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EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO MODERADO NO SISTEMA IMUNOLÓGICO DOS


IDOSOS

Article · January 2006

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7 authors, including:

Manuel T Veríssimo Anabela Mota Pinto


University of Coimbra University of Coimbra
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Vera Alves Ricardo Freitas


University of Coimbra Centro Hospitalar de Coimbra
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EFEITO DO EXERCÍCIO FÍSICO MODERADO NO SISTEMA IMUNOLÓGICO DOS IDOSOS

Manuel Teixeira Veríssimo1, Anabela Mota Pinto2, Vera Alves3, Ricardo Freitas4,
Manuel Batista4, Manuel Santos Rosa5, Maria Helena Saldanha6

1. Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra. Especialista de Medicina Interna dos Hospitais


da Universidade de Coimbra. Especialista de medicina Desportiva.
2. Professora da Faculdade de Medicina de Coimbra. Directora do Instituto de Patologia Geral da
Faculdade de Medicina de Coimbra.
3. Investigadora do Instituto de Imunologia da Faculdade de Medicina de Coimbra.
4. Interno do Internato Complementar de Medicina Interna dos Hospitais da Universidade de
Coimbra.
5. Professor da Faculdade de Medicina de Coimbra. Director do Instituto de Imunologia da
Faculdade de Medicina de Coimbra.
6. Professora da Faculdade de Medicina de Coimbra. Directora do Serviço de Medicina I dos
Hospitais da Universidade de Coimbra.

RESUMO

A função imunológica é adversamente influenciada pelo envelhecimento, sendo os


linfócitos T, que têm um papel fulcral na imunidade celular, os mais atingidos na sua
função e distribuição. A prática regular de exercício físico pode ajudar a preservar a
função imune no idoso, no entanto ainda pouco se conhece sobre esta relação.
Objectivos: Avaliar, em idosos, o efeito do treino físico moderado sobre os linfócitos e
suas sub-fracções.
Material e métodos: Participaram no estudo idosos de ambos os sexos, previamente
sedentários, com a idade média de 77.97.4 anos que, após terem cumprido os
critérios de inclusão, foram aleatoriamente distribuídos por grupo teste e grupo
controlo. O grupo teste participou durante 8 meses num programa de exercício físico
moderado (60-80% da frequência de reserva cardíaca), composto por uma sessão de
60 min, três vezes por semana, em dias alternados, enquanto o grupo controlo se
manteve sedentário. Terminaram o estudo 63 idosos (teste=31; controlo=32). Antes e
depois do programa de exercício físico foi colhido sangue para a avaliação dos
parâmetros imunológicos. As sub-populações linfocitárias foram determinadas por
citometria de fluxo usando anticorpos monoclonais. Para a análise estatística foi
utilizado o teste ANOVA de duas vias com medições repetidas.
Resultados: Depois de oito meses de treino físico moderado verificou-se aumento do
número de linfócitos totais (p< .001); linfócitos CD3 (p< .001); linfócitos CD4 (p= .004);
e linfócitos CD8 (p< .001). Os linfócitos CD19 e CD56 não foram significativamente
influenciados. Não foram encontradas alterações significativas no grupo controlo.
Conclusões: O treino físico moderado melhora o perfil imunológico dos idosos,
opondo-se assim ao efeito nefasto do envelhecimento.

Palavras chave: idosos; envelhecimento; imunologia; linfócitos; exercício físico

ABSTRACT

Human immune function undergoes adverse changes with aging. The T cells, which
have a central role in cellular immunity, show the largest age-related differences in
distribution and function. An appropriate regular regimen of endurance exercise might
help elderly to lead a quality of life by preserving immune function. However, very
little is known regarding the interaction between exercise, aging and immune system.
Purpose: To evaluate the effects of long-term physical exercise on lymphocyte number
and T cells subset in elderly man and women.
Methods: Sixty-nine sedentary, elderly men and women, 65-94 yr of age, who met
specific selection criteria, were randomized to either exercise training group or control
group; 63 completed the study (EX n=31; C n=32). Intervention group exercised 60 min,
3 times per week, for 8 months at 60-80 % of heart rate reserve; control group
continued sedentary. Before and after this program were collected blood samples for
immunology assay. Lymphocyte subpopulations were determined by flow cytometry
using selected monoclonal antibodies. Data were analyzed using repeated measures
ANOVA.
Results: After 8 months of moderated physical training, total lymphocytes increased
(p< .001); CD3 increased (p< .001); CD4 increased (p= .oo4); CD8 increased (p< .001);
CD19 increased (ns); CD56 decreased (ns). There were no significant changes in control
group.
Conclusions: Moderate physical training may counteract the adverse T cells changes
express with aging.

Keys words: elderly; aging; immunology; lymphocytes; physical exercise

INTRODUÇÃO

O efeito do exercício físico sobre o sistema imunológico tem sido largamente


estudado nos últimos anos, no entanto, alguns aspectos continuam ainda por explicar,
designadamente no que respeita ao tipo, quantidade e intensidade do exercício físico
praticado, bem como à influência de variantes individuais como a capacidade física,
estado de saúde, sexo e idade dos praticantes.
A maioria dos estudos nesta área foi efectuada durante ou após uma única
sessão de exercício físico, sabendo-se pouco da resposta ao exercício físico praticado
de forma crónica. Por outro lado, a quase totalidade dos estudos foi efectuada em
indivíduos jovens e de meia-idade, sendo poucos os que foram realizados em idosos.
Nestes últimos o assunto ganha particular relevância, pois sabe-se que se verificam
importantes modificações imunológicas com o envelhecimento, as quais, se podem
repercutir negativamente na morbilidade e mortalidade desta população (1,2).
O envelhecimento não afecta de igual modo todos os componentes do sistema
imunitário, parecendo ser a imunidade celular a que mais adversamente é afectada.
De facto, embora a concentração de leucócitos, granulócitos e monócitos não varie
apreciavelmente com o envelhecimento e os linfócitos totais apenas diminuam

ligeiramente nas idades mais avançadas, é nas sub-classes destes últimos que se
encontram as principais modificações. Assim, enquanto os linfócitos B apresentam
uma ligeira diminuição e os linfócitos NK se mantêm estáveis ou até aumentam, os
linfócitos T tendem a diminuir com a idade, sendo o declínio mais acentuado nos CD8
do que nos CD4 (1,2,3,4,5). Não só o número, mas também a função destas células
parece ser afectada, já que os idosos apresentam diminuição da resposta aos testes

cutâneos de hipersensibilidade retardada (3,6) e menor capacidade proliferativa dos

linfócitos T a mitogénicos como a concavalina A e a fitohemaglutinina (5), quando


comparados com indivíduos jovens. É este estado de imuno-senescência que, pelo
menos em parte, poderá ser responsável pela maior incidência de doenças infecciosas,

neoplásicas e auto-imunes verificadas nos idosos (2,4,7).


Embora saibamos que o envelhecimento do sistema imunológico é inexorável,
como de resto acontece com todo o organismo, foi a hipótese de que o exercício físico
pode prevenir ou retardar este declínio que motivou a realização deste estudo.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado em idosos funcionalmente independentes, de ambos os


sexos, com idade compreendida entre 65 e 94 anos e residentes num centro de
terceira idade de Coimbra que, após terem aceite participar no estudo, foram
randomizados para grupo teste e grupo de controlo, com estratificação por sexo e
idade.
Aderiram ao projecto 86 idosos, que foram sujeitos a um protocolo de selecção
composto por exame clínico, análises gerais de sangue e urina e electrocardiograma de
esforço, tendo sido excluídos 17 por apresentarem patologias ou alterações analíticas
que contra-indicavam a prática de exercício físico.
Dos 69 idosos que iniciaram o estudo apenas 63 o terminaram, apresentando-se
no quadro I a caracterização final dos grupos quanto ao número, sexo e idade.
Durante o estudo os idosos não foram acometidos por doenças, nem sujeitos a
novas medicações ou modificações das pré-existentes, que pudessem ter interferido
nos parâmetros avaliados.
O grupo teste foi sujeito a um programa de exercício físico, enquanto o grupo
controlo manteve o seu padrão de vida habitual.
PROGRAMA DE EXERCÍCIO FÍSICO

As sessões de exercício físico tiveram lugar num salão apropriado, tendo sido
ministradas por um monitor de educação física com acompanhamento médico.
O programa, com a duração de oito meses, compreendeu três sessões de
exercício físico por semana, em dias alternados, com a duração unitária de cerca de 60
minutos, sendo cada sessão composta por: 5 minutos de ginástica geral de
aquecimento, 15 minutos em bicicleta ergométrica, 15 minutos em tapete rolante
eléctrico, 10 minutos em aparelho de remo ergométrico, 10 minutos em manivela
ergométrica e 5 minutos de ginástica geral de arrefecimento.
A intensidade do exercício físico foi de 60 a 80% da frequência cardíaca de
reserva, tendo o programa sido iniciado por sessões de pequena duração e baixa
intensidade, que foram aumentadas progressivamente até ao fim do primeiro mês,
altura a partir da qual se mantiveram estáveis até ao fim do estudo.

PARÂMETROS IMUNOLÓGICOS

Antes do início do programa de exercício físico e oito meses depois, foi colhido
sangue para a determinação dos linfócitos totais e sub-populações linfocitárias CD3,

CD4, CD8, CD19, CD56 e células duplamente negativas.

As colheitas foram efectuadas pela manhã, estando os idosos em jejum e em


condições basais semelhantes nas duas avaliações.
As determinações foram feitas num citómetro de fluxo equipado com “Cell

Sorting” - Facstar Plus®, da Bekton Dickinson®, adquirindo dez mil células num fluxo de
cerca de mil por segundo.
Foram utilizados, aquando da análise a duas cores, anticorpos monoclonais

Immunotech® marcados com ficoeritrina para o CD19, CD3, CD4 e CD8. Na análise a

três cores foram utilizados anticorpos monoclonais Immunotech® para o CD19 e CD56,

marcados respectivamente pela fluoresceína e ficoeritrina, anticorpos Dako® para o


CD3 e CD8, sendo os primeiros marcados pela ficoeritrina e os segundos pela
fluoresceína e anticorpos Sigma Immuno Chemicals para o CD4, com marcação pelo

Quantum Red®.
Os valores de cada fracção foram determinados em percentagem, sendo
posteriormente calculado o seu valor absoluto a partir do número total de linfócitos.

ANÁLISE ESTATÍSTICA

O tratamento estatístico dos dados foi efectuado através do programa “SPSS


11.5 para o Windows, tendo sido efectuadas as seguintes operações: análise descritiva
dos dados, os quais são apresentados como a média aritmética e desvio padrão;
análise de variância (ANOVA) de duas vias com medições repetidas; teste “t de
Student”. As diferenças encontradas foram consideradas significativas quando “p
<0,05”.

RESULTADOS

Os resultados, apresentados no quadro II, mostraram que:


O número de linfócitos totais, CD3, CD4 e CD8 aumentou significativamente nos
idosos sujeitos a exercício físico, enquanto no grupo controlo não se verificaram
alterações significativas.
A relação linfócitos CD4/CD8 diminuiu significativamente nos idosos sujeitos a
exercício físico, enquanto o grupo controlo se manteve estável.
O número de linfócitos CD19 e CD56 não sofreu alterações significativas, quer
nos idosos sujeitos a exercício físico, quer no grupo controlo.
Os linfócitos duplamente negativos (DN) aumentaram significativamente quer
nos idosos sujeitos a exercício físico quer no grupo controlo, embora neste o aumento
tenha sido menos marcado.

DISCUSSÃO

As bases para a realização deste estudo alicerçaram-se por um lado no


envelhecimento do sistema imunológico e por outro nos possíveis benefícios que o
exercício físico regular lhe pode trazer. De facto é atraente a hipótese de que, à
semelhança do que acontece com alguns aparelhos, especialmente o locomotor, o
exercício físico possa contrariar o natural envelhecimento do sistema imunitário.
A resposta crónica ao exercício físico tem sido pouco estudada, parecendo
contudo também depender da duração do programa de exercício físico e da sua
intensidade. Os dados disponíveis apontam para que o treino moderado melhore a

função imunológica enquanto o intenso a deprime (3,8).


O programa de exercício físico prescrito aos idosos do nosso estudo, tendo sido
baseado nestes conhecimentos, terá reunido, ao que julgamos, as condições
necessárias para influenciar positivamente o seu sistema imunológico, pois para além
de ter sido desenvolvido durante oito meses, tempo suficiente para a estabilização da
resposta, foi praticado em sessões com duração não excessiva, em dias alternados e
com intensidade moderada.
De seguida far-se-á a discussão por grupos e sub-grupos das populações
linfocitárias.

LINFÓCITOS TOTAIS

Os linfócitos totais aumentaram de modo estatisticamente significativo nos


idosos do grupo teste. Como o grupo controlo não mostrou alterações apreciáveis e as
condições de vida dos dois grupos foram idênticas durante o estudo, pensamos que tal
efeito deverá ser atribuído ao exercício físico.
Estes resultados vêm demonstrar que o aumento do número de linfócitos
circulantes não acontece apenas como resposta aguda ao exercício físico, como tem

sido amplamente demonstrado em não idosos(3) e também num estudo em idosos(9),


mas pode também acontecer como resposta ao treino continuado. De salientar que as
colheitas de sangue foram efectuadas trinta e seis horas após a última sessão de
exercício físico o que afasta a hipótese de se tratar de resposta aguda ao treino ou ser
uma consequência de hemoconcentração.
Estes resultados que estão de acordo com alguns trabalhos transversais nos
quais se demonstra que a percentagem de linfócitos é maior em idosos fisicamente

activos do que nos sedentários (4), estão todavia em desacordo com o trabalho
prospectivo de Nieman e col, realizado em mulheres idosas, no qual um programa de
treino de 12 semanas, composto por sessões de 30 a 40 minutos de marcha a 60% da
frequência de reserva cardíaca, cinco dias por semana, não provocou alterações

significativas do número de linfócitos circulantes (10). Pensamos que a diferença


poderá dever-se à intensidade do exercício físico, que foi ligeiramente inferior à do
nosso estudo, e ao menor tempo de duração, quer de cada sessão, quer do próprio
programa. Também o grupo de controlo utilizado, composto por mulheres que
durante o estudo apenas fizeram ginástica de flexibilidade pode ter contribuído para
mascarar os resultados. De facto, embora os autores se tivessem baseado, para validar
o grupo de controlo, num trabalho que mostra que este tipo de ginástica não

influencia o número de linfócitos (11) por não estimular o sistema cardiovascular e


consequentemente o sistema neuro-endócrino, a verdade é que o exercício físico
poderá influenciar o sistema imunológico através de outras vias como a diminuição do

stress, a diminuição da depressão, a modelação do apetite e a melhoria do sono (12),


os quais não precisam, necessariamente, da existência daquela estimulação, para que
os seus efeitos se manifestem.
O aumento do número de linfócitos encontrado no nosso estudo, para além de
provar a responsividade dos idosos aos treino físico regular, poderá indicar que este
efeito não será apenas a soma das consequências das alterações neuro-endócrinas
verificadas em cada sessão, mas possivelmente reflectirá adaptações hormonais
persistentes que se manterão durante o repouso. De facto, sabendo-se que a resposta
aguda a cada sessão de exercício físico moderado é menor em idosos do que em

jovens (13,14) e que é limitada no tempo (1 a 3 horas), tendendo a diminuir com o

aumento da capacidade física provocada pelo treino (15), é pouco provável que as
alterações encontradas no nosso estudo sejam apenas devidas ao efeito isolado de
cada sessão.
Para esclarecer este aspecto será desejável que o futuro nos traga trabalhos em
que para além da resposta imunológica ao exercício físico crónico sejam também
avaliadas as hormonas que, sendo influenciadas pelo exercício físico, influenciam por
sua vez os parâmetros imunológicos como é o caso das catecolaminas, β-endorfinas,

cortisol, DHEA e hormona do crescimento (16).


LINFÓCITOS CD3, CD4 E CD8

Os linfócitos T (CD3) aumentaram significativamente no grupo dos idosos que


praticou exercício físico, enquanto o grupo controlo manteve valores semelhantes nas
duas avaliações. O mesmo tipo de resposta foi encontrada para as sub-fracções T CD4
e CD8, embora no sexo feminino o aumento dos primeiros não tenha atingido signi-
ficado estatístico. Não encontrando outras razões para esta menor resposta dos CD4
no sexo feminino pensamos que possa estar associada ao nível elevado dos seus
valores basais, pois como demonstrou Lapierre em indivíduos infectados pelo HIV, a

resposta é maior quando os valores iniciais estão diminuídos e vice-versa (17).


O aumento dos CD8 foi maior do que o dos CD4, o que, justificando a diminuição
da relação CD4/CD8 parece mostrar uma maior sensibilidade dos CD8 ao treino físico.
Tal diferença poderá ser justificada, por um lado porque os CD8 têm mais receptores

β-adrenérgicos que os CD4 (18), podendo assim ser mais eficazmente estimulados, e
por outro porque sendo os CD8 mais adversamente afectados pelo envelhecimento é
provável que a resposta ao treino físico seja maior, pois como referido anteriormente
para os CD4, também para estes a resposta ao exercício é maior quando os seus

valores basais são mais baixos (17).


Estes resultados estando de acordo com os estudos transversais que mostram
ser o número de linfócitos CD3, CD4 e CD8 mais elevado em idosos treinados do que

em sedentários (4,19), vão também ao encontro do verificado no trabalho prospectivo


realizado em idosas, atrás referido. Neste verificou-se aumento dos três tipos de
células, contudo, talvez devido à menor duração do estudo e à menor intensidade do
treino, este aumento apenas atingiu significado estatístico nos CD3 e CD8, mostrando,
tal como o presente estudo, uma maior resposta dos CD8.
Assim, os resultados encontrados são reveladores da grande importância que o
exercício físico moderado e regular pode ter no estado imunológico dos idosos, pois
aumentando o número de linfócitos T e sub-populações CD4 e CD8, demonstra ter um
efeito oposto ao do envelhecimento, que, como referido anteriormente, se caracteriza

pela diminuição destes três tipos de células, com predomínio dos CD8 (2,3,4,5, 20, 21).
LINFÓCITOS CD19

O número de linfócitos B (CD19) não apresentou modificações significativas


entre as duas avaliações, quer no grupo teste, quer no grupo controlo.
Esta ausência de resposta ao exercício físico crónico, contrastando com o

habitual aumento verificado na resposta aguda (22,23), poderá ser atribuída à


dessensibilização dos receptores β-adrenérgicos linfocitários provocada pelo treino

físico, tornando-os menos sensíveis à estimulação pelas catecolaminas (24). Também o


facto do número de linfócitos B não diminuir com o envelhecimento poderá justificar a
sua não resposta, pois aquele parece influenciar especialmente as sub-populações que

se encontram diminuídas (17).


Estes resultados, estando de acordo com os estudos transversais realizados em
idosos, nos quais o número de linfócitos CD19 era semelhante em idosos com elevada
capacidade física e sedentários, estão também de acordo com o estudo prospectivo já
referido anteriormente, no qual do mesmo modo não se encontraram modificações
significativas com o treino físico moderado e prolongado.
O facto do número de linfócitos B não ter sido influenciado pelo treino físico não
quer contudo dizer que não possa ter havido benefício, pois sabendo-se que a
deterioração da função destas células com o envelhecimento está essencialmente

relacionada com o défice de factores segregados pelos linfócitos T (4,6), é possível que
o efeito positivo verificado nestas também possa ter melhorado a sua função.

LINFÓCITOS CD56

Os linfócitos CD56, que correspondem à função NK, não foram significativamente


influenciados pelo treino físico. Esta ausência de resposta ao treino físico prolongado,

estando de acordo com o estudo prospectivo de Nieman e col. (10), está no entanto
em desacordo com alguns estudos transversais, nos quais os idosos fisicamente
treinados apresentavam maior número de células NK do que os sedentários
(4,25,26,27). Contudo, sabendo-se que os idosos que participam nos programas de

exercício físico por auto-selecção já possuem, habitualmente, características que se


associam a um melhor perfil imunológico, como melhor capacidade física intrínseca,
melhor composição corporal, hábitos alimentares mais equilibrados e até maior

resistência biológica (10), é difícil atribuir tal efeito apenas ao exercício físico.
Interpretando os dados do presente estudo à luz da teoria que defende ter o
exercício físico regular uma acção preventiva no envelhecimento imunológico, esta
poderá ser considerada uma resposta normal, pois, não existindo, de acordo com

alguns autores (4,28,29,30,31) diminuição, nem do número nem da capacidade


funcional dos linfócitos NK com o envelhecimento, não haverá lugar para que se
verifique tal efeito.

LINFÓCITOS DUPLAMENTE NEGATIVOS (DN)

As células DN, isto é com marcação positiva para o CD3 mas negativa para CD4 e

CD8 (CD3CD4—CD8—), aumentaram nos grupos teste e controlo, no entanto o


aumento foi maior nos idosos que praticaram exercício físico. Parece assim que para
além da existência de factores que fizeram aumentar estes linfócitos nos dois grupos o
treino físico provocou um aumento suplementar. Embora desconhecendo as causas
que levaram ao aumento destas células no grupo controlo, pensamos que possam
estar relacionadas com o efeito sazonal. De facto, sabendo-se que os parâmetros
imunológicos podem sofrer variações com a época do ano, particularmente entre os
meses quentes e os meses frios (32), e tendo o nosso estudo decorrido entre o início
do Outono e a Primavera, admitimos que tal possa justificar este aumento.
Estas células, que apenas se podem correctamente identificar num protocolo
analítico de citometria a três cores, constituem um grupo de linfócitos sem restrição

HLA, que entre outros, têm uma importante actividade citotóxica (33,34). Constituem
contudo uma população heterogénea, englobando os que exprimem o TCR , sem

expressão de CD4 e de CD8, e ainda o gama (35,36). Embora não seja possível

saber-se qual a percentagem relativa destas duas populações ( e ), a não ser que
tivessem sido utilizados anticorpos monoclonais dirigidos aos TCRs, o facto da relação
entre os CD3 e os DN serem semelhantes antes e após o período de treino leva-nos a
aceitar que os sejam a população predominante, e, consequentemente, seja a
função citotóxica a mais influenciada.
Estes resultados apontam pois para que o treino físico tenha aumentado a
capacidade efectiva da citotoxicidade destas células traduzindo-se assim num
benefício para os idosos.

CONCLUSÕES

Os resultados deste estudo mostram-nos que, em idosos de ambos os sexos, a


prática regular de exercício físico moderado aumenta significativamente os valores
basais dos linfócitos T circulantes, especialmente a sub-população CD8, não
influenciando, todavia, os linfócitos B e NK.
Este facto permite-nos assim concluir que o treino físico moderado, aumentando
o número de linfócitos em geral e os CD8 em particular, se opõe ao normal
envelhecimento do sistema imunológico, podendo por isso contribuir para a
prevenção de certas doenças, principalmente infecciosas, neoplásicas e auto-imunes,
cuja frequência é elevada nas idades avançadas.

Quadro I – CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA POR GRUPO, SEXO E IDADE

Masculino Feminino Total


n Idade n Idade n Idade
(Média  SD) (Média  SD) (Média  SD)
Grupo exercício 15 76.9  8.1 16 78.8  6.7 31 77.9  7.4

Grupo controle 16 77.1  7.8 16 78.5  7.2 32 77.8  7.5

Total 31 77.0  7.9 32 78.6  6.9 63 77.9  7.4


Quadro II – VALORES DE LINFÓCITOS E SUB-FRACÇÕES LINFOCITÁRIAS ANTES E APÓS 8 MESES DE
EXERCÍCIO FÍSICO MODERADO
Antes Após p
média ± SD média ± SD
Linfócitos totais 2112 ± 828 2303 ± 916 0,001
Exercício 2171 ± 697 2111 ± 859 NS
Controlo

Linfócitos CD3 1485 ± 602 1670 ± 667 <0,001


Exercício 1617 ± 546 1555 ± 675 NS
Controlo

Linfócitos CD4 887 ± 303 978 ± 355 0,004


Exercício 920 ± 339 881 ± 344 NS
Controlo

Linfócitos CD8 547 ± 346 625 ± 368 <0,001


Exercício 617 ± 358 591 ± 384 NS
Controlo

Relação CD4/CD8 2,14 ± 1,32 1,94 ± 0,96 0,031


Exercício 2,06 ± 1,51 2,06 ± 1,45 NS
Controlo

Linfócitos CD19 293 ± 197 300 ± 188 NS


Exercício 225 ± 105 224 ± 102 NS
Controlo

Linfócitos CD56 309 ± 344 305 ± 332 NS


Exercício 306 ± 258 314 ± 272 NS
Controlo

Linfócitos DN 52,7 ± 33,4 81,3 ± 47,0 <0,001


Exercício 63,3 ± 34,6 81,3 ± 39,3 0,020
Controlo

DN = Duplamente negativos para a marcação pelo CD4 e CD8


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