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O vocabulário de Matemática Discreta pode assustar no início por ser extenso e ter
termos bastante novos para a maioria dos alunos. Portanto, esteja atento aos conceitos
fundamentais da matéria para que você consiga acompanhar eficazmente as aulas.
Não podemos afirmar que a frase “o cachorro caramelo” seja verdadeira, muito menos
falsa. Na verdade, essas afirmações não são suscetíveis a interpretações de veracidade.
As proposições podem ser combinadas, por meio de conectivos, para formarem outras
proposições, por exemplo, x > 3 e x < 6. Neste sentido, apresentamos os seguintes conec-
tivos:
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Conectivo Nome Exemplo
¬ negação ¬P : não P
∧ conjunção P ∧ Q: P e Q
∨ disjunção P ∨ Q: P ou Q
→ implicação P → Q: se P , então Q
↔ bi-implicação P ↔ Q: P se, e somente se, Q
Seja a proposição “uso espelho para me pentear”. Vamos compor outra proposição adi-
cionando o conectivo de negação. Portanto, teremos “não uso espelho para me pentear”
como resultado. Embora tenha sido simples negar essa proposição, nem sempre a adição da
partícula “não” resolverá o problema. Por exemplo, a negação da proposição “x ∈ A” pode
ser escrita como “x ∈
/ A” ou “não é o caso que x ∈ A”.
Note que na conjunção, temos a ideia de adição, como na oração coordenada sindética
aditiva. Logo, podemos usar outras conjunções ou locuções para formamos a proposição.
Por exemplo, “não só x ∈ A, mas também x ∈ A ∩ B”.
Não muito frequente podemos ter a condicional escrita de modo implícito. No livro de
Ezequiel, da Bíblia Sagrada, lemos o seguinte verso: “A alma que pecar, essa morrerá”. Essa
é claramente uma condicional.
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Aparentemente a ordem das proposições na conjunção e disjunção não é importante.
Porém, no caso da implicação, a ordem delas modificará o sentido de todo o enunciado. Por
exemplo, vamos compor as implicações abaixo:
No primeiro caso, temos “se x e y são ímpares, então x + y é par”. No segundo, “se x + y
é par, então x e y são ímpares ”. Sabe-se que a primeira proposição é sempre verdadeira, ao
contrário da segunda.
Exemplo 1. O enunciado componente da proposição “eu não gosto de ir à praia” é “eu gosto
de ir à praia”, simbolizaremos ele com a letra G. Aplicando a negação, teremos ¬G. Veja
outro exemplo usando a negação: “não é caso que x não seja par”. A proposição componente
é “x é par” que identificaremos com P . Logo, aplicando as duas negações teremos ¬¬P .
Exemplo 2. Os enunciados componentes da proposição “se penso, então existo” são “penso”
e “exito”, simbolizaremos eles com a letras P e E, respectivamente. Aplicando o condicional,
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teremos P → E. Os enunciados componentes da proposição “Se chover, então eu levo o
guarda-chuva ou a capa de chuva” são “chover”, “levo o guarda-chuva” e “levo a capa de
chuva”, simbolizaremos eles com a letras H, G e C, respectivamente. Aplicando a disjunção,
teremos G ∨ C, agora o condicional H → (G ∨ C).
Sérgio é um aluno das disciplinas Matemática Discreta (MD) e Cálculo Numérico (CN).
Seu pai, Agenor, super feliz conta a notícia para a família: Sérgio passou em MD e CN.
MD CN Verdade ou Mentira
8.5 9.2 verdadeiro
8.0 2.6 falso
4.8 7.9 falso
4.8 2.6 falso
Sabendo que a nota miníma para a provação é 7.0 e analisando os possíveis cenários
de notas de Sérgio, podemos concluir que somente no primeiro caso que o pai de Sérgio
estaria falando a verdade. É necessário que Sérgio obtenha nota acima de 7.0 em ambas as
disciplinas.
Agora imagine que Agenor tenha dito: Sérgio passou em MD ou CN. Vamos analisar os
possíveis cenários: se Sérgio obteve êxito em pelo uma das disciplinas, então seu pai estaria
falando a verdade.
MD CN Verdade ou Mentira
8.5 9.2 verdadeiro
8.0 2.6 verdadeiro
4.8 7.9 verdadeiro
4.8 2.6 falso
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pipoca, significa que a criança não pode escolher as duas coisas. Nosso conectivo “ou”, que
é inclusivo, no entanto, permite que ambas as coisas aconteçam.
Antes do semestre o seu Agenor fez a seguinte promessa: Sérgio, meu filho, se você passar
em MD, então te darei um PlayStation 5. Vamos analisar os possíveis cenários e identificar
se o pai de Sérgio manteve a promessa.
O primeiro caso é simples de averiguar: passou, ganhou. Portanto, seu Agenor manteve
a promessa. No último caso, a promessa não foi descumprida. O segundo cenário, porém,
temos algo a questionar, Sérgio conseguiu a aprovação, mas não ganhou o PS5, que injusto
não? Portanto, no segundo caso, seu pai quebrou a promessa, se tornando um mentiroso. O
terceiro caso, mais emblemático, diz que Sérgio não foi aprovado, mas mesmo assim ganhou
o videogame. Analisando friamente, seu pai não quebrou a promessa. Em seu comprometi-
mento, Agenor não fala nada sobre o caso de Sérgio não obtiver êxito na disciplina.
Mais uma vez o sentido popular dos conectivos podem nos influenciar ao erro. Quando
um pai faz um promessa dessa ele quer dizer que seu filho ganhará o objeto caso passe na
disciplina e somente nesse caso. Dessa modo, a forma correta para esse argumento seria o
conectivo da bi-implicação. Por exemplo, Sérgio passou em MD sse1 ganhou um PS5 do seu
pai.
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O jogo da “verdade” da “mentira” acabou. Agora que sabemos como os conectivos se
comportam conforme a veracidade das suas proposições componentes, podemos montar as
tabela verdades para cada um deles. Vamos usar “V” para verdadeiro e “F” para falso.
P ¬P
V F
F V
P Q P ∧Q P ∨Q
V V V V
V F F V
F V F V
F F F F
P Q P →Q P ↔Q
V V V V
V F F F
F V V F
F F V V
A partir dessas tabelas, podemos inferir o valor verdade de outras proposições mais
complexas. Por isso, é imprescindível o domínio dessa base para o entendimento de tópicos
futuros.
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A seguir, vamos montar a tabela verdade da proposição ¬P ∧ (P → Q). Primeiro
iniciamos com o valores das proposições componentes.
P Q ¬P P →Q ¬P ∧ (P → Q)
V V
V F
F V
F F
Nessa tabela, todas as combinações possíveis de V e F estão representadas. Uma vez que
temos duas proposições componentes e dois valores para cada uma, então teremos quatro
linhas (2 × 2). Se fossem três proposições componentes, então teríamos oito linhas para
preencher (2 × 2 × 2). De maneira geral, a tabela verdade terá 2n linhas, onde n é o número
de proposições componentes.
O passo seguinte fica a seu critério. Podemos fazer a proposição de uma vez só ou fazer
por partes. Na tabela acima, estamos realizando o preenchimento por partes: primeiro a
negação de P , depois a condicional P → Q e, por fim, a proposição final. Logo, teremos a
seguinte tabela:
P Q ¬P P →Q ¬P ∧ (P → Q)
V V F V F
V F F F F
F V V V V
F F V V V
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P Q (P → Q) ∨ (Q → P )
V V V
V F
F V V
F F V
P Q (P → Q) ∨ (Q → P )
V V V
V F V
F V V
F F V
Fica a seu critério a abordagem que irá realizar para preencher a tabela verdade. Vamos
analisar mais uma exemplo, a proposição (P ∧ (Q → R)) → (P ∨ ¬R). Chamaremos cada
linha da tabela de configuração.
A B
P Q R P ∧ (Q → R) P ∨ ¬R A→B
V V V V V
V V F V V
V F V V V
V F F V V
F V V F V
F V F F V
F F V F V
F F F F V
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economizar espaço na tabela. Isso é importante, pois quando temos muita informação diante
dos nossos olhos, podemos confundir e errar.
O passo seguinte foi o preenchimento dos valores vermelho e verde. Como temos uma
implicação de A para B, se o segundo componente é verdadeiro, então a condicional também
terá o valor V (valores em vermelho). O mesmo ocorre se o primeiro valor é F (valores em
verde). Note que, na análise do condicional, não importa os valores não preenchidos.
Você pode seguir outro caminho. É óbvio que não estamos em uma competição para
saber quem é a pessoa mais rápida no preenchimento de tabelas verdade. Todavia, essas
análises nos ajudam a entender os nuances dos conectivos lógicos permitindo saber algumas
características importantes com a tautologia, por exemplo.
A tautologia é um proposição que é sempre verdadeira, não importa o valor verdade das
suas proposições componentes. A última tabela verdade apresentada é um exemplo desse
tipo de proposição. Outro exemplo de tautologia é o princípio do terceiro excluído:
P ¬P P ∨ ¬P
V F V
F V V
P ¬P P ∧ ¬P
V F F
F V F
Tal proposição diz que uma afirmação que é verdadeira e falsa ao mesmo tempo é neces-
sariamente falsa. Em qualquer interpretação, o valor verdade é F.
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Por outro lado, quando a tabela verdade de um proposição lógica possui tanto o valor V
quanto o valor F, então dizemos que essa proposição é uma contingência.
P Q (P ∨ Q) → (P ∧ Q)
V V V
V F F
F V F
F F V
Para que uma proposição não seja uma tautologia, basta que uma das linhas tenha o
valor F, portanto uma contingência. No caso de uma proposição não ser uma contradição
é suficiente que pelo menos uma das linhas seja V, logo uma contingência também. Por
conseguinte, negar que uma proposição é uma tautologia ou uma contradição é o mesmo
que dizer que ela é uma contingência. Essa discussão foi feita para que você perceba que o
“contrário” de uma tautologia não é uma contradição, nem uma contradição é o “contrário”
de uma tautologia.
Ademais, podemos relacionar duas proposições por meio da equivalência. Dizemos que
duas proposições A e B são equivalentes se A ↔ B é uma tautologia.
Pela característica da proposição bi-condicional, também podemos dizer que duas proposições
são equivalentes se as suas tabelas verdade são idênticas. Usaremos o símbolo ≡ para falar
de proposições equivalentes.
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P ¬P ¬¬P
V F V
F V F
Negar uma proposição duas vezes equivale a obter a proposição original. Perceba que na
proposição “não é verdade que meu carro não é vermelho” equivale a dizer que “meu carro
é vermelho”. Portanto, ¬¬P ≡ P .
P Q P ∨Q ¬(P ∨ Q) ¬P ∧ ¬Q
V V V F F
V F V F F
F V V F F
F F F V V
P Q P →Q ¬(P → Q) P ∧ ¬Q
V V V F F
V F F V V
F V V F F
F F V F F
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P → Q ≡ ¬¬(P → Q) Dupla negação
≡ ¬(P ∧ ¬Q) Negação do condicional
≡ ¬P ∨ ¬¬Q De Morgan
≡ ¬P ∨ Q Dupla negação
Portanto, ¬(P ↔ Q) ≡ (P ∧ ¬Q) ∨ (¬P ∧ Q). Desse modo, é possível reescrever todas
as proposições com apenas dois conectivos, Por exemplo, a disjunção e a negação.
P Q P →Q ¬Q → ¬P
V V V V
V F F F
F V V V
F F V V
Portanto, P → Q ≡ ¬Q → ¬P
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P Q P →Q ¬P → ¬Q
V V V V
V F F V
F V V F
F F V V
Portanto, P → Q ̸≡ ¬P → ¬Q. Isso significa que a implicação e sua inversa não são
equivalentes.
P Q P →Q Q→P
V V V V
V F F V
F V V F
F F V V
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Equivalências Lógicas
P ∧Q≡Q∧Q P ∨Q≡Q∨Q Comutatividade
(P ∧ Q) ∧ R ≡ P ∧ (Q ∧ R) (P ∧ Q) ∧ R ≡ P ∧ (Q ∧ R) Associatividade
P ∧ (Q ∨ R) ≡ (P ∧ Q) ∨ (P ∧ R) P ∨ (Q ∧ R) ≡ (P ∨ Q) ∧ (P ∨ R) Distributividade
P ∧v ≡P P ∨f ≡P Identidade
P ∧ ¬P ≡ f P ∨ ¬P ≡ v Negação
P ∧P ≡P P ∨P ≡P Idempotência
¬(P ∧ Q) ≡ ¬P ∨ ¬Q ¬(P ∨ Q) ≡ ¬P ∧ ¬Q De Morgan
P ∨v ≡v P ∧f ≡f Limite
P ∨ (P ∧ Q) ≡ P P ∧ (P ∨ Q) ≡ P Absorção
(P ∧ Q) → R ≡ P → (Q → R) Exportação
¬¬P ≡ P Dupla Negação
P Q ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) P ∧Q
V V V V
V F F F
F V F F
F F F F
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Portanto, ¬(¬P ∨ (P → ¬Q)) ↔ (P ∧ Q) é uma tautologia. O exemplo a seguir mostra
um equivalência não tão óbvia.
1. ¬(¬P ∧ Q) ∧ (P ∨ Q) De Morgan
2. (¬¬P ∨ ¬Q) ∧ (P ∨ Q) Dupla Negação
3. (P ∨ ¬Q) ∧ (P ∨ Q) Distributividade
4. P ∨ (¬Q ∧ Q) Comutatividade e Negação
5. P ∨ f Identidade
6. P
Até agora, vimos duas maneiras de sabermos se duas fórmulas em lógica são equivalentes:
P 1 ∧ P 2 ∧ . . . ∧ Pn → Q
No caso acima, temos duas premissas P → Q e P . Por meio delas, chegamos a conclusão Q.
Significa que todas as vezes que as premissas são verdadeiras a conclusão também é.
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P Q P →Q
V V V
V F F
F V V
F F V
Note que toda vez que as premissas são verdadeiras, a conclusão também é, ou seja, as
linhas onde P → Q e P tem o valor V, a conclusão Q também tem valor V. Isso significa
que Modus Ponens é um argumento válido.
P Q R P →Q Q→R P →R
V V V V V V
V V F V F F
V F V F V V
V F F F V F
F V V V V V
F V F V F V
F F V V V V
F F F V V V
Para saber se um argumento é inválido, basta mostrar uma linha da tabela verdade onde
as premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa. Na tabela de Modus Ponens (Exemplo
5), note que o argumento ((P → Q) ∧ Q) → P é inválido, pois na terceira linha temos as
premissas verdadeiras (P → Q e Q) e a conclusão falsa (P ).
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Premissa Conclusão Nomenclatura
P eQ P ∧Q Introdução da Conjunção
P ∧Q P Eliminação da Conjunção
P P ∨Q Introdução da Disjunção
P →QeQ→R P →R Silogismo Hipotético
P ∨ Q e ¬P Q Silogismo Disjuntivo
P →QeP Q Modus Ponens
P → Q e ¬Q ¬P Modus Tollens
1. P → Q 1. P → Q
2. Q → R 2. Q → R
3. P Hipóteses 3. P Hipóteses
4. P → R 1,2, Silogismo Hipotético 4. Q 1,3, Modus Ponens
5. R 3,4, Modus Ponens 5. R 2,4, Modus Ponens
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1. P ∨ (Q ∧ R)
2. ¬P Hipóteses
3. Q ∧ R 1,2, Silogismo Disjuntivo
4. Q 3, Eliminação da Conjunção
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