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SIMPÓSIO REGIONAL – RJ

NEODISCÍPULOS e NOVOS DISCÍPULOS


2023

Tema: O SER HUMANO E SUAS DUAS NATUREZAS

26 de agosto

“Quando Deus criou o homem terreno, sua concepção foi perfeita, como não
podia deixar de ser. Fê-lo superior a todo outro ser vivente sobre a terra e,
portanto, concedeu-lhe a graça de possuir duas naturezas: a física e a
espiritual. Isto explica com farto fundamento a sobrevivência do espírito
humano, já que, ao cessar a vida física, permanece a espiritual, formada com
os elementos eternos constitutivos da existência.”
O Espírito

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PLENÁRIA 1 – AUDIÇÃO DA CONFERÊNCIA

Conferência pronunciada pelo Maestro Raumsol na Sede da Fundação Logosófica em Montevidéu


Montevidéu, 11 de julho de 1954

1. Boa noite, discípulos! Sentem-se!

2. Ah! Voltaram todos! Eu pensava que já não viriam hoje. Isso quer dizer que gostaram do que têm
escutado nestes dias, não é verdade? É o que parece. Bom, vamos seguir trabalhando. Quietinhos,
todos quietinhos! Não, não, não se distraiam, não olhem para a janela, não olhem o copo, e assim
vão tornar menos pesada a tarefa que devo realizar.

3. Espero que os discípulos novos já tenham podido apreciar a diferença fundamental que existe entre
o conhecimento logosófico e os conhecimentos comuns. Porém, naturalmente, esta é uma
apreciação ainda não confirmada pela experiência; então, os discípulos devem preparar-se para
que essa experiência o confirme. Em Logosofia, as palavras mudam totalmente seu significado e
seu valor. É necessário, pois, acostumar-se a conhecer bem o conteúdo de cada palavra, o que cada
uma destas palavras logosóficas expressam ao entendimento de cada discípulo.

4. O ser humano foi criado para viver na Terra e realizar uma tarefa muito importante: seu processo
de evolução consciente. Para isso, é necessário conhecer como está configurado o ser humano.
Nele existem duas naturezas, sempre em luta: a instintiva e a espiritual.

5. Durante séculos, tem dominado a instintiva; a instintiva tem suporte no material. Daí que tenha
predominado tanto durante extensíssimas épocas da história humana. Mas a natureza instintiva
não é como a natureza espiritual. Ela cumpre um objetivo físico e perece com o físico. A natureza
espiritual não perece. E, enquanto uma está sujeita ao tempo físico, a outra vive no tempo eterno.
Entretanto, como disto os homens não sabem nada, viveram e seguem vivendo no tempo físico,
governados pela natureza instintiva.

6. Durante muitos anos, tenho dado a conhecer aos discípulos muitos ensinamentos a respeito da
natureza do espírito, mas ainda me resta um imenso cabedal de conhecimentos para dar aos
discípulos sobre a natureza do espírito.

7. Esta é a razão pela qual se esteve vivendo no mundo físico, sem ter consciência da existência dessa
natureza espiritual, que pertence ao mundo espiritual.

8. E, quando eu me refiro ao espírito ou ao espiritual, essas palavras diferem totalmente do sentido


comum, da acepção comum. Estão desprovidas de todo revestimento místico e se perfilam,
nitidamente, como entidades reais, prontas para serem aprimoradas pelo entendimento humano.

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9. Vejam então como a vida, iluminada por esta concepção, se divide em duas: quando atua o ser
físico, influenciado pela natureza instintiva, sente e experimenta as coisas de uma maneira limitada,
egoísta, mesquinha. E, quando experimenta as coisas com a natureza espiritual, atua de outro
modo, generosamente, amplamente, ilimitadamente. A vida se expande, adquire outro significado.
E essa felicidade que se sente é porque se está tocando no tempo eterno, o que permanece sem
nunca se extinguir, o que dá a cada um a sensação de viver eternamente.

10. Lembro, agora, que ontem eu disse a alguns discípulos que, no mundo comum, por ignorância, se
situa a vida dentro dos problemas, ao invés de situar os problemas dentro da vida. No primeiro caso,
a vida fica aprisionada pelos problemas, que a oprimem, a angustiam e a obscurecem. No segundo,
os problemas, tendo que ser resolvidos dentro da vida, perdem muito da força que adquirem
quando a vida está dentro deles, pois agora ela os aprisiona.

11. E aqui vemos então como, ao se viver só a vida física, onde reina a natureza instintiva, os problemas,
que às vezes são vorazes, tratam de tragar essa vida, cercando-a, segurando-a com os tentáculos
de polvo, num abraço fatal. Porém, quando o ser se acostuma a viver permitindo que a natureza
espiritual se manifeste, os problemas devem ir se acomodando dentro da vida. E, como essa vida já
se vai consubstanciando com o tempo eterno, os problemas não pressionam, como no primeiro
caso, e se vão resolvendo na amplitude do tempo e de compreensões mais amplas.

12. Isto, discípulos, é vital para a vida. Estou-lhes dando chaves para que cada um saiba se conduzir
sem se extraviar no labirinto do confucionismo das ideias, dos pensamentos, dos problemas, das
preocupações, que muitas vezes a natureza inferior cria.

13. Quando vocês forem experimentando isto, dia após dia, na realidade, e quando derem perfeita
conta da realidade dessas duas naturezas, vão descobrir, então, o segredo de muitos pequenos
mistérios que estão presos à vida sem nunca serem explicados.

14. Eu disse, no primeiro dia, que os seres humanos desperdiçam muito suas energias, semeando os
caminhos de experiências sem aproveitá-las. E disse, também, que eu havia recolhido muitas
dessas experiências, porque são sementes que me encarreguei de selecionar, para poder oferecer
depois a todos a semente nobre, a que dá o melhor rendimento, a que se manifesta depois em
frutíferas compreensões, e da qual todos se servem depois para alimentar o espírito. Sim, esse
espírito que esteve durante tanto tempo jejuando, enquanto a barriguinha física era enchida todos
os dias, esquecendo-se de que também necessitava de alimento quem esteve jejuando durante
tantos séculos, enquanto conservava a energia para poder seguir existindo e esperando o momento
em que sua vez chegasse para receber o alimento que tanto ansiava ter. Por isso é que, agora, se
sentem felizes, pois as duas barriguinhas estão cheias; por isso estão contentes o ser físico e o
espírito, por isso há tanta alegria, por isso dormem bem; já não vão sentir mais as sacudidas do
espírito, despertando-os de noite para ver se, pelo menos em sonhos, lembram que têm de ter para
com ele um pouquinho de consideração. E, quando se acostumarem a viver mais com o espírito do
que com a natureza instintiva, tudo irá mudando, irá se transformando, porque também ali existe
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a Lei de Correspondência. E, tão logo se atende ao espírito, o espírito compensa imediatamente a
atenção e permite que o entendimento se ilumine com mais luz, se esclareçam as ideias, se
afugentem as sombras da incerteza, da dúvida. E também que se experimente a imensa dita de, por
fim, os seres humanos poderem viver totalmente, integralmente, em espírito e em físico, sem
descuidar mais da mais importante das partes que conformam o ser humano.

15. Naturalmente, para os novos, isto parecerá algo difícil, algo incompreensível, mas será só um
parecer. Se vocês buscarem na consciência, se perguntarem a seu entendimento, com sinceridade,
o que é que têm experimentado ou sentido, verão que a resposta lhes haverá de ser muito grata,
porque, não fosse assim, não fosse assim, vocês teriam uma só natureza e se levantariam daqui em
quatro patas. De maneira que não cabe nisto, então, a menor discussão. É tão lógico, tão certo, que
em cada um existe a confirmação. Não é preciso buscá-la em nenhuma parte. Mas, naturalmente, é
necessário aprender a viver a vida em suas duas partes. Vocês têm estado acostumados a viver
durante tanto tempo com uma só parte, que custa, naturalmente, viver com as duas. Porém, no dia
em que possam realizar isto de forma habitual, sem esforço, então verão o que acontece em cada
uma.

16. O ensinamento que surge nesse momento, esse eu não posso dar. Esse, cada um tem de encontrá-
lo dentro de si mesmo. Eu os levei e conduzi como guia até este momento. Ali, cada um deve
encontrar seu próprio ensinamento.

17. Eu sei muito bem, discípulos, claro! São conhecimentos de grande envergadura. Tantos
conhecimentos não podem ser abarcados em dois, três dias. Mas estão gravados. Vocês haverão de
escutá-los em outro momento, e em sua mente poderão reviver muitas dessas imagens que lhes
apresentei. Tratem de recordá-las o mais fielmente possível. Nisto não pode haver omissões; são
claras e terminantes. Precisam penetrar na mente sem terem sofrido a menor alteração. Eu estou
seguro de que, depois desta noite, se vai produzir uma mudança em todos vocês, uma pequena
mudança, pequena, mas uma mudança real, porque há coisas que, quando ouvidas, não se
esquecem jamais. É a força de uma verdade agindo no interior de cada um. E é a essa verdade que
se terá de conceder a maior atenção, o maior cuidado, a melhor disposição de alma. E, como estes
ensinamentos foram já de um valor e de uma profundidade muito grandes, não quero, por hoje,
falar mais. Permaneçam, agora, com a imagem que plasmei. É muito grande. Tem uma importância
sublime para a vida de todos vocês. Não percam esta oportunidade!

18. Hasta siempre, discípulos!

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PLENÁRIA 2 – A natureza física e a natureza espiritual

Ensinamentos:

1. “A natureza física, dotada de um perfeito organismo com função automática e permanente à margem
da vontade, com dispositivos e sistemas biológicos que atuam e se comunicam maravilhosamente
entre si, e um mecanismo psicológico que se resume na alma...”
(O Espírito, p. 57/2)

2. “Nessa natureza física, que constitui a base material da existência humana, ficou plasmada uma parte
ponderável de sua altíssima concepção, dando lugar a seu gênero como criatura superior; mas essa
parte, com sua admirável organização biológica, só tem por finalidade articular a vida com base em
necessidades e perspectivas materiais.”
(O Espírito, p. 58/0)

3. “A natureza espiritual do homem, ou seja, a que corresponde a seu espírito, diferencia-se, pois da física
pelo fato de ser incorpórea e imperecível. O ser humano deve compreender que todos os seus esforços
haverão de encaminhar-se para o predomínio nele de sua natureza espiritual, para experimentar em
sua consciência a sensação cabal da perenidade.”
(O Espírito, p. 59/1)

4. “Alma é o ente físico em sua configuração psicológica. Anima e move à ação e ao seu desenvolvimento
os três sistemas – o mental, o sensível e o instintivo –, mas limitando sua função às prerrogativas
humanas comuns, seja no aspecto material, seja no moral e no intelectual. A alma usa da inteligência,
da sensibilidade e do instinto para todas as emergências e questões relacionadas com o
desenvolvimento da vida física, mesmo em seus aspectos intelectuais mais elevados.”
(O Espírito, p. 63/2)

5. “A Logosofia estabelece sobre alma e espírito conceitos totalmente novos e revolucionários, ao


assinalar entre ambos uma diferença substancial. A alma integra, como dissemos, a entidade física em
sua parte psicológica; o espírito, não obstante ser uma entidade autônoma, com plena liberdade de
movimento, está ligado à alma ou ente físico enquanto este existe em sua estruturação humana. Em
virtude de sua essência eterna, e por conter o caudal hereditário do ser que alenta, ele está destinado
a desenvolver uma preponderância transcendental sobre a parte física e psicológica do indivíduo.”
(O Espírito, p. 65/1)

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NÚCLEO 1 – Efeitos do predomínio da natureza física

Ensinamentos:

1. “A formação consciente da individualidade responde inexoravelmente aos altos fins da evolução do


homem. Ninguém deixará de reconhecer, como prova irrefutável, o fato de ele ter-se ocupado
exclusivamente de sua personalidade, quer dizer, de seu ser físico, de sua figura estética, de sua
educação e cultura refinadamente condicionadas ao externo, buscando sempre a exaltação de seu
conceito pessoal ante seus semelhantes. Ambição, vaidade, presunção, luzimento, renome,
superficialidade são alguns dos heterogêneos ingredientes constitutivos do ente pessoal. Muitos
confundem o termo “personalidade” com dignidade, autoridade moral, prodígio nas letras, nas artes
ou no próprio saber, sem se advertir que a grandeza de alma jamais pode abrigar-se na pequenez
insuportável da mesquinha personalidade humana.”
(Curso de Iniciação Logosófica, § 88)

2. “O processo de evolução consciente, instituído pela Logosofia para o desenvolvimento das energias
potenciais do ser, determina como imperiosa a formação de seu ente individual, a fim de que substitua
vitorioso a personalidade, que é a que impede, por sua impermeabilidade psicológica, toda tentativa
de mudanças positivas e transcendentes que tendam, por uma parte, à sua anulação e, por outra, ao
robustecimento da individualidade, que é, em definitivo, o verdadeiro ente humano e espiritual da
espécie.”
(Curso de Iniciação Logosófica, § 91)

3. “Temos de prevenir, contudo, mais uma vez, contra as possíveis reações da “personalidade”, a qual, ao
pressentir sua gradual anulação, atacará com mil objeções tendentes a manter o império de sua figura
artificiosa, tão cuidadosamente adornada para uso externo.”
(Curso de Iniciação Logosófica, § 96)

4. “O quadro das deficiências que a criatura humana apresenta, desde que nasce até o final de sua velhice,
poderia parecer desalentador. Entretanto, isso não deve abater o ânimo, porquanto é preferível
conhecer que inimigos temos dentro, para combatê-los com lucidez mental, a ignorá-los, enquanto
ficamos à mercê de sua influência despótica, suportando docilmente a maioria dos desgostos e
depressões que diariamente nos acarretam. E se comprovamos que uma ou outra deficiência não existe
no âmbito pessoal, acaso não é um sincero e efetivo humanismo o que se pode exercer, ajudando os
demais a se desprenderem dela? A ausência de um gesto dessa índole poria a descoberto uma falha
censurável, o egoísmo, que revela por sua vez falta de solidariedade humana.”
(Deficiências e Propensões do Ser Humano, p. 13/1)

5. “Toda deficiência é produto do desvio experimentado pelo homem na integração de suas qualidades e
do mau uso de suas condições intelectivas, psíquicas e morais. O desconhecimento de seu próprio
existir como entidade consciente e capaz o leva a cometer inúmeros erros, que depois afloram como
deficiências impressas em sua psicologia.”
(Deficiências e Propensões do Ser Humano, p. 18/2)

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NÚCLEO 2 – Equilíbrio entre as duas naturezas

Ensinamentos:

1. “Vejamos. Vou-lhes demonstrar como a parte física, como a matéria, é infinitamente inferior à parte
espiritual e como os seres humanos se aferraram a essa matéria, descuidando do espírito. Se não
existisse espírito, não teriam existido, então, em cada ser humano, as formosas possibilidades nele
plasmadas, para que fossem ativadas, e surgisse o verdadeiro equilíbrio entre o espírito e o ser físico.
Ao espírito se negou e se nega; não se faz com que ele participe da vida, porque o ser físico se aferrou à
matéria e é egoísta, é mesquinho, é limitado, é temeroso, porque, naturalmente, a matéria se perde: o
único eterno é o espírito.”
(Conferência de Montevidéu de 15/07/54, §7)

2. “Condição indispensável para que o espírito possa cumprir tão alta incumbência é que as atuações da
alma se tornem coincidentes com as exigências do espírito, disciplinando-se previamente no
adestramento que conduz a esse fim.
Em que consiste tal adestramento? Já dissemos que a alma integra o ser físico em sua parte psicológica;
por conseguinte, concerne a ela a tarefa de transformar a mente numa espécie de ateliê de escultura e
criar, no ser que anima, o hábito, nunca suficientemente ponderado, de vigiar, superando-os,
pensamentos e ações. Os primeiros reajustes disciplinares, possíveis de realizar por meio de nosso
método, permitem a intervenção gradual do espírito, o qual, ao tomar as rédeas da vida, vai
introduzindo no ser fecundas variações em sua forma de pensar, de sentir, de ver, de entender, etc. É
assim como se produz a identificação do espírito com o ente físico ou alma, identificação que culmina
com sua mais alta manifestação quando o homem cumpriu todas as etapas de seu aperfeiçoamento.”
(O Espírito, p. 70/2-3)

3. “Quando o homem eleva sua mente acima das preocupações comuns, surge em sua inteligência um
vivo resplendor que se projeta sobre as coisas que concernem ao espírito, familiarizando-o com elas.
Em sua mente flui uma nova capacidade de compreender e de realizar, e invade sua alma um estado
super-humano, pois implica nada menos que o enlace de sua inteligência com o mundo superior, com
o mundo das grandes ideias, dos pensamentos elevados e das altas concepções do espírito. É ali onde
o homem percebe que se diviniza, porque em seu progressivo esforço de superação alcança as
privilegiadas regiões do espírito e estabelece os primeiros contatos com a vida universal, onde reina o
Pensamento de Deus.”
(O Espírito, p. 71/2)

4. “Vocês me dirão, discípulos: “E o que podemos fazer para que o espírito participe da vida?”. Eu teria de
responder-lhes que já está explicado em todos os ensinamentos. Porém, caso ainda não o tenham lido
e não o tenham explicado, primeiro: é necessário começar por não negá-lo. Segundo: é necessário
começar por recordá-lo; cada um deve pensar que tem um espírito. Terceiro: todos devem pensar que
o que não está visível e atua dentro do ser, isso forma parte do espírito... Quarto: é necessário pensar
na forma como estiveram atuando até aqui e, depois, ensaiar como atuar fazendo o espírito participar.
Quinto: pensar que coisas são as que agradam ao espírito; assim, se há cinco coisas que agradam ao ser
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físico, buscar cinco coisas que agradam ao espírito, balanceando, equilibrando. E já com essas cinco
coisas é possível, é possível que todos possam começar a sentir o espírito atuando dentro de cada um.
Eu vou reconhecê-lo de imediato. Aparece uma pintinha de uma cor que somente eu posso ver, mas
que os discípulos também a verão; é questão de ensaiar a vista; às vezes aparece na ponta do nariz, na
orelha.”
(Conferência de Montevidéu de 15/07/54, § 11)

5. “Fica claramente explicado que a função primordial do espírito é a de perpetuar-se ao longo da


existência; e, como tal perpetuação requer necessariamente uma causa que a ative, esta causa se
efetiva na evolução consciente, que, por sua vez, determina o curso da própria herança até culminar,
em seu inefável apogeu, com a posse da Sabedoria. Esta é a razão pela qual o espírito se sente
irresistivelmente atraído quando a alma empreende decidida o processo de evolução consciente, por
ser ali, na consciência, onde se dá a sublime conciliação entre o espírito e o ente físico ou alma.
Naturalmente que não se chega a isto senão após um constante adestramento das articulações mentais
e sensíveis, o que as condiciona para tal fim. Será preciso desterrar da mente todo pensamento
contrário a este objetivo e auspiciar, em grau máximo, a afluência daqueles outros que concorram para
favorecer o desenvolvimento do aludido processo.”
(O Espírito, p. 112/1)

6. “A familiarização constante com a terminologia logosófica, que implica penetrar bem a fundo no
conteúdo real das palavras, especialmente daquelas que encerram determinados conceitos, faz com
que o espírito se comova e se sinta atraído para a esfera de atuação de nossa inteligência. Porém,
simultaneamente, há que enriquecer a consciência, incorporando nela os conhecimentos que, a modo
de ímã, atraem e absorvem os que o próprio espírito custodia. Serão assim superadas as dificuldades
que o impediram de cumprir com sua elevada e grande incumbência.”
(O Espírito, p. 79/2)

7. “...Para sentir sua realidade e poder receber o influxo de seus diáfanos e inefáveis ditados, temos de
preparar nosso equipamento psicológico e mental. Dele poderá servir-se o espírito, aumentando ao
máximo as possibilidades de nossa capacidade mental e sensível. Quando isso acontece,
experimentamos a sensação de assistir a uma notável mudança interna. As duas naturezas, a espiritual
e a física, terminam por fundir-se, após uma luta pelo predomínio de uma sobre a outra.”
(O Espírito, p. 78/1)

8. “Salta à vista que o processo de aproximação e vinculação íntima com o próprio espírito requer tempo
e paciência, consubstanciados num empenho constante e sincero.”
(O Espírito, p. 77/1)

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PLENÁRIA 3 – Manifestações da natureza espiritual na própria vida

Ensinamentos:

1. “Vulgarmente”, De Sándara continuou, “alude-se ao espírito como se ele fosse algo abstrato,
imaginando-o sem condicioná-lo a nenhuma função específica. Isso ocorre porque, na verdade, ele não
a tem para o homem comum, como não a tem para todo aquele que não haja experimentado sua
realidade e não conheça sua possível coexistência com o ser físico. Em geral, não se dá ao espírito
nenhuma participação ativa na vida, da qual ele permanece alheio, como personagem estranho, como
‘uma estátua’. Em situação de tamanho desprezo, compreender-se-á por que é nula sua intervenção
nos fatos que nos acontecem. Quantas vezes ouvimos as pessoas dizer, por ocasião de ir a um concerto,
a uma apresentação teatral, a um cinema, que vão para ‘recrear o espírito’. É evidente que tal coisa é
dita com muito boa intenção, mas na ignorância de que o espírito não pede uma mera recreação, senão
muitíssimo mais. O espírito pede participação ativa e intensa, como já disse, na vida do ser que ele
anima.”
(O Senhor de Sándara, p. 166/1)

2. “Agora, pensem, discípulos, que uma Obra como esta requer que participem os espíritos, porque são
os que vão dar força, tenacidade, empenho, vigor, fortaleza e muita vida ao ser físico. Porque, assim
como o ser físico quer viver, o espírito também quer existir. E, quando o espírito consegue ser, pela
primeira vez, dono desse corpo que lhe disseram que ia encarnar – mas depois ficou fora, porque o ser
físico pensou que estava demais –, então, só então, vão experimentar o que não é possível ao ser físico
só com seu corpinho. Não. As emoções grandes ou pequenas não são experimentadas pelo físico; ele
sente, sim, as repercussões do espírito que fazem comover o coração e a mente, mas essas
manifestações são duráveis quando o espírito vive verdadeiramente no ser físico, e são passageiras
quando não acontece assim.”
(Conferência de Montevidéu de 15/07/54, § 12)

3. “Quando o homem busca oportunidades para que sua inteligência se ilumine com as luzes do
conhecimento e sua sensibilidade se expanda nas manifestações sublimes que lhe são próprias, o
espírito o assiste e preside todos os atos de sua vida. Esta assume, então, características que a
distinguem da anteriormente vivida. Há nela otimismo, energia, nobres afãs.”
(O Espírito, p. 136/2)

4. “...Pois bem, a experiência já nos demonstrou, com a eloquência que surge da mais rigorosa evidência,
que as inquietudes do espírito não se acalmam nem mesmo com as respostas mais inobjetáveis. A
inquietude é algo consubstancial com o próprio ser; é um vazio, algo que lhe falta à alma, que lhe faltou
sempre, uma necessidade profundamente adentrada na vida, não sendo fácil, portanto, fazê-la aflorar
à superfície. Pertence ao foro íntimo, ao ser interno, ao espírito.”
(Exegese Logosófica, p. 68/1)

5. “Quem, senão o próprio espírito, promove tais desassossegos? Quem, senão ele, induz o homem a
buscar o saber? Mas não o saber comum, que atende às exigências da vida corrente. Referimo-nos ao
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que enriquece a consciência, ao que transcende a esfera vulgar do mundo para dominar, na medida de
sua extensão, o imenso campo mental, o metafísico, povoado pelos pensamentos e pelas grandes
ideias. Nesse âmbito de incontáveis milhões de entidades ultrafísicas é onde o espírito individual
costuma captar as imagens mais valiosas, das quais faz o ente físico participar quando se estabelece a
íntima correspondência entre ambos, com vistas a uma plena identificação.”
(O Espírito, p. 24/1)

6. “...O temperamento místico é inato na alma humana, e adquire seu sentido ideal quando expressa a
aspiração de identificar-se com a alma universal.”
(O Mecanismo da Vida Consciente, p. 112/0)

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PLENÁRIA 4 – AUDIÇÃO DA CONFERÊNCIA

Conferência pronunciada pelo Maestro Raumsol na Sede da Fundação Logosófica em Montevidéu


Montevidéu, 4 de outubro de 1952

1. Boa noite, discípulos! Sentem-se!

2. Quando estão os que escutam pela primeira vez o Maestro, o que menos pensam é que ele não lhes
está simplesmente falando, que não está dando uma conferência. Estou realizando, nesses
momentos, como em todos aqueles em que falo aos discípulos, um trabalho muito delicado.

3. Muitos já falaram sobre psicologia, mas se ocuparam da psicologia inerte, porque careciam dos
conhecimentos para encarar a psicologia ativa. Não é mencionando um aspecto ou outro que o ser
se ilustra sobre os mistérios de sua conformação psicológica. É necessário levá-lo a experimentar,
ele mesmo, toda a verdade que o conhecimento de seu próprio ser encerra. E é necessário realizar
isso com paciência, sem pressa. Pouco a pouco, gradualmente, vão penetrando os fragmentos de
conhecimento que haverão de constituir nele, depois, seu patrimônio moral e espiritual.

4. Mas é tarefa muito grande poder transladar as concepções universais para a mente dos seres
humanos. Então, devo acercá-los uma e outra vez, devo fazê-los sentir a proximidade desses
grandes conhecimentos, a fim de que com eles se vitalizem e possam triunfar nesta grande
experiência que, pela primeira vez, se realiza sobre a face da Terra: a experiência da evolução
consciente.

5. É comum, e todos sabem disso, que aqui e em todas as partes do mundo se diga que os seres “lutam
pela vida”. É assim mesmo? Escutaram isso muitas vezes e em toda parte. Pois bem, lutam pela
vida; mas quem luta? O ser físico. Não é assim? É o ser físico que luta pela vida, e nessa luta quantos,
quantos já sucumbiram! E quantos outros vivem amargurados, sofrendo as desditas dessa luta que
não termina nunca! Por que acontece isto? Porque é o ser físico que luta. Pois bem; o conhecimento
logosófico revela que, quando o ser físico permitir que o espírito lute com ele, haverá de triunfar,
haverá de vencer todos os obstáculos, haverá de eliminar todas as dificuldades, e em todos os
momentos saberá sustentar a vida com honra, com pureza, com grandeza de alma. Porém, para
isso, para que o espírito possa lutar, permitam que o espírito viva com vocês! E, para que isto seja
possível, ontem eu já o disse, pensem que o espírito respira na vida enquanto vocês estão
pensando, e é aí onde o espírito se manifestará para resolver todos os problemas.

6. Vejam, agora, a diferença substancial, grande, que existe entre quando o ser físico luta sozinho, sem
pensar, derrotado uma e mil vezes pela adversidade, e quando luta assistido por seu próprio
espírito, pensando, respirando a vida universal e fazendo com que o espírito se manifeste nele,
iluminando-o, fortalecendo-o e tornando-o melhor. Como muda a vida quando isto acontece!
Como se sente a vida quando o espírito se manifesta e conduz o ser físico! Eu já disse isto uma vez:
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as alegrias que o ser experimenta são muito diferentes das que antes experimentava. Aquelas eram
fugazes, efêmeras; passado o instante de alegria, não fica nada, nada, porque tudo quanto o ser
físico faz parece que se derrama nas areias do nada. Às vezes, contemplando os seres pelo mundo,
eles me dão a sensação de que são como coadores: despeja-se a água ou qualquer outro líquido, e
se derrama. Não podem conter nada, nem sequer por um instante.

7. Porém, quando já se começa a viver de outro modo, a sentir a vida de outra maneira, quando é o
espírito que, junto com o ser físico, experimenta a alegria, esta perdura. Esta perdura e, ao mesmo
tempo, enche o ser de esperanças, de forças e de muita bondade. O ser físico é, por natureza,
mesquinho, egoísta, tanto que na imensa maioria, a imensa maioria das vezes, quer desfrutar só o
ser físico, sem que o espírito participe de nada, como se quisesse só para ele o que corresponde aos
dois. E assim luta e quebra a cabeça, e nem mesmo assim, ocorrendo isto, compreende qual é sua
desventura.

8. Quando o espírito intervém, quando se pensa, quando já existe uma participação direta junto com
o ser físico, este vai deixando de ser mesquinho, de ser egoísta, de ser mau, de ser violento. E, então,
pouco a pouco, gradualmente, vai-se produzindo o equilíbrio psicológico.

9. A palavra de um ser físico pouca força tem se não é assistida pela luz do espírito. E, se essa palavra
foi pensada, então o espírito viveu nesse momento, e essa palavra leva também a essência do
pensamento espiritual.

10. Mas é necessário compreender isto e praticá-lo, para poder apreciar os imensos benefícios que se
recebem desta realidade maravilhosa que estou oferecendo a todas as consciências.

11. O mal que toda a humanidade padece é devido... é devido precisamente a essa ausência do espírito
na vida do ser humano. Mas ninguém até aqui havia ensinado isto. Todos os seres humanos vivem
e continuam lutando até lhes chegar esta palavra de redenção, para que cada um seja seu próprio
redentor. E então, só então, quando a humanidade puder viver nesta grande verdade, tudo mudará
sobre a face da Terra, tudo.

12. Quando o ser físico atua, sua atuação é sempre limitada. Há ausência do estado consciente, verte
muitas falsidades – possivelmente, na inconsciência, não se leva em conta esse fato de faltar à
verdade. Porém, quando o espírito intervém, o ser aprende então a viver a verdade e a dizê-la,
sempre de forma construtiva, jamais para causar dano.

13. Como é possível que se pretenda levantar a moral dos homens, se não se lhes oferece esta
oportunidade de realizar, cada um por si mesmo, a verificação desta formosa, grandiosa realidade?

14. Vejam então, discípulos, como – para poder fazer com que penetrem estes grandes conhecimentos
em suas mentes – devo atrair primeiro a atenção de todos, fazer que ela se fixe, mantendo a

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expectativa no pronunciamento que depois haverão de escutar. Nesses momentos, não estão
pensando, mas o espírito está vivendo em vocês; sim, porque seus ouvidos escutam a palavra que
leva toda a força, e esta sacode o espírito, o move, o faz viver. Mas isto dura os instantes em que
estão comigo, depois ele adormece. Se vocês não pensam, ele não vive; continua em plácido ou
amargo sono.

15. Vejam agora se é possível que o ser físico sozinho possa sentir a vida como se sente quando o
espírito está atuando. Não, não é possível. Há uma diferença enorme. E eu quero que os discípulos,
gradualmente, compreendam que este labor que estou realizando, mostrando-lhes não só as
belezas destas grandes concepções, mas também fazendo com que as influências dessas mesmas
concepções embelezem suas vidas, as transformem. E já me dirão, num amanhã, com quanta
verdade, com quanta razão, derramei hoje sobre vocês esta classe de conhecimentos.

16. Dia a dia, e ao passarem os anos, irão confirmando esta verdade. Não posso pensar que
permanecerão estáticos e indiferentes ante esta realidade. Não gostaria jamais que, amanhã, por
descuido, vocês sejam espectadores, e não atores, desta grande experiência, contemplando os que
realizaram, enquanto vocês se conformam em permanecer de forma passiva. Não! Seria para mim
motivo de muita pena se, depois de estar anos com vocês, ensinando-lhes a viver esta nova vida,
voltassem para as fábulas, para as lendas. Entretanto, há palavras que penetram e permanecem no
interno de cada um, esperando o momento em que se desperta o verdadeiro anelo de superação. E
se compreende, então, como é possível conduzir a vida conscientemente, em vez de deixar que ela
se mova de um lado para outro sem saber para que vive, sem saber dar a essa vida um conteúdo
que o próprio ser é o primeiro a desfrutar. Eu não posso pensar que os espíritos de todos os
discípulos se mostrem indiferentes, depois de assistirem, tal como nestes momentos, a uma
manifestação tão grande e que tão intimamente chega e concerne à vida de todos os seres!

17. E qual é a única condição imposta para que isto possa ser possível? A única: pensar, pensar sempre.
Cuidem de não mais se submergirem nesse sono que leva a vida, que a leva de vocês e a leva para
sempre!

18. Penso que os discípulos, pouco a pouco, vão compreendendo que o grande valor da existência
humana está representado pelo espírito. E é este o querer presidi-la desde o instante em que se
quer que esta vida seja como cada um, em seus sonhos de criança ou de adulto, a delineou para
poder desfrutá-la e vivê-la. Mas repito, discípulos: o ser físico não poderá carregar nunca o que
corresponde somente ao domínio do espírito.

19. É esta uma preparação que esclarecerá muitas coisas para os discípulos, tendo em conta as clases1
dadas nestes últimos dias e as palavras pronunciadas ontem. Há uma relação direta de tempo e
espaço com o ser humano: a dimensão de tempo e espaço do ser físico é muito limitada; a relação
de tempo e espaço com o espírito é ilimitada.
1
N.T.: A palavra “clase” se traduz, ao português, por “aula”. É mantida aqui em sua forma original, por ser termo
consagrado no ambiente logosófico do Brasil.

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20. Quando acontecem os momentos difíceis, os instantes de aflição, o ser físico sente que está
sozinho, que não pode resistir; procura liberar-se da preocupação que o aflige ou do problema que
se apresentou à sua vida. Porém, quando pensa, quando deixa que o espírito se manifeste nele,
quanta doçura é derramada sobre a vida! Quanta força interna surge, se não para resolver o
problema, para saber sofrê-lo com inteireza!

21. E nunca jamais, nunca jamais o espírito se negou a compartilhar as dores do ser físico, quando este
o invoca com seu pensamento. Porém, deve invocá-lo não somente para as dores, mas também
para suas alegrias.

22. Tenho a sensação de que os discípulos, nestes instantes, estão experimentando, estão sentindo que
algo se revolve no interno de cada ser. É natural que não possam compreender como trabalha o
ensinamento internamente, mas isto não deve preocupar. Sigam o conselho que tenho dado:
deixem que o ensinamento se propague nos âmbitos de seu ser, e logo irão vendo resultados
admiráveis.

23. E que mais vocês podem pedir, discípulos? Que eu realize o processo de todos juntos, para evitar-
lhes esse pequeno trabalho? Pois bem, posso fazê-lo. E vocês? Deixariam de ser discípulos.

24. Até amanhã, discípulos!

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