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ANO 2 NÚMERO FEVEREIRO 1994
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PRESIDENTE
DA REPÚBLICA

Itamar Franco

MINISTRO DA CULTURA

Luiz Roberto Nascimento


e Silva

PRESIDENTE
DA FUNDAÇÃO
BIBLIOTECA
NACIONAL

Affonso Romano de SantAnna

DIRETOR
DO DEPARTAMENTO
NACIONAL DO LIVRO

Márcio Souza

Apoio

MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES

DEPARTAMENTO
CULTURAL
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MINISTÉRIO DA CULTURA

BIBLIOTECA NACIONAL
Fundação

DO LIVRO
DEPARTAMENTO NACIONAL

POESIA SEMPRE

Revista Semestral de Poesia

Editores chefes

Affonso Romano de SantAnna

Márcio Souza

Editor executivo

Emanuel Brasil

Editores adjuntos

Ivan
Junqueira

Ivo Barroso

Moacyr Félix

Suzana Vargas

Albornoz Neves
Thomaz

Conselho editorial

Carlos Secchin
Antonio

Proença Filho
Domicio

Fábio Lucas

Ferreira Gullar

Marco Lucchesi

Wilson Martins

Secretaria

Sônia Gadelha

Projeto
gráfico

Victor Burton

de texto
Padronização

Suzana Martins

Diagramação

Moreno
Adriana

Digitação

Pereira Reis
Ronaldo

Reprodução
fotográfica

Antabi
Lúcia

Revisão

M. Vieira
C.
Bernardino
José

de Barros Teixeira
Osmar
....

Ano 2 Número
3

Rio de
Janeiro

Fevereiro 1994
Lúcio de Campos 267
Mayra Santos Febres 192 Speculum,
Jorge

Wanderley 267
Homenagem,
Jorge
Arturo Gutiérrez Plaza 196

Maria Helena Nascimento 267


Gasolina azul,

Edda Armas 199

Corrêa dos Santos 267


Arte de ceder, Roberto

Poesia Portuguesa Bruno de Menezes 274


Hoje Obras Completas,

Martha Medeiros 276


Persona non
grata,

Antônio Ramos Rosa 203

Vernaide Wanderley 277


Rota dos Inocentes,

Maria Teresa Horta 206

-
Poesia do desejo, Pedro Lyra 278
Contágio

Manuel Alegre 208

& Outros Poemas, Denise


Teatro dos Elementos

Emmer 281

Ensaios

Livros Recebidos 283

Fábio Lucas: O soneto inovador de

Colaboradores 285

de Lima 213
Jorge

Antônio Olinto: de Lima,


Jorge

Prêmio Nobel? 238

"

Ivo Barroso: O corvo" e suas

traduções 244

VÁRIA

Verso e Versão

"Salut",

de Mallarmé 255

Depolmento

Cabral de Melo Neto: Por escrevi


João que

"O "O

cão sem e rio" 261

plumas"

R ESENHAS

de Câmara, Francisco
Baile Poemas

Cabral. 263
Marcelo

Barroso 264
Sintonia, Natalício

Paixão 266
dos Rios, Fernando
Fogo

Weber 267
Aço e osso, A dele

Pucheu 267
aberta, Alberto
Na cidade

Lima 267
Poemas esquerdos, Carlos

Moreno 267
De cama e cortes, Carmen

267
A cidade e as ruas,ítalo Moriconi
na América e Europa
Poesia Sempre

de Poesia Sempre é dedicado à norte-


este número três
ntes de assinalar poesia
que

enfocará a atual alemã, é


o número
ou de adiantar
hoje quatro poesia
americana que

dois e comentar o atual boom da


foi o número
sobre o êxito
dizer algo
que
preciso

latino-americana.

poesia

convite de Casa de Poesia Pérez


revista em Caracas (a
lançamento desta
Durante o

em Medellín Festival
Casa de Poesia Silva), (III
convite de
em Bogotá
Bonalde), (a

Hispano-Americano de Poesia) e
Festival
Poesia), em Montevidéu (I
de
Internacional

desta revista estiveram


nos membros
lançamentos e eventos pre-
durante outros
quais

está acon-
algo de surpreendente
e Equador, ficou
na Argentina, Chile
sentes que
patente

nessa dos trópicos.


tecendo com a
poesia parte

Brasil, têm realizado leituras


vez incluindo o
todo o continente, e desta públi-
Poetas de

como os
em espetáculos memoráveis
de às vezes
centenas e milhares
cas
pessoas,
para

um contato mais sis-


da oral e
Há uma revitalização
ocorreram em Medellín.
poesia
que

de revistas dedi-
lado, um número
desta região. Por outro
temático entre os grande
poetas

Montevidéu, onde algumas


encontro em
aquele
cadas à está surgindo,
justificando
poesia

apresentadas ao
revistas de foram
dezenas de
público.
poesia

o boom da narrativa latino-


nos anos 60 com
no entanto, do ocorreu
Diferente,
que

cie então, exilados em Barcelona,


os novelistas
hoje não estão, como
americana, os
poetas

num corpo-a-corpo no
seu
e recuperando
ou Londres. Estão batalhando
Paris público

no continente conduz a uma


vivência democrática
lado, a
continente. Por outro

próprio

libelo Em várias cidades como México,


o
temas ultrapassam
multiplicidade de
político.
que

o México), realizam-se festivais e encontros


citar
e Monterrey (apenas
Guadalajara
para

1994. Faz do
vários outros estão
de e
internacionais parte proje-
programados para
poetas

a integração
um desses encontros no Brasil, aumentando
Sempre realizar
to de Poesia

de língua espanhola e
literária entre
portuguesa.
países

mereceria análises mais


do continente e
algo de novo na
Há, sem dúvida,
poesia que

relevante dizer o
à Poesia Sempre é
lado, no diz respeito
extensas. Por outro que
que

Santiago, mas na
Caracas, Bogotá, Montevidéu,
foi lançado não apenas em
número dois

Roma e Lisboa.
foi em Copenhague, Frankfurt,
Europa o

10 / Poesia Sempre

Poesia Sempre in and Eiirope


the Américas

issue of Poesia Sempre is devot-


I / efore more the fact that this third
details about
giving

issue no. 4 will focus on new


ed to current States and that
from the United
poetry

the success of issue no. 2 and to


German it's important to say something about

poetry,

comment on the recent boom in Latin American


poetry.

invitation of the Casa de Poesia


During the of this magazine in Caracas
(by
presentation

de Poesia Silva), in Medellín


Pérez Bonalde), in Bogotá invitation of the Casa (III
(by

Festival of Poetry), as
International Festival of Poetry), in Montevideo Hispanic American
(I

of the editorial staff of Poesia


well as during other and events that members
presentations

attended in Argentina, Chile, and Ecuador, it was abundantly clear that something
Sempre

surprising is happening with regard to in this of the Tropics.


poetry part

from ali over the continent, and this time including Brazil, have been
Poets
participating

for hundreds, even thousands, of sometimes at truly memorable


in readings
people,
public

those that occurred recently in Medellín. There has been a revitalization of


events such as

contact amongst the of this region. In addi-


readings and a more systematic
poets
poetry

devoted to have begun to circulate, a


tion, a large number of magazines
poetry phenome-

the Festival in Montevideo, where dozens of


non that meaning to
poetry
gives greater

magazines were to the


presented public.

with the boom in Latin American fiction, today's


Compared to what happened in the 60s

in Barcelona, Paris, and London.


unlike the novelists at that time, are not exiled

poets,

combat on
they're struggling and regaining their in a kind of hand-to-hand
Rather,
public

Américas has
own continent. Furthermore, the existence of new clemocracies in the
their

México, to cite
to a multiplicity of themes that transcend indictment. In
led
poetic political

there have been


in cities such as México City, and Monterrey,
one example, Guadalajara,

Part of the cultural


and international meetings with more events for 1994.
festivais
planned

in Brazil as a way
Sempre is the organization of a of this kind
of Poesia
gathering
project

literary integration of Hispanic America and Brazil.


of increasing the

that deserves
a doubt, something new in the of the continent
There is, without
poetry

for Poesia Sempre, the second


analysis. with regard to what this means
deeper In addition,
Poesia Sempre i n t h e Américas d E u r o
p

not only in Caracas, Bogotá,


issue was Montevideo, and
of the magazine
presented

Frankfurt, Rome, and Lisbon.


Santiago, also in Europe: Copenhagen,
but

invitation of one of the magazine's editors


of a to a
Taking advantage
personal give

the Brazilian Embassy there helped organize a


in Denmark, beautiful
in Aarhus,
paper

the magazine. Some of the most important Danish intellectu-


as a way of
party presenting

the event. The Danish were read in their language, and the
ais and attended
poets
poets

languages in addition to Portuguese.


Brazilians in several

was also at the 45th Annual Frankfurt Book Fair. In Rome, the
Poesia Sempre
presented

was sponsored by the Center for Brazilian Studies and by our embassy in

presentation

and dozens of at this event, which included a bilingual


Italy. Dozens
people gathered

Italian and Brazilian by writers and actors. In Portugal, thanks


reading of
poets presented

support of the Itamaraty Ministry of Foreign Relations) and the


to the (Brazilian

Gulbenkian Foundation, from Poesia Sempre their works with several


poets presented

Portuguese at the Palácio da Fronteira. Furthermore, in keeping with the activities


poets

that occurred when the first issue appeared, the magazine was in several
presented

Brazilian cities, such as Guarabira, in Paraíba, which served to local and


gather poets

helped disseminate their work.

This third issue, devoted to the most recent from the United States, is the result
poetry

of the very collaboration of Mark Strand, translator, essayist, and win-


generous great poet,

ner of this Bollingen Poetry Prize. The selection is a fine sampling of emerging U. S.
year's

which is in keeping with the of Poesia Sempre, the


poetry, perfectly political philosophy

idea is to facilitate a dialogue among living regardless of languages and borders. To


poets

this end, Brazilian were invited to translate the ten North American represent-
poets poets

ed here for the first time in the Portuguese language. In this special section, in addition to

an interview with Mark Strand, we have included an article by Helen Vendler for
(critic

The New Yorker and Harvard on the of Graham.


professor) poetry Jorie

In the section Poesia Brasileira Hoje Poetry Today), there is a democratic


(Brazilian

spectrum of thirteen some of whom are more well-known than others, as a way of
poets,

increasing the contact these writers have with a larger In addition, from material
public.

sent to our editorial staff, we selected works by four unpublished authors: Angela de

Campos, Flávio Boaventura, Ricardo Vieira Lima, and Sérgio Lemos.

We are also a diverse of Latin American in the section Letra Sul


presenting group poets

Letters): Marcos Silber Alberto Heniy Luque Munoz


(Southern (Argentina), (Chile),
José
12 Poesia Sempre

(Colombia), Enrique Noriega


(Guatemala), Mayra Santos Febres Rico), Arturo
(Puerto

Gutiérrez Plaza
(Venezuela), Edda Armas Some
(Venezuela). of these authors entered the

"Prêmio

competition
for Venezuela's
Pérez Bonalde", which was awarded to Enrique

Molina, the Argentine


whose work we in issue no. 1.
poet published

We have decided to continue in the Portuguese language by non-


publishing poetry

Brazilian authors, with the idea of establishing a more ample of the of


profile production

in our language. In this issue, we include three Portuguese


poetry Antônio Ramos
poets:

Rosa, Maria Teresa Horta, and Manuel Alegre.

In 1993, we were also commemorating the one hundredth-anniversary


of the birth of

Brazilian
de Lima. The article by Fábio Lucas here deals with his
poet Jorge
presenteei

"Invenção
sonnets, and Antonio Olinto has written a criticai commentary on de Orfeu", in

which he mentions that de Lima came very close to winning the Nobel Prize. Other
Jorge

material in this issue includes a by Cabral de Melo Neto, in which the author
piece João

"O
"O
describes the of cão sem and rio", as well as
genesis a section in which
plumas"

four translations Augusto de Campos,


(by Lino Grünewald, Dante Milano, and
José

"Salut"

Cláudio Veiga) of Mallarmés are compared.

As a way of reinforcing the intricate art of translation, Ivo Barroso has written a compar-

"The

ative study on Poe's raven" in which he treats Portuguese translations of the by


poem

Fernando Pessoa, Machado de Assis, Gondin da Fonseca, and Milton Amado. We also con-

tinue to translations into various languages of works by some of our most well-
publish

known The book review section seventeen an opportunity to acquaint


poets.
gives poets

the reader with their recent

publications.

From Copenhagen
to Bogotá, Poesia Sempre has been for its sophisticated
praised

design and for the aesthetic openness that characterizes the


graphic editors choosing the

material that appears in its This third issue will be


pages. in the United States
presenteei

and in various Brazilian cities with the


of U. S. and Brazilian
presence
poets.

Issue no. 4, already underway, is devoted to contemporary German and will be


poetry,

a means of disseminating Brazilian


by using the 1994 Frankfurt Book Fair as a
poetry
point

of convergence.

Translation by Steven F. White


POESIA
Rubens Gerchman

Desenho

Lápis sobre
papel

15 X 12.5 cm
tradução
em
jF oesia brasileira

Adélia Prado

encontro")

Die Begegnung

onathan.

J-

kommen, dalS der Himmel


wir zu dem Schlulã
wenn

wo niemand uns hõrt,


Ort hier ist,
dieser

wird uns erretten kõnnen?


wer

würden wir widerstehen,


Wie lange

von diesem Ereignis zu erzãhlen?


ohne

jemand

Ich mit den Fingem


ging

deiner Lippe nach,


wundersamen UmriíS
dem

deines Zahnfleischs
folgte den Linien

den dunklen Zahn


klopfte dir an

wie bei einem Pferd,

von mir auf der Weide.


einem Pferd

mit deinem Fingernagel


Ich bat dich: ritze

mein Gesicht,

indes Todesliebe uns beflügelt


die

mit niegeschenem Mut.

Lal§ uns zusammen sterben,

ehe der Leib herauskehrt

seine elende Verfassung,

Jetzt, Jonathan,

so einsamen Ort,
an diesem

vollkommenen Ort.
an diesem so

von Berthold Zilly


Übersetzt
55

16 / Poesia Sempre

Neigbborhood
("Bairro")

T,
JL he man has finished his lunch
young

and is his teeth behind his hand.


picking

The bird scratches in the cage, showering

him with canary seed and bird droppings.

I consider one's teeth unsightly;


picking

he only went to school


primary

and his bad on me.


grammar grates

But he's a man's rump so seductive


got

I fali desperately in love with him.

Young men like him

like to wolf their food:

and rice, a slice of tomato


beef

and off to the movies

of invincible weakness
with that face

for capital sins.

I feel so intimate, simple,

-
because of love,
so touchable

a slow samba,

because of the fact that we're to die

going

and a refrigerator is a wonderful thing,

and the crucifix his mother him,


gave

chain against that frail chest


its
gold

that...

at his teeth with the toothpick,


He scrapes

my strumpet heart.
he scrapes at

by Ellen Watson
Translated
Brasileira em Tradução
Poesia

de Sant'Anna
Affonso Romano

aos mortos")
Letter to the dead ("Carta

has changed
Jtriends, nothing

in essence.

Wages cover expenses,


don't

wars without end

persist

viruses,
and there are new and terrible

beyond advances of medicine.


the

From time to time, a neighbor

falls of love.
dead over
questions

There films, it is true,


are interesting

and voluptuous women


as always,

mouth and legs,


seducing us with their

but in matters of love

that's new.
we haven't invented a single
position

stay in space
Some astronauts

more, testing equipment


six months or

and solitude.

new records are


In each olympics
predicted

and setbacks.
social advances
and in the countries

changed its song


not a single bird has
But

with the times.

the same Greek tragedies,


We on

put

and spring
reread Don
Quixote,

arrives on time each


year.
Poesia Sempre

Some habits, rivers, and forests

are lost.

Nobody sits in front of their houses anymore

or takes in the breezes of afternoon,

but we have amazing computers

that keep us from thinking.

On the disappearance of the dinosaurs

and the formation of


galaxies

we have no new knowledge.

Clothes come and with the fashions.


go

Strong fali, others rise,


governments

countries are divided

and the ants and the bees continue

faithful to their work.

Nothing has changed in essence.

We sing congratulations at
parties,

argue football on streetcorners,

die in senseless disasters

and from time to time

one of us looks at the star-filled sky

with the same amazement we once looked at caves.

And each full of itself,


generation,

continues to think

that it lives at the summit of history.

Translated by Mark Strand


19
em Tradução
Brasileira
Poesia

otber excitnples
and
Tloe body-objecí

exemplos )
e outros
corpo-objeto
("O

this body
T, is
JL he object

and subjugates,
that involves

common noun

carrying allegories.

is this object,
The body

a necessary adjective,

less our own


strange and

of our dreams.
than the least

This body-object

mine, nor
is not
yours,

nor belongs
nor death's,

to the other
pronouns.
possessive

The earth
It's hers.
The eaith's.

us warm,
which receives

and willing.
open,

and its components.


The earths

is the earth's,
This object

that eats
the earth's
you,

life: ambivalence.
body and

both seeds.
and life-they're
Fruit
And finally, whatever it may be,

this wrapped around us:


peel

thing, earth, or

grammar

contemptuous of the metaphysical,

the body is a

peroration

from father to son mother)


(and

and the soul has nothing to do with it,

nothing but its location.

Translated by LLoyd Schwartz


em Tradução
Brasileira
Poesia

canibal")
cannibale ("Humor
Humour

dois
elon mes comptes,
je

et
4237
aujourd'hui poulets
avoir mangé poules
jusquà

22 boeufs

lac de calmars
et vidé un
petit

truites

huítres

langoustes

et sardines.

Des oiseaux
jamais.
petits

même ainsi, en France.


Sauf en terrines, et

malgré tout.
végétarien et féministe,
suis
Je

ou sans mot dire,


en fête
Cest
porquoi,

dévoré 69 femmes
aussi
j'ai

en laissant des
plumes.

de Nicole Laurent-Catrice
Traduction
Poesia Sempre

Cassiano Ricardo

Sun and showers e chuva")


("Sol

.
Mv beloved little sun,
y

so different from the big bold one

of torrid summer days.

You woke when morning broke

as I was walking with my dear

through trees along the new ranch road.

You came to us full of cheer


greet

but with such lack of


grace

we did not trust face...


your

No sooner said than done!

The rain fell on the road...

We little knew that awoke


you

to marry Lady Rain who bears

a thick urxtidy mass of hair.

The farmers know her worth

she only spoils lovers' fun


but
young

and tracks clay in houses and muddies


paths

because her feet are wet; she wears

shoes ali caked with earth.


ago
Only a moment

in the
shook rattles
hidden frogs gr;
the

their stems.
upon
The roses danced

the morass.
sang in
The wood rails

the ravine
down in
The ibis

ali in white.
dressed
looked like
guests

in their hats.
wore flowers
The trees

black cravats
teal in
Dusky

at the sight.
were
gazing
gaily

arbors offered
The laden grapes.

Lady Rain.
marry
To see
you

Lady Rain.
then married
And
you

She so
You so
plain...
golden...

bow,
sky the wedding-ring
And in the

children know.
a tale that
fair as

by R. Longland
Translated
Jean
Nightfall
("Anoitecer")

riends, I sang as a bird sings

at daybreak. In full agreement

with one single world.

one live in a world


But how could

where things had a single name?

Then, I made up words.

warbling, on the head


And words
perched,

of objects.

came to have
Reality, thus,

heads as words.
as many

sadness and
when I tried to express
And joy

upon me, obedient


words settled

to my slightest lyrical
gesture.

Now I must be mute.

when I am silent.
I am sincere only

only when I am silent


So,

- -

upon me words
do they settle

birds in a tree
a flock of

at nightfall.

Barbara Howes
Translated by
Poesia Brasileira em Tradução

de Lima

Jorge

mão enorme")
hand ca
The enormous

of the storm,
_Znside the nighttime

there.
the mystery caravel
goes

and waters crest,


Time moves,

weeps ugly loud.


the wind

caravel there.
The mystery
goes

Above this ship

what hand is that more huge

even than the sea?

Hand of the
pilot?

Whose hand?

The caravel
plunges,

the sea stands dark,

time moves.

Above this ship

the large hand

is bleeding.

The caravel there.


goes

The sea spílls,

land vanishes,

stars fali.

The caravel continues and

above this ship

the eternal hand

is there.

Translated by
June Jordan
.

26 / Poesia Sempre

Aline (Ante un retrato)

t~j\ abuelo había sido un anciano convencional

al enterraron de sobrecasaca
que y polainas;

la abuela, muchacha clorótica murió al


una
que pariria.
y

El compuso algunas baladas,


padre

mirar la lejanía.
cuentan tenía un catalejo
y que para

la mano dobla la dei libro,


(Aqui,
página

en el vientre:
de la tataranieta termina con una estocada
la historia
y

trabados... calientes de lágrimas...,


Hay destinos
panuelos

una violación sobre un sofá antiguo...


algún incesto...,

hay huellas de sangre en el suelo).


la mano dobla la
Cuando
página,

más nueva de Ias cinco.


Esta es la

nieve nunca contemplamos,


los son como alba
Ved senos
que jamás
que

le hizo un hijo;
nunca vió el
nadie
padre que
y

es este mozo de luto.


el hijo de esta muchacha

el ángel él
volved la ved
Ahora,
y que poseyó;
página,

sobre este hombro


ved esta mantilla
puro;

Ias nubes
ved estos ojos contemplar
que parecen

a través dei catalejo dei abuelo.

Ved sin el fotógrafo


quererlo,
que,

la de caras impresionantes
Ias cortinas dan sensación

detrás dei
grabado:
por

otro de capa.
un estudiante de
perilla y

de dónde circunda el busto


el brazo nadie sabe
Y mirad bien
que

llevar un rincón oculto.


moza la
de la
quiere para
y

la respiración agitada,
con el oído atento
Fijad bien la mirada,
para percibir

los los
gritos, juramentos...

campana de luto,
negra una
La falda
parece
la llevó siempre.
el escote es la nave se
para
y que

muy bien el mar;


ser
Y este fondo de agua,
puede

lágrimas dei fotógrafo.


también Ias
ser
pero pueden

R. Arechavaleta Torres Oliveros


C.
Traducion al espanolpor
yj.
28 / Poesia Sempre

"Poemas

Poemi relativi < relativos")

V,
V oi non vivete soli,

ché v'invadono altri,


gli

felici convivenze,

incomodi aggregati,

ambientamenti insomma,

e sussistenze in tutto,

e le comunità;

e tanti venti, tante

rèsse a

gomito gomito,

sprechi in

partenza, poi

arricchimenti,
poi

sostituzioni, il numero

che v'ingoia, le cose

che vi forzano al bis;

le abitudini, i vizi,

le fanciulle murate

le vostre lettere,
scambian

sarete amministrati

nel sonno e nei


peccati,

mappe voi e diagrammi

con varie delinquenze,


con diverse
pazzie,

il vostro spazio,
dosando

il vostro
pane
pesando

di tempi razionati;

vissuto
non avrete

avrete amato,
e non

sarete morti.

però

de Ruggero
Traduzione Jacobbi
Manuel Bandeira

My ÍClSt ("O último


poema")
põem

j/^would like my last thus


poem

the and least intended things


That it be saying simplest
gentle

That it be ardent like a tearless sob

That of almost scentless flowers


is have the beauty

in which the most limpid diamonds


The of the flame
purity

are consumed

The suicides who kill themselves without explanation.


of
passion

Translated by Elizabeth Bishop


em Tradução
Poesia Brasileira

dos cavalinhos")
horses ("Rondó
the little
of
Rondeau

trotting
he little horses
A.

and eating...
horsing around
While we're

beauty, Esmeralda,
Your

Became intoxicating.

trotting
The little horses

and eating...
around
we're horsing
While

so brilliant
out there
The sun

-
is setting!
in my soul
That

horses trotting
The little

around and eating...


we're horsing
While

Reyes departing
Alfonso

the rest still sitting...


And ali

little horses trotting


The

around and eating...


While we're horsing

Italy shouting defiance

afraid of fighting...
And Europe

little horses trotting


The

around and eating...


While we're horsing

orating, debating,
Brazil

dead and rotting...


Poetry

out there so brilliant,


The sun

The bright sun, Esmeralda,

-
in my soul is setting!
That

by Richard Wilbur
Translated
Poesia Sempre
/
32

A n thoiogy ("Antologia")

Tj
ife

being lived.
of
not worth the trouble and
Is
grief

souls, no.
other, but
Bodies understand each

Argentine tango.
to an
The only thing to do is
play

I'm away to Pasárgada!


going

I am not happy here.

I want to forget it ali:

-
of being a man...
The
grief

infinite and vain anxiety


This

what me.
To
possesses
possess

I want to rest

I loved...
life and women
humbly about
Thinking

and wasn't.
have been
the life that could
About ali

I want to rest.

To die.

die, body and soul.


To

Completely.

me lessons in departure.)
airport across the way
morning the
(Every gives

arrives,
the Undesired-of-all
When

field the house clean,


find the
She will
plowed,

table set,
The

in its
With everything
place.

R. Longland
by
Translated
Jean
Poesia Brasileira Tradução
33

"hundred"

word cento has nothing to do with but comes from


This is a cento. The

poem

means a I had the idea of constructing a


the Latin cento, centonis, which
patchwork quilt...

lines or of lines of mine, the best known or most marked


out of nothing but
parts
poem

at the same time could function as a for a who


by my sensibility, which
poem person

a letter of Manuel Bandeira to Odylo Costa Filho)


knew nothing of my (From
poetry.
.

p
HOJE
I NORTE-AMERICANA
OESIA

Strand
de Mark
Seleção

Brasil
a Emanuel
uma entrevista
:
Strand
Mark

surgida nos anos


norte-americana
maiores expoentes da
um dos
M,, Strand,
poesia

da
como conferencista
em 1965,
do Brasil. Aqui esteve,
é um desconhecido
60, não

de nossa
melhores tradutores
Bishop, é um dos poesia.
ao lado de Elizabeth
Fulbright e,

sete. Recebeu,
até agora, mais
livro em 1964, acrescentando,
seu
Strand
publicou primeiro

dos Estados
laureado
em 1990, foi nomeado
MacArthur e,
em 1987, o poeta
prêmio

Seus
do Congresso norte-americano.
a consultor de
corresponde
Unidos, poesia
posto que

moderna: morte,
típicos da literatura
lidam com temas
econômicos e elegíacos,

poemas,

visão de Strand de
errado tachar a
significado. Mas seria
desaparecimento do
desastre e o

ao mesmo tempo
a vida e a imaginação,
sua confirma
Ao contrário,
desesperadora.
poesia

Strand mora em Utah.


com Mark
limite de ambos. Casado
reconhece o
Jules,
que

em sua vida?
o sentido da
EB
Qual poesia

"sentido"

Mas se V. está
A é ambígua.
se entendi bem a
MS Não sei palavra
pergunta.

responder ela é absoluta-


mim,
é a
fundamental que
para posso
poesia
quão
perguntando

lida com E mesmo


em
fundamental. O meu
mente grande parte, poesia.
pensamento,

A
mim me empurra na direção da
dentro de
algo poesia.
não estou
quando pensando

vida interna.
externa da minha
minha é a face
poesia
Poesia Sempre
6 /
3

"lamentoso" "obsedado

e com a morte",
EB O seu trabalho tem sido descrito como dark,

as suas atitudes em relação a tais


mas alguns críticos, como Hecht, têm observado
que

se suavizando. Você concor-


assuntos como morte e um universo indiferente estar
parecem

da?

mim mesmo como sendo às


MS Fui sempre considerado dark, mas sobre
prefiro pensar

do universo nunca foi motivo de desespero


vezes dark e às vezes light. A indiferença
para

indiferente significa mais liberdade. A


mim. Prefiro ser deixado de lado. Um universo

o assunto. Posso ter suavizado, mas


morte é inescapável e é só o se dizer sobre
que pode

Sempre bebo uma de vinho,


me considero feliz. Ou mais feliz do antes.
que que garrafa

dos meus filhos me enche de alegria etc.


fico feliz. O sucesso

as suas influências
EB
Quais principais poéticas?

foi Wallace Stevens. Houve outras, como


A minha influência
MS
principal poética

Wordsworth, Virgílio, Ovídio, mas foram menos


Bishop, Robert Lowell, William
Elizabeth

fortes Stevens.
que

Bishop, no Rio, em 1965.


EB Fale-nos do seu encontro com Elizabetb

a conheci, fiquei
Bishop, de modo finalmente
MS Eu idolatrava Elizabeth
que, quando

Leme, onde me ofer-


visitar a sua cobertura duplex no
emocionado. Ela me convidou
para

a balbuciar
enquanto bebia chá. Não demorou eu começasse
eceu uísque,
para que

falamos dos
Assim terminou o encontro. Nos encontros
tolices.
poetas.
primeiro próximos

na escolha. Era muito


de nossa Para alívio mútuo, concordávamos
americanos
preferência.

o naturalmente,
ela eu do trabalho de Robert Lowell,
importante
que gostasse que,
para

freqüência, às vezes falávamos


Conversávamos, com sobre a Nova Scotia*,
acontecia.

sobre
pintura.

*
a infância. do E.)
Onde os dois (N.
poetas passaram
-
P o e s i a A; o r t e A m e r i c ci n a H o e
j 37

XXII X.XII

lt happenedyears ago and in somebody else's XXconteceu há alguns anos numa certa

Dining room. begged to be relieved sala de Madame X a aliviasse


MadameX
jantar. pediu que

name de u rna dor sexual tinha o meu


Of a sexualpain that had my nome
que

Writtén ali it. Those were tbe days sem tirar nem Aquela era uma época
over
pôr.

Wben things of a sexual nature seemed to em muitas coisas de natureza sexual


so many ocorriam
que

- -
happen, e meu nome eu estava escrito em todas elas.
pensava

-1 -
And name believed was written on ali of them.
my

Madame Xpegou minha mão sob a mesa e a colocou

took my hand under tbe table. na coxa, movendo-a cima. Você


MadameX não saberá
placed.it para jamais

thigh. then moved it up. You would never know o uma mulher com tais
On her olhos azuis e loiros cabelos
que

Wbat woman u-ith such bine eyes and blond hair


a

-
não estava usando. Sofri eu,

Was not wearing, Did 1 suffer.


sabendo era desejado equivocadas razões?
que por

Claro,
Knowing that I iras uaritèd tbe wrong reasons?
e levei anos me recuperar.
for
para

Of conrse, and it bas taken me to recover.


years

não damos mais como aquelas.



festas

We don't like that anymore. Agora nos sentamos aí e suspiramos.


giveparties
por

These days we sit around and sigb. Cúrtimos isto e haver um acordo
parece

We like tbe sound of it. and it seems to combine

entre cansaço e até


prudência, para pedir

Weariness and even to suggest uma trivial salsicha com ovos.


jndgment,

Vem,
No eggs the moment. no sausages either, simplesmente, leve-me eponha-me
for na cama.

come, take me away, andput me to bed.


Just

From Dark harbor Knopf. 1993


(Alfred Tradução de Affonso Romano de SantAnna

EB Sabemos da sua com a brasileira moderna e especial-


familiaridade poesia
que gosta,

mente, de Carlos Drummond de Andrade. Como a sua experiência traduziu-


foi primeira

do-o? as dificuldades enfrentou?


Quais
que

MS Bem, antes de mais nada, devo confessar na verdade, conheço a


que, pouco poesia

brasileira. conhecer mais. Para começar, meu é tâo ruim entendo


Quisera
português que
Poesia Sempre
38

com dificuldade o estou lendo.


traduzi Drummond, havia tido
que uma experiên-
Quando

cia recente com a língua


Mas mesmo assim a amigos conferissem a
portuguesa.
pedia que

minha tradução e, com freqüência,


cometia erros. Mas eu muito da de
gostava
poesia

Drummond. É material muito atraente, fascinante. E ele é um excelente contador de

histórias, e ser muito engraçado. Minhas dificuldades


pode em traduzi-lo resumiam-se em

manter a sua clareza intata, assim corúo a sua familiar leveza de tom.

EB outros
brasileiros V. traduziu?
Que
poetas

MS Não traduzi muita coisa. Acho a maioria de minhas traduções estão na


que sua

-
antologia de brasileira a V. editou com Elizabeth
primeira Bishop.
poesia que

EB Há tempo V. disse não há muito interesse


em ou
pouco que boa liter-
popular poesia,

atura. Contudo, V. lê casas cheias...


para

MS Bem, não acho exista interesse em boa literatura. Acho existe


que grande uma
que

nova espécie de analfabetismo. As não de desafios. tudo lhes


pessoas gostam Querem que

seja revelado de imediato. Gratificação instantânea. Gratificação sensual. Ninguém


tem

necessária A é com freqüência difícil,


paciência várias
para pensar. poesia pedindo

leituras. Ninguém tem tempo. fugir deles mesmos, não se conhecer


inti-
Querem
querem

mamente. A o recolhimento. Ficção ficção também)


barata a boa impele
poesia provoca (e

à exteriorização. Não se mais complexidade ou multiplicidade de significados; deseja-


quer

se, em vez disso, o texto simplificado. Preferem um slogan um Preferem


a acredi-
poema.

tar a Se leio uma de nos milhões não


questionar. para estão
platéia quinhentos, que
penso

Meu maior está na universidade. Acho os estudantes são forçados


presentes. público a
que

ir a recitais de
poesia...

EB Ao resenhar The continuous life


(Alfred A. Knopf, 1990), o crítico Sven Birkerts

escreveu nas últimas três décadas V. aperfeiçoou


a deprimente do nada. O
que
poesia que

V. nos diz sobre isso?

MS Penso Sven Birkerts não tem senso de humor. O conceito do nada


que é algo
que

reconheço. Nesse sentido aproximo-me de bilhões e bilhões de mortas.


pessoas
-
Poesia Norte Americana Hoje
39

diz o em si é a sua temática. Como V. se


lírica e
EB V. escreve própria
que poema
poesia

no de um milênio?
vê, enquanto
poeta, fim

mesmos e outras coisas também. Mas a idéia


são sobre eles
meus
MS Acho
que poemas

e não antes. Escrevo descobrir o tenho a


no escrever o
do nasce para que
poema,
poema

"mais

a dizer devagar". Mas, na ver-


uma voz
um milênio? Sou
dizer. No final de
pequena

significa um acréscimo de mil anos? Na


coisa. O
não é lá
dade, o milênio que
grande

muito
história da humanidade,
pouco.
40 / Poesia Sempre

Amy Clampitt

Meridian

K daylight on the bittersweet-hung

sleeping at high summer : dew


porch

ali over the lawn, sowing diamond-

shadows :
point-highlighted

the hired man's shadow revolving

along the walk, a flash of milkpails

: no threat in sight, no hint

passing

in the universe, of that


anywhere

apathy at the meridian, the noon

of absolute boredorn: flies

crooning black lullabies in the kitchen,

milk-soured crocks, cream separator

still unwashed : what is there to life

but chores and more chores, dishwater,

fatigue, unwanted children : nothing

to stir the longueur of afternoon

except thunderheads :

possibly

climbing, livid, turreted alabaster

from within by splendor and terror


lit up

-
forked lightning's

split-second disaster.
Poesia Norte-Americana
Hoje

Meridiano

JL rimeira luz do dia

sobre o sonolento alpendre

com trepadeiras
pendentes

e é verão: orvalho

pleno

todo o semeando
por gramado

imagens de diamantes

pontilhadas

sombra do homem trabalhador


a

ao longo do caminho
movendo-se

nos baldes de ordenha

passeia

ameaça à vista,
nenhuma

nenhuma mudança no universo

dessa apatia meridiana, o meio-dia

de absoluto tédio: o vôo de moscas

entoando cantigas negras de ninar,

na cozinha de leite com ranço,


potes

a desnatadeira ainda lavar:


por

o é a vida senão tarefas


que

e mais tarefas, a água da louça, fadiga,

crianças indesejadas

nada mexer com a lassidâò da tarde


para

exceto nuvens de tempestade


pelas

lívidas e escalantes torres de alabastro

iluminadas desde dentro

esplendor e o terror
pelo

-
o desastre instantâneo

de um relâmpago bifurcado.

Tradução de Denise Emmer


42 Poesia Sempre

The subway
singer

S
<*-J urvivor and unwitting

-
figure a one
public
gaunter

since with her cane, accordion

and cup, I last saw her

tap her hard way along

the hurled col, with its serial

crevasses, of an IRT train,

and heard the cracked bell

of her battered alto rung

again above the and


grope jostle,

the knee-jerk compunction

of the herd aí the faint signal

it's ali but hearing,


past

from beyond the ashen

headland, the mist-shrouded

hollows of her lifted

-
sightlessness seen waiting

now on the as it were

platform,

between appearances, a figure


public

shrunken but still recognizable,


1

Norte-Americana Ho e / 43
Poesia
j

cio metrô
A cantora

e desolada
obrevivente

-
macilenta
figura
pública

acordeão
sua bengala,
com
desde
que,

última vez
eu a vi
e
pela
pires,

duro caminho
seu
tateando

montanha estivesse
íngreme
se numa
como

trem do metrô
de um
abismos

contralto rascante
o seu
onde escutei

voz soava vacilante


a sua

acima do burburinho
popular

alienante
no constrangimento

rebanho ao tênue sinal


do

tudo inaudível
era
quase

o chegava de um
promontório pálido
que

frias de sua face


das cavidades

de sua cegueira extrema


às nebulosas

-
vista agora esperando

como se no intervalo
na
plataforma,

entre dois recitais tão absurdos

figura encolhida, mas


aquela
presente

1
44 Poesia Sempre

she links in one unwitting

community how many who have heard

and re-heard that offering's fali

toward the of oblivion?


poorbox
Poesia Norte-A merica na Hoje

de inconscientes
reúne uma multidão

que

e ouvirem
são os ouvirem

quantos que

o som do óbulo descendo

surda caixa do esquecimento.

pela

Denise Emmer
Tradução de
Poesia Sempre

Portola
Valley

jLx. dense ravine,


no inch

of which
was levei until

some architect
niched in this

shimmer
of fishpond
partition,

-
and flowerbed,
these fording

stones unwalled steep staircase

down to where
(speak softly)

you

take off shoes, step onto


your

tatami matting,
guest-house

learn to be
Japanese.

There will be red wine,

artichokes, and Califórnia

-
for dinner; a mocking
politics

bird may whisper, a frog rasp

and kerplunk, the shifting


go

-
inlay of in the coun
goldfish

floor add to vertigo;


yard
your

and deer look in, the velvet

thrust of faces and vast


pansy

violet-petal ears, inquiring,

stun without a blow.


you
Portola Valley

ravina imóvel
jLx. densa

seu equilíbrio
repousa em

local
um arquiteto
até
que

as calmas
vislumbre
partilhas

de flores,
canteiro
lago de
peixes,

a íngreme escada
descem

pedras que

baixo)
você
onde (fale

e
tira os sapatos
pisa

aprendendo
em um tatame

assim a ser
japonês.

Haverá vinho tinto

alcachofras e

política

californiana ao sussurros
jantar,

de um um sapo coaxa

pássaro,

na água, a dança de roda


e
pula

dourados no fundo do
dos
peixes pátio

lhe causa vertigem


;

e o cervo as múltiplas faces

percebe

de amor-perfeito; e muitas orelhas

de indagam

pétalas-violeta

e assombram sem um sequer.


golpe

Tradução de Denise Emmer


Charles Simic

Eyes ivith

fastened pins

I/ow much death works,

No one knows what a long

Day he in. The little

puts

Wife always alone

Ironing death's laundry.

The beautiful daughters

Setting death's supper table.

The neighbors

playing

Pinochle in the backyard

sitting on the steps


Or
just

Drinking beer. Death,

in a strange
Meanwhile,

of town looking for


Part

Someone with a bad cough,

somehow wrong,
But the address

can't figure it out


Even death

Among ali the locked doors...

the rain beginning to fali.


And

windy night ahead.


Long

with not even a newspaper


Death

his head, not even


To cover

the one away,


A dime to call
pining

slowly, sleepily,
Undressing

naked
And stretching

of the bed.
On death's side
-
Poesia Norte Americana Hoje

com alfinetes
Olhos

fechados

J. a morte trabalhe,
or mais
que

Ninguém o um longo
sabe
que

Dia A viuvinha
nos apresenta.

a roupa
Sempre só
que passa

Na lavanderia da morte.

As belas filhas

servem a ceia da morte.

Que

Os vizinhos
que jogam

Pinocle ao fundo do
quintal

Ou sentam-se nos degraus da escada

A beber cerveja. Enquanto isso

A morte, num estranho

Recanto da cidade, olha

Para alguém tosse sem cessar,


que

Mas o endereço de algum modo errado

Impede a morte o identifique


que

Por entre todas as contempla...


portas que

E a chuva começa a cair.

Uma longa noite tempestuosa frente.

pela

A morte não tem sequer


vim
jornal

Para cobrir a cabeça, sequer uma moeda

Para a alfinetou ao longe,


telefonar
quem

E se despe lenta e sonolentamente,

que

Estendendo o corpo desnudo

Ao lado do leito da morte.

Tradução de Ivan
Junqueira
('

Sempre
Poesia
)

t i rm i ties
Grea nfi

one leg.
veryone has only

to around,
So difficult
get

the stairs
difficult to climb
So

to our name.
a cane or a crutch
Without

contortions
arm. Impossible
And only one

love,
the one
to embrace
you
Just

on the table,
To cut the bread

in a hurry.
a coat on
To
put

almost blind,
that we are
mention
I should

both ears.
deaf in
And a little

on the street
to bé
Perilous

of the afflicted.
the congregations
Among

to memory, .
few steps committed
With only a

be diverted
we let ourselves
Meekly

twilight
In the endless

on our leashes.
dogs
Blind seeing-eye

everywhere
stillness
An immense

always bare,
the trees
With

only halfway,
down
coming
The raindrops

up.
close and
so
Coming giving
Poesia Norte-Americana Hoje

Grarides enfermidades

T
-L odos têm uma
perna.

É tão difícil evitar ou subir

escada, sem bengala


Os degraus da

sustente o nome.
Ou muleta nos
que

um braço. Impossíveis contorsões


E também só

Para a se ama,
enlaçar
quem

o sobre a mesa,
Cortar
pão

Vestir um casaco às

pressas.

Eu diria somos cegos,


que quase

E-algo surdos de ambos os ouvidos.

E andar nas ruas


perigoso

Entre congregações de aflitos.

-Com

apenas alguns degraus destinados à memória.

Docilmente nos deixamos dispersar

No crepúsculo sem fim: cães

De olhos vazios em nossas correntes.

Uma imensa em toda

quietude parte

Com as árvores sempre nuas,

Os da chuva a cair só metade,

pingos pela

A cair tão e tão desamparados.


próximos

Tradução de Ivan
Junqueira
Country

fair

Hayden Carruth
for

J[f didnt see the six-legged dog,


you

It doesn't matter.

We did and he mostly lay in the corner.

As for the extra legs,

One used to them


got quickly

And thought of other things.

Like, what a cold, dark night

be out at the fair.


To

the keeper threw a stick


Then

And the dog Went after it

legs, the other two flapping behind,


On four

one shriek with laughter.


Which made
girl

was drunk and so was the man


She

Who kept kissing her neck.

dog the stick and looked back at us.


The
got

that was the whole show.


And
ca na Hoje
Poesia Norte-Ameri 53

rural

Quermesse

A Hayden Carnith

de seis
e você não viu o cão
Ly pernas,

Não importa.

sempre ao canto.
Nós o vimos: ele descansa
quase

sobressalentes.
às
Quanto pernas

a elas
logo se acostuma
um
Qualquer

de outras coisas.
E cogita

uma fria e escura noite


Do mesmo modo
que

além da
Se estende
para quermesse.

arremessou uma vareta


Então o
guarda

E o cão correu em seu encalço

outras duas se agitando atrás,


Sob as
quatro pernas,

a dar uma risada.


O levou uma
que garota

bêbada, assim como o homem


Ela estava

a beijava no

Que pescoço.

em nossa direção.
vareta e olhou trás
O cão abocanhou a
para

E nisso consistia todo o espetáculo.

Tradução de Ivan nqueira


Ju
J

Poesia Sempre

Wright
Charles

the New Year


Threepoemsfor

way the sky tilts


have nothing to say about the
J[

Toward the absolute,

or why I live at the edge

Of the black boundary,

continent where the waves


a

my coming in and my out.


Counsel
going

to say about the brightness and drear


I have nothing

of that, or the vanity


Of any

of our separate consolations.

say about the companies of held breath.


I have nothing to

sung in vain,
Ali I have
year

font of holy water,


face breaking up in the
Like a

not hungry, not of heart.


.
pure

Ali as my body, sweet

year pilgrimage,

from the dark to the dark.


moved

What true advice the cicada leaves.


Poesia Norte-Americana Hoje

v
Três o Anc ovo
poemas para

sobre o modo como o céu se volta


N,ada tenho a dizer

Para o absoluto,

vivo no limiar
ou
por que

Da fronteira negra,

continente onde as ondas

minha entrada e minha saída.


Recomendam

Nada tenho a dizer sobre o fulgor e a opacidade

De tudo isso, ou sobre a vaidade

de nossos confortos individuais.

Nada tenho a dizer sobre os companheiros contidos.

O ano todo cantei em vão,

Como um rosto desfeito na de água benta,


pia

sem fome, sem de coração.


pureza

O ano todo enquanto meu corpo, suave

peregrinação,

se movia da treva a treva.


para

verdadeiro conselho, a cigarra deixa.


Que
/ Poesia Sempre
56

Ha. strange it is to awake

Into middle age, Rimbaud left blue and out cold

In the snow,

the Alps wriggling away to a line

In the near distance,

someone don't know


you

Coming to body, revive it, and arrange for the train.


get your

How strange to awake to that,

The windows ali fogged with breath,

The landscape outside in a flash,

and like a scarf


gone

On the neck of someone else,

so white, so immaculate,

The deserts and caravans

Hanging like Christmas birds in the ice-dangled evergreens.


2

acordar
orno é estranho

e abandonado
abatido
idade, Rimbaud
Na meia-

Na neve,

numa linha
Alpes serpenteando
os

Ali
perto,

você não conhece


alguém
que

o trem.
e
corpo, reanimá-lo
seu
Vem providenciar
pegar

isto.
estranho despertar
Como é
para

respiração,
embaçadas
As
pela
janelas

fora num lampejo,


A lá

paisagem

como lenço
um
passando

de alguém,
No
pescoço

tão imaculada,
tão branca,

Desertos e caravanas

de
salpicadas
de Natal nas sempre-verdes gelo.
como
Suspensos
pássaros

/ Poesia Sempre
58

-ZJ.il day at the window seat

looking out, the red knots

Of winter hibiscus deep in the foregreen,

Slick of oranges in the next


globes yard,

Many oranges,

and slow winks in the lemon trees

Down the street, slow winks when the wind blows the leaves back.

The ache for fame is a thick dust and weariness in the heart.

Ali day with the knuckle of solitude

To on,
gnaw

the turkey buzzards and red-tailed hawk

Lifting and widening concentrically over the field,

Brush-tails of the branches


pepper

writing invisibly on the sky...

The ache for anything is a thick dust in the heart


I

Poesia N. orte-Ameri cana Hoje § 59

da
dia todo sentado
perto janela

olhando fora, os nós vermelhos


para

fundo do em frente,
inverno no
Do hibisco de
gramado

no terreno ao lado,
de laranjas
Lustrosos
globos

Muitas laranjas,

e lento nos limoeiros


pestanejar

lento o vento sopra as folhas trás.


Pela rua,
pestanejar quando para

A ânsia de fama é uma espessa, um cansaço no coração.


poeira

O dia todo com o da solidão


peso

A corroer,

urubus-caçadores e de cauda vermelha


gaviões

Se alçando ampliada e concentricamente sobre o campo,

Eriçados ramos de
pimenteira

escrevendo invisivelmente no céu...

A ânsia de alguma coisa é uma espessa no coração.

poeira

Tradução de Castanon Guimarães


Júlio
7-

60 / Poesia Sempre

Remia I

T
JL o start with, it looked abstract

that first from the balcony


year

Over the Via dei Babuino,

Local color as far as the eye could see,

and mumbled in slaps and clumps

Of constantly to itself,
gouaches

A snood of twilight winter,


in
gentian

blood orange in spring,

And ten thousand of in the summer sky.


yards glass

Wherever looked in October, the night was


you
jigged.

front of the Ristorante Bolognese,


(In

Monica Vitti and Michelangelo Antonioni are having an aperitif,

Watched by a hundred

people.

On the marble

plaque

On the building across the street from my room to the Polish

patriot

Whose name escapes me forever,

The words disappear in the April nightswell.


start to

The river of cars turns its small lights on,

keeps on looking at everyone


and everyone else.)

Rome in Rome? We're ali leading afterlives

of one sort or another,

Wrapped in bird feáthers, away at our seed,


pecking gathered

The inside the form inside.


form

And nothing's more common by now than the obelisk


61
rica na Hoje
No rte-Ame
Poesia

I
Roma

I )i abstrato
início,
parecia

ano da sacada
esse
primeiro

Via dei Babuino,


Sobre a

ver,
o olho
até onde
Cor local podia

si
constantemente
e murmurada para

mesma

batidas de
e
Em tapas guaches,

uma fita de
inverno como
no gencianas,
Crepúsculo

na
laranja sangüínea
primavera,

no céu de verão.
metros de vidro
E dez mil

em niovimento.
a noite estava
em outubro,
você olhasse
Onde
quer que

Bolognese,
frente ao Ristorante
(Em

um aperitivo,
Antonioni tomam
Vitti e Michelangelo
Monica

de
uma centena
Olhados pessoas.
por

de mármore,
Na
placa

o
em frente a meu polonês
No para patriota
quarto,
prédio

me foge sempre,
Cujo nome
para

de abril.
fragor noturno
no
a desaparecer
As começam

palavras

luzes,
acende suas
O rio de carros
pçquenas

todo mundo.)
fica olhando
todo mundo
e

vidas
todos levando
Roma? Estamos póstumas
Roma em

tipo ou outro,
de um

nossa semente acumulada,


insistentes
bicando
em de
Envoltos
penas pássaros,

da forma dentro.
A forma dentro
At one end of the street

at the other...
and the stone boat

is borne up
The smell of a dozen dinners

On exhaust fümes,

vaguely reassuring.
and
timeless, somehow,
Hoje
Norte-Americana
Poesia

habitual o obelisco
E agora nada é mais
que

da rua
Numa extremidade

na outra...
e a barca de
pedra

dúzia de é suportado
cheiro de uma
O
jantares

Em exalações

tranqüilizadoras.
e vagamente
certo modo intemporais,
de
64 / Poesia Sempre

Roma II

JL
L looked long and long at my mother's miniature

The next

year,

the I lived on the east side


year

Of the church building that overlooked the Campo dei Fiori.

Her body had entered the oak


grove.

By the river of five-sided leaves she had laid it down,

Hummingbird hard at the shells of the sour


yellow grass,

Red throat in the light vouchsafed,

then hum to a marigold.


quick

The is a self-portrait
poem

always, no matter what mask

You take off and back on.


put

is, color of cream and a mouthful of air.


As this one

Rome is like that, and we are,

taken off and back on.


put

Downstairs, in front of the Pollarolla,

The Irish are sketching themselves in,

poets

and the blue awnings, and motorbikes.

They draw till we're ali in, even our hands.

is of ali things.
Surely, as has been said, emptiness the beginning

Thus wind over water,

thus tide-pull and sand-sheen

When the sea turns its lips back...

the tree whose limbs branch out like bonés,


Still, we stand by
Poesia Norte-Ame rica na Hoje

Roma II

de minha mãe
lhei muito a miniatura
para

No ano seguinte,

vivi no lado leste


ano em
que

o Campo dei Fiori.


Da igreja dava
que para

entrou no arvoredo de carvalho.


O corpo dela

Ela do rio de folhas de cinco lados,


o depusera
perto

Beija-flor amarelas dá amarga relva,


tenaz nas cápsulas

Garganta vermelha na luz concedida,

logo depois zune um cravo-de-defunto.


para

O é um auto-retrato
poema

sempre, não importa a máscara

você tira e de novo.


Que põe

Como esta, cor de creme e um sorvo de ar.

Roma é assim, e nós também,

tirados e de novo.
postos

Embaixo das escadas, em frente da Pollarolla,

Os irlandeses estão se retratando,

poetas

e os toldos azuis, e motos.

mesmo nossas mãos.


Desenham até estarmos todos incluídos,

vazio é o começo de todas as coisas.


Certamente, como se disse, o

Assim o vento sobre a água,.

assim a força das ondas e o reflexo da areia

o mar retira seus lábios...


Quando

Mas estamos da árvore cujos se ramificam como ossos,


perto galhos
Sempre
Poesia
66

bronchial sediment.
in the
Or steps

in their azure
masters stand
And the gowns,

birds above their heads.


leaves like
in their hands,
Sticks
palm
Poesia Norte'- Americana Hoje 67

Ou degraus no sedimento bronquial.

E suas becas azul-celeste.


os mestres se com
postam

como sobre suas cabeças.


Bastões nas mãos, folhas de
pássaros
palmeira

Tradução de Castanon Guimarães


Júlio
K. Williams
C.

my window
From

of sweet, laminar,
one true block
when that
the first morning

pring:

scent arrives
complex

in
on the sill,
coming to lean
and I keep glorying
west
from somewhere

winter.
of the wretched
the end

the way are


empty lot across
ringing the
sycamores
The scabby-barked

-
-
I hadn't noticed
budded

already broken
have
unlikely urban crocuses
spikes of the
and the thick

the soil.

gritty

each other left


tripods are waving
with
some surveyors
Up the street,

way they do.


right the
and

some kids
by a while ago,
in a suit passed, playing
A
jogged
girl gym

I imagine,
hooky,

half-converted ware-
who lives in a
vet
Vietnam
now the
and
paraplegic

the block
house down

him out come


to help
him and seems
stays with
the friend who
and

me,
weaving towards

edge of the
from one
lurching uncertainly
wheelchair
their battered

to the other.
sidewalk

"Legion":

- I was
when
to the once,
where they're putting
I know
going

out, they stopped,


something

-
-
and we
it wasn't ten o'clock
both reeking
time, too,
drunk that
both

for a bit.
chatted

-
I wonder if
on benefits most likely.
stay alive
how they
I know
don't

lovers?
they're

fact, they look a wreck, careening


now, in
it. Right
don't look
They

along,
haphazardly
Hoje
Poesia Norte-Americana

nela
Da m inha

ja

surge o exato
manhã,
.A^rimavera: a
quando
primeira

laminar, complexo,
doce,
bloco de
perfume,

instante chego
e a cada
lugar no oeste,
de

qualquer

tenebroso inverno,
fim do
no auge da satisfação
à
pelo
janela,

terreno vazio
circundando o
Os rugosos
plátanos

-
-
ainda notado
eu não tinha
estão florescendo
além do caminho

tão urbano
e os brotos do açafrão
pouco já

o solo arenoso.
romperam

com seus tripés


Subindo a rua alguns topógrafos

costumam fazer.
uns os outros como
acenam
para

correndo há
Uma em roupa de
ginástica passou
jovem

imagino,
também talvez
uns meninos
gazeteando,
passaram,
pouco,

o veterano do Vietnam,
e agora
paraplégico, que

adaptado no fim do
vive num armazém
quarteirão

e ajudá-lo a
amigo mora com ele
e o
parece
que

na minha direção,
à rua, sinuosos avançam
sair

incerta de uma
cadeira-de-rodas cambaleando
a
gasta

a outra do
extremidade
passeio.

uma vez,
clube veteranos:
Sei onde vão, ao dos

coisa fora, eles


eu alguma
estava pararam,
jogando

a tabaco
ambos cheirando
ambos muito bêbados,

-
e conversamos um
eram dez horas
ainda não
pouco.

-
calculo.
sobrevivem de
Não sei como
pensão,

Serão amantes?
pergunto-me.

são um naufrágio,
Agora, na realidade,
Não
parecem.

aqui e ali,
adernando eventualmente
Poesia Sempre
70

wheel from the curb so


beneath me, to dip a
as they reach
contriving,

chair skewers, teeters,


that the

sliding in
one slowly, almost
both tumble, the
and they
tips, gracefully

from his seat,


stages

over him, spinning


it, the other staggering
hardly marking
his expression

heavily down,

weakly and
his feet shoving
his mouth working,
lie on the asphalt,
to

the curb.
fruitlessly against

Estate, have
and Son, Real
the corner, Reed
office on
In the storefront

to see the show.


come

not, at least,
their name, they're
letters of
through the
Gazing
golden

thank laughing.
god,

erect and stands


a hydrant, himself
at
Now the buddy,
gets
grabbing

for a moment,
there
panting.

still, a forcarm shielding


one, who lies utterly
to lift the other
Now he has

from the sun.


his eyes

ali the way into the


hefts him almost
upright, then
hauls him
He
partly

dangling foot
chair, but a

so that he has to
around
everything put
a support-plate,
catches
jerking

him down,

he the
and as he does
hoist him again
to rights, and jerks
set the chair

right off him.

grimy jeans

white coils of
the thick,
blotchy thighs: under
drawers, shrunken,
No

belly blubber,

invisible in the
retracted, is almost
tiny, terrified,
blunt
the
pud,
poor,

hair,
sparse
genital

wholly as though he
up, he slumps back
his
then his friend
pulls pants

to be let be,
were, at last,

fence, suddenly staring up at


the cyclone
leans against
and the friend

he'd known,
me as though

help wondering if he knows


and I can't
I was watching
ali along, that

winter, too,
that in the
Hoje
Poesia Norte-Americana

sob minha
conseguindo, ao
janela,
passar

o equilíbrio, titubeia,
meio-fio, e a cadeira
roda no
uma perde
mergulhar

um devagar,
um tombo,
e ambos levam
inclina-se,

de seu assento,
elegantemente
etapas
deslizando quase
por

o outro
a
a expressão não registrando
queda,

até o chão
ele, rodopiando
sobre
cambaleando pesadamente

os
lábios comprimidos,
no asfalto, pés

para jazer

no meio-fio.
fraca e inutilmente
batendo

Son, Bens
Reed and
Na loja da esquina,

vieram ver o espetáculo.


Imobiliários,

ouro da firma, eles


das letras de
Olhando através

a Deus, não riram.


menos,
graças
pelo

o hidrante, num
caído, agarrando
Agora o amigo

um momento, ofegante.
esforço fica de

imóvel, um braço
Tem de levantar o outro, estendido

os olhos do sol.

protegendo

no ar até a
Ergue-o suspende-o
parcialmente,

cadeira, mas um solto


tudo ao redor, e
na chapa de apoio, sacudindo

pega

repor o amigo no chão,


ele tem de

a levantar o outro, e
a cadeira, tornar
consertar

dele o sujo.
ao fazê-lo arranca
jeans

mirradas e
vêem-se-lhe as coxas
Sem roupa de baixo,

dobras do ventre
manchadas: sob as
gordo
grossas

retraído,
membro, mínimo, assustado,
surge o
pobre

fios de cabelo
meio dos ralos
invisível no
genital,
quase

cima e o
amigo as calças
então o
para
puxa-lhe

enfim repousado
se afunda no encosto,
outro

de repente
apóia na cerca de
e o amigo se
proteção,

fixo, como se houvesse sabido


a cabeça, fita-me
ergue

e não
eu estava ali, olhando,
o tempo todo
posso
que

também soube no inverno


deixar de imaginar se
Poesia Sempre
72

walked, rather,
the night he went out to the lot and
I watched,
paced

almost ran, for how many hours.

last we have, when the


in holy silence, the
It was snowing, the city that

storm takes hold,

were circles, then


thought at first
and he was making that I
patterns

a figure light,
realized made

which, from where


but
him a symmetry
what must have been to
perfect

I was, shivered, bent,

as the snow came


infinity, slowly,
and lay on its side: a warped, unclear

faster, out.
going

task, he slogged the


head lowered to the
Over and over again, his
path

he'd blazed,

than he made them


his were filling faster
but the race was lost,
prints

now and I looked away,

city buildings, some, though


trees to the tall center
the skeletal
up across

it was midnight,

warning beacons signaling


their scarlet
their offices still
with ali
gleaming,

érratically

auras softening
flakes, their smoldering
the thickening portions
against

the dim, milky sky.


of

ali the field


trace of him effaced,
nothing: every
In the morning, pure

white,

its oblique, relent


dawn, from
the
its surface glaze,
glancing
glittering,

less, unadorned.
Poesia Norte-Americana Hoje 73

noite, e ele, o amigo,


eu assistira à cena: era

que

o terreno vazio, andara, em depois


saíra
passadas primeiro, quase
para

correra,

muitas horas.

por

em silêncio religioso, o
Nevava, a cidade estava

tivemos antes do estourar da tempestade,


último silêncio
que

riscos no chão,
e ele, o amigo, deixava
pensei que

círculos depois vi fazia um oito


fossem
que

devia ser uma simetria,


no ele
perfeita
que para

onde eu estava, trêmulo, em curva


mas, de
parecia

num infinito de imprecisa e lenta urdidura,

a neve caía mais rápida, e virava chão.


enquanto

Repetidamente, a cabeça abaixada na sua tarefa, ele

cavava marcando a risca

mas era trabalho suas marcas se enchiam


perdido,

mais depressa do ele as fazia, e eu olhei longe,


que para

através dos esqueletos das árvores até os edifícios

altos do centro da cidade, alguns, embora fosse então meia-noite,

com os escritórios ainda iluminados, seus faróis

vermelhos de alerta erraticamente


piscando

contra os largos flocos, suas auras amortecendo

do céu leitoso,
porções pálido.

Na manhã seguinte, nada: todos os traços

extintos,o terreno inteiro em branco,

puro

a aurora de lá nos
sua superfície agora cintilante,

oblíqua, incansável, sem adorno.


contemplando,

Tradução de Antonio Olinto


V

Poesia Sempre
/

David St.

John

Califórnia

"Who

do love!"
you

Bo Diddley

last night in Califórnia


My

the broken bed


She up from
got

naked a moment
Standing

her boots only


Before on
pulling

with their razor toes


Her boots

And lizard skins

back the drapes


Before
pulling

dusty window of
covered the
That

in the old
small room
Our

Stucco motel

the window

checkerboard
A floor-to-ceiling

and clear
Of opaque
panes

out at the trucks


She looked
passing

down the old section


In the rain

Of Highway 99

the rainbows

neon mixing
spilled oil and
Of the

asphalt
On the rain-glazed

lot
Of the
parking

of a moon
was thinking
Maybe she

of the Sierras
In the teeth

in the mountains
A moon setting

ranch
Beyond her father's

Where it would be

these storm clouds


Clear above
ri cana Hoje / 75
Poesia Norte-Ame

Califórnia

"Quem

você ama?"

Bo Diddley

AL, última noite na Califórnia

Ela se levantou da cama


quebrada

alguns momentos
Expondo toda a sua nudez
por

vestiu as botas
E depois somente

couro de lagarto
e de
Suas botas
pontudas

as cortinas
Antes ela descerrara

as empoeiradas
velavam
Que janelas

no velho
Do nosso
pequeno quarto

"stucco"

motel de

a
janela

construção do chão ao teto


Uma enxadrezada

De de vidro opacos e claros

quadrados

mirava lá fora o rodar dos caminhões


Ela

a velha
descendo
para parte

De Highway 99

os arco-íris

mistura de neon e óleo derramado


Uma

trazido ao asfalto chuva


No brilho
pela

Na área do estacionamento

estivesse recordando a lua


Talvez ela

Entre os dentes das Sierras

Uma lua a descer sobre as montanhas

Além do sítio do seu


pai

Onde a claridade
poderia

Ser acima das tempestuosas nuvens

Talvez apenas o seu marido


76 Poesia Sempre

Maybe of her husband

just

Getting up to the late news and his

Shift at the mill

But as I reached by the bed to the low

Table where I'd thrown my watch

And before I could say Come here

't

Don worry or any dozen stupid things

She began to rock slowly back on the heel

Of one boot snapping out the other

Like a whip kicking out one

By one the small

Square of the window


panes

Each echoing ricochet of louder


glass

Than the drone of the tmcks outside

And as the lights of the room

Next door flashed

On a moment their sudden

glare

Hitting the windshields of the cars

Nosed up in front of every door

I her around the waist


grabbed

And her back onto the bed


pulled

Her fingernails slicing

The whole length of my cheek

Three long lids


parallel

Of skin opening as the blood ran

Down onto my chest

I held her

Until the lights next door went off

As the sound of the rain the trucks

And the night

grew

Now when I back to Califórnia


go
-
Poesia Norte Americana Hoje 1 11

mais recentes e
A levantar-se sob as notícias
para

A sua rotina na fábrica

a cama me desloquei
Mas sobre
quando

o meu relógio
onde havia largado
Para a mesinha

dizer Venha aqui


E antes eu
que pudesse

de coisas estúpidas
outra dúzia
Não se ou

preocupe qualquer

lentamente o calcanhar
Ela começou a recuar

forçou
De uma das botas e com sua
ponta

Abrupto, o descalçar da outra

um um
Como um a estilhaçar
por
pontapé

da
Os envidraçados
janela
quadradinhos

mais alto
a ricochetear
Cada eco de vidro
quebrado

dos carros
fora das engrenagens
o roncar lá
Que

ao lado
luzes do
Enquanto as
quarto

momento repentina resplandecência


Espoucaram um
por

dos veículos
atingiu os
Que pára-brisas

uns aos outros em frente de cada


Entremetidos
porta

Agarrei-a cintura

pela

E a de volta a cama

puxei para

Suas unhas talhando

A maciez do meu rosto inteiro


por

Três longos sulcos


paralelos

Na carne aberta o sangue escorria

para que

Meu abaixo

peito

eu a segurei

ao lado se apagassem
Até as luzes do

que quarto

e da noite
som da chuva dos caminhões
Enquanto crescia o

Agora retorno à Califórnia

quando

Não onde ela está

pergunto

ou
porque

sei não era o risco


Eu somente
que

a encontrar-nos em motéis
nos empurrava
Que
(
\

Poesia Sempre
78 /

don't ask where she is


I

or why

know it wasn't the risk


I only

That kept us meeting in motéis

In the bars of Chinese restaurants

It was simply the desire to be

Desired

the lie

The lie told softly in the dark

good

Each night to keep believing

You're lucky

more lucky than most

that if

world holds many dreams at least


The

One of them holds


you
Ho e i 79
Norte-Americana
Poesia j

restaurantes chineses
Nos bares dos

desejo de ser
Era simplesmente o

Desejado

a mentira

no escuro
dita maciamente
A boa mentira

noite acreditando
cada
Para
prosseguir

Você é afortunado

a maioria
do
mais afortunado
que

se

porque

menos
muitos sonhos
O mundo sustenta
pelo

você
Um deles sustenta

de Moacyr Félix
Tradução
80 Poesia Sempre

Tate

James

Peggy in the twilight

JL eggy spent half of to wake up, and


each day trying

the other half for five, she


sleep. Around
preparing

would mix herself something and'4os-ish


preposterous

like a Grasshopper or a Brass Monkey, adding a note

of to her defeat. This shadowlife became her.


gaiety

She always had a on; that is, she carried an aura


glow

of innocence as well as death with her.

I first met her at a almost thirty ago.


party years

Even then it was too late for tragic women, tragic

anything. Still, when she was curled up and fell asleep

in the corner, I was overwhelmed with feelings of love.

Petite blac.k and angels sat on her slumped shoulders


gold

and sang lullabies to her.

I walked into another room and asked our host for

a blanket for Peggy.

"Peggy?" "There's

he said. no one here by that name."

And so my lovelife began.


na Hoje
Poesia Norte-America

Peggy ao crepúsculo

e a outra
acordar
do dia tentando
a metade
Peggy
passava

fazia
Lá 5,
dormir.
metade pelas
para
preparando-se

'40,

dos anos
extravagantes
desses coquetéis
mesma uns
si
para

uma. nota
acrescentando
Brass Monkey,
ou um
como um Grasshopper

de vida,
uma sombra
Tornou-se
de ao seu fracasso.
alegria

uma auia
carregava
ou seja,
havia luzido,
ela sempre que
que

onde fosse.
de morte
e bem assim
de inocência por

numa festa.
trinta anos
Conheci-a há
quase

trágicas, das coisas


moda das mulheres
a
Então havia
já passado

vi encolher-se e adormecer
a
assim,
trágicas. Mesmo
quando

de amor.
esmagado sensações
a um canto, senti-me
por

seus ombros caídos


sentavam-se em
e anjos dourados
Uma negrinha

canções de ninar.
e lhe cantavam

da casa um cobertor
e ao dono
Fui até a outra sala
pedi

Peggy.
para

"Não
"Pèggy?"

aqui com este nome."


há ninguém
estranhou.

vida amorosa começou.


E assim minha

de Ivo Barroso
Tradução
Poesia Sempre

Trying to help

n another a silvery starlet is brooding

planet,

blindfolding her
on her salary. Some ranchers are

gangling

of some lawful
for her own or so they say. It's ali

good, part

"awful

I wasn't listening.
research, or maybe they said research,"

thinking about origins


I was roving down a chestnut lane,

the nearly inaudible society


in a contrite sort of way, amid

modulating my little hireling feet


of aphids and such,

average stroller for keepsakes,


none too carefully, an
praying

this eerie squeak from afar.


least one, when I heard
or at

I to explain I knew instantly


reasons which refuse
For

in my rudimentary way.
and I tried to negotiate
what was on,
going

I think they were tempted


up some rose
I offered
petals,

it was in their contract


tough because
but liked
playing

the fiddle on their


So I offered to
or something. pátio
play

-1 was,
they knew what a fiddle
don t think
whole night. No deal
for a

have but one tiny tune.


for me since I
which was actually lucky

sneer at my own timidity.


lane, tempted to
I sat down on my chestnut

distant research,
from afar, ali that damned
Those squeaks

my momentum crushed.
keepsake for this day,
the only

provide

crashes into an oak tree.


crows a
Hours
pass, pheasant
pass,

"Thanks

for caring, mister,


says to me,
a dream she
In

awfully well".
and I'm
of the
but it's ali paid
plot, getting
part

hardly walk.
now I can
And
-American
Poesia Norte a Hoje 83

Tentando ajudar

"estrelinha"

está remoendo
J. um uma
V outro
platinada
planeta,

vendam-lhe os olhos
o seu salário. Uns rancheiros
grandalhões

dizem. Tudo não de uma ordem


o seu bem, ou assim
passa
para

"desordem

de uma brusca", não ouvi bem.


de ou talvez dissessem
busca,

alameda de castanheiros, a nas origens


Eu vagueava uma
por pensar

um tanto contrita, em meio à inaudível companhia


de maneira
quase

dos afídios e tais, modulando minhas rimas mercenárias

que

não um vagabundo vulgar em busca de lembranças,


de todo cautelosas,

ou menos de uma, ouvi aquele sinistro na distância.

pelo quando guincho

Por motivos me recuso a esclarecer, instantaneamente

que percebi

o estava acontecendo e tentei resolver o caso à minha maneira rudimentar.


que

Ofereci-lhes algumas de rosas, e acho estavam inclinados a aceitar


pétalas que

mas bancar os durões estava nos contratos


preferiram porque

ou algo assim. Então ofereci-me tocar rabeca em seu


para pátio'

-
uma noite inteira. Não toparam acho não sabiam o era uma rabeca,
por que que

mas na verdade foi sorte minha mal. sei tocar algumas notas.

pois

Sentei-me na alameda de castanheiros disposto a escarnecer de minha timidez.


própria

ao longe, toda aquela maldita busca à distância,


Aqueles
guinchos

dia, minha impetuosidade destroçada.


constituíram a única lembrança desse

um faisão se espatifa num carvalho.


Passam-se as horas, os corvos
passam,

"Obrigada

ter se comigo, amigão,


Num sonho ela me diz:
por preocupado

faz do enredo, e estou sendo muito bem isso."


mas tudo
parte paga para

E agora mal caminhar.


posso

Tradução de Ivo Barroso


Urider mounting

pressure

"O

Mareei," she says to me, Mareei,


O

do know the way out of this

you pool?

I am very tired of swimming about here."

A from her shoulder left me in dishabille.

gale

was in dishabille anyway as I was back


I
just

from the kaleidoscopic society.

I was there to salute her as she

just passed.

She was a floating beautyfarm.

I had to escort her to the demolition derby.


planned

She was a floating beautyfarm

and I stood there on the wharf of the final landing.

-
She recognized.me as some Marcel-type of
guy

this was incomprehensible to me, but


preparatory

to something worthwhile.
perhaps

A if concupiscent smile exhausted itself in my head

quizzical,

and I stretched out my hand, the Grand Mogul I really was.

I started reeling in this wildeat beautyfarm,

it was a big one. Her ledger of love was a blur,

"O

holes. Mareei," she said to me,


her helmet was full of

"O

in head. Don't touch it!"


Mareei, there's a doorbell
your
-Americana
Poesia Norte Hoje

Sob crescente

pressão

un

"O

ela, Mareei,
Mareei", disse-me
V_^/

você sabe como se sai desta


piscina?

nadando aqui."
Estou, farta de ficar
por

esquerdo me deixou de roupão.


Uma de seu ombro
brisa

eu estava de roupão acabava


De forma
já pois
qualquer

voltar da sociedade calidoscópica.


de

Estava ali só saudá-la fosse

para quando passar.

Era uma flutuante beleza do campo.

Pretendia acompanhá-la ao hipódromo da demolição.

Era uma flutuante beleza do campo

e lá fiquei no cais do desembarque final.

-
Ela viu em mim um rapaz do Mareei
gênero

era incompreensível mim, mas antecipava


para

alguma coisa talvez valesse a


que pena.

Um sorriso irônico, se não concupiscente dissipou-se-me

no rosto e estendi-lhe a mão, Grande Figura eu era.


que

Comecei envolvendo essa beleza selvagem,

era imensa. Sua sonda de amor era um borrão,

que

Mareei," disse-me ela,


o capacete cheio de buracos.

cabeça. Não toque nela!"


Mareei, tem uma campainha em sua

Tradução de Ivo Barroso


/ Poesia Sempre

Graham

Jorie

On difficulty

L that they want to know whose they are,

seen from above in the half burnt-out half blossomed-out

woods, late April, unsure as to whether to

turn back.

The woods are not their home.

The blossoming is not their home. Whatever's back there

Something floats in the air ali round them


is not.

as if it were the
place

where the day drowns,

and the at the edge of cries, for instance, that fissure,

place gleams.

Now he's holding his hand out.

Is there a hollow she's the shape of?

And in their temples a thrumming like

-
what-have-I-done? but not a really, not
yet question,

what slips free of the voice to float like a brackish foam


yet

-
on emptiness

Oh will come to it, two down there


you you

where the vines begin, will come to it,

you

the thing towards which reason, the where the flotsam


you place

the meanings is down


of
put

and the shore

thinking we must have slept a while,


holds. They're

changed? They're thinking


what is it has

are, after ali, how finite


how low the bushes

finds in the
the options òne

like the branchings of whiteness


waiting ali). More
(after

into this shade or that,


always stopping short

breaking inertia then stopping,


-
Poesia N o r t e A m e r i c a n a Ho e
j

Da dificuldade

JL ois eles saber a


querem quem pertencem,

vistos do alto, no semiqueimado semiflorido

se devem ou não
bosque, final de abril, incertos

regressar.

O bosque não é sua casa.

Tudo lá houver
A floração não é sua casa.
que

no ar à sua volta
não é. Alguma coisa flutua

como se fosse este o lugar

onde o dia se afoga,

e o lugar à beira dos exemplo, aquela falha, brilha.


gritos, por

Agora ele está estendendo sua mão.

Haverá um vão de ela é forma?


que

E em suas têmporas um latejar como

-
o-que-foi-que-eu-fiz? mas não ainda uma na verdade, não
pergunta,

ainda o foge à voz flutuar como espuma impura


que para

-
no vazio

Ah! Vocês hão de chegar lá, vocês dois aí embaixo,

onde as vinhas começam, vocês hão de chegar lá,

à idéia a caminham, o lugar onde os destroços

para qual

dos sentidos se desprendem

e as
praias

amparam. Eles estão devemos ter dormido um

pensando pouco,

o mudou? Eles estão


que foi que pensando

como são baixos os arbustos, afinal, como são finitas

as opções descobrimos
que

na espera os ramos da branquidâo


(afinal).
Quase

detendo-se de nesta ou naquela sombra,


pronto

rompendo a inércia e então detendo-se,


breaking the current at last into shape but then

-
stopping

of each other's bodies, where


If asked them, where they first find the edges
you

happiness resides they'd look up through the


gap

in the looking down through.


greenery you're

-
church the left),
What they want to know the icons silent in the shut (to

-
the distance silent in the view the right)
(to

is how to themselves away,


give

which is why they look up now,

which is why theyil touch each other now


(for
your

which is why they want to know what this


looking),

reminds of
you

other for to see, for to see by, the long sleep


up, reaching each
looking
you you

the long sleep of resemblance,


beginning,

for that Eternity begin, there, between


each other further
touching you,
you

up for to count by,


of hold them
letting the short
grass you
jabs

into the believable by,


to color the scene

individual blossoms add up


letting the thousands of

-
view of them
and almost her further) block
(touching your

When look away


you

be dear and what?


who will they
god
Hoje / 89
Norte-Americana
Poesia

mas então
fluxo numa forma,
afinal o
rompendo

detendo-se.

corpos, onde
beira de seus
a
a encontrar
onde começam
Se a eles
perguntasses

ao vão
os olhos
eles ergueriam
mora a

felicidade

os observas.
da folhagem,
pelo qual

- fechada esquerda),
na igreja (à
ícones silenciosos
saber os
O eles
que querem

-
direita)
na (à
a distância silenciosa
paisagem

é como se entregar,

olhos agora,
seus
isso erguem

por

o teu
tocam agora (para
eles se
isso
por

saber o
isso
olhar), que
querem
por

em ti
despertam

o longo sono
vejas, meio deles,
o alto, tocando-se
olhando que por
para
para

sono da semelhança,
o longo
começando,

lá, entre vocês,


a Eternidade,
de ti a desponte
mais e mais diante
tocando-se
que

os reconheças,
lâminas da
erguer curtas
deixando-se grama, para que
pelas

cena cores reais,


emprestar à

para

botões se harmonizarem
milhares de
deixando

os vejas
e mais) a impedir
mais
(tocando-a que
quase

desviares o olhar

Quando

meu deus e o
serão eles
quê?
quem

Patrícia Burrowes
Lucchesi e
Tradução de Marco

I
/ Poesia Sempre
90

Self-portrait
Self-pi

as both
es

parti

T.
he cut flowers riding the skin of this river.

Dallying, dallying, wanting to in.


go

Wanting to be true, at the heart of things but true.

Imagine the silt and ali that it was.

The that filter down to it through the open hands of the sunlight.
grains

How its rays weaken down there. How when it comes to touch

that smoothest of the slow bottom of the river,


girls

is it Orpheus as it on unharmed but really


glides

turned back with its one long note that cannot

break down?

How would he bring her back again? She drifts up

in a small hourglass-shaped cloud of silt where the sunlight touches,

up to where the current could take her,

up by the waist into the downstream motion again into the

hard sell, and for a moment even I can see

the of which would become her body,


garment particles

swaying, almost within reason, this devil-of-the-bottom,


Hoje 91
Norte Americana
Poesia

Auto-retrato

cunhas as
de
partes

desse rio.
na
flutuando
ores cortadas pele

entrar.
flertando,
Flertando,
querendo

mas reais.
das coisas,
reais, no coração
ser

Querendo

tudo foi.
o lodo e
Imagine
que já

da luz do Sol.
mãos abertas
filtrados
Os
pelas
grãos

Como ao tocar
lá no fundo.
raios desvanecem
Como seus

vagaroso do rio,
meninas o leito
suave das
a mais

ileso, embora
Orfeu deslizando
seria

nota não
sua única longa
retornar com pode
forçado a que

ser interrompida?

volta? Ela flui


ele a traria de
Como

a luz do Sol,
onde
de ampulheta
lodo em forma pousa
de
numa nuvenzinha

levá-la,
onde a correnteza
até
poderia

volta à
abaixo de
cintura rio
erguida
pela

vejo
instante eu mesmo
e um
corredeira,
por

seu corpo,
de seria feito
o véu de
que
partículas

razão, este demônio-do-fundo,


à beira da
balançando,
Poesia Sempre
92

almost again, almost her weightlessness,


yoked quelling

flirting here now with this handful of

mudfish his fingers touch silver... But they

gun

through the weeds, the weeds cannot hold her

who is ali rancor, valves now,


ali ali destination,

dizzy with wanting to sink back in,

thinning terribly in the holy separateness.

And though he would hold her up, this light ali open hands,

seeking her edges, seeking to make her again,


palpable

curling around her to find crevices by which to carry her up,

flaws by which to be himself arrested and made,

made whole, made sharp and limbed, a shape,

she cannot, the drowning is too kind,

the becoming of everything which each opens to again,


pore

the which each momentary outline blurs into again,


possible

too kind, too endlessly kind,

the silks of the bottom rubbing their vague hands

over her forehead, braiding her to

the sepulchral leisure, the body, the other that is not minutes

place

from which he searches he searches which is his majesty

delay this roundabout the eye must love.


ali description ali
Poesia Norte-Americana
Hoje

submissa novamente, vencendo sua leveza,


quase quase

flertando aqui agora com um de


punhado

seus dedos tocam Mas eles disparam


peixes prata...

através das as não a deter


plantas, plantas podem

é toda rancor, toda valvas agora, toda destinação,


que

tonta de voltar ao fundo,


querer

diluindo-se terrivelmente na sagrada separação.

Embora ele a suspender, esta luz de mãos abertas,


quisesse

buscando suas beiras, buscando torná-la de novo

palpável,

anelando-a encontrar frestas onde érguê-la,


para por

falhas onde fosse aprisionado e feito,


por

aguçado e cheio de ramos, uma forma,


pleno,

ela resiste, o afogar-se é suave demais,

o vir a ser a se abrem todos os novamente,


que poros

o onde todo contorno se dissolve novamente,


possível provisório

suave demais, infinitamente suave,

as sedas do fundo roçando suas mãos vagas

sobre sua fronte, enlaçando-a

no ócio sepulcral, o corpo, o outro lugar não fica a minutos


que

de onde ele busca ele busca, eis sua


grandeza

descrição, demora, este desvio os olhos devem amar.


pura pura que

Tradução de Marco Lucchesi e Patrícia Burrowes


Poesia Sempre
/
94

Louise Glück

¦
Celestial music

who believes in heaven.


I have a friend still

she literally talks


with ali she knows,
Not a stupid

person, yet

to
god,

listens in heaven.
she thinks someone

she's unusually competent.


On earth,

too, able to face unpleasantness.


Brave,

dirt, ants crawling


dying in the
We found a Caterpillar
greedy

over it.

always eager to
weakness, by disaster,
moved by
I'm always

oppose vitality.

to shut my eyes.
timid, also,
But
quick

to let events out


was able to watch,
Whereas my friend
play

sake, she intervened,


to nature. For my
according

set it down across


the tom thing, and
a few ants off
brushing

the road.

that nothing else


I shut my eyes to
My friend says
god,

explains

like the child who buries


She says I'm
to reality.
my aversion

head in the
her
pillow

who tells herself


see, the child
so as not to

causes sadness
that light

urging me
mother. Patient,
is like the
My friend

herself, a courageous
like
wake up an adult person
to
-Americana
Hoje .
Poesia Norte

Mlísica ceiestial

acredita no céu
amiga ainda
T
JL
A. ei
enho uma
que

literalmente conversa
conhece ela
de tudo
idiota, e apesar
Não é uma que

com Deus

no céu.
alguém a escuta
Pensa
que

eficiência rara.
ela é de uma
Na terra

até de mostrar desagrado.


também capaz
E valente

lodo, formigas insaciáveis


lagarta caída no
vez encontramos uma
Uma

sobre ela.
arrastavam-se

sempre ansiosa
desgraça, e estou
movida, fraqueza,
Eu, sempre, sou
como
pela pela

sem me desgastar.
querer

disposta a não enxergar


Mas tímida também,

as coisas sigam
amiga ver e deixar
Enquanto minha
pode que

minha causa, ela interferiu,


curso natural. Por
seu

no outro lado
esfacelado e colocando-o
algumas formigas do animal
afastando

da estrada

nada mais
fecho os olhos a Deus
Minha amiga diz eu
que
que

explica

criança enfiando
sou como uma
à realidade. Diz
minha aversão
que

cabeça no travesseiro,
sua

si mesma
ver, uma criança dizendo
não
pra
pra

luz causa tristeza-

que

animando-me
é como uma mãe. Paciente,
Minha amiga

e adulta igual a ela.


a renascer corajosa

Agora estamos trilhando


minha amiga me censura.
Nos meus sonhos,

estrada, só é inverno;
a mesma
que já
7

Sempre
/ Poesia
96

me. We're walking


my dreams, my friend reproaches
In

the same road, except it's winter now;


on

world hear celestial


telling me that when love the
she's
you
you

music:

up, she says. When I look up, nothing.


look

white business in the trees


Only clouds, snow, a

brides leaping to a height


like
great

for her; I see her


Then Fm afraid

cast over the eaith


caught in a net deliberately

road, watching the sun set;


the side of the
In reality, we sit by

by a birdcall.
from time to time, the silence
pierced

to explain, the fact


we're both trying
It's this moment

with death, with solitude.


that we're at ease

dirt; inside, the caterpillar


a circle in the
My friend draws

doesn't move.

whole, something
to make something
She's always trying

beautiful, an image

apart from her.


capable of life

not speaking, the


sitting here,
We're veiy It's
quiet. peaceful

composition

dark, the air


road turning suddenly
fixed, the

the rocks shining and


here and there
cool, glittering
going

that we both love.


it's this stillness

is a love of endings.
love of form
The
-
r t e A merica na Hoje
Poesia N o 97

uma música
ouvimos
o mundo, ela vai me dizendo,
amamos
quando

celestial:

observo: nada.
observa, ela fala. eu
Quando

nas árvores
neve, um negócio branco
Só nuvens,

altura.
saltitando a uma
como noivas
grande

Então temo ela; vejo-a


eu
por

sobre a terra,
rede lançada deliberadamente
numa
presa

assistindo ao
à beira dessa estrada,
nós sentamos pôr-do-sol;
Na realidade,

canto de um
é atravessado
Às vezes, o silêncio pássaro.
pelo

o fato
tentamos explicar-nos
Neste momento

morte, com a solidão.


à vontade com a
de estarmos

lama, lá dentro a lagarta


risca um círculo na
Minha amiga

está imóvel.

coisa total, uma coisa


Ainda tenta fazer alguma

bela, uma imagem

capaz de viver fora dela.

sentadas, sem falar, o


É tanta aqui
Nós estamos muito silenciosas.
paz,

escuro, o ar
o caminho tornando-se subitamente
assunto fixo,

rochas brilhando e cintilando


esfriando, aqui e lá as

ambas amamos.
e é essa
quietude que

mesmo amor dos fins.


O amor dos meios é o

de Suzana Vargas
Tradução
First memory

J-Jong ago, I was wounded. I lived

to revenge myself

against my father, not

-
for what he was

for what I was: from the beginning of time,

in childhood, I thought

that meant
pain

I was not loved.

It meant I loved.
cana Hoje
N o rte-Ameri
Poesia

bra nça
Pritneira tem

Vivia
eu fui ferida.
tempo atrás,
h; muito

vingar-me
para

de meu não

pai,

ele era

pelo que

dos anos
no início
eu fui:
mas

pelo que

na infância,
pensei

dor significava
que

não ser amada.

Significava: eu amei.

Suzana Vargas
Tradução de
Robert Hass

Tahoe in August

YV7

W hat summer is simply happiness:


proposes

heat early in the morning,

jays

raucous in the Frank and Ellen have a tennis


pines. game

at nine, Bill and Cheryl sleep on the deck

to watch a shower of summer stars. Nick and Sharon

stayed in, sat and talked the dark on,

drinking tea, walked into the meadow


and
Jeanne

in a white smock to write in her

journal

by a horse who seemed to want the company.


grazing

Some of them will swim in the afternoon.

Someone will drive to the hardware store to fetch

new latches for the kitchen door. Four o'clock;

-
the it is one of them who sees
joggers jogging

down the flowering slope the woman with her notebook

in her hand beside the white horse, her hair


gesturing,

from a distance the copper color of the hummingbirds

the Slant light catches on the slope; the hikers

switchback down the canyon from the waterfall;

the readers are reading, Anna is about to meet Vronsky,

that nice M. Swann is dining in Combray

with the aunts, and Carrie has come to Chicago.

What they want is happiness: someone to love them,

children, a summer by the lake. The woman who sets aside

her book blinks against the fuzzy dark,

re-entering the house. Her claughter drifts downstairs;

out late the night before, she has been napping,

and she's cross. Her mother tells her David telephoned.


n a H o e
a
Poesia Norte-Americ j

Tahoe

felicidade:
é simplesmente
o verão
propõe
que

cedo, roucos
calor de manhã

de tênis
têm uma
e Ellen
Frank partida
nos
pinheiros.
gaios

no convés
dormem
Bill e Cheiyl
às nove,

Nick e Sharon
de verão.
das estrelas
ver a chuva

para

noite adentro
e conversaram
casa. sentaram
ficaram em

até o campo
e caminhou
chá,
tomando
Jeanne

em seu diário
escrever
avental branco
de
para

companhia.
de um cavalo querer
que parecia
pastando
perto

vão nadar à tarde.


Alguns

novos trincos
armazém buscar
Alguém irá ao

horas:
a da cozinha.
Quatro
para porta

-

é um deles
correndo
os corredores quem

a mulher de caderno
ladeira florida
no fim da

de longe
ao cavalo branco,
na mão gesticulando,
junto

cor dos beija-flores


a acobreada
seus cabelos

a ladeira; o
inclinada alcança
a luz grupo

à cachoeira,
canyon da excursão
regressa
pelo

Vronsky,
de encontrar
Anna está a
estão lendo,
os leitores ponto

em Combray
Swann está
Sr.
aquele jantando
gentil

veio a Chicago.
as tias, e Carrie
com

os ame,
felicidade; alguém
é
O eles que

que querem

deixa o livro
lago. A mulher
um verão no
crianças, que

contra a
de lado
penumbra,
pisca

as escadas,
Sua filha desce
entrando na casa.

andou cochilando
tarde noite
chegou
passada,

David ligou,
mãe lhe diz
mau humor. Sua
e está de que
"He's
"I
such a dear," the mother says, think

I make him nervous."


The tosses her head as the horse
girl

had done in the meadow while


read it her dream.
Jeanne

"You

can call him now, if want," the mother says,


you

"Fve

to the chicken started,


got get

"Did

I won't listen."
I say would?"
you

the says The mother who has been slapped


girl
quickly.

this way before and done the same herself another summer

"Ouch."

on a different lake says, The shrugs


girl

"Frn
"Something

sulkily.
sorry." Looking down:

about the way said that me off."


you pissed

"Hannibal

has wandered off," the mother says,

wryness in her voice, she is thinking it is August,

"why

don't see if he's at the Finleys' house


you

"God."
"He

again." The says, The mother: loves


girl

small children. It's livelier for him there."

The daughter, awake now, flounces out the door,

which slams. It is for ali of them the sound of summer.

The mother she looks like stands at the counter snapping beans.
Norte-Americana Hoje
Poesia

"Eu
"Ele

acho
um amor", a mãe comenta,
é

como fez o cavalo


balança a cabeça
nervoso". A
o deixo
garota
que

leu-lhe seu sonho.


no campo enquanto
Jeanne

"Você

diz a mãe,
ligar ele agora",

pode pra

"tenho

o frango,

que preparar

"E

você ia?'
eu disse
não vou escutar".
que

havia sido destratada


a A mãe
retruca
que já
garota.

outro verão
mesmo no
assim e feito o

"Uh".

A dá de ombros
diz,
em um lago diferente,
garota

"Foi
"Desculpe".

baixo:
Olhando
amuada. para

me irritou".
seu de falar
que
jeito

"Aníbal

a mãe diz,
saiu aí",
por

está é agosto,
afetada, ela
a voz
pensando que

"por

ele está casa dos Finley


você não vê se
pela
que

"Saco." "Ele

A mãe: adora
novo". A diz:
de
garota

"Por

lá é mais divertido ele".


criança
pra
pequena.

filha, desperta agora, sai


A

É todos o som do verão.


batendo a
porta. para

no balcão catando feijões.


ela se fica em
A mãe com
parece pé
quem

Thomaz Albornoz Neves


Tradução de
104 Poesia Sempre

Meditation
at Lavunitas

jLjl 11 the new thinking is about loss.

In this it resembles ali the old thinking.

The idea, for example, that each erases


particular

the luminous clarity of a idea. That the clown-


general

faced woodpecker the dead sculpted trunk


probing

of that black birch is, by his

presence,

some tragic falling off from a first world

of undivided light. Or the other notion that,

because there is in this world no one thing

to which the bramble of blackberry corresponds,

a word is elegy to what it signifies.

We talked about it late last night and in the voice

of my friend, there was a thin wire of a tone


grief,

almost After a while I understood that,


querulous.

talking this way, everything dissolves:


justice,

hair, wooman, and I. There was a woman


pine, you

I made love to and I remembered how, holding

her small shoulders in my hands sometimes,

I felt a violent wonder at her


presence

like a tirst for salt, for my childhood river

with its island willows, silly music from the boat,

pleasure

muddy where we caught the little orange-silver fish


places

called It hardly had to do with her.


pumpkinseed.

Longing, we say, because desire is full

of endless distances. I must have been the same to her.

But I remember so much, the way her hands dismantled bread,


-
m e 1: i c a n a Hoje
N o r t e A
Poesia

em Lagunitoís
Meditação

é sobre
A. odo novo
perda.
pensamento

antigo.
a todo
Nisso é semelhante
pensamento

específica apaga
cada idéia
noção, exemplo,
A
por que

a cara
de uma idéia
a luminosa claridade Que
geral.

esculpida no tronco
a morte
inquirindo
de do

palhaço pica-pau

é, sua
dessa negra madeira
por presença,

um mundo
de
alguma trágica
primeiro
queda

não haver
Ou a outra noção
de luz indivisível.
que, por

à sarça da amoreira,
nada corresponda
neste mundo
que

ao seu significado.
uma é elegia
próprio
palavra

ontem à noite e a voz


Sobre isto falamos

inquietude, um tom
amigo uma leve
de meu
passava

Após um momento compreendi


de lamento.
que
quase

assim tudo se dissolve:


falando
justiça,

você a eu. Havia esta mulher


lástima, cabelo,

me lembrei como, tomando


fiz amor e
com
quem

ombros.
nas minhas mãos seus
de em
pequenos
quando quando

senti um violento fascínio,


À sua
presença

do rio de minha infância


como uma sede de sal,

na barca de
salgueiros, tolas canções
e suas ilhas de passeio,

laranja
onde o.
lamaçais prateado
pequeno peixe
pescamos

isso teria a ver com ela.


Dificilmente
chamado semente-de-abóbora.

o desejo é
Saudosos, dizemos,
que pleno

mesmo ela.
Devo ter sido o
de infinitas distâncias.
para

suas mãos esmigalhavam


Mas recordo tão bem como
pão,

a magoou, o
o seu disse
que
que pai que
her, what
thing her father said that hurt
the

body is as numinous
when the
dreamed. There are moments
she

flesh continuing.
words, days that are the
as
good

and evenings,
tenderness, those afternoons
Such

blackberry.
saying blackberry, blackberry,
- 107
r i c a n a Hoje /
N o r t e A m e
Poesia

é tão numinoso
o corpo
momentos em
ela sonhava. Há
que

incessante.
são a sensualidade
dias
que
quanto palavras,

tardes e noites
Tanta ternura, aquelas

amoreira, amoreira.
dizendo amoreira,

Neves
Thomaz Albornoz
Traduçâo de
Russell Edson

A iitimatier

an inverse world,
side of a mirror there's
O n the other

climb out of the earth


sane; where bonés
where the insane
go

first slime of love.


and recede to the

the sun is rising.


And in the evening
just

and soon child-


they are a day
Lovers cry because
younger,

robs them of their


hood
pleasure.

sadness which, of course, is


world there is much
In such a

joy...
-
N o r t e A m e r i c a n a H o e 109
j

A ntimatéria

D o outro laclo do espelho há um mundo às avessas,

onde o o recupera; onde ossos fora da terra


quem perde juízo pulam para

e remontam ao limo do amor.


primeiro

E o sol desponta o dia termina.


justamente quando

ama chora, fica um dia mais moço, e a infância o


Quem porque
priva

de sem demora.
prazer

Há nesse mundo um monte de tristeza, é, naturalmente,


que

alegria...

Tradução de Leonardo Fróes


r——7

110 Poesia Sempre

e of dream num

T
herself as a fat
jL here was a fat woman who disguised

woman.

Why? sighed her mother.

it's a skinny woman disguised


Because will think
people

as a fat woman.

What's the sighed her mother.

good?

II marry me, because many men like a skinny


Then a man'

woman well.
quite

Then what? sighed her mother.

he'11 see that under the


take off the disguise, and
Then I'll

woman is another fat woman.


fat

and not a woman.


And he'11 think I'm an onion

is another disguise),
He'11 think he's married an onion (which

said the fat woman.

Then what? sighed her mother.

what a kick, an onion with a cunt.


He'11 say, oh
-American
a Hoje / 111
Poesia N ó ri e

homem sonho
noiva do
A

disfarçava de
se
mulher muito gorda.
J_ avia uma
gorda que

a mãe dela.
Por suspirava
quê?

disfarçada de
mulher muito magra
é uma
vão achar gorda.
Porque os outros
que

a mãe dela.
adianta? suspirava
De
que

agrada a
a mulher sendo magra
vai se casar comigo,
É um homem então
porque
que

muitos homens.

a mãe dela.
E aí? suspirava

há uma outra
vai ver baixo dessa
vou tirar o disfarce e ele
Aí eu gorda gorda
que por

também.

sou uma cebola, e não mulher.


E vai eu
pensar que

um outro disfarce), disse a mulher


uma cebola é
Vai achar se casou com (o
que
que

gorda.

E daí? suspirou a mãe dela.

-
com buceta.
loucura! uma cebola
Vai dizer
que

Tradução de Leonardo Fróes


i a S e m r e
P o e s
112 p

Hog Theater
A aí

performance

men been hogs.


as men, had
where hogs
a hog theater
jI here was once performed

which is being eaten


found a mouse
field which has
a hog in a
hog said, I will be
One

which I ani
found the mouse,
which has pei-
in the field and
which is
by the same hog

art.
to the
forming as my contribution
performer's

an old hog.
be hogs, cried
Oh let's
just

hogs, only hogs...


crying, only
out of the theater
so the hogs streamed
And
-
Poesia N o r l e A m e r i cana Ho e 113
/'

Um desempenho no Teatro dos Poreos

t7

JL^j ra uma vez um teatro de onde os desempenhavam de home-


porcos porcos papéis

ns, como se os homens tivessem sido


porcos.

Um disse: serei um num campo encontrou um ratinho está sendo


porco porco que que

comido mesmo está no campo e encontrou o ratinho e cujo eu


pelo porco que que papel

represento como contribuição à arte do desempenho.


pessoal

Oh, vamos ser apenas um mais velho.


porcos, gritou porco

E assim os refluíram fora do teatro somente somente


porcos para gritando: porcos,

porcos...

Tradução de Leonardo Fróes


(

114 Poesia Se mp re

Helen Vendler

Fin-de-Siècie
Poetry: Graham

jorie

T
JL he notion of itself to reflection as unsuitable for lyric, since it
fin-de-siècle presents

derives from the time-span of epic narration, and lyric the moment to
generically prefers

the narrative span. The formal for the writer of lyric who wishes to
primary problem

invoke the notion of history is to tuck such a concept into a short-breathed


panoramic

and the is a subgenre within a lyric we could call the


fin-de-siècle his-
poem, poem genre

tory-poem. The as we have inherited it today, carries a nineteenth-


phrase fin-de-siècle,

century tonality, embracing a of etiolated or exaggerated images, and an associated


group

aura of exhausted male sexuality, a sexuality replaced with the aggression of femmes

"perversions"
-
fatales and a congeries of sado-masochism, suicide, homosexuality, incest,

and so on. It be a mistake, surely, to transfer this literary


would description, deriving from

the nineteenth century, to the twentieth-çentury which has already begun, as


fin-de-siècle,

I will say with respect to Graham's work, to acquire a different, if equally disturbing,
Jorie

sense of itself, while not distancing itself altogether from the melodrama of the nineteenth-

century
phase.

-
There are several available models Western literature for the course
in of history the

Christian, linear, model in which the model for the is apocalypse; the classical,
fin-de-siècle

cyclical, model, in which each cycle repeats itself, as Astrea returns, bringing another

Golden Age, at the end of the Age of Iron; the Viconian/Yeatsian model of the spiral or

in which history repeats itself with a that one cycle


difference, so ends with the fali
gyre,

of Troy, another with the death of and so on. Yet another is the Utopian
Jesus, pattern

one, modeled to some degree after the Christian restoration of but naturalized as a
justice,

secular Ali of these models are consoling, in that a is visible.


prophecy. pattern

But the consoling models are not the word


last in the of Graham. Born in
poetry Jorie

1950 of American living in Italy, Graham has during the eighties and
parents published,
-
Poesia M o r t e A m e r i c a n a Hoje

of Plants and of Ghosts, Erosion, The End of


nineties, five books: Hybrids
remarkable

What interests me in her recent work is


Beauty, Region of Unlikeness, and Materialism.

she avoids not only the classical and Christian models


that when she writes about history

also the Utopian models resorted to by socialist and fem-


invoked by Yeats and others, but

favorite image of life is a ride on a circling car-


inist Instead, like Ashbery, whose

poets.

represents what it is to be in the flow of history before


rousel with no destination, Graham

she also demarcation. The continuam of histo-


attempting to demarcate it, though
ponders

-
-
demarcate and thereby organize time is her subject. The
ry than the events that
rather

called the of anything. And ends or at least significant


continuum resists being
fin yet

-
Graham's this is not usually the case in Ashbery, who
events keep happening in
poems,

"events"

commitment to irony, to will as such into one single


tends, with his theoretical

levei of insignificance.

pleasant

Graham is now in her early forties, not far from Yeats's age as the last century
Jorie

turned; the absence in her work of the world-weariness of his in the nineties suggests that

- -
what we are accustomed to call a tone blanched, sighing is a limitecl

fin-de-siècle pale,

derived from certain of Swinburne, the Rossettis, and Yeats, them-


phenomenon poems

selves reacting against strenuous and even bombastic Romantic and Victorian tonalities of

revolution and moral endeavor. This reaction against revolutionary exhortation and

Utopian conviction their concurrent may have only coincidentally


(with
preachiness)

arrived at the end of the last century, and our as the twentieth century draws
fin-de-siècle,

-
to a close, to have a tone of its own confused rather than weary, screen-mobile
promises

rather than rather than continuous, interrogative rather than


painting-static, jump-cut

declarative, and ambiguous rather than conclusive. The conviction that one can speak

authentically only of experience, and an equal conviction that one must speak
personal

also of incomprehensible mass events, struggle for dominance at this historical moment.

Mass synecdoche, if one it that, is the substitute for the nineties synecdoche of
may
çall

the detail. And the falsification of anything in representing it as a


yet group phenomenon

causes the compensatory insistence on the


private.

Preoccupation with history and the end of history appears in marked form in several

found in Graham's recent book, Region of Unlikeness 1991).


York: Ecco Press,
(New
poems

The I have in mind reveal, even in their titles, Graham's intent to reflect on signifi-
poems

cant event, the temporal continuum, the forms of narrative, and the competitive roles of

"History"

and watcher. The in have as titles are


(two
participant poems question poems
"The
"Act "Who

and Phase
from the Dark Porch"
that title), III, Sc. 2," Watches

given

in the Confessions, as
Augustine
after History." A Foreword to Region ofUnlikeness
quotes

wish to spatialize that successivity:


and the human
he broods on language as successivity

do not want the


You hear what we speak... and
you

are; ratheryou want tbem


syllables to stand where they

and may hear a


so that others may come
to aivay
you
fly

things that make up a


sentence. So it is with ali
whole

of such a whole tvould


whole by the succession
parts;

could be
us much more if ali the
parts
please

once rather than in succession.


at
perceived

"Act

life into textual form,


spatializes her own
called II. Sc. 2," Graham
In the
poem

of inception or conclusion,
Yeats would have, the moment
not choosing, as
significantly

moment in the epic drama.


specifying an intermediate
but rather

"Act

of representing accurately one's


II, Sc. 2" is the
theme in
Grahanrs posi-
problem

in middle life, to be a watcher of one's


terms once one has begun,
tion in
participatory

one enacts it:


history even as
own

this is not the distance


Look she said

-
We wanted to
wanted to stay at
we get

very close. But what


close,

again? And is it
is the ivay in

could hear the actions


too late? She

-
but they are on
rushing
past

another track.
[66]

long and short lines,


a rapid zooming, in alternately
enact
Many of Graham's
poems

to ali historians, of
distance; this is a standing
close and
between problem,
gaining
getting

to which the events of histo-


with the clegree
But a
historical representation.
preoccupation

"objectively"

scenes rather than


constructed into acts and
are mentally and textually
ry

and of the
contemporary historiographers
is what differentiates fin-de-siècle
recorded poets

constructions already invented,


Yeats, tended to accept
who, like Spengler and
from those
-
Poesia N o r t e A m e r i c a n a Hoje 117

-
- inconsistent with each other.
spiral-shaped were
linear, circular,
even if such schemes

recorder of Time are intimately linked, can-


itsèif and the
recent Time
In Grahanrs
poetry,

the recorder who demarcates Time,


in that it is only
not be conceptually separated. points

moments in the continuum will sink


Ali the other
moments worth remembrance.
out

Perhaps attention is random;


what recorded?
unnoticed. How do we explain people
gets

happened to come across. But Graham


to witness or
might record what they happened

sacred obligation of the Recorder to


it is, for her, the
will not entertain that
possibility:

fated moment:
attention at the
pay precisely

the only

the intended time,


right time,

punctual,

I was bred to look up into, click, no


the millisecond

no orchard of
half-tone,

possibilities,

up into the eyes of my own

not the worlds. [931


fate

idea of kairos, the time intended


formulation here reflects the Biblical
GrahanTs

- -
of his will to become fulfilled e.g.
usually a brief time for some aspect (cf.
by God

"Knowing

time to awake out of sleep"; or I


the time... now it is high
Romans 13:11,

"Therefore

the time, until the Lord come, who both


4:5, nothing before
Corinthians
judge

and will make manifest the counsels of


light the hidden things of darkness,
will bring to

the hearts.")

also believes, in opposition to many historical


she says in this Graham
As
passage,

and one's individual fate that


it is only by chronicling accurately
that
punctually
poets,

"do"

Yeats's wish to describe the world's


in lyric, history. Against
one can,
prophetic

records the world's fate through her own. She can


fate as well as his own, Graham

only by filtering it through the memory of a


the epic of the Holocaust
write about

confined to a nursing home. In this way,


childhood visit to her
Jewish grandmother

the spectatorial of Yeats's spectatorial


Graham sets herself against
purely perspective

hermits, anel against the conventionally


Chinamen or Himalayan
generalized prophetic
Poesia Sempre
118 /

write about broad social


contemporary Adrienne Rich, who often
of like
position poets

motivation vis-à-vis
reference to their own
conditions without explicit autobiographicál

the social they treat.


problem

"History,"

is always
she entitles
Attention. says Graham in the second
processing
poem

s
like Ovid s tempus edax
the minutes (Shakespeare
time: but Attention, a beast
gnawing

"Devouring

free-ranging, but chained.


as we might think,
Time"), is not, she argues,

chained, at
calls x, is always
which Graham in the following
Historical attention,
passage

least for the by vocation:

poet, private

Listen:

stories lik.e small smacking


the x making
gnaivs,

sounds,

long stories which are its


whole
gentlegnawing.

the x is on a chain, licking its bone,


If

the sounds noiv of monks


making

copying the texts out,

muttering to themselves,

if it is on a chain

the moving x,
as it moves with
that hisSes

the turning x
link. by link with

(the now Europe buming)

gnaiving

the atom splits),


delicate chewing where
(the

if it is on a chain

-
-
this the beast
even this beast even
favorite

then this is the chain, the


gleaming

to have looked up at
that what I wanted was
chain:

the right

time.

what I was meant to see,


to see

out of my immortal soul.


to be up
pried

up, into thesizzling


quick
Nqrte-American a Hoje i 119
Poesia

up at the only
was to have look.ed
That what I wanted

time, the intended time,


right

punctual.

to look up into.
millisecond I was bred
the

[92-93]

by the arrival of the


intensified ("she's
history is fin-de-siècle
Reflection on
peculiarly

"History")

because of the arbitrary and relatively


says the first
the lateness now,"
deep into

wants to characterize the departing century and


One
nature of century-demarcation.
recent

fictional and ultimately textual nature of


while conscious of the
the new one,
to anticipate

- -
speculation is the apocalyptic
The worst or best
such characterizations.
fin-de-siècle

will be no more history. If the


end of time, that there
this is the absolute
one: that

-
-
be made manifest is the
where ali shall be revealed, and shall
Christian apocalypse
justice

for Graham, Shakespearean tragedy


version of the end of history,
sublimely comic

-
is the atheist and materialist
with its final obliteration of the central dramatis
personae

version of the end of history.

"The

Graham brings together, in her


Phase after History,"
In her extraordinary
poem

-
narratives linked as natural event,
way of coping with simultaneity, three
characteristic

The first narrative, of natural event, is


experience, and literary archetype.
autobiographical

in GrahanTs house and is about to bat-


incident in which a bird has become lost
that of an

can find it and release it. The second nar-


against a windowpane she
ter itself to death unless

the attempted suicide by a


experience, retells (followed
rative, that of autobiographical

who attempted with a knife to


GrahanTs students,
successful suicide) of one of
young

narrative, representing the archetype behind


from his body. The third
carve his face away

in which an old order, represented by


is drawn from Macbetb,
both anterior narratives,

Macbeth, in order to begin, as she hopes, a new


brought to an end by Lady
Duncan. is

of the Macbeths over Scotland. In the of Lady


of history. the dynastic reign
person
phase

as an active moment of assassination, in


Macbeth, Graham represents the
fin-de-siècle

-
and the future it envisioned Duncan and
which the must kill the old century

poet

-
a new era. The anel self-murder entailed are fully
Duncans sons in order to begin
guilt

"phase

in GrahanTs horrifying after history."


acted out

the forward-pointing, future-envisioning of


For Graham, the human face symbolizes
part
suicide or self-revision.
must cause either
to envisage a future
the self. A self-hatred unable

change, a
a moment of decisive
must come about
One is convinced that for oneself there

in one s inner
to hear
different. An attempt
must be
that whatever follows

fin-de-siècle,

- out of
to tind a way
the bird's attempt
future
being the rustle of a hitherto unenvisaged

- from the
can be extracted
whatever meaning fin-de-siècle:
the confining house
produces

merica is it in?
Wbicb A

are we in here?
Which America

comprised wholly
Is there an America

of the thing
waiting and allforms
its waiting and my
of

a ofattention? [114]
place

that are false, trivial,


conceives of stratagems
the mind at first
for a future,
Desperate

to wait
these, tells the
The Muse, rejecting
exhausted, inadequate. poet
wrong, incomplete,

"inaudible...

utter-
unheard melody, Graharns
of art, Keats's
right sentence
until the

itself:
ance" formulates

Taking a lot ofwords.


voice says wait.
The

says wait.
vo\ce always
The

like a tongue
The sentence

a higher mouth
in

one,
the inaudible
the other utterance,
to make

possible,

in its hole, its cavity


the sentence

of listening,

through the
halfdead on the wing,

flapping,

hollow indoors,

house like a head


the

nothing inside
with

except this breeze

shall we keep
going?

clicking by?
is it, in the century
where

America that exists? [114]


Where, in the
/

J
-
Poesia N o r t e A m e r i c a n a H o e / 121
j

"The

that Shakespeare enters: we hear a version


Phase afterTíistory"
It is at this in
point

wrong about the future, as he says, arriving at


wholly
in Macbeth,
of the voice of Duncan

"This

castle hath a seat, the air nim-


/.../
will be murdered,
the castle where he pleasant

bly recommends itself."

"The
"The

Part 2 begins, carne and


after History."
1 of Phase police got
Thus ends Part

face on him the face he'd tried to cut off"


Hospital. The
to Psych /
Stuart, brought him /

re-enters, saying in altered words,


as Lady Macbeth,
now
The voice of Shakespeare,
[116].

"Who

a face could be so full of


woulcl have imagined /
not of Duncan,
of the student.

"Later

in the tense: he had to


is seen as a flashfórward
future suicide
blood." Stuarts past

in the hospital, between attempted


the face" Stuart
off// to [118].
take the whole body
get

bird unable to imagine its


suicide, becomes the terrified
successful
suicide and subsequent

waits
future, as the
own
poet

to hear something rustle

and to it
get

before it rammed its lights out

the brightest spot, the only clue. [118]


aiming
for

inability to kill the old order, or,


comes in a flutter of
The end of this
fin-de-siècle poem

"the

truly see after history."


bring to birth the new. We cannot
if the old is killed, to
phase

bird-sentence-face-old order is
not knowing whether the
The becomes Lady Macbeth,

poet

of the deed of murder:


if dead, how to cleanse one's hands
alive or dead, and.

my k.eeji knife see not the


(make

-
wound it makes)

¦
Is the house empty?

Is the emptiness housed?

landing, myface on
Where is America herefrom the

my knees, eyes closed to hear

further?

Lady M. is the intermediary


phase.

God help us.


122 / Poesia Sempre

Unsexed unmanned.

Her open hand like a verb slowly descending the


onto
free,

her open handfluttering ali round herface now,

trying to still her to snag it on


gaze,

those white hands ivaving and diving

in the water that is not there.


[120-21]

It is the most hopeless ending in Graham, in effect ending the tragedy with the suicidai

Lady Macbeth. It refuses the Shakespearean of the restoration of the


pseudo-consolation

anterior old order in the crowning of Duncan's son Malcolm. In this way, Graham remains

faithful to the imaginative truth of Shakespeare's which is interested in the fate of the
play,

Macbeths rather than of the Duncan dynasty. For Graham here, the lies sus-
fin-de-siècle

in Lady Macbeth's fluttering hand, unable to still her dreaming helpless to


pended
gaze,

find the absolving water. If histoiy is a construction, then nothing


its future
guarantees

except the restless and unstillable flux of the human suicidai in its metaphysical
gaze,

uncertainty and in its determination to annihilate its own


past.

We can a moment to deduce, from this that Graham thinks any account of
pause poem,

"the

history" incomplete without some reference -


after to her three simultaneities
phase

natural event (the trapped bird), complicity suicide),


(Stuarts and archetypal liter-
personal

ary Macbeth). Her among these, and especially


(Lady her concern
patterning jump-cuts

with middleness rather than with inception, conclusion, or repetition, suggest that the

fin-de-

-
siècle, as we now imagine it, is we actively will as Graham's
something student willed his

-
suicide in an attempt to shake off an irredeemable or that it is something
we hesi-
past;

- -
tate over like Lady Macbeth in her dream-reprise of the murder as we seek to find

something to our murder of the as we try to coordinate our executive hand


justify past,

-
and our intentional or that it is we head blindly into
something that like the bird
gaze;

crashing into the invisible windowpane. The indeterminacy of these


and the
possibilities,

incapacity to decide among them, leaves Graham as watcher, but also, in the end
poet's

the of Lady Macbeth) as in a history she does not understand.


(in
person participam

"Who

Graham's explicitly about the event,


construction of historical Watches
from
poem

-
the -
Dark Porch" offers the watcher an ambiguous child-cry is it laughter? is it to
pain?

"Matter"
- -
interpret. Is Nature or, as Graham calls it in this inherently
comic or
poem,

tragic? Interpretation, which appears here allegorically as the consort of


personified
- e 123
m e r i cana Ho
ia N o r t e A
j

"Who

Watches," ask-
Here is the beginning of
because moTtal.
is necessarily tragic
Matter,

to codify our history were lies:


attempts
sure that our
ing why we feel
previous

is it because of matter,
history or
Is it because of

-
of In-
Matter the opposite
mothér

body lies
bis consort: (hispurple
terpretation:

against tetrible
shattered

-
matter, it
reefs) (in

or is it
a shriek

laughter)

is it an angel they strangle)


mist or
(a

so sure we lied?
that we [97]
feel

"instant

arouses a nostalgia for


replay" of interpretation
The presence:

Said Moses show me Yourface.

Not the voice-over, not

track shalt not thou


the sound (thou

- -
buzz the
not), not the interpretation
shalt face.

But what can we do? [106] '

interjections
and
typical flurry of injunctions,
Graham ends this parenthetical
queslions,

Eliot, but denuded of Eliot s


from
a command borrowed
injunction to sit still,
with the

can lead to a false


for revelation (which
the writer's desire
implication. Both
Christian

can lead to religious sentimentality)


the nostalgia for (which
willed meaning) and
presence

Yielding to the first will create another

the artist of the contemporary


threaten
fin-de-siècle.

seen too to the


has already many;
twentieth century
Utopia of which the yielding
abstract

a sentimental ethics.
ontology and
second will offer a
premature
premature

the lively understandable


... sit still sit still

spirit said.

still, still,

that it can be completely the


so

now. [108]
s i ci S e m r e
124 / P o e
p

'the
"don't
- - of the
one is at scene
reveals only that
If this sitting wait, sit, sit" [108]
just

"pileup
-
reverse
the of erasures
accident" and that one can only face
[107], play, play

"lateness,'

this a
be the of
this will have to
in the scene of writing, then poet-
[107] poetics

-
history those schemes
schemes of
disbelief in
ics exacted by Grahanrs
predetermined

that Graham must, aware


veiy model of the
which have us, in fact, the
fin-de-siècle
given

lifted. but then the


curtain is not
refuse. The Yeatsian
of the approaching
fin-de-siècle,

-
again this
instant replay, erase,
Play, reverse
Yeatsian darkness does not drop. play
play,

runs both ways, and


an end. The tape
a beginning and
every moment both
model makes

in the cresting and trough-


expressed, formally speaking,
is it is always
always
provisional;

metaphors, the
of Graham's Yeatsian
Or, in another
ing irregularities of Graham's
prosody.

"being

incessantly retossed." [107]


dice are

confidence lies
representation? Her
obtain confidence in
Where, then, does the
poet

we say, without
with which
itself, in the simplicity
in the idiom of
finally
presentness

"The
"The

tablecloth up into the windThese


mother opens tbe
river or
thinking,
glints,"

the earth for a


or fabric, which descends over
make a text,
unreflective sentences
casual

"alphabet

have been." As wordsworth


what is, what could
of ripenesses, /
in an
moment

becomes a natural of the


insofar as it
the verbal object,
long ago, part
concluded persists,

"(This

matter she sang)." As histoiy becomes


of matter of [125]
is a form
material world:

Ashbery has called it in the of that


fabric, a tarpaulin (as
is spatiaüzed into poem
text, it

is, in the end, a comic resolution, by


field. This
to cover the
name) spread
perceptual

hilarity of articulated expression in


causes the
wave of
which the temporal
presentness

"Soul

called Says," which, we


close a
in Region of Unlikeness
The last words poem
song.

his art:
he lays down
to Prospero as
we are to ascribe
are told,

I liken to
Igo to meet that which
Now then, Isaid,

me in laughterj
wave break and drown
though the
(even

the wave drowning me in laughter


the wave breaking,

[125]

of course, in lyric; they


are not solved,
as how to demarcate time
Matters of such
gravity

be clemarcatecl into
cannot
drowning wave
Grahanrs (tragedy)
are merely re-imagined.

it can only be re-described as


or even into repetition;
event, conclusion,
epical inception,

Shakespearean that
- the single
laughter. Tbe Tempest,
an annihilating cosmic play
comedy
- 125
r i c a n a H o e /
Poesia N o r t e A m e
j

coextension of
action, chooses to describe the
space, and
unities of time,
observes the

Each only ends when ali are ended,


finally, a comic form.
and human will as,
space, time,

"Soul

become, in 7Z?<? Tempest and Says"


end of history
and the
and the end of textuality

world.
ending of the dramaticized
the comic

-
-
lyric there can be, Graham's
the forms of
event anel textuality
While persist,
present

in the now of the


the strain of remaining
but
work suggests. no conclusive
fin-de-siècle,

"Soul

Graham writes in Says,"


song is the
The
entirely obliterated.
song cannot be place,

"(Where Each
not extinguished) (no)". [125]
held) (but
Time] is stopped) (and
the hurry [of

in itself.
s clciirn is c\ sin3.ll
in the soul
inserted fin-clc-sièclc
of these
parentheses
126 / Poesia Se m r e
p

Sinopse

Poesia
de fin^de-siècle;
Graham
Jorie

A...

m X idéia de apresenta-se à reflexão como inadequada à e a


fin-de-siècle
poesia, poesia

em
o momento ao tempo narrativo.
geral prefere

Os modelos reconfortantes modelos disponíveis na literatura ocidental


[ o curso
para

da história: linear cristão/ apocalíptico; cíclico clássico/ retorno de Vico/


Astréia; espiral

Yeats] não são a última na de Graham. Nascida em 1950 de amer-


palavra poesia Jorie
pais

icanos residentes na Itália, Graham nas décadas de 80 e cinco livros notáveis:


90
publicou

Hybrids of Plants and of Ghosts Híbridos de com fantasmas), Erosion


( Erosão);
(
plantas

The End of Beauty fim da beleza), Region of Unlikeness da improbabilidade),


(O (Região

Materialism O interesse da ensaísta


(Materialismo). em sua obra recente é

que quando

Graham escreve sobre a história ela evita não somente os modelos clássico e cristão invo-

cados Yeats e outros, mas também os modelos utópicos a recorrem os


por
que
poetas

socialistas e feministas.

O nosso à medida dele nos aproximamos,


ter um tom
fin-de-siècle, que
promete

-
confuso em vez de cansado, cinético como filmes em vez de estático
próprio como os

errático em vez de contínuo, interrogativo em vez de afirmativo, ambíguo em vez


quadros,

de conclusivo. A sinédoque das massas, se é assim


chamá-la, é a substituta
que podemos

da sinédoque do detalhe do século


passado.

A com a história e o fim da história aparecem de forma marcante em


preocupação

vários do livro recente de Graham. O Tempo em si e registra sua


poemas quem
passagem

estão intimamente ligados. Graham também acredita não é somente comunicando


que

"fazer"

com e o destino se em
história.
precisão pontualidade próprio que pode, poesia,

Graham registra o destino do mundo através do seu.


p

Â. OESIA
O BRASILEIRA HOJE

Afonso Henriques Neto

Ainda uma vez

melhor: essas flores


ão há
primavera,

são aviões mundial),


(cinema,
quase guerra

ovos de cimento sangrando sobre memórias.

não há sinais sólidos na


paisagem,

antes: nuvem lacrada espessa

ao redor da sordidez, carnificina.

discurso tão antigo, todos os cenários

são antiquíssimas linguagens nas ossadas

de luz das nenhum sentido.


galáxias,

vejam bem: não há caminhos, reflexos,

a dose diária de absurdo se consumiu,


estamos tão nus não somos nós.

que

não há morte, sim: o morreu

que

foram eixos fixos, auroras sob medida,

cheirando a flor e bosta de cavalo.


primaveras

ainda uma vez nowhere, nadie ensaia

o vôo. línguas vírgula,


pingam, ponto,

o do fogo ultrapassou o fim.


queimar-se

P o e s ia Se m r e
p

Toda

palavra

\íngua de segredos,
arquitetura de vulcões,
sonoridade

em cor
nômades do sentido os batalhões
profunda,

labiais velares
borbulhas,
palatais

cachoeiras
de bichos enlameados, vapor do signo,

mel noturno de nuvens esmagadas, calendário

translúcido,
oceano em lâminas incandescidas, mágica

de
escarlates, sol, cabeça do mito,
pedras

usina de fábulas, espéculos, fetos lunares,

plantação

de sonhos, murmúrios de constelações, acme

dos mortos a sobrenaclar,

luz abstrata, resumo das águas, matemática

do vento, história dobrada em si mesma,

estranheza do número, imaginar é verbo infinito,

formigas em fogo, relâmpagos teóricos, nada

se imprime em fátuo evanescente, arco tensão,


papel

construção do invisível, sólida estrada


os tambores soam sendo sombras
que

dos sorrisos de amor, fogo de outrora,

eis refulgem na cinza desta hora,

luz a a mais escura,


corroer
pedra

na alma é
ah esta dor
que perdura
que

anjos, flama impura,


rente ao nojo dos

relâmpago a transmudar-se em
poesia,

astro consola energiza cura.

que

o verso é esta viva,


pedra pão

da luz, claro segredo inviolado

a de sonho o era ausência,


preencher que

muda forma do amor reconquistado

no fulgor do coração em fúria

bebem deste sumo intato)


(estrelas
130 P o e s i a S e m r e
p

Alberto da Costa e Silva

A mão no berço

TT

-L JL .1 um outro menino,

ainda não corre nos


que jardins

mas tem o meu nome.


Ele também
passará

muitas vezes a vau

o milagre e o mistério

e o sonho trocará

febre e movimento,
por

embora um dia,
possa,

sentado na calçada,

reter também nas mãos

a vida,
pequenina,

fraca, incerta, fugaz,

erva tímida, finda

tão logo a toca e a vê,

hora, brisa, avezinha

a bicar o capim,

entre ramagem e vôo.

Ele também sofrerá

o frio de ser sozinho

e sobre o corpo
puxará
\

Poesia Br a i
s l e i r a H o e / 13 1
j

até o o amor.
queixo

E sentirá na
pele

o o sangue lhe reza,


que

a forma de morrer,

sendo linguagem e beijo.

Por agora, ele apenas

respira: o meu menino

nada sabe do bibe,

da cesta de merenda,

nem dos barcos embriagados versos


e outros ficam,
que

adolescentes, nos damos dentro


passos que para

de nós, de nossas veias, nem das mãos retocam


que

o amor na memória

-
a moça recostacla, entre sorriso e

pranto,

no corrimão, a descer a escada das manhãs,

a mulher,

com seu coque a amparar-se no alísio


grisalho,

cheio de laranjas,

ele e ela,

e tudo o canta
que

nesta forma de abraço é um roçar de dedos.


que

Não sabe do entardecer, o meu menino. Sabe

do orvalho? Entende a cantilena- das flores nos e nos

jarros pastos?

Ou apenas espera a vida o vista de lembranças e lágrimas


que

e do esplendor do sol após a chuva

e lhe diga ao ouvido todas as da carne o sonho não sacia,


palavras que

mas são asas e um bater de lembra a eternidade.


que pulso que

-
Nada tenho a te dar. Empobrecido,

ao teu berço, ao inimigo


junto peço
/ Poesia S e m r e
132
p

te conceda o me deu, o abrigo


que que

do em mim ninguém viu viu somente


(ou
que

o era sombra, búzio adeus):


surdo e
que

o amplo espaço da o umbral


pétala,

-
aberto um céu sem morte enfim
para

a chegada à o estar aqui


partida,

a olhar o mundo, tendo o mundo e o tempo

a florir sob as sentindo


pálpebras,

o deserto estrelado, o mel vertido

no foi um destino sem certeza


que

outra a de ser homem. Peço. E vejo


que

tua infância no colo da beleza.


de Castro
Altino Caixeta

A e a

fome fonte

tanta fome
E. avas com

E tanta sede defronte

a fome
a fome comia
Que

bebia a fonte.
E a sede

no horizonte
Minha carne

em tua rede,
Balançaste

Sem matar a tua fome,

matar a tua sede.


Sem

teus olhos verdes


Só depois

a carne do homem.
Comeram

E a sede matou a sede

E a fome matou a fome.


134 Poesia Se m r e
p

A ousada

palavra

os irmãos Geraldo e Peres de Lima


para José

ne coisa mais misteriosa é a


palavra,

o substantivo movido
principalmente,

verbo, eu dizer: eu moro


pelo posso

nos subúrbios soberbos de Uberaba, eu

moro nos subúrbios soberbos de teu

umbigo, eu moro nos subúrbios soberbos

de teus ombros, eu moro nos subúrbios

soberbos dos teus lábios, entretanto,

eu não moro, mas eu ouso dizer:

que

coisa mais misteriosa é a minha

prosa

movida moinho de vento soberbo de


pelo

teu verbo.
P o e s i a B r a s i I e i r a H o e 135
j

Anãforas de minha cartoía

ocê tirou o de meu adejo


pombo

Você tirou face de minha aurora


a

Você tirou a de minha lavra

ganga

Você tirou o umbigo de meu beijo

Você tirou o de minha espora


gume

Você tirou a boca de minha


palavra.

Você tirou o de meu ensejo


punho

Você tirou a face de minha estória

Você tirou o de minha


galo garganta

Você o trigo de meu


tirou despejo

Você tirou o lume de minha


glória

Você tirou a boca de meu espanto.

Oferta:

Há tâmaras furadas de sombras

Há furadas de areia
pérolas

Há rosas furadas de rezas

Há ramas furadas de lágrimas.

Há faces furadas de facas

Há sonhos furados de azul

Há furados de sul

pólos

Há éguas furadas de taças.


'

136 / P o e s i a S e m r e
p

Há risos furados de frisos

Há cachorros furados de couros

Há falas furadas de anil

Há redes furadas de verde.


Poesia Brás i l e i r a II o e
j

Brazigóis Felício

A máquina ruminante

Ko mar revolto

dos dias

o nosso medo

deita e rola.

O nada assusta

o no nada
que

mira

o seu ser absoluto.

No mar das vítimas

somos tonéis

de vísceras em
pânico.

Tudo no tempo diz

nosso espanto
que

é milenar,

e de raiz.

No mar do somos
que

o fomos

pouco que

se completa.

Consola saber

existimos
que

como um milagre

anda.
que
A clara luz do ser

^Tx. s mortes da vida,

amigo meu de vícios,

começam acabam
quando

ou no fim se iniciam.

As coisas do Ser

não têm mistério algum

dança
para quem

na lama do nirvana.

Acredite, a vida

não se mistura

ao das mercadorias

-
é de uma linguagem

distante e

perto,

como a dos ventos.

O mistério do Ser
grande

não tem mistério algum:

ele está sempre rindo

nos olhos dos loucos

e dos meninos.
Dante no inferno

s rios todos só deságuam no silêncio

ou desabrocham na dos bichos

paciência

Não há limites calma desses ventos

para

toda a este vale


atormentam
que paz por

Toda a de silêncio em me acho

paisagem que

o limbo dessa voz nos acusa


preenche que

de o nosso assassinato.
planejar próprio

O nosso corpo destila tal miséria,


o tempo se recusa a consumi-lo.


que próprio

Não vale a vida mais o de


que gesto perdê-la

abismo dos e do vício.


pelo pecados

Os rios todos só deságuam no silêncio

de um abismo nos nega todo alento,


que

"abandonai

da voz insiste: toda esperança!".


que

voragem)
(da

Em certos dias cresce tanto o nosso medo

nem, a morte traz a chance de escapar


que

ao fundo abismo cavamos bem no


que peito.

As coisas todas nos figuram sem sentido:

essa febril e vã voragem do viver

devora a vida reside em todo o ser.


que

O tempo lembra o somos transitórios,

quanto

o corpo tomba ante a fúria do eterno.

A rosa e o rio desabrocham, violentos

a noite solta seus demônios de mistério.

Em certos dias cresce muito o nosso medo.


140 Poesia Sempre

Elizabeth Veiga

Enquanto

jLX. música do

poema

não é dançar,
para

não é doçura.
para,

O é um cuco
poema

meio fatalista,

meio de lado,

tem a hora

faz com a certos


que que,

de dentro,
passos

saia

não cumprimentar a sala,


para

sim marcar urgências


para

do sal o aguilhoa,
que

fazer contraponto enquanto

"La

dançam cucaracha".
Mil vezes

ó foi cicatrizado
quem

muitas vezes

guarda

o vidrinho de Merthiolate.

Só foi cicatrizado
quem

num exorcismo

mil vezes

tem uma fronha de lenços

onde a cabeça mal sonha.

Só foi acordado
quem

no meio da noite

mil vezes

corte
pelo pontiagudo

acorda acordar,
por

acorda escancarado

com as batendo saltos,

portas

guarda

um remedinho de trincos.

Só acorda mil vezes

quem

não sabe mais dorme.


quando
142 Poesia Sempre

Com um chapéu
cie luto

"não

nde as

palavras quero"

"não

quero"

são ouvidas?

Onde a casa ronda

vazia

é a casa?

Onde a é mais branca,


parede

mais alta,

a armadilha?

puseram

em mim chora
O
que

está
pensando,

está fora de ordem,


e o
pensamento

com um chapéu de luto,

alguma coisa não realiza

que

a desordem.
Vianna
Fernando Mendes

cidade escura
Gravuras da

A Oswaldo Goeldi

V^/ontra o crepúsculo

luzes da cidade.
os acendem as
homens

Mas a melancolia triunfa.

os bares ou apenas o cansaço,


Buscam os lares,

fugir da noite.

quatro paredes para

Mas a noite está nos homens,

do crepúsculo é apenas um espelho.


e a angústia

Começa agora o suor noturno,

a luta do álcool, do sexo, da dança, da leitura.

Mas a solidão triunfa:

o de cada dia é uma náusea no

pão peito.

Contra a noite

homens deflagraram as luzes da cidade.


os

Inútil.
1

144 1 Poesia Sempre

ii

Vn
omito os metais, a fumaça, ruas, rebanho:
as o

mas a urbe é um morcego no meu

peito.

De nada serviria arrancar meus olhos:

a insônia zumbe em mim como as buzinas,

e meu coração é um motor histérico.

De nada serviria arrancar meus olhos:

a sou eu, o mendigo sou eu,


prostituta

e a criança esquálida, e o britador, e o lixeiro,

e o burguês
gelatinoso.

Retirei os sapatos, mas foi um

gesto:

em meus está marcado o asfalto.


pés
P o e s i a Brasileira Ho e J 145
j

iii

disforme e moribundo.
relógio
A noite, como um
grande

de veneno,
noite e seus filtros
A

em cada veia.
instilando um álcool

A numa teia colossal.


noite, aranha

A noite e sua fauna viscosa,

rufiões, répteis, batráquios,

paxás,

lúmias fosforescentes como enguias abissais.

A noite e sua máscara de luas bêbadas,

lampiões de olhar sonâmbulo, fantasmas

contemplando os náufragos do mundo.


146 Poesia Se m r e
p

Noturno

ó depois a boca dos homens se cala,


que

a noite canta, marulho de mar,

a escura música.

Dobrados os braços

podres,

os brutos de aço dormem,

monstros amorfos da urbe.

O tempo se liberta

do relógio

e inunda o mundo.

Um denso vinho de silêncio

se espraia, fundo,

pelas praias

da noite

sem margens.
Gerardo Mello Mourão

Nascimento de Ajro

V_/ alopam os cavalos

coroados de rosas

aurora da China
pela

as éguas de esmeralda

as de ouro

poldras

amadurecem, Laura,

o
jade

das laranjas redondas

Caminha agora

recorta o azul

sobre as águas
perplexas

Os cavalos

esmorecem ressupinos

e em seus cascos nas águas

os
ginetes

às ondas

pedem

e as ondas suplicadas

o milagre:

guardam

esse rastro

por

peregrinos

do azul do verde das espumas

- -
espera

em torno às flautas

aura

Laura

até o serpentário
"7

Poesia Sempre
148 l

de teus cabelos

de onde

-
virias com

digo
virias

na virilha

flutuas

tuas

auroras tuas caravelas

e os engalanam
gaios

o sargaço das cristas

deste mar

pois

-
ó
madrepérola!

tu flor

tu fruto

coisa de luz

coisa de sombra

coisa

cavalos
de
galoparem

de rosas
coroados

da China
aurora
pela

quando

as laranjas
sacudias

e as
poldras

o ouro
amadurecem

as estrelas

pendem

e a terra

desabrocha

à
primavera:

em redor
vais olhando

sempre
para

sou eu

sou nascido

pois
de Pallas
Nascimento

N,
ao mais verão,

outono inverno
primavera

a tua estação
dança

teus meses, Laura,

duram sempre

para

chantez 1'orange,

dansez 1'orange

dança o relâmpago durador

e a labareda:

a flor de novo sobre

as velhas tábuas

árvore de novo

na crepitante flor

de suas flamas

e duram

o dura e fogo-,

que

-
sempre
para

a duração da aurora

sobre os cavalos azuis

coroados de rosas.

Recorta os hinos, Laura,

recorta no silêncio

esse eco dos tropéis

tambor e

pedra

desde

até
150 Poesia Sempre

Nascimento
de Orfeu

-D

antico amor

la
gran potenza

"Benedictus

venis!"
qui

Pois nem sempre

é o tropel

dos cavalos de rosas

coroados de aurora

na campina mongol:

sugeridas às auras, Laura,

as crinas

já galopam

suas labaredas

sabe, dessas flamas

quem

as floresçam
garupas

verdes estradas

pelas

Sentirias no ar

esse aroma:

e buscaria a criação

por que pura

a mão do criador?

não sei mais essa noite

do o canto dos
que

gaios

dos somente
pois gaios

saberias o canto

nos de Hanói
quintais

na noite frutuosa.
-
Uma flauta

flauta apenas:

de um lábio
da madurez

-
ou
de si mesma?

vai se erguendo o

sopro

na mera emanação

e a melodia

Laura,
apalpa as auras,

e a dança

e os calcanhares
é sugerida

sobre a selva
crescem

e sobre a relva

o canto

vai modulando

forma e formosura

e folhas e

e
pássaros pedras

-
fontes e ao teu
e

redor

dizem teu nome

Orfeu -

vens chegando.

pois
/ Poesia Sempre
152

Paulo Paes

José

Anamnese

ó souberam o era após a


que Queda.

Como alto, mal lembravam de onde


caíram de muito

vinham.

todo a tenuíssima lembrança,


Para não se apagasse de
que

na das cavernas.

pintaram-na primeiro parede

mais tarde os campos de cultivo e a


Levaram-na
para

das vinhas.
colheita

as colunas do templo. Com ela


Sobre ela assentaram

a dos sacrifícios.
acenderam
pira

muralha dos castelos, algum


trás da
Mesmo
por grossa

sempre consagrado.
horto lhe estava

pequeno

dos
esquecida nos
Tampouco ficou
jardins geométricos

das tapeçarias.
estranhos animais
e nos

palácios

a rede fluvial
chaminés fabris e sobre
Em meio à floresta das

nostalgia.
esgotos, subsistiu como
dos
grotesca

da Utopia
até agora fumegantes
Dizem foi sob os escombros

que

semente enfim.
a sua fragílima
pereceu
que

fogo, o mais
cogumelo de
não muito depois de o
Isso
gigantesco

ter tornado supérfluo


arremedo da sua cornucópia,
sinistro

. esforço de lembrar.
o
próprio
Metamorfoses

o sou:
Sou
que

após o mas
um silêncio

e o ou

o fui:
fui
que

ruído entre
um

e o rui.
o constrói

o fosse:
fosse
que

a
(que
ponte pena!)

quebrou-se

ser o seria:
que

tão tarde mal

começa o dia?
Poesia Sempre

Lenilde Freitas

.xJL semelhança fui feita

e, como as estrelas, na unidade

desfeita.

Herdei a fragilidade

-
daquele em sopraram vida
quem

eu, dele dividida.


parte

Feita de barro sou,


que

habitam em mim seres famintos,

estou

pronta pra queda

Deslizo em seus labirintos.


abjetos

O em mim contempla
que

o objeto de contemplar.
produz

Plotino

N, intimidade mais horizontal

das vísceras da vida

sinto os objetos se foram:


que

as cadeiras agora repousam em mim


que

as camas ainda em mim dormem


que

as casas moram na rua sombria sou


que que

e em si mesma
que passeia

no tempo vai e volta.


que

Borboletas fosforescentes, os olhos

iluminam labirintos

vestindo de relâmpagos

tudo o não é visível


que já

mas eu vejo.
que
156 / Poesia Sempre

Demarcações

JL-y m de chuva
prenúncio

a folhagem estremece

sob o beirai de telhas.

O sensível a vibrações longínquas


peito

sabe as demarcações do vento

nas estrelas?

Reconheço esse adejar

sem o equilíbrio das abelhas.

Te desejo.

No sulco limita minhas


que pernas

no marco divisório dos extremos

no discernir de todas as fronteiras

no absoluto não de um cometa.

a folhagem,
Que, para

amor

é o rapidíssimo
pouso

de uma borboleta.
Luiz Bacellar

LI rnadesândalo

conchainsonora

laivodeaurora

cristaldeescândalo

pássaroalacre

emsêdaesombra

empiumaealfombra

pálidolacre

nácarbivalve

tâmaralouca o

tomar-te-à-boca o

anjo me salve

engasteetéreo

de disserta
quem

corolabeita

sob o mistério

de recorda

quem

doce ressábio

úmidolabio

petalaborda
158 / Poesia Sempre

cálidapérola

noturna espreme

entre úsneas rola

tímidaextreme

lactiriáda

opalanua

despudorada

trêmulalua

a mim me baste

teu brilhoesquivo

no engaste
próprio

de coral vivo

mornocasulo

ao feri-lo
quando

eu me estrangulo

e me aniquilo

no túmido édem

tensos olores

tépidos
pedem

túrgidasdores
Poesia Brasileira Hoje

Estudo de Marinhei

e Marfim
em Coral, Ébano

vaga ajoelhada
tua como
a duna de
N,
praia

musgos
sob os ásperos
em oferenda
perene

-
- turfa!
suave e
õ crespa e
perfumada

entre orvalhos
o coral hospedado
encontrei

de inviolada rosa.
estrita e absconsa
na forma

drapejavam triunfantes,
Os trapos de
paixão

contra mim conspiravam


ventos do
(os
pudor

-
recusa ó insurreição de mitos!)
e erosão da

fluir de linfa em sua nascente


... E ante o salobro

ante meu rosto ansioso


e hirsuta duna desmanchou-se

ostra se fechando entre espumas


como as valvas de uma

sedento contra o sol


e eu caminhei
poente.
Poesia Sempre

Maria Carpi

(3desejo do corpo

no corpo, é diáfano

fogo a água consome.


que

O desejo do corpo

na alma, é espesso

rosto a água carrega.


que

O desejo da alma

na alma,
gota

o fogo retira do mar.


que

O desejo da alma

no Corpo, labareda

a água conduz
que

ao refrigério

da ardente Árvore.
eu vê-la,
í^ma árvore
para

eu também
permita
quer que

de suas raízes
o ingresso

E a comer
em meus tecidos.

de seu fruto, ofereça-lhe

E a
meu ser de sustento.

sombra, sirva-lhe
receber da

meu o sol a contento.


ser
J Poesia Sempre
162

JL-J u não cubro a minha nudez

o Amor,
para que próprio

vivo, me vista. fruta


Que

é essa suscita minha fome?


que

De textura se, degustada


que

boca, esvazia a alma


pela

e deleitada espírito,
pelo

aguça os sentidos? fruta


Que

dando-me a doçura,
que,

faz-me conhecer da hostilidade.


Neide Archanjo

manhãs são frutas


A s

o sol amadurece.
que

Mesmo aquelas da infância

e tudo sabíamos

quando pouco

anos.
manhãs duraram
que

tenham existido.
Agora é estranho
que

Azuis e brancas.
Poesia Sempre
164

jlJL cordo falas


quando

e nunca sei o ouvir.


que quero

Sei falas e isso basta


que

esta hora é feliz.

porque

E desejo outras e mais outras

dirás tudo o ouvir.


em
que que quero

Saudades futuras.

lado caminho muda


A teu
quase

e estando contente

estou feliz.
nunca
escrevendo
estou ocupada
AL

meu coração
com todo

minhas estrelas
nem todas as

estão luzindo

o Beat.
como
queria

o verso
Nesta manhã

é um mantra.
não

correr a lágrima
Melhor deixar

um murro na
ou dar
porta

ou abrir a
porta.

Entre o e eu
poema

existe uma dor

um desalinho.

Ele dentro

eu fora.

Os dois sozinhos.
166 / Poesia Sempre

Thomaz Albornoz Neves

A morte

forma

retém a força de evasão do conteúdo

As curvas vazios em dispersão


pesam

Matéria é espaço aprisionado

Represados

dentro e fora se atraem

O movimento

é o impulso contra o corpo o encerra


que

Pulsante à margem do infinito

a duração almeja o tempo mais sensível a vida


que
Hoje
Poesia Brasileira

O ato

momento
K exato

se abisma
o
o centro expande
que

do abraço
O anel transparente

eco sensível
dispersa o

no movimento
Detido

entre
corpo é
o pontos
ponto

arco no espaço
em
avançam
que

um só elemento
é de
O
quarto

das coisas.
luz é a linguagem
calor dessa
e o
A estrada

-ZjL estrada desaparecerá depois


que passarmos

Nós tocaremos nome


a terra ignorando seu

Se reencontrarmos abandonamos
quem

somente a recordará
pele

Serás tua obra de arte

Como a hera no braço da estátua

a natureza nos retomará

Como em terra sem homens

o amor existirá sem história.


UTORES INÉDITOS

Angela de Campos

A aranha

T
JL eceu a teia

com vagar e simetria,

a veia
seccionou

esperou a mosca vadia.


e

Fechou os olhos bem forte

e abriu um livro dantesco,

empertigou o altivo
porte

imaginando o

golpe grotesco:

Deixar a mosca
pousar,

olhar hipnótico ela


para

até nada mais se mova.

que

Começar então a sugar

como contrito vela

quem

o sono satisfeito da alcova.


170 / Poesia Sempre

(3 verde cai
que

ensimesma árvores

ao longo do rio da rua

-
retalhada de cores

buzinas.

O verde vinga
que

acorrenta cristais

ao longo do óleo da
pedra

-
endurecido de negro

buzinas.

Lenta unidade viceja

envereda o ar

com a memória da terra

e refaz o silêncio do ritmo.

Pequeno canteiro

em solo

exposto cai e vinga

o som dos meus olhos.


Flávio Boaventura

do mundo
Assoalho

A s dormem,
parece-me.
paredes

comer,
O
jejum quer

vencer,
a fome
quer

morrer.
a vida
quer

há dromedários
Não

deserto.
eu rume
pro
pra que

sou o deserto.
Eu

riso cansar,
O
quer

calar,
a boca
quer

a vida
quer passar.

Não há marchas

sou o incerto.
eu fuja do incerto:

pra que

E agora?
Coreografia das cores

l J stou sozinho na sala.

Vejo somente algumas ruídos ouço.


árvores e alguns

Olho ao céu e raras nuvens eu vejo.

Uma mulher aproxima-se, sorrateira.

Traz consigo, às mãos, uma caixa de fósforos.

incendiar o mundo, disse-me.


Queria

Depois refazê-lo em cores esfuziantes.

Os loucos são filhos de Dionísio,

penso.
Autores Inéditos

Vieira Lima
Ricardo

Papel de

parede

l~^j ^cve\'o as

para paredes.

me asfixia.
O ar
puro

as vezes
Escrevo todas

se anuncia.
um desejo

Que

contra as
Escrevo
paredes

em agonia.
transponho
Que

sempre enclausurado
Escrevo

companhia.
E sem nenhuma

Escrevo sob as
paredes

me cercam, todavia,

Que

ou no trabalho.
Em casa

de alforria,
E sem carta

sobre as
Escrevo
paredes.

noite ou de dia.
Escrevo de

de um condenado
Com a sede

Na sua hora tardia.

todos os meses
Escrevo

vejo outra saída.


E não

Escrevo as

para paredes:

vida.
Não escrever
posso pra
174 / Poesia Sempre

Um em branco

quadro

Eva Bãn
para

O fereceram-lhe

um

pincel,

mas o animal

atirou-o longe.

Depois, usando

uma broxa,

compôs uma

nova e terrível

chamada
paisagem,

natureza-morta.
Sérgio Lemos

V_^/ ortado em
papel

seda
de saudade

em
sonho, cedo.

finos
uns arames
com

arcabouço
frágil

mesmo baixo.
um vôo,

para

A imperícia,
grude

em rosto mãos
pés:

matéria, revés.

diria,
Quem quando

se trabalha insone,

a coisa funcione?

que

Como existe a chama,

a coisa insana

nos ares
plaina.

Vai subindo andares:

um a um, sobrepostos,

o aplauso nos rostos.

Mas o sonho sobe

mais a esfera

que pobre

14-Bis,
montgolfière.
Sonho
que prefere

-
longe de edifícios,

-
em busca de navios

a mesmo árida,
praia,

onde ninguém o tasque:

assim, depois é o largo.

Assim, depois é o nada

aflito,
(incêndio

frustrado infinito).

E depois é o mar

o mar é frio,
(mas

mas o mar é frio).


A/
. eu é minha vida:

poema

essa linha repetida,

verso inverso, fracassada

fuga, entrada sem saída

-
meu é minha lida,

poema

é minha estrofe não lida,

impressa nem declamada

e às feras oferecida:

apenas subentendida.

Meu é minha vida,


poema

vida fraca, fracassada,

mas com a força da corça

foge caçada,
que quando

e com o esforço do torso

desvia a
quando
pancada

-
é minha vida invertida

e minha vida vertida

no imenso copo do Nada.


E T R A S U L

ARGENTINA

Marcos Silber

Poema 1

D ias hay

salvarse;
en todo
que parece

como un alegre temblor


en el aire se siente

e inminente el nacimiento

nueva radiante luminosidad;


de una
y

luego, sobreviene el silencio,

con su burlona maligna


y quietud;

es todo; entonces,
y

ocurren cosas buenas malas,


y

o más
precisamente

ni buenas ni malas, ambas,


y

al suceso de la vida;
sabemos,
ya pertenecen

ni
lo no cabe sobresaltarse,

por que

más de lo debido.
sorprenderse
Poema 2

vida es un bien en sí.

De todos modos no sobran motivos

para

la ni derrochar
gratitud, para pedazos

dei maltratado corazón.

Por la línea dei horizonte,

sin inquietarse demasiado, la canalla

aún se saciada altiva, bajo


pasea y

una constelación de malas estrellas,

un cielo hace agua todas


que por partes.

Los cumplen su ciclo, se matan


peces

a regular
profundidad,

vuelven a
y generarse prolijamente;

en cambio Ias sufren en


plantas, particular

- -
falta de amor, o como dicen de
por

Ias rieguen con ternura.


palabras que

En cuanto al interior, reconocer


cabe
paisaje

hace bastante tiempo


que

no se da un dia de franca luz,

de sol entero, como esperanzado; un dia

con alguna historia de mínimo esplendor,

digna de recordar.
CHILE

Alberto
José

Antesy después

11íisVã los cuarenta anos

uno es la de los demás

juventud

Después los cuarenta anos


de

uno es su
propio yo

Gato

animal

liebre

y pájaro

Después de los cuarenta

uno es uno mismo

más a la muerte
próximo

entonces siente busca más ayer


y que

Nirvana se instala en Ias acciones

el alma se aloja en otra


y pieza.
Poesia Sempre

No es sentimiento

l J\ amor

cuando

golpea

como mula
patea

No avisa

no insinúa

su coqueteo corta la respiración

Beso seco

semilla congelada

costilla sin religión

Elegia

viudos viudas,
para y

saludo a la resignación

Mucho ceio arrebata el amor

el lecho a un costado dei sueno

soledad irreparable, luto ciego

Si no se lanza el corazón

a la vertiente de agua fresca

hombre hierba mueren


y

Pero el amor

es el único hechizo de Ias

plantas

volver a sus racimos


que puede
Palabras de Edipo

/ -Judaísmo

debe escribirse alejado

de la heteroglosia de la meda

sexual lo noto bajo


Tu coeficiente

tu mirada angelical me sulibella

pero

icuídate de la ecolalia!

Explicación a los teóricos:

tu vagina cronotopos
posee

o la dulzura aloracional de la cartas

concluir a médio camino


para

la dei fetichismo no sirve


que prostética

"desconstrucción"

La viene impuesta

la dei morfema
por plurisemanticidad

la esquizopoiesis de la cursilería
y por

Si no hacemos el amor como Dios manda

la nos borrará dei mapa


postmodernidad

Hay son irreemplazables


palabras que

no sometas a tu mujer siempre de espaldas

dale libertad moverse como


para quiera
Me excuso, amigo Edipo

mi ineptitud el idioma
por para

estirando el hocico se nombrar


puede

lo alcanza todos.
que para
COLÔMBIA

Henry Luque Munoz

Festin

de exhibir
Jl V uestra majestad
proviene

máscara de leopardo.
una

amortajados
ahí está:
Lo somos
pedazos
poco que

traje de época.
en un
presuntuoso

a otro
Viajamos de un
pânico pânico

vozarrón de la sombra.
el
alertados
por

fingimos aire de realeza


la sala violeta
Y en

filman nuestro banal delirio.


mientras

bailamos en la cuerda floja,


Lascivos

tocando toda mujer todo astro,


y

metiendo la lengua en el volcán.

La elegancia de la herida está en su


pudrición.

Alguien nos da serenata con una raspa de hueso,

alguien camina con los brazos en alto

absorto en el beso el suspiro.


y

Nada nos de este sangrante


queda paraíso

sino el emblema dei cólera. Y sin embargo

hacemos llover vocales, a temblar la

ponemos piedra.

En la cloaca se revuelcan los ídolos,

con el simulacro la tiniebla.


desnacidos, enconados
y

vuela en la limpia intensidad


Una
pantera que

dibuja la lección aprendemos.


que jamás

A la mesa sentados, caníbales de cuello blanco,

devoramos el de cabeza dorada.


gusano
186 Poesia Sempre

Venta na

p
JL ara sentir

la tormenta,

la fúria el relâmpago
y

no abro la ventana.

Abro tu vestido.

Y entro

en el mundo atônito.

En ti está la residencia

de mi Sol creciente.

Campana de
pétalos

el oído de mi sueno.
para
Mula ciou

belleza aterradora,
/v sra es de una
mujer fea

oculta el embrajo
su sabiduría

desconocen.
Ias hermosas
que

los vientos
La mutación de

a huella
la sigue huella

ante su
y presencia

en la fiebre se arrebata.
se inicia
la
y
piedra

de la magia
Están al servido

arqueadas.
sus
piernas

librarse de su resplandor,

Quién podrá

huir de su saliva

quién podrá

hace llover un tierno fuego.

que

Lleva una citara dentro dei


pecho,

el silencio da alaridos,
si
parpadea

los astros se salen de su órbita.


si cabalga

los senos lleva una batalla erguida.


En

Es una mujer fea

Ias brújulas los relojes.


hace enloquecer
y
que
188 Poesia Sempre

GUATEMALA

Enrique Noriega

Como un viejè oso hormiguero

<*-Jabés
darte atrás mostrando
por

De entrada
tu vasto campo de margaritas

Ni tus antiguas estrías interfíeren

Ni tu edad nunca seria tanta romper


para

La borrasca de tu llamado

Sabés entregarte
atrás absorber con una
por

Sed insaciable la rigidez dei sexo

suaves son tus nalgas abajo


Qué
y

Hacia Ias sábanas como entre espuma


tu vulva
gime

La fragilidad de tu cintura entonces

Se aduena de mis ojos

Ahí tu cuerpo fractura el movimiento

se llega al fondo de vos

Chapoteando como la en la mar inquieta


quilla

Sin alguno
pensamiento

Sin noción de tiempo

ya después sólo a momentos te darás


para

Cuenta de mis abrazantes


piernas

De mis lábios de mi lengua de mi boca en la batalla

Próximos a un estertor a una involuntária contracción de


piernas
vientre hasta
Bajando o subiendo de tu
paralizamos
preciado

Viejo Oso Hormiguero


He como un
sido
yo que

de tu ostra
la dulzura viscosa
Se ha a
prendido

sin más
llamaba
A aquel bullir de espumas
que

deseo consumido
Hambre la dei
que

Post Actus

hacia el silencio
en reposo
Quedarás

derramado viendo
mi sexo
a tus lábios
y
Junto

un animal muerto
la mirada de
Con
190 Poesia Sempre

Canción

CANCION PARA SER CANTADA

EN LA OFICINA

A LA HORA DEL CAFE Y TITULADA

POR SU AUTOR

LAMPARONES DE SEMEN

Y CUYO ASUNTO TRATADO

ES LA SOLEDAD NO SE ROMPE NI EN EL
QUE

PAROXISMO DE LA COGEDERA

-Problema
-
de algunos

J-^espués de los sí de los no


y

los dos muy

juntos

los dos muy solos

Entraron a una
pensión

los dos muy

juntos

los dos muy solos

Ah criaturas dei averno cotidiano

los dos muy

juntos

los dos muy solos

Con la lengua de fuera supersudados

los dos muy


juntos

los dos muy solos

Se revolcaban como
perros

los dos muy


juntos

los dos muy solos

Tras la tranquilidad dei cigarrillo compartido

los dos muy

juntos

los dos muy solos


Intercambiaron intimidades
superficiales

los dos muy

juntos

los dos muy solos

Al final se vistieron salieron se despidieron

los dos muy

juntos

los dos muy solos

En la agenda La Próxima Semana


tres
palabras

los dos muy

juntos

los dos muy solos


7

Poesia Sempre

PORTO RICO

Mayra Santos Febres

ale a darle clemencia al universo,

a su lado

se coagula toda bruma

en negritud:
paralela

mi abuela

reordena el caos nômada

de todas Ias mananas

cuando todavia no bullen

sus deliberadas tetas opíparas

de atraper el escândalo
querer

volverlo hojas secas barrer.


y para
Letrasul / 193

M, i abuela me ve
pasar

su izquierda.
por
pupila

me recomunica la sabiduría
toda

adquirida
em mi ninez

entre tabla multiplicar


tabla de
y

(2x1 2 el té de

gengibre

alivia el aire en la barriga

=
2x2
4 sólo son espíritus encajados
que

=
2x3
6 el mal de amor se cura

con semillas de caoba

=
2x4
8 donde más
guardados

le duele a una el amor)

eso es la de mi abuela
por
que púbis

es raíces de caobo

eso es los mozambiques dei


por
que

barrio

anidan
en sus de carbón
grenas

tanto se restriegan en ellas


y

se han transubstanciado
que

en
proteínas.
intento hablarle a mi abuela

la derecha
por pupila

clemencia

para poderle pedir

mi bendición,
y

lanzarme a Ias autopistas

a encontrar mis lugares de semilla,

mi método de cargar

propio

el dia en la cabeza

sin se me derrame

que

sola fracción de luz,


una

mi sistema de comunicación

con Ias rutas raíces,


y

la fórmula de reglamento
mi
próximo

sobre vias deberes dei aire


y

Ias rearreglar el cosmos

pautas para

cuando tenga sesenta anos

setentaitantos

haya vivido sacerdotisamente

lo suficiente

como desarrollar
para

un impune de tetas

par portentosas

con Ias cuales enfrentarme a la erosión

al de conocer

y pecado

roto se sale el tiempo


porquê

filo se escapa lo cercano

por qué

cómo hace una encontrarse la


para
Letrasul

no es más la tierra
que
que

vaciada
en cada artéria

tarareando
la canción de Ias mujeres

habitan
que

como mi abuela

entre

guerra y guerra.
*

VENEZUELA

Arturo Gutiérrez Plaza

Como espera sentencia

quien

Mayo, Caracas se
puebla

ven al cielo con nostalgia.


de
paraguas que

La se va sembrando
garúa

huesos, como la hiedra


en los

en el de Ias casas.

portal

en Ias se aglomeran,
Las buenas
que plazas
gentes,

en las iglesias
buscan refugio

a Dios)
escriben (plegarias
y poemas

.al amparo de las letanías,

velas hasta escampa.


encendiendo
que

Mayo1 es tiempo de recogimiento,


Sin duda,

crucis, la humedad terrenal


el via
pasado

en sobre el asfalto,
insiste
golpear

los fieles a sus culpas,


obligando a
pagar

en larga
contra las
apretados
procesión,
paredes,

espera sentencia
como
quien

dei infierno.
en la húmeda antesala
Considera n en
do

frio.

T
-L ornando en cuenta

antes de nacer llevaba un nombre,


que ya

advirtiendo sin mi buen

prudência juicio

a la hora de escoger

entre el trabajo digno de


poeta

el oficio bien remunerado.


y

Considerando en estas latitudes,


que

los dias resultan tan imprevisibles

como el inicio de Ias lluvias o la llegada de un buen

amor.

Sabiendo de antemano, entre uno otro


que y

verbo, resultan
siempre los hechos antes los
que

horários.

Suponiendo, en fin, rojo el atardecer

sobre esta he decidido terminar estos versos,

página,

- -

no con un final como lo aconseja la tradición

punto

sino dejándolo virgen, en su envoltura,

propia

siempre detenido a la espera de la nueva orden

dicten Ias musas


que

en la marcha contramarcha de estos tiempos.

y
Los en mi

poetas país

i J n mi los nacen como la hierba mala,


país poetas

desde se en los
pequenos juntan parques

se recitan entre ellos.


y poemas

Y es casi ninguno, aprender a


que poços, pudieron

montar bicicleta,

eso, a veces, el equilíbrio les falia


por

se dicen cojos,
y

aves raras como albatros.

Entonces sus amigos

- -
los más cercanos
poetas

les hablan de bosques invisibles

de legendadas comarcas.
y

Así los dias renombrando la esfera,


pasan

mirando en ella

cómo los hombres apoyados en su aliento

caminan sin muletas

sobre la duta de Ias aceras.


piei
VENEZUELA

Edda Armas

Sable

Tj j
memória tiene un enorme cuerpo alargado

me visita ofrece
que y

en acuarelas trazos definidos

pinceladas y

olores

la escucho, la veo,

recurrente, a veces hasta obsesiva,

insiste en un dato, una fecha, un nombre.

Sus razones de la arbitrariedad divina


gozan

holocausto

barroquismo

libre albeldrío

la convoco danzo sus aciertos


y

presagios

lugar de reunión de los amados

sable arriba-

sable abajo

ella logra hilvanar

sobre le mesa
Ias ocurrencias dei brinca
gato que

tumbando los anicos brillen en el arco


el
jarrón para que

la flecha el impulso adentrar el corazón


tomé
y para
Ruido de mar

H escuchado el ruido dei mar de noche

en una ola en roer Ias rocas


que persiste

el cangrejo en habitaria
y

tus han enterrado su debilidad en la extensión


poros

de la arena más blanca

la máquina a hora dei dia


pasará primeira

se llevará con su mecânica


y pala

todos los allí enterrados


pensamientos

Ias huellas
y

mas el dei cosmos sonamos


polvo que

alarga la noche cuando no dormimos

Ias ideas amenazan viajar


y

hasta su origen

Caracol al oído
Los lobos
aullar

podran

J-j os débiles son espinas. Entierros. Azotan cuando menos se espera. Son semil-
puntos

Ias. Crecen en la oscuridad. cuál apariencia se harán Se asoman convir-


^Bajo
presentes?

tiéndose en una circunstancia nos enfrenta. con ellas o se desencadenan


de
que <;Nacemos

experiencias no asimilamos?
que

mirado mi cuerpo con una lupa? Cada exige una un ângulo


<;Has
partícula perspectiva,

diferente. Detalla mis lunas. No, no me refiero a mis lunares, hablo de mis lunas interiores,

eclipsadas, intersensuales. Cosmogonías.


prominentes,

En Ias de la radica el secreto. La energia contiene. Los lobos


propiedades gema
que

aullar, los cielos tornarse aguasmarinas, Ias ortigas crecer como extensiones de luz
podrán

la vista aguda tu cuerpo, deseado, audaz, concreto, invicto


estará hasta la
para pero
que

luz lo alcance. No desactivar la bomba, ni cortar los hilos anudan una sen-
puedo
que

sación a otra. Ni siquiera evitar ames. la nostalgia te atrape cerrando la


puedo que Que

ventana. Los tiempos no son los mejores. Hay demasiado monóxido. La bomba nos

acecha. Demasiada contaminación odio. La mediocridad tine los actos diários, Ias
y
pai-

abras cotidianas. dónde dirigir nuestro cuando estamos en a lo


^Hacia
paso proximidad

sensiblemente hermoso, el mundo salamandra de torpes


es una colores enjaulados?
y gran

Compartimos la confesión. Lucidez de la llama ardiendo. Abordar el tejido desbordándolo.

Equivocamos no nos salvará dei ocio de reconocernos. Damos trégua a los sentidos.
,;Cuál

ceremonia? Biblia? la mágica? Cada vez más cometemos


<;Qué ^Dónde ciertas
palabra

locuras necesarias negándonos otras. decirte entendi,


a
no es así. Somos
Quisiera que
pero

la rutina dei mundo. Un de langosta en el fondo


cascarón dei mar. Lo roto. La espina.

Giramos, cortamos el hilo ser otro deseo. La intersección.


La lengua renaciendo. La
para

oferta. Una luna basta. Dos son siempre compania. La espontaneidad


marca su honda. La

secuencia dei movimiento lo indican los trompos al


tres, dos, uno sobre la
girar
grama.

la zeta? Es estéril la búsqueda cuando no se


jMuerdo encontrar. El helicóptero
quiere

marcar la trayectoria más es autônomo.


el Sientes
puede bienestar en el escon-
proyectil

dite. Al romper el cascarón renaces esta soy te encuentra.


y gacela que
.

OESIA PORTUGUESA HOJE

Antônio Ramos Rosa

Daqui deste deserto em

que persisto

N,
enhum ruído no branco.

Nesta mesa onde cavo e escavo

rodeado de sombras

sobre o branco

abismo

desta
página

em busca de uma

palavra

escrevo cavo e escavo na cave desta

página

atiro o branco sobre o branco

em busca de um rosto

ou folha

ou de um corpo intacto

a figura de um
grito

ou às vezes simplesmente

uma
pedra

busco no branco o nome do


grito

o do nome
grito

busco

com uma fúria sedenta

a seja
palavra que

a água do corpo a corpo

intacto no silêncio do seu


grito
ressurgindo do abismo da sede

com a boca de
pedra

com os dentes das letras

com o furor dos

punhos

nas
pedras

Sou um trabalhador
pobre

escreve nulas
que palavras pobres quase

às vezes só em busca de uma

pedra

uma
palavra

violenta e fresca

um encontro talvez com o ínfimo

a orquestra ao rés da erva

um insecto estridente

nome branco à beira da água


o

da luz num espaço aberto


o instante

Pus de as
parte palavras gloriosas

na esperança de encontrar um dia

o diadema no abismo

a transformação do
grito

num corpo

descoberto na do vento

página

sopra deste buraco

que

desta cinzenta ferida

no deserto

As minhas são frias

palavras

têm o frio da
página

e da noite

de todas as sombras me envolvem


que

são frágeis como insectos


palavras

como
pulsos
e acumulo sobre
pedras pedras

cavo e escavo a deserta


página

encontrar um corpo
para

entre a vida e a morte

entre o silêncio e o

grito

mais do isto
tenho eu dizer
Que para que

sempre isto desta maneira ou doutra

eu senão falar

que procuro

desta busca vã

de um espaço em respira
que

a boca de mil bocas

do corpo único no abismo branco

Sou um trabalhador
pobre

nesta mina branca

onde todas as estão ressequidas


palavras

ardor do deserto
pelo

frio do abismo total


pelo

tenho eu a dizer
Que

neste
país

se um homem levanta os braços

e com os braços

grita

o de mais oculto havia

que

na secreta ternura de umã boca

era a única boca do seu

que povo

eu fazer senão
Que posso

daqui

deste deserto

em
que persisto

chamar-lhe camarada
Maria Teresa Horta

Segredo

ão
N, contes do meu

vestido

tiro cabeça
que pela

nem corro os
que

cortinados

uma sombra mais espessa


para

Deixa feche o
que

anel

em redor do teu
pescoço

com as minhas longas

pernas

e a sombra do meu
poço

Não contes do meu

novelo

nem da roca de fiar

nem o faço

que

com eles

a fim de te ouvir
gritar
As nádegas

J.. orque das nádegas

a curva

sempre oferece

a fenda

o rio

o fundo do buraco

Para esconso uso do corpo

nunca o fraco

em torno desse vaso


do corpo
poder

Ambíguo modo

de ser usado

e visto

De todo o corpo

aquele

menos dado

está

preso que já

do vício

próprio

de um acto
e mais não é o limiar
que
208 Poesia Sempre

Manuel Alegre

Como se um

faz poema

W om muita coisa eu fiz o meu

poema.

Rasguei retratos abri um


poço

na Habitei muitos cadernos.


planície.

Fui à e morri. Fui à e voltei.


guerra guerra

Com muita coisa fiz o meu

poema.

Mané onde ficaste meu verso?


primeiro

Mané rimava sempre com Porquê?


porquê.

Minha tia morreu devagar devagar.

Nesse dia aprendi o substantivo morte.

Com muita coisa fiz o meu

poema.

Algumas eu não digo. Para dizê-las?


quê

Por exemplo: rimava estrelas com

procelas.

Nas rimas era livre. Vieram

prender-me prendê-las

descobri outra rima estrelas: celas.


para

Com muita coisa fiz o meu

poema.

Campainhas nocturnas me não chamam?


por que

Meus amigos assobiavam sempre à meia-noite

Coimbra era uma europa cheia de comboios.

Campainhas nocturnas me não chamam?

por que

Com muita coisa fiz o meu


poema.

Parti vestido de soldado. Eu vi Lisboa

cheia de lágrimas. E um avião ficou

muito tempo voando entre lágrimas e nuvens


por

minha amada chorando no aeroporto triste.

Com muita coisa fiz o meu


poema.
T

Poesia Portuguesa Ho e 209


j

Meu amigo morreu. disse como foi.


A mina rebentou meu amigo ficou

com
as tripas de fora em cima de uma árvore.

Aprendi
na terceira o verbo morrer.
pessoa

Com
muita coisa fiz o meu

poema.

Eu vi de
meu com as mãos cheias sangue.
povo

Mas isso foi mais. E tive de aprender


de

na verbo matár. Desde aí


o
primeira pessoa

há certos me doem muito.


adjectivos
que

Com meu
muita coisa fiz o
poema.

Não vou dizer o tempo demora um verso.


que

Como dizer-vos exemplo o tempo


por

com
as chaves metálicas batendo

na minha cela depois rimei estrela?


com
que

Com muita coisa fiz o meu


poema.

Cidade rimei com liberdade


(muita coisa aprendi desde esse tempo)

liberdade rimei depois com estrela e cela

tristeza fiz rimar alegria


com

meu rimou com minha vida.

poema

Como se despede eu fiz o meu

quem poema

Manuel Bandeira diz como morre

quem

eu digo cantar não morre


como e
quem peleja por

como violino e a morte


um entre um obus

como acende.
arde está mal) ou como
(não
quem quem
210 Poesia Sempre

Eu me apaguei algumas vezes


próprio

e sempre me acendi com meu

poema.

Os soldados
sentavam-se ao redor da lenha.

Como falar-lhes?
De repente eu disse:

camaradas
a somos nós.
pátria

E os soldados calavam-se ao redor da lenha.

Então eu disse: é o tempo da vindima.

almudes lá na tua aldeia?


José quantos

Na minha aldeia o meu faz mil almudes.


patrão

a somos nós entendes?


José
pátria

E os soldados calavam-se ao redor da lenha.

nas tuas mãos começam todas as vindimas


José

da cor do sangue é a cor do vinho entendes?

Meu acendeu-se no cimo da lenha


poema

alguém cantou: a somos nós.


pátria

Com muita coisa eu fiz o meu

poema.

Aprendi-o no vento. Aprendi-o no barro.

Sobretudo na ma. E nalguns livros também.

Porém foi aos homens aprendi


junto que

como as são terríveis e sagradas.


palavras

Aqui vos deixo o meu Aqui vos deixo


poema.

cidade a não rimar liberdade


com

liberdade a rimar com estrela e cela

meu a rimar com minha vida. Aqui vos deixo


poema

as coisas com fiz o meu


que poema.
\

ENSAIOS

t/L
Rubens Gerchman

Desenho

Carvão sobre

papel

14.5X10 cm
Ensaios / 212

Fábio Lucas

soneto inovador de de Lima

Jorge

O SONETO

,xjL tribui-se a Fra Guittone d'Arezzo a fixação da forma definitiva


(1230-1294) do sone-

"Ao "antecipou,
- -
to. essa árvore encantada" diz Vasco de Castro Lima
também,
plantar

o soneto se comporia melhor com versos decassílabos de rimas mundo mar-


(O
que graves."

avilhoso do soneto, São Paulo, Freitas Bastos, 1987, 83).


p.

Os franceses, dada a natureza de sua língua, não se amoldaram estritamente a tal orien-

taçâo. Manejando um idioma rico em vocábulos oxítonos, criar os versos dode-


preferiram

cassílabos
(alexandrinos) e o soneto de versos de cesuras obrigatórias, divididos em dois

hemistíquios de seis sílabas.

A base da invenção foi o strambotto, versos cantados em bailados de cam-


populares

na Sicília e na Toscana, compostos de duas isomórficas,


poneses, principalmente
quadras

de rima ABABABAB.

Sob essa estrutura, acrescentaram-se dois tercetos de tradição erudita, de rima esquema-

tizada em CDC-DCD.

Ao longo do tempo, cristalizou-se a noção de o soneto deveria abrir-se com uma


que

chave de no verso e fechar-se com uma chave de ouro no último


prata (décimo
primeiro

verso).
quarto

Do de vista os serviriam apresentar


conceituai, as do
ponto quartetos para premissas

maior e menor), enquanto aos tercetos se reservava


(premissa a con-
poema
premissa

"pequeno

clusão. A italiano, teve a concepção


sonetto, em de
som",
palavra primitiva

"breve

melodia". Foi criada na Sicília, no séc. XIII, influenciados


por poetas
pelos

trovadores da Provença Essencialmente se referia a uma lírica.


(provençais).
peça

Usada Guido e Dante Alighieri


Cavalcanti
por (1255-1300) (1265-1321), da
participantes

"Dolce

Escola do
Stil Nuovo", a composição teve em Petrarca o seu fixador,
grande que

"soneto

concebeu o chamado estrutura rímica


de ABBA ABBA CDC DCD.
petrarquiano"

A daí, é longa rica


e a sua história. Vários literários aceitaram o desafio de
partir grupos

conter
a expressão lírica no dos versos decassílabos,
endecassilabos ou
quadro quatorze

dodecassílabos,

distribuídos em dois e dois tercetos. Peça concisa e harmoniosa,


quartetos
Poesia Sempre
214

requer do além de inspirada expressão, o talento de conter seu enunciado nas


poeta,

da forma sem o leitor venha a sentir a do artifício e


grades preestabelecida, que presença

das regras.

Na história da literatura brasileira, dois de liberação formal, o Romantismo e o

períodos

Modernismo, não tiveram como veículo de seus valores. Bem ao con-


o soneto
principal

-
trário dos classicizantes o Arcadismo, o Parnasianismo e
regidos
períodos por princípios

a Geração rigor formal e da imitação dos Clássicos a regra de ouro


de 45, fizeram do
que

da literários tornaram o soneto um símbolo da verdadeira


elaboração Tais
poética. grupos

poesia.

2 de Lima
Jorge

de de Lima dentro do modernismo brasileiro, é bas-


A (1893-1953),
Jorge
personagem

tante singular.

Iniciou a sua carreira de com a de uma intitu-

prematuramente poeta publicação plaquete

"O

lada XIV Alexandrinos, de 1914. Da coleção constava o soneto acendedor de

lampiões", aos 17 anos do autor.


publicado

A dessa composição foi notável. O tornou-se nacionalmente con-

popularidade poeta

"O

hecido e acendedor de lampiões" chegou a ser atribuído a Hermes Fontes, num

equívoco o autor sergipano fez de desfazer.

que próprio questão

de de Lima, iniciou-se com a de sonetos. Por


A obra
Jorge portanto, publicação
grande

volta o escritor aderiu à agitação modernista, à abolição das rimas e dos acentos
de 1925,

Ao Modernismo, no início, abominava o soneto. Mas o no


rítmicos obrigatórios.
poeta,

forma antiga no final de sua carreira, com a do Livro dos


entanto, regressou à
publicação

de Orfeu, em 1953,
sonetos, em 1949, e da Invenção de admirável complexi-
poema-livro

incontáveis e inesquecíveis sonetos todo).


dade, dentro do introduziu ao
(setenta
qual

observam estreita influência da oficina


Os XIVAlexandrinos, da

poemas juventude, par-

transparecer certo lado romântico do ini-


nasiana, embora, no espírito, deixassem
poeta

ciante.

volveu em se havia notabilizado, mas com a


Este, na maturidade, à composição
que

na experiência modernista, acabou cunhan-


força de renovação e tal ímpeto, adquirido
que

do, com a sua marca autoral, um da espécie.


protótipo
Ensaios / 215

-do

dos sonetos e da Invenção de Orfeu


Livro
Foi tão revolucionário o surgimento que

celebrar num soneto, denominando


de Andrade acabou
Carlos Drummond
por

Fazendeiro do ar, de 1954:


no volume
de Lima, incluído
Conhecimento de
Jorge

Fulô nos chamava


Era a negra
que

E eram trombetas,
de seu negro vergel.

esses murmúrios
salmos, carros de
fogo,

a seus eleitos, eram


de Deus
puras

ao da
canções de lavadeira
pé fonte,

mesma, eram nostálgicas


a em si
era
fonte

de infância e de
emanações
futuro,

desfeito em cana.
era um ai
português

de essências e eram
Era um
formas
fluir

e em volta ao homem,
além da cor terrestre

do amor no tempo atômico,


era a invenção

mítico e lunar
o consultório

da luz e depois dela),


antes
(poesia

e eram seus anjos.


era de Lima
Jorge

de Lima, seja-nos
e o sonetista
em nasceu
atmosfera Jorge
Para se ter a produziu
que

"O
em se nota a compostura do teino
de lampiões',
reproduzir acendedor que

permitido

suas rimas fluentes e oportunas, seus


hemistíquios,
seus cuidadosos

poeta parnasiano,

visão humanística da vida:


baseados numa
conceitos de elevada inspiração,

da rua!
o acendedor de lampiões
Lá vem

vem infatigavelmente,
Este mesmo
que

associar-se à lua
Parodiar o sol e

enegrece o
a sombra da noite
poente!
Quando
Poesia Sempre
216

Um, dois, três lampiões, acende e continua

Outros mais a acender imperturbavelmente,

A medida a se acentua
noite aos
que poucos

E a da lua apenas se
palidez pressente.

-
Triste ironia atroz o senso humano irrita:
que

Ele doira a noite e ilumina a cidade,


que

Talvez não tenha luz na choupana em habita.


que

Tanta também nos outros insinua


gente

Crenças, religiões, amor,


felicidade,

Como este acendedor de lampiões da rua!

Podemos, assim, alcançar as duas do os e os últimos ao


pontas poeta: primeiros passos

famosa composição métrica, o soneto.


redor da

O Livro dos sonetos


3

de Lima escreveu os do Livro dos sonetos sob o efeito de


Conta-se
que Jorge poemas

visões e alucinações oníricas, em estado hipnagógico, no de'dez dias. Acontecia


período

levantar-se de madrugada e compor vários sonetos de uma só vez. Era um de


período

angústia o começou a sonhar acordado.

grande para poeta, quando

Nos sonhos, tornaram-se recorrentes alguns sinais de sua infância. Por exemplo: o
galo

Rosário de Maceió, um de orientação dos ventos; a draga existente


da Igreja de São
galo

e se apresentava ao menino como algo fantástico. Ao redor


na de Pajuçara
Jorge
praia que

Um dia, uma chamada Elisa, afoita, entrou na draga e


dela, brincavam as crianças.
garota

Com oito anos, o sofreu o da cena; outro


só sair dali horas depois.
poeta pavor
pôde

bonita, morreu afogada no rio Mandau.


exemplo foi a Celidônia, muito
que Jorge
pretinha

de Lima nunca mais se esqueceu daquele acontecimento.

em maturidade, os fatos da infância o assedi-


Nos dias de crise vividas ele,
por plena

matéria literária, misturados a outras experiências da vida.


aram e viraram símbolos,

tudo os sonetos é a crise


Somente após ter transposto
que passou.
para

Daí, o denso aspecto onírico adotam os ora se assemelham a


poemas, que peças
que

surrealistas, ora relatos de estados alucinatórios.

parecem
de 1930, esteve sob constante sedução
Lima^ na década
de
Convém relembrar
que Jorge

disto no romance O anjo


a dar testemunho
da surrealista. Chegou pequeno
corrente

escreveu em Tempo e
com
com Murilo Mendes,
e na convivência quem parceria
(1934)

tendo ele na ocasião se convertido ao


crise religiosa,
Foi o tempo da
eternidade
(1935).

de Cocteau à sua obra daque-


a influência
houve apontaram Jean
catolicismo. Críticos
que

la fase.

a concepção espiritualista, mais intros-


fase salta
nordestina da
Da temática para
primeira

de de Lima, os
onírica
da instância Jorge
soneto-símbolo quando
na segunda. O
pectiva

sublimam numa linguagem espes-


e se
se mesclam
signos da experiência
poética passada

ser o seguinte:
samente esotérica,
poderia

rochedo do sono é tão


O
fechado,

de Esaú, tão existido,


tão
pedra

na vida um
ele cumpre fado,
grande
que

o
Édipo impunido.
de acolher um

anjo adormecido
bojo hã um
Sempre em seu

debruçado;
e um menino num
poço

o seu latido
cão noturno late, e
o

afogado.
é o do menino

grito

dormindo
À noite, barba-azul joga

no
sete poço,
princesas pálidas

as engole.
e o voracíssimo
poço

se afoga,
E engole indiferente
quem

sete
atadas ao
pescoço
pedras

no seu
e amor é o mesmo
gole.
que pedra

encadeia o
de remotas lembranças: a
de duas seqüências
Nota-se aí o cruzamento que

as
externa resíduos das leituras constituíram
vivenciais e a
surto de reminiscências que
que

do leitor/escritor.
literárias
experimentações
primeiras
Poesia Sempre
218

"Édipo

O impunido" haverá de renascer em muitas circunstâncias. Se se desejar amostra

"bela

da sensualidade
do em a adormecida" Celidônia?) se
primitiva (a
poeta, que pretinha

confunde com as imagens edipianas depositadas no inconsciente, eis o soneto mal


que

"dormidas

esconde as brasas" da rebelde:


paixão

Dormes. Surgem de ti coisas


pressagas.

Ó bela adormecida, não tens sexo,

como as algas marítimas as vagas


que

na em renovado amplexo.
jogam praia

O vendaval é o mesmo em te apagas


que

num torvelinho de ímpeto convexo;

dormindo, rodopias, e te alagas

num turbilhão de diálogos sem nexo.

Sonâmbula és a andarilha,
parada,

ilhada entre lençóis. Virgem tens


prole,

és ao mesmo tempo avó, mãe,


pois filha.

E o sono multíparo te viole,


que

anjo desnudo, salamandra de asas

ressuscitada de dormidas brasas.

Por enquanto, os sonetos, decassílabos, se comportam formalmente


dentro das con-

"defunda

venções. Mas, o tenta recuperar a infanta" de sua memória, não


quando poeta

resiste e traça um soneto inconsútil, elaborado como um só bloco, uma composição inteiriça,

a indicar o fluxo ininterrupto da emoção. Aí as de


e tercetos se
qual grades quartetos

abrem, abrigar o conteúdo de uma comoção compacta:


para

Essa épara uma defunta


pavana

infanta, bem-amada, ungida e santa,

e encerrada num
que foi profundo

sepulcro recoberto ramos


pelos
Ensaios J 219

de salgueiros silvestres nunca


_
para

ser retirada desse leito estranho

em repousa ouvindo essa


que pavana

recomeçada sempre sem descanso,

sem consolo, através dos desenganos,

da vida,
dos reveses e obstáculos

se insurgem contra
das ventanias
que

a etema chama
a chama inapagada,

esta defunta infanta ungida


anima
que

e bem-amada epara sempre santa.

"chama" "defunta",

unem a
o estudo das aliterações e da nasalização
Abandonado
que

"infanta", "ungida" "santa", "infanta"

Tal imagem se cruzará com


e estranha rememorada.

mesclam, em faixas cambiantes, tendências


outras, carregadas de sexualidade, em se
que

màe, filha"), à necrofilia e também à homossexualidade.


obscuras ao incesto
("avó,

temática, a nem sem-


Livro dos sonetos vem a ser a recorrência
Outra característica do
que

vezes o ritmo e o esquema


formal. de Lima altera
se segue uma convergência
Jorge por
pre

rico de sentimentos ou expressão mais


de obter um mais
acústico do a fim
jogo
poema,

a freqüentar.
do campo indizível
fervilhada de nuances, de sutilezas
que poesia procura

no soneto seguinte:
ressurge
Tal é o caso da defunta,
que

Essa infanta boreal era a defunta

noturna sempre ungida,


em
pavana

colorida de silenciosos,
gaios

de óleos renovados.
extrema-ungida

Hoje é rosa distante


prenunciada,

cujos cabelos de Altair são dela;

dela é a visão dos homens subteiTâneos,

consolo como chuva desejada.


220 Poesia S e m r
p

Tendo-a a insônia dos tempos despertado,

ontem houve enforcados, hoje


guerras,

amanhã surgirão campos mais mortos.

O antípodas, ó somos trégua,


pólos,

reconciliemo-nos
na noite dessa

eterna infanta sempre amada.


para

Observe-se: cada estrofe deste soneto mereceu um final. No


ponto primeiro quarteto,

"era
"Hoje

domina o tempo a defunta"; no segundo rege o tempo é rosa


passado:
presente:

"a
"ontem", "hoje"

distante". No terceto insônia" faz conjugar os três tempos:


primeiro e

"amanhã".
"os "na "eterna

Por fim, o terceto final reconcilia antípodas" noite" da infanta

para

"rosa"

sempre amada". Aquela em hoje se transmuda a infanta ressurgirá em vários


que
poe-

mas de cunho erótico/confessional. Representará o sexo feminino em múltiplas aparições.

Lê-se o Livro dos sonetos como um em se simultaneamente


palimpsexto, que gravam

emoções e sentimentos de fases diferentes do Daí o clima alucinatório


em é
poeta.
que

vazado, no interior do bóiam os signos de eleição. A sonoridade dos versos realiza o


qual

de claro/escuro, de noite/dia vida/morte.


e de É freqüente o leitor esbarre em
jogo
que

trechos acenam a loucura. Deste modo, o terceto final de um dos sonetos reza:
que para

O oceano apodreceu no leito,


próprio

e uma lava comum, estranha lava

de loucura inundou bestas e


gênios.

Um depois, vem outro terceto conclusivo nestes termos:


pouco

e depois da esse esperado


janela

esse último eu abro


postigo, portão que

a completa da razão.
para fuga

Todo esse apelo aos estados loucura,


de demência e implicam
a insistência no campo

da indeterminação da alma, no lusco-fusco, na irracionalidade em afloram as


que profun-

dezas recalcadas.
Dois sonetos há no livro o mesmo clima das
tentam leituras de contos de
recuperar
que

fadas.
E a chave de ouro é a mesma, encerrada num refrão exclamativo:

Ó meninos, ó noites, ó sobrados!

Mais dramáticos são os lidam com o tema do amor, criando uma espécie
poemas que

de musa inexorável, lado mais ardente da sensualidade, ou com


a mexer com o as aproxi-

mações mais terríficas ao tema da morte. Por vezes, o clima de alucinação se soma a esse

curso inconsciente, como se nota no soneto se inicia esta cláusula:


que por

E eis surgem dos bem-amados


que flancos

o negro me arrasta à insânia


potro que

-
areia, espiga ou ramo em levanto
que

a rosa noite entrecortada.


pela

"rosa" "negro

Aí temos a vigília de signos como e transubstanciações do femini-


potro",

no e da libido.

O espaço não nos explorar toda a forma da linguagem ambígua acobertar


permite para

a visão irracionalista do mundo. É ao volver fundo


a da sexualidade, o do
que, página

entremostra, além das motivações incestuosas apontadas, sob a epígrafe de Édipo,


poço já

a impulsão do desejo andróide. Mistérios da selvagem do inconsciente. A


paisagem

elocução mais se encontra no soneto III do Canto II e supersolo') da


('Subsolo
patente

Invenção de Orfeu:

Vinha boiando o corpo adolescente,

belo e sonho
pastor perturbado.

Deus abaixou-lhe os cílios alongados

ele dormindo
para que flutuasse.

Ressuscita-o Senhor, essa medusa

de sangue em rosto impúbere,


juvenil

desterrado da vida,
flor perdida,

irmão de Apoio trimagista.


gêmeo
Poesia Sempre

Seca-lhe a espuma lhe inunda o


que peito

e as convulsões mortais o imolaram


que

às sodomas ardidas em seu leito.

Anjo adoecido, alheio dançarino

dançaste em Gomorras incendiadas,


que

estás cansado; deita-te, menino!

de Lima, em outro ao bela adormecida, não tens sexo", retor-


Jorge passo, proclamar

"defunta", "Virgem

nando à libera conteúdos incestuosos ao descrever: tens és


prole,/ pois

"defunta" "salamandra

ao mesmo tempo avó, mãe, filha." Essa não de de asas


/
passa

ressuscitada de dormidas brasas." Vastíssimo oceano. De Edipo vem a libido alimenta


que

soneto XXVI do Canto IV aspirações') de Invenção de Orfeu-,


o surpreendente ('As

Ó libídia, vulva em
presente frente

aos de Deus reincarnado,


possessos

te entreabres com visgos e corolas


que

e agiológios de vidas escarlates.

Ó Francesca contínua agonizada,

companheira de infância, tatuada

como as sereias da cintura abaixo,

desses mares de hibernadas.


flores

Urna dos seres solitários,

febril

em as nascem
treva sem lei
que papoulas

e os santos do deserto suam mijos.

Mas indelével mãe marca os


que filhos

com os beijos se apagam


fundos que jamais

com a santa baba com salga o mundo.


que

E eis nos remetemos a um dos mais belos sonetos alexandrinos da língua


que portuguesa,

"palustre

Aquele em de Lima celebra a vaca e bela", transmutação da bucólica


que Jorge
Ensaios / 223

XV do Canto I da ilha') da
vaca esfera freudiana: Soneto
virgiliana a ('Fundação
para

Invenção
de Orfeu:

vaca era e bela;


A da
garupa palustre

uma havia em seu


queixo formoso;
penugem

ardia uma estrela


e na lunada onde
fronte

repouso.
um em constante

pairava pensamento

a mais e singela
Esta a imagem da vaca,
pura

eu às vezes esposo
do do sonho
que fundo

noite à outra imagem daquela


e confunde-se à

me amamentou e no último
ama
jaz pouso.
que

-
o mugido era o meu acalanto,
Escuto-lhe

olhar tão doce ainda sinto no meu:


e seu

inigam-me com seus veios.


o seio e o ubre natais

nessa informe é meu canto:


Confundo-os
ganga que

a e a mulher me deu
semblante e leite, vaca
que

leite e a suavidade a manar de dois seios.


o

"do

do sonho": o leite da vaca,


fundo
reminiscências acordadas
São transparentes as

formação humana, se liga ao leite da


a fase oral da
cuja busca e cujo sabor apontam
para

materno. A tríade vaca-ama-mãe é reversí-


com o carinho
ama, cujo aconchego se funde

mãe-ama-vaca, a sugerir todas as metáforas


na trindade
vel, e ser metamorfoseada

pode

e de condensação de Freud se concretizam nas


cabíveis. Os de transferência

processos

ao longo da teia das motivações. Como diz o


esferas e do significado,
do significante

"o

em seus veios.
soneto: o ubre natais irrigam-me
seio e

celebrar bucolicamente a vaca do seu terre-


modo, ao
O encontrou, deste
paraíso
poeta

''o

o tema, com leite e a suavidade a manar de dois


al, a fórmula mais sublime de atualizar

seios".

de algumas imagens abriga o indefinido da


em o obscuro
Na área de ambigüidade,
que

de dos sentidos: a
apela os estados
amorosa, o
psíquicos perturbação
pulsão poeta para

febril. Curiosa, exemplo, a da


loucura, ou o simples estado
o êxtase místico
por presença
Poesia Sempre
224 /

malária e de outras febres na caracterização de reminiscências confusas. Vejamos o soneto

XVII do Canto IV aparições') de Invenção de Orfeu, logo após a manipulação de con-


('As

"vulva", "vis-

ceitos tão estranhamente eróticos do soneto XXVI, transcrito, com sua seus

"urna "santa

sua febril" e sua baba":


gos",

E de repente, de novo
passa-se

a cena da coréia delirante;

e enquanto vem do cimo o cisne de ouro,

os dançarinos mudam de semblante.

Senti meus olhos mais dantes altos,


que

sem se o estava em mim


perceber giro

ou se nos seres áureos


que giravam

como corola viva se entreabrindo.

Era um orbe rodando todo aceso

arrastando-me à vida; e aqui e além

levando-me de vez no eterno


giro.

Da visão vale a hora verdadeira.

Ó minha Graça, ó Vida de repente,

loucura medonha e alegria.


que que

dá o cortejo de valores simbólicos


Depois de transcrever tantos
poemas, para perceber

transbordamento de imaginação, o ciclo do desejo impresso em


e agasalhar, num
palavras,

e torneios verbais.
fonemas

Lima ao leitor captar a estrutura de conjuntos síg-


livros de de
Ambos os
Jorge permitem

cultos e costumes agrários, a indicar a


míticos ou rituais. Ali como
nicos,
prevalecem

derradeiros com efeito, logram entrosar os


arqueologia do saber do Seus
poemas,
poeta.

religioso e o modernista.
três regimes simbólicos: o regional, o

o revela o hibridismo em a
Mas, ao conduzir seus motivos mais disfarçados,
poeta que

sinais de cifras mascaradas.


libido se estilhaça em fragmentos,
pedaços,

dá a irrupção do afeto arcaico, aprisionado no


Temos um criptograma no se
qual

inconsciente, terreno selvagem.


Ensaios / 225

de toda a sua biografia, significando


Há em de Lima um reservatóriojnconsciente
Jorge

todas ao recalque.
as causas olvidadas ou submetidas

estas se transvistam em imagens trazem


Para excitações eróticas, deixa
suprimir que
que

aparentemente absurdos são retira-


a infantis. Tais fantasmas
marca dos estados libidinosos

afetiva não de um blo-


verdade, a repressão
dos Na
da fonte biográfica passa
profunda.

símbolos remetem uma sexualidade


imagem. Os
da libido representada para
queio pela

símbolos e fantasmas são condenados


imagens,
imatura, insatisfeita. Pansexualismo,

já que

e femininos. Daí o das


a masculinos
se reduzir a alusões aos órgãos polimorfismo
genitais

Os avatares de tantas
das representações.
satisfações e o
sexuais imaginadas
polimorfismo

libido. Os símbolos acabam


biográficos e na
imagens nos acidentes
sensuais repousam

sendo sintoma da sexualidade.


um

4 A Invenção de Orfeu

fundo na Invenção de Orfeu.


aspecto e ingressemos mais
Passemos ao largo desse

de dois sonetos xifógafos,


Inicialmente, apontar a experiência de construção
interessa-nos

"sonetos

o autor denomina, em marginália,


gêmeos".
que

antes, se atira ao
sentido do não termina;
A concepção dual é evidente, o
pois primeiro

"mas".

Eis os
se encerra com a conjunção
segundo, o verso seria chave de ouro

pois que

de Orfeu:
II e supersolo') de Invenção
de ns IV e V do Canto
('Subsolo

Se me vires inúmero; através

entre as coisas e as criaturas,


desse
poema,

o outrem é,
como se eu
próprio fosse que

nas impuras,
dissipado
páginas

arrebatado
pelo próprio poema,

surpreendido,
fragmentado,
possesso,

de herói ou de réu, em
travestido

todos os verbos degredado,


quase

irmão, a alma vive


negarás meu
que

na ansiedade de si mesma

perdida

a a a
sonhando
paz; paz
paz, querendo
7

Poesia Sempre
226 /

mas nas tormentas em a revive


que paz

mas nos silêncios em a se lesma


que paz

e se intumesce. Eu enlouqueço! Mas

até na ãlgida da insânia, Deus


paz

me busca ser seu convulsivo


para

e amado em tomo de crês


filho quem

morar a ele destina vim


paz que

a todo aquele lhe


que faz perguntas.

Eis as respostas nessas vozes


gêmeas,

deblaterando sobre teu defunto,

sobre teu louco, sobre o teu recente

corpo hoje ainda nascido e


já julgado

ejá descido, e movido nesses


campos da morte, sob os


passos, pássaros,

aos ventos indo, sob as noites


gastas,

sob as caliças, sob os


passos gessos,

sob as bocas sem choros, em seus nadas..

Observe-se a audácia renovadora dos sonetos. O é introduzido cláusula


primeiro pela

fluxo intérmino do mesmo de anáforas, num


condicional e, num
período, pontilhado

vai-se expandir até o segundo, somente vindo a conhecer o


ziguezague indagador,

verso inicial do segundo Rimas ricas ocorrem, versos agudos


fôlego no
quarteto.
primeiro

versos aliterações açodem. E na orquestração verbimusical, o


se alternam com
graves,

seu corpo nascido e o horizonte da morte se abre.


morto reaparece, com
já julgado,

o tropel das imagens, apelam até a resposta divina.


Insânia, e nada formam
que para
paz

a seguir, na linha de experiências tentadas no


Outra inquietação fecunda se anuncia

voltar à mesma estrutura entretanto


Livro dos sonetos: a idéia de
poemática, guardando

rimas, ou às mesmas idéias, ou, ainda, às mesmas


respeito ao mesmo ritmo, ou às mesmas

ligeiras alterações vocabulares. Uma espécie de verbal, de


construções frásicas, com
jogo

tema, de variação hipnótica, a fim de, na repetição, obter novo


revisitação ao mesmo

efeito, conquistar nova área de encantamento. Isomorfismo encantatório.


Ensaios

Transcrevem-se, II e IV do Canto IV aparições') de Invenção de


a seguir, os sonetos ('As

Orfeu, cujo leito comum é


patente:

Era um cavalo todo em chamas


feito

alastrado de insânias esbraseadas;

tardes sem tempo ele surgia


pelas

e lia a mesma eu lia.


página que

Depois lambia os signos e assoprava

a luz intermitente, destronada,

então a escuridão cobria o rei

Nabucodonosor eu ressonhei.
que

Bem se sabia ele não sabia


que

a lembrança do sonho subsistido

e transformado em musas sublevadas.

Bem se sabia: a noite o cobria


que

era a insânia do rei transformado


no cavalo de o seguia.
fogo que

Era um cavalo todo em lavas


feito

recoberto de brasas e de espinhos.

Pelas tardes amenas ele vinha

e lia o livro eu
mesmo
que folheava.

Depois lambia a e apagava

página,

a memória dos versos mais doridos;

então a escuridão cobria o livro,

e o cavalo de se encantava.
fogo

Bem se sabia ele ainda ardia


que

na salsugem do livro subsistido

e transformado em vagas sublevadas.


228 /P o es ia Sempre

Bem se sabia: o livro ele lia


que

era a loucura do homem agoniado

em o incubo cavalo se nutria.


que

A seguir, como desdobramento da mesma atmosfera ressaltemos os sonetos V e


poética,

o XIV e XV do mesmo canto V, estranha numeração dúplice o mesmo e único


para

nos se manifesta uma bizarra alimária surreal:


poema, quais

Entre livro e cavalo o homem instalou

duas escadarias e uma bússola;

depois verificou sendo duplas


que

as suas asas dúbias, duplo o vôo.

Pousou na escuridão, e repousou,

era o dia sete de seus súcubos.


pois

Foi se exclamou: Faça-se a luz.


quando

E a luz dentro das trevas se


formou.

Moldoror! Mal-e-horror! Ó terra nata,

tão empresa, tão ébria, tão


perjura ,

e sempre, e ao mesmo tempo tão amarga!

lume bruxuleia sobre as vagas?


Que

Candelabro ou veleiro ou raio obscuro

ora sobe na ora se apaga?


que proa

XIV e XV

Nasce do suor da uma alimária


febre

a horas certas voltapressurosa.


que

Crio no sempre algu ma rosa.


jarro

A besta rói a imaginária.


flor
Depois descreve em torno ao leito área
uma

depicadeiro em Encare-a
que galopa.

o meu espanto, vem a besta irosa

e desbasta-me o em sua
juízo grosa.

Depois repousa as em meu


patas peito

e me oprime com obsidional.


Tomo-me exangue e mártir no meu leito,

repito-lhe o sou, sou mortal.


que que

E ela me diz invento esse delírio;


que

e no e nasce em lírio.
planta-se jarro

Também na Invenção retorna o tema da rosa,


de Orfeu de Lima símbolo
multívoco
Jorge

em
se anuncia, entre outras, a metáfora da mulher. O soneto
velha XVII do Canto V
que

opera numa indefinição


com a aproximação de rosa e mulher ausente, de tal
o
porte que

"rosa

em lance de felicíssima ouro, acaba apostrofar a


chave de da morte",
poeta, não
por

"rosa

sem leva a buscar


declamar o estado de confusão mental o a do for". Eis:
que que

Porque a névoa da tarde era sumida

desejei no meu um verso


peito puro,

rosa como suave ida,


que fosse

apelo chamasse a
que quem procuro.

Eis nos ares a rosa convida,


que

-
a de e talo obscuro.
pétala fugaz

'

Há coisa nela em breve vida


qualquer

mas essa é a vida breve eu conjuro.


que

Esse enlevo ê um doce choque,


fortuito

transluzperdidos a via
olhos com
que

o desejo de tê-la em doce amor.


Aproxima-te, deixa te toque
que

e te acaricie, ô esposa
que fria,

rosa da morte, rosa do


que for.

"defunta

da reaparece
aquela amada", destinatária
Entenda-se o novo
pavana,
plano:

"esposa "rosa

fria" e de da morte".
agora sob a forma de

de Lima: a revolu-
dos derradeiros de
Fiquem realçadas as duas características
Jorge
poemas

de um imagéti-
lírica, e a construção
instrumento da expressão
do soneto, como painel
ção

recorrências temáticas acompanha-


descontinuidade as
co desvela em
que
polimorfo, que

ao longo de sua carreira.


ram o
poeta

implantou sob influências


a Invenção de Orfeu se
Convém salientar, a
propósito, que

Lima extrai valores épicos e líricos.


De ambos de
de Camões e Dante.
explícitas
Jorge

aos trechos e episódios mais


cio alagoano
famosas as
Tornaram-se
paráfrases poeta

do bardo lusitano.
notáveis

assim como de outros clássicos,


de Virgílio se captam sugestões,
Também poetas gregos

de Lima devota-lhe o soneto XXVIII do


em Dante,
Além de inspirar-se
e romanos. Jorge

IV aparições'):
Canto ('As

como em Dante tinha voz


A chama

em seu vértice torcido.


e era trina

Do cimo dominava os malebolges

altiva serra e a ínsida insofrida.


e a

meu canto rude,


Columba e santo amor,

- -
salva-o das borrascas,
antro sétimo

as vagas luz aguda


adeja sobre

dos demais astros.


dos astros, astro-rei

vigília entre
Ó divina
guia-me

os infernos das ilhas solitárias

aos inquietos ventos.


abandonadas

E na selva selvagem me sustenta.

Equilibra-me, ó ascensionária,
força

inicial de meu sempre silêncio.


voz
Ensaios / 231

"divina

Virgílio na vigília"? E de
não estaria escondido anagramaticamente
que prodígio

"dos

verso, astros, astro-rei dos demais astros".


a reproduzir três vezes o mesmo sintagma:

E o o entrega à decifração?
das rimas toantes? E as siglas
predomínio que poema

é o seu tropismo ao eixo surreal da


Tudo se extrai desta voz
somado, o
poderosa,
que

visão lembranças da bíblica, especialmente


em caleidoscópio, de envolta com as
paisagem

aquelas o Apocalipse.
de sopro e misterioso,

profético

ser surpreendido no soneto XVII do Canto


O traço marcante da mirada em
poliedro pode

V
('Poemas da vicissitude'):

Agora os entardecidos,
girassóis

e esse lírio e essa rosa tão exangue

e essa mancha de símbolos sombrios

como um desmaio ou leve sangue.


quase

Sobre os bosques caiu a tarde cinza

e a estrela temporária se augurou;

das hastes cálices noviços,


pendem

e a cansada corola se esboroou.

E os cílios baixam chuvas


gotejando

sobre os vidros das horas enterradas

com os momentos dos crimes e virtudes.

com essas lágrimas,


Algum arroio corre

mas tão ligeiro escarpa aguda

pela

nunca vêem nada.


os olhos de vê
que quem

Por a face surreal, espiritualista e esotérica da con-


último, seja-nos lícito combinar

cepção mistérios da redenção religiosa, do


de Lima aos tão carregada
de
poética Jorge

desencanto o tom apocalíptico de


terrena. Daí alguns especial-
da crucificação
poemas,

mente de Orfeu. Veja-se, exemplo, o ini-


os sonetos mais efusivos da Invenção
por poema

ciai em se mortífera do
do Canto VI da desaparição'), a
('Canto que prefigura paisagem

fim os
do mundo, símbolo da degeneração, corvos:

perpassada pelo
Aqui é o do mundo, aqui é o do mundo
fim fim

em até aves vêm cantar encerrá-lo.


que para

Em cada dorme um cadáver, no


poço, fundo,

-
e nos vastos areais ossadas de cavalo.

Entre as aves do céu: igual carnificina:

dormires cansado, à do deserto,


se
face

hás de te assustar. Por certo,


acordares
quando

espreitarão sobre cada colina.


corvos te

teu canto a essas aves canto


E, se entoas (teu

dos céus, a mais triste canção),


é debaixo
que

vem das aves a voz repetindo teu


pranto.

teu angustiado e surpreendido espanto,


E, entre

de ti, de ti mesmo, em estão


tangê-las-ás
que

E esses corvos não vão.


esses corvos
fatais.

em alto estilo retomou o alexandrino.


O assim,
poeta,

ao fato de num
no mundo das devastações, cumpre aludir
Para não ficar apenas
que,

esperança se faz ouvir, logo'


da Invenção de Orfeu, um canto de
dos extremos finais

sob a imagem de uma flor com


a é em evidência,
naquele soneto no
qual palavra posta

força de redenção:

a vaga corrutela
Não
palavra,

corrompida degradada,
vã,
folha

abaixo dela,
de raiz deformada,

além, sobre a ramada;


e de vermes,

mas, a é a arrebatada

que própria flor

dos ventos: aquela


mas
pela fúria

cujo a chama iriada,


pólen procura

-flor
de a como vela:
fogo queimar-se
Ensaio s / 233

mas aquela dos sopros afligida, .

mas ardente, mas lava, mas inferno,

mas céu, mas sempre extremos. Esta sim,

esta é é a das mais ardida,


que flor flores

esta veio do início o eterno,


para

a árvore da vida há em mim.


para que

Na história da literatura brasileira é impossível encontrar tenha ousado tanto com


quem

a carapaça formal do soneto. de Lima abriu seus suportes estróficos à máxima


Jorge polis-

semia, habitando-a com os sentidos mais abissais da indagação humana.


234 / Poesia Sempre

Ilustração de de Lima
Jorge

o seu livro modernista


para primeiro

O mundo do menino impossível,

Maceió, 1926.

Edição rara.

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original de
do manuscrito
^4o /arfo: reprodução

de de Lima.

poema Jorge

de Castro.
de de Lima
Acima: Jorge
Jorge por
foto
238' / Poesia Sempre

Antonio Olinto

de Lima, Prêmio
Nobel?
Jorge

omemora a inteligência brasileira este ano, o centenário de nascimento e os


quarenta

anos da morte de de Lima considerado o excelência


(1893-1953), do Brasil.
Jorge poeta por

No âmbito das celebrações repito a revelação, sob todos os nós,


pontos prestigiosa para

de de Lima teria conquistado o Prêmio Nobel de Literatura se a morte não o


que Jorge

alcançasse antes. Sabe-se não existe Prêmio Nobel Fui, testemunha


que póstumo. porém,

de um teria dado o Nobel a de Lima volta de Soube-se


1958.
plano que Jorge por por

intermédio de meu amigo, o escritor sueco Artur Lundqvist.

O apartamento de Artur Lundqvist em Solna, Suécia, não diferia muito dos lugares em

noutras do mundo, escritores e escrevem. Estantes, livros, a mesa com


que, partes pensam

volumes abertos, laudas de e aquele silêncio indefinível emanar das t


papel, que parece

bibliotecas. Artur e sua mulher, a Maria Wine, falavam mansamente, ele mais do
poeta
que

ela, Zora e eu contribuíamos a conversa amigos, Brasil, Europa,


para geral, poesia, gente,

também os assuntos fluíam com mansidão. Foi se conhecia a América do


quando perguntei

Sul, Artur respondeu sim. Estivera no Brasil. Em 1948. Naquele tempo o avião
Quando?
que

ainda não muita viajava de navio. Foi de navio Artur Lundqvist


predominava, gente que

chegou ao Rio de Trazia-o um definido: conhecer de Lima. Diante


Janeiro. propósito Jorge

de minha evidente surpresa, explicou ter lido de de Lima em traduções e em


poemas Jorge

mesmo, no fora ajudado seu antigo trato com o espanhol. Uma com-
português que pelo já

marítima sueca oferecera a Artur uma viagem à índia. O navio fez uma escala de 24
panhia
descreve uma na identifiquei a nossa Mauá, e uma
horas no Rio de Artur
Janeiro. praça qual

vagarosamente. Trouxera o endereço de de


avenida, a Rio Branco, ele
Jorge
por percorrida

era residência, em lá chegando viu tratar-se de consultório


Lima, na Cinelândia,
pensava que

- -
dois o brasileiro e o sueco três horas
médico. Apresentou-se, e os
poeta poeta passaram

aumentou Artur me revelou a desse


comentando Minha surpresa
quando que partir
poesia.

com o da Academia Sueca, a


encontro, de volta a Estocolmo,
preparara juntamente grupo

Lima ao Prêmio Nobel de Literatura lhe seria atribuído volta


candidatura de de
Jorge que por

morte bem antes disso, em 15 de novembro de 1953-


de 1958. de Lima seria alcançado
Jorge pela

séculos de caminho de idioma revivido,


Foram necessários mais de
quatro percorrido,

de experiências dirigidas em várias um


recriado, recapturado,
profundidades, para que povo

à força interior. No começo, havia uma


voz de um dar expressão sua
pudesse, pela poeta,

outras, a emoção de uma


tentativa apenas, as estabelecidas eram
palavras já penetradas por

impedia a linguagem fosse conquistada. E o conseguiu


selva nova de termos
que poeta que

Lima, de sua trilha,


alcançar este de desbravamento, de teve
Jorge percorrer própria
ponto

tempo, em versos de boa feitura, mas ainda não enquadrados no espírito do


durante muito

grande poeta.

Invenção de Orfeu tem a sua estirpe. Vem de uma linhagem ser colocada
que poderia

Esta de nomes
nesta série: Grécia-Roma-Dante-Igreja Católica-Portugal-Camões-Brasil.
junção

religiosa é importante a compreensão do


de de e de uma instituição
para
povos, poetas

Invenção de é o mais brasileiro dos


de de Lima, Qrfen
poema Jorge principalmente porque

"Arma "As

virumque cano" e amias e os barões assinalados"


trabalhos escritos no Brasil. O

"Um

barão assinalado" não só repetição das


se unem naquele começo de
pela palavras,

representam a da tradição,
mas também, e daquela
porque permanência
principalmente,

não mata. O mal sempre na conservação


da tradição o tempo dos valores mor-
jaz
parte que

o sentido, do ritmo sem vitalidade.


tos, das imagens Há uma linha essencial

que perderam

até os nossos dias e um


vem desde os num determinado
gregos que poeta pode,
que poetas

dentro de sua linguagem.


momento, encontrar e colocar

estão ali, revitalizados, entremeados


Os símbolos de antigamente de novos símbolos, os
que

de seu tempo de vida. Dante,


o Brasil veio criando através Beatriz, Inês são tão e
presentes

e nos ritmos de
vivos como Iemanjá, nas de Lima.
Jorge
palavras

Na ao lado desenho de Di Cavalcanti. Fundação Casa de Rui Barbosa.


página
(

/ Poesia Sempre
240

Invenção de Orfeu está dividido em dez cantos. Embora o decorrer dramático, digamos

assim, de seus versos não seja aparente à leitura, acontece a unidade do

primeira que

"Fundação

é tal dificilmente lhe ser retirados alguns versos. Desde a da


poema que podem

"Missão

ilha" até e a obra cresce num arcabouço de de a língua

promissão," palavras que

se encontra há muito tempo afastada. Invenção de Orfeu está o de

portuguesa para poema

estava Virgílio. Uma direção de de modo


Camões como a Divina Comédia
para pensamento,

1Eneida' 'Invenção

de sentir as coisas, existe em todos os de a de Orfeu


quatro poemas,

"as

não mudam". As entidades do tempo de Virgílio são as mesmas de


Diga-se coisas
que

interessa à humana. A mudança foi apenas


hoje, ao menos no essencial
ponto que pessoa

o homem conquistou o conforto, inventou aparelhos e


superficial. Houve
progresso,

mas ficou no mesmo de angústia, de


máquinas, invadiu o espaço interplanetário,
ponto

- -

E as coisas a o céu, a montanha, o mar tudo está


de revolta, de felicidade.
prazer, pedra,

a mesma repercussão dentro do do homem. O


no mesmo lugar, com
pensamento poema

em lugar, às coisas. Nutre-se delas, molhando-as com o de exaltado


se dirige,
primeiro que

nelas existir o ímpeto de uma comunidade.

possa para

de hoje encontra, no mundo, as mesmas entidades de todos os tempos. A


Um
poema

exata, na apesar dos arranha-céus, dos de metal e


mulher continua
paisagem que, pedaços

ser a mesma do dia do mundo. Entretanto, Invenção


das naves espaciais,
poderia primeiro

está cheio de cenas, só uma


é um brasileiro,
de Orfeu
palavras, pensamentos que
poema

ter colocado na imaginação de um de Lima solidifi-


brasileira
poeta. Jorge
paisagem poderia

fazendo uma obra sendo da terra, do dos


a do Brasil no mundo,
cou
que, povo,
presença

universal. Este trabalho de ligação é colo-


lugares do liga o Brasil a uma corrente
que
poeta,

em nossa
ca Invenção de Orfeu em um nível sem
poesia.
precedentes

e, ao mesmo tempo, sua


da ilha' é a apresentação do esquemática.
Eundação
poema parte

dos versos do canto e, embora


nove cantos saem desse começo, brotam
Os outros
primeiro

empregar métricas de técnica diferente das


de Lima neste ou naquele trecho,

Jorge procure,

altos de em outros versos, o certo é


do canto e, embora atinja mais
poesia
primeiro pontos

'coisa', 'objeto',

uma estrutura de de em
os ritmos iniciais marcam a obra, dão-lhe
que
que

certeza de definitivamente conquistada.


a ligação Virgílio-Dante-Camões constitui uma
poesia

'Subsolo

supersolo', contém o melhor emprego da vogai


A VI do segundo canto, e

parte

'u'

material dos versos assume também ritmos de absoluta


tentado entre nós. A medida

originalidade.
bem iam resolutos,
Iam
juntos,

cúmplices, mas não impuros;


olhares

andavam devagar, indissolutos

e inútil.
num vago andar
feroz quase

Tarde de uns outubros.


Ele rodou-a.

Amado estupro.
Era uns desvãos.
por

e
Pegou-a em cheio.
Júbilos fmtos.

chocaram. Testas,
Carinhos se
púbis".

'Fundação
terrenos e é aí essa
em outros
ilha', de Lima
Depois da da que
Jorge penetra

vigor. É ainda em
um inesperado
a obra, surge como
unida a toda
indissoluvelmente
parte,

'Subsolo
versos, estava crian-
a colocara em
aparece. Camões
e supersolo' Inês
Quando
que

suas
da era cristã não
da latina
do Beatriz. As figuras femininas perderam
uma nova
poesia

de humana com-
ao contrário, uma aura
mulher, de fêmea,
características de
ganhando,

romanos nao
os e
faltavam ã antiga. Não
e mesmo de amor
que gregos
que poesia
preensão

repousar, mas
em todos temos de
a terra, a sólida ilha
sentissem a mulher como a base,
que

em toda a sua beleza


sentirem a mulher
faltava-lhes um elemento, a humildade,
para

é diferente. Possui
Camões e, no entanto,
de Lima é a mesma de
humana. A Inês de
Jorge

vinda de outros
a de Camões
e, ao mesmo tempo,
algo de brasileiro porque parece
precede

Inês como causa e


trabalho de colocar
à Grécia. Esse
tempos, a Dante. a Roma,
anteriores

realizações do
filha, é uma das
mãe e poema
efeito, anterior e grandes particulares
posterior,

contato com a figura de Inês,


tomada de
adota, nessa
cie de Lima, poético
primeira
Jorge que

o ritmo camoniano:

em repouso
Estavas linda Inês
posta

bela Inês;
mas aparentemente

não ouso
de teus olhos lindos

pois

não vês.
o torvelinho
que
fitar

dos rostos cobiçoso


O suceder

sob a tez;
sem descanso
passando

eram tudo memórias


fugidias,
que

não vias.
máscaras sotopostas
que
T

Sempre
242 Poesia

*
Ele será uma constante da
de Lima voltará a Inês, em várias outras do
Jorge partes poema.

de uma raça e como continuação


obra, como símbolo feminino de um idioma, de um
povo,

volta a Inês constituirá, em Invenção


mulheres dos de antigamente. A
das
grandes poemas

mulher feita de carne e tempo.


de Orfeu, uma fidelidade do à
poeta

'As

Logo no
Lima atinge uma linguagem apocalíptica.
No canto IV, aparições', de
Jorge

um novo alevantar de emoções,


de fato no e
começo, o cavalo
poema proporciona
penetra

com uma solidez de


em versos
pedra.
plasmados

um cavalo todo em chamas


Era
feito

alastrado de insânias esbraseadas:

sem tempo ele surgia


tardes
pelas

mesma eu lia.
e lia a
página que

firme, corpo de nos


aí, uma estrutura mais
Invenção de Orfeu adquire,
E ganha poema

uma série de aparições, entre as está


O canto IV continua com
moldes clássicos. quais

-
- de Virgílio na Divina Comédia e agora
o Dante se servira
na XIX
Dante que
que
parte

"repetida

numa viagem, sal constante". E


cie Lima numa nova
serve a
peregrinação,
Jorge

"a
'Poemas

da vicissitude', em estepe e a noite se


ao canto V,
de Lima
que
Jorge passa

'Inferno'

no de Dante, embora seja


e corresponde à do
deitaram poema
que parte
juntas"

a se aplicar o
com um senso de realização
inferno feito èm e
um que poderia
pedaços

'moderno'.

adjetivo

'Biografia',

o não dividiu em
de Lima é o canto oitavo,
O ceme do de
que poeta
Jorge
poema

em versos se sucedem em número,


os outros, mas colocou
como fizera com
que grande
partes,

de Orfeu. O canto é feito em sextetos e a


de toda a Invenção
os temas
com
principais

também a de um de uma tradição, de uma


a do mas
não é apenas
biografia povo,
poeta,

herança religiosa e humana.

forma o fio interno de Invenção de


Volta numa insistência
E Inês volta ao
que
poema.

a ilha, o mar, o a igreja, o sexo,


sendo a mulher,
Orfeu, ligando todas as suas
povo,
partes,

o desespero, o apaziguamento.
o sonho,

Inventar uma Inês eprocurã-la

nas das Ineses naturais.


faces

imposição dessa Inês


Ó dura
posta
Ensaios / 243

em sossego infantil entre salgueiros


_

e recomposta e sempre viva


para

contra as adversas, sempre santa.


forças

mistérios da Igreja Católica serviu-lhe de no cami-


A ligação de de Lima com os
guia
Jorge

-
nhar Foi, a fé uma fé não-conformista e
através dos símbolos de seu
poema. porém,

-
desassombrada mais altos da obra. A visão Lima tinha
o levou aos
que Jorge
que pontos

das de Orfeu todo o academismo da crença simplesmente bem


coisas arrancou de Invenção

comportada. ecumênica, assimilou as sombras e os


Como fé realmente católica,
gritos que

muito exclusivamente ao mundo maudit dos sem-


falso ângulo tem declarado
pertencerem

seus. aparece, na liberação de impulsos


A cada do é um estranho deus

página poema, que

ortodoxos do de vista religioso, sacodem o marasmo das firmezas


que, ponto petrificadas

hábito.
pelo

'Missão
- -
Em canto décimo do tudo se cumpre. Volta Inês, e
e
promissâo' poema

Beatriz, mas certa leveza de


e Lenora, e Maria. As correm, conservam uma
palavras passos

se do fim. O se reafirma, se fere, se rasga. E todo o de uma


aproximam
que poema peso

discursiva e o espantalho de um beco sem saída, deter a


poesia que pareciam
puramente

literatura coração
ocidental, se contra a sólida invenção de versos buscam o
quebram que

dos
significados.

Invenção Brasil, uma unificada. Nossas dependências de


de Orfeu confere, ao
presença

uma estilo, de um modo de falar, de um sistema de vida,


tradição, de uma igreja, de um

-
nossos tudo está nele, sub speciepoematis. A tradição está numa
desejos, nossas
paisagens

camada exige, de cada um de nós, um movimento de humil-


tão funda da consciência
que

dade. de Lima realizar sua reconquista e inventar


Por causa dessa humildade, o
Jorge
pode

um de nos e nos representa,


brasileiro excelência,
poema poema gênio, que justifica
por

como e como
nação, dona de uma cultura,
gente.

o Prêmio Nobel de Literatura há mais


Um teria dado ao Brasil de anos.
35
poema que
/

Poesia Sempre *
244 /

Ivo Barroso

O corvo e suas traduções

tal interdependência entre o conteúdo emoti-


em O corvo, de Edgar Allan Poe, uma

intuito de alterá-la concorre fatalmente


tentativa ou
vo e seu suporte estrutural,
que qualquer

do encantamento causado
a diluição ou mesmo a dissolução
poético precisamente
para para

essa combinação.
por

o resenhador chamava
em 29 de de 1845,
Desde sua
que primeiro já
publicação, janeiro

aliteração e o de sons em lugares


americano os efeitos de
a atenção do
para jogo
público

um clima susceptível de extravasar os senti-


se valia o criar
incomuns, dos
quais poeta para

de saudade angustiante e cruel fatalismo constituem


de amorosa,
mentos
que
perenidade

da emoção do Daí o malogro das tentativas de


do ou
os núcleos
poema.
geradores patbos,

fizeram Baudelaire e Mallarmé, apesar de


em como o
traduzi-lo
que poetas geniais
prosa,

-
de reproduzir, em língua francesa, as cores, os timbres e
no entanto, incapazes
se
julgavam,

os ritmos do original.

enfrentaram foi certamente a expressão-chave


Um dos óbices ambos
grandes que

"Nothing

assenta toda a sutil, contudo imponente


more", em cima da se
more/Never
qual

língua francesa não conta senão com os inexpres-


do Para tal expressão, a
estrutura
poema.

"rien

estão longe de reproduzir a sonoridade


e deselegantes de
sivos
plus/jamais plus", que

"never

more". crucial, os tradutores de língua


e o fatalismo do (Nesse
ponto portuguesa

"Nada

nossos mais/Nunca mais", além de começarem com as


sorte, os
tiveram mais
pois

equivalente, embora lhes falte aquela soturnidade


têm cadência
mesmas consoantes,
que

'oo'.)

resulta da oclusão dos

empenhados em reverenciar o feito de Poe


Por isso, embora feitas
por geniais poetas,

a literatura francesa através dessas versões é forçoso


tanta influência iria exercer sobre

que

elas nos fazem em ectoplasmas


comparadas ao original,
reconhecer
pensar poéticos
que,

lhes desse a voz, o viso e o vulto da


um corpo, uma forma física
aos faltasse
que
quais

'essência'

narrativa ali está, em requintadíssimas transposições,


viva: a alma) da
criatura (ou

'orquestração'

lhe daria corpo, completaria a cluali-


mas lhe falta a sonoridade da
que que

dade indissolúvel.
Ensaio s J 245

essa dissociação ao tentarmos, exemplo, traduzir literalmente


Vejamos como ocorre
por

a estrofe, apenas efeito demonstrativo:


primeira para

Ipondered, weak and weary,


Once upon a midnight dreary, while

meia-noite, eu
Certa vez, volta de uma sombria
quando ponderava,
por

fraco e fatigado

-
volume offorgotten lore
Over many a and curious
quaint

vetustos e curiosos de doutrinas esquecidas


Sobre vários volumes

napping, suddenly there came a tapping.


While I nodded, nearly

adormecido, de repente houve um batido


Ao cabecear de sono,
quase

^4s rapping, rapping at my chamber door.


some one
gently

Como se de leve tocassem, tocassem à de meu


porta quarto.

'Tis "tapping
-
some visitor', I muttered, at my chamber door

"É "tocando
-
algum visitante", murmurei, à de meu
porta quarto

Only this, and nothing more".

Apenas isso, e nada mais".

Percebe-se imediato, mais desejássemos, na versão literal, reproduzir o sen-


de
por que

valêssemos de alguns recursos aliterativos


tido das e sua nas frases, e nos
palavras posição

as foram de tal ordem


mais da da
que prosa, percebemos que perdas que
próximos poesia

invalidaram ritmo, a melodia do original, obtidos meio de uma conju-


a consistência, o
por

e assonâncias, rimas internas e repetições homófonas,


especialíssima de aliterações
gação

'clima'

e um sonoro dos decorre o encantamento do


dão ao texto uma cadência
quais
que

verso.

'ora'de "once"
"Once 'on' "upon"

upon", em o faz eco no de


De início temos aquele
que

'(p)on "pondered", "dreary"

vai frente, no de depois, temos o é uma


e repercutir, mais à
que

"weary"

final do verso, o vez,


rima interna o do sua integra o arrastado efeito
qual, por
para

"whileMeakMeaiy".

aliterativo No segundo verso, os recursos sucedem:


anteriores se

"over" "volume", "quaint "weak

and curious" and


ecoa em repete o efeito do
que que

'o'; "curious,
-
verso uma insistência de volume
weary" do seguidos tons em em
por
primeiro

"nodded"

no do verso seguinte. e versos,


of forgoten lore" e, em coda, Nos terceiro
quarto

'n': "nodded,

vemos uma seqüência de aliterações em nearly napping", e à utilização fun-


24.6 Poesia Sempre

'nap\ 'tap', 'rap\

cional dos dos verbos monossilábicos de efeito ono-


gerúndios
grande

matopéico
si sós, criam o clima do estranho e inesperado toque ou o arranhar
que, por

à do do numa meia-noite em ele, exausto, se debruça sobre singu-


porta quarto poeta, que

lares alfarrábios de ciências Não nos


esotéricas. despercebida a repetição insistente
passe

'o' "of "door"

dos sons em em some oné' salta o do fim do verso e, ainda em coda,


que para

"some
"ora/y, "nothing

o visitou" do verso seguinte e o moré' do refrão, com a intro-


para

's\ "as", "sorne", "tis", "some", "visitof, "this",

duçâo simultânea do efeito sibilante em com

"midnight"

contraponteado ao mesmo tempo um taquicárdico f a do do


por que, gerado partir

"quaint" "forgotten"

verso, reaflora em e do segundo, adquirir impulso em


primeiro
para

"there "genííf, "at", "Tis", "visitof,

carne a tapping' e em e se tornar insistente


prosseguir

"muttered', "tapping "

em at", e terminar na seqüência Onlythis, and nothing moré'.

Não o leitor comum com essa análise sucinta, tenhamos esgotado o mecanis-
pense que,

mo dos recursos ou intuitivos faz o cerne do O


procurados que pulsar poema. próprio poeta

"A

tentou explicar em Filosofia da composição" seus segredos de oficina, exibindo-nos as

entranhas de uma mosca azul; e estudiosos atuais, como e Macherey têm livros
Jakobson

inteiros sobre o assunto.

Evidentemente nenhuma tradução consegue todos os elementos do origi-


que preservar

nal, mesmo de um curto, de um simples haicai ou do famoso


poema poema-de-um-só-verso

'M'illumino
'salvar'

de Ungaretti: dimmensd? O virtuosismo do tradutor consiste em o máxi-

mo desses elementos, sem lhes alterar a forma e sem deixar o fôlego da


possível
que

emoção feneça, de modo a o na língua de chegada, suscite no leitor o mesmo


que poema,

impacto visual e emotivo o atinge na língua de Compete-lhe encontrar, em sua


que
partida.

língua, equivalências funcionar


(isotopias) como moedas de troca, o não é
que possam
que

a mesma coisa, mas o viável, em seu território lingüístico, se obter um valor aproxima-
para

do. Às vezes um excesso de virtuosismo e temos mais invenção tradução;


prejudica
que

temos um outro original do tradutor, apenas com o tema do autor se


poema,
que pretendeu

traduzir. Mas a falta de virtuosismo, de domínio do instrumento


leva a deságios
poético,

ainda mais danosos; não temos o autor, e as contrafações do tradutor nunca chegam a ser

poesia.

Diante de todos esses seria de se esperar O corvo, suas dificuldades


percalços, que pelas

inerentes, inibisse a tentativa dos tradutores; nada obstante, o à história


poema passou

literária como um dos mais traduzidos em todas as línguas e, só em


português, podemos
í

E n s a i o s 247

assinalar menos versões rimadas e metrificadas dignas do intento: em ordem


pelo quatro

cronológica, a de Machado de Assis a de Fernando Pessoa a de Gondin da


(1883), (1924),

Fonseca e a de Milton Amado


(1926) (1960).

Vejamos como se saiu Machado de Assis na tradução daquela estrofe:


primeira

Em certo dia, à hora, à hora

Da meia-noite apavora.
que

Eu, caindo de sono e exausto de fadiga.

Ao de muita lauda antiga.


De uma velha doutrina, agora morta.

Ia ouvi à
pensando, quando porta.

Do meu um soar devagarinho.


quarto

E disse estas tais:


palavras

alguém me bate à de mansinho;


que porta

"Há

de ser isso e nada mais.


Comprometido com os vezos de sua época entre os o da insus-

parnasianos quais

-
tentabilidade de versos com mais de 12 sílabas Machado começa mal, ao engordar a

compacta estrofe de seis versos numa estanca de dez, com métricas irregulares: 8-8-

poeana

12-8-10-10-10-8-12-8. Com isso o andamento lento maestoso do bem como


perde-se poema,

sua obtida contração do verso longo num verso curto,


aceleração no final da estrofe,
pela

vai A estrofe machadiana apresenta-se, isso, diluída e, em muitos


constituir o refrão.
que por

enchimentos inúteis, explicam demais, em da


casos, repetitiva, repleta de sín-
que prejuízo

do original. Além disso, Machado, em seu empenho


tese e acumulação energética de contar

uma cima dos efeitos especiais conseguiram transformar história


história, essa
que
passa por

em É estivéssemos lendo um desses de salão do século


como se
poesia. poemas passado

'ouvindo-o'

declamado alguma senhorita.


ou, melhor ainda, E a
por prendada grandiosidade

de na impossibilidade de datá-lo, antigo ou


O corvo está de considerá-lo
precisamente

velho, inscrito está na categoria ímpar dos


definitivamente eternos.
que poemas

Fernando Pessoa teria tudo conseguir a tradução ideal; de com domínio


para poeta gênio,

absoluto sobre a técnica do verso, bilíngüe, da determinação de repro-


perfeitamente partiu

"ritmicamente

duzir o em conforme com o original". Aparentemente essa


poema português
J

248 Poesia Sempre

conformidade seria obtida, segundo seu ideário, com a utilização de um verso longo com-

de dois heptassílabos independentes,


isto é, sem cesura, terminando o refrão
posto com um

heptassílabo simples.

Essa é, esquematicamente,
a estrutura do original inglês, a contagem é muito mais
(em

complexa,
envolve, além da de número, noção
a de tempo). às rimas,
pois as suas
Quanto

se localizam nas equivalentes.


posições

Vejamos:

Numa meia-noite agreste, eu lia, lento e triste.


quando

Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais.

E adormecia, ouvi o
já quase que parecia

O som de alguém batia levemente a meus umbrais.


que

vstá
"Uma

visita", eu me disse, batendo a meus umbrais.

É só isso, e nada mais.

"agreste",

A taxa de câmbio aqui é alta; Pessoa começa com aquele


embora
poética
que

"Vagos"

não rime com triste, como seria ideal, vai repercutir no


do segundo
perfeitamente

"lia,
't'"
verso; recobra-se da rima toante com a bela aliteração lento e triste", cujo

prossegue

"tomos" "ancestrais" "batia

em e e ressurge em levemente/Uma visita/está batendo/É só

"ciências

isto". Outras belas associações; ancestrais/ batendo a meus umbrais". Mas há

per-

"adormecia", "parecia", "batia"

das outras, além da rima toante; a rima tríplice


é de ingênua
,

facilidade, e surpreende constatar ao longo da composição, resolver esse


que,
para proble-

ma, um da categoria de Pessoa lance mão de recursos tão canhestros os da uti-


poeta
quanto

lização de e esbarrando na banalidade; a métrica frouxa menos


gerúndios pretéritos, (pelo

"cu/ri/o/sos" "ci/ên/cias"

ouvidos brasileiros) e compromete um tanto o andamento


para do

"ou/vi

verso, se atropela no hiato seguinte:


// o/
Além disso, há certas
que que/ pa/re/ci/a".

colocações estão os ouvidos e a dicção


mas não soam
que perfeitas para portugueses,
que

"Como

espontâneas aos nossos. Ao longo do expressões como:


eu a madru-
poema,
qu'ria

"aquela "e
"o

bulha é na minha eis com muita negaça", bordão


gada", de
janela", que

"e

desesperança" e abri largos, franqueando-os, meus umbrais" são de molde a causar certa

"nepentes"

estranheza ao leitor brasileiro. Fernando transforma o forte


num
poeano

"esquecimento"

inespecífico incongruentemente
("Tome-o") e dilui o
potável
personalíssi-

"Gilead" "bálsamo

mo num mero
(Galaad) longínquo".
Ensaios 1 249

Por fim, a leitura dos textos e deixa a impressão de o


paralela poeano pessoano
que por-

tuguês, ou melhor, a língua não conseguiu conservar aí a equivalente majestade


portuguesa,

tonai; apesar de manter o mesmo número de sílabas, o texto traduzido


menor. Essa
parece

impressão decorre da escolha de Pessoa; a isologia métrica, no


caso, não era o
presente

heptassílabo, mas o octossílabo, como mais tarde veremos.

A tradução de Gondin da Fonseca, talvez a mais conhecida de todas, às inúmeras


graças

reedições de seu livro Poemas da Angústia Alheia, está cheia de boas intenções, mas não vai

muito além: altera o esquema rímico, rimando os dois versos em e


primeiros parelha passa

solenemente cima das rimas internas. Contudo, tem um mérito especial; seu verso está
por

mais do ritmo majestoso de Poe, só sem dominar suficientemente o instrumen-


próximo
que,

to não conseguiu dele arrancar nem o fluxo natural da narrativa, nem os efeitos
poético,

especiais a transformam em
que genuína poesia.

Vejamos sua estrofe inicial:

Certa vez
à meia-noite, eu lia, débil, extenuado,
quando,

um livro antigo e singular, sobre doutrinas do


passado,

-
meio dormindo, cabeceando, ouvi uns sons, trêmulos, tais

como se leve, bem de leve, alguém batesse à minha


porta.


"que

um visitante", murmurei, bate, leve, à minha


porta.

Apenas isso, e nada mais."

Vez outra, no entanto, surpreende obtendo, em momentos culminantes, traduções


por

mais fiéis e os outros tradutores. É o caso, exemplo, do


poéticas que por

Teil me what thy lordly name is on the night's Plutonian


shore

"Como

te chamas tu na noite umbrosa"


(Machado)
grande

"Dize-me

o teu nome lá nas trevas infernais"


(Pessoa)
qual

"Qual

é teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu no inferno torvo"


(Milton)

Gondin nos devolte sob a forma de


que

"Que

nobre nome é acaso o teu no escuro império


de Plutão"

"escuro"
onde tudo corresponde ao original, embora a
do adjetivo comprometa, de
pobreza

'ais'
certa forma, a eficácia do verso e a rima não se coadune com o do refrão.
Poesia Sempre

Encontrar o ritmo isotopicamente certo, a embocadura como se diz em música, observan-

do o andamento largo sem descurar dos ressaltos vocais aqui e ali, como numa composição

sinfônica, foi obra um nasceu


de desconhecido, e viveu em
jornalista praticamente que

Minas, trabalhando à sombra de outrem. Milton Amado fazia da redação


(1913-1974)
parte

de O Diário, de Belo Horizonte, e, em Oscar Mendes, traduziu a em


com obra
parceria que

verteu o a de Poe, editada inicialmente Globo, de Porto


prosa, para português poética pela

Alegre, em 1960.

Eis a estrofe da versão de Milton, talvez ainda um à desavontade, mas


primeira pouco já

os vôos em seguida obteria:


prenunciando grandes que

Foi uma vez: eu refletia, à meia-noite erma e sombria,

a ler doutrinas de outro tempo em curiosíssimos manuais,

e, exausto, adormecido, ouvi de súbito um ruído,


quase

tal se houvesse alguém batido à minha devagar.


qual porta

"É "que
- -
alguém" fiquei a murmurar bate à devagar;
porta,

sim, é só isso e nada mais."

"weak.

Observemos: no verso não foi mantido o adjetivo duplo aliterativo and


(
primeiro

weary") o mas o conjunto se aplica a meia-noité e sombria"),


("erma
qualificando poeta,

'é'

colocado, como em Poe, no final do verso. Foi o som do em


("dreary")
preservado

"vez",'"refletia", "meia-noite", "erma" "de", "tempo", "em", "alguém".

e, em coda, em ler",

"adormecido"," 'batido"

Foram mantidas as rimas tríplices ruído", categorias


(de
gramaticais

't' "refletia": "noite", "doutrinas", 'tempo",

distintas) e a insistência do martelado a de

partir

"exausto", "súbito", "batido".

O ônus da fica conta da impossibilidade de salvar a


perda por

'rap', 'nap\ 'tap\ 's'

onomatopéia dos verbos monossilábicos mas salvou-se o sussurro do a

'houvesse"
"curiosíssimos",

de se reforça em terminar naquele obsessivo


partir que para

'Sim",
"Sim,

é só isso e nada mais", acentuado não consta do original, mas fun-


pelo que

ciona aqui como reforço sibilativo e não mero enchimento como em Machado de Assis.

Aliás, em momentos cruciais do Milton soube introduzir alguns outros apoios


poema,

sonoros, inexistentes no original, atuam como uma espécie de efeito de compensação


que

anteriores. Ao introduzir o longuíssimo segundo verso, em não há uma só


pelas perdas que

vírgula e onde aparece um trissílabo e um métrico, Milton fixa definitivamente


pentassílabo
o tom solene e largo do agora flui, caminha, escorre, extravasa. A daí os

poema, que partir

versos e achados se sucedem numa coleção de de toque:


pedras
grandes

Ah, distinctly 1 remember it was in the bleak December,

ember wrought itsghost upon thefloor


And each separate dying (...)

relembro! Era no dezembro


Ahi claramente eu o
gélido

o chão de sombras fantasmais


E o fogo agônico animava (...)

sad, uncertain rustling ofeach curtain


And the silken,
purple

-filled
me with terrore neverfelt before
Thrilled me (...)
fantastic

A seda rubra da cortina arfava em lúgubre surdina

arrepiando-me e evocando ignotos medos sepulcrais


(...)

Deep into the darkness long I stood there, wondering,


peering, fearing

Doubting, dreaming dreams no mortal ever dared to dress before


(...)

Sondei a noite erma e tranqüila, olhei-a fundo a


perquiri-la,

sonhando sonhos ninguém, ninguém ousou sonhar iguais


(...)
que

E esta de soluções rímicas e adequações vocabulares:

jóia

Open here Iflung the shutter, when, with many a and


flirt flutter.

In there slepped a stately Raven of the saintly days ofyore.

Not the least obeisance made he, not a minute stopped or stayed he.

But with mien of lord or ladyperched above my chamber door-

Perched upon a bust of Pallas above my chamber door-


just

Perched and sat, and nothing more.

em tumulto, a esvoaçar, um vulto:


Abro a e eis
janela que, penetra

-
egresso de eras ancestrais.
é um Corvo hierático e soberbo,

Como um fidalgo augusto e, sem notar sequer seu susto,

passa

-
busto uma escultura de Minerva,
adeja e sobre o
pousa

e se conserva ali, no busto de Minerva,


bem sobre a
porta;

empoleirado e nada mais.

leitura destes exemplos nos convence de diante e do


A simples estamos da oratória
que

compasso do Não nos esqueçamos O corvo é um oral e


poema. que grande poema que

seu autor adquiriu notoriedade declamando-o em Diversamente do ocorreu à


público. que

maior da dita retórica, O corvo, no entanto, superou o discurso meramente


pane poesia
Poesia Sempre
252

emotivo suas intrínsecas e se tornou um exemplo de texto de


pelas qualidades poéticas

- -
análise ser meditado. A tradução do a de Milton Amado
para grande poema preserva

ambas as é oral, declamativa, fluente, emocionante; e é um texto denso, rico de


qualidades;

invenções, de compensações, e salvamentos, se ao estudo semióti-


preservações que presta

'mécano'

co. Não estamos diante de um construído nos laboratórios universitários da

tradução o deleite de meia dúzia de discípulos basbaques, mas diante de um

para poema

'vivo', "um

de aceitação ampla e corrente. Como disse o Poe, só o é


próprio poema quando

emociona, intensamente, elevando a alma... tive firmemente em vista o desejo de tornar a

todos". Também neste .Milton lhe foi fiel. Embora fizesse um tra-
obra apreciável
por ponto,

rotineiro e de encomenda, como outras traduções fizera e viria a fazer, creio


balho
que que

Milton, esmagado ambiente estreito da encontrou em Poe a realização abso-

pelo província,

Sua vida era bastante semelhante à dele, com todo o amargor das incom-
luta de seu
gênio.

e da falta de dinheiro. Traduzir sua foi uma forma de afirmar-se, uma

preensões poesia

espécie de identificação.
A R I A
V

'
Rubens Gerchman

Desenho

Caneta sobre
papel

22.5X17 cm
/ 255

v. RSO E VERSÃO

Ivan

Junqueira

'Salut',

de Mallarmé

orno ocorreu nos dois números anteriores de Poesia Sempre, esta seção tem
já por

finalidade oferecer ao leitor as distintas tradutórias de um mesmo texto


possibilidades poéti-

co, assim àqueles se interessam arte de traduzir uma visão multifacetada


permitindo que pela

às suas exigências semânticas, mórficas e fonéticas, bem como às inter-


quanto quanto

esse mesmo texto suscitar.


pretações que poderá

'Salut',

Escolheu-se desta vez o de Stéphane Mallarmé, aqui traduzido, em épocas


poema

distintas, Augusto de Campos Paulo,


São Perspectiva, 1974), Dante Milano
(Mallarmé,
por

(Poemas traduzidos: Baudelaire e Mallarmé, Rio de Boca da Noite, 1988), Lino


Janeiro, José

Grünewald de Stéphane Mallarmé, Rio de Nova Fronteira, 1990) e Cláudio


(Poemas
Janeiro,

Veiga da Rio de Record, 1991).


(Antologia
poesia francesa, Janeiro,

Recitado Mallarmé anos de idade, em 15 de fevereiro.de 1893,


aos 51 o autor
por quando,

'Salut'

o banquete da revista La Plume, é um dos mais famosos de


sétimo seus sone-
presidiu

tos e um dos mais exegeses de críticos e ensaístas. É um


suscitaram no de
que poema qual,

certa forma, algumas das matrizes do texto mais


se esboçam tarde, Mallarmé iria
já que,

desenvolver apicais, Un coup de dés,


em uma de suas obras como a viagem, o mar, a
página

em branco, a busca na solidão. Entre os exegetas


do absoluto tentaram decifrar o texto,
que

lembrem-se Charles Mauron, Wallace Fowlie, Albert Thibaudet,


Charles Chassé, Guy

Michaud, Pierre-Olivier Walzer, Pound e Walter Benjamin.


Ezra Parece-nos

particularmente

arguta a interpretação de Thibaudet, segundo o


realiza aqui a conotação
quem poeta
que

"verso" "taça"

existe entre e à equivalência homófona de duas france-


graças quase
palavras

"o

sas,
verre e vers, sustentando ainda terceiro final não seria bem uma frase,
que porém

uma
constelação de 15 em volta da em branco", como observa Grünewald
palavras página

em
comentário
ao em
poema pauta.
s i a Sempre
256

Salut

vers
vierge
cette écume,
J^^ien,

la coupe;
A ne designer
que

une troupe
se noie
Telle loin

à 1'envers.
mainte
De sirènes

divers
ô mes
naviguons,
Nous

sur la
moi déjà
Amis, poupe

coupe
fastueux
Vous l'avant qui

et d'hivers;
de foudres
Le flot

m'engage
belle
Une ivresse

tangage
même son
Sans craindre

ce salut
debout
De
porter

récif, étoile
Solitude,

valut
ce
A nimporte
qui

toile.
de notre
souci
Le blanc
Brinde

de Campos
Tradução de Augusto

verso
virgem
ada, esta espuma,
N,

a copa;
mais
A não designar
que

uma tropa
se afoga
Ao longe

vária ao inverso.
De sereias

meus fraternos
ó
Navegamos,

a
eu sobre
Amigos,
popa

topa
em
Vós a que
pompa
proa

e de invernos;
A de raios
onda

me faz arauto
Uma embriaguez

do mar alto,
medo ao
Sem
jogo

este brinde
Para erguer, de
pé,

recife, estrela
Solitude,

no fim de
o há
A não importa
que

nossa vela.
afã de
Um branco
258 Poesia Sempre

Brinde

Tradução de Lino Grünewald


José

N,ada, esta espuma, virgem verso

Apenas denotando a taça;

Como longe afogam-se em massa

Sereias em tropa ao inverso.

Navegamos, meus
ó diversos

Amigos, eu sobre a
já popa

Vós a rompe em
proa que pompa

As vagas de trovões adversos.

Empenho-me em voragem
pura

Sem mesmo temer a arfagem

A, de este brinde erguer:


pé,

Solitude, recife, estrela,

A não importa o valer


que

O alvo desvelo em nossa vela.


Saudação

Tradução de Dante Milano

N,
ada, esta espuma, virgem verso

Apenas designando a copa;

tal mergulha ao longe uma tropa

De sereias, uma ao inverso.

Nós navegamos, meus diversos

Amigos, eu atrás, na
popa;

Vós na alta
proa que galopa

Contra e raios adversos.


o inverno

embriaguez me lanço
Nesta bela

Sem mesmo temer o balanço

A erguer a saudação de

- -
Solitude, recife, estrela

Ao for digno, a tudo é


que que

O branco afã de nossa vela.


260 Poesia Sempre

Saudação

Tradução de Cláudio Veiga

N,ada, esta espuma, virgem verso

Tão-só a taça nomeando;

Como além sereias em bando

Se afogam muitas ao inverso.

Navegamos, ó meus fraternos

Amigos, eu estando atrás,


Na altiva vós cortais


proa

Fluxos de raios e de invernos.

Pela ebriez eu sou levado

Sem recear o seu


gingado

A erguer de a saudação

A toda coisa revela,


que

Recife, estrela, solidão,

A inquietação da branca vela.


/ 261

D EPOIMENTO

Cabral de Melo Neto*

João

O cão sem e O rio


Por escrevi

plumas'
que

tinha acabado de a Psicologia da composição,


JEjstava em Barcelona,
morando
publicar

Naquele tempo eu andava muito


certo iria mais escrever
de não
poesia. preocupado
que

arte. Sou recifense, minha família é de senhores de engenho


com da
o sociológico
problema

materno, intelectuais, minha mãe era Carneiro Leão. Nasci no


lado e, lado
pelo pelo
paterno

mas sempre tive contato com a capital onde nos


Recife no engenho,
e me criei
para

eu tinha dez anos. Veio a revolução de meu era da


mudamos de vez
30,
quando pai que

foi revolucionário tomou conta de Pernambuco.


situação
perseguido pelo governo que

Assaltaram seu engenho à de armas. Ele desgostou-se e se desfez do engenho


procura para

no Recife. De forma aquelas coisas dos nomes, Capibaribe, tudo isso


advogar
que Jaqueira,

Nasci na de meu avô materno na frente do rio, na E nós


me marcou muito. casa
Jaqueira.

sempre estivemos em volta do Capibaribe.

escrever, havia chegado a um


Estava então em Barcelona, certo de não iria mais

que porque

da composição não fazia mais sentido


tal extremo de intelectualismo com a Psicologia
que

eu estava muito naquela época com


seguir aquele caminho. Ao mesmo tempo,
preocupado

de arte, a sua utilidade, seu caráter sociológico. Foi


o aspecto da comunicação da obra
quan-

de economia muito conceituada, O obser-


estava folheando uma revista
do um dia eu
política

recebia. Nela havia um artigo revelava uma


vador econômico e o consulado
que
financeiro, que

de vida era de 29 anos, enquanto no Recife, era


estatística de na índia a expectativa
que
que

mim. Todo o mundo acompanhava com a


de 28 anos. Isso foi um choque terrível
para

da índia ignorando completamente o Recife. Então escrevi


maior o
piedade problema

Depoimento em setembro de 1993¦


gravado
262 / Poesia Sempre

O cão sem falando dessa desalagada do Recife, usando uma


plumas', linguagem a
gente

estava habituado, uma linguagem mais metafórica, a mesma da Psicologia


qual da com-

'O

e dos meus livros anteriores. Em cão sem com esse tipo


posição de linguagem
plumas',

tento retratar uma realidade social. Por isso existe no vamos dizer assim, essa
poema,

ambigüidade,
uma linguagem hermética falando da miséria e dos males do capitalismo. Nâo

é essa ao meu ver a forma ideal se tratar desse assunto.


para

Bem, de Barcelona fui Londres onde estive mais de dois anos. Por volta de 1955
para

voltei ao Brasil. E foi aqui numa roda onde estava o Vinícius, num almoço lá no Itamaraty,

'O

uma colega nossa, uma mulher muito inteligente e sensível elogiava cão sem
que

"Berta,

Então, de repente me veio aquela idéia: você não viu nada, você vai ver
plumas'.

'O

o rio falar." Surgiu desse comentário a idéia de rio', o monólogo do Capibaribe.


quando

Nessa época havia aquele concurso do centenário de São Paulo e o Vinícius, concorreu
que

com a sua Orfeu da Conceição, me disse: você vai concorrer, não vai?" De modo
peça João,

foi no monólogo do rio eu consegui escrever sobre a realidade social usando


que uma
que

'O 'O

linguagem mais direta, sem aquele hermetismo todo de cão sem E rio'
plumas'. ganhou

o concurso.
/ 263

R E S E N H A S

Baile Poemas de Câmara, Francisco Marcelo formação da estrutura imaginada ou


pelo poeta,

-
Poeta seja, trata-se de do começo em diante:
Cabral. Edição Rosa),Impressa
(Sub poesia
pelo

Poesia sem fim. Mas Poesia com finalidade e,


1993- 40p.

sobretudo, com de conceituação.


de Victor Giudice)
(Resenha possibilidades

A voz de Francisco Marcelo Cabral


poética

energia cinemática, base indiscutível de


possui

rancisco Marcelo Cabral é da mais toda arte se Trocando em miúdos, a


poeta que preza.
/ yT

JL alta linhagem. A classificação é válida imagem não surge e,


gratuita principalmente,

há de linhagens desiguais, sem estática ou morta, como acontece nos acima


porque poetas

falarmos nas duvidosas, hoje, são as mais referidos exércitos de substantivos, blocos de
que,

freqüentes. Vive-se uma época em ser concreto formados signos lingüísticos, sem a
que por

é ser. Devido a isso, encontram-se em mínima esperança de locomoção. A


poeta poesia

cada esquina os estigmas do substantiva é um engano não muito ledo,


pensar-que-são,

sem ser: de rabiscado recheando muito lerdo, apesar de até ser lerdo
pilhas papel porque para

centenas de bolsas a tiracolo desbotadas e, ser necessário um mínimo de energia


cinemáti-

mais recentemente, exércitos de substantivos ca. No caso da e de outras artes, a ener-


poesia

cinemática e deve surgir do


irresponsáveis, diagramados em três-oito-meias
gia pode potencial

narrativo dos temas abordados. Em Sete anos de


meio tresnoitados repetição.
pela

minúsculo servia a Labão, e Camões nos conta


Estas assoalho
pastor; Jacó
quarenta páginas,

servia. E vai contar até o último


onde se desenvolve o Baile de câmara,
porque Jacó
poemas

reve- segundo do último milênio: sempre haverá um


são responsáveis mais surpreendente
pela

-
chamar de estado ouvido interessado em escutá-lo.
lação do
que poderíamos

-
de vasqueira Intuitivamente ou não, Francisco
ocorrida nesses tempos Marcelo
poético

anteriores de representa as informações meio núcleos


imaginação estética. Em livros de
por

O centauro narrativos, isto é,


Francisco Marcelo Cabral, como cada encerra o acon-
poema

1949) ou tecimento habilita forma Este


Edições Meia Pataca, a
(Cataguases,
que poética.

1979), se mecanismo extrato lúdico


Inexílio de Imprinta, alimenta o
(Rio
Janeiro, já produzido

observam a espontaneidade do texto e sua leitura. Lido o verso, não há


pela primeiro

travessia lúdica crivo Mas na como não lermos o segundo, o terceiro e


pelo poético. quan-

coletânea do Baile não há um só momento, um tos houver, nutrir nossa inteligência com a
para

só verso, uma só vírgula não colaborem na inteligência nos é oferecida.


que que
e m r .
Poesia S
264 p

Sintonia. Natalício Barroso. Rio de


Janeiro.

'
ão eu, a tenho em
Na.
que, pedaços

Achiamé, 1992. 47p.

e apenas recompô-la
procuro
deAlberto Silva)
(Resenha

como a um arlequim desfeito, exposto

~w
a só se malbaratado. C C
perder, y

stou como um ausente / à


parado porta

E da agonia. Nada espelha a minha


/

Eu não! Outros a vão buscar, úmidos


que

nem ilumina o meu dia".


esperança /

do suor reminerado.
próprio

A mim me cabe mais: a vida é um

Esses esplêndidos versos de Natalício Barroso bem

respirar esperançado.

sua de reflexão interior, confessio-


definem
poesia

nal e dilacerada ausências e desencontros.


por
Sou o e me lanço
pássaro

Mas nesse volume de 47


Primavera.
precioso
a toda a liberdade, o olho contra o sol

- -
recém-editado Sintonia nem sempre
páginas
e contra o vento as como
penas,

ele resolve abrir as vísceras expor as entra-


para

-
só e sem mais ruído nhas em muitos casos até mesmo surge à luz
se afasta
quem

um ligeiro adejar de asa acesa do dia elevar o canto estivai da natureza:

que para

"Eu

lã em Minas, repousar. te amava tanto, / fechei


e vai,
primavera, que

meus olhos durante o outono / abri-los


para

chegasses. Mas tu não chegaste,


/
quando pri-

Não há intelectual igualável ao


mavera. Ficaste escondida detrás dos
prazer que /
por

enquanto caminhamos
experimentamos, nos bosques, onde
pelas edifícios / e mesmo
grandes

de um como Olha a boba na


sendas Mas te
fui atrás de ti, tu não estavas. /
poema /
quem

energizados em cada verso


Os episódios
carregou longe,
janela.
para primavera?"

do estético semeado
nos através
gozo O sol. Nesse diapasão, e após o canto
guiam
primaveril,

Nietzsche
tragédia do
presente. surge espontâneo o tema solar, sempre recor-
pela personagem.

de Cataguases,
Mineiro de boa estirpe
rente nessa de natureza romântica e líri-
poesia

Minas Gerais
Francisco Marcelo Cabral utiliza -
ca:" Um dia me surpreendi. Havia um raio de
/

da dinâmica
como emblema repousante
sol escondido no meu
própria
guarda-roupa."

"...como/

se afasta só
transmitida, Para logo a seguir, e ainda consagrando o tema,
poética quem

adejar de asa
e sem mais ruído/ um ligeiro fim
lamentar o da aurora numa simples constatação:
que

"De

acesa/ e vai, lá em Minas, repousar".


manhã eu sei o sol vai morrer depois
/
que

o -
Na epígrafe de Baile de câmara,
das dezoito horas" numa longínqua emulação
poemas

"a

um fragmento de
reproduz célebre verso
do de Lorca: Ias cinco en
poeta pequeno
punto

Guimarães Rosa, outro mineiro respeitável:


de la tarde."

"Viera

de festa." Nada
O tempo. Aliás, não apenas o sol e a
por precisar poderia
primavera

de maneira mais completa nossa avidez


definir figuram no inventário do autor
afortunado

ao virarmos as do Baile, em
bendita, insistente, a
igualmente o tempo se manifesta
páginas

busca de nova dança.


respirar as horas tortuosas e massificantes:
Resenhas / 265

"Às
"Quero

cinco da tarde os manequins descem das seu corpo: sair de mim mesmo/ como

-
vitrines, no Rio de atravessam
/ as ruas um viesse do fundo de
Janeiro,
potro que galopando

-
se confundindo com os homens
/ e se minha alma."
proje-

tam nas luzes de neon. Ninguém


/ diz nada, E, como uma lição de sabedoria, conclui é
que

não tumultuar -
o trânsito, / mas os navios não fazer muito esforço deixar
para o
preferível

se chocam nas águas da Guanabara às cinco da espaço se mover e o tempo caminhar. O


poeta

tarde."
se desencanta com o ser e o estar no universo e

O não deseja o de uma con- balbucia, silencioso e esmaecido, um débil


poeta prelúdio

fusão, odiaria essa aparente certeza e melhor ficar Nada vai


quebrar protesto:"É quieto./

não cabe a ele a tarefa de domar o caos e aparar mudar o mundo,/ nem mesmo a tua A
poesia./

as arestas da fúria contraditória. Antes, con- tua aliás,/ foi um descuido./ Não estava
pelo poesia,

trário, ele apenas se limita a fotografar as mas É melhor ficar


previsto./ quieto."

de seu de observação, a
posto paralisando

imagem no tempo: Nessa catatônica, triste e desanimada


postura ("a

"E

os homens caminham / calados e taciturnos / minha dor é um minotauro"), ele chega ao

como sombras numa explosão." limite do desinteresse e tudo de lado:


põe

"Desço

A crise de identidade. A desses temas cen- como uma âncora numa


par deserta./
praia

-
trais detectados na de Natalício Barroso A minha tristeza é
poesia não ter os cabelos compri-

o surgimento da aurora boreal como altar ante o dos/ nem a barba longa o vento."
para

se desencadeia a festa da natureza e a terri-


qual

ficante e inútil marcação do tempo a acossar os

ouvidos humanos como sinos badalando as

horas -,
na ânsia de explodir os tímpanos Definição
gerais

assoma às
do livro
primeiras páginas questões

diametralmente opostas, onde o aban-


poeta

venho de uma terra em os homens


que

dona as ruas e a reflexão exterior acolher-


para

uma cadeira na calçada e se


põem

se ao seio tranqüilo da meditação e do monólo-

cumprimentam no meio da rua.

interior.
go

De vez em contam uma história


quando

Como resultado, se evidenciam a crise de identi-

mal-assombrada

dade, o drama existencial e o


questionamento

amedrontar as crianças
para

de seu significado enquanto ser/poeta:

e riem de si mesmos nos braços da cadeira.

"E

afinal és tu? E de maior do


quem que país

Longe o mar
ficava

este chegaste? e te trouxe a esse


/
que quem

e os navios atracados nos livros de


geografia;

de hospedaria e te deitou na cama


/
quarto

os aviões decolando nos mapas escolares

onde dormimos e esquecemos?"


e os
automóveis buzinando na
primeiros

Nesse estado de espírito nas


ele desemboca

Capital.

veredas e vertentes da fuga à limitação do seu

espaço físico e das onde encerra


quatro paredes
266. / Poesia Sempre

dos Rios. Fernando Paixão. São Paulo, certamente viveram com intensi-
Fogo
pura poesia

Brasiíiense, 2a edição, 1992. 80p. dade estrelas em vertigem


Editora
prazerosas perma-

de Afonso Henriques nente. Heráclito é livre, inventor forte,


Neto)
(Resenha
pensador

mago e Seu verbo é conciso, lapidar, uni-


poeta.

A ntes tudo, versai. Fala do vê com olhos obliquamente


de foi bela a idéia de Fernando
que

Ã. J_ Paixão: tomar referência o cravados no invisível.


como
pensa-

mento VI a.C.) e E como se comporta então o Fernando tendo se


de Heráclito de Éfeso
(século

o árduo desafio de manter diálogo


construir curtos referentes a cada um
poemas proposto

algo contrapontístico com a chama aguda do


dos fragmentos restaram do filósofo.
que

todas as heraclitiano? Minha avaliação é bastante


Heráclito via no fogo a essência de
gênio

Li de uma só respiração
coisas, à semelhança de Tales de Mileto
que já positiva. primeiramente

o livro, deixando-me levar labirinto de ima-


ser a água o absoluto ou o
princípio pelo
propusera

o movimento criadas com segurança de conhecedor.


de tudo. Heráclito também
pensa gens

Depois li cada e o respectivo fragmento


e o efêmero, comparando os seres ao fluxo de
poema

E se às vezes
um rio, onde nada/ninguém se banharia duas heraclítico.
pude perceber que

se correspondem muito de de outras


vezes. Centelha e água corrente, matrizes do eles
perto,

Fernando: fogo dos rios. há como apenas ressonâncias ao


título encontrado
por que pálidas

de considerar Heráclito um longe, ou ainda completa independência cerca-


É longa a tradição se

"obscuro',

tornado ainda mais difícil da até referências biográficas de Heráclito. É


por
pensador

de ter ficado de seus escritos apenas trabalho complexo e muito bem urdido. E
em razão
pois

de cem fragmentos, em improba- Fernando consegue sempre alcançar uma


mais
quase
pouco

Mas se os intér- dicção metafísico-epigramática, de boa


bilíssima ordem seqüencial.
precisa,

digladiando tempo voltagem Ou mantém com raro


se vêm seja,
pelo poética.
pretes/exegetas

do ilustre equilíbrio um vôo moderno sobre o'vapor do


afora sobre a obscuridade/claridade

os se aproximaram ocidental amanhecendo.


todos
pensamento
pré-socrático, que

'Enterro-

de Exemplificando, citemos
com o olhar encharcado o 4:
do texto heraclitiano
poema

me no esterco/ farejado Voltarei no


cães./
pelos

escorrer das fontes/ no dobrar ventos/ no


dos

interior das O fragmento 4 correspon-


Sol
pedras."

"se

dente diz a felicidade nos


Sol. estivesse
que

do corpo, diríamos felizes os bois


Sol.
prazeres

encontram ervilha É nítido


Cabeça comer."
quando para

ter Fernando aqui se afastado do


erguida de ombros
que pensamento

de Heráclito e optado narração de fato


língua de boca
pela que
que

dedo divino? acontecera ao filósofo, teria


de
pretensamente que
ponta que

se enterrado em esterco se tratar da


Deixa o sangue claro
quente para

hidropsia o iria acabar matando: sempre a


banhar-nos
que

olhos-luz. busca do equilíbrio entre os elementos


primor-
V

Resenhas / 267

diais, fogo e água. o 12 esenhar nove volumes de de


Já poema poemas

úmidas") corresponde direta- R nove autores distintos: desafio.


("Rio/águas/almas Mesmo

"Aos

mente ao fragmento de igual número: com oscilação de 12 a 27 volume.


que páginas por

entram nos mesmos rios outras e outras águas Solução: o estilo sintético-sincopado. Seja. A ini-

afluem; almas exalam do úmido." Revela o frag- ciativa editorial, da UERJ. Louvabilíssima: o

'Morte

mento 21: é tudo vemos despertos, tempo é sabidamente de crise, e mais nas Letras,
que

e tudo vemos dormindo é sono." O e mais na letra essa necessária e vital


que poema poética,

"Morte/

irá dizer: dorme no sono/ desperto./ superfluidade. A oxigênio do espírito,


poesia,

fareis de mim, encoberto futuro?/ Na vigília ajuda a suportar a neurose da sobrevivência.


Que

do sono/ em durmo/ desperta." E assim Aos textos,


que pois:

seguir curtindo caso a caso, mas Na cidade aberta, de Alberto Pucheu, 27


poderíamos

deixemos ao leitor a tentativa de refazer os cam- anos, fonnado em Filosofia. Verbos de marcada

inhos navegados Fernando Paixão na tessi- contenção verbal. Busca de síntese, tendência
por

tura de sua viagem através do coração ao haicai, freqüente na no Brasil:


poética poesia-hoje

"Longas "Caem

de Heráclito: tardes/ atravessei chuvas/ as se não bastassem as folhas/


palavras/

à margem dos caminhos./ Em meditação ape- e os da chuva.// Como a assunção da


pingos

"E

nas/ bebia a água dos espelhos./ Depois/ seca- metalinguagem: a caneta amanheceu
pincel.

va-me a alma/ sorvido no fogo/ dos rios." Verso: um traço/ curvo,/


// bambu
japonês.//

Trata-se, em suma, de livro bem construído, Poemas colhidos da boca de transe-


papel.//"

com algumas de muita beleza, instigando untes, reflexões filosóficas: a vida


peças procurada

"dió-

o leitor ao mergulho no fogo heraclitiano, aquém da ensolarada, visão


a de
que já porta

então ama se ocultar na forja de com a lamparina// nos olhos/ do dia",


poética genes/
p.

Fernando Paixão. 11. Presenças atualizadas: Ulysses, sem


gregas

A Rio

poesia passeia pelo

-
Poesia na Livros Poemas: a
UERJ 9 de Aço e ntes de acordar na batizada,
página,

osso A dele Weber; Na cidade aberta. ela sinal o ônibus um


(assiste
faz para

Alberto Pucheu-, Poemas esquerdos. Carlos assalto), recita um Pai-Nosso sem


palavras,

Lima; De cama e cortes. Garmen Moreno; A vai à o silêncio do asfalto


feira, percebe

cidade e as ruas. Ítalo Moriconi; Speculutn. amarrado Rio Branco,


no sol, caminha av.
pela

Lúcio de Campos; Homenagem.Jorge não agüen ta o soco das


Jorge
palavras

Wanderley; Gasolina azul. Maria Helena desenraizadas.

Nascimento; Arte de ceder. Roberto Corrêa dos então, desmaiada, derrapa numa curva, e,

Santos. .Rio de UERJ, SR3, capotando colina abaixo,


Janeiro,
presa

Departamento Cultural, 1992/1993• entre as da de


por ferragens página,

-
de Domício Proença Filho) repente, ela
(Resenha
fala
- -
vezo em
ao lar colagem/montagem
condutor de nave, conduzida
vitória, pós-moderno
pelo

um olhar crítico sobre a metrópole devo-


Impactos mais
cego, tudo vê 11).
monstro (p.
que

"Punhos
"utilidade'

sobre o céu cubista./ não me


como radora:
sobre a dos Já
irônicos
poemas,

"Ciência "Ciência

construir nada". Projeções eróticas:


n2 2". Discurso interessa
em n9 1" e

"Cidade

trocar a minha língua


fêmea/
versos livres, no limite da mas
coloquial, Quero
prosa,

mil bocas./ Teu cheiro acre


tua./ Puta de
ousadas, algumas. Estrofes curtas.
imagens
pela

- -

Acendeu o sol amarelo!


de suor de branca/
feitos a do olhar e do
Poemas
partir pensar.

Eva despida saindo das


empastelando a tarde./
e o cotidiano. Logo:
Olhar sobre a cidade

ela não era um anjo. 7.


brumas/ mas (...)
Olhar afeito a sensibili- p.
descrições/conclusões.

direção, no
considerações na mesma
na Outras
linha da tendência dominante
dades. Na

"mar-

carregado de aproveita-
mesmo longo
modernismo, e logo
tradição do poema,
primeiro

brasileiros e da transcrição
mentos de
vem daí. Instaurou-se,
dos anos 70: poetas
por
ginal"

versos em inglês da lés-


incorporação de
antigos Bom
fim, esse discurso dos poeta
jovens?

Olga Broumas: Nota do


bica
assunto de greco-americana
pesquisa.

como leit motiv, se


E a cidade americana
espaço urbano, desde o
Na mesma trilha do
poeta.

crudelizante, olhar azedo:


me Visão
e as ruas, de ítalo Moriconi, 38,
título, A cidade
permitem.

'Perry

erotismo, nas
Street', 10. Ainda
Outra, a
de literatura brasileira. perspecti-
p.
porém,
professor

"Não
"Poesia

me sem a lei
vas subjetivas: consigo
de
visão. Abre com passar
prosa posicionadora:

Escreva-se: na
carnívora da existência."
sobre os terraços, como um pleni-
lobo saltando
gato,

"O

erótico- de
tude do termo. belo /
cão raivoso-olhar costurado
nada manso, promessa
por

"O

o eu lírico em belo não é


E logo mais dois felicidade", afirma
lambidas, beijos."
dentadas,

de felicidade". Subgerências
de Técnicas senão a
explicitadores
poética. promessa
poemas

"Colhi
'Noturno':

esse rapaz no
dos espaços ambíguas em
do
como o aproveitamento
jogo

oco da noite/ entre uma esquina e antigas


verbais, síncopes,
e disposições
branco
preto,

'Asas,
'Ecos
angústias.// Entramos no hotel os dedos liga-
6. e 6,
do uivo', (...)
em p.
p.
presentes

dos./ O homem maduro e o rapaz das ruas./ O


exemplo:
por

Asas

Minério

t)alavra de ouro
oco da noite, ovo,

de
ovo do corvo palavra pedra

detrito

palavra

de
gairas gavião,

rolando na
praia.

cão da noite

escrito meu, adeus,

sobrevôo

espuma de certa
que forma

coroa a orla,

de Garcia Lorca,
Plágio assumido e declarado

"Poeta

ligeira, areia.
em Nova Iorque", confessada
no título de
pele
Resenhas / 269

em retângulo): no sofá/ o relaxamento/ as


inominável unidos/ escada estreita (o
nome e o

entrelaçadas/ a aveludada melancolia/


acima./ Culminância: o último dos
quinze pernas
p.14.

e autêntica/ como se representada


volume: da AIDS'): o
do ('Noticias para
perfeita
poemas

"Cães,

com um mínimo de cena/ com um


alterego. Nesses versos:
assume-se
pintores:/
poeta

mínimo de barulho/ um corpo surpreende


o meio das ruas,/
carregai a legenda ítalo
para

outro//"; ou como em num diálogo


mito ítalo." 17. (suporte),
fazei retinir em cantos escusos o
p.

'gauchismo',

com a trovadoresca, acrescentada a moder-


indicia-
Atente-se a ênfase no
poesia
para

na disposição espacial:
escuso do espaço
do apelo aos cães e
pelo pelo

o verso livre,
A linguagem
privilegia
pretendido.

"A

de Whitman suave/
imagens: mão
trabalha no do amado
peito

Brisa leva/ alma descompas-


Sobre meu ombro/
três
fios

-
Nem sei o mais amo
sada/ Cidade viril/
de cabelos brancos
que

teus Calamus...", 7.
tua biografia ay
p.
poemas/
flores

e as ruas abrem-se
Instantâneos: a cidade
pre- ay
flores

textos ao olhar sexualizado.


do verde tempo

Corrêa dos Santos, doutor em semiolo-


Roberto

declarada nos créditos. Arrisco, "Ay


sem idade
gia, se
Cf.: flores, ay flores do uerde
pinho,/

companheiro mais velho de confraria univer-

de meu amigo!/ ay Deus, e hu


sabedes nouas

Vem com Arte de ceder, 18


sitária: 60?
geração ramo,/ se sabe-
é?// Ay flores, ay flores do uerde

o cotidiano como fonte


breves Ainda
poemas Deus, e hu é?".
des nouas do meu amado!/ ay

"mas

a bate/ algo
a reflexão:
porta que que
para D. Dinis. Nada menos. Está lá:
El-rei

a inesperada de
desaba de um armário/
queda
Cancioneiro da Vaticana, ne 171. E transcrito

isso é imediato e imprevisto/


um tudo
jarro/ na Crestomatia arcaica, de
José Joaquim

não
de um outro
mortal,/ que
gênero/
portanto Nunes, O também de
387.
p. poeta, professor

assim, signi-
trágico.// leio em 3,
o (agatha),
p.
Teoria da Literatura, sabe esses caminhos.

como todos os
ficativamente entre
parênteses, e os
visuais, aproveitados o espaço
Efeitos

volume. Constatações, como


demais textos do

freqüentam também textos


tipos de letras,

dobra) e hiatos), este carregado


como (os
(a

diante do
de ironia. E um certo amargor,

(agatha)

inexorável do viver.

m as a bate
porta que

(platitudes)
algo desaba de um armário
que

a inesperada de um
queda jairo

tudo isso é imediato imprevisto e se ou houver


grito gesto

mortal, serão secos

-pathos
de um outro branco
portanto gênero

não o trágico das máscaras kabuki


que
Poesia Sempre
270 /

a Manuel Bandeira'),
de distanciado ('Homenagem
trabalho de linguagem,
Bom preocu-
poemas

a identificação a Fernando
ora ('Homenagem
existencial. Perplexidades.

pação

concessão da ao outro
Pessoa'), ora a
dos demais, o caso de Homenagem, palavra
Distinto

a Borges')- Alta a dimensão


Wanderley, veteraníssimo, ('Homenagem
de 54,
poeta,
Jorge

textos: de senti-
dos
de literatura
tradutor dos melhores, pela profundidade
poética
professor

apurada, o ritmo, a
a seleção vocabular
de do,
livro, na área. Navegador
brasileira.
Quinto

carregada de abstratiza-
imagística modernizada,
volume, sonetos. Como
muitos ritmos. Nesse

da O
Sobretudo valorização
suas. A forma fixa cora- palavra.
em outras ções. pela
publicações

de andaimes e arga-
flui' sem vislumbre
Pleno o domínio
e seguramente assumida.
poema
josa

efeito agrada. Leia-se:


massas. E, natural, o
no dos catorze
da linguagem e da técnica
jogo

'Homenagem

Eco Se se apa-
a Umberto (...)'
da tradição, revitaliza-
versos: resgate na esteira

livros/ e a rosa sua igual


a rosa desses
nada menos do
da. Dez homenageados,
que gasse

e livros resumi-
desses talvez
Bandeira, Fernando
Luís Borges, Manuel jardins
jardins,/
Jorge

de inessência vinda/ tam-


dos/ na rosa
Umberto Eco,
Pessoa, Cruz e Souza, Camões, grande

razão/ existir; se
sumissem, faltos de
bém
para

se dessem de novo a
vazios/ não
os campos

algum vadio desavindo/


mais ninguém,/ talvez
Fernando Pessoa
Homenagem a

coisas se dissesse/ numa


mesmo as
consigo

e os livros se
de folhas encontrasse/
folha
que

dessas folhas e ramos


fazendo desde um nome/
normais.
Os aromáticos
passam
que

nome da rosa a mesma rosa."


vocês virem renovasse/
Eu sou dos Sebastiões
pelo
que

- Pelo do texto.
Leiam-se os outros nove.
católicas prazer
O das
jamais
flechas

em Convém. Seguramente.
de Alcãcer-e-Quibir
O Sebastião

Poemas esquerdos. Dez


Carlos Lima, 48,:
Batalhas de sangüíneosportugais.

verso livre. Assume, no


em
e amei até ruírem primeiro:
Fui barco, sim poemas,

"Na

minha vida conta/ o máximo de


mais. só a
não sonho
Por terra os mares poesia
que

impossível no não a vida em conta-


me dessedenta,
Toda a Mensagem, possível/
que

entre o cão e o lobo/ no entrepos-

Deixei num gotas/ poesia


que fratura
pergaminho

to do inferno da fala" 4. Outro dis-


(...),
meus arcanos. geral p.
Os versos e as
palavras,

curso feito de coloquial, linha marginal 70, com-


a Tabacaria à nevoenta
Desde

"A

noite é apenas uma mendiga men-


Marítima, eu provada:
Ode
que quis futura,

tirosa/ nestes lares nestes bares/ na de


errei nos anos. poesia
Tudo se apaga
quanto

os lugares/ Garçom, favor sem bron-


todos
por

bota a vida na minha conta!" Ao longe, ecos


ca/

"bronca",

salvo 4.
drumondianos, .
convivas, e mais uma p.
Ribeiro Couto, Freud, pela

"O

Azedume e desencanto. Busca de metáforas:


um estilo epocal, o bar-
morta anônima, e ainda

verão sacode sua elegância venenosa/


um velho
identificações de cada
roco. Captação de

espelhos cariados do invisível." Agora,


do eu entre os
Ora a assunção
dos autores destacados.
sofrida nostalgia e algum desencanto:
antropomorfização do". De
Lorca ao longe, com essa
é

"Aurora

olhos de 1968/ num céu


na naqueles meus
da natureza. Não
explícita de elemento

o foi e não retorna/


toma- de sombras deixados/
em uma das epígrafes,
temática, que
que pese

sol/ é a daqueles dias/


visão sob chuva vento ou
espanhol. Predomínio de
da ao prata
pes-
poeta

"onde
-
revolta, luas frias/ cavalos
estações discussões,
simista do mundo destaca
poesia
que

"Na

Uma estrela ver-


cegos na madrugada da carne/
abandonada" e
toda a esperança apodrece

no iluminava", E a
invenção/ melha 3.
madrasta selva dos abismos da permanên-
peito p.
perva-

"a

vida não foi ou-


entender cia do orgulho coerente:
Além de
o elixir dos tédios", 5.
ga p.

"a
mas de outras cores não me cubro/
em todas as tubro/ 3.
é o nome do amor p.
mentira
que

"O

aqueles, viveu sofreu. mundo


do ofício", Tempos,
os desastres
ruas/ o só quem
poeta possui

"Poema

no salvava o amor a vida/


esquer- inteiro cabia
No
11. Assunção ideológica. poema/
p.

num tempo de cães raivosos dilacerando sonhos/

era sempre um combate", 10.


a
Os Passos Perdidos p.
poesia

"Ainda

o amor na
Confissões lírico-sexuais:
que

laços da fêmea e luz do


carne/ arme os
só em ti
I^)adã paixão/
penso

meu inferno cruz/ entre o diabo e o mar-azul/


o não mudou
país

te amo/ namorada de todos os


melancolia eu confesso
sempre igual a minha
e é que

está em você está em


meus sonhos/ aquilo
que

como fingir como fugir?, 7.


como em toda mim/
Nesta casa a noite é igual p.
parte

"Dadá

negativas: só em ti/
derrotas Culminâncias
o maxilar dos minutos, misérias, penso

mudou/ e é sempre igual a minha


o não
deter no espaço a alada?
como país
posse

melancolia", 12. Desalentos, verso


p. quase

Cotidianos, discurso coloquial.


muitas e
Era uma casa de
janelas prosa.
portas

entrava com d coração


na se
qual

a calma do verão
era comum

Teoria do Belo
nas vozes dos meninos
as cores acesas

incendiadas

toda Desejo
a noite é igual como em
parte gesta

um tom siena
avô amor dá um tiro no
o
por peito

amor) rói com veneno em tua


o irmão
(também pele
por

as unhas do sonho

na tortura dos eu, embaixo,


uma moça morre louca
jasmins

envergonhado

casa a noite como em toda


Nesta
parte

no corpo do caos tu, em cima,


É uma hóstia sangrenta

muito longe meu seios cheios


os caminhos da noite levaram

coração

não me abandonou nunca de


só o meu impossível
perdizes
No mais, instantâneos,
cheios/ de
vivido. Amarguras. Há escrever:
Testemunho perdizes./"
que

impressões em A
constatações,
mergulho fundo. Ainda. Potencialidades. primeira pessoa.
sem

mais apurado na linguagem.


exigir trabalho
e além, revolta e nojo,
De desencanto,
para

é o livro de Adele Weber,


Aço e osso
os versos de Lúcio de
existenciais, primeiro
Jorge

vinte composições. Variadas.


Também
doutor em arquiteta.
Campos, mestre em filosofia,
34,

médio. Fiel ao discursivo,


curto ao
Do
de teoria da comuni-
comunicação, poema
professor

de tradição modernista.
o verso livre,
e con- assumido
e da arte moderna
cação, estética história

"Sinto
vê na e dentro
Tônica: Pensar o
nojo/ dessas noites/ paisagem
temporânea. que

"Flor

aprende a viver
si mesma: do cerrado/
onde furos/ de
coalhadas de/ calmarias//

quentes//

cores/ ao corte da apanhadu-


No adeus das
14. Livro: seca//
túneis/ do tempo,
na são
p.
parede//

a vida."
de um vaso/ deságua
vário, ra/ no oco
segundo. Ritmo
vinte textos. O
Speculum,

"Irreal

recupera no
6). ou
a despreocupação com ('Diálogo', pião/
extrema contenção, p.
da

idades:/ frente,
alegria de todas as
a
espaciais: perfil,
do verso. Aproveitamentos
limites giro/

"Quaterna". mistura todos


todas as cores/
centrifuga
em outros
Presença de composições
perfil/

real/ desconfio do
Eu sou
os ritmos.// que
em francês taxi que
idiomas: um, ('Un
pluvieux')

fantasmas/ só tenho
vejo,/ dos mitos fiz
landascape' e perfil
inglês a dutch
dois em ('For

"meu
'Grafitti'). De novo, constatações
no espelho" 9).
talo rufla/ ("sinecio"
Tônica: erótico-sexual: p.

"Do

viver: mar infantil/


arte de
da sofrida guar-
murmúrio/ calvo de/ arrulhos."
tua boca
gasta/

"Desejo
o escuro encostado/ ao
a voz dos
do
ou peixes,/
conjugai', 9)
('Vida p.

e nas mãos vazias/ um


amanhecer/
em tua eu,
um tom siena/
pele// primeiro
gesta/

segurar a vida/ entre


morto./ Eu
tu, em cima/ seios
envergonhado// queria
embaixo,/ pássaro

meus dedos,/ empassarada." ('Monólogo',


p.

na linguagem e apro-
17). Exigências de apuro,

aberto. É segui-lo.
fundamentos. Um caminho,
aberta
À

porta

Maria Helena Nascimento,


jornalista:

azul. no todo o dia, o


Gasolina Estréia. O olho
um cumprimento.
indeciso embaça
Espelho

a existência, o
desconforto, a com
ombro dos casacos. preocupação
Pesa a no

poeira

discursivo descontraído, com concessão ao tro-

Enchem
gavetas

"He's

nineteen/ os cafés continentais o


cadilho:

os comportados
panos

Ella, Paraty o mar sem onda de Paraty/ o

agulhas e jazz/
ferro quente
que

com Cole Porter e mais: os cuidados


carnaval
atormentaram.

do surfing boyj Tantas vezes eu


maternais
de bolsa murcha.
Rugas

dizer cara olha, e ele com ara-


estive
para gatos
Um vestido em dobras

Cousteau/ tanto/ desisti


nhas chineses/
Jacques
repousa

Paisagens, viagens, reminiscências,


3-
os seus abraços. p.
na rede ponto",
que fechou

espaços subjetivos, experiências:


situações:

"Saídas

do traje incomple-
depois
roupa ao sol. jantar/ passeio
Dores de

típica/ do sorvete:
aquela falta de sustança
to/
Chão molhado.
resistências nem coerências/
d'água/ Sem

Câmbio

um amor
Pulsante vivo emocionado/
Quero

~Por

abertas e fôlego fundo/


viciado/ De
pernas
neste meu olho. Há um
_ acredite
favor

mundo", Amor
um amor largado no 5.
p,
Quero
esforço
grande

surpresa/ desengano/ fata-


identificação/
posse/
no valor de Compre este
envolvido aqui,
face.

abstrato, na antropomor-
lidade. concreto/
Jogo
selo dúbio,

"O

bem urdidas: amor me


fizaçâo, nas imagens

é inocente: aonde
este búzio. A troca nunca

Ousado indecente/
beijou novamente/
posseiro
você

Ansiando o
Me encontrou boquiaberta/
gole/

ia a moedinha
quente quando
pensava que

no varal/ Exposto O amor me


Coração (...)

se distraiu e
você

novo/ de bruços de de
de
quatro jeito/
pegou

abriu a mão?

tramando morte/ Abraço de


Punhal suspenso

8. Amor sem
urso/ afago da sorte/",
p. precon-

"Quero

trocar beijos com essa mulher/


ceitos:

cupuaçu mangaba/ e cassis,


araçá açaí umbu/

da Coty/ Girl, vem misturar esses


Beijos rubros

da hora carioca de fazer


aquelas cores caras/

nos iludem iguais/ Arrisca minha


tons/
Que
invisíveis/ derreto à
nada/ adivinho dileminhas

meio crônica, na
25'). O
toa.
('Fevereiro poema

factual e/ou cenário, sensações,


linha do

'16 "Farpas, Ditame

leves, como em de
reflexões,
julho':

mau humor./ Não sinto calor.


alfinetes, chuva,

E/xistem sutilezas da tristeza,

engolir bonitinha/ Iam-


Estou itálica.11 Tem
que

Nuances esquivas a olho nu.

o da sua
unhas/ e raspar
ber as parte.
prato/

Épreciso microscopíar a alma,

de
a
Impressionante flash-backs
quantidade

Circuncidar o sorriso sem sol:

crescimento./ E
consumar o
necessários
para

até desvendar a dor,


Sangrá-lo,

11), No todo, exigên-


diária a vida./"
com é (p.

em dentes claros);
(travestida

e no sentido.
cias. Na linguagem

Pra, enfim, ressuscitar-se.

Moreno, atriz,
Mais fundo vai Carmen

nos 23 de De
em artes cênicas,
bacharel
poemas

livro no
cama e cortes, segundo
publicado,

a tua/ não sou


boca vermelha como
e beijo de cobra. No
O outro: Rubro Que
gênero.

anjo doido fes-


homem nem mulher/ Sou um
volume: amor, a dominante. De carne

presente

de tudo)", 10.
teiro endiabrado/ (misto
e p.
plenitude.

"Um

de ironia e
Humor carregado ('Véu
do eu lírico amor despudorado/ grinalda',
Na
palavra

Artaud, Yan
inteira/' 12). Poemas-homenagens:
me arreganhe a alma e me
ganhe p.
Que

"Aprendi

a escolher
louco- Michalski. Poeta consciente:
e mal comportado/ Um amor
Desregrado

retocado caricatura de mim)/


deixe cravar a
se enraíze em mim e/ Se (retrato
são/ palavra/
que

Ingênua impressão de
nu/ A Manipulo-a seletiva/
também/ Ousado e cai/ Cotidianamente que

meu segredo/ Como se o corpo,


amor olhos ela retém
de todas as armas/ Um
despir-me
7

Poesia Sempre
274

corpo:/ Obras Completas, Bruno de Menezes. Série


não berrasse o não-dito/ O
traiçoeiro,

da Lendo o Parã. Vol. 14, volumes, reunindo


língua nua", 19- Poeta à flor 3
Essa
p. pele.

do Obra Poética, Folclore e Ficção. Edição da


A ainda uma vez,
Auto-reflexiva.
partir,

de Estado da Cultura, Belém, Pará,


imediato. Secretaria
cotidiano

dos nove volumes inseridos na 1993¦


Síntese: oito

de Márcio Souza)
da tradição modernista de 22 (Resenha
continuidade

chamada marginal dos


retomada
pela poesia

A importante coleção Lendo o Pará, editada


o cotidiano imediato em
anos 70:
poetizado

de Cultura daquele estado,


-ZTL Secretaria
função, sobretudo, da subjetividade. O
poema- pela

com a das
freqüen- acaba de ser enriquecida
ao lado do verso-palavra
publicação
quase-prosa

do escritor Bruno de Menezes.


sincopado do obras completas
tíssimo, constante; o corte
quase

homenagem no momento em
do sin- Trata-se de
ritmo, a ruptura rítmica desfocada
plano justa

amazônica comemora o
verbal. a região
maior destaque do impacto primeiro
tático,
que
para

de nascimento deste criador.


espaciais centenário
Aqui e ali, reflexos das experiências grande

Belém, em 1893, Bento Bruno de


do discursi- Nascido em
A inserção na tradição
concretistas.

era filho de tendo


do trabalho nas Menezes Costa
vo, num esforço valorizador gente pobre,

apenas o curso Mas teve


revelar emergência de impressões completado
imagens. A primário.

extremamente rica de menino cria-


externa, ou uma infância
visuais e sentimentais da
paisagem

da cidade, os mais tipi-


Destaque o senti- do nos bairros
de reflexões existenciais.
para populares

como o Umarizal,
valorizados o sexo e o ero- camente
mento amoroso,
paraenses,

Pedreira e a Cremação, daí nascendo o


O encontro-desencontro. a
tismo, compensações.

mesmo diante do romancista, o estudioso da cultura


Perspectiva neo-romântica,
pioneiro

em amazônica e, o
realismo sensual-erótico popular principalmente, poeta.
presentificado

em torno de Escritor de formação autodidata, apaixonado


O olha
muitas composições.
poeta

exuberantes manifestações do folclore


imediata:
a sua circunstância
si mesmo e pelas
poetiza

um folclore de forte raiz ibérica e


e me angustio: existo,
vejo, logo sinto, paraense, pre-
perplexo.

sença indígena mas adensado tradições


vida, com maior
diante da
Tônica: o desencanto pelas

africanas não há em outra da


a (como
menor azedume. Em outro
ou parte
plano, poesia

Amazônia), Baino de Menezes não se


o verso tradi-
Wanderley, revitalizados
de poderia
Jorge

submeter à simbolista,
na difícil captação do essen-
cional e o soneto, passivamente poética

então em voga. Assim, embora seu


do outro através do seu grande
ciai do discurso
próprio

livro de de 1920, Crucifixo,


de Nos nove volumes,
discurso: diálogo primeiro poemas,
poetas.

fosse um conjunto de manifestações místicas


níveis de mergulho e
obviamente, distintos

dentro da forma simbolista, ali não há traços de


Importa e vale.
fôlego. Mas
poesia publicada.

decadentismo, ou daquele criptofisiologismo


Departamento Cultural, à
Poesia da UERJ, do

evocador dos horrores da existência tão ao


de André Lázaro: em boa
frente o dinamismo

de Caiz e Souza, exemplo. Por isso,


na nossa reali-
hora a divulgação de
gosto por
poesia-hoje

causaria surpresa naquele mesmo ano


não
dade. que
.Resenhas / 275

seus versos, amante da inusitada anatomia das


Arte Nova

e senhor de um intenso olhar sobre a


palavras

"77

natureza do Então, a seguir, vem sua


fju um'Arte original... Daí poema.
quero

obra-prima, Batuque, um dos livros de


esta insatisfação na minha Musa! poesia

mais amados da região, com sete edições desde


Ânsias de ineditismo eu não vi
que

o seu lançamento em 1931, como apêndice de


e o vulgo material inda não usa!

uma coletânea de versos intitulado Poesia. Sete

edições num onde supostamente ninguém


E a idéia é ignota... A Perfeição em si, país

lê e numa região onde aparentemente


tem segredos de morte e alma reclusa... poesia

- não se livros!
Sendo a espinhosa, eu me publicam
glória feri...

Batuque, a foi entendido como


é, depois, este sonho arda e relusa!... que princípio
justo que

uma espécie de transposição do saber


poética

folclórico de Bruno de Menezes, bem como a


Toda a volúpia estética do Poeta

- recriação verso da africana cerca-


eu sou, a Poesia em mim sinto, pelo presença
que para que

da de indianidade na Amazônia, aos


desse em linha reta!
poucos,
provém Querer

com o correr dos anos, foi demonstrando ser

'Arte
muito mais isto. É evidente a intimi-
Gloriosa um os Ideais renova! que que
que

- dade do com o cotidiano dos negros de


Razão da causa eu me requinto poeta
por que

Belém, com os seus cantos, folguedos, religião,


na extravagância de uma imagem nova!"

alegrias e dores, serviu de lava


primordial,

matéria escaldante não se deixou moldar e


que

transbordou através da liberdade do verso modernista,

de 1920, o Bruno em o
jovem publicasse jornal
este verso vez se
generoso que pela primeira

'Arte

Nova', clamando em seu


poema primeiro
deixava tomar represado universo
pelo primevo

"Eu

verso: um' Arte original..."


quero
de uma cultura tão estranha e alienígena em

E o desejo do não só é respondido


poeta por
relação aos círculos aceitos da expressão cultural,

uma inteira de autores como Abguar


geração
como era a cultura dos negros de Belém. Livro

Bastos, Eneida e Dalcidio como é


Jurandir,
de versos abrasadores, de suas recen-
páginas

materializado na de uma série de


publicação
dem novos odores, suores mal disfarçados
pela

livros de cada vez mais surpreendentes,


poesia
angústias
exalam e
priprioca,
que jasmim

radicais e inovadores. Primeiro, com Bailado

amores lambuzados de baunilha. Além da alta

Lunar, de 1924, uma resposta imediata ao

temperatura,
há os sons, os ritmos, a coleante

chamamento dos modernistas de São Paulo. É

expressão corporal dessa de cor da


gente pele

obra urbana e refinada, ainda sem as


jazzística,
noite. Batuque, como simples aula inau-
poética

cores fortes do Em alguns versos, é ele-


popular.
da negritude, basta-se enquanto revelação.
gural

e frívolo, capaz de saudar uma


gante garota que
Mas o tinha seus segredos, maiores e mais
poeta

vai ao cinema ou evocar um carnaval europeu

complexos a novidade do universo


que própria

longe dos trópicos, mas é o dono de


já poeta
ele trazia com os seus Bruno de
que poemas.
276 / Poesia Sempre

capturou o folclore mas não se interes- deriva de ocorrências imagi-


Menezes (ou
grata pessoais

em domá-lo. Batuque é reprodução de ima- nadas como tais). O dá o tom:


sou
primeiro poema

"dos

de de danças e ritos mas habituais comportamentos/ contemporâ-


gens, gestos, profanos,

em seu interior, na camada mais íntima de neos/ optar é deles o mais desumano/ escolher
é,

seu ser uma celebração litúrgica. E em entre tantos/ a vou amar/ se telefono
poético, quem

cada verso, como a esperar dissipe o agora ou depois/ ou não ligo/ se insisto ou
se
que que

vitalismo da há desisto/ ou nem isso/ demissão/ fico


festa e da exaustão dos corpos,
peço grávi-

do de mística carrega- da/ troco de 7) Sendo uma


a sagrado, uma (...)" (p.
país/ poesia
presença

do de incidentes é também uma


da de como se o
poeta pessoais, poesia
profunda piedade,

'Crucifixo',

de a autora alterna o
cristianismo retórico de finalmente
pronomes pessoais, já que

verdadeira fé, a fé deu eu com o tu do imaginado ou


encontrasse a sua
que parceiro parceira.

negra, de Desse detalhes biográ-


coragem e unidade a essa (pseudo)
gente pele jogo participam

ficos, alusões locais, a miúda do


negra como a escura do
própria pele poeta parafernália

dia-a-dia de uma cidade. Nela,


Bruno de Menezes.
grande para-

Raul Bopp, com doxalmente, se detectar uma aura românti-


Ao lado de Cobra Norato, de e
pode

está Batuque. ca, revelada em esguichos auto-sabotados:


a mesma fulgurante intensidade,

"tenho

nada Bruno de Menezes foi códigos secretos de relacionamento/


Não é
pra
por que

vida, seus leitores fiéis de me identificar neste mundo onde todos se


amado, em
pare-
por

cidades onde viveu. Se as con- cem/ adoro os e sujeitos


Manaus e Belém,
pronomes pessoais

a merecida fama indeterminados/ e trato deus você nas minhas


tingências não lhe deram
por

o de ter 18) Em determinado a auto-


nacional, isto não lhe furtou (p.
privilégio preces." poema,

de Belém um ra rebela-se contra os acontecimentos os


do da cidade e sim-
arrancado
peito

"(...)

certa- bolos eles engendram: não tente


Orfeu e o Uirapuru ouviram trans-
canto que
que

em apuros o você >


mitir só sente/ o amor, o
mente em silêncio.
que

ódio, os desejos mais obscuros/ se eles a ti tudo

simbolizam/ aos outros nada representam."


(p.

'48)

LPM Outro também, alude a isso:


Persona non Martha Medeiros.
poema,
grata.

"começou

com uma troca de olhares/


Alegre, 1991. 136p. uns ares
Editores, Porto

de sedução/ se se uns
de Armindo Trevisan)
(Resenha quiseres, puderes/ plurais

de romantismo 63). Martha Medeiros,


(...)" (p.

vai mais longe. É vocação


oa da novíssima brasileira autêntica de
porém,
parte poesia

e não raro mostra


o conselho de Drummond Propõe-se uma
B contraria (em
poeta, garra.

'Procura "Não

tarefa formidável: resgatar o trivial, embora nem


da Poesia'): faças versos sobre

sempre os resultados estejam à altura de seu


acontecimentos/ As afinidades, os aniver-
(...)

Se lírico. O da 26,
sários, os incidentes não contam."
projeto poema página que
pessoais

"foi

Martha começa: tudo simples demais, eu estava


há algo realmente, conta
que, para

Pode-se até afirmar bonita" é típico do seu estilo. Por vezes o leitor
Medeiros são os incidentes.

dos de Persona non fica em dúvida se o chegou a ser


a totalidade
poemas prosaico poeti-
que
Resenhas / 277

"revendo "você

zado: assim rapidamente/ nossa isso. A título de exemplos mencionamos:

"eu

história inacabada/ fica um mal-estar/ uma coisa lá com seus cachorros" e: tentava
(p. 31)
pra

meio deprimente/ nada aconteceu/ disfarçar como mas é claro ele nota-
parece que podia/ que

"a

de importante/ e no entanto foi bom nós va" etc. 67). Veja-se este maioria
(p.
pra poema:

dois/ e antes do depois teve muito durante", dos crimes/ não são cometidos homens/
(p.
pelos

"tenho

dizer, então, de: náuseas/ e nos- apenas os solucionados/ os crimes das


39)
Que porque

talgia/ tomei uma aspirina/ e a febre não mulheres/ estes ninguém descobre/ são todos
pas-

sou/ reli a tua carta/ e morri de dor"? Não obstante, a melhor


(p. (p. 90).
quase premeditados"

"ele

mesmo de: odeia festas/ eu de Martha Medeiros ser encontrada


57) O se dirá
poesia pode

"hoje

eu adoro frango/ em como eu mereço um brilhante/


adoro frutas/ ele odeia figos/
poemas

fusca/ ele odeia frades/ você dance agarrado comigo/ não deixe eu
ele adora fiat/ eu odeio
que

adoro frascos/ ele adora fêmeas/ eu odeio ler os me faça sentir no Caribe/ mesmo
eu
jornais/

aqui em cima do décimo andar/ diga não


que

estou/ se alguém telefonar/ me faça sentir tudo

Você bem ter surgido na minha aquilo/ nas escrevo/ feche a


que podia que poesias janela/

vida não deixe entrar o sol/ hoje eu noite o


quero

vinte anos atrás, eu ainda tinha dia inteiro" 107). Ela é igualmente notável
(p.
quando planos

anos atrás, eu estava me sem restringir o seu lirismo, compõe


quinze quando quando,

como: A outono não basta'


(p.
formando poemas palavra

onze anos atrás, eu morava sozinha 114), ou a série extraordinária se inaugura


quando que

"quando

anos atrás, eu ainda era solteira com: você vê um mar azul-turquesa"


dez
quando

"quando

atrás, eu ainda estava 125), completando-se com: se


seis anos (p.
quando

tentando é impossível entender" 131).


(p.
percebe que

meses atrás, sobrava alguma


dois
quando força

à noite eu ainda estava te esperando


ontem

Rota dos Inocentes Wanderley.


.Vernaide

Fundação de Cultura do Recife, 1992. 106


p.

fugas/ ele adora frança/ eu adoro londres" de Rosa Kapila)


(p. (Resenha

Noutras bastarão aliterações e


93)-
palavras:

antíteses orquestradas, sem dúvida) ota dos Inocentes divide-se em 14


(bem
para partes,

Não nos esta a mel- chamadas de Cada


produzirem poesia? parece' passagens. passagem

hor contribuição de Martha Medeiros. Ela é cria- recebe um título diferente. O leitor desavisado

tiva a sempre de suas vivências, se nessa rota, até os


quando, partir pode perder porque poe-

escreve eróticos sem mas soam como crônicas. O livro seria


poemas que, prescindirem quase

de uma moldura se eletrizam de uma não fosse o ritmo cadenciado a


prosaica, prosa que

sutileza e ironia, revelando, através destas, uma autora mantém com muita competência.

'fazer

dimensão existencial e feminina inéditas. A crise do literário' se faz incor-


presente,

Conviria ler o volume inteiro se verificar a uma metalinguagem obsessiva com


para porada
-

Poesia Sempre
278 /

encastelada, de branco,
A uma Emily Dickinson
tais como: cais/navios/mar.
certas
palavras,

nunca dantes navegados ou


em mares
freqüência, como se a
mar aparece com
pensando
palavra

-
Espanca melancólica, de
então uma Florbela
toda a natureza feroz
apresentar

poeta quisesse

"como
o vigiando
mão em concha, segurando
e queixo,
de seus
jangada, partiu
personagens:

isso mesmo: viagem.


dia: A é
desejava/ o o
o mar/ um mundo de mar eu pura
poesia
para

negra. O tenta de
a noite não é
Nela,
aos dez anos/ enquanto poeta
mar me
perseguiu

atropelar as estrelas.
todas as formas
do mar/ nestes ombros
descalça corro em busca

a atropelar muito
Wanderley começa
Vernaide
largos como mares repensados/
Quando peque-

"Entrai

epígrafe de Mateus:
cedo, com uma
mundo coberto de pela
minha árvore, vi um
na da

larga é a e
estreita;
porta,
mar." porta porque

à e
o caminho conduz
espaçoso
que perdição,

entram ela."
muitos são os
que por

da sala abrigava
^4 humildade

letras de sua história


vai olhando as
A
poeta

livros solenes,

E fica fasci-
se olha um mapa
como
geográfico.

a cadeira sem, encosto


e
permitia
almas/ dos céus/ dos
com a das
nada
geografia

aproximações.

Vai seu mundo car-


mares/ das árvores.
para

de rosto antigo
Despertei o homem

consigo,
regando
gritando por
personagens

e conheci o se
que
Mesmo com a
Deus e nomes indecifráveis.

chama volta.

dos amantes não consegue subli-


aproximação

rota de solidão. Os retoques de batons, as


mar a

sempre a me esperar.
Ele estivera

as acusações infantis soam como lou-


lágrimas,

e estendia sombras.
A sala era mortiça

Crianças dormindo e a busca de caminhos


cura.

era o cais,
a nos separar.
Sombra
Jonas

talvez o amor é mentiroso/ os


etéreos...
porque

me reconhecer.
a sala
transmutando
para

inconstantes demais e os espelhos tam-


amantes

mentem. Ou então os
bém
para que poemas

vingados, muitas vezes as decisões


sejam
de
trilhamos os por
Na medida em
poemas
que

ser abandonadas nas e o texjo


na viagem portas
Wanderley entramos precisam
Vernaide

ser escrito nos confins da noite ou no


consegue
até um livro
da autora. Parece
longa/breve

- do mar. Prova de fogo dos


fundo
desnaturado desses poetas.
algum amante
escrito
para

nunca se aproximam
correm e
para
que que

-
Poesia do desejo. Pedro Lyra. Rio,
Contágio
amor. O tédio exis-
as delícias de seu
oferecer

Brasileiro, 1993¦
Tempo 92
amantes segue sua p.
aproximaria os
tencial
que

de Ângela Gutierrez)
(Resenha
rota, inclemente.

veleja com
Vernaide Wanderley
palavras

carta a Louise Colet, Flaubert escreveu


m
Põe o coração nos
breves/inocentes/lúcidas. I yT

"Une

M J mesure à la
lapidarmente: âme se
formas fisgar a claridade
olhos e tenta de várias

de son désir."
de dimension
Nos mostra fogueiras
na letargia do sono.

sabemos o
mundo todos
de No que
certas horas lembramos
recordações e em pós-Freud,
Astros malditos,
em seu fundamento, o
Flaubert intuía:
que,

e irracionais da natureza
anda_por brutas
desejante. Como o
homem é ser
poeta forças

homem deseja desejar, ansiando (...)


andar, o
por

acaso necessário de
Dai-me a chance do
retorno ao uno desfeito no
talvez o impossível

amar,
ao sempre
nascimento, aspirando
paraíso para

me negastes até hoje.


astros malditos,
Enfim, desejo: teu nome é homem.
que
perdido.

fazer, agora, a do desejo,


Assim, ao
poesia

cósmica do desejo, um
a E nessa dimensão
do ser humano ou
Pedro escreve a pede
poesia

amor
de ser humano.
poesia

Pedro tem-
Ao longo de sua trajetória
poética,

- -
assim tão único e completo
mudanças de
com audaciosas que
nos surpreendido

do ser amante, toque o ser amado


experimentalista das
rumo: do vanguardismo
parta

de e, ao contágio de sua
à dialética
séries de Poema-Postal plenitude, faça
poética

do ser amado também um ser amante.


Gilberto Mendonça Teles chamou
Decisão,
que

"uma

das novas da
de
possibilidades poesia

"virada",

o nome da amada tão


no dizer de Ao ressaltar,
deste século", daí à
porém,

clamando três vezes


Musa longamente esperada,
o lirismo assumido de por
Fernando Py,
para

"Narcisa,

o antecipa o
Narcisa, Narcisa",
lusa. poeta

de seu amor, irrealizável na


destino impossível
não exauriu sua capacidade de
Mas o
poeta

sua duplicidade especular.


A lira de Pedro, se descobriu
renovação.
que

-
todos os de Contágio excetuan-
lusa e se no
à musa
nos que Quase poemas
prolongou
poemas

"momento -
dois e o último são dirigi-
e meio vivi- do-se os
de três anos
chamou de primeiros

amado e constituem-se numa longa


resultan- dos ao ser
estado de
do em
poesia",
permanente

abre declaração de desejo.


sonetos de Desafio,
do nos belíssimos

do vir expresso num


em O desejo
entremostrar,
agora véus de intimidade poeta pode jogo
para

se compraz no diz, não-diz, desdiz:


barroco
Contágio, o que
poemando, poaman-
poeta-amante

-
à bem-amada, mal-
do seu desejo à amada

eu vou não, só
vais estar aqui, e
amada e, talvez,, até des-amada. querer que

de Contágio aliás com para


No
que
primeiro poema

o dese- desejar estivesses,


com nos contagia: com
se contagia, que
que

-
nos fala
com o desejo tout-court? (...)
de
jo poesia,

Seria bom até não ter o


dupla direção: o ingênuo
do desejo em sua que queria

sabendo o teria no momento em


unidade e o desejo
desejo de ser dois numa que
que

o
os dois desejos
reverso de ser um na dualidade, quisesse.

-
um destino comum a impossibilidade.
unidos em

emaranha o desejo de
impossível, o O
No espaço, do desejo pleni-
poeta poeta-amante
pois,

desejo de na
tude no amor com o
hugoano, castroalvino, convo-
emite um plenitude
grito,

ontológica, impulso de
a falta fundante,
cando poesia,
vida e de arte, com a ausência da amada, como meu desejo e o teu amor

no do sentimento de falta e do
poema-emblema (...)

'A
- -
desejo de falta radical' tem O momento em escrevo
plenitude que que

"vazio" "nada",

nas e ilhadas é um remomento daquele.


palavras
por

espaços vazios, a sua condensação significativa.


(...)

'Sinal

Também no vazio', Ainda do esplendor da tua imagem


poema quando pleno

"vazio

convida a amiga a chorar infinito sento-me ã mesa escrever este


pelo
para poema.

'Um

desde encontro só agora" no


e dia',
poema

fala da ilusão
Como os leitores comprovar
quando neste
poderão

novo encontro com a lira de Pedro, o se


poeta

mantém dialeticamente fiel à


de não hã no mundo, poesia provocado-
que fome

ra, do desejo ou, simples-


de não hã criança sem escola, provocante, poesia
que

mente,
de nos corações não hã malícia, poesia.
que

nem vingança crime,


feita

nem
guerra,

-
a ilusão de não há
que falta,

Um Dia

a amplitude do sentimento de falta só é com-

"tecer" "uma

ao desejo de espiral de
parável

Umas de torradinho,
fatias pão

esperança" ou aceitar a ilusão de ela não há.


que

um café, um cigarro
frutas frescas,

A tal o desejo impregna a sua


ponto poesia que

e outra coisa
com uma de ter-
qualquer
pitada

o rende-se à sua força, aceitando-o como


poeta

nura.

entidade autônoma:

Um mergulho nas origens,


Trago-te uma
flor,

de luz escorrendo
a celebração da em teu sorriso
descoberta.
gotas
para

como as tuas mãos


Fui colhê-la nos meus cabelos.
fluidas,

num anterior ao
jardim paraíso

Uma música na alma,


onde os desejos não sofrem realizar
nos
para

um descalço alamedas
nascem livres. do
passeio subúr-
pois que pelas

bio

O ã alegria de um sol abrindo


faz da um modo de
poeta-amante poesia flores.

viver e reviver o amor. seja antegozando o dese-

seja corporificando na escrita a memória chopp,


do Um
jo,

desejo assado,
um
gozado:
frango

um aceno a um amigo
em liberdade
que passa

...ãpoesia, está em ti, eficou lã uma


e conversinha ã-toa sobre coisas sem mis-

nesse espaço de sombra entre o tério.


que perdura
Depois, a ilusão dade, mas é o dom das trocas razão
(Deleuze),

de no mundo, _ os elementos são sempre a visão resul-


não hãfome
que por que

de não há criança sem escola, tante da concepção do Assim é com o


que poeta.

de nos corações não há malícia, livro de Denise Emmer, em os filósofos


que que que

nem vingança crime, os conceberam se a monologar, e com


feita põem

nem eles dialoga a autora. A obra é de caráter


guerra, per-

a
ilusão de não há sonalíssimo, estas falas são nos
pois postas
que falta.

Então, lábios de assume o de ator, vindo à


quem papel

uma cena, cabendo citar como referenciais da obra


caminha macia,

vez, os versos: ... ele é só/no centro do


um lençol com cheiro de
poeta/está
primeira

um nossos corpos mudo/e sem resposta.


momento sempre em
palco/absurdo/está
pra

num e lugar nossa Decerto, estas da autora se desdo-


de noite
pela janela pois palavras
pedaço

sobre o mar. bram ao curso dos seis cantos em se divide


que

o livro. A do início da representação, é


partir

a dialética como da cadeia de


E um
posta processo
poema.

indagações se faz o texto, o se dá


Um
que que
poema

através das de Heráclito de Éfeso,


não deixar coisas como essas
palavras para
para que

tudo se faz do contraste e é dele se


morram assim, simples coisas como coisas,
quem que

nutre a A dialética se faz eixo em torno


assim, na coisidade de um dia
poeta.

ainda
do o
qual gravita poema.
que feliz.

'Pousada

Henriqueta Lisboa, em do ser', celebra

os elementos em de alto canto. Ao


poemas

referir-se ao ar, escreve: ... o anunciador da boa


Teatro dos Elementos & Outros Poemas.

nova/o do amor instável/o mesmo


Denise Emmer, Sette Letras, 1993¦ 112
portador
p.

transgressor de normas/é carícia sobre os cabe-


de Sérgio Campos)
(Resenha

los..."/Jã a autora, no Ato três', indaga:/...

estarei /raízes/da invisível/palavra?


filósofos micênicos, há alguns séculos
penetrando

Como se vê, ambos os textos, líricos em essên-


Os a.C., formularam a cosmologia clássica

cia, trazem contudo sua diversidade. No de


dos elementos formadores do universo
quatro

Henriqueta Lisboa, o verso em estado edênico;


circunstante. Desde então, na temática do fazer

no da autora, o a indagação, o desejo


literário, mormente o a água, o fogo, a
presságio,
poético,

de sondar, explorar, o objeto do


terra e o ar têm a imaginação dos
perquirir
povoado poetas.

Henriqueta nada indaga: regala-se com


A cosmovisâo cuida de impregnar esse
poema.
pessoal

a beleza das imagens. Denise busca decifrações.


mundo de fantasia, de suas visões. Não
próprias

O exemplo em tela revela a obra como


se repete e não se esgota nunca o tema e,

irrepetível. Símeis os textos, mas cada um com


mesmo é conferida visão semelhante ao
quando

sua individualidade, sua chave: aberta vigia de


universo elementar, não se trata de repetição,

Henriqueta, da revelação a autora.


esta não ao domínio da identi-
portal para
pois pertence
Poesia Sempre
282 /

'Teatro

ao dos elementos' tem-se


Em seqüência
a onda

'Suíte

lagoa mansa', com seus versos


a uma
para

curto, especialidade da de onde


de metro
uai é a linguagem
poeta,

ritmo e musicalidade. O motivo central é


haure
dos escuros?
peixes

lagoa com sua flora e fauna, a


uma
que povoou,

da autora, tendo caráter fortemente é


infância
a mesma dos muros

"insones

impressivo. Há achados como


garças onde batem, as águas.

a de serem anjos". Há um
de
gesso/ ponto

movimento imperceptível, o sopro da brisa,


E a linguagem
qual

de A mostra-se
uma impressão
das caladas?
quietude. poeta
pedras

a corda lírica, fazendo-o com


exímia no tanger

individualidade aquela
brevidade (Eliot), (Benn),
das vagas

A força
explorando contrastes
(Friedrich). levam as velas.
que

dos versos é
expressional
garantida pelo

metonímias, hipérbatos,
emprego de metáforas,
Então me revele

ao texto. Talvez sejam


aptos a conferir agudeza
a dos remos
fala

mesmo do caráter lírico da suíte


em função
que

"Quando

nasce uma lagoa/ o é


afirme a
a mesma do vento
poeta:

se acalma."
universo bate nos barcos
que

do livro apresenta três


A terceira seção
poemas,

onde a autora se
caráter metafórico,
de ques- barulho de cascos

'Teatro

dos elementos'.
à semelhança do
tiona, zarpando das nuvens...

vg, em dois dos três


Tenta encontrar respostas,

"...

Decifro a lin-
A autora é explícita:

poemas.

"Decifro

a
das estrelas" (1Q),...
guagem/Fatal

"(2a),

linguagem inutiliza tratados.


nova
para,
que

"...

sou tão
como desate, asseverar, no 32,

imóvel os horizontes."
quanto

termina com breve coletânea de


A obra
poemas

de livros anteriores. Podem divisar-se


poemas

'Os

lados da noite' e
de bela feitura, como

"Cantiga

barca" Canções de acen-


da estrela (de

'A 'Entre

1982), inútil' e o céu


der a noite, de
paz

de Ponto Zero, de 1987).


e a terra' (ambos

de escrita depurada. Aprumo, rigor.


Livro
/ 283

I Y l(()S RECEBIDOS-

Areia da Meu coração vagabundo Moções da alma



fragmentação pedra)

Milton Carlos Resende Sônia Brandão Eduardo Teixeira

São Paulo, Scortecci Editora, Rio de Fundação Roquette Brasília, DF, Pace, 1991, 116
João Janeiro,
p.

1989, 76 Pinto, 1993, 40


p. p.

Clarindo, Clarivido

O acaso das manhãs


Heleno Afonso Oliveira
Dos um
grandes, pouco

Milton Carlos Resende


Belém, Ed. Universidade UFPA,
(antologia)

São Paulo, Edicon, 1986


Veríssimo 1993,
de Melo 32
p.

Brasília, Academia Norte-Rio-

Poemas

Extrato de conta
Grandense de Letras, 1992, 52
p.

Gottfried Benn

Ernesto Wayne

Caracas, Edicionés Ariopia, 1989

Bagé, Prefeitura Municipal,


Baco e Anas brasileiras

150
Yêda Schmaltz p.

El sol cambia de casa

Rio de Achiamé, 1985


Janeiro,

Edda Armas

Como se
fosse gente

Caracas, Fundarte, 1992, 134


p.
Alayde Lisboa de Oliveira

Caminhando

Belò Horizonte, Ed. Lê

Yolanda Heloisa

Roto todo silêncio

São Paulo, Cortez Editora, 1991

Edda Armas

Madrigais epensamentos

Caracas, Universidad Central de

Alayde Margarida

En espiral
Venezuela, 1975, 50
p.

Rio de Achiamé, 1992


Janeiro,

Patrícia Burrowes

Rojo circular Rio de Cronos, 1992,


Janeiro,

Aos mares

Edda 49
Armas
p.

Silvia
Cunha

Caracas, Fundarte, 1991, 48


p.

Jerônimo

Aprendiz do nada

Rota dos inocentes


Rosálio Arteaga Serraro

Emil de Castro

Vernaide Wanderley

1992
Quito,

Rio de Cátecha, 1992,


Janeiro,
Fundação de Cultura da Cidade do

30
p.
Recife, 1992

A lira dissonante

Francis Paulina Lopes da Silva

O inventor de enigmas
-
Sementes do amanhã Antologia

de Fora, Prefeitura Municipal,


Juiz

Denise Emmer
Ademir de Ornellas Cypriano

1992, 60
p.
Rio de Olympio, 1989
Rio de Janeiro, José
Ed. do Autor, 1992,
Janeiro,

79
p.

Cinema triste

No dos olhos
fundo

Guy Corrêa

Teresa Mirian Portela


de la Parra

São Paulo, Ed. do Autor, 1992,

Caracas, Florianópolis, Editora da UFSC,


Edicionés de la

39
p.
Presidência 1993, 70
de la República,
p.

1990, 47
p.

10 sentenciosos
Sombras
poemas

Gestiones Cardias
J. A.B. Mendes Cadaxa

Rafael Cadenas Rio de Blocos, 1992,


Janeiro, Rio de Ars Fluminensis,
Janeiro,

Caracas, Editorial Pomairie, 1992 15


1993, 74
p.
p.
A chama inextinguível REVISTAS

Alexei Bueno

Rio de Nova Fronteira, Indagaciones


Janeiro,

1992, 274 Caracas, Ano I, n2 1, 22 trimestre,


p.

1993, 23
p.

Cadernos Negros ns 13¦

Antologia La Oruga Luminosa

São Paulo, 1990 Venezuela, S. Felipe, outubro,


Quilombhoje,

1992, 140
p.

Contornos

-
Solange Rebuzzi Livros nfi 03

São Paulo, Massao Ohno Editor, Em busca de um melhor melhor

1991, 83 Aracaju, FUNDESC, 1992


p.

A olho nu O Livre Espaço I)


(Ano

Antonio Fernandes de Santo André, SP, 1992, 24


p.

Franceschi

-
São Paulo, Companhia das Prometeo n2
30/31

Letras, 1993, 101 Revista Latino Americana de


p.

Poesia

Memória do III Festival de

Poesia em Medellín

Colômbia, 1993, 170


p.

-
Revista Casa Silva ns6

Bogotá, Casa de Poesia Silva,

México, 1993, 258


p.

Plural

Revista cultural de Excelsior

Publicação mensal.
/ 285

OLABORADORES
c

-
-
ADÉLIA PRADO Nasceu em Divinópolis, MG ANTÔNIO RAMOS ROSA Nasceu em 1924. Poeta,
(1936).

Entre outros, ensaísta, tradutor. Entre seus livros estão: Não


Poeta, contista, cronista.
publicou posso

disparado e Opeli- adiar o coração Animal olhar Duas


Bagagens O coração (1978) (1974), (1975),
(1976),

águas, um rio
cano (1989).
(1989).

-
-
AFONSO HENRIQUES NETO Nasceu em Belo
ALBERTO SILVA e escritor. Autor do livro
Jornalista

Horizonte, MG Poeta, universitário.


(1944). de contos A mora na rua e do volume
professor (1992)
primavera

Publicou, entre outros, Restos & estrelas &


de ensaios Cinema e humanismo
fraturas (1976).

Tudo nenhum e Avenida Eros


(1975), (1985) (1992).

-
ÂNGELA GUTIERREZ É de Literatura
professora

-
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA Nasceu em Belo
Brasileira da Universidade Federal do Ceará.

Horizonte, MG Poeta, crítico.


(1937).
professor,

Publicou, entre outros, é este? e outros


Que -
país poe-
ARMINDO TREVISAN Nasceu em Santa Maria É
(RS).

mas A do índio
(1980).
grande fala guarani perdido
e de História da Arte na URGS.
poeta professor

na história e outras derrotas e O lado esquerdo


(1978)
Publicou, entre outros, A surpresa de ser O
(1977),

do meu
(1992).
peito
abajur de Píndaro e O moinho de Deus
(1973)

(1985).

-
ALBERTO DA COSTA E SILVA Nasceu em São Paulo

Poeta, ensaísta, diplomata. Entre seus livros


(1931).

-
ARTURO GUTIERREZ PLAZA Nasceu em Caracas,

O e outros Livro de li-


estão: (1953),
parque poemas

Venezuela É mestre em Literatura Latino-americana


(1962).

nhagem e As linhas da mão


(1966) (1979).

Universidade" Senór Bolivar. Membro-fundador da


pela

editora alternativa Pequena Venecia. Publicou em

-
DE CASTRO Nasceu em Lagoa
ALTINO CAIXETA

revistas e suplementos literários do


país.

Formosa, MG Farmacêutico bioquímico.


(1916).

Publicou Cidadela da Rosa: cor da e


(1980)
faisão flor

-
AUGUSTO DE CAMPOS Poeta, crítico e tradutor.

O diãrio da Rosa Ecrância


(1980).

Nasceu em São Paulo Publicou, entre outros:


(1931).

Verso, reverso, controverso O anticrítico


(1978), (1986)
-
AMY Nasceu em 1922 e seus
CLAMPITT
passou

e Revisão de Sousândrade
(1964).

anos em New Providence, Iowa. Nos últi-

primeiros

mos anos tem vivido na cidade de

principalmente

-
BRAS1GQIS FELÍCIO Nasceu em Aolândia, GO
Nova York. Membro Acgdemy of Arts
da American

Poeta, contista, romancista, crítico literário.


(1950).
and Letters.

Entre outros, Martírio das horas Luz


(1973),
publicou

- nas vísceras e Árias do silêncio


ÂNGELA Nasceu no Rio de (1985) (1992).
DE CAMPOS
Janeiro.

Estudante de Letras. Em 1992 teve


poemas publicados

-
na antologia universitária Folhas avulsas. CASSIANO RICARDO Nasceu em SP
(1895-1974).
Jundiaí,

Poeta e ensaísta ligado inicialmente ao Parnasianismo

-
ANTONIO OLINTO Nasceu em Ubá, MG (1919). e ao Simbolismo. Mais tarde adotou a
posição

Poeta e ensaísta vinculado à de 45. Entre seus


nacionalista no movimento modernista de 1922, termi-
geração

livros estão: O dia da ira Teorias


(1958), nando ficar conhecido como independente
publicados por poeta

novas e arjtigas e Tempo de verso Entre


(1974) (1992). e experimental de obra múltipla e original.
Poesia Sempre
286 /

-
Nasceu em Caracas, Venezuela
EDDA ARMAS (1955).
estes livros de
vários, destacam-se Jeremias
poemas:

de Belas-Artes, na revista Nexo e


Trabalhou no Museu
de Pan e A difícil
A (1917)
vem-chorar (1964),
flauta

da Casa de Poesia Pérez Bonalde.


é uma das diretoras

r manhã (1960).

todo silêncio Contra el aire


Publicou: Roto (1975),

e Cuerdas de serpiente (1985).


(1977)
-
na Iugoslávia em 1935,
SIMIC Nascido
CHARLES

com dez anos de


os Estados Unidos
mudou-se
para

um dos maiores
BISHOP
ELLZABETH (1911-1979),

de Nova York e ensi-


idade. Estudou na Universidade

norte-americana deste século,


expoentes da
poesia

Nova York e na Universidade


na na Universidade de

Em 1956, o seu livro Poems


17 anos no Brasil.
viveu

em 1990, o Prêmio
de New Hampshire. Recebeu,

Pulitzer Poesia e The


o Prêmio
(1955) para
ganhou

Pulitzer de Poesia.

vencedor do National Book


Poems foi
Complete (1969)

Award em 1970.

-
1935, na cidade de
WRIGHT Nasceu em
CHARLES

conhecido tanto
no Tenessee. Muito
Pickwick Sam,

-
Nasceu no Rio de (1941).
ELIZABETH VEIGA
Janeiro

tradutor italiano).
como (do
como
poeta quanto

Gosto de
e ensaísta. Livros
Poeta fábula
publicados:

Recebeu em 1993
Universidade da Virgínia.
Ensina na

e em claro (1992).
A
(1973)
paixão

Ruth Lilly de Poesia.


o Prêmio

-
Nasceu no Rio de
EMANUEL BRASIL Janeiro.

- Paris e,
em 1936, vive em
WILLIAMS Nasceu
C. K.

Entre seus livros estão:


Romancista,
poeta, jornalista.

de George
do ano, ensina na Universidade

parte
An Anthology of
Pedra (1977) (romance),
fantasma

Flesh and Blood


Virgínia. Seu livro de
Masor,
poemas

Brazilian Poetry (editada


Twentieth Century (1972)

do
detentor, em 1988, do
foi o para poesia
prêmio

Bishop) e Brazilian (1950-1980)


com Elizabeth
poetry

Book Critics Circle.


National

William Smith, 1983).


com
(editada Jay

-
Nasceu na Guatemala
ENRIQUE NORIEGA (1949).
-
Nasceu em Salvador (1927).
VEIGA
CLÁUDIO

Dirigiu várias oficinas de e alguns


ensaísta e poesia publicou
Francesa da UFBA,
de Literatura
Professor

criação literária. Publicou três livros de


livros sobre
de uma maior
Sete tons
Publicou
tradutor. poesia

Oh, banalidade Post actus e La


(1975), (1982)
Bahia e poesia:
e da (1986)
Prosadores
(1986), poetas

según (1990).
entre outros. pasión Judas
Antologia da (1991),
poesia francesa

-
MENDES VIANNA Nasceu no Rio de
FERNANDO

- e
no Rio de (1899)
MILANO Nasceu
DANTE Janeiro

Poeta, ensaísta e tradutor. Entre seus


(1933).
Janeiro

tradutor e ensaís-
Poeta,
faleceu em Petrópolis (1991).

estão A chave e a Proclamação


livros (1960),
pedra

reunida em Poesias
obra está
ta. Toda a sua
poética
e Marinheiro no tempo
do barro (1964) (1986).

aumentadas, em
se reeditaram, sempre
(1948),
que

1971 e 1979. -
1958,
BOAVENTURA Nasceu em Belo Horizonte,
FIÁVIO

de Filosofia da PUC/MG.
MG. Estudante

em 1949 no San
DAVID ST. Nasceu
Joaquim
JOHN-

-
LUCAS Nasceu em Esmeraldas, MG
ensinou na Universidade FÁBIO (1931).
Valley, Califórnia. John

crítico literário. Entre seus livros


University of Southern Professor, ensaísta,
e agora leciona na
Hopkins

Horizonte da crítica Crítica


em Venice, Califórnia. estão: (1965),
Califórnia. Vive atualmente
publicados

e Razão e emoção literária


sem dogma (1983) (1982).

-
de e
EMMER Nasceu no Rio
DENISE Janeiro, poeta

-
MOURÁO Nasceu em Ipuerias, CE
UFRJ. Publicou, entre outros, MELLO
mestrada em na GERARDO
poética

ensaísta, tradutor. Entre


Ponto zero e Invenção Romancista,
Geração estrela (1972), (1987) (1917). poeta,

Cabo das Tormentas Rastro


musa. seus livros estão: (1950),
uma velha
para

Apoio e Diálogos (1980).


de (1977)

-
FILHO É universitário,
DOMÍCIO PROENÇA
professor

-
em 1941. Poeta, e
CRUZ Nasceu
Publicou, entre out- GASTÂO
e crítico literário. professor
ficcionista
poeta,

Os nomes (1974),
crítico. Entre outros,
época na literatura e Dionísio
ros títulos, Estilos de publicou

Poesia 1961-1981 e O (1984).


(1983)
pianista
esfacelado.
- -
HENRY LUQUE MUNOZ Nasceu em Bogotá, PAULO PAES Nasceu em Taquaritinga, SP
JOSE

Colômbia É universitário, ensaísta e Poeta, ensaísta e tradutor. Publicou, entre ou-


(1944). (1926).
professor

autor dos seguintes livros: Sol cuello cortado Lo tros, os seguintes livros: Um todos reuni-
(1973), (poesia
por

la mirada e Libro de los caminos da), A está morta, mas não eu


(1977)
que puede poesia juro que fui

finalista do Prêmio Casa de Ias Américas e Prosa seguida de Odes mínimas


(1991), (1991) (1992).

(1990).

-
ALBERTO Nasceu nos Andes, vale do
JOSÉ

Aconcágua. Professor licenciado e Mestre em Letras.

HELEN VENDLER é o A. Kingsley Porter University

Possui vários livros entre eles: Reflexiones


premiados,

Professor da Universidade de Harvard e crítica de


poe-

en voz alta e Poemas convertirnos em seres


para

sia do The New Yorker. Ela é autora de livros sobre

humanos.

Yeats, Stevens, Herbert e Keats; seus ensaios foram

reunidos em Part ofNature, Part ofUse The Music of

-
CABRAL DE MELO NETO Nasceu em Recife, PE
JOÃO

What Happens. Terminou, recentemente, um

Poeta e diplomata. Ganhador do Prêmio


(1920).

Comentário sobre os Sonetos de Shakespeare.

Neustadt, 1992. Publicou, entre vários: Pedra do sono

Morte e vida severina e A escola de


(1942), (1965)

IVANJUNQUEIRA RJ. é crítico literário e


(1934) (3980).
poeta, facas

tradutor. Entre outros, Três rneditações na


publicou:

-
corda lírica, Lós, RJ, 1977. A rainha arcaica, Nova CASTANON GUIMARÃES Nasceu em de
JÚLIO Juiz

Fronteira, RJ, 1981; Cinco movimentos, Gastão de Fora, MG, 1951. Poeta, ensaísta e tradutor. Publicou:

-
Holanda, RJ 1982. Territórios/conjunções e críticas de
poesia prosa,

Murilo Mendes.

IVO BARROSO nasceu em Ervália, MG, Poeta,


, (1929).

-
LINO GRÜNEWALD Poeta, crítico e tradutor.
JOSÉ

tradutor e crítico, Sonetos de Shakespeare,


30
publicou

Publicou, como entre outros, Um e dois


poeta, (1958).

Os Gatos de T. S. Eliot e uma antologia de Traduções,

O Torso e o Gato. Seus livros Nau dos Náufragos

-
LEONARDO FRÓES Poeta, tradutor,
jornalista.

e Visitações de Alcipe foram ambos edi-


(1981) (1992)

Publicou, entre outros: A vida em comum


(1969),

tados em Portugal.

Esqueci de avisar estou vivo e Anjo tigrado


(1973)
que

(197.5).

-
TATE Nasceu em 1943 em Kansas City, no
JAMES

-
Diplomado The Writers Workshop da LENILDE FRELTAS Nasceu na Paraíba.
Missouri. Formada em
pelo

Universidade de lowa, leciona atualmente na Letras Universidade Federal da Paraíba. É autora,


pela

Universidade de Massachusetts. Obteve o Prêmio entre outros títulos, de Desvios Esboço de Eva
(1987),

Pulitzer de Poesia do ano de 1992. e Espaço neutro


(1987) Nestlé, 1991).
(Prêmio

-
LLOYD SCHWARTZ íbeta norte-americano,
que já
-
DE LIMA Nasceu em União, AL
(1895-1953).
JORGE

deu cursos e no Brasil, especialista na obra


pesquisou

Médico, romancista, contista, ensaís-


poeta, jornalista,

de Elizabeth Bishop.

ta, crítico. Pertence à segunda de modernistas. E


geração

um dos escritores mais representativos da linha experimen-

-
LUIZ BACELLAR Nasceu Aparecida
em
(AM).

talista e vanguardista deste movimento. Livros mais

Professor de História da Música e de Português.

importantes: Alexandrinos Tempo e


(1914),

Publicações: Frauto de barro Sol de


Jornalista. (1963),

eternidade e Invenção de Orfeu


(1935) (1952).

Feira e movimentos
(1973) (1975).
Quatro

- -
GRAHAM Nascida em 1950, cresceu na Itália, LOULSE GLÜCK Nasceu em 1943, em Long Island,
JOR1E

estudou na Sorbonne e nas Universidades de Nova Nova York. Ensina no Williams College,

York e de lowa, onde ensina atualmente. Ela é boi- Massachusetts. Recebeu o Prêmio Pulitzer de Poesia

sista da MacArthur. do ano de 1993.


288 / Poesia Sempre

BANDEIRA'- -
MANUEL Nasceu em Recife
(1886-1968). MOACYR FÉLIX Nasceu no Rio de em 1926.
Janeiro

Poeta, de literatura, ensaísta e tradutor.


T Advogado, escritor e Publicou
professor 13 livros entre os
poeta.

Firma-se no cenário da literatura brasileira com uma Um na cidade e no tempo


quais (1966), Em
poeta

de renovador, da revolução modernista. nome da vida e Neste lençol


posição pioneiro (1981) (1992).

Sua obra entre nós de tal modo é


popularizou-se
que

-
NEIDE ARCHANJO Nasceu em São Paulo.
lido todas as Livros
até hoje. Livros de
por gerações que
poesia

entre outros: Escavações


mais conhecidos: (1980), As marinhas
A cinza das horas publicou,
(1917),

e Poesia 1964 a 1984


Libertinagem Estrela (1984) (1987).
(1930) e da manhã
(1936).

-
NICOLELAURENT-CATRICE Poeta francesa, autora de
MARCO LUCHESI- Tradutor e ensaísta. Autor de Faces

"Liturgie "Je

des Pierres" e de cartes", organizadora de


da utopia e de Poemas, de Khlébnikov.

vários festivais de na França.


poesia

-
MARK STRAND É autor de oito livros de o
poesia,

-
PATRÍCIA BURROWES Poeta, En espiral
publicou
mais recentemente é Dark harbor, um
publicado

(1993).

longo com e cinco seções. No ano de


poema quarenta

1993 o Prêmio Bollingen de Poesia. Neste ano


ganhou

-
RICARDO VIEIRA LIMA Nasceu em Niterói É
(RJ).

muda-se Baltimore, Maryland, onde


(1994),
para pas-

bacharel em Direito UFRJ. Poeta e colaborador


pela

sará a ensinar no The Writing Seminar da


Johns

de suplementos literários. Seu livro inédito Pura

Hopkins University.

catarse o Prêmio UBE/1990.


ganhou

-
MARCOS SILBER Nasceu em Buenos Aires. Publicou

-
ROBERT HASS Nasceu em 1941 em São Francisco,

os seguintes volumes individuais de Volcon


poesia: y

Califórnia. Atualmente ensina em Berkeley,

trino, Lasporteras de la luz e Seminário dei miedo.

Universidade da Califórnia. Foi agraciado com uma

bolsa MacArthur.

-
MARIA CARPI Nasceu em Guaporé, RS
(1939).

Professora, defensora representante da OAB


pública,
-
ROSA KAP1LA Nasceu em Picos, Piauí
(1951).

no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do

Professora de literatura, contista e romancista.

Adolescente. Publicações: Desiderium desideravi

Publicou, entre outros: Baião de dois Pulso


(1982), de

da dor e Vidência e acaso


(1991), Nos (1990)
gerais

lamê e Felizes são os


(1984) (1992).
gatos

(1992).

-
RUSSELL EDSON Nascido em 1935, vive em

-
MARIA TERESA HORTA Nasceu em 1937. Poeta, ficcionista

. Connecticut. Publicou entre muitos outros livros de

e Integrante de Poesia 61. Alguns de seus


jornalista.
The intuitive The wounded breakfast
poemas joumey,

livros: Poesia completa e Poesia completa 2


(1983)

e- The reason why the closet-man is neversad.

(1983).

-
SÉRGIO LEMOS Nasceu no Rio de
Janeiro (1941).

-
MAYRA SANTOS FEBRES Nasceu em Carolina, Porto
Poeta e editor. Publicou, entre outros: A casa dos ele-

Rico Publicou Palabra sitiada e outros


(1966).
poe- mentos Mobiles de sal
(1984), (1991) e A cúpula e O

mas na revista Casa de Cuba.

rumor
(1992).

-
MANUEL ALEGRE Nasceu -
em Moçambique
(1937). STENEN F. W1THE Poeta norte-americano,
da St.

Poeta, e Livros: O canto e as armas


prosador político. Lawrence University, NY., Atualmente
na
professor

Atlântico
(1989) e (1981).
Universidade de Santa Catarina, especialista em literatura

latino-americana.

-
MÁRCIO SOUZA Nasceu em Manaus, AM (1946).

-
Romancista, ensaísta, teatrólogo. Vários romances SUZANA VARGAS Nasceu em Alegrete, RS
pu- (1955).

blicados, entre os Galvez, o imperador do Acre Poeta e autora de literatura infantil. Publicou,
quais entre

Mad Maria e O do Terceiro


(1976), (1980) Mundo outros: Sem recreio Sempre-noiva
fim (1983), e
(1984)

(1990). Sombras chinesas


(1990).
-
THOMAZ ALBORNOZ NEVES É e cineasta.
poeta

Publicou Poemas e realizou o curta-metragem


(1990)

O braço
(1991).

VICTOR GIUDICE 1934) é ficcionista e crítico de


(RJ,

literatura e música.Publicou entre outros: Necrológico,

1972 e Os Banheiros, 1979


(contos) (contos).
Endereço correspondência:
para

Poesia Sempre

Av. Rio Branco, 219


,

de RJ 20040-008
Rio
Janeiro,

legal na Fundação Biblioteca Nacional


Depósito

Decreto nfi 1,825, de 20.12.1907.


Conforme

Impresso no Brasil.

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Todos os direitos reservados os autores


para que

colaboraram neste número.

Originais não solicitados serão submetidos ao

Conselho Editorial e não serão devolvidos.

a opinião de seus autores


As matérias exprimem

e não necessariamente a da editoria.

Gráfica: Rainer Rio


Produção

- -
Poesia Sempre Ano 2 na3

1994)
(fevereiro

de Fundação Biblioteca Nacional


Rio
Janeiro:

-
Dep. Nacional do Livro, 1994

v.; 26,5 cm

Semestral

ISSN 0104-0626

- -
2. Literatura História e
1. Literatura Periódicos.

-
crítica Periódicos. I. Biblioteca Nacional (Brasil).

Nacional do Livro.
Departamento
"A

arte é longa, a vida é breve."

Hipócrates

"A

arte nasce da dor, como a

pérola."

Monteiro Lobato

"Toda

arte é inútil."

perfeitamente

Oscar Wilde

"A

arte é a mais bela das mentiras."

Debussy

"A

arte é uma amante ciumenta."

Emerson

Para a Shell, a arte é a

patrocinar produção

cultural brasileira, ela se torne


para que

cada vez mais livre, mais fértil, mais nossa.

Prêmio Shell a Música Brasileira.


para

Prêmio Shell o Teatro Brasileiro.


para

Patrocínio à dança, teatro, música, cinema

e artes

plásticas.

m
T>

nasceu em 1942, no Rio de


ubens Gerchman
JLY Janeiro.

em 1960, entrou a Escola


Estudou no Colégio Andrews e,
para

Artes. Recebeu, em 1966, o


de Belas
primeiro

Arte Moderna do Rio de


lugar em do Salão de
Janeiro.
pintura

Imaginário, de Nova York,


Membro Fundador do Museu

em 1968.

exposições coletivas e
Entre 1964 e 1993 realizou

além do Brasil, como Estados Unidos,


individuais em diversos
países,

Argentina, Canadá e Dinamarca.


Japão,

Capa e 2e orelha

Rubens Gerchman
Neste Nú mero:

POESIA BRASILEIRA EM TRADUÇÃO

Die Begegnung Neighborhood de Adélia Prado


/

Letter to the dead The body-object and other examples


/

Humour cannibale de Affonso Romano de Sant'Anna

Sun and showers Nightfall de Cassiano Ricardo


/

Ante un retrato Poemi relativi X


The enourmous hand /Aline ) / ( )
(

de de Lima
Jorge

Rondeau of the little horses Anthology


My Last / /
poem

de Manuel Bandeira

NORTE-AMERICANA HOJE
POESIA

Seleção de Mark Strand

Charles Wright./ C.K. Williams David St.


Amy Clampitt Charles Simic / /
/
John

Louise Glück Robert Hass Russell Edson


Tate Graham / /
/
James Jorie /

Entrevista com Mark Strand

"The

Helen Vendler crítica do New Yorker"


( ):

Fin-de-siècle Graham

poetry: Jorie

E AINDA:

"O "O

Melo Neto:Por escrevi cão sem e rio"


Cabral de
João que plumas"

"O

inovador de de Lima", Fábio Lucas


soneto
Jorge

"O

corvo e suas traduções", Ivo Barroso

Confronto de traduções :"Salut", de Mallarmé

Poesia Portuguesa Hoje

Poesia hoje na América Latina


Letrasul :

BIBLIOTECA NACIONAL
Fundação

MINISTÉRIO DA CULTURA

ISSN 0104-0626

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