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Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA

Centro Multidisciplinar de Pau dos Ferros


PEN2025 - Matemática Discreta - 2023.2
Prof. Bruno Xavier
Notas de Aula - Lógica

O vocabulário de Matemática Discreta pode assustar no início por ser extenso e ter
termos bastante novos para a maioria dos alunos. Portanto, esteja atento aos conceitos
fundamentais da matéria para que você consiga acompanhar eficazmente as aulas.

Um dos conceitos básicos é o de proposição, as vezes chamada de enunciado. Uma


proposição é um afirmação que pode ser analisada como verdadeira ou falsa.

São exemplos de proposições:

• Pau dos Ferros é um cidade com clima muito quente


• 3∈N
• A soma de dois números pares sempre é par
• 4≤3

Nos exemplos acima, não estamos interessados se as afirmações são verdadeiras. Os


exemplos a seguir não são proposições.

• Por favor, me dê um pouco de água


• 23
• Apague o quadro
• π
• O cachorro caramelo
• O que é o que é, nasce grande e morre pequeno

Não podemos afirmar que a frase “o cachorro caramelo” seja verdadeira, muito menos
falsa. Na verdade, essas afirmações não são suscetíveis a interpretações de veracidade.

As proposições podem ser combinadas, por meio de conectivos, para formarem outras
proposições, por exemplo, x > 3 e x < 6. Neste sentido, apresentamos os seguintes conec-
tivos:

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Conectivo Nome Exemplo
¬ negação ¬P : não P
∧ conjunção P ∧ Q: P e Q
∨ disjunção P ∨ Q: P ou Q
→ implicação P → Q: se P , então Q
↔ bi-implicação P ↔ Q: P se, e somente se, Q

Definição 1. Seja P o conjunto de todas as proposições. Se P, Q ∈ P, então ¬P , P ∧ Q,


P ∨ Q, P → Q e P ↔ Q são proposições.

Seja a proposição “uso espelho para me pentear”. Vamos compor outra proposição adi-
cionando o conectivo de negação. Portanto, teremos “não uso espelho para me pentear”
como resultado. Embora tenha sido simples negar essa proposição, nem sempre a adição da
partícula “não” resolverá o problema. Por exemplo, a negação da proposição “x ∈ A” pode
ser escrita como “x ∈
/ A” ou “não é o caso que x ∈ A”.

Para formarmos outras proposições com a conjunção e a disjunção basta adicionar a


partícula “e” ou “ou”, respectivamente. Por exemplo, a conjunção e disjunção das proposições
“meu carro é vermelho” e “não uso espelho para me pentear” são, respectivamente, “meu
carro é vermelho e não uso espelho para me pentear” e “meu carro é vermelho ou não uso
espelho para me pentear”.

Note que na conjunção, temos a ideia de adição, como na oração coordenada sindética
aditiva. Logo, podemos usar outras conjunções ou locuções para formamos a proposição.
Por exemplo, “não só x ∈ A, mas também x ∈ A ∩ B”.

Em uma implicação, também chamada de condicional, a proposição pode ser escrita de


pelo menos três maneiras:

• Compor a implicação de a “faz frio” pelo enunciando “chover”.

– “se chove, então faz frio”


– “chover é condição suficiente para fazer frio”
– “fazer frio é condição necessária para chover”

Não muito frequente podemos ter a condicional escrita de modo implícito. No livro de
Ezequiel, da Bíblia Sagrada, lemos o seguinte verso: “A alma que pecar, essa morrerá”. Essa
é claramente uma condicional.

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Aparentemente a ordem das proposições na conjunção e disjunção não é importante.
Porém, no caso da implicação, a ordem delas modificará o sentido de todo o enunciado. Por
exemplo, vamos compor as implicações abaixo:

• de a “soma x + y é par” pelo enunciado “x e y são ímpares”

• de “x e y são ímpares” a pelo enunciado “soma x + y é par”

No primeiro caso, temos “se x e y são ímpares, então x + y é par”. No segundo, “se x + y
é par, então x e y são ímpares ”. Sabe-se que a primeira proposição é sempre verdadeira, ao
contrário da segunda.

Finalmente, na bi-implicação, podemos compor uma nova proposição da seguinte forma:

• compor a bi-implicação de “faz frio” e “chover”.

– “chove se, e somente se, faz frio”


– “chover é condição necessária e suficiente para fazer frio”

Quando compomos proposições usando a língua portuguese estamos propensos a cair


em ambiguidades e erros ao analisar a veracidade de um enunciado. Por essa razão, além
de praticidade, é importante simbolizarmos as proposições. A simbolização nada mais que
atribuir uma letra, algum identificador, para a proposição.

Chamaremos de proposições componentes as proposições que não possuem conectivos


lógicos. Por exemplo, as proposições componentes da proposição P → (Q ∨ ¬R) são P , Q e
R.

Para analisar um enunciado, determine os enunciados componentes e simbolize-os, em


seguida, aplique os conectivos lógicos.

Exemplo 1. O enunciado componente da proposição “eu não gosto de ir à praia” é “eu gosto
de ir à praia”, simbolizaremos ele com a letra G. Aplicando a negação, teremos ¬G. Veja
outro exemplo usando a negação: “não é caso que x não seja par”. A proposição componente
é “x é par” que identificaremos com P . Logo, aplicando as duas negações teremos ¬¬P .

Vamos analisar mais dois exemplos.

Exemplo 2. Os enunciados componentes da proposição “se penso, então existo” são “penso”
e “exito”, simbolizaremos eles com a letras P e E, respectivamente. Aplicando o condicional,

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teremos P → E. Os enunciados componentes da proposição “Se chover, então eu levo o
guarda-chuva ou a capa de chuva” são “chover”, “levo o guarda-chuva” e “levo a capa de
chuva”, simbolizaremos eles com a letras H, G e C, respectivamente. Aplicando a disjunção,
teremos G ∨ C, agora o condicional H → (G ∨ C).

Agora que sabemos simbolizar as proposições vamos aprender a analisar a veracidade


delas. Por isso, temos de ter na palma da mão a noção de verdade dos conetivos lógicos.
Para tanto, vamos propor um jogo da “verdade” ou “mentira”.

Sérgio é um aluno das disciplinas Matemática Discreta (MD) e Cálculo Numérico (CN).
Seu pai, Agenor, super feliz conta a notícia para a família: Sérgio passou em MD e CN.

MD CN Verdade ou Mentira
8.5 9.2 verdadeiro
8.0 2.6 falso
4.8 7.9 falso
4.8 2.6 falso

Sabendo que a nota miníma para a provação é 7.0 e analisando os possíveis cenários
de notas de Sérgio, podemos concluir que somente no primeiro caso que o pai de Sérgio
estaria falando a verdade. É necessário que Sérgio obtenha nota acima de 7.0 em ambas as
disciplinas.

Agora imagine que Agenor tenha dito: Sérgio passou em MD ou CN. Vamos analisar os
possíveis cenários: se Sérgio obteve êxito em pelo uma das disciplinas, então seu pai estaria
falando a verdade.

MD CN Verdade ou Mentira
8.5 9.2 verdadeiro
8.0 2.6 verdadeiro
4.8 7.9 verdadeiro
4.8 2.6 falso

Note que, diferentemente da noção popular, essa disjunção é inclusiva. A disjunção


exlusiva é bastante utilizada no cotidiano. Quando uma mãe diz: escolha o sorvete ou a

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pipoca, significa que a criança não pode escolher as duas coisas. Nosso conectivo “ou”, que
é inclusivo, no entanto, permite que ambas as coisas aconteçam.

Antes do semestre o seu Agenor fez a seguinte promessa: Sérgio, meu filho, se você passar
em MD, então te darei um PlayStation 5. Vamos analisar os possíveis cenários e identificar
se o pai de Sérgio manteve a promessa.

MD PS5 Verdade ou Mentira


8.5 Sim verdadeiro
7.9 Não falso
4.8 Sim verdadeiro
3.2 Não verdadeiro

O primeiro caso é simples de averiguar: passou, ganhou. Portanto, seu Agenor manteve
a promessa. No último caso, a promessa não foi descumprida. O segundo cenário, porém,
temos algo a questionar, Sérgio conseguiu a aprovação, mas não ganhou o PS5, que injusto
não? Portanto, no segundo caso, seu pai quebrou a promessa, se tornando um mentiroso. O
terceiro caso, mais emblemático, diz que Sérgio não foi aprovado, mas mesmo assim ganhou
o videogame. Analisando friamente, seu pai não quebrou a promessa. Em seu comprometi-
mento, Agenor não fala nada sobre o caso de Sérgio não obtiver êxito na disciplina.

Mais uma vez o sentido popular dos conectivos podem nos influenciar ao erro. Quando
um pai faz um promessa dessa ele quer dizer que seu filho ganhará o objeto caso passe na
disciplina e somente nesse caso. Dessa modo, a forma correta para esse argumento seria o
conectivo da bi-implicação. Por exemplo, Sérgio passou em MD sse1 ganhou um PS5 do seu
pai.

MD PS5 Verdade ou Mentira


8.5 Sim verdadeiro
7.9 Não falso
4.8 Sim falso
3.2 Não verdadeiro

No caso do bi-condicional temos os dois sentidos: se passou, ganhou e se ganhou, passou.


1
se, e somente,

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O jogo da “verdade” da “mentira” acabou. Agora que sabemos como os conectivos se
comportam conforme a veracidade das suas proposições componentes, podemos montar as
tabela verdades para cada um deles. Vamos usar “V” para verdadeiro e “F” para falso.

No caso do conectivo unário, se P é verdadeiro, sua negação ¬P é falsa. E se P é falso,


sua negação ¬P é verdadeira.

P ¬P
V F
F V

Já a conjunção é verdadeira somente no caso de ambos os componentes serem verdadeiros.


Em contrapartida, na disjunção é necessário que pelo menos um deles seja verdadeiro.

P Q P ∧Q P ∨Q
V V V V
V F F V
F V F V
F F F F

A proposição P → Q deve ser falsa quando o primeiro componente é verdadeiro e o


segundo falso, do contrário sempre terá o valor verdadeiro. Já a proposição P ↔ Q é
verdadeiro se os valores de P e Q são idênticos e falso no caso contrário.

P Q P →Q P ↔Q
V V V V
V F F F
F V V F
F F V V

A partir dessas tabelas, podemos inferir o valor verdade de outras proposições mais
complexas. Por isso, é imprescindível o domínio dessa base para o entendimento de tópicos
futuros.

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A seguir, vamos montar a tabela verdade da proposição ¬P ∧ (P → Q). Primeiro
iniciamos com o valores das proposições componentes.

P Q ¬P P →Q ¬P ∧ (P → Q)
V V
V F
F V
F F

Nessa tabela, todas as combinações possíveis de V e F estão representadas. Uma vez que
temos duas proposições componentes e dois valores para cada uma, então teremos quatro
linhas (2 × 2). Se fossem três proposições componentes, então teríamos oito linhas para
preencher (2 × 2 × 2). De maneira geral, a tabela verdade terá 2n linhas, onde n é o número
de proposições componentes.

O passo seguinte fica a seu critério. Podemos fazer a proposição de uma vez só ou fazer
por partes. Na tabela acima, estamos realizando o preenchimento por partes: primeiro a
negação de P , depois a condicional P → Q e, por fim, a proposição final. Logo, teremos a
seguinte tabela:

P Q ¬P P →Q ¬P ∧ (P → Q)
V V F V F
V F F F F
F V V V V
F F V V V

Usando um passo só, vamos montar a tabela verdade da proposição (P → Q) ∨ (Q → P ).


Note que temos uma disjunção como operação mais externa. Desse modo, basta que um
dos componentes seja V para que o resultado final também seja. Sabemos que P → Q é
verdadeiro nas linhas 1, 3 e 4. Logo, teremos 3/4 da tabela preenchida:

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P Q (P → Q) ∨ (Q → P )
V V V
V F
F V V
F F V

No caso de Q → P , teremos o valor verdadeiro nas linhas 1, 2 e 4. Logo, a linha 2 será


preenchida com V.

P Q (P → Q) ∨ (Q → P )
V V V
V F V
F V V
F F V

Fica a seu critério a abordagem que irá realizar para preencher a tabela verdade. Vamos
analisar mais uma exemplo, a proposição (P ∧ (Q → R)) → (P ∨ ¬R). Chamaremos cada
linha da tabela de configuração.

A B
P Q R P ∧ (Q → R) P ∨ ¬R A→B
V V V V V
V V F V V
V F V V V
V F F V V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V

Na tabela acima, realizamos o preenchimento da proposição seguindo um raciocínio sim-


ples, porém eficaz. Primeiro, renomeamos os dois componentes principais como A e B para

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economizar espaço na tabela. Isso é importante, pois quando temos muita informação diante
dos nossos olhos, podemos confundir e errar.

Primeiro preenchemos as valores em azul. Na coluna A, temos a conjunção como conec-


tivo principal, portanto basta que um dos componentes seja falso para que a conjunção
também seja falsa. Logo, analisamos todos os valores onde P é falso, simplesmente porque
P é um componente mais simples que Q → R. Na coluna B, como a disjunção é o conectivo
principal, é suficiente que apenas uma das proposições seja verdadeira para obtermos o valor
V. Desse modo, as quatro primeiras linhas são preenchidas com V, uma vez que P é V.

O passo seguinte foi o preenchimento dos valores vermelho e verde. Como temos uma
implicação de A para B, se o segundo componente é verdadeiro, então a condicional também
terá o valor V (valores em vermelho). O mesmo ocorre se o primeiro valor é F (valores em
verde). Note que, na análise do condicional, não importa os valores não preenchidos.

Você pode seguir outro caminho. É óbvio que não estamos em uma competição para
saber quem é a pessoa mais rápida no preenchimento de tabelas verdade. Todavia, essas
análises nos ajudam a entender os nuances dos conectivos lógicos permitindo saber algumas
características importantes com a tautologia, por exemplo.

A tautologia é um proposição que é sempre verdadeira, não importa o valor verdade das
suas proposições componentes. A última tabela verdade apresentada é um exemplo desse
tipo de proposição. Outro exemplo de tautologia é o princípio do terceiro excluído:

P ¬P P ∨ ¬P
V F V
F V V

Em qualquer configuração, o valor verdade da proposição P ∨ ¬P é V.

Também há o caso no qual a tabela verdade de um proposição lógica possui somente o


valor F. Nessa situação, dizemos que essa proposição é uma contradição. Por exemplo,

P ¬P P ∧ ¬P
V F F
F V F

Tal proposição diz que uma afirmação que é verdadeira e falsa ao mesmo tempo é neces-
sariamente falsa. Em qualquer interpretação, o valor verdade é F.

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Por outro lado, quando a tabela verdade de um proposição lógica possui tanto o valor V
quanto o valor F, então dizemos que essa proposição é uma contingência.

P Q (P ∨ Q) → (P ∧ Q)
V V V
V F F
F V F
F F V

Para que uma proposição não seja uma tautologia, basta que uma das linhas tenha o
valor F, portanto uma contingência. No caso de uma proposição não ser uma contradição
é suficiente que pelo menos uma das linhas seja V, logo uma contingência também. Por
conseguinte, negar que uma proposição é uma tautologia ou uma contradição é o mesmo
que dizer que ela é uma contingência. Essa discussão foi feita para que você perceba que o
“contrário” de uma tautologia não é uma contradição, nem uma contradição é o “contrário”
de uma tautologia.

Ademais, podemos relacionar duas proposições por meio da equivalência. Dizemos que
duas proposições A e B são equivalentes se A ↔ B é uma tautologia.

P Q ¬(P ∨ Q) ¬P ∧ ¬Q ¬(P ∨ Q) ↔ (¬P ∧ ¬Q)


V V F F V
V F F F V
F V F F V
F F V V V

Pela característica da proposição bi-condicional, também podemos dizer que duas proposições
são equivalentes se as suas tabelas verdade são idênticas. Usaremos o símbolo ≡ para falar
de proposições equivalentes.

Tivemos um aperitivo da negação de proposições quando falamos de contradição, tau-


tologia e contingência. É importante adquirir a habilidade de simplificar negações. A tabela
verdade anterior mostrou que a negação de uma disjunção é equivalente a conjunção das
negações. Vamos iniciar esse novo tópico com a negação mais básica:

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P ¬P ¬¬P
V F V
F V F

Negar uma proposição duas vezes equivale a obter a proposição original. Perceba que na
proposição “não é verdade que meu carro não é vermelho” equivale a dizer que “meu carro
é vermelho”. Portanto, ¬¬P ≡ P .

No caso, da negação da disjunção teremos a seguinte equivalência.

P Q P ∨Q ¬(P ∨ Q) ¬P ∧ ¬Q
V V V F F
V F V F F
F V V F F
F F F V V

Portanto, ¬(P ∨ Q) ≡ ¬P ∧ ¬Q. As equivalências das negações da conjunção e disjunção


são comumente chamadas de regras de De Morgan.

Considere a proposição condicional P → Q, sua negação equivale a conjunção de P com


negação de Q.

P Q P →Q ¬(P → Q) P ∧ ¬Q
V V V F F
V F F V V
F V V F F
F F V F F

Portanto, ¬(P → Q) ≡ P ∧ ¬Q. Observe que podemos relacionar a proposição condi-


cional com a disjunção.

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P → Q ≡ ¬¬(P → Q) Dupla negação
≡ ¬(P ∧ ¬Q) Negação do condicional
≡ ¬P ∨ ¬¬Q De Morgan
≡ ¬P ∨ Q Dupla negação

Para o o conectivo bi-condicional, teremos a seguinte equivalência.

P Q P ↔Q ¬(P ↔ Q) (P ∧ ¬Q) ∨ (¬P ∧ Q)


V V V F F
V F F V V
F V F V V
F F V F F

Portanto, ¬(P ↔ Q) ≡ (P ∧ ¬Q) ∨ (¬P ∧ Q). Desse modo, é possível reescrever todas
as proposições com apenas dois conectivos, Por exemplo, a disjunção e a negação.

Um proposição bastante importante para a matemática é a condicional. É comum lermos


frases como “se P, então Q” (se x é par, então x2 é par; se x ∈ A, então x ∈ A ∪ B etc).
Além de sua equivalência usando a negação e disjunção, a contrapositiva da condicional é
também sua equivalente.

A contrapositiva de P → Q é a proposição ¬Q → ¬P . A contrapositiva dos exemplos


anteriores são “se x2 não é par, então x não é par” e “se x ∈
/ A ∪ B, então x ∈
/ A”.

P Q P →Q ¬Q → ¬P
V V V V
V F F F
F V V V
F F V V

Portanto, P → Q ≡ ¬Q → ¬P

A inversa da condicional P → Q é dada por ¬P → ¬Q. Ou seja, a inversa das nossas


proposições exemplo são “se x não é par, então x2 não é par” e “se x ∈
/ A, então x ∈
/ A ∪ B”.

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P Q P →Q ¬P → ¬Q
V V V V
V F F V
F V V F
F F V V

Portanto, P → Q ̸≡ ¬P → ¬Q. Isso significa que a implicação e sua inversa não são
equivalentes.

A recíproca da condicional P → Q é dada por Q → P . Ou seja, a recíproca das nossas


proposições exemplo são “se x2 é par, então x é par” e “se x ∈ A ∪ B, então x ∈ A”.

P Q P →Q Q→P
V V V V
V F F V
F V V F
F F V V

Portanto, P → Q ̸≡ Q → P . Isso significa que a implicação e sua recíproca não são


equivalentes. Em contrapartida, a inversa e a recíproca são equivalentes. A seguir, estude
bem o seguinte quadro de equivalências básicas.

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Equivalências Lógicas
P ∧Q≡Q∧Q P ∨Q≡Q∨Q Comutatividade
(P ∧ Q) ∧ R ≡ P ∧ (Q ∧ R) (P ∧ Q) ∧ R ≡ P ∧ (Q ∧ R) Associatividade
P ∧ (Q ∨ R) ≡ (P ∧ Q) ∨ (P ∧ R) P ∨ (Q ∧ R) ≡ (P ∨ Q) ∧ (P ∨ R) Distributividade
P ∧v ≡P P ∨f ≡P Identidade
P ∧ ¬P ≡ f P ∨ ¬P ≡ v Negação
P ∧P ≡P P ∨P ≡P Idempotência
¬(P ∧ Q) ≡ ¬P ∨ ¬Q ¬(P ∨ Q) ≡ ¬P ∧ ¬Q De Morgan
P ∨v ≡v P ∧f ≡f Limite
P ∨ (P ∧ Q) ≡ P P ∧ (P ∨ Q) ≡ P Absorção
(P ∧ Q) → R ≡ P → (Q → R) Exportação
¬¬P ≡ P Dupla Negação

Por meio desse quadro, podemos mostrar equivalências mais complexas.

Exemplo 3. Mostre que ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) ≡ P ∧ Q.

1. ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) De Morgan


2. (¬¬P ) ∧ (¬(P → ¬Q)) Dupla Negação e Condicional
3. P ∧ ¬(¬P ∨ ¬Q) De Morgan
4. P ∧ (¬¬P ∧ ¬¬Q) Dupla Negação e Associatividade
5. (P ∧ P ) ∧ Q Idempotência
6. P ∧ Q

Note que as tabelas verdade das proposições do Exemplo 3 são idênticas.

P Q ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) P ∧Q
V V V V
V F F F
F V F F
F F F F

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Portanto, ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) ↔ (P ∧ Q) é uma tautologia. O exemplo a seguir mostra
um equivalência não tão óbvia.

Exemplo 4. Mostre que ¬(¬P ∧ Q) ∧ (P ∨ Q) ≡ P

1. ¬(¬P ∧ Q) ∧ (P ∨ Q) De Morgan
2. (¬¬P ∨ ¬Q) ∧ (P ∨ Q) Dupla Negação
3. (P ∨ ¬Q) ∧ (P ∨ Q) Distributividade
4. P ∨ (¬Q ∧ Q) Comutatividade e Negação
5. P ∨ f Identidade
6. P

Até agora, vimos duas maneiras de sabermos se duas fórmulas em lógica são equivalentes:

• Se a tabela verdade das duas são idênticas

• Usando as equivalências básicas já estabelecidas

A tabela verdade tem a desvantagem de crescer exponencialmente o número de linhas


conforme aumenta o número de proposições básicas. Em contrapartida, ela é mais simples
para mostrar que duas proposições não são equivalentes.

Estudaremos o processo de argumentação por meio de inferências lógicas. Segundo o


Wikipedia, regras de inferência são regras de transformação sintáticas que podem ser usadas
para inferir uma conclusão a partir de uma premissa, para criar um argumento”.

P 1 ∧ P 2 ∧ . . . ∧ Pn → Q

Exemplo 5. [(P → Q) ∧ P ] → Q (Modus Ponens)

No caso acima, temos duas premissas P → Q e P . Por meio delas, chegamos a conclusão Q.
Significa que todas as vezes que as premissas são verdadeiras a conclusão também é.

Analise a tabela abaixo:

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P Q P →Q
V V V
V F F
F V V
F F V

Note que toda vez que as premissas são verdadeiras, a conclusão também é, ou seja, as
linhas onde P → Q e P tem o valor V, a conclusão Q também tem valor V. Isso significa
que Modus Ponens é um argumento válido.

Vamos analisar outro argumento válido.

P Q R P →Q Q→R P →R
V V V V V V
V V F V F F
V F V F V V
V F F F V F
F V V V V V
F V F V F V
F F V V V V
F F F V V V

No caso acima, sempre que P → Q e Q → R são verdadeiros, P → R também é. Significa


que de P → Q e Q → R, é válido concluir P → R. Os casos em que as premissas não são
todas verdadeiras não são importantes nessa análise, uma vez que se uma delas for falsa, a
conjunção também será, logo a condicional que representa a regra de inferência será sempre
verdadeira.

Para saber se um argumento é inválido, basta mostrar uma linha da tabela verdade onde
as premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa. Na tabela de Modus Ponens (Exemplo
5), note que o argumento ((P → Q) ∧ Q) → P é inválido, pois na terceira linha temos as
premissas verdadeiras (P → Q e Q) e a conclusão falsa (P ).

O quadro abaixo mostra alguns argumentos lógicos válidos.

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Premissa Conclusão Nomenclatura
P eQ P ∧Q Introdução da Conjunção
P ∧Q P Eliminação da Conjunção
P P ∨Q Introdução da Disjunção
P →QeQ→R P →R Silogismo Hipotético
P ∨ Q e ¬P Q Silogismo Disjuntivo
P →QeP Q Modus Ponens
P → Q e ¬Q ¬P Modus Tollens

Exemplo 6. Mostre que (P → Q) ∧ (Q → R) ∧ P → R é um argumento válido

Temos de mostrar que, com as premissas P → Q, Q → R e P , podemos concluir R.


Abaixo, temos duas maneiras de mostrar esse resultado.

1. P → Q 1. P → Q
2. Q → R 2. Q → R
3. P Hipóteses 3. P Hipóteses
4. P → R 1,2, Silogismo Hipotético 4. Q 1,3, Modus Ponens
5. R 3,4, Modus Ponens 5. R 2,4, Modus Ponens

No exemplo acima, enumeramos nossas hipóteses e, em seguida, aplicamos a regras de


inferência com a informação de quais premissas estamos utilizando no processo. Por exemplo,
na demostração da esquerda, para obtermos P → R na quarta linha, aplicamos o silogismo
hipotético, uma espécie de transitividade da implicação, juntamente com as hipóteses das
linhas um e dois.

Vamos ver mais um exemplo para fixar esse tipo de demonstração.

Exemplo 7. Mostre que P ∨ (Q ∧ R) → (¬P → Q).

Note que P ∨ (Q ∧ R) → (¬P → Q) ≡ (P ∨ (Q ∧ R)) ∧ ¬P → Q, por exportação. Reveja


o quadro de equivalências lógicas.

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1. P ∨ (Q ∧ R)
2. ¬P Hipóteses
3. Q ∧ R 1,2, Silogismo Disjuntivo
4. Q 3, Eliminação da Conjunção

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