Você está na página 1de 47

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES


CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

WALLYSON TAVARES DE SOUSA

DE BANDIDO A CAPITÃO: AS REPRESENTAÇÕES NA LEGALIZAÇÃO DO “REI


DOS CANGACEIROS” NO COMBATE A COLUNA PRESTES NO CEARÁ (1926)

CURITIBA
2017
WALLYSON TAVARES DE SOUSA

DE BANDIDO A CAPITÃO: AS REPRESENTAÇÕES NA LEGALIZAÇÃO DO “REI


DOS CANGACEIROS” NO COMBATE A COLUNA PRESTES NO CEARÁ (1926)

Trabalho apresentado ao Curso de Licenciatura


em História 7° período noturno, da Pontifícia
Universidade Católica do Paraná como requisito
a disciplina trabalho de conclusão de curso.

Orientador: Mariana Corção

CURITIBA
2017
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................5
2. REFERENCIAL METODOLÓGICO, TEÓRICO E CONCEITUAL.............6
2.1 Metodologia ....................................................................................6
2.2 Conceito de Representação ..........................................................11
2.3 Conceito de Cangaço ....................................................................13
3. CEARÁ: PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX ......... ......................16
3.1. Professor e o aluno .............................................................................16
3.2. Livro didático .......................................................................................18
3.3. Diário de sala ......................................................................................19
4. BRASIL: SURGIMENTO DO TENENTISMO EA FORMAÇÃO DA COLUNA
PRESTES...................................................................................................31
5. CONCLUSÃO ...........................................................................................33
6. REFERÊNCIAS .........................................................................................35
7. ANEXO ......................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO

O caminho inicial dessa monografia tem como objetivo central analisar as


representações do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva conhecido como
Lampião no Cariri cearense.
Procuramos evidenciar através da análise fontes jornalísticas a estreita
relação existente entre o “bandoleiro” e as lideranças políticas e religiosas da
região. Entre os inúmeros fatos mencionados pelos jornais, iremos explorar o
episódio da outorga da patente de capitão concedida a cangaceiro Lampião ao
integra-se ao batalhão patriótico da cidade de Juazeiro do Norte (CE) no combate
a Coluna Prestes durante os anos de 1926. Acreditamos que esse episódio
fomentou a construção de um imaginário local, constituído dessa forma um
cenário político-cultural.
Sendo principal eixo documental desse trabalho, os jornais exerceram um
papel crucial na compreensão de nosso objeto, dada sua importância na
cobertura dos fatos relacionados ao cangaço e, por sequência, o banditismo no
sertão nordestino que era algo latente durante o período da história brasileira
compreendido como primeira república.
Nesse sentido, é criado uma representatividade ao próprio cangaço e por
consequência seus sujeitos envolvidos, manifestado nesse contexto no papel
exercido por cangaceiros e coronéis.
Ao analisarmos o corpo documental composto por matérias jornalísticas é
possível notarmos as representações criadas acerca do cangaceiro Lampião
durante os anos de 1920 na região do Cariri cearense. Essas representações nos
permitir formular como foi constituída a figura de Lampião o “mito” em terras
cearenses.
No intuito de aprofundarmos as questões anteriormente mencionadas,
partimos dos seguintes questionamentos: Quais representações foram criadas
pelo jornal O Ceará durante a passagem do cangaceiro Lampião na região do
Cariri durante os anos de 1925 a 1928? a partir do referido episódio da
“legalização” do “Rei do Cangaço” na cidade de Juazeiro do Norte (CE) nos
permitimos refletir e também indagarmos, qual a relação existente entre o
cangaceiro Lampião e o Padre Cícero Romão Batista e os chefes políticos da
região?
Em relação a tipologia da fonte a ser analisada: trata-se do periódico, do tipo
jornal. Priorizamos analisar um dos principais jornais em circulação nos anos de
1920 no estado do Ceará, o jornal: O Ceará. Acreditamos que esse periódico foi
fundamental para compreendermos o cotidiano e o espaço social que compõe
nosso objeto de pesquisa.
A metodologia está empregada em uma análise crítica, a partir do modo a
qual o jornal O Ceará transmite suas informações. Para esse fim analisamos o
corpo jornalístico, buscando em primeiro plano evidenciar sua ideologia e o
público alvo a qual direciona-se suas informações.
Como principal intuito deste trabalho é analisar as representações criadas
pelo jornal O Ceará acerca do cangaceiro Lampião na região do Cariri cearense.
Nosso recorte espacial engloba a região sul do estado do Ceará compreendida
como o vale do Cariri. Correspondente a esse espaço geográfico Joaquim Alves
enfatiza:

O Vale do carirí, localizado no extremo sul, constituído por sete


municípios: Missão Velha, Crato, Caririaçú, Juazeiro, Barbalha, Jardim e
Brejo dos Santos, estando os cinco primeiros situados na parte do
interior do grande hemiciclo que a Serra do Araripe faz na região e os
dois últimos, na parte posterior, sendo que o município de Jardim se
encontra na curva formada pela montanha, que o isola inteiramente dos
demais (1946, p.95).

Optamos em explorara especificamente os munícios de Barbalha, Brejo dos


Santos, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha e Porteiras. Em nosso
entendimento essas localidades têm uma importância relevante devido a
pluralidade das representações criadas através dos discursos sobre o banditismo
e por sequencia o próprio sujeito Lampião.
Deste modo, delimitamos nosso recorte temporal, durante os anos de 1925 a
1928, datas a quais o cangaceiro Lampião efetivou suas ações mais significativas
na região do Cariri. Através de nossa pesquisa acreditamos que esse breve
espaço de tempo seja imprescindível para compreensão de nosso objeto.
Com o intuito de facilitar a compreensão do leitor, optamos em dividir essa
monografia em três capítulos. O primeiro capítulo buscamos evidenciar os jornais
como fonte de pesquisa histórica, explorando a parte teórica formulada por
metodologia e conceitos, procuramos dessa forma direcionar o leitor a uma
análise crítico acerca de nosso objeto. Neste capítulo pretende-se analisar e
discutir o uso dos jornais como fonte para compreensão do passado.
Demostrando as metodologias apropriadas no que se refere ao tratamento desses
periódicos como fonte na pesquisa histórica.
Para tanto se faz necessário situar os jornais no contexto pertinente à
renovação historiográfica decorrente dos anos de 1970. Em seguida iremos
analisar a utilização da imprensa escrita como fonte de pesquisa histórica e
cultural. Como aparato metodológico, utilizamos as estratégias elaboradas pela
historiadora Tania Regina de Luca no livro “Fontes Históricas”, organizado pela
historiadora Carla Pinsky e por último iremos debater o conceito de
representações relacionando-o aos jornais.
O segundo capítulo tem por objetivo evidenciar a origem da Coluna Prestes,
através de uma breve apresentação dos levantes ligadas ao tenentismo como a
Revolta do Forte de Copacabana (1922), Revolução paulista (1924). Para
atingirmos nosso objetivo, faremos uma breve contextualização política e social
brasileira no que se refere à década de 20 de 1920. Para esse fim, faz-se
necessário uma análise historiográfica de diversos historiadores que nos
trouxeram inúmeras discussões sobre esse período de nossa história
compreendido como Primeira República.
Tomando como base as leituras dos livros de Anita Leocádia Prestes, Os
Militares e a Reação Republicana: as origens do Tenentismo, o livro de Boris
Fausto, A Revolução de 1930: historiografia e história, o livro de Gláucio Ary
Dillon Soares, Sociedade e Política no Brasil, o livro de Victor Nunes Leal,
Coronelismo, enxada e voto, o texto de Mario Cléber Martins Lanna Júnior,
Tenentismo e crise política na Primeira República, o livro de Nelson Werneck
Sodré intitulado, A coluna Prestes: Analise e Depoimento e por último o livro
organizado pelo pesquisador norte-americano Ralph Della Cava, Milagre em
Joaseiro. Iremos tratar do contexto referente à Primeira República assim como
origem do tenentismo que culminou na formação da Coluna Prestes.
Para finalizar o terceiro capítulo traz análise da fonte primária e suas
representações propriamente dita. Esta análise baseada na metodologia e
conceitualização apresentada no primeiro capítulo.

2. JORNAIS COMO FONTE HISTÓRICA: REFERENCIAL METODOLÓGICO,


TEÓRICO E CONCEITUAL.

Em nossa concepção, os jornais englobam um corpo documental


imprescindível para o atendimento de fatos relacionados ao passado, nos
permitindo explorara representações inseridas no cotidiano, através das análises
culturais e sociais. Nessa perspectiva a busca pelo historiador, vai além de uma
história global, sobre tudo ele busca encontrar respostas na diversidade setoriais
que estão a margem de seu campo de pesquisa da História. Para Michael de
Certeau:

O historiador não é mais o homem capaz de constituir um império. Não visa


mais o paraíso de uma história global. Circula em torno das racionalizações
adquiridas. Trabalha nas margens. Deste ponto de vista se transforma num
vagabundo. Numa sociedade devotada à generalização, dotada de
poderosos meios centralizadores, ele se dirige para as Marcas das grandes
regiões exploradas. "Faz um desvio" para a feitiçaria, a loucura, a festa, a
literatura popular, o mundo esquecido dos camponeses, a Ocitânia, etc.,
todas elas zonas silenciosas (CERTEAU, 2008, p. 87).

A historiadora Maria Elena Capelato considera os periódicos como “manancial


dos mais férteis para conhecimento do passado, a imprensa possibilita ao
historiador acompanhar o percurso dos homens através dos tempos ”
(CAPELATO, 1988, p.13).
Explorando a história dos jornais como documento de pesquisa no livro
organizado por Carla Pinsky, O Historiador e Suas Fontes, Tânia Regina de Luca
destaca que a partir da segunda metade do século XX, a historiografia apresentou
mudanças significativas no seu campo de estudos referente a análise dos
periódicos como fonte. Segundo essa autora a partir dos anos de 1970, os jornais
começam a ser caracterizados como um importante objeto de pesquisa histórica
(LUCA, p. 118).
No final do século XX, a terceira geração dos Annales foi profícua na tomada
de novos rumos no modo de fazer a História, desenvolvendo o uso da
documentação para fins de pesquisa, propondo "novos objetos, problemas e
abordagens", proporcionado um enriquecimento a qual fomentou a qualidade na
análise para o conhecimento da sociedade, possibilitando uma transformação na
aplicação metodológica da historiografia (LUCA 2010).
De certa forma, essas mudanças favoreceram a iniciativa na utilização de
temas variados para fins de pesquisa histórica, entre elas a própria cotidiano.
Essa interdisciplinaridade possibilitou a história incorpora novas fontes para o
preenchimento de lacunas as quais os documentos oficias não conseguia
preencher.
Até a década de 1970 no Brasil, os jornais eram tidos como fontes não
confiáveis questionavam-se a credibilidade e neutralidade dessa fonte documental
para análise historiográfica do passado. A utilização dos jornais como fonte
histórica classificava-se como segundo plano não englobando a tradição
historiográfica influenciada pelo positivismo na busca pela “verdade” pelos
acontecimentos relacionados afazer História. Tania Regina de Luca analisa que:

Para trazer à luz o acontecido, o historiador, livre de qualquer envolvimento com seu
objeto de estudo e senhor de métodos de crítica textual precisa, deveria valer-se de
fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de
suficientemente distanciadas de seu próprio tempo (2010, p.112).

Dessa forma o uso dos jornais impressos enquanto fonte para o


conhecimento do passado ganha sua devida importância. Corroborando com esse
pensamento a historiadora Maria Helena Capelato enaltece o papel da imprensa
como uma promissora fonte no entendimento do passado. Segundo essa autora,
a análise desse documento, “possibilita ao historiador acompanhar o percurso dos
homens através dos tempos” (CAPELATO, 1988, p.13). Essa afirmação condiz
com pensamento de renovação historiográfica proposto pelos Annales, na
preconização da interdisciplinaridade no uso de novos objetos para fins de
pesquisa histórica e dessa forma ampliando os métodos de investigação.
Segundo Le Goff e Pierre Nora:

A novidade parece-nos estar ligada a três processos: novos problemas colocam em


causa a própria história; novas abordagens modificam, enriquecem, subvertem os
setores tradicionais da história; novos objetos, enfim, aparecem no campo
epistemológico da história. (LE GOFF; NORA, 1978, apud, DE LUCA, 2010, p.113).

Como antes mencionado, essa renovação no campo histórico nos possibilitou


a pensarmos os jornais como fontes para uma análise do cotidiano, porém
depararam-nos com a necessidade de analisar a historiografia das sociedades,
objetivada não só mente no cotidiano mais também na História Cultural.
Na amplitude desse contexto a renovação da abordagem cultural direcionou a
imprensa escrita no enquadramento que compete ao estudo do tempo presente.
Para Ana Luiza Martins e Tania Regina de Luca, “pode se afirmar que o
conhecimento que temos da realidade é mediado pelos fatos divulgados pela
imprensa escrita e radiotelevisiva” (DE LUCA; MARTINS, 2006, p.10).
No campo de veículos voltados a comunicação, entendemos que o intuito da
imprensa escrita não seja direcionado simplesmente para o meio informativo,
devemos considerar os Jornais como ferramentas que buscam sobre tudo a
formação de opinião, devido à propagação de suas ideias, intervendo de forma
direta o meio sócio-político e cultural, gerando representações em diversos
seguimentos da sociedade.
Outra característica de fundamental importância atribuída à imprensa escrita
é a forma que suas informações penetram no imaginário coletivo. Essas
informações estabelecem através do desenvolvimento de uma confiabilidade
entre o meio social e os escritos jornalísticos, havendo uma propagação dos fatos
publicados através de debates relacionados ao cotidiano. Nesse sentido Luca
elucida:

De fato, jornais e revistas, não são, no mais das vezes, obras solitárias, mas
empreendimentos que reúnem um conjunto de indivíduos, o que os torna
projetos coletivos, por agregarem pessoas em torno de ideias, crenças e
valores que se pretende difundir a partir da palavra escrita. (LUCA, p. 140).

Portanto, é criada uma credibilidade á esses escritos, gerando repercussões,


ideias e opiniões sobre os acontecimentos. Nesse processo os jornais tornam-se
verdadeiras representações da realidade. “A imprensa, ao invés de espelhada
realidade passou a ser conhecida como espaço de representação real, ou melhor,
de momentos particulares da realidade”. (CAPELATO, 1988, p.13).
Essas narrativas adentram no meio social passando a desenvolver uma
cultura histórica. Segundo as concepções de Jacques Le Goff, parte das
proposições de Bernard Guenée, cultura histórica seria “a relação que uma
sociedade, na sua psicologia coletiva, mantém com o passado” (2003, p. 48). Le
Goff salienta que é preciso investigar a atitudes dominantes na sociedade
mediante a seu passado apoiando-se que na mentalidade coletiva, o passado
implica-se com a história e que essa concepção nos permite a analisar que
através de sua existência, os homens consideram seu lugar social atribuído a seu
passado.
Nessa conjuntura, podemos perceber que a cultura histórica abrangendo a
memória social correspondente ao cangaço, e por consequência ao “Rei dos
cangaceiros”, viabilizando a propagação de diversos seguimentos relacionados à
cultura popular, tais como, literatura, peças teatrais, música entre outras,
enfatizando os sujeitos e o cotidiano a qual está inserido, formando dessa forma
suas representações a quais os jornais são produtos elaborados a partir
contextualidade sobre a realidade.

2.1 METODOLOGIA

Na construção de estratégias eficazes para análise dos jornais como fonte


documental, a pesquisadora Tania Regina de Luca elaborou um conjunto de
etapas fundamentais no desenvolvimento da pesquisa, dessa maneira optamos
por explorar algumas etapas que compete ao propósito de nossa fonte primaria.
Em nossa busca pelas fontes jornalísticas nos deparamos com a
necessidade de “encontrar fontes e construir uma longa e representativa série”
(LUCA, p. 142). Com o intuito de objetivar uma visão global, analisamos nossa
fonte primaria o jornal O Ceará, durante todo o período correspondente a nosso
recorte temporal, evitando dessa forma analises isoladas.

Condições materiais e técnicas em si dotadas de historicidade, mas que se


engatam a contextos socioculturais específicos que devem permitir localizar a
fonte escolhida numa série, uma vez que esta não se constitui em um objeto único
e isolado. Noutros termos, o conteúdo em si não pode ser dissociado do lugar
ocupado pela publicação na história da imprensa, tarefa primeira e passo essencial das
pesquisas com fontes periódicas. (LUCA, 2010, p.138-139).

Entendemos como ponto crucial, “localizar as publicações na história da


imprensa”. (LUCA, p. 142). Procuramos identificar como o jornal O Ceará
posicionou-se profissionalmente em relação ao contexto político e social e cultural
referente ao período estudado, havendo dessa forma a necessidade de explorar
todo contexto afim de extrair as principais informações contidas no documento.
Procuramos evidenciar através do conteúdo jornalístico o “jogo” de interesse
político, velado na intrínseca relação de poder existente entre cangaceiros e
coronéis. (CHIAVENATO, 1990).
Um dos aspectos da metodologia elaborada por Tania Regina de Luca
contempla a materialidade da publicação. “Atentar para as características de
ordem material”. (LUCA, p. 142). Portanto, procuramos examinar em nossa fonte
primaria aspectos relacionados a tipografia, imagens, manchetes, capa entre
outros. Em síntese, os discursos adquirem significados de muitas formas,
inclusive pelos procedimentos tipográficos e de ilustração que os cercam. A
ênfase em certos temas, a linguagem e a natureza do conteúdo tampouco se
dissociam do público que o jornal ou revista pretende atingir. (LUCA, p. 140). A
autora ainda complementa:

É importante estar alerta para os aspectos que envolvem a materialidade


dos impressos e seus suportes, que nada têm de natural. Das letras
miúdas compridas em muitas colunas às manchetes coloridas e
imateriais nos vídeos dos computadores, há avanços tecnológicos, mas
também práticas diversas de leitura. (LUCA, p.132).

Também se faz necessário; “assenhorar-se da forma de organização interna


do conteúdo”. (LUCA, p. 142). É preciso averiguar a estruturação e a distribuição
do tema no copo do jornal, tal qual a localização da página e reportagem, se o
referido assunto encontra- se em destaque. Segundo a autora faz jus analisar a
relação entre periódico e objeto a ser pesquisa, considerando aspectos que
enfatizam:

sua aparência física (formato, tipo de papel, qualidade da impressão, capa,


presença/ausência de ilustrações), a estruturação e divisão do conteúdo, as
relações que manteve (ou não) com o mercado, a publicidade, o público a que
visava atingir, os objetivos propostos. (LUCA, p. 138).

Um fator determinante nas representações a partir da análise dos periódicos


é o público alvo que este pretende-se atingir, como demonstra a autora:
“Identificar o público a que se destinava” (LUCA, p. 142). Essa etapa tem por
característica uma perspectiva de discurso amplo ao que se refere a
compreensão das publicações que eram produzidas e direcionadas a um público
alvo.

Analisa os vários tipos de discurso voltados a públicos diversos,


problematizando a identificação imediata e linear entre a narração do
acontecimento e o próprio acontecimento: Os discursos adquirem significados
de muitas formas, inclusive pelos procedimentos tipográficos e de ilustração
que o cercam. A ênfase em certos temas, a linguagem e a natureza do
conteúdo tão pouco se dissociam do público que o jornal ou a revista pretende
atingir. (LUCA, p. 19).

Assim, procuramos elucidar a atuação do jornal O Ceará desse meio de


comunicação, como autor das representações sobre o “Rei do Cangaço” em
terras cearenses, buscando evidenciar nesse periódico sobre tudo, seu lugar
social e por sequência seus agentes envolvidos. Para atingirmos nosso objetivo,
segundo Luca é fundamental “analisar todo o material de acordo com a
problemática escolhida” (LUCA, 2010, p.141).

2.3 CONCEITO DE REPRESENTAÇÃO

Como aporte teórico, empregamos o conceito de representação a partir


das concepções de Roger Chartier. O uso desse conceito é dado a partir
compreensão das estruturas sociais, e como essas estruturas são incluídas em
determinados grupos sócias considerados as diversas formas que esses grupos
utilizam-se para criar uma identidade própria e deste modo atribuindo sentidos e
significados. (Chartier 1990).
Considerando sua idealização no campo histórico cultural, para esse autor
o atendimento de representação dentro do enfoque histórico-cultural é pautado
nas divisões e classificações de categorias que auxiliam na percepção do real o
por sequencia nos ajuda a compreendermos do mundo social.

A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objecto identificar o modo
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social e
construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa deste tipo supõe vários caminhos. O
primeiro diz respeito as classificações, divisões e delimitações que organizam a
apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de
apreciação do real. (CHARTIER, 1990, p. 16-17).

Nessa concepção abordada por Chartier, nos permite a analisarmos o uso


de novas formas de compreender a realidade, baseando-se principalmente em
temas culturais com relevância na representatividade no campo social.
No campo social se faz necessário entendermos os mecanismos pelos os
quais os grupos impõem suas concepções em relação ao mundo social através
das lutas gerando diversas apropriações com as noções das representações.
Deste modo, criar uma percepção de mundo social, seus valores e domínio não
pode analisado de forma indefinida.

Por isso esta investigação sobre as representações supõe-nas como estando sempre
colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam
em termos de poder e de dominação. As lutas de representações rem tanta importância
como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo
impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e
o seu domino. (CHARTIER, 1990, p. 17).

Os jornais são produtos construídos a partir de representações forjadas no


contexto do real demostrando de forma simbólica lutas pelo poder de representar.
“As representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a
universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas
pelos interesses de grupo que as forjam” (CHARTIER, 1990, p.17).
Procuramos entender o conceito de representação, idealizando a partir de
uma lógica social sobre acontecimentos, objetos e personalidade histórica. Nessa
concepção o surgimento de uma representação social não acontece ao acaso, é
necessária uma estruturação já definida. A figura de Lampião durante sua
passagem na região do Cariri cearense é apresentada aos periódicos, através de
uma construção informativa, com uma diversificação de lugares e momentos,
organizando-se dessa forma uma representação social.
Nessa conjuntura, o jornal O Ceará que é a base de nossa pesquisa, tem
um papel singular na representatividade do o “Rei do Cangaço” em terras
cearense através das narrativas presentes em seus noticiários possibilitou a seus
leitores criarem suas próprias narrativas e por sequência as representações que
compõe o sujeito social Lampião.
Devido aos inúmeros sentidos que pode seguir um processo de
representação, se faz necessário avaliarmos o interesse para qual se destina o
que foi produzido nos possibilitando chegar ao discurso do caso analisado.

para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição
de quem os utiliza. As percepções do social não são de forma alguns discursos neutros:
produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma
autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto
reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas
(CHARTIER, p. 17).

Desse modo, ao analisar nossa fonte jornalística devemos levar em


consideração o contexto social a qual esse foi produzido, fundamentado nas
categorias abordadas por Chartier “Produção, Circulação e Apropriação”,
procuramos dessa formar evidenciar o processo de reprodução dos escritos
impressos, para quem se destina e por último explorara o processo de
apropriação dos fatos a serem analisados.
Durante nossa análise inferimos que o jornal O Ceará, publicava suas
notícias sobre Lampião com a tentativa de desmoralizá-lo mediante a seus
leitores, porém percebemos que em diversas notícias esse periódico enaltecia os
feitos do cangaceiro, representando de forma grandiosa como o “Rei dos
Cangaceiros”. Mediante a essa dualidade de informações pregadas em suas
notícias esse jornal teve papel fundamental na representação do cangaceiro como
figura poderosa nos rincões do Nordeste.
Considerando as categorias de “produção, circulação e apropriação
“(CHARTIER 1990), Lampião era exposto a esse jornal no intuito a atender o
interesse político vigente na elite local que sentia-se de certa forma ameaça pelas
ações do cangaceiro. A produção está inserida na própria dualidade de
representações, dinamizando a circulação de informações direcionada aos
leitores, que por sua vez contribuíam de forma significativa na formação de
diversos discursos sobre banditismo e por consequência o próprio Lampião,
sendo representado de forma variada entre “rei” e “bandido”.

2.4 O CANGAÇO: UMA DISCURSÃO HISTÓRIOGRAFICA

O Cangaço1 é um fenômeno característico do Nordeste brasileiro, suas


raízes remontam o século XVIII abrangendo o século XIX sendo seu apogeu nas
primeiras décadas do século XX. Suas causas estão relacionadas a situação
política e a desorganização social e econômica do estado. A grande seca de 1877
se revela como estímulo para o surgimento do Cangaço.
A socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz (1987), destingiu duas formas
de cangaço: o “cangaço dependente” e o “cangaço independente. Do século XVIII
ao final do Século XIX predominou o cangaço dependente: neste caso a autora
relaciona a grupos de homens que eram devidamente armados, que em troca de
proteção dos chefes políticos, colocava-se a disposição para realizar qual quer
atividade.
Entres os anos de 1896 a 1940, desenvolve-se o cangaço independente:
segundo Queiroz, designavam como bando de homens armados que agiam sem
a intervenção política, realizavam assaltos e saques, como forma de
sobrevivência, viviam a margem da lei. Nessa segunda modalidade, destaca-se
lideranças importantes como, Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino, Sinhô Pereira e
por último Lampião que posteriormente receberia título de “Rei do Cangaço”.
Rui Facó (1991) em sua obra Cangaceiros e Fanáticos, relacionando o
cangaço a uma questão agraria decorrente pela a luta por terras. Segundo esse

1
Segundo Maria Isaura de Queiroz, em seu primeiro e mais antigo sentido, referia-se a grupos de
homens armados que eram sustentados por chefes de grandes parentelas ou por chefes políticos
[...]. Mais tarde, o mesmo temo passou a designar grupos de homens armados liderados por um
chefe, que se mantinham errantes [...], vivendo de assaltos e saques, e não se ligando
permanentemente a nenhum chefe político ou chefe de grande parenlela. (QUEIROZ, Maria Isaura
P. àe. História do cangaço. São Paulo: Global, 1986. p. 15.).
autor o cangaceirismo e fanatismo era consequência do atraso econômico
nordestino resultante do regime “semi-feldal” proposto pelos latifundiários:

O cangaceiro e o fanático eram os pobres do campo que saíam de uma


apatia generalizada para as lutas que com eçavam a adquirir caráter social,
lutas, portanto, que deveriam decidir, mais cedo ou mais tarde, de seu
próprio destino. Não era ainda uma luta diretamente pela terra, mas era uma
luta em função da terra — uma luta contra o domínio do latifúndio
semifeudal (FACÓ, 1991, p.42).

Facó defende que o surgimento do cangaceiro a partir da derivação da


figura do capanga durante período de exploração e apropriação agraria do interior
do Nordeste. Com o avanço na ocupação dos grandes territórios pelos
latifundiários, surge a necessidade de defender essas terras dos indígenas. Para
defende-las esses proprietários contratam homens que se tornavam dependentes
economicamente e socialmente de seus patrões. De modo geral esses homens
exerciam um papel de servidão, “semi-servos”, nesse quandro de aproveitamento
humano essa mão de obra posteriormente será utilizada para outros fins, entre
eles a invasão de propriedades e crimes hediondos como assassinatos:

Aí está o capanga e sua sede — a grande propriedade territorial; o seu


comando: o chefete local, o coronel fazendeiro ou o dono de garimpos.
Esses exércitos mobilizados a serviço dos coronéis do interior não são de
cangaceiros, são de capangas ou cabras. Homens a soldo, pistoleiros,
matadores profissionais. Não importa que no intervalo entre um assalto à
propriedade do vizinho e a execução de um crime de morte de algum
desafeto do coronel, o capanga esteja vaquejando o gado ou plantando um
roçado. Fazia-o comumente. Sua dependência econômica e social em
relação ao grande proprietário, o avassalamento da economia seminatural,
a falta de terras para a pequena propriedade, tornavam-no um semi-servo
que deveria obedecer, sem discutir, as ordens do patrão, cumprir todas as
suas vontades, executar os crimes mais hediondos por ele ordenados
(FACÓ, 1991, p.61).

No aprofundamento da pesquisa sobre o cangaço, podemos constatar a


entrada de Virgulo Ferreira da Silva no mundo da criminalidade ocorreu a partir
dos anos 1918. Porém, sua empreitada como oficialmente cangaceiro aconteceu
no início dos anos 1920, quando entregou-se definitivamente ao grupo do líder
cangaceiro Sebastião Pereira (Sinhô Pereira).
Sua entrada no cangaço esteve associada a seu desejo de vingança pela
a morte de seu pai, ocasionada por brigas entre as famílias Ferreira (Família de
Lampião) e a família de José Saturnino, pertencentes ao município de Serra
Talhada no sertão pernambucano, essa intriga familiar foi provocada acusações
relacionadas a roubo de animais e invasão de propriedade.
Segundo Frederico Pernambucano de Mello (2004), as inimizades entre os
grupos familiares sertanejos era algo corriqueiro no sertão nordestino, os
proprietários de terra defendiam seus pertences de forma rigorosa, muitas vezes
fazendo uso da violência. A essa formação de um meio violento, justifica-se pela
necessidade de demostrar sobre tudo honra e valentia como código vigente no
sertão nordestino, dessa forma criando um meio hostil e por sequência figuras de
hostilidade e masculinidade como o “cabra valente” o cangaceiro. “A violência do
cangaço não apareceu como resultado da violência dos senhores rurais, e sim
que um e outra fazia coro a um sistema de vida coletiva indissociável da violência”
(MELLO, 2004, p.32).
Na busca de Lampião por vingança, seguiram pelo mesmo caminho seus
irmãos Antônio Ferreira dos Santos e Livino Ferreira da Silva que resolveram
definitivamente viver do crime, abandonado suas vidas normais, sendo então
perseguidos pela a polícia. Lampião ao desejara vingança da morte de seu pai,
galgou espaço no mundo do cangaço ganhando a fama pelo sertão de cangaceiro
justiceiro e vingador ou o que Eric Hobsbawn chamou de “bandido social”. Para
Hobsbawn o cangaceiro caracterizava-se como bandido social:

O ponto básico a respeito dos bandidos sociais é que são proscritos rurais,
encarados como criminosos pelo Estado, mas que continuam a fazer parte
da sociedade camponesa e são considerados por sua gente como heróis,
como campeões, vingadores, paladinos, justiceiros, talvez até mesmo
líderes da libertação e como homens a serem ajudados e apoiados. É essa
ligação entre o camponês comum e o rebelde, o proscrito e o ladrão que
torna o banditismo social interessante e significativo (HOBSBAWM, 1976,
p.11).

Segundo Hobsbawn o banditismo social é descrito como fenômeno


universal encontrado em todas as sociedades agrarias, baseada na vida dos
camponeses que eram representantes das massas populares, identificados como
marginalizados de uma vida social baseada no poder. Representavam lideranças
individuais, considerados heróis pela sociedade qual pertenciam. Denominados
vingadores dos desfavorecidos, representantes da justiça, sendo admirados e
apoiados pelo seu povo.
Tomando como foco a figura de Lampião, a partir das concepções do
autor, o cangaceiro classifica-se no grupo pertencente aos vingadores, devida a
causa que o motivou a adentrar no mundo do banditismo, concordando em viver a
margem da lei, objetivando a vingança como resposta seus descontentamentos.
Segundo Hobsbawn:

Moderação ao matar e agir com violência faz parte da imagem do bandido


social. Não há razão para esperarmos que, como grupo, ajam em
conformidade com os padrões morais, mais do que se espera do cidadão
comum. Não obstante, à primeira vista causa estranheza encontrarmos
bandidos que não só praticam o terror e a crueldade numa medida que não
pode ser explicada como simples retaliação, mas cujo terror na verdade faz
parte da imagem pública. São heróis, não a despeito do medo e horror que
inspiram suas ações, mas, de certa forma, por causa delas. São menos
desagravadores de ofensas do que vingadores e aplicadores da força; não
são vistos como agentes de Justiça, e sim como homens que provam que
até mesmo os fracos e pobres podem ser terríveis (HOBSBAWM, 1976,
p.11).

A socióloga Maria Isaura Pereira de Queiroz posiciona-se de forma


contraria a concepção de bandido social apresentado por Hobsbawm, em seu
livro intitulado a História do Cangaço a autora defende que o surgimento do
cangaço não ocorre simplesmente por uma luta ideológica.
Queiroz define o cangaceiro vítimas de uma desigualdade nordestina de
âmbito econômico e social. Na concepção da autora o cangaço não se configura
como um “movimento social” e sim uma resposta a mazela e o pauperismo que
piorava nos períodos de estiagem no sertão. De forma concisa o cangaço é
consequência do contexto social a qual estavam inseridos:

Na medida em que os termos “movimentos sociais” pressupõem


consciência dos problemas vividos numa estrutura sócio-econômica e
política injusta – a consciência sendo constituída justamente da percepção e
do conhecimento dessa estrutura e de seus efeitos, mesmo que sob um
modo de percepção religioso – não é possível admitir que o “cangaço” se
configure como um movimento social. Foi, realmente, uma resposta à
miséria, o que se evidencia no fato de que desapareciam, quando a
chegada das chuvas reinstalava o modo de vida habitual (QUEIROZ, 1997,
p. 13).

Já o historiador norte-americano Billy Jaynes Chandler (1980), em seu livro


Lampião, o Rei dos Cangaceiros, demostra um olhar dispara dos autores aqui já
citados. Analisando a vida de Virgulino Ferreira da Silva na sua empreitada no
cangaço até tornar-se o “Rei do Cangaço”, segundo as concepções de Chandler
acabam por advergir com a opinião de Queiroz e Hobsbawm, no sentido em que
para esse autor, a ascensão do cangaceiro vai além de uma condição de
exploração e pobreza extrema, está associada intrinsicamente a carência
estrutural da lei no sertão nordestino durante o período da primeira república.
Na visão de Chadler o não cumprimento da lei no combate a violência
provocou um sentimento de impunidade e por sequencia sendo oportuno o
surgimento de justiceiros e vingadores, aclamados por parte da população
sertaneja, que também configuravam-se como vítimas de um contexto social
exploratório. Por outro lado, as lideranças políticas locais, não garantiam a
segurança necessária, para mantimento social e econômico igualitário da
população. O não garantimento de uma proteção por parte dos “patrões”
fomentava um sentimento de sobrevivência do mais forte.

O cangaço era um fenômeno exclusivamente do sertão”. “Sem encontrar


garantia de proteção nem do patrão, nem do Estado, muitas dessas
povoações do sertão se transformaram em verdadeiras selvas, onde cada
um lutava pela sua sobrevivência. Parece, portanto, que o aparecimento do
cangaço esteja intimamente ligado a este estado de desorganização social
(CHADLER, 1980 p.27).

Ainda no cerne da questão do surgimento do cangaço e os motivos pelos


quais os homens entram a esse meio. Frederico Pernambucano de Mello em sua
obra Guerreiros do Sol - Violência e banditismo no Nordeste do Brasil, elucida os
tipos de cangaço, distinguindo em três vertentes: o cangaço-meio de vida, o
cangaço de vingança e o cangaço-refúgio.
Segundo Mello (2004), a entrada dos cangaceiros no mundo da
criminalidade acontece na busca por vingança decorrente de um ambiente de
propagações de violência e de disputas familiares por terras. Em meio a essa
estrutura social desorganizada, o cangaceiro adquiria a aptidão necessária para
sua sobrevivência, adaptando-se a essa condição. Como exemplo o autor cita
Jesuíno Brilhante e Sebastião Pereira, chefes de bandos com relevância no meio
cangaço que se entregaram a essa vida na busca por justiça própria. Segundo
Mello:

Dentro de uma concepção em que o cangaceirismo é encarado, em regra,


corno meio de vida e, apenas excepcionalmente, como instrumento de
vingança, adquire grande interesse o estudo do verdadeiro papel
'desempenhado pela vingança, frequentemente apontada como sendo a
causa principal na formação de vocações para o cangaço. Não soa estranho
que tal destaque lhe tenha sido emprestado, se considerarmos o verdadeiro
estribilho em que se constituíam as respostas dos cangaceiros, diante de
indagações sobre os motivos por que se entregavam àquela vida (MELLO,
2005, p. 120).
No caso Lampião, enquadraria a este conceito segundo Mello o cangaço
como “meio de vida”, na busca por vingança Lampião optou a dar continuidade a
“profissão” uma vez que suas ações visavam sobretudo a obtenção lucros.
Por último, o cangaço refúgio, era definido como a única saída para
homens perseguidos pela lei. Neste caso se faz necessário salientar, que durante
esse período de nossa história a lei sempre foi voltada a defender os interesses
da elite local, ficando a margem o pobre que via o cangaço como um oficio ou um
meio de vida.
Ainda na perspectiva de Mello (2004), conclui-se que as grandes
lideranças do cangaço, optaram em dar continuidade de suas vidas a margem da
lei, porque sobretudo aceitavam o cangaço “como meio de vida”, gostavam
definitivamente a de levar a vida como cangaceiro, optavam a desgarrar dos
vínculos familiares de proteção com chefes políticos locais. Preferiam a vida
nômade fora lei, mais longe da situação exploratória a qual a grande parte da
população sertaneja vivia. Segundo Mello:

Surpreendentemente, é possível afirmar-se hoje que os maiores


cangaceiros, entendidos estes como os chefes de grupo de maior ex-
pressão, gostavam da vida do cangaço. Num sertão profundamente
conturbado pelas disputas entre chefes políticos, lutas de família, au-sência
de manifestações rígidas de um poder público distante: sertãopovoado por
um tipo especial de homem, individualista, autônomo, desacostumado a
prestar contas de seus atos, influenciado pelos,exem-plos de bravura dos
cavaleiros medievais: sertão que tinha no épico o seu gênero, fazendo vivas
as páginas de "Carlos Magno e os Doze Pares de França", "Roberto do
Diabo", "Donzela Teodora", "João de Calais"; num sertão assim anormal aos
nossos olhos, o cangaço repre-sentava, na verdade, uma ocupação, um
ofício, um meio de vida (MELLO, 2005, p.117).

A extensa e bem-sucedida carreira de Lampião nos rincões do Nordeste


durante os 20 anos qual esteve à frente como o principal líder e representante do
cangaço, decorre principalmente de o fato desse cangaceiro dominar o espaço
geográfico em que estava inserido, o domínio da caatinga significava sobretudo
uma vantagem na árdua luta contra as forças policias designadas “volantes”.
Como complemento, eram beneficiados pela constituição federal, que não
permitia a entrada das forças policiais em outro estado durante as perseguições.
E por último obtinham o apoio de chefes políticos os coronéis.
Victor Nunes Leal (1975), considerado um grande expoente na pesquisa
a respeito da figura do coronel, esse conceitua o coronelismo caracterizando-o,
como “um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público,
progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, e
notadamente dos senhores de terra” (Leal, 1975, p. 20). De acordo com Leal, sua
preocupação maior era com as relações de poder na Primeira República, uma vez
que se desenvolviam no sistema, a estrutura e as relações de poder. O coronel
sendo parte integrante desse processo, ou seja, desse sistema. O coronelismo
como sistema, político, mantinha uma complicada e importante rede de relações,
envolvendo compromissos recíprocos, que se estendiam de maneira ampla desde
o coronel até o presidente da República.
Segundo Leal, o mandonismo sempre existiu, sendo o coronelismo
simplesmente uma faceta singular do mandonismo; buscou o apoio no governo
do Estado, somente após perder força com a crise econômica dos fazendeiros. O
mandonismo é característica básica do poder local na América Latina, onde as
leis não atingiam a população rural e o senhor de engenho, coronel, caudilho; era
mandatário quase absoluto de suas terras. Existe desde o período do Brasil
enquanto colônia e segundo o autor, é uma característica da política tradicional e
um fenômeno que sempre existiu.
Para José Murilo de Cravalho 2(1997), “o mandão, o potentado, o chefe, ou
mesmo o coronel como indivíduo, é aquele que, em função do controle de algum
recurso estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a população um
domínio pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à
sociedade política”. O mandonismo percorre uma trajetória sistematicamente
decrescente. O mandonismo utiliza estratégias para subordinar determinada
quantidade de pessoas, não sendo necessária da presença do coronel, assim
como o clientelismo, não necessita dessa presença específica para existir.
Conforme o autor expõe: a caracterização do clientelismo está
estabelecida nas relações entre atores políticos que envolve concessão de
benefícios públicos, na forma de empregos, benefícios fiscais, em troca de apoio
político, sobretudo, na forma de voto. As relações clientelistas são muito
evidentes nos centros urbanos, dispensam a presença dos coronéis e mandões

2
CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual.
Dados, vol.40, n.2. Rio de Janeiro, 1997.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200003
respectivamente, favorecendo o sistema de trocas entre os políticos, o governo e
as pessoas da classe menos favorecida.
Voltando cerne de nossa discussão a respeito da relação entre
cangaceiros e coronéis, Luitgarde Cavalcante de Barros (1997) em sua obra:
Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão, analisa a
existência de uma relação de benefícios entre cangaceiros e coronéis. Essa
relação está pautada principalmente na troca de favores. Os coronéis ofereciam o
suporte necessários aos cangaceiros através de armas e munições, por sua vez o
cangaceiro fica à disposição do Coronel nas resoluções de questões relacionados
a intrigas no âmbito político e disputa de terras. Em meio a essa vinculo, o grande
prejudicado é sertanejo que ficava a mercê da violência do banditismo e a
exploração do latifúndio. Segundo Barros:

A violência contra os fracos, que até então poderia ser vista como um dos
instrumentos de dominação de classe, com o cangaço de Lampião se
banaliza, quando confiantes na impunidade garantida pela associação a
várias autoridades, os cangaceiros tornam-se senhores da vida das
populações mais pobres do sertão (BARROS, 1997, p.55).

A relação mencionada por Barros, distingui da relação Queiroz (1987),


segunda essa autora, havia sobre tudo um laço de confiança e fidelidade, em um
meio social marcado pela violência, a quebra de um código de confiança poderia
significar conflitos e por consequência a perda de vidas para ambos os lados. Nesse
sentido, Queiroz defende que o coronelismo teve um papel significativo na
manutenção do cangaço, “pressupunham contratos tácitos de auxílio mútuo, nas
mais diversas circunstâncias contratos que se estabeleciam entre iguais. Qualquer
deslize no relacionamento ‘traição abominável’ e os aliados da véspera passavam a
inimigos mortais” (QUEIROZ, l987, p. 33).
Júlio Chiavenato (1990), defende em sua tese, que os grupos de cangaceiros
não obtinham de poder suficiente para peitar as lideranças políticas. Necessitavam,
sobre tudo, galgar a confiança necessária através de uma relação de confiança com
os coronéis detentores do poder local afim de exercer sua atividade de cangaceiro
de forma facilitada. Segundo Chiavenato, por maio dessa aliança os coronéis
enxergavam o cangaço como ferramenta de exploração e intimidação da população
pobre sertaneja. Analisando à linha de pensamento desse autor inferimos que o
cangaço surge como fenômeno decorrente de uma intrínseca relação de poder.
[...] essa aliança não só foi possível como fatal. O cangaço não
representava uma verdadeira ameaça ao latifúndio: os cangaceiros não
pretendiam a terra, não lutavam pela igualdade social. Eram rebeldes que
buscavam no crime uma sobrevivência mais fácil, impossível pelo trabalho.
Não tinham reivindicações políticas nem sociais. Disputavam um espaço
para cometer seus atropelos. Eram a opção racional, se é que se pode usar
essa palavra para o latifúndio ameaçado pela miséria do povo (Chiavenato,
1990, p. 17).

A vida na criminalidade dos cangaceiros, através dos periódicos ganham


repercussão de caráter nacional. Diversos jornais começam a publicar em seus
noticiários os inúmeros crimes cometidos e a afronta desses bandoleiros a lei
estadual. No âmbito literário a partir do século XVIII, o tema cangaço foi abordado
de forma ampliada na literatura popular nordestina, inicialmente pela oralidade pelos
poetas da literatura de cordel e cantadores nas feiras livres. O escritor cearense
Franklin Távora faz uso dessa literatura popular para elaborar seu romance
regionalista O Cabeleira de 1876.
Retificando o fenômeno do cangaço na formação de uma cultura regional, o
tema foi explorado artisticamente de forma diversificada, além dos romances de
autores nordestinos como José Lins do Rego e Raquel de Queiroz, também filmes,
peças teatrais foram criadas, a partir da vida de cangaceiros como Lampião e
Curisco.Isso evidencia a importância do tema para cultura em âmbito nacional.

3. CEARÁ: PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

Referente ao contexto político cearense durante as primeiras décadas do


século XX. Della Cava (1977), analisa que sob a vigência política do governo do
presidente Campos Sales (1898-1902), o Brasil passava por momentos de
conturbação no cenário econômico, a meta do governo consistia em adotar
medidas para a restauração da confiança entre a relação Europa e Brasil. Para
tanto Campos Sales adota uma série de medidas na tentativa de manter o
equilíbrio financeiro, através de concessões, beneficiando os interesses regionais
consolidando as oligarquias nos estados menos importantes.
No Ceará, as heranças provindas da base política do período imperial,
ocorria sob a autoridade do comendador Antonio Pinto Nogueira Acioly. Sob a
bandeira do partido conservador do Ceará (PRC-C), elegia-se a governador por
duas ocasiões dominando máquina estadual de 1904 a 1912. Do ponto de vista
administrativo, Acioly dirigia o estado mantendo a mesma postura do governo
federal. Cedendo o poder politico dos municípios aos coronéis em troca de apoio
político através “solidariedade partidária”.

O mincicpio tonarva-se, assim, o elo crítico das malhas do governo: era ele
principal fonte de renda de que o governo estadual necessitava para
manter, em expansão, sua burocracia. Tendo em vista assegurar a
continuidade do pagamento do “tributo legal”, a oligarquia do estado
recompensaria os chefes dos municípios tanto com a garantia de uma maior
participação nas rendas municipais (DELLA CAVA, 1977, p.127).

A perpetuação da rivalidade locais promovidas pelas famílias de maior


influencia política, possibilitou a violência crônica nos sertões cearenses,
decorrente de disputas pelo governo municipal. Ainda na perspectiva de Della
Cava, a Região do Vale do Cariri caracterizava-se como exemplo máximo de
disputas políticas galgadas pela violência, devido sua importância na econômica
regional. Entre os anos de 1901 a 1910, essas disputas políticas violentas
culminaram na queda de diversos chefes políticos no Vale.
É durante esse período que a Região do Vale do Cariri transforma-se em
refúgio de grupos de cangaçeiros soba tutela dos coronéis, que sobretudo
necessitavam desses homens para proteger-se de ameaças de deposição.
Nogueira Accioly por sua vez, pouco interviu a essa situação, cabendo as
lideranças regionais do Cariri tomar ações que jugarem necessárias para a
intervenção da violência na região.
É nessa conjuntura, que surge a figura do Padre Cícero, como Patriarca de
Juazeiro. Durante os 10 anos de lutas politicas marcadas pela violência no Vale
do Cariri, Juazeiro fica a margem dessa situação, devida o não interesse do padre
a intervir nas questões politicas na região durante esse período. Padre Cícero
sempre procurou manter uma boa relação com as lideranças políticas municipais.
Para Farias (2007), o Patriarca não buscou a neutralidade na árdua
tentativa de paziguar as disputas politicas no Vale. Através de seu prestígio
mediante a suas ações como referência religiosa, buscou de todas formas
neutralizar a violência na região fazendo uso de sua diplomacia para resolver as
questões no âmbito político e também social. A atuação, padre como de fato
político está intrinsicamente associado a chegado do médico baiano Floro
Bartolomeu da Costa na cidade de Juazeiro em 1908.

Mas sendo homem perspicaz, ambicioso, astuto e oportunista, dirigiu-se


para a “Meca do Cariri” em companhia de um belga. Adolfo van den Brule,
que se apresentava como conde e engenheiro, título e titulação nunca
comprovados. Ambos diziam-se em busca dos depósitos de cobre que
acabavam de ser descobertos perto de Juazeiro, em Coxá. Essa mina havia
sido adquirida por Pe. Cícero, mas sua posse era litigiosa (FARIAS, 2007,
n.p).

Juazeiro do Noite era um distrito do município de Crato e almejava sua


emancipação política gerando tensões entre as duas localidades. Em 1909 os
juazeirenses iniciam um boicote econômico, através do não pagamento de
impostos ao município. No auge do conflito entre as duas localidades, a questão
foi elevada a assembleia legislativa.
Com o apoio eminente dos principais chefes políticos da região do Cariri,
adversários do chefe político do Crato, e de todo a população de juazeiro fiel ao
padre Cícero e Floro Bartolomeu, o conflito prolongou-se até meados de 1911
quando distrito de Juazeiro é levado a condição de município autônomo, apoiado
pela oligarquia estadual, o Padre Cícero torna-se o primeiro prefeito da cidade.
Para historiador Airton de Farias, essa medida não passou de uma estratégia do
oligarca Nogueira Accioly que tinha pretensão carear apoio político e os votos dos
seguidores do padre. “Foi uma jogada astuta do velho oligarca, pois, garantiu de
antemão o apoio eleitoral de Juazeiro” (2007, n.p.).
Segundo Facó (1991), após 1911, a oligarquia Accioly, mostrava os
primeiros sinais de enfraquecimento, ocasionado principalmente pelas disputas
internas entre grupos coronelistas. Essas disputas culminaram no famoso pacto
dos coronéis3, em 04 de outubro de 1911. “Um dos documentos mais
significativos da história do coronelismo brasileiro” (FACÓ, 1991, p.153). Sob a
mediação do Padre Cícero, o principal objetivo do pacto era estabelecer uma
harmonia entre os chefes políticos dos 17 municípios da região do vale que viviam
em “pé de guerra”. Além de declarar apoio incondicional de Nogueira Accioly. O
documento assinado e registrado em cartório exigia o fim dos conflitos através
solidariedade política é acertada nos seguintes artigos:

3
Documento disponível para acesso no site: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1455/000012.html>.
Acessado em 20 maio. 2018.
“Art. 8º - Manterão todos os chefes aqui presentes, inquebrantável
solidariedade não só pessoal como política, de modo que haja harmonia de
vistas entre todos, sendo, em qualquer emergência, um por todos, e todos
por um;

“Art. 9º – Manterão todos os chefes, incondicional solidariedade política com


excelentíssimo senhor doutor Antônio Pinto de Nogueira Accioli, nosso
honrado chefe e, como políticos disciplinados, obedecerem
incondicionalmente a suas ordens e determinações” (WALKER, 2017,
p.138).

A ascensão do marechal Hermes da Fonseca a presidência da República


em 1910, ocasionou diversos conflitos no âmbito político, principalmente as
disputas oligárquicas, através da política salvacionista que consistia na troca das
oligarquias tradicionais ligadas ao Partido Republicano Conservador (PRC), pelas
as oligarquias aliadas ao governo. A política salvacionista concede ao poder do
estado ao oficial do exército Marcos Franco Rabelo que governou o Ceará, entre
os anos de 1912 a 1914, provocando a derrubada da oligarquia Accioly no estado,
que já demostrava sinais de fraqueza pelo descontentamento da população.
Durante seu governo, Franco Rabelo tomou diversas medidas na tentativa
de enfraquecer as lideranças regionais do estado, principalmente na região do
Cariri. Rabelo destitui o Padre Cícero de seu cargo de prefeito de Juazeiro do
Norte. Segundo Facó (1991, p.157), Floro Bartolomeu recebe pleno apoio dos
representantes cearenses no congresso, dando-lhe as condições necessárias
para agir de acordo com interesse dos coronéis do Cariri, para planejar a queda
de Rabelo do poder. Em 1914, sob a presidência de Floro Bartolomeu é
convocado uma Assembleia Legislativa, sediada em Juazeiro, provocando a
dualidade no poder do estado. Ao tomara conhecimento do fato, Franco Rabelo
ordena a invasão da cidade de Juazeiro.
Esse episódio é marcado na história do Vale do Cariri como a sedição de
Juazeiro, que teve como principais consequências a vitória de Juazeiro que em
outros aspectos culminou na deposição de Franco Rabelo do poder do estado.
Evidenciando ainda a continuidade da força política dos coronéis e dos grandes
latifúndios no sertão cearense. “O latifúndio – o coronelismo, sua expressão local
– mostrava que ainda era uma força, em plena segunda década do século XX”
(FACÓ, 1991, p. 159).
Para Airton de Farias, essa revolta caracterizou-se como verdadeiro
exemplo da forte ligação existente entre a Igreja Católica e os grandes
latifundiários, que em outros aspectos visava a permanência das oligarquias
tradição no poder.

A Igreja Católica sempre apresentou forte presença política e cultural no


Ceará, impondo sua visão de mundo e valores à sociedade. Para isso,
contribui também as próprias características das elites locais, as quais, por
usa fragilidade estruturas e origens cristãos, eram suscetíveis àquela
influencia (FARIAS, 2007, n.p.).

Rui Facó (1991, p.160) analisa que a sedição de juazeiro significou a projeção
do Padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu no senário político nacional. Floro,
como um home astuto e inteligente fazia o uso de sua influência política e por
muitas, utilizava-se da violência de seus jagunços para conseguir seus objetivos. O
Padre Cícero por sua vez, a partir da vitória política da “facção dos coroeis do
Cariri”, teve aumentada seu prestígio entre os pobres de todo o Nordeste. “Mais tudo
indica que o potentado político passava suplantar nos demais terrenos o ditador
espiritual das massas” (FACÓ, p.160).

3.1 BRASIL: SURGIMENTO DO TENENTISMO EA FORMAÇÃO DA


COLUNA PRESTES

No início do século XX o modo de produção capitalista ganha força no


Brasil com a alta produção e exportação do café, proporcionando a aceleração
industrial como ponto fulcral para o desenvolvimento nacional. Essas mudanças
na economia brasileira também contribuíram significativamente para a integração
e consolidação de duas classes distintas na sociedade brasileira: a burguesia
cafeeira, com seu núcleo sendo composto por ex-senhores de escravos; e a
classe operária, oriunda dos processos de industrialização.

“Do ponto de vista econômico, a década de vinte foi marcada por altos e
baixos. Se nos primeiros anos o declínio dos preços internacionais do café
gerou efeitos graves sobre o conjunto da economia brasileira, como a alta
da inflação e uma crise fiscal sem precedentes, por outro também se
verificou uma significativa expansão do setor cafeeiro e das atividades a ele
vinculadas”. (FERREIRA; PINTO, 2013, p. 389).

Neste cenário a urbanização e industrialização proporcionadas pela


expansão na produção do café, modificou de forma significativa a conjuntura
nacional, criando uma diversificação na sociedade, que buscavam em outros
aspectos a reinvindicações de seus interesses. A burguesia cafeeira, incumbida
de produzir e exportar o café principal símbolo econômico do país, eram ligados a
grupos oligárquicos que buscavam uma maior participação no âmbito político. A
classe proletária e a classe média urbana composta por profissionais liberais,
funcionários públicos e militares também exigiam uma participação mais efetiva
na política nacional. A atuação dos proletários no cenário social e político é
destacada por Nelson Sodré. Segundo ele:

A classe operária brasileira, que a ascensão do capitalismo coloca no palco,


paralelamente ao aparecimento da burguesia, começa a manifestar-se,
praticamente, desde os fins do século XIX, mas o seu peso é ainda pouco
significativo (SODRÉ, 1978, p.25).

O federalismo implantado na constituição 1891, através do poder das


oligarquias tinha como principal fator a autonomia política e financeira dos
estados, dessa maneira o governo estadual obtinha de forma quase integral o
controle político estadual. Para Martins (1982, p.674), como principal exemplo é a
hegemonia estadual responsável pelo surgimento da coalizão “Café com Leite”,
representados pelos estados de Minas Gerais e São Paulo que, por meio do
revezamento da presidência da República, seguido de uma preponderância sobre
os demais estados federados conduziam de forma arbitrária o poder na Primeira
República.
A dependência da monocultura cafeeira mostrava-se vulnerável devido à
inconstância na economia do mercado internacional, essa instabilidade afetou de
forma direta a economia do país. Após a primeira guerra, o Brasil passou por
várias transformações no campo político econômico e social, na esfera econômica
agrava-se a situação financeira do país com a queda no preço do café abrindo
precedentes para o questionamento do sistema oligárquico. Segundo Boris
Fausto o sistema começa a apresentar sinais de desequilíbrio, provocando o
inconformismo das classes médias urbanas, entre elas os tenentes. (FAUSTO,
1997, p. 92).
Essa situação de crise política e social vem à tona, ocasionando uma
intensidade a qual iria marcar definitivamente o início da década de 20. O ano de
1922 é um exemplo expressivo dessa intensidade, devido a acontecimentos
considerados cruciais do ponto de vista político, social e cultural, como exemplo a
fundação do PCB (Partido Comunista Brasileiro) consolidando o movimento
operário e a Semana de Arte Moderna de São Paulo, que significou uma quebra
de paradigmas no que se refere à arte e cultura nacional.
Esse cenário de crise chamada por Boris Fausto de “crise dos 20”
(FAUSTO,1997, p. 122), teve como principal acontecimento a eclosão da Revolta
do Forte de Copacabana, no âmbito social, também conhecida como “Os Dezoito
do Forte”, em 5 de julho de 1922. Esse movimento foi responsável por iniciar o
surgimento de levantes contrários às forças federais.
Essa conjuntura de crise dos anos de 1920 provocou uma insatisfação das
classes médias urbanas, que buscavam, de forma mais efetiva a participação na
política nacional. Essa insatisfação foi um elemento catalisador para as revoltas
contra a forma de governo vigente. Dessa forma, podemos concluir que o
sentimento de questionamento no regime da Primeira Republica só poderia partir
do meio social urbano, pertencentes às grandes cidades. Portanto coube aos
militares a posicionar-se de forma mais rígida a propiciar uma situação de revolta
armada.
Boris Fausto analisa que esse cenário de instabilidade social instalada no
Brasil, está também associado à crise econômica cafeeira, possibilitando o
surgimento de ideias propícias a tendências “reformistas” e “autoritárias” por parte
dos movimentos sociais ligados à classe média urbana, representada pelos
tenentes, que buscavam sobre tudo, mudanças significativas no cenário político
nacional (FAUSTO, 1997, p.80).
É na esteira desse quadro de descontentamento social que eclode o
movimento tenentista. Anita Leocádia Prestes (1993) analisa que, nesta
circunstância de crise instalada, os tenentes exerceram um papel crucial, pois
foram responsáveis pelo desgaste da política da Velha República, e como
consequência a política dos Governadores e “café com leite”, sendo essa última
dominada pelos estados de Minas Gerais e São Paulo. Prestes apresenta o
seguinte panorama sobre o assunto:
Quem fazia política eram as oligarquias e seus representantes. Da
mesma forma que no período imperial, as lutas políticas davam-se a
nível da classe dominante, sem que os demais setores sociais
tivessem condições de influir de maneira significativa nas decisões
tomadas no seio dos grupos restritos das elites que governavam o
país tanto regional quanto nacionalmente (PRESTES, 1993 pp. 24-25).

A autora ainda analisa que a candidatura de Nilo Peçanha contra o


presidente mineiro Artur Bernardes, foi fundamental para deflagrar a atuação
política por parte dos militares no campo político. O apoio tenentista a candidatura
de Nilo Peçanha, estava associado aos planos políticos deste candidato, que por
sua vez, estava pautada em medidas que buscavam obter vínculos com forças
políticas estaduais contrárias a dominação do “café com leite”. Essa articulação
política culminou na formação da Reação Republicana.
Nas discussões historiográficas, a Reação Republicana é analisada sob
diferentes perspectivas. Talvez a interpretação mais plausível seja aquela oriunda
das revisões ocorridas a partir da década de 90 que, levando em consideração os
elementos de ordem política, a definia como “uma tentativa de construção de um
eixo alternativo de poder que ampliasse a participação das chamadas oligarquias
de segunda grandeza no jogo do federalismo brasileiro do período”. (FERREIRA;
PINTO, 2013, p. 395).
No tocante ao posicionamento contrário dos tenentes à política vigente do
“café com leite”, de acordo com Anita Leocádia Prestes, ele estava associado
principalmente à fraude eleitoral que segundo os militares resultou na derrota nas
urnas do candidato da Reação Republicana Nilo Peçanha. Além disso, uma
suposta carta falsa publicada em outubro de 1921 no Jornal Correio da Manhã
escrita pelo presidente eleito Artur Bernardes ofendendo veementes os militares,
foi o estopim para deflagrar um clima de revolta, ocasionando severas críticas por
parte dos militares ao governo. (PRESTES, 1993, p. 26-34).
Esse cenário de crise chamada por Boris Fausto de “crise dos 20”
(FAUSTO,1997, p. 122), teve como principal acontecimento a eclosão da Revolta
do Forte de Copacabana também conhecida como “Os Dezoito do Forte”, em 5 de
julho de 1922. Esse movimento foi responsável por iniciar o surgimento de
levantes contrários às forças federais.
Em 5 de julho de 1924 é deflagrada a Revolução Paulista, inspirada na
Revolução de Copacabana, também foi liderada por tenentes tratando-se uma
resposta ao governo de Artur Bernardes. O plano inicial era estender novas
revoltas pelo território nacional. Para Nelson Werneck Sodré (1978), após a
obtenção de sucesso no primeiro momento, o governo lança uma dura ofensiva
que reprime de forma significativa as rebeliões no país e principalmente sufoca os
rebeldes da cidade de São Paulo. Após a morte de Joaquim Távora, uma das
principais lideranças do movimento em 19 de julho, os revoltosos batem em
retirada. Como ação imediata o governo não aceita os acordos estabelecidos
pelos revoltosos, sendo esses obrigados a fugir para o Paraná no final de julho.

De outro lado, os efetivos militares empenhados na revolta eram mais


vultuosos e dispunham de efetivos e armamento muito mais importantes do
que ocorrera antes. Entre o dia 5 e dia 28, quando os revoltosos decidem
abandonar a cidade de São Paulo e retirar para o Sul do País, a crise militar
alcançou sua dimensão máxima (SODRÉ, 1978, p.30).

É importante ressaltar, que durante esse período a grande parte da


população brasileira estava inserida no meio rural, sob o domínio dos grandes
latifundiários, os “Coronéis”, que conduziam a vida da sociedade de acordo com
seus interesses. A participação política dessa grande massa rural era limitada as
eleições, através do voto que era obtido sob a relação de mando, ou “voto de
cabresto” imposto pelo poder do chefe local representado pelos coronéis. Esse
sistema era nacionalmente caracterizado pelas barganhas entre os coronéis e o
Estado. E o que sustentavam este relacionamento era o maciço apoio dos
coronéis ao governo em forma de votos. O governo, em contrapartida, oferecia ao
coronel o controle dos cargos públicos existentes na região onde ele exercia o
poder. Essa relação de poder foi um aspecto muito bem analisado por Victor
Nunes Leal na obra Coronelismo, enxada e voto. Com base em suas análises,
Leal entendia que:

A essência, portanto, do compromisso “coronelista” -salvo situações


especiais que não constituem regra- consiste no seguinte: da parte
dos chefes locais, incondicional apoio aos candidatos do oficialismo
nas eleições federais; da parte da situação estadual, carta-branca ao
chefe local governista (de preferência o líder da facção local
majoritária) em todos os assuntos relativos ao município, inclusive na
nomeação de funcionários estaduais do lugar (LEAL, 1975, p. 49-50).
Com a firmação do pacto e posteriormente a invasão do Mato Grosso, é
iniciada a longa marcha que levaria a Coluna Prestes, percorrer por dois longos
anos, quase todo território nacional. Os tenentes tinham como principal objetivo
obter a conscientização da população do domínio de exploração exercido pela
elite a qual governava o país, dessa maneira, planejavam organizar uma
insurreição contra o governo vigente de Artur Bernardes e toda política dominante
do “café com leite”, as quais eram responsáveis por não praticarem o exercício
democrático da política nacional. Analisando alguns aspectos inerentes a este
movimento, através da bibliografia consultada, podemos entender que o governo
de Bernardes esteve durante todo o tempo sob a ameaça tenentista. Para Boris
Fausto:

O tenentismo dessa fase pode ser definido em linhas gerais, como um


movimento político e ideologicamente difuso, de características
predominantemente militares, onde as tendências reformistas
autoritárias aparecem em embrião. As explosões de rebeldia – da
revolta do Forte de Copacabana à Coluna Prestes – ganham gradativa
importância e consistência, tendo no Rio Grande do Sul uma irradiação
popular maior do que em outras regiões. Elas se iniciam, em regra,
com o caráter de tentativa insurrecional independente dos setores
civis (FAUSTO, 1997 pp. 80-81).

A revolução, entre outros aspectos buscava descentralizar o poder das


oligarquias. Nesse sentido Boris Fausto crítica o movimento tenentista da Coluna
Prestes. “O tenentismo da primeira fase pode ser definido como um movimento
voltado para o ataque jurídico-político às oligarquias, com um conteúdo
centralizador, “elitista”, vagamente nacionalista” (FAUSTO, 1997, p. 87).
Em outra perspectiva, o movimento tenentista era considerado indeciso,
uma vez que buscava reinvindicações desordenadas e vinculada apenas ao
interesse da própria corporação. O fato é que seu ato repercutiu em caráter
nacional, principalmente nas grandes cidades, denotando um otimismo que sobre
tudo classificava os tenentes como prováveis “salvadores da pátria”,
consolidando-se como a principal manifestação contra o Governo de Bernardes.
“Os “tenentes” se identificam como responsáveis pela salvação nacional,
guardiões da pureza das instituições republicanas, em nome do povo inerme
(FAUSTO, 1997 p. 81)”.
Corroborando com a afirmativa de Boris Fausto, estão as observações
oportunas de Marcos Napolitano que apontam para a ausência, por parte dos
militares, de projeto político delineado e consistente. Neste caso, “os tenentes
rebeldes eram marcados pelo ideal de ‘salvacionismo’ militar que não tinha apoio
civil em suas rebeliões, ainda mais vinda de operários radicais.” (NAPOLITANO,
2016, p. 85).
Perante o debate que circunda o movimento tenentista nas duas primeiras
décadas do século XX, tendo como maior resultado a grande marcha da Coluna
Prestes, Anita Prestes analisa que é necessário possuirmos a percepção que o
movimento dos tenentes mesmo associado ao exército, através de interesses da
corporação, estava totalmente engajado à necessidade da sociedade brasileira.

3.2 DE BANDOLEIRO A CAPITÃO PATRIÓTICO: VIRGULINO VAI A


JUAZEIRO

Durante os anos de 1925 e 1926, a Coluna Prestes já havia percorrido


mais de 25 mil quilômetros de boa parte do território nacional e agora seguia rumo
ao Nordeste. Em janeiro de 1926, após a campanha do estado do Piauí, a coluna
aproximasse da fronteira cearense.
Durante o início daquele ano, percebemos que a imprensa escrita do
estado cedeu um espaço significativo de suas matérias na tentativa de manter a
população informada sobre Marcha. Ao analisarmos as notícias sobre o avanço
da Coluna Prestes, percebemos um posicionamento contrário por parte dos
periódicos em relação a esse movimento. Os noticiários classificavam os
membros da Marcha, construído dessa forma um imaginário para elucidar seus
leitores acerca do “perigo” que representava a entrada da Coluna Prestes no
estado do Ceará.
Entre os diversos adjetivos empregados aos membros da Marcha,
destacamos “rebeldes”, “revoltosos”, “saqueadores” e “perturbadores da ordem”.
Em suas matérias jornalísticas os periódicos retratavam os membros da Marcha
como criminosos, que atentavam conta a ordem da pátria. Essas reportagens
eram devidamente publicadas coma intenção de alertar a população cearense
sobre o mal que representaria esse movimento revolucionário.
O Jornal A Região sediado na cidade de Acarati, em uma de suas
matérias, informa a seus leitores as ações do governo central afim de guarnecer
as fronteiras do estado contra os “rebeldes”:

“Guarnecem-se as fronteiras: Seguiram no trem de hontem, sob o comando


do Major Polydoro Coêlho, forças federais aqui aquarteladas, com o fim de
guarnecer as fronteiras do Estado, evitando a invasão dos rebeldes” (A
REGIÂO, 6 de janeiro. 1926).

Ao analisarmos essa notícia, percebemos que os jornais agem com a


incumbência de mostrar que as devidas providencias estariam sendo tomadas
pelo governo afim de conter o avanço dos “rebeldes”.
O jornal A Imprensa da cidade de Sobral, em suas matérias, alerta a
população sobre as consequências da entrada da Coluna no município de Nova
Russas localizada na fronteira cearense com o estado do Piauí. “Os rebeldes em
Nova Russa” destacam o jornal. Em seu relato, esse jornal evidencia as ações da
coluna, que provocou o fechamento de estabelecimentos comercias e o abandono
das pessoas de suas casas, abrigando-se em esconderijos no interior do
município. Analisamos o trecho transcrito pelo o jornal:

“As famílias tomadas de terror com a perturbação da ordem, retificam-se


para o interior do Mucipio, formando grandes caravanas pela estrada que
dão estrada para esta localidade, ficando a Vila completamente despovoada
e faciturna como uma praça de guerra. Fazia horror ver-se Nova Russas,
que, desabitada, parecia envolta de um manto lúgubre” (A IMPRENSA, 13
de fevereiro. 1926).

Ao analisarmos as fontes jornalísticas, percebemos que em seus


argumentos, os jornais, em nenhum momento preocupou-se em elucidar a seus
leitores sobre os verdadeiros motivos que levaram os revolucionários da Coluna
Prestes a percorrerem boa parte de todo território brasileiro.
Essa falta de esclarecimento, nos levou a concluir que esses jornas agiam
de acordo com interesses próprios, a partir de alianças partidárias, reforçada
através da campanha anti-Coluna promovida pelo governo do presidente Artur
Bernardes. Deste modo, fica evidente o fato do corpo jornalístico ceder espaço a
publicações de telegramas oficiais e cartas de autoridade que visavam entre
outros aspectos corroborar com a promoção do governo federal e estadual na
campanha contra o avanço da Marcha no estado do Ceará.
Em relação ao contexto político cearense referente a nosso recorte
espacial, após longos anos de domínio da oligarquia Accioly, entre os anos de
1924 a 1928 o governo estadual era administrado por José Moreira da Rocha
afiliado ao conservadorismo do governo federal, deste modo concluímos que o
governo cearense se posicionou de forma contrária a passagem da Coluna
Prestes pelo estado.
Contudo, ao analisarmos a bibliografia sobre essa temática, fica
evidenciado que a participação do governo cearense no combate a Coluna
Prestes é de forma simplória, ficando a cargos das lideranças locais a
responsabilidade na elaboração de mecanismos de defesa ao avanço do
movimento tenentista. Nessa perspectiva adquire devida importância às
lideranças políticas locais do Cariri na região sul do estado, sediada, na cidade de
Juazeiro do Norte, por intermédio do deputado estadual Floro Bartolomeu da
Costa e o Padre Cícero Romão Batista.
Segundo pesquisador norte-americano Ralph Della Cava, fica claro que o
governo de Artur Bernardes, obtinha uma estreita relação com as lideranças
regionais do Cariri, e no primeiro momento não houve de fato uma intervenção no
combate a Coluna por parte da liderança estadual:

Em 1926, os laços do Cariri com o governo federal revelaram-se ainda mais


recíprocos [...] quando a famosa Coluna Prestes atingiu o Ceará, em
principio de 1926, coube ao deputado Floro Bartholomeu, com aprovação do
então presidente Artur Bernardes, organizar o Batalhão Patriótico de
Joaseiro para derrotar "os rebeldes" antigovernistas (DELLA CAVA, p. 253 e
254).

Imaginava-se que a cidade de Juazeiro do Norte seria um dos principais


alvos da Coluna, devido a sua importância na esfera política estadual. A cidade
destacava-se como grande polo da fé no Nordeste, terra do “Padim Santo” e do
Coronel “Dr. Floro” líderes que ganharam destaque no âmbito político a partir de
episódios como o pacto dos Coronéis em 1911 e da revolução de Juazeiro de
1914. O jornal A Imprensa através de um telegrama oficial, publicou sobre as
intenções de Luiz Carlos Prestes a respeito daquela cidade:
“O Capitão Prestes um dos comandantes revolucionários declarou que em
breve iria a Juazeiro. Segundo informações, esse chefe revolucionário tem a
pior ideia possível da terra do padre Cícero, cujo o fanatismo deseja
exterminar” (A IMPRENSA, 21 de julho. 1926).

Constatamos em diversas matérias publicadas pelos os jornais do estado,


durante o início de 1926, uma tentativa de elaborar ações com o intuito de
dificultar a marcha da Coluna. Chefes políticos locais organizam grupos de
jagunços armados, surge dessa forma os chamados Batalhões Patrióticos,
incialmente apoiados pelo governo central.
Localizada na região do Cariri, Juazeiro do Norte a principal esfera política
regional, estaria sob a ameaça tenentista. Competiriam ao Deputado Floro
Bartolomeu da Costa e Padre Cícero Romão Batista tomarem as medidas
necessárias para uma possível defesa da “meca” nordestina contra os
“revoltosos”.
Com o apoio integral do Presidente Artur Bernardes o Deputado Floro
Bartolomeu da Costa ficou incumbido de organizar o Batalhão Patriótico de
Juazeiro do Norte. Segundo o historiador norte-juazeirense Daniel Walker O “Dr.
Floro” assim conhecido na região, exercia um forte poder político, sendo um dos
principais coronéis do Cariri, foi o principal líder da revolução de Juazeiro em
1914, responsável por organizar grupos paramilitares sem treinamento, contando
apenas com a valentia de seus jagunços, encetou um movimento golpista
vitorioso contra as forças militares do estado do Ceará. “Fascinado pela extensão
da façanha, o Governo Federal pediu a Floro para convocar o grupo, agora para
uma missão mais patriótica, daí porque o grupo passou a ser chamado de
Batalhão Patriótico” (WALKER, 2017, p.29).
Jornal A Região publicou o fato:, “Apesar continuar reinando a paz em
todo Estado, seguirá para Joaseiro o dr. Floro Bartolomeu, afim de organizar
batalhões para defeza da legalidade” (A REGIÃO, 6 de janeiro. 1926). Com o
apoio incondicional do Ministro do Exército, General Setembriano de Carvalho o
deputado federal, Floro Bartolomeu, recebeu do governo central a estrutura
necessária para combater os “revoltosos” em terras cearenses. Além do arsenal
composto armas, munição e fardamento, foi disponibilizado uma considerável
quantia em dinheiro afim de cobrir os gastos com os aliciados para combater a
Marcha. O jornal A Região em sua coluna intitulada “Serviços a Região” destaca:
“seguiu hotem o primeiro grupo de aliciados em numero de cicoenta, os quais
serão pagos a 5$000 por dia” (A REGIÃO, 20 de dezembro. 1925).
A formação de diversos batalhões patrióticos, tinha como principal
objetivo evitar uma provável invasão da cidade de Fortaleza, a capital cearense.
Havia de fato um temor a respeito da tomada dessa cidade pelos “rebeldes”, isso
significaria o desprestígio das estratégias políticas do governo e
consequentemente a vitória dos membros da Coluna no estado.
Para nós, a influência política do deputado Floro Bartolomeu da Costa,
facilitou a formação de um grande contingente de homens. Mencionamos ainda o
apoio incondicional do padre Cícero que obtinha de grande respeito de sua
condição de sacerdote e chefe político de Juazeiro, o “Padim Ciço”, adquiriu fama
de milagreiro 4no caso da hóstia que virou sangue na boca da beata Maria de
Araújo no ano de 1889. Segundo Lira Neto (2009), o padre não teve dificuldades
em formar um grande contingente de jagunços, após discurso da janela de sua
casa, alertando os moradores de Juazeiro sobre o perigo que representava os
“revoltosos” a cidade. Neto assim descreve o contingente de “cabras”:

Vestidos com uniformes de brim azul-celeste e municiados com modernos


fuzis de uso exclusivo das Forças Armadas, cerca de mil voluntários
marcharam em passo acelerado pelas ruas do Juazeiro, para depois se
perfilarem, em respeitosa posição de sentido, diante da residência de
Cícero. Estavam prontos para a guerra. Apoiado novamente no peitoril da
janela, mesmo com a vista enfraquecida pela catarata, o padre reconheceu
em meio àqueles indivíduos enfileirados as feições carrancudas de notórios
jagunços e cangaceiros, sobreviventes da fúria da “rodagem”. Haviam
recebido treinamento intensivo por parte de oficiais militares, apenas o
suficiente para improvisarem uma ordem-unida e manipularem as peças de
artilharia fornecidas pelo Exército. Muitos envergavam uma roupa limpa e
engomada pela primeira vez na vida. “Esses egressos das cadeias, tipos
repugnantes de assassinos, ladrões e estupradores, veem os seus nomes
figurando no Almanaque do Ministério da Guerra, quando deviam ser
inscritos nos livros das penitenciárias”, protestaria em suas memórias,
Marchas e combates, o secretário-geral da Coluna Prestes, Lourenço
Moreira Lima. (NETO, 2009, p.282).

Evidenciava-se a parceria política entre Floro Bartolomeu e o sacerdote, a


partir da tomada de decisões intencionadas a defesa de seus interesses,
pautadas intrinsicamente na responsabilidade de ambos vinculadas a relação
entre governo e a esfera política carirense.

4
Para um aprofundamento sobre a questão do primeiro milagre em Juazeiro, cuja hóstia
transformou-se em sangue na boca da beata Maria de Araújo, ver: DELLA CAVA, Ralph. Milagre
em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Em nosso entendimento foi o deputado o grande responsável por balizar a
vida política do padre, sendo o deputado o grande interessado a galgar espaço na
política. Em relação a essas duas personalidades, Walker (2017) salienta em seu
livro Padre Cícero, Lampião e coronéis, a partir de uma carta enviada pelo o
General-médico cratense, Pinheiro Monteiro, direcionada ao Padre Azarias
Sobreira:

Eram personalidades que muito se diferenciavam temperamentalmente.


Nada existe de comum entre a atitude autoritária, embora revestida de
cavalheirismo e gentileza de um, e a paciência e providencialismo do outro.
Ao Padre Cícero, afeito aos deveres e hábitos sacerdotais, eram fragrantes
a inadaptação e o desajuste. Enquanto ele se esforçava por não contrariar,
por consideração alguma, seus escrúpulos de consciência, o outro pouco se
incomodava com os juízos da opinião pública. Ao primeiro faltava todo e
qualquer laivo de ambição política; ao segundo, o que denominava era a
ansiedade de subir e dominar o Estado, galgar depois o Parlamento, como
depois o fez (SOBREIRA, apud, WALKER, p.19).

O “patriarca” de Juazeiro sempre se posicionou de forma pacíifica, em uma


de suas tentativas de conter a marcha da Coluna, o padre teria escrito a Prestes
uma carta5, em 20 de fevereiro de 1926, com o intento de convencer o líder
revolucionário a render-se. Mesmo não conseguindo atingir tal proposito,
evidencia-se a importância cabal do Padre, que sempre fez uso da retórica para
resolver questões no âmbito político. Em seu discurso, Padre Cícero exprime
seus pensamentos a respeito ao proposito da Marcha da Coluna Prestes.
Posiciona-se em favor do Governo, convidados os “revoltosos” a rendição.
Destaca-se no documento a posição de diplomacia exercida pelo padre a
utilizar termos como “corações patriotas”. Acreditamos que em seus
argumentos o padre buscava sobre tudo o fim do conflito, e por sequencia
livra sua estimada Juazeiro de uma possível invasão revolucionária.
Passamos agora analisar trechos da carta publicada pelo o jornal O Sitiá em 7 de
março de 1926:

Caros patrícios

Venho-vos convidar a rendição. Faço-os, firmando na convicção de


que presto serviço á pátria pra cuja grandeza devem palpitar os vossos
5
O documento encontra-se publicado na integra no livro: NETO, Lira. Padre Cícero: poder, fé e
guerra no sertão. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 473.
corações de patriotas. Acredito que já nutris esperanças na victoria da
causa pela qual, há tanto tempo pelejais, com exepcional bravura.

[...] deixai, por tanto, a luta e voltai á paz; - paz que será abençoado por
Deus, bemdita pela patria aclamada pelos vos concidadãos e, pois, só
nos poderá conduzir a felicidade. Deus e a patria assim querem, e eu
espero que assim o fareis. Com toda attenção susbescrevo-me, vosso
patricio mais grato.

Padre Cicero Romão Baptista.

Floro Bartolomeu, sendo nomeado oficialmente comandante do Batalhão


Patriótico, pelo Presidente da República, Arthur Bernardes, possuía a autonomia
necessária para convocar seus jagunços a luta. Em nosso entendimento, coube a
responsabilidade de convocação de Lampião ao caudilho Floro Bartolomeu em
nome do Padre Cícero, pois só o padre e seu prestígio seria possível ao
convencimento do bandoleiro a essa causa. Outro ponto crucial para o
convencimento, seria outorga da patente de Capitão do Batalhão Patriótico,
concedida ao cangaceiro, com a promessa torná-lo “legalizado” perante a lei. No
primeiro momentoo cangaceiro desconfiou do improvável convite, uma vez que
havia um temor por parte de Lampião de tratar-se de uma armadilha da polícia
cearense. Ao analisar o conteúdo da carta, Lampião se deu conta que tratava-se
de um pedido pessoal do Padre Cícero, aqual o cangaceiro tinha um grande
apreço e não poderia negarlhe um pedido dessa magnitude. Esse episódio foi
narrado pelo escritor Otacílio Anselmo assim:

Encontrado num dos seus esconderijos do Pajeú, Lampião atendeu sem


demora ao convite que lhe faziam do Juazeiro, todavia, nem tudo ocorreu
tão facilmente. Houve, por exemplo, um intermediário entre Virgulino e o
emissário de Floro e do Padre Cícero. Tal intermediário foi o Coronel
Manuel Pereira Lins (Né da Carnaúba), em casa de quem o bandido
cientificou-se da convocação. Naquele instante, Lampião observou: “Não
vou, não. Isso é traição. Querem me apanhar”. Ouvia-se, então, a palavra
do Coronel, que era tio e padrinho de sinhô Pereira: “A carta é do Padre
Cícero. Qual são Tomé, Virgulino insistiu: “Deixa ver a assinatura”. Feita a
verificação, Lampião exclamou: “A assinatura é do Padre eu vou”
(ANSELMO, apud, WALKER, p.529-533).

Tendo como base as fontes consultadas, Lampião acompanhado por 49


comparsas adentrou na cidade de Juazeiro do Norte, no dia 4 de março de 1926,
a convite das lideranças responsáveis a formar o Batalhão Patriótica daquela
cidade. Esse episódio foi responsável por fomentar, o modo o qual as autoridades
passaram á enxergar a figura Lampião de maneira distinta, o cangaceiro passou a
ser visto não mais como simplesmente uma ameaça a ser combatida, a partir de
agora seria vista naquele momento como representante da pátria.
Porém, a entrada do bandoleiro terra do “Padim santo” aconteceu de forma
tardia, a Coluna Prestes não encontrou resistência durante sua passagem pela as
fronteiras do estado. Utilizando-se de táticas de guerrilha os revoltosos evitou o
confronto direto com Batalhões organizados pelo governo. Naquela altura já
havia a Marcha já havia atravessado boa parte do território cearense rumo aos
estados da Paraíba e Rio Grande do Norte. Quando Lampião chego a cidade de
Juazeiro, Floro Bartolomeu já não estava à frente do comando do batalhão
patriótico, debilitado devido a problemas cardíacos6, foi enviado às pressas para
ser hospitalizado na capital cearense, posteriormente segui para o Rio de Janeiro,
onde veio falecer em 8 de março de 1926.
Em tese não havia mais a necessidade dos serviços de Lampião e seu
bando, uma vez que revoltosos da Coluna Prestes não apresentava mais perigo a
cidade de Juazeiro. Para Walker (2017, p.40), houve uma tentativa, através de um
bilhete para alertar o “Rei do Cangaço” sobre não existir mais a necessidade de
sua ida a Juazeiro, pois o a Coluna prestes não representava mais perigo aquela
cidade, porém Lampião não concordou com pedido, já encontra-se próximo a
cidade e queria a todo custo conhecer o Patriarca de Juazeiro.
Coube a autoridade de Pade Cícero, a recepcionar o “Rei do Cangaço” na
cidade. Segundo Lira Neto (2009, p. 409), 4 mil pessoas foram ao econtro do
cangaceiro. Analisando os depoimentos obtidos por Neto, houve de fato um
grande alvoroço por parte da população, que temia e ao mesmo tempo admirava
o cangaceiro, mais acima de tudo pretendiam velo de perto.

“As moçoilas do Juazeiro, igualmente alvoroçadas, obviamente sem o


consentimento dos pais, espreitavam pelas frestas da porta de casa, na
esperança de pôr a vista naquele homem tão admirado quanto temido, o
chapéu enfeitado com espelhos e patacões de ouro”. E completa com as
palavras de dona Assunção Gonçalves: “A gente morria de medo dele, mas
não resistia a dar uma espiada, olhar o monstro de perto” (2009, p. 476).
6
Floro morreu no dia 8 de março de 1926, no Rio de Janeiro. O presidente Artur Bernardes expediu
decreto concedendo-lhe “honras do pôsto de General-de- Brigada – [...] considerando os relevantes
serviços prestados pelo Dr. Floro Bartolomeu da Costa á defesa da ordem do Estado do Ceará,
organizando e comandando fõrças patrióticas”. Decreto presidencial publicado no Boletim do
Exército nº 298, primeira parte, página 37, de 20 de março de 1926, citado por MACEDO, 1970, op.
cit., p.203.
Mesmo recebendo críticas de boa parte da imprensa local, Padre Cícero
não hesitou em receber o cangaceiro. O Padre temia a reação do bando caso
fosse negada sua entrada na cidade. É nesse cerne, que é arquitetado o episódio
da patente. Lampião sairia de juazeiro com título de “capitão honorário do glorioso
Batalhão Patriótico de Juazeiro” (NETO, 2009, p.412).

Leonardo Mota narrou no seu livro, No Tempo de Lampião (2002),

O agrônomo Pedro Uchoa, que, em 1926, era Inspetor Agrícola em Juazeiro, em depoimento ao folclorista
Leonardo Mota, afirmou ter sido ele o responsável por redigir e assinar a patente de capitão do Batalhão
Patriótico entregue a Lampião. Segundo ele, foi o padre Cícero quem mandara fazer tal documento que,
além de nomear Lampião como capitão, também dava as patentes de tenentes ao seu irmão Antonio
Ferreira e a Sabino Gomes. De acordo com o depoente: “Eu já expliquei, o Padre foi quem ditou. Não
guardei cópia, não, mas me lembro de que a nomeação era feita „em nome do Governo da República dos
Estados Unidos do Brasil‟ e servia também de salvo-conduto, uma vez que reconhecia ao „Senhor Capitão
Virgolino Ferreira da Silva‟, o direito de se locomover livremente, transpondo as fronteiras de qualquer
Estado, com os „patriotas‟ que arregimentasse” (MOTA, 2002, p. 30-31). Salientamos que a referida
patente não tinha legalmente nenhum valor. A entrevista de Uchoa também foi transcrita no jornal O
Ceará, de 26 de julho de 1929.

No entanto, na cidade não havia ninguém que pudesse dar a patente a


Lampião. A única autoridade federal na cidade era um engenheiro agrônomo,
inspetor agrícola federal, e foi ele que escreveu o documento da patente,
assinando-o.
Segundo Leonardo Mota, foi o próprio agrônomo Pedro Albuquerque
Uchoa, o homem que assinou a patente de Lampião, quem lhe contou a
história. Segundo Uchoa, foi o Padre Cícero quem o chamou à sua presença –
pois Lampião queria a patente que lhe fora prometida de qualquer modo
– orientou-o como escrever o texto, mandando-o assinar, com o argumento que o
agrônomo era a “única autoridade federal” em Juazeiro.
Lampião ganhou a sua “patente” por quem não tinha autoridade para
concedê-la, nunca enfrentou a Coluna Presntes, mas passou a ser chamado de
“capitão”.

4. CONCLUSÃO
Acreditamos que o “acontecimento Juazeiro” na vida de Lampião foi um
divisor de águas, pois ele nos ajuda a refletir que a imagem pública de qualquer
sujeito social nunca é homogênea e traz os crivos e influência do seu tempo. O
Lampião, até aquele momento tido pela imprensa como um “bandoleiro
despudorado”, em 1926, teve sua imagem ressignificada mediante um novo sentido
atribuído a ele. Ele passava a ser agora um “bandido legalizado”, não abandonara a
sua “autonomia”, no entanto, publicamente era apresentado como se o Estado
tivesse conseguido “dominar” aquela “fera” colocando-o ao seu serviço. Ao menos
isso foi reconhecido num certo lugar chamado Juazeiro, durante um curto período de
tempo no qual o imperativo de derrotar a Coluna Prestes proporcionou as condições
de emergência dessa representação.
O espaço e o tempo seriam, assim, agentes modeladores dos sujeitos e de
suas ações. A própria “legalização” de Lampião foi uma forma de reconhecer
oficialmente o poder por ele exercido naquele meio social, e sua estadia em
Juazeiro, uma prova de como, já no seu
tempo, Lampião era contraditoriamente admirado, tomando para si a atenção
popular. Mesmo na tentativa de desqualificá-lo, os jornais acabaram afirmando toda
a “astúcia”, “coragem” e “poder” detidos nas mãos de Lampião, sendo que, mediante
essa contestação, usaram as suas páginas para denunciar a ineficiência do Estado
que, segundo eles, deixava a “região do norte” entregue ao descaso. O jornal
tomava para si a responsabilidade de poder dizer o que o outro (Lampião)
significava, explicá-lo e passar aos seus leitores a sua verdade, almejando torná-la
hegemônica.

6. REFERÊNCIAS

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.

FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá. A Crise dos anos 20 e a
Revolução de Trinta. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
(Orgs.). O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Ed. Civilização Brasileira, 2013.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de


Janeiro: Edições Graal, 1989.

LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins. Tenentismo e crise política na Primeira


República. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Orgs.).
Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro: Ed.
Civilização Brasileira, 2013.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do Cangaço. 5.ed. São Paulo: Global,
1997.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime


representativo no Brasil. 2ª ed. São Paulo, Alfa-Ômega, 1975.

NAPOLITANO, Marcos. História do Brasil República: da queda da Monarquia ao


fim do Estado Novo. São Paulo: Contexto, 2016.

PRESTES, Alita Leocádia. Os Militares e a Reação Republicana: as origens do


Tenentismo. Petrópolis: Vozes, 1993.

SOARES, Gláucio Ary Dillon. Sociedade e Política no Brasil: desenvolvimento,


classe e política durante a segunda República. São Paulo: Difusão Europeia do
Livro, 1973.

SODRÉ, Nelson Werneck. A Coluna Prestes; análises e depoimentos. Rio de


Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.

ALVES, Joaquim. O Vale do Cariri. fortaleza, 1946.

CHIAVENATO, Júlio José.Cangaço, a força do coronel. São Paulo:


Brasiliense, 1990.
DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ôraega, 1975. p.
23.

LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins. Tenentismo e crise política na Primeira


República. In: Ferreira, Jorge; DELGADO, Lucília Neves de Almeida (orgs.). Brasil
Republicano. Vol.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime


representativo, no Brasil. 2ª edição, São Paulo, Alfa-Ômega, 1975.

PRESTES, Alita Leocádia. Os Militares e a Reação Republicana: as origens do


Tenentismo. Petrópolis: Vozes, 1993.

SOARES, Gláucio Ary Dillon. Sociedade e Política no Brasil: desenvolvimento,


classe e política durante a segunda República. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1973.

BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

SODRÉ, Nelson Werneck. A Coluna Prestes; análises e depoimentos. Rio de


Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.
DELLA CAVA, Ralph. Milagre em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.

FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.

MARTINS, L. A Revolução de 1930 e seu significado político. In: Revolução de 30.


Seminário internacional realizado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de
História Contemporânea da Fundação Getúlio Vargas. Brasília, DF: Universidade de
Brasília, 1982

LANNA JÚNIOR, Mário Cléber Martins. Tenentismo e crise política na Primeira


República. In: Ferreira, Jorge; DELGADO, Lucília Neves de Almeida (orgs.). Brasil
Republicano. Vol.

LEAL, Vitor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime


representativo, no Brasil. 2ª edição, São Paulo, Alfa-Ômega, 1975.

PRESTES, Alita Leocádia. Os Militares e a Reação Republicana: as origens do


Tenentismo. Petrópolis: Vozes, 1993.

SOARES, Gláucio Ary Dillon. Sociedade e Política no Brasil: desenvolvimento,


classe e política durante a segunda República. São Paulo: Difusão Européia do
Livro, 1973.
BENJAMIN, Walter. O anjo da história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.

SODRÉ, Nelson Werneck. A Coluna Prestes; análises e depoimentos. Rio de


Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1978.
ANEXO:

Você também pode gostar