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Francisco Cancela
1
MARCHANT, Alexander. Do escambo à escravidão. São Paulo: Ed. Nacional, 1980.
2
PEREIRA, Paulo Roberto (org.). Os três testemunhos do descobrimento do Brasil: Carta de Caminha,
Carta de Mestre João e Relação do Piloto Anônimo. Rio de Janeiro: Lacerda Ed., 1999.
3
GÂNDAVO, Pero de Magalhães de. História da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos
Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004; SOUSA, Gabriel Soares de. Notícias do Brasil. Lisboa:
Alfa, 1989.
4
NAVARRO, Azpilcueta. Cartas Jesuíticas. São Paulo: Editora da USP, 1988.
destacando-se, entre estas, o processo inquisitorial movido contra o Capitão Donatário
de Porto Seguro e as Cartas Régias enviadas para as autoridades coloniais da Capitania5.
Estas fontes possuem algumas características em comum. De um lado, elas foram
geradas durante o processo de conquista e colonização da América portuguesa,
possuindo informações e idéias vinculadas a este processo. Do outro, foram escritas por
exclusivamente europeus, prevalecendo visões eurocêntricas sobre os povos indígenas.
Diante destas condições, para o diálogo com estas fontes será necessário o uso de
“filtros” das informações, sendo útil o cruzamento de fontes, a procura da
contextualização da produção do documento e a identificação do seu autor e seus
interesses.
5
DOCUMENTOS HISTÓRICOS, PROCESSO INQUISITORIAL E AUTORIZAÇÃO DE ENTRADAS
6
MAXWELL, Kenned. Marquês de Pombal: o paradoxo do iluminismo. São Paulo: Paz e Terra, 1996;
TENGARRINHA, José (org.). História de Portugal; revisão técnica Maria Helena Ribeiro Cunha. – 2.
ed., ver. e ampl. – Bauru, SP: EDUSC; São Paulo, SP: UNESP; Portugal, PT: Instituto Camões, 2001;
FALCON, Francisco. A época pombalina. São Paulo, Ática, 1982; BEOZZO, José Oscar. Leis e
Regimentos das Missões. Política indigenista no Brasil. São Paulo: Edições Loyola, 1983; CUNHA,
Manuela Carneiro. Legislação indigenista do século XIX. São Paulo: Edusp, 1993; NETO, Moreira.
Índios da Amazônia, de maioria a minoria. Petrópolis, Vozes, 1988.
indigenista pombalina na região. Para alcançar estas metas, pretendemos realizar dois
tipos de pesquisa: de um lado a bibliográfica, dando destaque aos trabalhos publicados
na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e nas obras clássicas sobre
História da Bahia7; do outro, a pesquisa documental, dialogando com algumas fontes
administrativas, destacando-se as Cartas Régias redigidas para orientar a transformação
dos aldeamentos jesuíticos em vilas e as Instruções encaminhadas para a criação da
Nova Ouvidoria de Porto Seguro8.
7
BARROS, Francisco Borges de. Penetração das terras baianas. Anais do APMEB. Salvador: IOF, 1920;
CERQUEIRA SILVA; Inácio Accioli. Memórias históricas e políticas da Província da Bahia. Salvador:
IOF, 1931; Kátia Mattoso, Bahia: A Cidade do Salvador e seu mercado no século XIX. São Paulo:
Hucitec, 1978; VILHENA, Luis Santos. A Bahia no Século XVIII. Bahia: Itapuã, 1969.
8
Provisão Real que estabelece a transformação da aldeia de São João em Vila Nova de Trancoso, em 22
de novembro de 1758. APEB. Seção Colonial e Provincial. Maço 603, cad. 35; Instruções dadas pelo
Marquês de Pombal a Thomé Couceiro de Abreu, quando mandou por este magistrado criar a Ouvidoria
de Porto Seguro, em 30 de abril de 1763. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, n. 42,
1916, p. 63-69.
9
AHU – Projeto Resgate. Relação sobre as Vilas e Rios da Capitania de Porto Seguro, pelo Ouvidor
Tomé Couceiro de Abreu – doc. 6430; AHU – Projeto Resgate. Mappa e descrição da Costa, Rios e sus
terrenos, de toda a Capitania de Porto Seguro e até onde pode chegar sumacas, lanchas e canoas em
seus fundos, feito e examinado pelo Capitão-mor João da Silva Santos – doc. 27113; BNRJ –
Ao final deste capítulo pretendemos alcançar os diferentes processos de
povoamento das vilas de índios, construindo, a partir desta análise, categorias
explicativas para o processo de ocupação territorial. Até o presente momento, por
exemplo, temos três tipos de povoamento: os decorrentes de antigos aldeamentos
jesuíticos (Vilas Verde e Trancoso), o decorrente de aldeamento particular (Vila de
Belmonte) e os de áreas estratégicas semi-povoadas (Vilas do Prado e de Alcobaça). Ao
mesmo tempo, buscaremos deixar claras as diferenças entre viver em aldeamentos e
viver em vilas de índios.
Manuscritos. Descrição do Mapa Topográfico da Comarca de Porto Seguro, com algumas observações
tendentes ao melhoramento da mesma Comarca, feita por ordem da Mesa do desembargo do Paço, em
provisão de 25 de Agosto de 1813 – Localização: I-28,29,10; APEB – Dossiê sobre aldeamentos e
missões indígenas. Carta de aplicação da Provisão Real que mandou criar a Vila de Trancoso – maço:
603; BNRJ – Manuscritos. Relação dos Autos da criação da Vila Nova do Prado, da Capitania de Porto
Seguro – Localização: I – 5, 2, 29, nº 11; BNRJ – Manuscritos. Translado dos autos da criação da Vila
Nova de Belmonte, sobre a barra do Rio Grande na Capitania de Porto Seguro – Localização: I – 5, 2,
29, nº 12; AHU – Projeto Resgate. Autos de criação, medição e demarcação da nova Vila Viçosa, na
Capitania de Porto Seguro – doc. 8555; AHU – Projeto Resgate. Autos da criação, medição e
demarcação da nova Vila de Alcobaça, na Capitania de Porto Seguro – doc. 8578; IHGB – Autos de
ereção e criação da nova Vila de Porto Alegre. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v.
3, 1914, p. 515-594; IHGB – Auto de criação desta nova Vila do rio de São Mateus, que mandou fazer o
Doutor Desembargador Ouvidor Geral desta Comarca e Capitania de Porto Seguro, Tomé Couceiro de
Abreu. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 3, 1914, p. 515-594.
10
DENIS, Ferdinand. Os maxacalis. São Paulo: Conselho Estadual da Cultura, 1979; PEREIRA,
Deuscreide. Alguns aspectos gramaticais da língua Maxakali. Dissertação de Mestrado. Belo Horizonte:
UFMG, 1991; FABRE, Alain. Diccionario etnolinguistico de los pueblos indegenas sudamericanos.
México: Autônoma, 2005; MÉTRAUX, Alfred, NIMUENDAJÚ, Curt. The Mashakali, Patashó, and
observaram etnograficamente os habitantes das vilas de índios de Porto Seguro entre o
final do século XVIII e inicio do XIX.11
O segundo tópico se ocupará dos não-índios. De acordo com as informações
retiradas de algumas fontes, os não-índios em Porto Seguro estavam distribuídos em
grupos bastante diversificados, destacando-se os colonos brancos e pardos, os escravos
africanos e crioulos e os degredados brancos, negros e pardos. Estes não-índios
construíram trajetórias diferentes e se relacionaram de forma distinta com os povos
indígenas. Por meio do confronto entre várias correspondências de autoridades
coloniais, buscaremos identificar os não-índios e analisar as relações sociais forjadas no
cotidiano. Parte deste tópico já foi produzido e publicado na Revista Espaço
Ameríndio12.
No último tópico, buscaremos identificar e analisar a principal autoridade colonial
das vilas: os diretores de índios. A partir de uma investigação detalhada das Provisões
Régias, conseguimos identificar os nomes de alguns diretores das oito vilas de índios de
Porto Seguro. Em Vila Verde, por exemplo, Manuel Lopes de Oliveira ocupou o cargo
de diretor por quase trinta anos. Certamente, neste longo período uma trajetória de vida
foi forjada, caracterizada por conflitos, autoritarismo, privilégios e mediações. Nossa
intenção é cruzar os dados já recolhidos com outras fontes, buscando identificar e
analisar a trajetória de alguns destes sujeitos. Após esta identificação, o caminho que
seguiremos estará pautado no método onomástico, proposto pelo historiador italiano
Malalí linguistic families. In: STEWARD, Julian H. (Ed.). Handbook of South American indians. v. 1.
New York : Cooper Square Publishers, 1963; NIMUENDAJÚ, Curt. Índios Maxakali In: --------. Textos
indigenistas. São Paulo : Loyola, 1982. p. 209-18. (Publicado também na Revista de Antropologia, São
Paulo : USP, v. 6, n. 1, p. 53-61, 1958); PARAÍSO, Maria Hilda. Amixocori, Pataxó, Monoxó,
Kumanoxó, Kutatoi, Maxacali, Malali e Makoni: povos indígenas diferenciados ou subgrupos de uma
mesma nação? Uma proposta de reflexão. Caxambu: ANPOCS, 1992 (a); URBAN, Greg. A História da
cultura brasileira segundo as línguas nativas. In: CUNHA, Manuela Carneiro da (org.). História dos
Índios no Brasil. – São Paulo: Cia das Letras,1992.
11
VILHENA, Luís dos Santos. A Bahia no Século XVIII. Salvador: Editora Itapuã, 1969, v. 2;
LINDLEY, Thomas. Narrativa de uma viagem ao Brasil. São Paulo: Editora Nacional, 1969; WIED-
NEUWIED, Maximilian Prinz von. Viagem ao Brasil. São Paulo: Edusp, 1989; SAINT-HILAIRE,
Auguste de. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Tradução de Vivaldi Moreira.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1975; NAVARRO, Luis Tomás. Tinerário da Viagem que fez
por terra da Bahia ao Rio de Janeiro. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, v. 7, 1866,
p. 433-68.
12
CANCELA, Francisco Eduardo Torres. A presença de não-índios nas vilas de índios da Capitania de
Porto Seguro: relações interétnicas, territórios multiculturais e reconfiguração de identidade – reflexões
iniciais. Revista Espaço Ameríndio, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 42-61, jun./dez., 2007. Disponível em
http://www.seer.ufrgs.br/index.php/EspacoAmerindio/article/viewFile/2545/1467.
Carlo Ginzburg13. Para tanto, pesquisaremos o acervo de inventários e testamentos do
Arquivo Público da Bahia, que serão explorados neste primeiro semestre de 2008.
15
Instruções dadas pelo Marques de Pombal a Thomé Couceiro de Abreu, quando mandou por este
magistrado criar a Ouvidoria de Porto Seguro. Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
Salvador, v. 42, 1916, p. 63.
16
APEB – Senado. Câmara da Vila de São José de Porto Alegre: termo de vereação, posse e juramento –
maço: 485-3.
analisar as formas de religiosidade dos índios e as preocupações e estratégias elaboradas
pela ação colonial para impor a religião católica.17
17
Esta documentação encontra-se no Arquivo da Cúria do Rio de Janeiro, onde pesquisamos durante uma
semana no mês de março de 2007. Contudo, pretendemos retornar a este Arquivo, pois existiam alguns
documentos que estavam em restauração e, possivelmente, já estão disponíveis para consulta. Além das
visitas Pastorais, temos esperança em encontrar livros de batismos e casamentos. Através do primeiro
podemos analisar as relações de compadrio e a incorporação de rituais católicos na cultura indígena. E,
por outro lado, através do segundo, podemos perceber as redes de sociabilidade, inclusive traçando uma
explicação sobre o processo de miscigenação forçada e voluntária dos índios de Porto Seguro.
18
Instruções para o governo dos índios da Capitania de Porto Seguro, que os meus Directores hão de
praticar em tudo aquilo que se não encontrar com o Directorio dos Índios do Gram Pará (a) José
Monteiro. Annaes da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Oficinas Gráficas da
Biblioteca, V. 32, 1914, p. 372-379.
19
Ver o anexo 2, que expõe a forma de pagamento aos índios destinado à soldada. A referida fonte
possibilita a construção de outras tabelas que demonstram a forma de pagamento ao trabalho indígena em
Porto Seguro.
dados contidos no Mapa da enumeração da gente e povo desta Capitania da Bahia,
elaboraremos tabelas que retratarão quantitativa e qualitativamente o perfil da
população que habitava as vilas de índios de Porto Seguro20. O anexo 3, por exemplo,
representa a situação da Vila de Alcobaça, em 1780.21 Nela podemos perceber dois fatos
que chamam a atenção: de um lado, a maioria da população desta vila tem a idade
adulta; de outro, a população feminina é superior à masculina. Todos dois fatores se
explicam pela forma segundo a qual a produção se organizou nas vilas, priorizando o
uso dos moradores indígenas como trabalhadores diretos e direcionados para atividades
domésticas e agrícolas. Além destes aspectos, outros serão analisados, pois acreditamos
que as informações demográficas podem identificar quem produzia na economia
colonial.
Ainda no segundo tópico, identificaremos os diversos empregos e ofícios dos
índios de Porto Seguro. Até o presente momento, temos indicações de que os indígenas
eram empregados na lavoura de mandioca, na pesca e no corte de madeiras. Ao mesmo
tempo, existiam alguns índios especializados em ofícios, tais como construção naval,
tecelagem, sapataria e olaria. Entre as fontes que serão consultadas neste tópico,
destacamos: as correspondências dos Ouvidores de Porto Seguro, a Diligência sobre o
corte do pau-brasil encontrado na Capitania de Porto Seguro22, Auto da inquirição de
testemunhas a que procedeu o Ouvidor interino e Sargento-mor Francisco Dantas
Barbosa, para se informar do estado e civilização dos índios23 e os relatos e crônicas dos
viajantes. Acreditamos que o confronto destas fontes possibilitará a identificação e a
análise das relações econômicas, sempre buscando respostas às perguntas de quem
produzia, como produzia e para quem produzia.
O último tópico será dedicado à análise da vida comercial das vilas de índios. Nas
correspondências entre autoridades, encontramos algumas evidências que nos levam a
20
AHU – Projeto Resgate. Mapa da enumeração da gente e povo desta Capitania da Bahia, pelos
fregueses das suas Comarcas, com a distinção de 4 classes das idades pueril, juvenil, varonil e avançada,
em cada sexo, com o numero dos velhos com mais de 90 anos, dos nascidos, dos mortos e dos fogos,
conforme o permitiram as listas que se tiraram do ano pretérito; no que é de notar que aqui não se
incluem 11 freguesias das Minas e Sertão do Sul, que passaram às jurisdição secular da Capitania das
Gerais, ainda que se conservam na eclesiástica da Bahia. Doc. 10701
21
Em anexo, Tabela 2: Distribuição etária da população da Vila de Alcobaça, segundo o sexo, 1780. Com
as informações contidas nesta fonte, poderemos construir análise demográficas de todas as vilas indígenas
de Porto Seguro, no ano de 1780, destacando a distribuição etária da população por sexo, a taxa de
natalidade e mortalidade e a comparação entre as povoações de índios e as de brancos.
22
APEB – Correspondência recebida de autoridades diversas. Diligência sobre o pau-brasil encontrado
na Capitania de Porto Seguro. Doc. 209.
23
AHU – Projeto Resgate. Auto da inquirição de testemunhas a que procedeu o Ouvidor interino e
Sargento-mor Francisco Dantas Barbosa, para se informar do estado e civilização dos índios. 19 de
setembro de 1803. Doc. 26334.
supor que estas vilas ocupavam um papel de destaque na folha geral de comercialização
da Capitania de Porto Seguro. As informações até agora extraídas indicam que o uso do
trabalho indígena, principalmente na plantação de mandiocas, possibilitou a formação
de um excedente tão grande que forjou a criação de um seleto grupo de comerciantes
nas Vilas de Caravela, Viçosa e São Mateus, principais porto da região. Os documentos
que evidenciam este fato precisam de um tratamento mais cuidadoso, segundo o qual
suas informações deverão ser sistematizadas e cruzadas com dados de outras fontes24.
Barickman analisou a economia da Capitania de Porto Seguro no final do século
XVIII e início do XIX. O caminho metodológico construído e as hipóteses levantadas
nesse trabalho são pontos de partida para a escrita desse capítulo. A principal tese do
autor é a de que a Metrópole pretendia criar uma nova categoria de colono aproveitando
o grande contigente de indígenas existente em Porto Seguro. Estes novos colonos foram
classificados de “índio-camponês”, que tinham como caracterítica a sedentariedade e a
preocupação com a produtividade, sendo o funcionamento da economia movido pela
“combinação de coerção, assimilação cultural e supervisão intensa”25.
24
AHU – Projeto Resgate. Mappa dos navios que entraram e sahiram do porto da Capitania de Bahia em
1806 – doc. 29771; AHU – Projeto Resgate. Requerimentos de Antonio Soares da Costa e outros donos e
mestres de embarcações, que do porto de Caravelas e de outros portos de Porto Seguro negociavam em
mantimentos para a Praça da Bahia, nos quais reclamavam contra os excessivos direitos exigidos pela
Administração do Celleiro Público – doc. 30065; ANRJ – Série Interior. Mappa dos navios que entraram
e sahiram do Porto da Capitania da Bahia em 1808 – Notação: IJJ2 – 292.
25
BARICKMAN, B. J. “The indians”, “Wild Heathens”, and settlers in Souther Bahia in the late
Eighteenth and early Nineteenth Centuries. Americas, 51, v. 3, p. 325-368, 1995.
sobre sua intervenção naquela Capitania. Ao tratar da Vila do Prado, explicitou um
comportamento interessante dos seus moradores indígenas:
A respeito dos índios não tem sido possível refreá-los no uso em
particular da sua bárbara linguagem, ainda que no público a vão acautelando
e abstendo-se dos vícios da ebriedade e ociosidade26.
26
AHU – Projeto Resgate. Carta do Ouvidor de Porto Seguro, José Xavier Machado Monteiro, dirigida
ao Rei, na qual relata o sucessivo desenvolvimento desta Capitania. Documento nº. 8787.
27
AHU – Projeto Resgate. Requerimento do Capitão-mor Domingos Gomes Morim, no qual pede a
confirmação régia da patente. Documento 16836.
28
AHU – Projeto Resgate. Auto que mandou fazer o Ouvidor Tomé Couceiro de Abreu. Doc. 6521.
29
SILVA, Eduardo; REIS, João José. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 63.
30
MONTEIRO, John. Negros da Terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994, p. 181-182.
Capítulo 8 – A Capitania de Porto Seguro no contexto da violência e militarização:
guerras justas, quartéis e destacamentos
O último capítulo da tese pretende analisar o processo de superação definitiva da
política indigenista pombalina na Capitania de Porto Seguro, que resultou na aplicação
de um novo modelo de conquista e colonização. Este novo modelo apresentava três
características básicas: primeiro, a busca de uma nova atividade econômica,
especialmente a pecuária, que exigia a liberação de terras da posse de índios; segundo,
na abertura de comércio com Minas Gerais, através da criação de estradas e caminhos,
que exigia o deslocamento dos índios para as picadas nas matas, pois eram a principal
mão-de-obra para esta atividade; terceiro, na militarização da região como forma de
combater os índios não-aldeados, sendo necessário a criação de quartéis e
destacamentos para onde foram deslocados parte dos índios que antes viviam nas vilas.
A execução desta nova política indigenista foi pautada no uso direto da violência, uma
vez que a partir de 1808 a decretação de Guerra Justa aos índios bravos havia retornado
na legislação indigenista.
Para este capítulo, dialogaremos com a vasta e rica correspondência produzida
pelo Ouvidor José Marcelino da Costa. A principal preocupação será evidenciar como a
nova política indigenista interferiu na vivência dos índios das vilas de Porto Seguro,
gerando um momento de instabilidade, esvaziamento demográfico e terror. Esta parte da
pesquisa é a que está mais atrasada no quesito disponibilidade de fonte, mas as
consultas aos catálogos da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro mostram a grande
quantidade de documentos sobre o assunto em questão.