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Brazilian Journal of Health Review 23603

ISSN: 2595-6825

A tecnologia assistiva como ferramenta de reabilitação para pacientes


com encefalopatia crônica não progressiva da infância

Assistant technology as a rehabilitation tool for patients with childhood


non-progressive chronic encephalopathy
DOI:10.34119/bjhrv4n5-425

Recebimento dos originais: 05/09/2021


Aceitação para publicação: 29/10/2021

Cinthya Bezerra Andrade


Fisioterapeuta pela Universidade Tiradentes, Brasil
fisiocinthyabezerra@gmail.com

Géssica Celestino Carvalho Santos


Fisioterapeuta pela Universidade Tiradentes, Brasil
gessicacarvalhocs@hotmail.com

Davi Santana Sousa


Fisioterapeuta pela Universidade Tiradentes, Brasil, com período sanduíche pela
Universidad Popular Autónoma del Estado de Puebla, México. Pós-graduando em
Neurorreabilitação e em Gestão Hospitalar e Auditoria em Serviços de Saúde. Professor
no Centro Universitário UNIPLAN
davi.santana.sousa@hotmail.com

Aida Carla Santana de Melo Costa


Fisioterapeuta pela Universidade Tiradentes, Brasil. Pós-graduada em Fisioterapia
Neurofuncional. Mestre e Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de
Sergipe, Brasil. Professora na Universidade Tiradentes. Fisioterapeuta Estatutária do
Hospital de Urgência de Sergipe Governador João Alves Filho, Brasil
aida-fisio@hotmail.com

RESUMO
A Paralisia Cerebral (PC), também conhecida como Encefalopatia Crônica não
Progressiva da Infância, é caracterizada por uma desordem de movimento e postura,
acometendo crianças de até 2 anos de idade. A Tecnologia Assistiva (TA) é um termo
novo, utilizado para identificar todos os recursos, ampliando a habilidade funcional dos
indivíduos portadores de deficiências, levando à independência e inclusão. Este estudo
surgiu com base na necessidade de se proporcionar adequações e ferramentas para
melhora da satisfação e qualidade de vida dos pacientes com PC que fazem uso desse
recurso tecnológico. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a satisfação do usuário e sua
qualidade de vida relacionada ao uso da Tecnologia Assistiva. Trata-se de um estudo de
campo, do tipo transversal, utilizando uma abordagem quantitativa, realizado no Centro
de Reabilitação Ninota Garcia, na Clínica Novadapt, na Clínica Alessandra Silva e no
CREIA. Para a coleta de dados, foi utilizado o instrumento Quebec User Evoluation of
Satisfation with Assistive Technology (QUEST 2.0), a fim de avaliar a satisfação do
usuário, bem como sua qualidade de vida. Com esta pesquisa, observou-se que a maior
parte dos participantes (58,33%) adquiriram a TA por recursos próprios (Particular), com
o predomínio da órtese suropodálica adaptada. Quanto aos itens mais escolhidos pelas

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crianças do estudo, considerados por elas como mais importantes e necessários para a
tecnologia assistiva, nota-se que o item de maior destaque foi Conforto (92%). Além
disso, tornou-se notório que os participantes do estudo demonstraram-se satisfeitos com
os recursos disponíveis no mercado e criticaram os serviços oferecidos pela empresa.

Palavras-chave: Tecnologia; Reabilitação; Neuropatias; Pediatria.

ABSTRACT
Cerebral Palsy, also known as Childhood Non-Progressive Chronic Encephalopathy, is
characterized by movement and posture disorder, affecting children until 2 years old.
Assistive Technology (AT) is a new term used to identify all resources, enhancing the
functional ability of people with disabilities, causing independence and inclusion. This
study emerged based on the need to define adaptations and tools to improve the
satisfaction and quality of life of patients with cerebral palsy who make use of this
technological resource. The purpose of this research was to evaluate user satisfaction and
quality of life when using Assistive Technology. This is a cross-sectional and field study
using a quantitative approach, conducted at the Ninota Garcia Rehabilitation Center,
Novadapt Clinic, Alessandra Silva Clinic and CREIA. For data collect, Quebec User
Evolution of Satisfaction with Assistive Technology (QUEST 2.0) instrument will be used
in order to assess user satisfaction as well as their quality of life. With this research, it
was observe that most participants (58.33%) acquired TA by private resource, with the
predominance of suropodalic orthosis. Regarding the items most chosen by the children
of this study, considered by them as the most important and necessary for assistive
technology, it was observe that Comfort (92%) was the most prominent item. In addition,
it was seen or reported by the study participants which demonstrated satisfaction with the
resources in the market and they did not like services offered by the company.

Keywords: Technology; Rehabilitation; Neurological Disease; Pediatrics.

1 INTRODUÇÃO
Paralisia Cerebral (PC) é uma lesão encefálica estática, definida como uma
desordem não progressiva do movimento e postura. Está comumente associada com
epilepsia e anormalidades da fala, audição, visão e retardo mental. O desenvolvimento
motor da criança com Paralisia Cerebral restringe-se à experimentação de padrões
normais de movimentos funcionais que são essenciais para o desenvolvimento motor
normal. Consequentemente, há diminuição da coordenação e controle dos movimentos
voluntários e da postura, ocasionando alterações no desenvolvimento motor (WINNICK,
2008; ROSA et al., 2008).
A forma mais frequente de PC é a espástica, que pode ser quadriplégica,
hemiplégica e diplégica. Trata-se de uma lesão do Sistema Nervoso Central (SNC) que
compromete o neurônio motor superior, levando a quadros bem característicos, como
espasticidade, reflexos profundos hiperativos, clônus, reflexo cutaneoplantar em extensão
(sinal de Babinski), lentificação dos movimentos, fraqueza, atrofia muscular, contraturas

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e dor (FONSECA; LIMA, 2008). Na hemiparesia, ocorre uma diminuição dos


movimentos no lado afetado, o membro superior é mais envolvido, com dificuldade do
uso da mão e pode advir atraso na deambulação, com marcha ceifante (CHAGAS et al.,
2009).
A postura ereta e respostas com antecipação para os movimentos voluntários são
desafios para os pacientes portadores da PC. As alterações posturais podem limitar a
independência do indivíduo, principalmente quando existem sinais de espasticidade,
fraqueza muscular e movimentos incoordenados, podendo ser classificada como
discinética, caracterizada devido à variação de tônus e presença de reflexos primitivos, o
que é comum em pacientes com essa patologia. Tal classificação divide-se em distonia e
coreoatetose, causadas por hipotonia e hipercinesia (SANTOS; BIGONGIARI, 2016).
Tecnologia Assistiva (TA) é um termo ainda novo, utilizado para identificar todo
o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente
e inclusão (BERSCH; TONOLLI, 2006). A satisfação em relação ao uso de um recurso
da TA é definida como uma avaliação crítica do usuário sobre vários aspectos de um
dispositivo. É considerado um conceito multidimensional, por ser influenciado pelas
expectativas, percepções, atitudes e valores pessoais (DEMERS; WEISS, 2014).
Para avaliar a satisfação do usuário em relação à Tecnologia Assistiva, foi
desenvolvido no Canadá o instrumento de avaliação Quebec User Evaluation of
Satisfaction with Assistive Technology (QUEST 2.0) nos idiomas Inglês e Francês,
justificando a necessidade do uso efetivo desses dispositivos (CARVALHO; BOLIVAR;
SÁ, 2014).
A primeira versão do QUEST continha 24 itens, mas a versão atualizada Quebec
User Evaluation of Satisfaction with Assistive Technology (QUEST 2.0), com
propriedades mais refinadas de medição, contém 12 itens e, em cada área, há uma escala
de 0 a 5 para medir o grau de satisfação. O primeiro estágio consiste de oito itens
relacionados ao uso da tecnologia assistiva (dimensões, peso, ajustes, segurança,
durabilidade, facilidade de uso, conforto e eficácia) e o segundo estágio consiste de quatro
itens relacionados à prestação de serviços (processo de entrega, reparos e assistência
técnica, serviços profissionais e acompanhamento). Cada item é pontuado com o uso de
uma escala de 5 pontos, a seguir: 1: insatisfeito; 2: pouco satisfeito; 3: mais ou menos

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satisfeito; 4: bastante satisfeito; 5: totalmente satisfeito (CARVALHO; BOLIVAR; SÁ,


2014).
A utilização dessas adaptações pelas pessoas com deficiência ou mobilidade
reduzida permite a acessibilidade para comunicar-se, trabalhar e realizar atividades do
cotidiano com eficiência e autonomia, proporcionando capacidades funcionais e
garantindo aos mesmos independência em diversas instâncias da vida. O aspecto
funcional seria o fator mais importante nesse contexto, pois a ausência da funcionalidade
mediante um recurso é considerada um dos principais aspectos para o abandono da TA
(MATOS; DOMINGOS, 2016).
As pesquisas mostram a necessidade do envolvimento de profissionais
especializados em diferentes áreas do conhecimento para o trabalho com pessoas com
deficiência, a fim de atender às diferentes etapas dos serviços da tecnologia assistiva:
avaliação e identificação das habilidades e necessidades; prescrição e confecção dos
recursos; acompanhamento, bem como perceber necessidades de modificações desses
recursos durante a sua utilização. Para que essas etapas de serviços se cumpram, é
necessário desenvolver estratégias de intervenção para que haja mediação do uso dos
recursos de tecnologia assistiva nos diferentes contextos (MANZINI; SANTOS, 2002;
PELOSI, 2011; SOUSA et al., 2021).
Ao pensar no recurso de tecnologia assistiva, é importante discernir as
características individuais da criança, observar as necessidades específicas das atividades
planejadas em diferentes contextos e estabelecer os recursos e serviços da TA a serem
utilizados. A junção desses três aspectos irá favorecer a elaboração de recursos para a
criança com PC. O recurso e as estratégias adequadas para viabilizar o seu uso podem
proporcionar melhor desempenho durante as atividades, ampliação de sua comunicação,
maior autonomia e aquisição de novas habilidades (PELOSI, 2011; BERSH, 2006). A
utilização de parâmetros que induzem o profissional a compreender o contexto da criança
antes da prescrição do recurso pode ser uma estratégia para contribuir com a escolha e a
inserção da TA (JUDGE; FLOYD; JEFFS, 2008).
Estudos comprovam que a Tecnologia Assistiva (TA) constitui uma ferramenta
que causa impacto nos profissionais envolvidos no campo da tecnologia, gerando
resultados satisfatórios em relação aos usuários de cadeiras de rodas, muletas e andadores
adaptados. No entanto, há escassez de estudos nacionais e internacionais que abordem
esta temática, surgindo assim a necessidade de mais pesquisas na área. Com isso, o

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objetivo geral deste estudo foi avaliar a satisfação do usuário com a Tecnologia Assistiva
em diversos aspectos, justificando a necessidade do uso efetivo destes dispositivos.

2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo do tipo transversal, observacional, de campo e de caráter
quantitativo, realizado mediante autorização e assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido pelos responsáveis legais da criança. A pesquisa foi realizada no
Centro de Reabilitação Ninota Garcia, na Clínica Novadapt, na Clínica Alessandra Silva
e no CREIA. Esses espaços foram selecionados para a coleta de dados por serem
referência no Estado no que diz respeito à reabilitação de crianças com Encefalopatia
Crônica Não Progressiva da Infância, além de possuírem infraestrutura adequada para a
execução do estudo.
A amostra foi por conveniência, constituída por 12 crianças na segunda infância,
ou seja, com faixa etária entre 8 e 12 anos, a fim de que as mesmas pudessem responder
satisfatoriamente aos questionamentos da pesquisa. Foram incluídas crianças com
diagnóstico de Paralisia Cerebral, de ambos os sexos, que fizessem uso de tecnologia
assistiva há pelo menos seis meses. Estabeleceu-se como critério de exclusão pacientes
que apresentassem comprometimento osteoarticular severo e que não mantivessem
cognição preservada para responder ao questionário proposto.
O presente projeto foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos (CEP), via Plataforma Brasil, para solicitação de liberação. As crianças foram
incluídas no estudo mediante a autorização do responsável legal pelas mesmas e posterior
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A pesquisa seguiu
normas e resoluções Nº 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério
da Saúde.
As crianças inseridas no estudo foram avaliadas, inicialmente, através de uma
ficha de avaliação elaborada pelas próprias pesquisadoras, contendo dados gerais, como
nome, idade, sexo e tempo de uso do dispositivo. Posteriormente, responderam ao
questionário Quebec User Evolution Of Satisfaction With Assistive Technology (Quest
2.0), o qual foi adaptado pelas próprias pesquisadoras para viabilizar a compreensão das
questões pelas crianças, otimizando as suas respostas.
O questionário tem como objetivo avaliar a satisfação do usuário com tecnologia
assistiva em diversos aspectos, justificando a necessidade do uso efetivo dos dispositivos.

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O questionário possui 12 itens com escala de 1 a 5, em que 1 significa insatisfeito e 5


totalmente satisfeito. Este recurso divide-se em dois estágios, em que o primeiro consiste
em dimensões, peso, ajustes, segurança, durabilidade, facilidade de uso, conforto e
eficácia. Já o segundo aborda quatro itens relacionados à prestação de serviços (processo
de entrega, reparos e assistência técnica, serviços profissionais e acompanhamento). Ao
final, nos itens de 1 a 12, acrescenta a pontuação das respostas válidas e divide esta soma
pelo número de itens válidos. A coleta de dados foi feita em um período de dois meses,
com frequência de três vezes semanais, no período matutino e vespertino. A avaliação foi
realizada individualmente em ambiente climatizado, com a criança no tatame em sua
posição mais confortável, acompanhada de sua genitora.
Inicialmente, os dados coletados foram transportados para uma planilha de dados
no programa Excel for Windows 10, a fim de que fosse realizada a estatística descritiva,
com as medidas de média, desvio padrão, frequência absoluta e porcentagem. Os dados
foram representados por média ± desvio padrão e frequência absoluta (N) e porcentagem
(%), através de figuras e tabelas.

3 RESULTADOS
Fizeram parte do estudo 12 crianças, sendo 6 de cada sexo (50% do sexo
masculino e 50% do sexo feminino). A idade foi apresentada em anos por média e desvio
padrão (10,17±1,27). A média de tempo relacionada ao uso do dispositivo foi de 4,17 ±
1,34, conforme explicitado na Tabela 1.

Tabela 1. Variáveis gerais das crianças avaliadas. Dados apresentados em média ± desvio padrão.
Variáveis Média ± DP
Idade (anos) 10,17 ± 1,27
Tempo de uso do dispositivo (anos) 4,17 ± 1,34

Na Tabela 2, observou-se o meio de aquisição do dispositivo, sendo 58,33%


obtidos por recursos próprios (Particular) e 41,67% adquiridos através do Sistema Único
de Saúde (SUS). Em ambas as formas de aquisição, a órtese suropodálica foi a mais
requisitada.

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Tabela 2. Uso da Tecnologia Assistiva estratificado pelo meio de aquisição. Dados apresentados em
frequência absoluta (N) e relativa (%).
Tecnologia assistiva N (%)
Particular 7 (53,85%)
Cadeira de rodas adaptada 2 (15,38%)
Andador adaptado 2 (15,38%)
Órtese suropodálica adaptada 3 (23,08%)
Muletas canadense adaptada 1 (7,69%)
SUS 5 (38,46%)
Cadeira de rodas adaptada 2 (15,38%)
Órtese suropodálica adaptada 3 (23,08 %)
Total Geral 13 (100,00%)

Na Figura 1, evidencia-se que, independente do meio de aquisição do dispositivo


ortótico, o predomínio foi de órtese suropodálica adaptada (50%), seguido de cadeira de
rodas adaptada (34%), apresentando menor percentual o andador adaptado (15,38%) e a
muleta canadense (7,69%).

Figura 1. Frequência relativa (%) quanto ao uso da Tecnologia Assistiva.

Uso da tecnologia assistiva


7,69%

15,38%
46,15%

30,77%

Muleta adaptada Andador adaptado Cadeira de rodas adaptada Órtese suropodálica adaptada

A Tabela 3 elenca os itens mais escolhidos pelas crianças do estudo, considerados


por elas como mais importantes e necessários para a Tecnologia Assistiva da qual faz uso.
Do total de doze itens, cada criança da pesquisa selecionou três, sendo observado que o
item de maior destaque foi Conforto (92%).

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Tabela 3. Itens escolhidos pelos pacientes entrevistados. Dados apresentados em frequência absoluta (N) e
relativa (%).
Itens escolhidos N (%)
Conforto 11 (92%)
Peso 5 (42%)
Segurança 5 (42%)
Eficácia 4 (33%)
Facilidade de uso 4 (33%)
Ajustes 3 (25%)
Durabilidade 2 (17%)
Dimensões 1 (8%)
Reparos/assistência técnica 1 (8%)

A Tabela 4 refere-se às variáveis analisadas através do Quest 2.0, a saber: Subtotal


de Recursos, Subtotal de Serviços e Escore Total, com suas respectivas médias (4,31 ±
0,56; 2,77 ± 0,62; 0,59 ± 0,06), confirmando o relato dos participantes do estudo, os quais
elogiaram os recursos disponíveis no mercado e criticaram os serviços oferecidos pela
empresa.

Tabela 4. Resultado do questionário Quest 2.0 (adaptado) das crianças avaliadas. Dados apresentados em
média ± desvio padrão.
Resultado Quest 2.0 (adaptado) Média ± DP
Subtotal de Recursos 4,31 ± 0,56
Subtotal de Serviços 2,77 ± 0,62
Escore Total 0,59 ± 0,06

4 DISCUSSÃO
Oliver (2013) afirma que o desenvolvimento tecnológico tem influenciado no
âmbito da reabilitação e nota-se um crescente investimento na produção de recursos que
passaram a compor a relação de ações terapêuticas destinadas a atender às necessidades
das pessoas com deficiência. A TA é um aspecto ambiental e inclui produtos e tecnologias
para uso pessoal na vida diária, facilitação da mobilidade e transporte pessoal,
comunicação, educação, trabalho, cultura, atividades recreativas e desportivas. O mesmo
declara ainda que a implementação de TA é fundamental para contribuir com as diferentes
etapas do seu desenvolvimento neuropsicomotor, oferecer condições para sua
participação social e auxiliar as famílias nas ações de cuidado.
De acordo com Ireno et al. (2019), existem diferentes recursos, métodos e
abordagens de intervenção terapêutica que buscam minimizar as dificuldades e facilitar a
funcionalidade e a participação de crianças com PC em atividades cotidianas. Dentre eles,
citam-se os recursos da Tecnologia Assistiva (TA) como adjuvantes no tratamento de

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reabilitação, tais como as órteses. Essas possuem um papel fundamental, pois têm a
função de manter e/ou promover a amplitude de movimento articular, a fim de substituir
ou aumentar a função, prevenir ou corrigir deformidades, oferecer repouso articular e
reduzir a dor.
Ferreira et al. (2012) relatam em sua pesquisa que, a partir da segunda infância, a
criança inicia a fase da leitura mais aprofundada e da escrita mais elaborada, sendo uma
das estratégias para as crianças com PC o uso da TA, havendo mais suporte para evoluir
intelectualmente, incluindo-se no meio social das outras crianças e acelerando o
desenvolvimento motor. No estudo vigente, estabeleceu-se como critério de inclusão a
faixa etária entre 8 e 12 anos cujas crianças não apresentavam comprometimento
cognitivo, a fim de torná-la hábil para responder aos questionamentos propostos pelo
instrumento de avalição utilizado.
Segundo Cavalcante et al. (2013), uma das principais dificuldades destacadas por
famílias de crianças com deficiência é a falta de condições materiais que possibilitem a
elas conforto e assistência. Diante dessa condição, é importante considerar que, para
muitas famílias, o acesso à TA limita-se aos recursos disponíveis no Sistema Único de
Saúde (SUS), o qual disponibiliza um arsenal limitado de dispositivos da TA.
Varela; Oliver (2013) consideram a TA como recurso para ajudar crianças a
obterem independência e autonomia nas atividades cotidianas. Esses mesmos autores
afirmam que uma das questões a ser discutida neste processo refere-se à probabilidade de
acesso desta parcela da população aos recursos produzidos pela comunidade científica e
ofertados no mercado de produtos. No Brasil, muitos recursos desenvolvidos nas
universidades não são incorporados ao mercado, a variedade de produtos fabricados no
país é pequena e grande parte dos dispositivos importados não dispõe de isenção
tributária, elevando significativamente o custo da TA disponível no mercado. Isso pode
ser observado na presente pesquisa, em que houve um predomínio de aquisição do
dispositivo decorrente de recursos próprios (58,33%), em detrimento dos recursos
disponibilizados pelo SUS (41,67%).
Mancini et al. (2006) identificaram as órteses de posicionamento, a exemplo das
surupodálicas, como as mais frequentemente utilizadas para auxiliar no tratamento de
crianças portadoras de Encefalopatia Crônica Não Progressiva da Infância. Essa órtese
visa minimizar ou corrigir o padrão equino de marcha assumido pela maioria dos
pacientes, proporcionando melhora da qualidade de deambulação e prevenindo

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deformidades articulares. Os resultados mostraram que o uso de órteses suropodálicas


proporcionou benefícios tanto nos parâmetros qualitativos da marcha, quanto no
desempenho motor de crianças com PC. Tal afirmação confirma os resultados deste
estudo, uma vez que houve predomínio de solicitação de órteses suropodálicas adaptadas
(50%) em relação aos outros dispositivos.
Archer (2014) afirma que as cadeiras e os diversos dispositivos adaptados são de
extrema importância para serem utilizados como ferramentas de reabilitação em crianças
com PC, visto que estas necessitam de um posicionamento particularizado que tenha
como objetivo inibir os padrões reflexos, promover padrões que facilitam a normalização
do tônus e maximizar a função. Dentre os dispositivos de TA requisitados na atual
pesquisa, estão a cadeira de rodas adaptada (34%), o andador adaptado (15,38%) e a
muleta canadense 7,69%), além da órtese suropodálica articulada (50%), conforme citado
anteriormente, sendo todos esses recursos viabilizadores da locomoção da criança.
Tendo em vista um dos quesitos do questionário aplicado neste estudo, citam-se
12 itens, a saber: dimensões, peso, ajustes, segurança, durabilidade, facilidade de uso,
conforto, eficácia, entrega, reparos/assistência técnica, serviços profissionais e serviços
de acompanhamento. Desses, foram destacados três pelas crianças participantes da
pesquisa, atribuídos por elas como sendo os mais importantes frente ao uso do dispositivo.
De acordo com os dados do estudo, 92% dos pacientes elegeram conforto, 42% peso,
42% segurança, 33% eficácia, 33% facilidade de uso, 25% ajustes, 17% durabilidade, 8%
dimensões e 8% reparos/assistência técnica. Na literatura, não foram encontrados estudos
utilizando o Quest 2.0 que abordassem o predomínio dos itens escolhidos pelos pacientes
avaliados.
Cury (2006) e Ireno (2019) realizaram estudos que apontaram diversos benefícios
advindos do uso de diferentes tipos de órteses em crianças com PC, como otimização do
padrão de locomoção, redução da flexão plantar, melhora nos parâmetros qualitativos da
marcha e no desempenho motor, bem como redução de gasto energético. Cargnin (2003)
ainda acrescenta o controle da espasticidade como um dos benefícios do uso da TA,
contribuindo para a melhora da qualidade de vida da criança. Tendo como enfoque da
pesquisa a investigação quanto à satisfação do usuário relacionada ao uso da TA, optou-
se por utilizar o questionário Quest 2.0, sendo observado, dessa forma, o relato dos
participantes do estudo, os quais elogiaram os recursos disponíveis no mercado e
criticaram os serviços oferecidos pela empresa.

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5 CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS


Com a realização desta pesquisa, foi possível observar predomínio de aquisição
do dispositivo decorrente de recursos próprios, em detrimento dos recursos
disponibilizados pelo SUS, com a órtese suropodálica atribuída como a mais requisitada
em ambos os serviços, proporcionando benefícios tanto nos parâmetros qualitativos da
marcha, quanto no desempenho motor de crianças com Paralisia Cerebral.
Em se tratando dos benefícios relacionados à Tecnologia Assistiva, o item
Conforto foi destacado pela maioria das crianças como sendo o mais importante frente ao
uso do dispositivo. Além disso, tornou-se notório que os participantes do estudo
demonstraram-se satisfeitos com os recursos disponíveis no mercado e criticaram os
serviços oferecidos pela empresa.
Vale ressaltar que este estudo apresentou caráter inovador no Estado, em se
tratando do perfil de pacientes da pesquisa, sugerindo-se novos trabalhos relacionados, a
fim de que seja enfatizada a importância da Tecnologia Assistiva como coadjuvante no
processo de reabilitação de pacientes com Encefalopatia Crônica Não Progressiva da
Infância.

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