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CURITIBA
2017
WALLYSON TAVARES DE SOUSA
CURITIBA
2017
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................5
2. REFERENCIAL METODOLÓGICO, TEÓRICO E CONCEITUAL.............6
2.1 Metodologia ....................................................................................6
2.2 Conceito de Representação ..........................................................11
2.3 Conceito de Cangaço ....................................................................13
3. CEARÁ: PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX ......... ......................16
3.1. Professor e o aluno .............................................................................16
3.2. Livro didático .......................................................................................18
3.3. Diário de sala ......................................................................................19
4. BRASIL: SURGIMENTO DO TENENTISMO EA FORMAÇÃO DA COLUNA
PRESTES...................................................................................................31
5. CONCLUSÃO ...........................................................................................33
6. REFERÊNCIAS .........................................................................................35
7. ANEXO ......................................................................................................36
1. INTRODUÇÃO
Para trazer à luz o acontecido, o historiador, livre de qualquer envolvimento com seu
objeto de estudo e senhor de métodos de crítica textual precisa, deveria valer-se de
fontes marcadas pela objetividade, neutralidade, fidedignidade, credibilidade, além de
suficientemente distanciadas de seu próprio tempo (2010, p.112).
De fato, jornais e revistas, não são, no mais das vezes, obras solitárias, mas
empreendimentos que reúnem um conjunto de indivíduos, o que os torna
projetos coletivos, por agregarem pessoas em torno de ideias, crenças e
valores que se pretende difundir a partir da palavra escrita. (LUCA, p. 140).
2.1 METODOLOGIA
A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objecto identificar o modo
como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social e
construída, pensada, dada a ler. Uma tarefa deste tipo supõe vários caminhos. O
primeiro diz respeito as classificações, divisões e delimitações que organizam a
apreensão do mundo social como categorias fundamentais de percepção e de
apreciação do real. (CHARTIER, 1990, p. 16-17).
Por isso esta investigação sobre as representações supõe-nas como estando sempre
colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam
em termos de poder e de dominação. As lutas de representações rem tanta importância
como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo
impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e
o seu domino. (CHARTIER, 1990, p. 17).
para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição
de quem os utiliza. As percepções do social não são de forma alguns discursos neutros:
produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma
autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto
reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos as suas escolhas e condutas
(CHARTIER, p. 17).
1
Segundo Maria Isaura de Queiroz, em seu primeiro e mais antigo sentido, referia-se a grupos de
homens armados que eram sustentados por chefes de grandes parentelas ou por chefes políticos
[...]. Mais tarde, o mesmo temo passou a designar grupos de homens armados liderados por um
chefe, que se mantinham errantes [...], vivendo de assaltos e saques, e não se ligando
permanentemente a nenhum chefe político ou chefe de grande parenlela. (QUEIROZ, Maria Isaura
P. àe. História do cangaço. São Paulo: Global, 1986. p. 15.).
autor o cangaceirismo e fanatismo era consequência do atraso econômico
nordestino resultante do regime “semi-feldal” proposto pelos latifundiários:
O ponto básico a respeito dos bandidos sociais é que são proscritos rurais,
encarados como criminosos pelo Estado, mas que continuam a fazer parte
da sociedade camponesa e são considerados por sua gente como heróis,
como campeões, vingadores, paladinos, justiceiros, talvez até mesmo
líderes da libertação e como homens a serem ajudados e apoiados. É essa
ligação entre o camponês comum e o rebelde, o proscrito e o ladrão que
torna o banditismo social interessante e significativo (HOBSBAWM, 1976,
p.11).
2
CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual.
Dados, vol.40, n.2. Rio de Janeiro, 1997.Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200003
respectivamente, favorecendo o sistema de trocas entre os políticos, o governo e
as pessoas da classe menos favorecida.
Voltando cerne de nossa discussão a respeito da relação entre
cangaceiros e coronéis, Luitgarde Cavalcante de Barros (1997) em sua obra:
Derradeira Gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão, analisa a
existência de uma relação de benefícios entre cangaceiros e coronéis. Essa
relação está pautada principalmente na troca de favores. Os coronéis ofereciam o
suporte necessários aos cangaceiros através de armas e munições, por sua vez o
cangaceiro fica à disposição do Coronel nas resoluções de questões relacionados
a intrigas no âmbito político e disputa de terras. Em meio a essa vinculo, o grande
prejudicado é sertanejo que ficava a mercê da violência do banditismo e a
exploração do latifúndio. Segundo Barros:
A violência contra os fracos, que até então poderia ser vista como um dos
instrumentos de dominação de classe, com o cangaço de Lampião se
banaliza, quando confiantes na impunidade garantida pela associação a
várias autoridades, os cangaceiros tornam-se senhores da vida das
populações mais pobres do sertão (BARROS, 1997, p.55).
O mincicpio tonarva-se, assim, o elo crítico das malhas do governo: era ele
principal fonte de renda de que o governo estadual necessitava para
manter, em expansão, sua burocracia. Tendo em vista assegurar a
continuidade do pagamento do “tributo legal”, a oligarquia do estado
recompensaria os chefes dos municípios tanto com a garantia de uma maior
participação nas rendas municipais (DELLA CAVA, 1977, p.127).
3
Documento disponível para acesso no site: <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u1455/000012.html>.
Acessado em 20 maio. 2018.
“Art. 8º - Manterão todos os chefes aqui presentes, inquebrantável
solidariedade não só pessoal como política, de modo que haja harmonia de
vistas entre todos, sendo, em qualquer emergência, um por todos, e todos
por um;
Rui Facó (1991, p.160) analisa que a sedição de juazeiro significou a projeção
do Padre Cícero e do deputado Floro Bartolomeu no senário político nacional. Floro,
como um home astuto e inteligente fazia o uso de sua influência política e por
muitas, utilizava-se da violência de seus jagunços para conseguir seus objetivos. O
Padre Cícero por sua vez, a partir da vitória política da “facção dos coroeis do
Cariri”, teve aumentada seu prestígio entre os pobres de todo o Nordeste. “Mais tudo
indica que o potentado político passava suplantar nos demais terrenos o ditador
espiritual das massas” (FACÓ, p.160).
“Do ponto de vista econômico, a década de vinte foi marcada por altos e
baixos. Se nos primeiros anos o declínio dos preços internacionais do café
gerou efeitos graves sobre o conjunto da economia brasileira, como a alta
da inflação e uma crise fiscal sem precedentes, por outro também se
verificou uma significativa expansão do setor cafeeiro e das atividades a ele
vinculadas”. (FERREIRA; PINTO, 2013, p. 389).
4
Para um aprofundamento sobre a questão do primeiro milagre em Juazeiro, cuja hóstia
transformou-se em sangue na boca da beata Maria de Araújo, ver: DELLA CAVA, Ralph. Milagre
em Joaseiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
Em nosso entendimento foi o deputado o grande responsável por balizar a
vida política do padre, sendo o deputado o grande interessado a galgar espaço na
política. Em relação a essas duas personalidades, Walker (2017) salienta em seu
livro Padre Cícero, Lampião e coronéis, a partir de uma carta enviada pelo o
General-médico cratense, Pinheiro Monteiro, direcionada ao Padre Azarias
Sobreira:
Caros patrícios
[...] deixai, por tanto, a luta e voltai á paz; - paz que será abençoado por
Deus, bemdita pela patria aclamada pelos vos concidadãos e, pois, só
nos poderá conduzir a felicidade. Deus e a patria assim querem, e eu
espero que assim o fareis. Com toda attenção susbescrevo-me, vosso
patricio mais grato.
O agrônomo Pedro Uchoa, que, em 1926, era Inspetor Agrícola em Juazeiro, em depoimento ao folclorista
Leonardo Mota, afirmou ter sido ele o responsável por redigir e assinar a patente de capitão do Batalhão
Patriótico entregue a Lampião. Segundo ele, foi o padre Cícero quem mandara fazer tal documento que,
além de nomear Lampião como capitão, também dava as patentes de tenentes ao seu irmão Antonio
Ferreira e a Sabino Gomes. De acordo com o depoente: “Eu já expliquei, o Padre foi quem ditou. Não
guardei cópia, não, mas me lembro de que a nomeação era feita „em nome do Governo da República dos
Estados Unidos do Brasil‟ e servia também de salvo-conduto, uma vez que reconhecia ao „Senhor Capitão
Virgolino Ferreira da Silva‟, o direito de se locomover livremente, transpondo as fronteiras de qualquer
Estado, com os „patriotas‟ que arregimentasse” (MOTA, 2002, p. 30-31). Salientamos que a referida
patente não tinha legalmente nenhum valor. A entrevista de Uchoa também foi transcrita no jornal O
Ceará, de 26 de julho de 1929.
4. CONCLUSÃO
Acreditamos que o “acontecimento Juazeiro” na vida de Lampião foi um
divisor de águas, pois ele nos ajuda a refletir que a imagem pública de qualquer
sujeito social nunca é homogênea e traz os crivos e influência do seu tempo. O
Lampião, até aquele momento tido pela imprensa como um “bandoleiro
despudorado”, em 1926, teve sua imagem ressignificada mediante um novo sentido
atribuído a ele. Ele passava a ser agora um “bandido legalizado”, não abandonara a
sua “autonomia”, no entanto, publicamente era apresentado como se o Estado
tivesse conseguido “dominar” aquela “fera” colocando-o ao seu serviço. Ao menos
isso foi reconhecido num certo lugar chamado Juazeiro, durante um curto período de
tempo no qual o imperativo de derrotar a Coluna Prestes proporcionou as condições
de emergência dessa representação.
O espaço e o tempo seriam, assim, agentes modeladores dos sujeitos e de
suas ações. A própria “legalização” de Lampião foi uma forma de reconhecer
oficialmente o poder por ele exercido naquele meio social, e sua estadia em
Juazeiro, uma prova de como, já no seu
tempo, Lampião era contraditoriamente admirado, tomando para si a atenção
popular. Mesmo na tentativa de desqualificá-lo, os jornais acabaram afirmando toda
a “astúcia”, “coragem” e “poder” detidos nas mãos de Lampião, sendo que, mediante
essa contestação, usaram as suas páginas para denunciar a ineficiência do Estado
que, segundo eles, deixava a “região do norte” entregue ao descaso. O jornal
tomava para si a responsabilidade de poder dizer o que o outro (Lampião)
significava, explicá-lo e passar aos seus leitores a sua verdade, almejando torná-la
hegemônica.
6. REFERÊNCIAS
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
FERREIRA, Marieta de Moraes; PINTO, Surama Conde Sá. A Crise dos anos 20 e a
Revolução de Trinta. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves
(Orgs.). O Brasil Republicano: o tempo do liberalismo excludente. Rio de Janeiro:
Ed. Civilização Brasileira, 2013.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do Cangaço. 5.ed. São Paulo: Global,
1997.
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. São Paulo: Alfa-Ôraega, 1975. p.
23.
FAUSTO, Boris. A Revolução de 1930: historiografia e história. 16. Ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997.