(alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas),
ambos da Organização das Nações Unidades, ao tutelarem a saúde reprodutiva
das pessoas do gênero feminino, corroboram o pleito formulado na impetração.
X – Incidência de amplo regramento internacional relativo a Direitos Humanos,
em especial das Regras de Bangkok, segundo as quais deve ser priorizada
solução judicial que facilite a utilização de alternativas penais ao
encarceramento, principalmente para as hipóteses em que ainda não haja
decisão condenatória transitada em julgado. XI – Cuidados com a mulher presa
que se direcionam não só a ela, mas igualmente aos seus filhos, os quais sofrem
injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade ao art. 227
da Constituição, cujo teor determina que se dê prioridade absoluta à
concretização dos direitos destes. XII – Quadro descrito nos autos que exige o
estrito cumprimento do Estatuto da Primeira Infância, em especial da nova
redação por ele conferida ao art. 318, IV e V, do Código de Processo Penal. XIII
– Acolhimento do writ que se impõe de modo a superar tanto a arbitrariedade
judicial quanto a sistemática exclusão de direitos de grupos hipossuficientes,
típica de sistemas jurídicos que não dispõem de soluções coletivas para
problemas estruturais. XIV – Ordem concedida para determinar a substituição da
prisão preventiva pela domiciliar - sem prejuízo da aplicação concomitante das
medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP - de todas as mulheres presas,
gestantes, puérperas ou mães de crianças e deficientes, nos termos do art. 2º
do ECA e da Convenção sobre Direitos das Pessoas com Deficiências (Decreto
Legislativo 186/2008 e Lei 13.146/2015), relacionadas neste processo pelo
DEPEN e outras autoridades estaduais, enquanto perdurar tal condição,
excetuados os casos de crimes praticados por elas mediante violência ou grave
ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situações excepcionalíssimas,
as quais deverão ser devidamente fundamentadas pelos juízes que denegarem
o benefício. XV – Extensão da ordem de ofício a todas as demais mulheres
presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e de pessoas com deficiência,
bem assim às adolescentes sujeitas a medidas socioeducativas em idêntica
situação no território nacional, observadas as restrições acima.
(HC 143641, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado
em 20/02/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-215 DIVULG 08-10-2018
PUBLIC 09-10-2018)

CARDOSO, Osccar Valente. Mandado de segurança coletivo: aspectos práticos


da Lei n. 12.016/2009. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/70360

FERREIRA, Thayrine de Oliveira; DEZAN, Sandro Lúcio. O habeas corpus


coletivo na vertente do Direito Processual Penal. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/160967/06_habeas_corpus_coletivo_
ferreira.pdf

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.
5. DIREITO DE NACIONALIDADE

A nacionalidade é considerada como sendo o vínculo jurídico-político


entre determinado Estado e um indivíduo que enseja a integração deste
(indivíduo) ao povo daquele Estado.

Ela poderá ser originária, cuja atribuição considerará o critério territorial


(jus solis) ou critério sanguíneo (jus sanguinis); ou secundária, que poderá ser
tácita ou expressa (ordinária ou extraordinária).

Neste contexto, assim dispõe o artigo 12 da Constituição Federal:

Art. 12. São brasileiros:


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República
Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 54, de
2007)
II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileira, exigidas aos originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira. (Redação dada pela
Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País,
se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão
atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição. (Redação dada pela Emenda
Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros
natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta
Constituição.
§ 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas.
VII - de Ministro de Estado da Defesa (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 23, de 1999)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro
que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial,
em virtude de fraude relacionada ao processo de
naturalização ou de atentado contra a ordem constitucional
e o Estado Democrático; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 131, de 2023)
II - fizer pedido expresso de perda da nacionalidade
brasileira perante autoridade brasileira competente,
ressalvadas situações que acarretem
apatridia. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
131, de 2023)
§ 5º A renúncia da nacionalidade, nos termos do inciso II
do § 4º deste artigo, não impede o interessado de readquirir
sua nacionalidade brasileira originária, nos termos da
lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 131, de
2023)

Constituição Federal de 1988.

EXTRADIÇÃO INSTRUTÓRIA. PROMESSA DE RECIPROCIDADE.


BRASILEIRO NATURALIZADO. REQUISITOS DA LEI DE MIGRAÇÃO.
AUSÊNCIA DE DUPLA TIPICIDADE DIANTE DO PRINCÍPIO DA
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA. OUTROS ÓBICES
ASSENTES NA JURISPRUDÊNCIA DESTA CORTE SUPREMA. CRIME
POLÍTICO. RELEVÂNCIA DA ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS. GARANTIA AO DEVIDO PROCESSO LEGAL. INDEFERIMENTO.
1. Admite-se o pedido de extradição formulado por Estado soberano fundado na
promessa de reciprocidade, dispensando-se, nesses casos, a existência de
tratado de extradição previamente celebrado com o Brasil. 2. A circunstância do
extraditando ser brasileiro naturalizado não constitui ipso facto óbice à
extradição, eis que os fatos delituosos a ele imputados teriam sido praticados,
em tese, antes da aquisição dessa nacionalidade. 3. É assente, na jurisprudência
desta Corte, que a extradição é ato de cooperação jurídica internacional voltado
ao auxílio mútuo entre nações na repressão internacional a crimes comuns. 4.
Tanto o art. 82, II, da Lei da Migração, como também o art. 82, VII, desse mesmo
diploma, preveem que não se concederá a extradição seja quando o fato
motivador não estiver tipificado na legislação penal do Estado Requerente ou do
requerido, seja quando o objeto desse pedido qualificar-se como crime político
ou de opinião. 5. In casu, a lei brasileira que passou a tipificar os atos de
terrorismo (Lei nº 13.260/2016) somente veio a lume em 16 de março de 2016,
sendo inaplicável aos delitos que teriam sido praticados em período anterior a
sua vigência, ausente, na espécie, a dupla tipicidade. Precedentes desta Corte
(PPE 732-QO, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 11/11/2014, Segunda
Turma, DJE de 02/02/2015); (Ext. 953, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
28/09/2005, Plenário, DJ de 11/11/2005). 6. O enquadramento das condutas na
Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170, em vigor desde 14/12/1983) tampouco
autorizaria a extradição, porque os tipos nela tratados se caracterizam como
delitos políticos, em relação aos quais incide expressa vedação constitucional à
extradição (art. 5º, LII). Precedentes (RC 1468 segundo Turma, Rel. Min. Ilmar
Galvão, Rel. p/ Acórdão Min. Maurício Corrêa, DJ 16.8.2000) (HC 33722/DF,
Relator Ministro Nelson Hungria, julgado 28/09/1955: Ementa: Crime político.
Não admite extradição, desde que não conexo a crime comum. (HC 3372/DF,
Rel. Min. Nelson Hungria, Primeira Turma, DJ 24.11.1955, pp. 15136, Ement.
Vol. 00237-02, pp. 00635, Paciente: Jacques Charles Noel de Bernonville).
Evidenciado, pois, o segundo óbice à extradição, qual seja, a sua vedação em
caso de delito político. 7. É possível também ao Supremo Tribunal Federal
rejeitar o pedido de extradição passiva quando a submissão do estrangeiro à
Jurisdição do Estado requerente possa implicar em violação a direitos humanos
internacionalmente reconhecidos, dentre eles, a garantia de ser julgado por juiz
isento, imparcial, e sob a égide do devido processo legal. Óbice também previsto
no art. 82, VIII, da Lei de Migração. 8. Ressuma dos autos notícia de que o
Estado Requerente vem sendo questionado por atitudes de menoscabo à
democracia, inclusive de glosas, feitas pelo Parlamento Europeu, ao aumento do
controle realizado pelo Poder Executivo e à pressão política no trabalho dos
Magistrados (Resolução de 13 de março de 2019). A isso, somam-se as
evidências de instabilidade política, com demissões de juízes e prisões de
opositores ao governo (E-doc. 49). 9. Contexto no qual há fundada dúvida quanto
às garantias de que o extraditando será efetivamente submetido a um tribunal
independente e imparcial, a salvo de instabilidades e pressões exógenas e
endógenas. 10. Pedido de extradição indeferido, em razão dos óbices
plasmados no art. 82, II, VII e VIII da Lei 13.445/2017.
(Ext 1578, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
06/08/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-037 DIVULG 19-02-2020 PUBLIC
20-02-2020)

PROGRAMA MAIS MÉDICOS. LEI 12.871/2013. CONVERSÃO DA MEDIDA


PROVISÓRIA 621/2013. ILEGITIMIDADE ATIVA AD CAUSAM.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES LIBERAIS
UNIVERSITÁRIOS REGULAMENTADOS – CNTU. IRREGULARIDADE DO
REGISTRO SINDICAL. PRECEDENTES. AUSÊNCIA DE PERTINÊNCIA
TEMÁTICA. 1. A Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais
Universitários Regulamentados – CNTU teve invalidado, por decisão judicial, seu
registro sindical, de modo a carecer de legitimidade ativa ad causam.
Precedente: ADI 4.380 (Ministro CELSO DE MELLO). 2. O amplo rol de
legitimados universais do art. 103 da Constituição não se coaduna com o
afastamento do necessário vínculo entre o objeto impugnado e as finalidades
próprias e específicas da confederação sindical. Ausência de pertinência
temática. 3. Ilegitimidade ativa ad causam reconhecida.
(ADI 5037, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE
DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 30/11/2017, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-187 DIVULG 28-07-2020 PUBLIC 29-07-2020)

EXTRADIÇÃO PASSIVA. DUPLA TICIPICIDADE. ENTREGA AUTORIZADA


QUANTO AOS CRIMES DE HOMICÍDIO TENTADO. OCORRÊNCIA DE
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA DO DELITO DE DETENÇÃO
ILEGAL DE ARMA DE DEFESA. EXTRADIÇÃO AUTORIZADA EM PARTE. I –
A autorização concedida por esta Suprema Corte para entrega do extraditando
ao Estado de Portugal depende do preenchimento das condições previstas na
Convenção de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa e da assunção dos compromissos previstos na Lei
6.815/1980. II – Circunstâncias de caráter pessoal, tais como a existência de
família brasileira, que depende do trabalho do extraditando para seu sustento,
não obstam a extradição. III – Diante da consumação da prescrição quanto ao
crime de detenção ilegal de arma de defesa, a extradição é autorizada em parte,
para que o Governo de Portugal possa executar a pena imposta ao extraditando
pelo crime de homicídio qualificado tentado.
(Ext 1497, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma,
julgado em 15/08/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-021 DIVULG 05-02-
2018 PUBLIC 06-02-2018)

COELHO JUNIOR, Fernando Gonçalves; BRAGA, Ronaldo Passos; OLIVEIRA,


Valéria Edith Carvalho de. A possibilidade da perda da nacionalidade por parte
do brasileiro nato. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/115589
DANTAS, Leila Poconé. Mudança no critério de aquisição da nacionalidade
originária na constituição brasileira. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/22121

GLASENAPP, Ricardo Bernd. O direito de nacionalidade e a EC Nº 54: a


reparação de um erro. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/34732 Acesso em: 26/01/2023.

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.

VASCONCELOS, Hitala Mayara Pereira de. Da nacionalidade como direito


humano: da necessária ampliação das hipóteses de aplicação do critério do "jus
sanguinis" nos casos de adoção internacional. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/125864
6. DIREITO À IGUALDADE, NÃO DISCRIMINAÇÃO, DIGNIDADE
E LIBERDADE E DIREITOS SOCIAIS

Os direitos à igualdade, não discriminação, dignidade e liberdade estão


previstos no artigo 5º da Constituição Federal.

Segundo a própria CF todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza. Essa igualdade deve ser formal e material.

Já a liberdade pode ser analisada sobre vários aspectos:


• liberdade de manifestação de pensamento (art. 5º, IV e V)
• liberdade de consciência, crença e culto (art. 5º, VI a VIII)
• liberdade de atividade intelectual, artística, científica ou de
comunicação (art. 5º, X e XI)
• liberdade de profissão (art. 5º, XIII)
• liberdade de informação (art. 5º, XIV e XXXIII)
• liberdade de locomoção (art. 5º, XV)

O Capítulo II do Título I da Constituição dispõe, em seus artigos 6º ao 11,


sobre os Direitos Sociais.
Neste contexto, conforme disposto no art. 6º da Constituição Federal, são
direitos sociais:
• educação
• saúde
• alimentação
• trabalho
• moradia
• transporte
• lazer
• segurança
• previdência social
• proteção à maternidade e à infância
• assistência aos desamparados

Merece especial atenção a Emenda Constitucional n. 114 de 16 de


dezembro de 2021 introduziu um parágrafo único ao art. 6º da Constituição
Federal que dispõe: “Todo brasileiro em situação de vulnerabilidade social terá
direito a uma renda básica familiar, garantida pelo poder público em programa
permanente de transferência de renda, cujas normas e requisitos de acesso
serão determinados em lei, observada a legislação fiscal e orçamentária.”

O art. 7º enumera, em rol exemplificativo, os direitos sociais dos


trabalhadores urbanos e rurais:
• seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário
• fundo de garantia do tempo de serviço;
• salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender
a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia,
alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência
social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo
vedada sua vinculação para qualquer fim;
• irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo
coletivo;
• décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor
da aposentadoria;
• salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa
renda nos termos da lei;
• duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta
e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da
jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;
• repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;
• gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais
do que o salário normal;
• proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos
específicos, nos termos da lei;
• aposentadoria;
• proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Os arts. 8º, 9º 10 e 11 tratam do direito sindical com todas as suas


especificidades.

Constituição Federal de 1988.

RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL –


PREVIDENCIÁRIO – REVOGAÇÃO DA LEI Nº 7.672/82 (QUE DISPÕE SOBRE
O INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL) –
ALEGADA PERDA DE OBJETO DO APELO EXTREMO – INOCORRÊNCIA –
PEDIDO DE DESAFETAÇÃO – INDEFERIMENTO – INCIDÊNCIA DO
CRITÉRIO “TEMPUS REGIT ACTUM” – EXIGÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE
INVALIDEZ E DE DEPENDÊNCIA ECONÔMICA UNICAMENTE IMPOSTA AO
CÔNJUGE VARÃO – INADMISSIBILIDADE – TRATAMENTO DIFERENCIADO
ESTABELECIDO EM DETRIMENTO DO CÔNJUGE VARÃO PARA EFEITO DE
CONCESSÃO DE PENSÃO POR MORTE DE SUA MULHER SERVIDORA
PÚBLICA (CÔNJUGE OU COMPANHEIRA) – INCONSTITUCIONALIDADE
DESSA EXIGÊNCIA PORQUE SOMENTE IMPOSTA AO CÔNJUGE VARÃO –
DESEQUIPARAÇÃO ARBITRÁRIA, SEM FUNDAMENTO LÓGICO-RACIONAL,
ENTRE HOMENS E MULHERES – OFENSA AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA
(CF, ART. 5º, I) – INOCORRÊNCIA DE TRANSGRESSÃO, DE OUTRO LADO,
À CLÁUSULA DE INDICAÇÃO DA FONTE DE CUSTEIO (CF, ART. 195, § 5º) E
AO CRITÉRIO DA EQUAÇÃO ECONÔMICO- -FINANCEIRA (CF, ART. 201, V)
– RECURSO EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO.
(RE 659424, Relator(a): CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em
13/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-280 DIVULG 25-11-2020 PUBLIC 26-11-2020)

Direito Constitucional. Ação Direta de Constitucionalidade. Reserva de vagas


para negros em concursos públicos. Constitucionalidade da Lei n° 12.990/2014.
Procedência do pedido. 1. É constitucional a Lei n° 12.990/2014, que reserva a
pessoas negras 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração
pública federal direta e indireta, por três fundamentos. 1.1. Em primeiro lugar, a
desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em questão está em
consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda na necessidade de
superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade
brasileira, e garantir a igualdade material entre os cidadãos, por meio da
distribuição mais equitativa de bens sociais e da promoção do reconhecimento
da população afrodescendente. 1.2. Em segundo lugar, não há violação aos
princípios do concurso público e da eficiência. A reserva de vagas para negros
não os isenta da aprovação no concurso público. Como qualquer outro
candidato, o beneficiário da política deve alcançar a nota necessária para que
seja considerado apto a exercer, de forma adequada e eficiente, o cargo em
questão. Além disso, a incorporação do fator “raça” como critério de seleção, ao
invés de afetar o princípio da eficiência, contribui para sua realização em maior
extensão, criando uma “burocracia representativa”, capaz de garantir que os
pontos de vista e interesses de toda a população sejam considerados na tomada
de decisões estatais. 1.3. Em terceiro lugar, a medida observa o princípio da
proporcionalidade em sua tríplice dimensão. A existência de uma política de
cotas para o acesso de negros à educação superior não torna a reserva de vagas
nos quadros da administração pública desnecessária ou desproporcional em
sentido estrito. Isso porque: (i) nem todos os cargos e empregos públicos exigem
curso superior; (ii) ainda quando haja essa exigência, os beneficiários da ação
afirmativa no serviço público podem não ter sido beneficiários das cotas nas
universidades públicas; e (iii) mesmo que o concorrente tenha ingressado em
curso de ensino superior por meio de cotas, há outros fatores que impedem os
negros de competir em pé de igualdade nos concursos públicos, justificando a
política de ação afirmativa instituída pela Lei n° 12.990/2014. 2. Ademais, a fim
de garantir a efetividade da política em questão, também é constitucional a
instituição de mecanismos para evitar fraudes pelos candidatos. É legítima a
utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação (e.g., a exigência de autodeclaração presencial perante a
comissão do concurso), desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e
garantidos o contraditório e a ampla defesa. 3. Por fim, a administração pública
deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) os percentuais de reserva de vaga
devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a reserva deve ser aplicada
em todas as vagas oferecidas no concurso público (não apenas no edital de
abertura); (iii) os concursos não podem fracionar as vagas de acordo com a
especialização exigida para burlar a política de ação afirmativa, que só se aplica
em concursos com mais de duas vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a
partir da aplicação dos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação
dos candidatos aprovados deve produzir efeitos durante toda a carreira funcional
do beneficiário da reserva de vagas. 4. Procedência do pedido, para fins de
declarar a integral constitucionalidade da Lei n° 12.990/2014. Tese de
julgamento: “É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos
concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no
âmbito da administração pública direta e indireta. É legítima a utilização, além da
autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que
respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla
defesa”.
(ADC 41, Relator(a): ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
08/06/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG 16-08-2017 PUBLIC
17-08-2017)

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.


INTERPOSIÇÃO EM 17.06.2020. TRATAMENTO MÉDICO. EXISTÊNCIA DE
PLANO DE SAÚDE PRIVADO. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES
FEDERADOS. REAFIRMAÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA SOB A SISTEMÁTICA
DA REPERCUSSÃO GERAL. RE 855.178-RG. TEMA 793. LEGITIMIDADE
PASSIVA DOS ENTES FEDERADOS. RECONHECIMENTO.
INAPLICABILIDADE, NA HIPÓTESE, DO TEMA 345 DA REPERCUSSÃO
GERAL. 1. O acórdão recorrido não está alinhado à jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal, reafirmada no julgamento do RE 855.178-RG, Rel. Min. Luiz
Fux (Tema 793), em que se reconheceu a existência de repercussão geral da
controvérsia constitucional referente à responsabilidade solidária dos entes
federados em matéria de saúde e reafirmou a jurisprudência pertinente ao tema.
2. O fato de a autora possuir plano de saúde privado não exime o Poder Público
de garantir a qualquer pessoa que dele necessitar o tratamento médico
adequado, a fim de preservar-lhe a vida, a teor do que dispõe o art. 196 da
Constituição Federal. 3. A interpretação não restritiva promovida pelo Supremo
Tribunal no que tange ao direito à saúde, em termos de responsabilidade do
Estado recai, naturalmente, com maior rigor em relação a pessoas carentes, mas
isso não exclui a responsabilidade dos entes federados para efetivar o direito
universal à saúde, pois a jurisprudência desta Corte confere responsabilidade
solidária a todos os entes da Federação para efetivar o direito fundamental à
saúde, não restringindo o alcance do direito, tampouco implementando qualquer
tipo de distinção entre os cidadãos, de modo que toda e qualquer pessoa é
detentora do referido direito. 4. Além disso, no caso concreto, a instância de
origem não discutiu a condição ou não de hipossuficiência da autora, apenas foi
decidida a lide considerando a contratação por ela de plano de saúde privado.
Tanto é assim que lhe foi deferido o benefício da justiça gratuita. 5. No caso, a
situação em exame não se amolda ao Tema 345 da sistemática da repercussão
geral, pois a questão de mérito sequer foi enfrentada, tendo em vista que o feito
foi extinto sem julgamento de mérito, ante o reconhecimento da ilegitimidade de
parte do ente público e a demanda não foi proposta contra a operadora de plano
de saúde. Não há, portanto, que se falar em ressarcimento de despesas
custeadas pelo SUS. 6. Agravo regimental a que se nega provimento. Majorados
os honorários advocatícios em ¼ (um quarto), nos termos do art. 85, § 11, do
CPC, devendo ser observados os §§ 2º e 3º do mesmo dispositivo.
(ARE 1260235 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
30/11/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-290 DIVULG 10-12-2020 PUBLIC
11-12-2020)

CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA CONCORRENTE.


FEDERALISMO COOPERATIVO. ART. 24 CF. DISCIPLINA DE FUMÍGENOS
EM AMBIENTES COLETIVOS FECHADOS. ATUAÇÃO DOS ESTADOS PARA
O ESTABELECIMENTO DE POLÍTICA PÚBLICA MAIS RESTRITIVA, EM
ATENÇÃO ÀS PECULIARIDADES LOCAIS. CUMPRIMENTO DOS DEVERES
FUNDAMENTAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS À SAÚDE E DO
CONSUMIDOR. SOLUÇÃO LEGISLATIVA RAZOÁVEL E PROPORCIONAL DO
CONFLITOS ENTRE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS À SAÚDE E
SEGURANÇA DO CONSUMIDOR E AS LIBERDADES INDIVIDUAIS E
ECONÔMICAS FUNDAMENTAIS (LIVRE COMÉRCIO E LIVRE INICIATIVA).
PRECEDENTES JUDICIAIS. 1. No modelo federativo brasileiro, estabelecidas
pela União as normas gerais para disciplinar sobre proteção à saúde e
responsabilidade por dano ao consumidor, aos Estados compete, além da
supressão de eventuais lacunas, a previsão de normas destinadas a
complementar a norma geral e a atender as peculiaridades locais, respeitados
os critérios (i) da preponderância do interesse local, (ii) do exaurimento dos
efeitos dentro dos respectivos limites territoriais – até mesmo para se prevenirem
conflitos entre legislações estaduais potencialmente díspares – e (iii) da vedação
da proteção insuficiente. 2. A Lei n. 9.294/1996 retira a possibilidade dos Estados
e dos Municípios de legislarem de forma a permitir a utilização de produtos
fumígenos em circunstâncias diversas das por ela indicadas. Remanesce à
competência suplementar dos entes federados estaduais disciplinar os
ambientes em que é proibido o consumo de tais produtos, sem que tal regulação
implique inobservância dos parâmetros estabelecidos na Lei n. 9.294/1996.
Cumpre assinalar, quanto ao ponto, que essa política pública, inclusive, atende
o critério dos deveres fundamentais de proteção aos direitos. 3. Legitimidade da
Lei n. 16.239/2009 do Estado do Paraná, que estabeleceu restrições quanto ao
consumo de produtos com potencial risco à saúde e à segurança dos
consumidores. Solução legislativa que atende o postulado da proporcionalidade,
ao não impor restrições que violem o núcleo das liberdades individuais e
econômicas fundamentais. 4. Aplicação ao caso do precedente formado na ADI
4.306 (Relator Ministro Edson Fachin, Tribunal Pleno, unanimidade, DJ
19.2.2020). 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
(ADI 4351, Relator(a): ROSA WEBER, Tribunal Pleno, julgado em 24/08/2020,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 16-09-2020 PUBLIC 17-09-
2020)

DIREITOS SOCIAIS. REFORMA TRABALHISTA. PROTEÇÃO


CONSTITUCIONAL À MATERNIDADE. PROTEÇÃO DO MERCADO DE
TRABALHO DA MULHER. DIREITO À SEGURANÇA NO EMPREGO. DIREITO
À VIDA E À SAÚDE DA CRIANÇA. GARANTIA CONTRA A EXPOSIÇÃO DE
GESTANTES E LACTANTES A ATIVIDADES INSALUBRES. 1. O conjunto dos
Direitos sociais foi consagrado constitucionalmente como uma das espécies de
direitos fundamentais, caracterizando-se como verdadeiras liberdades positivas,
de observância obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade
a melhoria das condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização
da igualdade social, e são consagrados como fundamentos do Estado
Democrático, pelo art. 1º, IV, da Constituição Federal. 2. A Constituição Federal
proclama importantes direitos em seu artigo 6º, entre eles a proteção à
maternidade, que é a ratio para inúmeros outros direitos sociais instrumentais,
tais como a licença-gestante e o direito à segurança no emprego, a proteção do
mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da
lei, e redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde,
higiene e segurança. 3. A proteção contra a exposição da gestante e lactante a
atividades insalubres caracteriza-se como importante direito social instrumental
protetivo tanto da mulher quanto da criança, tratando-se de normas de
salvaguarda dos direitos sociais da mulher e de efetivação de integral proteção
ao recém-nascido, possibilitando seu pleno desenvolvimento, de maneira
harmônica, segura e sem riscos decorrentes da exposição a ambiente insalubre
(CF, art. 227). 4. A proteção à maternidade e a integral proteção à criança são
direitos irrenunciáveis e não podem ser afastados pelo desconhecimento,
impossibilidade ou a própria negligência da gestante ou lactante em apresentar
um atestado médico, sob pena de prejudicá-la e prejudicar o recém-nascido. 5.
Ação Direta julgada procedente.
(ADI 5938, Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado
em 29/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-205 DIVULG 20-09-2019
PUBLIC 23-09-2019)

DIREITO À MATERNIDADE. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL CONTRA


DISPENSA ARBITRÁRIA DA GESTANTE. EXIGÊNCIA UNICAMENTE DA
PRESENÇA DO REQUISITO BIOLÓGICO. GRAVIDEZ PREEXISTENTE À
DISPENSA ARBITRÁRIA. MELHORIA DAS CONDIÇÕES DE VIDA AOS
HIPOSSUFICIENTES, VISANDO À CONCRETIZAÇÃO DA IGUALDADE
SOCIAL. DIREITO À INDENIZAÇÃO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
DESPROVIDO. 1. O conjunto dos Direitos sociais foi consagrado
constitucionalmente como uma das espécies de direitos fundamentais, se
caracterizando como verdadeiras liberdades positivas, de observância
obrigatória em um Estado Social de Direito, tendo por finalidade a melhoria das
condições de vida aos hipossuficientes, visando à concretização da igualdade
social, e são consagrados como fundamentos do Estado democrático, pelo art.
1º, IV, da Constituição Federal. 2. A Constituição Federal proclama importantes
direitos em seu artigo 6º, entre eles a proteção à maternidade, que é a ratio para
inúmeros outros direitos sociais instrumentais, tais como a licença-gestante e,
nos termos do inciso I do artigo 7º, o direito à segurança no emprego, que
compreende a proteção da relação de emprego contra despedida arbitrária ou
sem justa causa da gestante. 3. A proteção constitucional somente exige a
presença do requisito biológico: gravidez preexistente a dispensa arbitrária,
independentemente de prévio conhecimento ou comprovação. 4. A proteção
contra dispensa arbitrária da gestante caracteriza-se como importante direito
social instrumental protetivo tanto da mulher, ao assegurar-lhe o gozo de outros
preceitos constitucionais – licença maternidade remunerada, princípio da
paternidade responsável –; quanto da criança, permitindo a efetiva e integral
proteção ao recém-nascido, possibilitando sua convivência integral com a mãe,
nos primeiros meses de vida, de maneira harmônica e segura – econômica e
psicologicamente, em face da garantia de estabilidade no emprego –,
consagrada com absoluta prioridade, no artigo 227 do texto constitucional, como
dever inclusive da sociedade (empregador). 5. Recurso Extraordinário a que se
nega provimento com a fixação da seguinte tese: A incidência da estabilidade
prevista no art. 10, inc. II, do ADCT, somente exige a anterioridade da gravidez
à dispensa sem justa causa.
(RE 629053, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 10/10/2018, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-040 DIVULG 26-02-2019 PUBLIC 27-02-2019)

AGUIAR, Maria Madalena Salsa. A efetividade dos direitos sociais e a tutela


jurisdicional. Disponível em: https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/27484

BARBOSA, Maria Lúcia. Os direitos sociais, a crise da Covid-19 e a morte


anunciada. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-set-05/barbosa-
direitos-sociais-covid-19-morte-anunciada

BOTELHO, Catarina Santos. Os Direitos Sociais em Tempos de Crise. Editora


Almedina: 2015.

BATTEZINI, Andy Portella; REGINATO, Karla Cristine. A crise dos direitos


sociais: uma análise sob a perspectiva da reserva do possível e da (i)legitimidade
do Poder Judiciário. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/108553
MAUÉS, Antonio Moreira; FONSECA, Mônica Maciel Soares; RÊGO, Lorena de
Paula da Silva. Súmula vinculante e direito à igualdade. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/18668

NUNES JÚNIOR, Flávio Martins Alves. Curso de Direito Constitucional. 7ª ed.


Ed. Saraiva, 2023.

SARLET, Ingo Wolfgang. Regime jurídico dos direitos fundamentais sociais na


Constituição (parte I). Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-ago-
05/direitos-fundamentais-regime-direitos-fundamentais-sociais-constituicao-
parte

SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional. 44ª ed., Ed. Juspodivm, 2022.

TELLES, Cristina. Direito à igualdade de gênero: uma proposta de densificação


do Art. 5°, I, da Constituição de 1988. Disponível em:
https://bdjur.stj.jus.br/jspui/handle/2011/139950
7. DIREITOS POLÍTICOS

O Capítulo IV do Título II da Constituição dispõe, em seus artigos 14 ao


16, sobre os Direitos Políticos.

Os Direitos Políticos são instrumentos por meio dos quais a CF garante o


exercício da soberania popular, atribuindo poderes aos cidadãos para
interferirem na condução da coisa pública, seja direta ou indiretamente.

Existem também os direitos políticos negativos, que nada mais são do


que formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-
partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como
impedindo-o de eleger um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou de ser eleito
(capacidade eleitoral passiva).

Sobre este assunto, destacam-se os principais pontos a serem


estudados:

• Soberania popular, nacionalidade, cidadania, sufrágio, voto e


escrutínio;
• Direito político positivo (direito de sufrágio): capacidade eleitoral
ativa e passiva;
• Direito político negativo: inelegibilidades absolutas e relativas;
privação dos direitos políticos, reaquisição dos direitos políticos suspensos ou
perdidos; “ficha suja”; servidor público e exercício do mandato eletivo.
nacionalidade brasileira

Condições de elegibilidade
pleno exercício dos direitos políticos

alistamento eleitoral

domicílio eleitoral na circunscrição

trinta e cinco anos para Presidente e


Vice-Presidente da República e Senador

filiação partidária

trinta anos para Governador e Vice-


Governador de Estado e do Distrito
Federal

idade mínima

vinte e um anos para Deputado Federal,


Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito,
Vice-Prefeito e juiz de paz

dezoito anos para Vereador

Constituição Federal de 1988.

PENAL E PROCESSO PENAL. SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS.


AUTOAPLICAÇÃO. CONSEQUÊNCIA IMEDIATA DA SENTENÇA PENAL
CONDENATÓRIA TRANSITADA EM JULGADO. NATUREZA DA PENA
IMPOSTA QUE NÃO INTERFERE NA APLICAÇÃO DA SUSPENSÃO. OPÇÃO
DO LEGISLADOR CONSTITUINTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1.
A regra de suspensão dos direitos políticos prevista no art. 15, III, é autoaplicável,
pois trata-se de consequência imediata da sentença penal condenatória
transitada em julgado. 2. A autoaplicação independe da natureza da pena
imposta. 3. A opção do legislador constituinte foi no sentido de que os
condenados criminalmente, com trânsito em julgado, enquanto durar os efeitos
da sentença condenatória, não exerçam os seus direitos políticos. 4. No caso
concreto, recurso extraordinário conhecido e provido.
(RE 601182, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min.
ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 08/05/2019, DJe-214
DIVULG 01-10-2019 PUBLIC 02-10-2019)

RECURSO EXTRAORDINÁRIO – MATÉRIA ELEITORAL – ALEGADA


VIOLAÇÃO AOS PRECEITOS INSCRITOS NO ART. 14, §§ 5º e 7º, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA – ELEIÇÃO DE INTEGRANTE DO MESMO
NÚCLEO FAMILIAR PARA O EXERCÍCIO DE TERCEIRO MANDATO
CONSECUTIVO – IMPOSSIBILIDADE – PRECEDENTES – DISCIPLINA
JURÍDICO- -CONSTITUCIONAL DA INELEGIBILIDADE – CONSIDERAÇÕES –
AGRAVO INTERNO IMPROVIDO. – O constituinte revelou-se claramente hostil
a práticas ilegítimas que denotem o abuso de poder econômico ou que
caracterizem o exercício distorcido do poder político-administrativo. Com o
objetivo de proteger a normalidade e a legitimidade das eleições contra a
influência, sempre censurável, do poder econômico ou o abuso, absolutamente
inaceitável, do exercício de função pública é que se definiram situações de
inelegibilidade, destinadas a obstar, precisamente, entre as várias hipóteses
possíveis, a formação de grupos hegemônicos que, monopolizando o acesso
aos mandatos eletivos, virtualmente patrimonializam o poder governamental,
convertendo-o, numa inadmissível inversão dos postulados republicanos, em
verdadeira “res domestica”. – As formações oligárquicas constituem grave
deformação do processo democrático. A busca do poder não pode limitar-se à
esfera reservada de grupos privados, notadamente de índole familiar, sob pena
de frustrar-se o princípio do acesso universal às instâncias governamentais. –
Legitimar-se o controle monopolístico do poder por núcleos de pessoas unidas
por vínculos de ordem familiar equivaleria a ensejar, em última análise, o domínio
do próprio Estado por grupos privados. Não se pode perder de perspectiva, neste
ponto, que a questão do Estado é, por essência, a questão do poder. A
patrimonialização do poder constitui situação de inquestionável anomalia a que
esta Suprema Corte não pode permanecer indiferente. A consagração de
práticas hegemônicas na esfera institucional do poder político conduzirá o
processo de governo a verdadeiro retrocesso histórico, o que constituirá, na
perspectiva da atualização e modernização do aparelho de Estado, situação de
todo inaceitável. Precedentes. Diretriz jurisprudencial que o Supremo Tribunal
Federal firmou na matéria ora em exame que incide sobre a situação versada
nos autos, eis que, mesmo na hipótese de mandato-tampão, inexiste tratamento
diferenciado em relação ao mandato regular, de tal modo que o recorrente,
embora pudesse validamente eleger-se (como se elegeu) Prefeito Municipal em
sucessão ao seu cunhado, não podia disputar a reeleição, em virtude da
inelegibilidade por parentesco (CF, art. 14, §§ 5º e 7º), em face do descabimento
do exercício da Chefia do Poder Executivo local, pela terceira vez consecutiva,
por membros integrantes do mesmo grupo familiar. Decisão do Tribunal Superior
Eleitoral, reconhecendo a inelegibilidade do ora recorrente, que se mantém.
(RE 1128439 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado
em 23/10/2018, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-268 DIVULG 13-12-2018
PUBLIC 14-12-2018)

CONSTITUCIONAL. ELEITORAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO.


REPERCUSSÃO GERAL. PREFEITO AFASTADO POR DECISÃO DO TRE.
ELEIÇÃO SUPLEMENTAR. PRAZO DE INELEGIBILIDADE. ART. 14, § 7º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. APLICAÇÃO. 1. As hipóteses de inelegibilidade
previstas no art. 14, § 7º, da Constituição Federal, inclusive quanto ao prazo de
seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares. Eleição suplementar
marcada para menos de seis meses do afastamento do prefeito por
irregularidades. 2. Recurso improvido.
(RE 843455, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em
07/10/2015, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO
DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-02-2016)

DIREITO CONSTITUCIONAL E ELEITORAL. MODELO NORMATIVO


VIGENTE DE FINANCIAMENTO DE CAMPANHAS ELEITORAIS. LEI DAS
ELEIÇÕES, ARTS. 23, §1º, INCISOS I e II, 24 e 81, CAPUT e § 1º. LEI
ORGÂNICA DOS PARTIDOS POLÍTICOS, ARTS. 31, 38, INCISO III, e 39,
CAPUT e §5º. CRITÉRIOS DE DOAÇÕES PARA PESSOAS JURÍDICAS E
NATURAIS E PARA O USO DE RECURSOS PRÓPRIOS PELOS
CANDIDATOS. PRELIMINARES. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO.
REJEIÇÃO. PEDIDOS DE DECLARAÇÃO PARCIAL DE
INCONSTITUCIONALIDADE SEM REDUÇÃO DE TEXTO (ITENS E.1.e E.2).
SENTENÇA DE PERFIL ADITIVO (ITEM E.5). TÉCNICA DE DECISÃO
AMPLAMENTE UTILIZADA POR CORTES CONSTITUCIONAIS. ATUAÇÃO
NORMATIVA SUBSIDIÁRIA E EXCEPCIONAL DO TRIBUNAL SUPERIOR
ELEITORAL, SOMENTE SE LEGITIMANDO EM CASO DE INERTIA
DELIBERANDI DO CONGRESSO NACIONAL PARA REGULAR A MATÉRIA
APÓS O TRANSCURSO DE PRAZO RAZOÁVEL (IN CASU, DE DEZOITO
MESES). INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. IMPROCEDÊNCIA.
PRETENSÕES QUE VEICULAM ULTRAJE À LEI FUNDAMENTAL POR
AÇÃO, E NÃO POR OMISSÃO. MÉRITO. OFENSA AOS PRINCÍPIOS
FUNDAMENTAIS DEMOCRÁTICO E DA IGUALDADE POLÍTICA.
CUMULAÇÃO DE PEDIDOS DE ADI E DE ADI POR OMISSÃO EM UMA
ÚNICA DEMANDA DE CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE. VIABILIDADE PROCESSUAL. PREMISSAS
TEÓRICAS. POSTURA PARTICULARISTA E EXPANSIVA DA SUPREMA
CORTE NA SALVAGUARDA DOS PRESSUPOSTOS DEMOCRÁTICOS.
SENSIBILIDADE DA MATÉRIA, AFETA QUE É AO PROCESSO POLÍTICO-
ELEITORAL. AUTOINTERESSE DOS AGENTES POLÍTICOS. AUSÊNCIA DE
MODELO CONSTITUCIONAL CERRADO DE FINANCIAMENTO DE
CAMPANHAS. CONSTITUIÇÃO-MOLDURA. NORMAS FUNDAMENTAIS
LIMITADORAS DA DISCRICIONARIEDADE LEGISLATIVA.
PRONUNCIAMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL QUE NÃO
ENCERRA O DEBATE CONSTITUCIONAL EM SENTIDO AMPLO. DIÁLOGOS
INSTITUCIONAIS. ÚLTIMA PALAVRA PROVISÓRIA. MÉRITO. DOAÇÃO POR
PESSOAS JURÍDICAS. INCONSTITUCIONALIDADE DOS LIMITES
PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO (2% DO FATURAMENTO BRUTO DO ANO
ANTERIOR À ELEIÇÃO). VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICO E
DA IGUALDADE POLÍTICA. CAPTURA DO PROCESSO POLÍTICO PELO
PODER ECONÔMICO. “PLUTOCRATIZAÇÃO” DO PRÉLIO ELEITORAL.
LIMITES DE DOAÇÃO POR NATURAIS E USO DE RECURSOS PRÓPRIOS
PELOS CANDIDATOS. COMPATIBILIDADE MATERIAL COM OS CÂNONES
DEMOCRÁTICO, REPUBLICANO E DA IGUALDADE POLÍTICA. AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE JULGADA PARCIALMENTE
PROCEDENTE. 1. A postura particularista do Supremo Tribunal Federal, no
exercício da judicial review, é medida que se impõe nas hipóteses de
salvaguarda das condições de funcionamento das instituições democráticas, de
sorte (i) a corrigir as patologias que desvirtuem o sistema representativo,
máxime quando obstruam as vias de expressão e os canais de participação
política, e (ii) a proteger os interesses e direitos dos grupos políticos
minoritários, cujas demandas dificilmente encontram eco nas deliberações
majoritárias. 2. O funcionamento do processo político-eleitoral, conquanto
matéria deveras sensível, impõe uma postura mais expansiva e particularista
por parte do Supremo Tribunal Federal, em detrimento de opções mais
deferentes e formalistas, sobre as escolhas políticas exercidas pelas maiorias
no seio do Parlamento, instância, por excelência, vocacionada à tomada de
decisão de primeira ordem sobre a matéria. 3. A Constituição da República, a
despeito de não ter estabelecido um modelo normativo pré-pronto e cerrado de
financiamento de campanhas, forneceu uma moldura que traça limites à
discricionariedade legislativa, com a positivação de normas fundamentais (e.g.,
princípio democrático, o pluralismo político ou a isonomia política), que
norteiam o processo político, e que, desse modo, reduzem, em alguma
extensão, o espaço de liberdade do legislador ordinário na elaboração de
critérios para as doações e contribuições a candidatos e partidos políticos. 4. O
hodierno marco teórico dos diálogos constitucionais repudia a adoção de
concepções juriscêntricas no campo da hermenêutica constitucional, na medida
em que preconiza, descritiva e normativamente, a inexistência de instituição
detentora do monopólio do sentido e do alcance das disposições magnas, além
de atrair a gramática constitucional para outros fóruns de discussão, que não
as Cortes. 5. O desenho institucional erigido pelo constituinte de 1988, mercê
de outorgar à Suprema Corte a tarefa da guarda precípua da Lei Fundamental,
não erigiu um sistema de supremacia judicial em sentido material (ou
definitiva), de maneira que seus pronunciamentos judiciais devem ser
compreendidos como última palavra provisória, vinculando formalmente as
partes do processo e finalizando uma rodada deliberativa acerca da temática,
sem, em consequência, fossilizar o conteúdo constitucional. 6. A formulação de
um modelo constitucionalmente adequado de financiamento de campanhas
impõe um pronunciamento da Corte destinado a abrir os canais de diálogo com
os demais atores políticos (Poder Legislativo, Executivo e entidades da
sociedade civil). 7. Os limites previstos pela legislação de regência para a
doação de pessoas jurídicas para as campanhas eleitorais se afigura assaz
insuficiente a coibir, ou, ao menos, amainar, a captura do político pelo poder
econômico, de maneira a criar indesejada “plutocratização” do processo
político. 8. O princípio da liberdade de expressão assume, no aspecto político,
uma dimensão instrumental ou acessória, no sentido de estimular a ampliação
do debate público, de sorte a permitir que os indivíduos tomem contato com
diferentes plataformas e projetos políticos. 9. A doação por pessoas jurídicas a
campanhas eleitorais, antes de refletir eventuais preferências políticas, denota
um agir estratégico destes grandes doadores, no afã de estreitar suas relações
com o poder público, em pactos, muitas vezes, desprovidos de espírito
republicano. 10. O telos subjacente ao art. 24, da Lei das Eleições, que elenca
um rol de entidades da sociedade civil que estão proibidas de financiarem
campanhas eleitorais, destina-se a bloquear a formação de relações e alianças
promíscuas e não republicanas entre aludidas instituições e o Poder Público,
de maneira que a não extensão desses mesmos critérios às demais pessoas
jurídicas evidencia desequiparação desprovida de qualquer fundamento
constitucional idôneo. 11. Os critérios normativos vigentes relativos à doação a
campanhas eleitorais feitas por pessoas naturais, bem como o uso próprio de
recursos pelos próprios candidatos, não vulneram os princípios fundamentais
democrático, republicano e da igualdade política. 12. O Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil ostenta legitimidade ad causam universal para
deflagrar o processo de controle concentrado de constitucionalidade, ex vi do
art. 103, VII, da Constituição da República, prescindindo, assim, da
demonstração de pertinência temática para com o conteúdo material do ato
normativo impugnado. 13. As disposições normativas adversadas constantes
das Leis nº 9.096/95 e nº 9.504/97 revelam-se aptas a figurar como objeto no
controle concentrado de constitucionalidade, porquanto primárias, gerais,
autônomas e abstratas. 14. A “possibilidade jurídica do pedido”, a despeito das
dificuldades teóricas de pertinência técnica (i.e., a natureza de exame que ela
envolve se confunde, na maior parte das vezes, com o próprio mérito da
pretensão) requer apenas que a pretensão deduzida pelo autor não seja
expressamente vedada pela ordem jurídica. Consectariamente, um pedido
juridicamente impossível é uma postulação categoricamente vedada pela
ordem jurídica. (ARAGÃO, Egas Dirceu Moniz de. Comentários ao Código de
Processo Civil. 10ª ed. Rio de Janeiro: Forense, p. 394). 15. In casu, a) Os
pedidos constantes dos itens “e.1” e “e.2”, primeira parte, objetivam apenas e
tão somente que o Tribunal se limite a retirar do âmbito de incidência das
normas impugnadas a aplicação reputada como inconstitucional, sem, com
isso, proceder à alteração de seu programa normativo. b) Trata-se, a toda
evidência, de pedido de declaração de inconstitucionalidade parcial sem
redução de texto, cuja existência e possibilidade são reconhecidas pela
dogmática constitucional brasileira, pela própria legislação de regência das
ações diretas (art. 28, § único, Lei nº 9.868/99) e, ainda, pela práxis deste
Supremo Tribunal Federal (ver, por todos, ADI nº 491/AM, Rel. Min. Moreira
Alves, Tribunal Pleno, DJ 25.10.1991). c) Destarte, os pedidos constantes dos
itens “e.1” e “e.2” são comuns e naturais em qualquer processo de controle
abstrato de constitucionalidade, razão por que a exordial não veicula qualquer
pretensão expressamente vedada pela ordem jurídica. d) O pedido aduzido no
item “e.5” não revela qualquer impossibilidade que nos autorize a, de plano,
reconhecer sua inviabilidade, máxime porque o Requerente simplesmente
postula que a Corte profira uma “sentença aditiva de princípio” ou “sentença-
delegação”, técnica de decisão comumente empregada em Cortes
Constitucionais algures, notadamente a italiana, de ordem a instar o legislador
a disciplinar a matéria, bem assim a delinear, concomitantemente, diretrizes
que devem ser por ele observadas quando da elaboração da norma,
exsurgindo como método decisório necessário em casos em que o debate é
travado nos limites do direito posto e do direito a ser criado. 16. Ademais, a
atuação normativa do Tribunal Superior Eleitoral seria apenas subsidiária e
excepcional, somente se legitimando em caso de inertia deliberandi do
Congresso Nacional para regular a matéria após o transcurso de prazo
razoável (in casu, de dezoito meses), incapaz, bem por isso, de afastar a
prerrogativa de o Parlamento, quando e se quisesse, instituir uma nova
disciplina de financiamento de campanhas, em razão de a temática encerrar
uma preferência de lei. 17. A preliminar de inadequação da via eleita não
merece acolhida, visto que todas as impugnações veiculadas pelo Requerente
(i.e., autorização por doações por pessoas jurídicas ou fixação de limites às
doações por pessoas naturais) evidenciam que o ultraje à Lei Fundamental é
comissivo, e não omissivo. 18. A cumulação simples de pedidos típicos de ADI
e de ADI por omissão é processualmente cabível em uma única demanda de
controle concentrado de constitucionalidade, desde que satisfeitos os requisitos
previstos na legislação processual civil (CPC, art. 292). 19. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para assentar apenas e
tão somente a inconstitucionalidade parcial sem redução de texto do art. 31 da
Lei nº 9.096/95, na parte em que autoriza, a contrario sensu, a realização de
doações por pessoas jurídicas a partidos políticos, e pela declaração de
inconstitucionalidade das expressões “ou pessoa jurídica”, constante no art. 38,
inciso III, e “e jurídicas”, inserta no art. 39, caput e § 5º, todos os preceitos da
Lei nº 9.096/95.

(ADI 4650, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 17/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-034 DIVULG 23-02-2016 PUBLIC 24-02-2016)

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TORRES, Damiana. A importância dos direitos políticos. Disponível em:


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