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TE ND Ê N CI A S T E C N O L Ó G I C A S

BOLETIM DE DIFUSÃO TECNOLÓGICA


1

SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................... 2
AUTORES ................................................................................................................................................... 3
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 4
A FEIRA DA HANNOVER .................................................................................................................. 6
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL .............................................................................................................. 8
DESIGN DE ESTRUTURAS LEVES ............................................................................................. 14
PLÁSTICOS E MATERIAIS INOVADORES ............................................................................ 20
ECONOMIA CIRCULAR .................................................................................................................. 26
FUTURO DO TRABALHO ............................................................................................................... 31
LOGÍSTICA 4.0 ...................................................................................................................................... 34
ENERGIA DIGITAL EFICIENTE.................................................................................................... 43
HIDROGÊNIO VERDE E CÉLULAS DE COMBUSTÍVEL .............................................. 49
CIBERSEGURANÇA .......................................................................................................................... 58
PLATAFORMAS DIGITAIS.............................................................................................................. 62
ELETROMOBILIDADE ..................................................................................................................... 68
TECNOLOGIAS DE AR COMPRIMIDO .................................................................................. 74
AUTOMAÇÃO DE PROCESSOS .................................................................................................. 81
ROBÓTICA .............................................................................................................................................. 86
GÊMEOS DIGITAIS .............................................................................................................................. 91
INDÚSTRIA 4.0 ..................................................................................................................................... 97
MANUTENÇÃO PREDITIVA ....................................................................................................... 105
5G INDUSTRIAL ................................................................................................................................... 113
MINISTÉRIO ALEMÃO DE EDUCAÇÃO E PESQUISA ................................................. 118
MISSÃO SENAI .................................................................................................................................... 123
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................126


APRESENTAÇÃO

APRESENTAÇÃO
O Boletim de Difusão Tecnológica é uma ação realizada pelo Núcleo de
Inteligência e Vigilância Tecnológica do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial de São Paulo (SENAI-SP) e tem o objetivo de proporcionar às
empresas paulistas a oportunidade de acompanhar as principais tendências
tecnológicas no Brasil e no mundo por meio de benchmarking, reuniões
com grandes instituições e missões internacionais com destino aos maiores
polos de tecnologias mundiais.
O ano de 2022 foi marcado por um gradual retorno às atividades presenciais
após a crise sanitária da covid-19, e o evento, seguindo boas práticas de
saúde, ocorreu de forma híbrida.
O SENAI São Paulo acompanhou intensivamente o evento com equipes
remotas e presenciais, trazendo como resultado conteúdos sobre inovação,
tecnologia e novos negócios, que nortearão a criação das indústrias do
futuro.
Aproveite este boletim para conhecer as oportunidades e tendências
tecnológicas apresentadas por expositores de todo o mundo.

Boa leitura!
AUTORES
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AUTORES

Núcleo de Inteligência e Vigilância Tecnológica


Bruno Henrique Huffenbaecher Marques de Oliveira
Daniele Caroline Lima da Silva
Regis Reis
Tulio Henrique de Oliveira Silva

Autores
Eduardo dos Santos Pereira
Eduardo Henrique Santos da Silva
Erica Janaína Rodrigues de Almeida
Guilherme de Souza Dias
Henrique Almeida Nogueira
João Rodrigues Neto
José Martinho Leal Neto
Lucas Eduardo Gomes
Luís Henrique Mendes de Oliveira
Marcelo Borges de Moura
Matias Fernandes Silva Lopes
Taiana She Mir Mui
Valter Sampaio Sena
Victor Pereira Bernardes
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO

Caro(a) leitor(a), você está recebendo o Boletim de Difusão Tecnológica Hannover


2022, editado e distribuído gratuitamente pelo SENAI São Paulo. Este boletim
tem como objetivo disseminar, entre os representantes da indústria,
especialistas, docentes e técnicos do SENAI São Paulo, informações sobre
tecnologias que ainda têm baixo grau de difusão no mercado brasileiro e que
podem contribuir para o desenvolvimento das empresas nacionais.

A visita orientada a feiras tecnológicas setoriais visa monitorar as tendências


tecnológicas identificadas pelo Modelo SENAI de Prospecção, bem como
possíveis avanços nessas tendências e em outras tecnologias que poderão
impactar os diversos setores da indústria nacional. Como uma feira tecnológica
de importância mundial na exposição de inovações para o setor de serviços
industriais, produtos, máquinas e equipamentos, a Hannover Messe propicia
uma visão atualizada de novos conceitos, novas tecnologias e suas respectivas
aplicações em toda a cadeia de valor industrial.

O conteúdo deste documento é distribuído em temáticas centrais, exposto de


maneira simples e objetiva, contendo não apenas o descritivo das tecnologias
apresentadas no evento, mas discussões a partir das diferentes perspectivas dos
principais líderes dos segmentos industriais, além de opiniões de especialistas do
SENAI São Paulo.

Serão abordados tópicos como Indústria 4.0, inteligência artificial, energia digital,
robótica, aplicações do 5G, hidrogênio verde, produção livre de carbono e
mobilidade do futuro.

Sabemos que a tecnologia está em constante mudança e evolução, e que todos


nós fazemos parte dessa transformação. Por isso, mais do que apenas apresentar
determinada tecnologia ou desenvolvimento, nosso objetivo é proporcionar ao
leitor uma imersão no evento, difundindo tendências para o futuro e
provocações.

Adicionalmente, complementamos as análises classificando os temas com base


em seu nível de maturidade, utilizando como referência o indicador TRL, sigla
para Technology Readiness Level (em português, nível de prontidão tecnológica).
Criado pela NASA e utilizado por diversas organizações, o índice, que varia de 1 a
9, indica quão pronta determinada tecnologia está para aplicação final.

Espera-se que este boletim auxilie os representantes do meio produtivo no


processo de aquisição e uso das tecnologias, bem como na tomada de decisões
estratégicas para suas empresas.
A FEIRA HANNOVER
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A FEIRA DA HANNOVER
Entre os dias 30 de maio a 02 de junho de 2022, aconteceu a Hannover Messe, o maior
evento de tecnologia do mundo e palco em que o conceito de indústria 4.0 tomou forma.
Após a edição de 2020 ter sido cancelada em razão da pandemia da covid-19 e a de 2021 ter
encarado o pdesafio de ocorrer 100% na modalidade virtual, neste ano, com o avanço da
vacinação, presenciamos o evento no formato híbrido. Utilizando-se das vantagens de
ambas as modalidades, neste ano foi possível confirmar a tendência constatada no evento
anterior: a feira do futuro é híbrida e isso em nada atrapalhará a inovação, a inspiração e o
networking.

A feira de Hannover surgiu em 1947, em meio aos abalos do pós-guerra, com o intuito de
reerguer a indústria alemã e hoje reúne anualmente as tecnologias e os modelos de
negócio que impactam mundialmente o setor industrial. A feira é tradicionalmente
realizada no centro de exposições Deutsche Messe AG Hannover, na cidade de Hannover,
localizada no noroeste da Alemanha.

Durante os dias de evento, os 10 pavilhões da Hannover


Messe receberam mais de 2500 expositores e 75 mil
visitantes, que puderam acompanhar demonstrações
em stands, painéis de debates e apresentações tanto
presenciais como virtuais. Os conteúdos foram
disponibilizados em inglês e alemão com tradução
simultânea nos eventos principais. Além disso, a
plataforma online permitiu a interação entre visitantes e
palestrantes durante e após o evento.

A plataforma também contou com páginas para os


expositores disponibilizarem informações de contato e
conteúdos digitais de seus produtos. Havia ferramentas
para auxiliar o visitante a encontrar empresas, eventos e
produtos de seu interesse, inclusive com um serviço de
matchmaking, para uma prospecção mais eficiente e
assertiva.
A FEIRA HANNOVER
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Uma das novidades foi a disponibilização de um aplicativo


mobile com o mapa 3D do evento para que os visitantes
pudessem se localizar com mais facilidade. O aplicativo
também continha uma lista com todos os expositores e as
conferências, de modo a facilitar o planejamento e a interação
com os variados tópicos e temas abordados no evento.

Todos os anos há um país em destaque na Hannover Messe e,


com o lema “Portugal Makes Sense”, Portugal foi o país
parceiro oficial deste ano, apresentando clusters de excelência
tecnológica nas áreas de equipamentos mecânicos,
mobilidade, aeronáutica, têxtil, materiais poliméricos,
moldagem, tecnologias de produção e energias renováveis.
Além de Portugal, houve espaços dedicados a vários outros
países nos pavilhões, nos quais empresas apresentaram suas
soluções para o público. O Brasil não participou com a
exposição de empresas nessa edição, porém, esteve presente
com uma área de negócios organizada pela CNI.
A pluralidade do evento surpreendeu os visitantes. Mais do que
uma feira para reunir diversas tecnologias do setor industrial, a
Hannover Messe tem o papel fundamental de conectar
pessoas e negócios, demonstrando como o futuro da indústria
acontecerá.

Clique aqui e confira mais informações no site oficial da feira.


Clique aqui e assista ao vídeo promocional da Hannover
Messe 2022.
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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

“O aprendizado de máquina permite fazer previsões com base em grandes


quantidades de dados. Este ramo da inteligência artificial é construído com base no
reconhecimento de padrões e tem a capacidade de extrair conhecimento da
experiência de forma independente. Por isso, a tecnologia encontrou seu lugar nos
processos industriais.”

TRL 7-9

A inteligência artificial (também chamada de


IA, artificial intelligence ou AI) e o aprendizado
de máquina (machine learning ou ML) são
áreas crescentes da tecnologia e têm
transformado a sociedade em diversos
aspectos. As aplicações de IA de uso geral,
como recomendações de produto, tradução
de texto, chatbots etc., já são comuns no dia a
dia. Além de permitir avanços na robótica
industrial, a IA tem sido amplamente usada
para a detecção de anomalias, como falhas em
motores, ou de defeitos em produtos e
componentes, bem como no processo de manutenção preditiva, que visa evitar falhas por
meio de previsões.

Com o uso desta tecnologia é possível aumentar a qualidade dos produtos mediante
inspeção automatizada, aperfeiçoar os processos de automação para identificação e
separação de produtos, auxiliar na construção de gêmeos digitais e prever resultados ou
falhas em equipamentos.

A Covision Quality, empresa de aprendizagem de máquina e visão computacional, propôs


uma discussão acerca do uso da inteligência artificial para automação de inspeção visual
de qualidade (artificial intelligence for automating visual quality inspection). A discussão
se pautou no fato da não escalabilidade do controle de qualidade baseado em inspeção
visual humana, visto que, para analisar uma peça pequena, uma pessoa leva de 3 a 5
segundos. Além disso, o trabalho humano tem custo elevado e um erro médio de
aproximadamente 30%.

Contudo, é sugerido que antes de inicializar a implantação de sistemas de inspeção usando


inteligência artificial, sejam levantados os casos de uso relevantes, além de buscar a
máxima qualidade nos dados a serem utilizados no processo de treinamento do sistema.
Na etapa seguinte, é preciso testar diversos modelos e analisar, por exemplo, se é mais viável
treinar um modelo de forma local ou contratar um Software como um Serviço (SaaS –
Software as a Service). Foi comentado também que existe uma demora média de 2 a 6
semanas para iniciar um sistema de inspeção de qualidade baseado em inteligência
artificial, dependo do tipo de solução e do tamanho da equipe de trabalho.
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A Amazon apresentou diversas soluções na área de inteligência artificial. Entre elas, com
aplicação direta na indústria, destaca-se novamente o Amazon Monitron, um equipamento
dotado de sensor de temperatura e vibração para o monitoramento de equipamentos e
processos. Esse equipamento utiliza aprendizagem de máquina para detectar condições
anormais em equipamentos industriais e habilitar a manutenção preditiva. É formado por
um conjunto de sensores sem fio acoplados a motores e equipamentos, além de uma
central que recebe os dados coletados.
Os sensores utilizam o bluetooth de baixo consumo de energia, que tem capacidade de
funcionar sem intervenção por até três anos. A central recebe os dados, realiza o pré-
processamento e envia as informações para um sistema de computação em nuvem. O
sistema também conta com uma aplicação para tablets e smartphones, que permite o
acompanhamento dos resultados em tempo real.

Figura 1 – Amazon Monitron.

Outro destaque foi a Flanders Make, um centro de pesquisa estratégico para a indústria de
manufatura localizado na região flamenga da Bélgica. Com o objetivo de contribuir com o
desenvolvimento tecnológico de veículos, máquinas e fábricas, o centro apresentou um
sistema de classificação e separação de peças metálicas estampadas, baseado em visão
computacional bidimensional. As imagens coletadas por uma câmera passam por uma
rede neural, a qual classifica e determina a posição de peças sobre a mesa. A informação é
repassada a um braço robótico que se encarrega de coletar e armazenar as peças. Além de
ganho em velocidade de separação de itens, tem-se a redução de falhas devido a fatores
humanos. A grande vantagem apresentada está na capacidade de treinar o sistema para
reconhecer peças distintas, mesmo em ambientes mais complexos que envolvam, por
exemplo, variações na iluminação, cores e até sobreposição de peças diferentes.
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Figura 2 – Visão computacional para classificação e separação de peça.

A Siemens, por sua vez, vem inserindo constantemente novas funções aos seus
controladores, com o intuito de atender às mais altas demandas de empresas que estão
visando à digitalização de processos industriais.

Os controladores SIMATIC oferecem mais do que apenas um hardware para controlar todos
os tipos de máquinas e plantas, apresentam funcionalidades para a integração de
tecnologias futuras (como IA e Edge). Assim, esses controladores se tornam base ideal para
soluções inovadoras e parte essencial de abordagem de uma automação totalmente
integrada.

O uso da IA torna as máquinas flexíveis, ou seja, podem ser treinadas e ajustadas de maneira
dinâmica. Devido a essa flexibilidade, os controladores atendem a diversas aplicações, das
mais simples às mais complexas.

Isso permite, por exemplo, que uma esteira de separação de produtos de diferentes
processos seja configurada mais rapidamente, reduzindo a necessidade de intervenção na
produção para a inclusão de itens fora do catálogo.

Por que as empresas investiriam em 10 máquinas para embalar 10 tipos diferentes de


produtos se podem adquirir uma ferramenta que acomoda diferentes embalagens e
tamanhos e que se ajusta automaticamente ao formato do produto?

Além disso, existem muitas outras vantagens e possíveis aplicações para essa tecnologia.
Tomemos novamente como exemplo uma indústria de embalagens, na qual garrafas
passam rapidamente por uma esteira transportadora. Um sistema convencional é treinado
para detectar falhas específicas; se ocorrer uma situação que fuja do padrão configurado,
esse sistema falhará na detecção. Utilizando um recurso de IA associado a uma câmera
treinada com redes neurais para reconhecer milhares de imagens com diversas
combinações de falha possíveis, o sistema será capaz de descobrir as regras por conta
própria.
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Figura 3 – Aplicação dos controladores SIMATIC que usam a IA para torna tornar a máquina mais
flexível e dinâmica.

Analisar detalhadamente todos os movimentos realizados por operadores em um galpão


logístico pode ser uma tarefa extremamente complexa e certamente demandará muito
tempo. Monitorar os tipos de movimento realizados e exata quantidade em que ocorrem
são tarefas praticamente impossíveis de serem realizadas de modo manual.

A startup Motion-Miners trouxe uma solução que monitora automaticamente os


movimentos executados pelos operadores e os classifica por meio de inteligência artificial,
conforme os requisitos e as especificidades do negócio. Sensores instalados nas roupas dos
operadores coletam dados de movimentos, que são posteriormente analisados pela
plataforma desenvolvida pela empresa.

Figura 4 – Fluxo dos dados coletados pela solução da Motion-Miners.


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Como resultados são fornecidas avaliações ergonômicas e apresentadas informações


relacionadas aos processos executados, tornando a produção muito mais transparente, o
que facilita a identificação de pontos de otimização.

Figura 5 – Tecnologia vestível, com sensores integrados às roupas.

Comentário dos especialistas


“Nesta edição do evento, foi possível observar que ainda existem grandes dificuldades na
implementação de sistemas de Inteligência Artificial na Indústria, como a falta de
padronização e metodologia específica para a realidade fabril, ao passo que ficaram
evidentes as estratégias dos grandes centros de pesquisas e multinacionais de consolidar
parcerias para alcançar soluções e desenvolvimentos concretos. Uma outra área que se
mostrou presente e atual foi o desenvolvimento de sensores de baixo custo e baixo
consumo energético para coletar dados de plantas fabris para monitoramento e realização
de manutenção preditiva. Por fim, a grande promessa para os próximos anos está ligada ao
uso de sistemas autônomos, como veículos inteligentes para o transporte de carga e
pessoas e robôs colaborativos, que utilizam como base sistemas de inteligência artificial.”

Eduardo Pereira

“O setor da qualidade tem um grande ganho de performance com a aplicação de IA. Muitos
eventos e empresas apontaram a identificação de peças defeituosas em linhas de produção
por meio de inspeção visual como um dos principais casos de aplicação dessa tecnologia.
Para viabilizar esse processo, no entanto, é necessário incluir dispositivos capazes de
capturar imagens das linhas de produção e projetar dispositivos e recursos para remover as
peças identificadas como defeituosas, e isso pode ser feito em diversas etapas do processo
produtivo para identificar falhas com antecedência, reduzindo o tempo de resposta no
processo. Além disso, pode ser integrado a ferramentas de qualidade existentes, que, em
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vez de avaliar amostras de lotes, passariam a avaliar praticamente a nível de produto


individual.”

Lucas Eduardo Gomes

“Aplicações de IA estão cada vez mais diversas, e nos fornecendo informações que jamais
imaginaríamos ter. Com a captação e interpretação de dados detalhados dos movimentos
realizados por um operador, podemos fazer análises muito mais complexas do que se
simplesmente estivéssemos observando seus movimentos. Entender não só como o
trabalho está sendo executado por diferentes operadores, mas compreender os impactos
ergonômicos neles, permite-nos elaborar processos mais eficientes, adequar melhor os
ambientes e identificar pontos que só seriam notados no futuro, quando os efeitos de uma
atividade executada incorretamente ao longo do tempo fossem agravados.

Vale ressaltar que uma coleta de dados tão precisa como essa traz implicações éticas e
legais, portanto, algumas questões se impõem: Qual seria o limite entre extrair informações
para otimizar o processo e invadir a privacidade do operador? Por mais que tecnologias
como essa possam elevar o patamar produtivo, não podemos nos esquecer de que também
é nossa responsabilidade impor limites e criar barreiras para que efeitos indesejados não
aconteçam e causem efeitos reversos aos desejados.”

Bruno Huffenbaecher
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DESIGN DE ESTRUTURAS LEVES


“O design leve pertence às principais tecnologias do futuro. Ele pode economizar
recursos, reduzir as emissões de CO2 e aumentar o desempenho e a lucratividade dos
produtos em muitos setores da indústria. Na Hannover Messe, especialistas em
construção leve demonstraram soluções abrangentes de materiais e tecnologia para
construção leve inovadora – tanto para montagem quanto para formação e
conceituação.”
TRL 4-9

A engenharia leve visa à otimização da


geometria sem afetar a rigidez do produto,
além de reduzir tempo, custo e emissões de
carbono. A redução de peso é um dos
principais objetivos para se diminuir o custo do
produto e os impactos ambientais. As
ferramentas de prototipagem virtual são
amplamente aplicadas para estudar novas
soluções, contudo, é necessária uma
abordagem integrada, envolvendo simulações
e análise do ciclo de vida, para realizar a
otimização e a tomada de decisões.

Existem basicamente dois meios para se obter


redução do peso nas peças ou estruturas:
substituição dos materiais tradicionais por materiais alternativos leves ou otimização do
design.

Soluções com design de baixo peso construídos a partir de materiais leves oferecem um
enorme potencial de melhorar o desempenho de produtos, peças ou estruturas. A
otimização e modelagem adequadas do design são cruciais para explorar plenamente esse
potencial. O design de baixo peso está diretamente alinhado aos objetivos de eficiência,
sustentabilidade, desempenho e qualidade.

Pesquisadores do Instituto Fraunhofer LBF desenvolveram uma caixa para baterias leve e
econômica feita de materiais à base de polímeros e compósitos. A estrutura da carcaça
consiste em um núcleo de espuma e camadas de polímeros termoplásticos reforçados com
fibras de carbono. Em comparação com as caixas convencionais de alumínio, o peso foi
reduzido em 40%.
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Figura 6 – Caixa para baterias desenvolvida pelo Instituto Fraunhofer LBF.

Vários métodos de simulação foram desenvolvidos para prever o comportamento dos


componentes durante a fabricação. A ideia do desenvolvimento dessa caixa está vinculada
à redução de peso, ao aumento de resistência mecânica, à resistência à temperatura e à
corrosão. Apesar da aplicação de compósitos, o custo de manufatura da caixa acabou sendo
baixo, devido ao processo de fabricação que foi especialmente desenvolvido para esse fim,
sendo, portanto, muito eficiente. Atualmente, os níveis de segurança e confiabilidade da
caixa estão sendo testados em laboratório na escala de TRL 4.

A empresa Necto Matrix Module apresentou um design de estrutura de chapas estampadas


baseado no modelo biônico de ossos de pássaros, o modelo foi nomeado de Necto.
Inicialmente, esse design foi utilizado para aplicações no mercado fotovoltaico. Em
comparação com as habituais molduras de alumínio utilizadas, o Necto é mais econômico,
tem uma estrutura mais rígida, plana e estável. Além disso, há também uma redução de
peso de aproximadamente 60%.

Após diversos a etapa laboratorial, a empresa está atualmente em testes de campo em


cooperação com vários fabricantes de módulos solares interessados em utilizar esse design
de painel. Um outro exemplo de aplicação foi no capô de um carro esportivo, em que uma
estrutura híbrida de Necto em chapas de alumínio com uma camada de material
compósito foram utilizados. O mais interessante é que o design Necto pode ser aplicado
em diferentes tipos de materiais metálicos e no design de estruturas planas e redondas,
tanto que está em teste em caminhões-tanque.
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Figura 7 – Design da estrutura Necto estampada, baseado no modelo biônico de ossos de pássaros.

Figura 8 – Chapas estampadas com o design Necto nos formatos plano e redondo.

A empresa Foldcore trouxe o lançamento de um compósito do tipo sanduíche,


demominado Fire Away, que promete, além do baixo peso, proteção de até 1000 °C. O Fire
Away é composto de um sanduíche de compósitos com folhas de mica e geopolímero,
sendo a estrutura central formada por camadas dobradas de mica, como um origami, e
preenchidas com espuma de geopolímero. Além de tornar paredes, portas e tetos à prova
de fogo, pode ser usado como isolador térmico ou elétrico. O Fire Away já se encontra
disponível no mercado e são feitos sob demanda do cliente.

A empresa Eisenhuth apresentou soluções para otimização de design com simulações e


prototipação com impressão 3D. Nesse caso, são necessárias análises para melhorar o
design já existente de peças ou moldes, removendo material onde for desnecessário. A
empresa oferece serviços de design e otimização para manufatura de moldes e
ferramentas.
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Figura 9 – Design de uma peça otimizada pela empresa Eisenhuth.

A empresa CG Rail trouxe para a Lightcon, evento que ocorreu paralelamente à Hannover
Messe, o primeiro trem fabricado com materiais compósitos do mundo. A empresa
desenvolveu cabines, chassis e o corpo do trem, e algumas dessas estruturas com até 90%
de polímeros reforçados com fibras de carbono. Em razão disso, houve uma redução do
peso em cerca de 50% quando comparado aos trens que utilizam estruturas metálicas
convencionais.
Os quatro primeiros protótipos foram desenvolvidos e já estão em demonstração e uso na
Ásia. A estrutura e o design dos chassis do trem ganharam o Prémio Europeu de Inovação
2020 da European Railway Clusters Initiative (ERCI). Essa iniciativa permite, além da
redução do peso, economia de insumos e alta performance do sistema do transporte
público. Além da substituição do material, houve alterações e otimização do design das
estruturas, uma vez que houve redução de partes individuais e integração do corpo. Para
se chegar nesses resultados a empresa afirmou que foram necessários diversos estudos
para manufaturar e montar as grandes estruturas de compósitos. Esse know-how adquirido
poderá ser aplicado em outros tipos de veículos, tais como caminhões e ônibus.
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Figura 10 – Chassi de trem produzido com material compósito pela CG Rail.

A empresa Bionic Mesh Design trouxe inovação em serviços oferecidos para a engenharia
leve. A empresa conta com um time de engenheiros para realizar projetos de otimização
estrutural, retopologia (processo de reconstrução da malha de um modelo 3D), integração
CAD, análise e validação estrutural com simulação de elementos finitos e licenças de
softwares para customização, otimização e design.

Figura 11 – Etapas de otimização estrutural apresentadas pela Bionic Mesh Design.

A empresa Advanced Mechanical Engineering GmbH apresentou um estudo de caso da


otimização estrutural de um transdutor de força para rodas de carro, com o objetivo de
adquirir dados reais da carga do veículo. A peça foi otimizada e manufaturada aditivamente
pelo método de fusão seletiva a laser. Com a otimização do modelo, houve redução das
partes do conjunto e diminuição do peso em cerca de 35%, uma vez que as peças foram
integradas. Atualmente, um protótipo foi colocado no carro da Kistler para realização de
testes de validação funcional.
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Figura 12 – Otimização de peça promovida pela Advanced Mechanical Engineering.

Comentário da especialista
“A engenharia leve ou engenharia de baixo peso ainda é pouco difundida no Brasil. Talvez
pelo fato de ainda estar associada aos custos adicionais e/ou por utilizar materiais leves, que
são consideravelmente mais caros que os materiais convencionais. Por outro lado, existe a
otimização, que necessita de softwares e pessoas qualificadas para modelar e minimizar o
peso da peça, maximizar a rigidez, potencializar a utilização dos materiais e aprimorar os
processos de manufatura que são alternativas rentáveis e que devem ser exploradas.

Designs precisam ser criados e modelados objetivando mudanças e variações nos limites
de carregamentos, tolerâncias de manufatura e heterogeneidade dos materiais. Com a
otimização de design, obtém-se baixo peso e evita-se o desperdício de matérias primas e
insumos, além de uma diminuição das emissões de CO 2. Simulações e otimizações de
design na engenharia precisam ser mais desenvolvidas e apresentadas no Brasil, visto que
são pouco difundidos os softwares existentes no mercado.”

Taiana Mui
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PLÁSTICOS E MATERIAIS INOVADORES

“A preocupação com a sustentabilidade ambiental tem cada vez mais guiado o


futuro das empresas, que buscam constantemente desenvolver novos materiais mais
baratos de produzir, mais eficientes, com menor impacto ambiental e que produzam
baixa emissão de gás carbônico. Neste ano, empresas apresentaram soluções que
alinharam tecnologia e sustentabilidade.”

TRL 3-9

A área de materiais é transversal e apresenta


grande potencial de inovação que permeia
diversas áreas. O projeto de desenvolvimento
de um produto tem como passos iniciais a
escolha do material a ser empregado e deve
estar de acordo com os requisitos e objetivos
do cliente. Os materiais inovadores estão
intimamente ligados à alta tecnologia de
processamento, com o intuito de garantir
propriedades mecânicas, diminuição de peso
e sustentabilidade dos processos.
A empresa GBneuhaus apresentou soluções
de nanorrevestimentos funcionais para
metais, polímeros e vidros que podem ser aplicados nas indústrias automotiva, aeronáutica
e civil e até na medicina. Basicamente, são acrescidos filmes de sol gel (200 nm até 1,5 µm)
visando fornecer propriedades superficiais aos materiais. Dentre as linhas apresentadas as
principais foram: I) revestimento hidrofóbico que torna a superfície antiaderente contra
líquido e sujidades. II) revestimento hidrofílico que cria um efeito antiembaçante e evita
interferências ópticas na superfície. III) revestimento antimicróbico (SANPURE®) que é
resistente a abrasões e riscos, reduzindo a contaminação de patógenos e, por ter efeito
germicida, impedindo a formação de novos vírus e bactérias.

Um estudo de caso realizado pela Eurovir, em 2020, mostrou que o SANPURE® eliminou
90% dos vírus no substrato após apenas uma hora. E, após 8 horas, a carga de vírus foi
reduzida em 99,99%. Esse revestimento foi aplicado em hospitais e ambientes para evitar a
contaminação por covid-19, sendo utilizado em superfícies de maçanetas, telas
touchscreens, teclados, barras de apoio em escadarias, entre outros. Todas as soluções
apresentadas estão disponíveis no mercado.
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Figura 13 – Superfície hidrofóbica GBneuhaus.

A empresa 9TLabs apresentou um estudo de caso sobre o desenvolvimento de uma peça


em compósito para um exoesqueleto em parceria com o Centre de Développement des
Composites du Québec (CDCQ) e a empresa Mawashi, ambos localizados no Canadá,
mostrando a capacidade de imprimir pré-formas e remodelá-las numa forma curva
durante o processo de pós-consolidação do compósito, visando substituir ligas de titânio,
que são comumente aplicadas em exoesqueletos. Com esse estudo, chegaram à conclusão
de que a peça impressa em compósito era 56% mais leve que uma peça impressa em
titânio.

O custo da impressão também foi consideravelmente menor que o de uma impressão


metálica em cerca de 75%. Esses resultados mostram que a substituição de materiais
metálicos por compósitos, nesse caso, reduziria tanto o custo quanto o peso do
exoesqueleto, que é um atributo muito importante para o bem-estar das pessoas que vão
usufruir dessa tecnologia. A fabricação de compósitos por manufatura aditiva pela
tecnologia aditiva de fusão criada pela 9TLabs já se encontra no mercado e pretende
superar as limitações na fabricação em larga escala de compósitos com fibras contínuas
por meio da manufatura aditiva.

Figura 14 – Processo de impressão da 9TLabs e peça desenvolvida em compósito para o


exoesqueleto.
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A KIST+Escherich apresentou uma nova tecnologia rápida e confiável de conexão de metais


e termoplásticos, chamada de hyJOIN, que ocorre por meio de um processo térmico direto
de junção de peças. O diferencial dessa tecnologia é que não há a necessidade de material
adicional para realizar a união de metais e polímeros, tornando a hyJOIN uma alternativa à
união adesiva ou juntas mecânicas. Pode ser empregada em uma ampla gama de
aplicações nas indústrias de eletrônicos, bens de consumo, automobilística, embalagens e
tecnologias médicas. O equipamento hyJOIN foi lançado no fim de 2021 e já se encontra
disponível no mercado.

Figura 15 – Equipamento desenvolvido pela empresa KIST+Escherich para junção térmica de metais
e termoplásticos.

A CompPair Technologies apresentou um compósito regenerativo e sustentável, a


tecnologia HealTech, que tem o objetivo de melhorar a eficiência operacional, reduzir os
custos de manutenção e prolongar a vida útil dos compósitos. É uma inovação no campo
dos compósitos autocurativos capaz de auxiliar fabricantes e consumidores na preservação
do planeta.

O compósito HealTech permite a reparação de compósitos danificados em até 1 minuto, in-


situ, sem qualquer material adicional ou etapa de processamento e está disponível como
pré-impregnado com diferentes fibras e arquiteturas. O produto visa a uma redução de 99%
do tempo de reparação e já se encontra em implementação em mais de 25 empresas.
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Figura 16 – Benefícios da tecnologia Healtech para materiais compósitos.

A empresa igus trouxe à feira de Hannover a inovação de uma bicicleta robusta, durável, de
baixo peso e composta de mais de 90% de plástico reciclado, a chamada igus bike. Essa
bicicleta não enferruja nem requer lubrificantes, pois utiliza rolamentos de plástico xiros,
que proporciona uma operação seca de baixo atrito por meio da tecnologia igus de
lubrificantes sólidos. Além disso, a igus criou também uma plataforma para oferecer
serviços às empresas que estejam interessadas em substituir partes de suas produções de
peças de bicicletas. A igus bike será lançada até o fim de 2022.

Figura 17 – Igus Bike, bicicleta composta de plástico reciclado.


24

A empresa Nanofract, uma spin-off da Universidade de Magdeburg, trouxe inovação para a


produção de pós e filamentos para a manufatura aditiva. Um exemplo, é o filamento de
metal-cerâmica para impressão 3D, em que o metal é revestido com partículas de cerâmica
e extrudado. As propriedades do metal e da cerâmica são combinadas umas com as outras,
resultando em um material mais leve e com alta resistência à abrasão. Com a mesma
técnica, plásticos podem ser combinados com outras partículas, adicionando ao material
propriedades condutivas ou magnéticas. Na escala TRL, encontra-se no nível 3.
A tecnologia PolyJet de impressão aditiva, ainda que seja novidade no mercado, tem se
mostrado mais acessível e com maior aplicabilidade. Desenvolvida pela Stratasys, a
tecnologia auxilia designers e projetistas a criarem modelos realísticos de seus produtos,
facilitando a visualização de conceitos e detalhes precisos dos objetos. Permite que
diferentes materiais e cores sejam utilizados no processo de impressão, validando mais
assertivamente o produto e reduzindo seu tempo de desenvolvimento.

Figura 18 – Modelo de braço humano impresso a partir da tecnologia PolyJet.


25

Outra tecnologia que se destacou foi a 3DFashion, também da Stratasys, que promete
revolucionar a indústria de moda. Ela permite impressão direta sobre objetos e tecidos, em
diferentes cores e materiais, expandindo as possibilidades de design que antes eram
limitadas aos métodos convencionais de fabricação.

Figura 19 – 3DFashion, tecnologia direct-to-textile da Stratasys.

Comentário da especialista
“Na feira de Hannover foi possível verificar as tendências de materiais inovadores, leves,
resistentes e sustentáveis. Os nanomateriais e revestimentos estão em alta e são as apostas
para os próximos anos, visando aprimorar características e propriedades dos materiais já
existentes. Além disso, foi possível perceber a preocupação das empresas com o
desenvolvimento de materiais que utilizam fontes naturais e renováveis, tais como
compósitos de fibras naturais e bioplásticos. O Brasil, um país com diversas fontes naturais
disponíveis, pode se beneficiar com essas tendências mundiais.”
Taiana Mui
26

ECONOMIA CIRCULAR

“O maior desafio do nosso tempo é a mudança climática; para combatê-lo, o mundo


deve fazer enormes esforços. Além da geração de energia renovável, é preciso
aumentar a eficiência e conservar os recursos naturais.”

TRL 5-9

Não há como fugir de temas como a redução


dos impactos causados pelos gases de efeito
estufa. O processo de descarbonização da
atmosfera faz toda a sociedade, e em especial
o setor industrial, deparar-se com a
necessidade de reduzir a pegada de carbono e
consequentemente os níveis de emissão de
CO2. Uma regra prática para a neutralidade
climática é que uma empresa precisa evitar a
emissão de gases de efeito estufa em sua
cadeia de valor e fornecimento de energia.
Inclusive, é preciso reduzir emissões
prejudiciais ao meio ambiente como resultado
de processos ou outras atividades comerciais,
incluindo todos os tipos de atividade humana
(por exemplo, viagens de negócios, eventos etc.).

Mudar para uma produção neutra em carbono também vale a pena do ponto de vista da
eficiência de custos e para isso é necessário investimento. Tais investimentos são
compensados após alguns anos, pois a implementação dessas tecnologias permite o
aumento da eficiência dos processos, o que é convertido em gastos significativamente
menores, principalmente no consumo de energia.

Durante a feira, a Siemens apresentou a SiGREEN, plataforma com abordagem inovadora


para descarbonização eficiente ao longo da cadeia produtiva. Essa solução fornece
informações monitoráveis e dinâmicas de pegadas de carbono, o que serve de base para o
gerenciamento de emissões relacionados ao produto em escala industrial. Além disso,
fornece base necessária para o gerenciamento de emissões de CO 2, preservando a
soberania dos dados de todos os participantes da cadeia de suprimentos. A comunicação
ponto a ponto, cuja confiabilidade é garantida por meio de chaves criptográficas, permite
que as empresas identifiquem com eficiência e segurança o potencial de melhoria e
reduzam as emissões mais rapidamente.
27

Figura 20 – Plataforma Sigreen.

A Atos, em parceria com a BASF, apresentou a calculadora de pegada de carbono, uma


ferramenta capaz de determinar automaticamente a pegada de carbono de produtos
químicos, permitindo monitorá-la para que seja possível reduzi-la. Para isso, a BASF
disponibiliza a solução digitalmente, bem como a metodologia para o cálculo da pegada
de carbono do produto (PCF) de produtos químicos. Como parceira, a empresa selecionou
a Atos para o desenvolvimento de uma plataforma de software baseada nessa metodologia,
para disponibilizar a abordagem de cálculo de PCF à indústria.

Figura 21 – Representação esquemática da PCF-visual Atos.

No tópico de fornecimento de energia, a Siemens apresentou o SIVACON S8 plus, que é um


quadro de distribuição de baixa-tensão responsável por distribuir energia de maneira
segura, por meio da utilização de dados inteligentes e realização de gerenciamento de
processos. Ele está preparado para os desafios da digitalização devido a aspectos de
recursos especiais e ao design modular, que visa garantir confiança, segurança e
flexibilidade. Os dados do SIVACON S8 plus ficam disponíveis o tempo todo para uma
automação de alto nível, bem como para o gerenciamento de energia e sistemas de
análises baseados em nuvem. A partir desses dados é possível realizar a otimização de
processos, a manutenção preditiva, além de economizar custos, devido à transparência
energética, e intensificar a disponibilidade do quadro de distribuição.
28

Figura 22 – Módulo SIVACON S8 plus.

A empresa Salzgitter apresentou o programa SALCOS, que promete produzir aço com baixo
teor de CO2. Trata-se de um projeto central da transformação industrial para processos de
produção de baixo ou até mesmo nenhum CO2. Só a conversão da metalurgia em Salzgitter
reduziria as emissões alemãs de CO2 em 8 milhões de toneladas por ano, o equivalente a 1%
do total. O aço verde apresenta baixo teor de CO 2, o que permite aos clientes da empresa
atingirem as suas metas de sustentabilidade e produzam produtos neutros para o clima. O
aço verde produzido com SALCOS tem uma pegada de carbono reduzida em mais de 95%.

Figura 23 – Representação esquemática do Salzgitter SALCOS.

Uma tecnologia que envolve sustentabilidade e economia circular foi exposta pela
Circularise, que desenvolveu um sistema de software que ajuda fornecedores de produtos
29

químicos, plásticos, materiais de baterias, metais e de outras indústrias a rastrear materiais


e compartilhar a sua pegada ambiental sem arriscar seus dados confidenciais. É uma
tendência de mercado que clientes e empresas busquem entender de onde vêm seus
produtos, do que são feitos, para onde vão e quais são os seus impactos ambientais. Ao
encontro dessa situação, eles também querem saber como prolongar a vida útil desses
produtos e como podem reutilizá-los, criando, assim, o que definimos como economia
circular.
Entretanto, o levantamento de todos esses dados para obter uma visão completa da cadeia
de valor traz preocupações em relação à confiança, privacidade e confidencialidade devido
aos dados disponíveis sobre materiais estarem restringidos por propriedade intelectual, não
acessíveis ou incompletos.

Assim, a Circularise ajuda marcas e fabricantes de equipamentos a acessar as próprias


emissões de carbono e outros dados provenientes dos fornecedores para melhorar a
sustentabilidade e a conformidade e atender aos requisitos regulatórios e à demanda dos
clientes, oferecendo alto nível de privacidade e confidencialidade, com uma tecnologia
smart questioning, que está em processo de obtenção de patente.

Figura 24 – Representação esquemática do software Circularise.

Comentário dos especialistas


“De acordo com o relatório do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima (2018) para a
Presidência da República ‘Brasil Carbono zero em 2060’, espera-se uma redução dos gases
de efeito estufa de 37% em 2025, sinalizando uma redução de 43% em 2030 no nível
absoluto de emissões em relação a 2005. Para atingir esses objetivos, o parque industrial
brasileiro precisa de engajamento na implementação de ferramentas que auxiliem na
redução da emissão de CO2; logo, temas como sustentabilidade e economia circular
precisam ser amplamente debatidos. Durante a Hannover Messe 2022, esses temas foram
discutidos e ferramentas de mapeamento e cálculo de pegadas de carbono foram
apresentadas, de modo a auxiliar as indústrias na descarbonização de processos produtivos.
30

Modelos eficientes de fornecimento de energia também auxiliam no sucesso dessas


tecnologias, pois permitem a redução de gastos energéticos e consequentemente levam
essas indústrias à redução na emissão de CO2. Como o público está cada vez mais
interessado na proteção do clima, o compromisso também está aumentando cada vez mais
a competitividade corporativa. A proteção do clima será, portanto, decisiva para o
marketing corporativo do futuro e será valiosa a longo prazo. A demanda de energia pode
ser suprida por meio de eletricidade verde, que cresce de maneira exponencial, e não há
como negar o futuro. As emissões inevitáveis são compensadas pela implementação de
projetos verdes ou outras medidas. Diante disso, o investimento em projetos climáticos
certificados é uma boa opção. Sustentabilidade e economia circular caminham juntas no
atual cenário mundial, e princípios como preservar os ambientes naturais, reutilizar e
reaproveitar ao máximo o que produzimos nunca foram tão discutidos. As indústrias
precisam estar antenadas às tecnologias que envolvem esses conceitos para, assim,
manterem-se competitivas no mercado.”

Erica Almeida

“As indústrias têm buscado um maior número de alternativas sustentáveis para reduzir os
impactos ambientais decorrentes do modelo operacional vigente ao longo das últimas
décadas. O tema nunca esteve tão presente, e o evento refletiu isso apostando em soluções
diversas com um olhar para ações de sustentabilidade e economia circular. A cadeia
produtiva tem buscado parcerias com olhares para os conceitos de Life Cycle Management
(LCM), que representa a história de um produto desde sua ideação até o descarte ou
reaproveitamento. Nesse pilar, além da prática da engenharia reversa, a Hannover trouxe
empresas com soluções que conectam produtos antes descartados a oportuniddes de
novos negócios.”

Tulio Silva
31

FUTURO DO TRABALHO

“A mudança da forma de trabalho com o advento das novas e disruptivas tecnologias


já é fato. Não haverá falta de oferta de vagas, mas os cargos e as skills serão
diferentes. Novas profissões estão surgindo e, assim como aconteceu nas três últimas
revoluções industriais, precisamos nos preparar para a quarta transição social e
econômica que está ocorrendo.”

O tema “futuro do trabalho” visa identificar


novos perfis profissionais e habilidades
humanas, também conhecidas como human
skills ou people skills, que são oportunizadas
com o surgimento de novas tecnologias e
modelos de negócios nas indústrias de
transformação e nos demais setores. É de
fundamental importância compreender as
demandas das empresas que inovam e
implementam novas tecnologias, para que,
com base no entendimento das necessidades
e expectativas desses players, ser possível criar
e capacitar os perfis dos profissionais do
futuro, contemplando suas capacidades
técnicas, sociais e organizacionais que atendem às demandas interpostas.

O SENAI-SP, em missão à Hannover Messe, identificou e mapeou as demandas das


principais empresas e lideranças que ditam as tendências tecnológicas mundiais. O
programa “Futuro do Trabalho” abordou esse tema contemplando, além de pessoas,
aspectos como recrutamento e educação continuada. As oficinas, sessões de coaching e
visitas guiadas focaram principalmente em carreiras nos campos STEM (Ciência,
Tecnologia, Engenharia e Matemática).

A crescente tendência de utilização de plataformas e sistemas em nuvem evidenciam a


demanda já conhecida por profissionais de TI. Por meio de discussões com representantes
da IBM e Siemens, destacou-se que indústrias demandarão profissionais capazes de realizar
as integrações necessárias entre os processos produtivos das empresas para as análises de
informações que direcionarão as tomadas de decisão. Destacaram-se principalmente dois
perfis:

• desenvolvedor de sistemas – responsável pelas integrações de tecnologias


habilitadoras nos processos produtivos;
• gestor de informação – considerado pelos players um dos perfis profissionais mais
estratégicos a serem utilizados pelas empresas, atuando na organização de dados e
na gestão estratégica das informações produzidas, visando potencializar os
resultados das empresas.
32

Em visita ao stand da Google, identificou-se que estão sendo realizados investimentos


massivos para a implantação de tecnologias de blockchain e as ações relacionadas à LGPD
e cibersegurança em diversos países da Europa, com previsão de expansão para os países
das Américas, principalmente para os da América do Sul. Dentre os perfis apresentados,
destacam-se:

• advogado 4.0 – profissional que apoiará as empresas com os assuntos envolvendo


o blockchain;
• especialista em blockchain;
• Data Protection Officer (DPO) – profissional que apoiará as empresas em assuntos
envolvendo a LGPD;
• designer de experiência de usuário – profissional que visa entender e traduzir as
necessidades dos usuários para as soluções desenvolvidas.
• especialista em cibersegurança.

O intenso movimento de adoção de tecnologias de IoT (internet das coisas) também foi
tema de discussão por representantes da Tosibox, Weidmüller e Siemens. Essa tecnologia
proporcionou crescimento e desenvolvimento de ecossistemas de troca de dados entre
empresas, em prol do desenvolvimento dessas tecnologias. Com isso, entende-se que
profissionais que dominem os conhecimentos de tecnologias IoT estarão presentes em
indústrias de todos os portes, com expectativa de ampla absorção desse perfil nos próximos
três anos.

Soluções de softwares para a realização da gestão de ativos têm se mostrado como


diferencial competitivo e até mesmo solução para reduções de custos das empresas. Fica
evidente que profissionais que trabalharão na interpretação, no tratamento e na
manipulação de dados, como cientistas de dados e gestores de informação, serão ainda
mais requisitados pelas empresas.

O setor energético também passa por mudanças frente às novas tecnologias disponíveis.
Para extrair todo o potencial tecnológico, perfis como técnico em comissionamento e
gestor de serviços energéticos fazem-se necessários para as indústrias energéticas do
futuro.

O hidrogênio verde, um dos temas mais abordados na Hannover Messe, faz surgir a
necessidade de atuar com tecnologias relacionadas a ele, por exemplo, células de
combustíveis. Empresas como NPROXX e Cummis e o instituto Fraunhofer apresentaram
o biotecnologista e o biotecnólogo como profissionais essenciais para essa transição
tecnológica.

Muitas empresas abordaram a importância de implementar políticas de sustentabilidade e


de reduções de desperdícios ao longo da cadeia de valor. Segundo elas, a produção de
carbono neutro combinada com a inserção de energias renováveis está impactando
positivamente os resultados de grandes empresas. Destacaram, ainda, que políticas
públicas atreladas às políticas empresariais tendem a maximizar os resultados obtidos.
Sendo assim, a formação do profissional do futuro necessitará contemplar os temas de ESG
(governança ambiental, social e corporativa).
33

Comentário do especialista
“Observa-se, a partir das informações coletadas nas empresas de vanguarda tecnológica
participantes da Hannover Messe, que grande percentual dos profissionais que estão no
mercado de trabalho necessitará de requalificação em cenário projetado de cinco anos para
atender às habilidades e capacidades técnicas, destacando-se:

• autogestão;
• pensamento crítico;
• aprendizagem ativa – termo muito difundido e discutido no 19th Women Power
Career Congress, visando à formação continuada de mulheres;
• resiliência – grande necessidade dos profissionais que atuam em empresas
nacionais;
• tolerância ao estresse – segundo as empresas, o cenário pandêmico acelerou a
necessidade de se trabalhar esse tema como habilidades nos profissionais no futuro;
• flexibilidade;
• inteligência emocional.

Notou-se, ainda, que empresas de tecnologia, como a Google, estão investindo em


hardwares e softwares para atender ao conforto dos profissionais para trabalho em home
office, pois, segundo os expositores, há tendência de aumento desse regime de trabalho,
que atualmente tem 40% de aderência das empresas de grande, médio e até pequeno
porte”.

Valter Sena
34

LOGÍSTICA 4.0

“Tendência para a cadeias de suprimentos automatizadas digitalmente, a logística


4.0 é a chave para o futuro. A digitalização está fornecendo às empresas novas
formas de networking e automatização de suas cadeias de suprimentos, extraindo
mais valor delas. Os ingredientes essenciais são paletes e contentores inteligentes,
sistemas de gestão de armazéns e sistemas de transporte sem condutor.”

TRL 6-9

Aplicações tecnológicas desenvolvidas para o


uso em logística indoor e outdoor contribuem
significativamente na redução dos custos
operacionais, pois possibilitam uma
diminuição do lead time de entrega, além de
permitirem que a operação ocorra de modo
enxuto. Adicionalmente, a utilização de uma
automatização flexível possibilita o aumento
da capacidade produtiva e o aprimoramento
dos níveis de serviços em atendimento ao
mercado atual, podendo, ainda, vislumbrar um
olhar para novos mercados, sejam eles
nacionais ou internacionais.

A partir desse ponto de vista, é possível compreender a importância da automação logística,


uma vez que ela aprimora a velocidade nas operações e pode ser considerada um fator de
alta relevância. Entretanto, apesar da importância da automação, fatores como
assertividade, segurança e gestão de operação ainda têm enorme importância e não
devem ser negligenciados.
Ressalta-se que a automação logística se apresenta como uma ferramenta de suporte,
permitindo uma operação ágil com uma gestão eficiente, além de fornecer dados que
poderão ser utilizados para a tomada de decisões estratégicas.

Estudos realizados pela Diaven constataram que drones praticam escaneamento de


etiquetas RFID 40 vezes mais rápido que o ser humano, além de possibilitar a leitura de
etiquetas a metros de distância com erro médio de menos de 15 cm. Todo esse potencial se
intensifica com o avanço e integração de tecnologias habilitadoras, como 5G, IA e machine
learning. Essas tecnologias integradas e em plena execução permitirão operações remotas
de drones para realizar o gerenciamento de armazéns, além de aprimorar as aplicações
atuais, como o monitoramento de segurança de área, a verificação de vazamentos e danos
e o gerenciamento do inventário do armazém.
35

Figura 25 – Drone com scanner RFID.

Atualmente, o avanço da inteligência artificial já permite que os drones sejam preparados


para identificar diferentes cenários. Estima-se que nos próximos 5 anos, com o
aprimoramento da tecnologia dos drones intralogísticos, além do monitoramento, serão
realizadas tarefas relacionadas à correção e ao reposicionamento dos itens em estoque.
Contudo, para esta última solução ainda há limitações referentes ao agarramento da carga
e seu respectivo peso.

Mesmo com as limitações e os obstáculos apresentados, os ganhos que as soluções de


armazéns com drones promovem são altamente significativos e sustentáveis. Por terem
alta customização e infraestrutura de baixo custo, a implantação torna-se bastante viável,
permitindo mais eficiência operacional e financeira.

O Instituto de Tecnologia de Karlsruher (KIT) apresentou a solução FlexConveyor. Trata-se


de um transportador contínuo flexível que não requer um computador mestre ou qualquer
outra infraestrutura central. O sistema é composto de módulos quadrados idênticos, cada
um equipado com sensores, sistema de acionamento, leitor RFID e uma unidade de
computador. Os módulos também têm dois motores que podem ser utilizados para acionar
três eixos de movimentos, dois para transporte da mercadoria e um para elevação. A
configuração e as alterações no layout são rápidas e fáceis, conectando-se via plug and
play. Após serem conectados manualmente, os módulos geram arquivos de topologia
independentes entre si para coordenar as unidades de transporte e movimentá-las para o
destino especificado. Em caso de interrupção do segmento, o sistema encontra
automaticamente rotas substitutas.
36

Figura 26 – Esteiras flexíveis desenvolvidas pelo KIT.

O mercado consumidor necessita de uma grande da variedade de produtos com ciclos de


vida cada vez mais curtos. Esse fato gera um grande impacto na logística dentro das
indústrias. Com isso, criou-se uma demanda no mercado para o desenvolvimento de
soluções logísticas para atender à customização em massa. A utilização de AGVs ou AMRs
oferece muita flexibilidade, contudo, pode causar um rendimento significativamente
menor se comparado com a utilização de esteiras contínuas. Entretanto, a desvantagem da
utilização de esteiras diz respeito ao processo de instalação de tais sistemas, que pode gerar
custos significativos. Adicionalmente, mudanças no processo produtivo requerem uma
dispendiosa reconfiguração do sistema de esteiras, algo que é muito mais flexível com a
utilização de AGVs e AMRs.

O KIT também procurou desenvolver alternativas possíveis que superassem algumas das
limitações apresentadas pelas soluções aéreas, criando uma malha de sensores instalada
nas estruturas de armazenagem com o objetivo de coletar dados em tempo real.

Figura 27 – Representação da malha de sensores.


37

A Hänel Rotomat® apresentou seu VSS (sistema de armazenamento vertical) como uma
solução moderna que objetiva automatizar a intralogística e o manuseio de materiais,
desde a entrada de mercadorias até a montagem final. O sistema permite o
armazenamento de produtos, peças de reposição e ferramentas que chegam à área de
recebimento e são segmentados em caixas. A torre é capaz de armazenar até 300 posições
e um AMR (autonomous mobile robot) movimenta os produtos até a torre de
armazenamento, realizando a estocagem deles. A caixa armazenada pode ser conduzida
por meio de um sistema de transporte ou permanecer na estrutura como um estoque em
processo.

Figura 28 – Sistema de armazenamento vertical.

Geralmente, em estruturas convencionais de armazenagem (porta-palete, push back, flow


rack etc.), existem duas principais características a serem ajustadas de acordo com sua
operação: utilização cúbica versus seletividade. As soluções convencionais tendem a tratar
esses dois atributos de maneira inversamente proporcional. Contudo, a solução VSS visa ao
favorecimento de ambos os atributos, afinal, possui tanto a verticalização de seus estoques,
favorecendo a utilização cúbica, como também habilita uma boa seletividade graças à
automação, o que permite a seleção de qualquer item sem a necessidade de perda de
tempo com o reposicionamento para o alcance do produto desejado.

A OMRON, uma das empresas líderes mundiais na área de automação, apresentou o robô
móvel HD-1500. O robô tem carga útil de até 1.500 quilos e permite o transporte de itens
maiores e mais pesados, até o tamanho de paletes – cargas que normalmente são
preferidas para serem transportadas com empilhadeiras. Além disso, apresenta um sistema
capaz de controlar até 100 robôs móveis e selecionar automaticamente a melhor rota,
mesmo sem fitas magnéticas de piso ou outros auxílios de trajeto, evitando com segurança
pessoas e obstáculos em seu caminho. A bateria do HD-1500 precisa de apenas 36 minutos
38

para uma carga completa e, com carga plena, pode lidar com um turno completo de
trabalho.

Figura 29 – AMR alimentando um sistema de produção.

Figura 30 – AMR movimentando um robô colaborativo.

A Bosch apresentou uma solução em produção modular própria para recarga de AMRs
utilizando o piso como infraestrutura de recarga, em que a empresa poderá reconfigurar o
arranjo físico produtivo durante a noite (ou período sem atuação). As máquinas são movidas
por AMRs e abastecidas com energia transmitida por meio do chão, ao passo que as
passarelas e áreas de logística são reajustadas automaticamente.

Essa movimentação conta com auxílio de sensores, LEDs e outros componentes, não
necessitando de marcações fixas no piso. Além disso, a energia necessária para o
acionamento dos equipamentos é transmitida diretamente através do chão, sendo
possível, atualmente, trabalhar com até três quilowatts de energia. Tal estratégia
economiza longas distâncias de cabeamento.
39

Figura 31 – Fábrica do futuro modelo, com com piso utilizado como condutor para recarga de AMRs.

Equipamentos como AGVs e AMRs evidenciam uma consolidação no mercado, além de


apresentarem preços acessíveis até mesmo para indústrias de pequeno porte e, de modo
geral, podem ser implantados e operados em uma ampla variedade de cenários sem exigir
a reconstrução do espaço de trabalho, principalmente no caso de AMRs.
Como obstáculo à implantação desses sistemas, no entanto, ressalte-se que ainda estão
atrelados a interfaces proprietárias. Assim, é importante ressaltar a flexibilidade exigida
pelos fluxos produtivos que necessitam de conexão a interfaces e padrões abertos, de modo
a evitar o vínculo com um único fornecedor.

A MIP Technology apresentou uma solução de identificação magnética como alternativa


aos códigos legíveis opticamente e às etiquetas RFID. A etiqueta de identificação é aplicada
sob uma camada protetora não magnética e integrada ao produto por soldagem,
vulcanização ou injeção. A resistência térmica e química dos suportes é uma vantagem
particular em aplicações industriais, pois significa que os equipamentos de produção
podem ser identificados e registrados de maneira segura e confiável. O ID armazenado
magneticamente é resistente a temperaturas de até 400 °C e pode ser encapsulado em
todos os materiais não ferromagnéticos, como aço inoxidável, latão, alumínio ou polímeros.

Figura 32 – Solução em rastreabilidade: etiquetas com gravação de tags em placas magnéticas.


40

Quanto ao fluxo de materiais e logística, o Instituto Fraunhofer demonstrou o “dispositivo


blockchain”, um protótipo que tem o intuito de monitorar bens sensíveis à temperatura,
como alimentos, medicamentos ou vacinas, ao longo de cadeias de suprimentos globais.

Com esse dispositivo IoT habilitado para blockchain, é possível obter dados em tempo real
e realizar o controle autônomo de cadeias de suprimentos. A solução apresenta uma
integração horizontal e vertical de processos financeiros e de produtos, utilizando, para isso,
sensores que documentam e monitoram toda a rede de transporte.

Figura 33 – Dispositivo blockchain desenvolvido pelo Fraunhofer IML.

As empresas Bosch e AWS desenvolveram uma plataforma de serviços digitais com


objetivo de agilizar as operações logísticas em toda cadeia de suprimentos. Essa plataforma
permite a visualização das oportunidades de digitalização em empresas que atuam na área
de transporte e logística, sem a necessidade de altos índices de investimentos em TI. É
possível oferecer suporte a serviços que envolvem utilização da capacidade de frotas de
veículos, monitoramento de fluxos e processamento de pedidos, garantindo transparência,
segurança e rastreabilidade para as empresas envolvidas.

Figura 34 – Imagem representativa da digitalização nos transportes.


41

A Microsoft apresentou diversas soluções que integram a cadeia de suprimentos. Uma


delas é o Cloud for Manufacturing, um “metaverso industrial” que integra o virtual e real
por meio das tecnologias habilitadoras da indústria 4.0, tais como IoT, IA, gêmeos digitais,
realidade mista e sistemas autônomos. Foi apresentado o exemplo da empresa Kawasaki
Heavy Industries, que demonstrou a aplicação de gêmeo digital aplicado em mudanças de
armazenamento, o que possibilitou o aprimoramento da produtividade de armazéns frente
à escassez de mão de obra. Essa solução pode ser integrada a soluções de cloud da
Microsoft, como o Dynamics 365.

Figura 35 – Realidade mista aplicada em soluções de digitalização da cadeia de suprimentos.

A empresa também apresentou o Luminate Control Tower, uma plataforma de logística de


cadeia de suprimentos alimentada por IA criada no Microsoft Azure. Essa plataforma atua
desde a hospedagem e processamento de dados até a visualização dos resultados.

O Luminate Tower Control além de analisar possibilidades de interrupções na operação da


rede logística, também apresenta oportunidades ainda não exploradas para a garantia de
uma operação mais eficiente. Para isso, leva em consideração diversas variáveis, como
tendências de vendas anteriores, análises de concorrentes e análises críticas dos impactos
econômicos gerados por diversos fatores, como festivais locais, epidemias, inconveniências
logísticas ou até mesmo desastres naturais.
42

Figura 36 – Painel de indicadores para auxílio na tomada de decisões.

Comentário do especialista
“Como principais tecnologias referentes ao tema, foram observadas as seguintes: drones,
sorters, shuttle, realidade virtual/aumentada, RFID e data matrix, AMRs e 5G.

No que se refere às soluções aderentes à automação logística, verificou-se que as


tecnologias apresentadas não são, necessariamente, novidades para o mercado atual, mas
representam uma consolidação delas como parte inerente do dia a dia das empresas. Um
exemplo a ser citado foi a utilização de drones para logística por meio de soluções indoor e
outdoor.

Foi possível analisar cases de drones sendo explorados por suas capacidades aéreas, que os
permitem alcançar pontos de difícil acesso com grande facilidade, tornando essa
tecnologia valiosa para um ambiente de armazenagem, por exemplo. A fácil mobilidade
integrada a outras tecnologias (como scanners RFID, Sensores, IA e Machine Learning)
permitem que o drone possa ser pilotado remotamente ou de maneira autônoma, com
rotas pré-determinadas pelo armazém e com baixa intervenção humana. Essa prática
permite substituir parcial ou integralmente o gerenciamento e inventário de estoques de
maneira manual.

É importante ressaltar que para extrair o máximo de potencial dessas tecnologias, elas
deverão estar integradas ao sistema de gerenciamento de armazéns (WMS) utilizado pela
empresa. Assim sendo, podemos entender que cada vez mais haverá a necessidade de
códigos abertos e protocolos de fácil integração para adoção dessas tecnologias, contudo,
ainda existem obstáculos para que sejam implementadas. Os centros logísticos de
armazenamento apresentam complexidades referentes à estrutura, ao mix de produtos, a
tamanhos distintos de embalagens, entre outras; além disso, essa tecnologia também
enfrentará alguns problemas que os armazéns que já operam de modo tradicional
enfrentam, ou seja, erros cometidos por humanos como entrada de produtos com
codificações erradas ou mal inseridas. Consequentemente, haverá inconsistência de
inventário, bem como possíveis erros de entrega.”

Guilherme Dias
43

ENERGIA DIGITAL EFICIENTE


“Para operar instalações neutras em termos de clima, a indústria precisa de soluções
de economia de energia e baixas emissões. Os expositores apresentaram uma ampla
gama de produtos e tecnologias – desde geradores de eletricidade e calor até
energias renováveis, eficiência energética e recursos para tecnologia de energia, gás
e água para edifícios.”
TRL 6-8

Com o avanço das tecnologias e o maior


consumo energético proveniente da
automação de processos, a energia passou a
ser um insumo menos disponível e mais caro,
seja ela proveniente de recursos hídricos ou
fósseis. Soma-se a isso questões de mudanças
climáticas e diretrizes dos acordos da ONU que
demandam uso racional e otimizado de
recursos como água, óleos, gás e o próprio
consumo energético.

A energia elétrica, por exemplo, na maioria das


indústrias, costuma figurar entre os 4 maiores
custos operacionais. Desse modo, uma
indústria que deseja se manter competitiva deve realizar a gestão de energia e investir em
projetos que busquem maior eficiência energética.

Atualmente, a gestão de energia é um tema ainda pouco disseminado nas indústrias.


Dados como Índice de Desempenho Energético (IDE) e Linha de Base Energética (LBE)
raramente são tratados por gestores industriais e muitas vezes não são conhecidos.

Projetos de eficiência energética costumam ser implementados de maneira discreta, ou


seja, não há um processo de continuidade e melhoria no aproveitamento energético, o que
torna o consumo ineficiente. Para que uma empresa possa usufruir dos resultados providos
por uma gestão energética eficiente, é preciso estabelecer diretrizes e controles que
ocorram de modo não pontual, situação que frequentemente não ocorre em razão da falta
de disponibilidade de equipes mantenedoras ou mesmo de desconhecimento de métodos
práticos de gestão energética.

A digitalização da gestão e da eficiência energética pode resolver esses problemas


captando, gerando e analisando dados de maneira automática e propondo possíveis ações
de melhoria aos mantenedores da indústria.

Um exemplo de digitalização da gestão é o uso de multimedidores de energia que, com


recursos de internet das coisas e inteligência artificial, podem gerar economias expressivas
com poucos investimentos de capital (CAPEX).
44

De modo geral, novas ferramentas digitais, como análise de big data (dados de consumo,
horários, dias, demanda, produção), inteligência artificial (algoritmos especialmente
desenvolvidos para otimizar o consumo), conectividade (redes industriais, wi-fi, 5G), IOT
(dispositivos que se conectam à internet para a troca de informações e atuação nas
instalações), entre outras, podem contribuir também com a economia de energia nas
indústrias.

Todas essas possibilidades de aplicação de tais ferramentas compõem o que chamamos de


digital energy, smart energy ou energia 4.0, sendo esses conceitos fundamentais para o
aumento da competitividade e da sustentabilidade industrial.

A empresa DecisionBrain e a Iniciativa Alemã para a Eficiência Energética na Indústria


(DENEFF) apresentaram uma solução para o reaproveitamento de gases residuais dos
altos-fornos na siderúrgica Hüttenwerke Krupp Mannesmann GmbH, um subproduto das
aciarias. Os gases emitidos podem conter hidrogênio e metano, sendo possível a sua
queima em caldeiras para a geração de vapor, que por sua vez pode ser usado para a
produção de energia elétrica e é capaz também de gerar calor para preaquecimento do ar
soprado em fornos (e em outros processos que requerem aquecimento). Caso não sejam
reaproveitados, esses gases deverão ser queimados em flares, desperdiçando uma possível
fonte energética.

A quantidade de gás combustível residual dos altos-fornos é pequena, e o poder calorífico


que eles apresentam é médio; ainda assim, houve contribuição no desempenho global da
eficiência energética da planta fabril.

Com o objetivo de utilizar multimedidores de energia para a realização da gestão e predição


do consumo energético, a empresa alemã Janitza apresentou uma linha de
multimedidores portáteis, simples de instalar e com grande possibilidade de conexão
wireless. Esses dispositivos podem ser instalados em qualquer máquina com até 1.000 V de
tensão de alimentação. Medindo grandezas elétricas com diversos tipos de sensor, eles
podem enviar dados diretamente para uma plataforma on-line que disponibiliza os dados
em um aplicativo proprietário ou pode ser feita a integração com diversos ERPs. No caso
apresentado, foi demonstrada a aplicação dos multimedidores portáteis para o
monitoramento de injetoras de plástico na empresa Cebi, localizada em Luxemburgo. Os
equipamentos possibilitaram a realização do benchmark de desempenho energético entre
as diversas injetoras em operação, priorizando a carga de trabalho nas máquinas mais
eficientes.
45

Figura 37 – Software de gestão de energia e análise de rede (à esquerda) e multimedidor de


qualidade de energia (à direita).

As tecnologias de conectividade existentes na indústria 4.0 também já estão presentes na


área energética. Fazendo uso da conectividade para a gestão do consumo energético em
edificações, empresas como Schneider, Siemens Energy e Wago apresentaram suas
respectivas soluções de conectividade para medidores de energia. Os equipamentos de
medição de consumo que tradicionalmente só estavam presentes na entrada de energia
das concessionárias de distribuição agora podem estar presentes em: salas, dispositivos de
aquecimento e refrigeração, máquinas, entre outros. Tal realização se torna possível graças
ao uso de multimedidores portáteis e integráveis em redes sem fio wi-fi, protocolos IIoT e
redes wireless mesh. Dispositivos baratos e conectáveis estão possibilitando às edificações
e indústrias uma nova dimensão na gestão de insumos energéticos que antes não eram
monitorados e gerenciados.

O uso desses medidores de baixo custo e conectáveis, aliados a softwares de gestão, insere
os insumos energéticos na lista de KPIs a serem monitorados e tratados nas edificações e
indústrias, aumentando a competitividade e sustentabilidade das empresas.
46

Figura 38 – Sistema de controle de motores inteligente, com predição de falha e conectividade IoT.

O etap da empresa Schneider, software de gestão e gerenciamento de energia, é capaz de


digitalizar a infraestrutura de energia, proteção, qualidade de energia e manobra.
Aplicações de automação da matriz energética da indústria, como o etap, promovem o
aumento da resiliência a falhas e o monitoramento de parâmetros diversos. O case
apresentado foi o uso do software em plantas da empresa Dow para apuração, em tempo
real, do consumo e da determinação do IDE das unidades fabris, permitindo o diagnóstico
antecipado de falhas, o excesso de consumo, a discrepância de consumo versus produção
e a correta apuração dos valores de energia no produto. Vale ressaltar que softwares desse
tipo já apresentam análise conforme conceitos da família de normas ISO 50.000.
47

Figura 39 – Software etap para gestão e controle smart energy de instalações elétricas industriais
baseado em sistema SCADA.

O gêmeo digital apresentado pela empresa Energy Advice é composto de uma família de
sensores e softwares de engenharia e análises estatísticas com modelamento matemático
que, para otimizar o consumo de energia, abrange gestão de caldeiras, secadores,
refrigeração, aquecimento, instalações elétricas e ventilação. Esses sistemas
computacionais aplicados a processos industriais são capazes de coletar uma grande
quantidade de dados de funcionamento desses sistemas e analisá-los usando algoritmos
de IA, para determinar os pontos ótimos de operação e se comunicar com outros controles
de produção para aplicação conceitos de eficiência energética, aumentando a
produtividade e consumindo menos.

Um caso apresentado foi o controle de caldeiras realizado na empresa AB Grigeo, em uma


caldeira de biomassa com 18 MW. Foi modelado um sistema para a gestão de combustão
da caldeira. A empresa AB Grigeo informou que houve redução do consumo de biomassa
e aumento significativo da gestão e do conhecimento da operação ótima da caldeira, com
isso, a tomada de decisão pelos operadores se tornou mais segura é rápida quando apoiada
pelo uso do software.

Comentário do especialista

“Além das tecnologias tradicionalmente conhecidas na indústria 4.0 como IoT, aplicações
de IA, conectividade, big data e cibersegurança, podemos destacar também o conceito
energia 4.0, uma vez que surgem usos de infraestrutura de medição avançada (AMI),
automação segundo a IEC 61.850, rede RF mesh e software EMS (em português, sistema de
gerenciamento de energia).
48

A digitalização das instalações elétricas industriais está muito apoiada na utilização de


softwares, que fazem todo o monitoramento e a gestão das instalações por meio de dados
de consumo, demanda, produção e fator de serviço, atuando de maneira automática na
instalação por meio de inteligência artificial e algoritmos específicos para sistemas
energéticos. Outra vantagem da aplicação da energia 4.0 é que os conceitos da ISO 50.000
já vêm preconizados nessas ferramentas digitais.

Dessa maneira, as condições para aplicação do conceito de energia 4.0 na indústria


brasileira já existem, inclusive com muitos fornecedores dessas tecnologias no Brasil,
sobretudo quanto a fornecedores de hardware e software.”

Luís Mendes
49

HIDROGÊNIO VERDE E CÉLULAS DE COMBUSTÍVEL


“Todos os anos na Hannover Messe, a comunidade internacional de hidrogênio se
reúne para discutir novas oportunidades e aplicações. Com mais de 200 expositores, é
a principal feira de hidrogênio e células de combustíveis no mundo, onde são
discutidas as aplicações para a indústria, bem como para a mobilidade.”

TRL 6-8

Atualmente existe em todo o mundo a


necessidade de diminuir, ou mesmo extinguir,
o uso de combustíveis fósseis. Seja em razão
de mudanças climáticas, escassez desses
insumos ou custos elevados, seja por
compromissos assumidos por governos e
empresas quanto à descarbonização.

Assim, buscam-se novas fontes de energia e


combustíveis renováveis que possam suportar
essa transição energética rumo a uma
economia com baixa ou nenhuma emissão de
carbono.

Um dos combustíveis mais promissores como


fonte energética com baixa emissão de carbono é o hidrogênio. Normalmente encontrado
em forma de gás, o hidrogênio, ou simplesmente H2, é o sétimo elemento mais abundante
em nosso planeta e o mais abundante no universo. A partir dele, pode-se obter energia
elétrica, pois se trata de uma fonte de calor com zero emissão de carbono. No futuro, o H2
poderá ser fundido em reatores do tipo tokamak para a obtenção de uma energia térmica
abundante, limpa e sustentável.
Quando combinamos o hidrogênio e oxigênio no interior das células combustíveis para
obter energia elétrica, o resultado é apenas água e zero emissão de gases de efeito estufa.
O mesmo acontece quando é realizada a combustão do hidrogênio, ou seja, quando o
hidrogênio reage com o oxigênio liberando calor: o único resíduo desse processo será água.
Por isso, esse gás é tão fundamental para a transição energética e para uma economia net
zero (economia com zero emissão de carbono).
Porém, há um problema na obtenção do hidrogênio, pois, apesar de abundante, ele é
encontrado sempre ligado a outros elementos, em especial ao oxigênio, na forma de água.
Nesse caso, é necessário energia elétrica para separá-los, realizando a chamada eletrólise.
A boa notícia é que é possível usar a energia elétrica proveniente de fontes solares e eólicas
para realizar a eletrólise da água e, assim, separar os dois elementos.
Dessa maneira, o hidrogênio verde se torna protagonista na transição energética, tendo um
enorme destaque nas discussões atuais acerca dos processos de obtenção de energia
limpa.
50

O uso do H2 como fonte energética já é realidade, principalmente como fonte de energia


elétrica para a eletromobilidade por meio de células combustíveis presentes em
empilhadeiras e veículos leves, encontrando-se atualmente em testes em trens, navios e
até aviões, sendo usado como fonte de backup em substituições aos motogeradores a
diesel e como fonte de energia portátil. As tecnologias para a construção de eletrolisadores,
que realizam a separação do hidrogênio do oxigênio usando água, e das células
combustíveis, que unem novamente os dois elementos para gerar energia elétrica, já estão
consolidadas e em domínio público, necessitando agora de uma cadeia industrial de larga
escala para que os equipamentos tenham seus custos cada vez menores e se tornem cada
vez mais acessíveis, ampliando o uso do H2.

Na área temática hidrogênio verde, diferentes empresas apresentaram soluções para


eletrolisadores e células de combustível movidas a hidrogênio. As principais células
apresentadas foram as do tipo PEM (membrana trocadora de prótons), que podem atingir
longas distâncias com zero de emissões de carbono quando utilizadas em mobilidade. Ao
transportar hidrogênio em tanques móveis, os veículos movidos a células à combustível são
mais leves que os carros elétricos movidos a bateria, além de alcançarem autonomias
significativamente maiores. Apesar dos benefícios, os custos envolvidos no
desenvolvimento dessas tecnologias são altos.

O hidrogênio para ser transportado e ou armazenado precisa ser comprimido a altas


pressões, tipicamente a mais de 200 bar, processo que necessita de muita energia. Uma
alternativa para o transporte e armazenamento do hidrogênio é armazená-lo como amônia
(NH3), uma vez que a amônia pode ser transportada liquefeita com apenas 7 bar, sendo mais
barato armazenar e transportar o H2. Essa estratégia é uma das principais para o transporte
do hidrogênio verde por longas distâncias, assim como armazenar grandes quantidades de
H2.

Figura 40 – Cilindro de armazenamento feito de fibra de carbono, fibra de vidro e revestimento


plástico para evitar a difusão do gás hidrogênio.
51

A empresa italiana H2 Energy apresentou uma planta de produção de H2 verde em um


contêiner denominada turn key, para a produção de H2 verde. O modelo apresentado tem
potência nominal de 1 MW com custo de USD 100 milhões.

A empresa portuguesa Fusion-Fuel apresentou um novo modelo de painel solar. Em vez do


silício, o modelo usa gálio e uma lente para focar os raios solares diretamente na pastilha
desse elemento, como forma de aumentar a produção de energia elétrica. Além disso, a
empresa instala os eletrolisadores diretamente nos painéis solares, a fim de diminuir perdas
com transporte de energia. Nesse caso, a usina solar utiliza canos, e não cabos, para levar a
água e trazem o hidrogênio.

A empresa francesa Hycco apresentou uma nova maneira de separar o hidrogênio do


oxigênio na água usando separação mecânica, portanto, sem o uso de eletrólise e corrente
elétrica. Um separador de tela de fibra de carbono é utilizado e água é bombeada através
da tela. Como o elemento H2 é muito menor que o O2, ele atravessa a tela, enquanto o O2
fica retido. Essa inovação é classificada como TRL 7 e já foi patenteada pela empresa.

O Instituto Fraunhofer IPT apresentou tecnologias que visam produzir células a


combustível em larga escala, principalmente quando se trata da fabricação de placas
bipolares (BPP) e do conjunto membrana-eletrodos (MEA), o que inclui a membrana, as
camadas de catalisador e as camadas de difusão de gás. Os principais investimentos estão
no desenvolvimento de diferentes materiais que compõem esses componentes, que
objetivam baratear os custos e aumentar a eficiência dos processos produção de
hidrogênio pelos eletrolisadores e da conversão do hidrogênio em energia elétrica nas
células a combustível.

Além disso, o Fraunhofer automatiza sistemas e processos, além de investir no


processamento de plásticos reforçados com fibra de vidro e carbono para a produção de
tanques de pressão de hidrogênio, que é um dos gargalos da tecnologia.

Figura 41 – Bipolar plates, placas apresentadas pelo Instituto Fraunhofer.


52

Figura 42 – MEA impresso apresentado pelo Instituto Fraunhofer.

Outra tecnologia extremamente interessante foi apresentada pelo Instituto Franhoufer


IFAM, que é a POWERPASTE, uma substância de armazenamento de hidrogênio de
altíssima capacidade para aplicações em células a combustível do tipo PEM. Essa pasta
libera hidrogênio em contato com a água, contendo cerca de 9% em massa de hidrogênio
(portanto, 1 kg de hidrogênio equivale 9 kg de POWERPASTE). É um tipo de energia
específica de 1600 Wh/kg e densidade energética de 1900 Wh/litro após a conversão, 10
vezes a capacidade das baterias li-ion. É um produto patenteado e oferece muitas
vantagens sobre outras tecnologias de armazenamento, em particular na faixa de energia
de 100 W a 10 kW. Como atrativos, apresenta a não necessidade de investimento em
infraestrutura, zero emissões de CO2, não toxicidade, alto poder de conversão energética e
baixo custo total de propriedade. É usada em aplicações de baixo consumo elétrico, como
drones, câmeras de vigilância etc.

O instituto Fraunhofer também apresentou um método de construção dos eletrodos


cátodo e ânodo de eletrolisadores e células combustíveis usando impressão 3D. Isso
aumenta flexibilidade de design dessas peças, melhora a precisão, diminui a necessidade
de materiais nobres e reduz custos. Atualmente, esse processo se encontra com TRL 7.

A empresa Efoy focou no uso do hidrogênio para aplicações que possam substituir, por
exemplo, motogeradores a diesel. Em vez de um grande motor a diesel e um gerador
eletromagnético, há tanques de hidrogênio verde e células combustíveis, que serão
responsáveis por gerar a eletricidade. A empresa apresentou soluções com até 1 MW de
potência nominal.
53

Figura 43 – Mala Efoy, kit portátil de fornecimento de energia usando hidrogênio e célula
combustível.

A empresa Cummins apresentou sua cadeia de valor para uso do H 2 verde em caminhões,
com todos os equipamentos e modelo de negócio para a transição do combustível fóssil
para net zero. A empresa apresentou eletrolisadores, células combustíveis, controladores
de carga/descarga e sistema de armazenamento de H2, além de toda a instalação nos
caminhões.

Figura 44 – Eletrocumm, eletrolisador de 500 kW da Cummins para uso industrial.


54

Figura 45 – Veículo movido a células de H2.

O Karlsruhe Institute of Technology (KIT) apresentou um modelo com TRL 7 para a captura
do CO2 da atmosfera e processos industriais usando hidrogênio verde. Essa também é uma
aplicação muito promissora, já que também pode ser uma aplicação primordial e nobre
para o hidrogênio verde. A captura do CO2 pelo H2 pode gerar o chamado biometanol, que
pode ser reutilizado em alguns processos industriais.

A empresa Holandesa Resato apresentou uma solução para postos de reabastecimentos


para veículos a H2, que já são centenas na Europa.

Figura 46 – Posto H2, posto de abastecimento de hidrogênio da empresa Resato.

A empresa HOELLER Electrolyzer apresentou o Prometheus PEM Electrolysis-Stacks, que


visa ter excelente custo-benefício, custos reduzidos de produção de hidrogênio, alto
desempenho de produção, alta durabilidade e alta pressão de saída de hidrogênio, quando
comparado aos eletrolisadores do tipo PEM mais usuais. O espectro de serviço focado do
Prometheus PEM Electrolysis-Stacks varia de 1 kW de potência até valores superiores a 1
MW por pilha. Em paralelo, ele também será adequado para aplicações multi-MW.
55

Figura 47 – Comparação de desempenho do eletrolisador Prometheus com outros eletrolisadores.

Armazenar hidrogênio é bastante desafiador, uma vez que as tecnologias conhecidas


incluem liquefação, compressão ou conversão em metanol ou amônia. Atendendo a essa
demanda, a empresa Hydrogenious Lohc Technologies apresentou uma tecnologia com
propriedades promissoras em termos de densidade energética, segurança e facilidade de
uso, o Liquid Organic Hydrogen Carrier (LOHC). Foram apresentados dois sistemas: um
para o armazenamento de hidrogênio no óleo LOHC e outro para a liberação de hidrogênio
presente nesse óleo. O processo de hidrogenação do LOHC é otimizado para operação
contínua e de alta eficiência. Durante a reação de armazenamento exotérmico, produz-se
calor de alta temperatura que pode ser utilizado no local.

Figura 48 – Esquema de uma planta para geração de armazenamento de hidrogênio no óleo LOHC.

O HEVO-Solar, tecnologia apresentada pela Fusion-Fuel, é uma combinação dos


eletrolisadores HEVO com um módulo solar fotovoltaico concentrado, de alta eficiência,
projetado para otimizar o uso da energia elétrica e térmica do Sol. HEVO é um eletrolisador
do tipo PEM miniaturizado, que nesse sistema está conectado a um painel solar fotovoltaico
concentrado, capaz de aproveitar 100% da energia solar, convertendo-a em energia elétrica
e térmica, para fornecer hidrogênio verde altamente competitivo. Esse sistema fotovoltaico
56

concentra a radiação solar 1.400 vezes em uma célula solar de junção tripla graças a uma
lente de Fresnel, permitindo alta conversão de energia solar em elétrica. Essa célula
fotovoltaica converte mais de 40% da energia solar que capta em eletricidade, enquanto os
outros 60% são convertidos em energia térmica. A energia elétrica gerada é utilizada pelos
eletrolisadores HEVO sem necessitar de transporte.

Figura 49 – Protótipo HEVO-Solar.

Comentário dos especialistas


“Na área de energia da Hannover Messe 2022, o hidrogênio dominou discussões,
demonstrações e stands, destacando-se em relação à geração de energia eólica, solar ou
mesmo a partir da biomassa. A ênfase nesse tema ocorre em função dos acontecimentos
recentes na Europa e da necessidade de transição para uma economia de baixo carbono.
Outro motivo é que as demais tecnologias já estão consolidadas e são apresentadas e
discutidas em suas respectivas feiras.

Com relação aos eletrolisadores e às células combustíveis, notaram-se amadurecimento e


total prontidão da tecnologia, sendo que muitas empresas já apresentaram plantas com
grande capacidade de produção, como é o caso da empresa italiana H2 Energy e da turca
Plug. Com uma operação muito forte nos Estados Unidos, a Plug apresentou uma planta
de produção com potência nominal de 10 MW e tem, atualmente, 163 unidades pelo mundo
atendendo grandes redes, como WalMart, Coca-Cola, Amazon e outras.

O H2V tem ganhado relevância no mercado internacional e começa a se notar a formação


da cadeia de valores para atender a essa demanda. Apresentaram-se em Hannover
fabricantes de placas (stacks) para eletrolisadores e células combustíveis, empresas
especializadas em materiais nobres para a construção de stacks e o armazenamento em
tanques de polímeros mais leves e resistentes às altas pressões, empresas dedicadas aos
sistemas de H2 automotivos e fabricantes de plantas e postos de reabastecimentos
automotivos e industriais.

Percebe-se que a escala de produção dos equipamentos e dispositivos se apresenta, ainda,


como um desafio, o qual poderá gerar o esperado barateamento e a consolidação das
tecnologias. Quanto a essa consolidação, pode-se citar como exemplo algumas questões
que se impõem: Qual eletrolisador terá maior escala de produção e aceitação nos diferentes
57

modelos de negócios: alcalino ou de membrana eletrolítica? Como resolver o problema do


alto custo dos materiais usados nos eletrodos ou como a engenharia de materiais poderá
contribuir para a cadeia do H2?

Analisando o lado industrial da cadeia do H2, uma planta de produção é uma planta
eletroquímica, com presença da infraestrutura metalmecânica de tubulações, tanques de
armazenamento, bombeamento, válvulas e conexões comandados por instrumentação e
automação; só a etapa da construção delas já envolve uma grande quantidade de
indústrias, serviços e fornecedores. A indústria química também faz parte com o
fornecimento de insumos para a produção dos eletrodos, membranas, análises dos gases e
insumos para o tratamento de água. A engenharia de materiais é outra área que está
presente no desenvolvimento de novos materiais para toda a cadeia, além da produção de
inovações.

De maneira geral, a produção do hidrogênio (em especial o hidrogênio verde) é promissora


como fonte de energia a ser inserida em nossa matriz energética. Poderá desenvolver e
movimentar uma nova indústria no país, além de contribuir muito para o combate às
mudanças climáticas.”

Luís Mendes

“O hidrogênio é uma tecnologia que compõe projetos estratégicos de governos e empresas


ao redor do mundo, para a produção de um combustível limpo, sustentável, com baixa ou
nenhuma emissão de CO2 durante o processo produtivo. Em particular, o mercado de
hidrogênio tende a crescer exponencialmente, acelerando a transição energética em
diferentes países. De acordo com o relatório do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima
(2018) para a Presidência da República ‘Brasil Carbono zero em 2060’, o mercado mundial
de hidrogênio em valor econômico, em 2019, correspondeu ao montante de USD 118 bilhões
(Grand View Research, 2020) a USD 136 bilhões (Markets And Markets, 2020). Ademais,
espera-se um crescimento significativo desse mercado já nos próximos anos, que poderá
alcançar montantes de USD 160 bilhões (Global Market Insights, 2020) a quase USD 200
bilhões (Markets And Markets, 2020). Considerando a realidade brasileira, é preciso investir
na geração de conhecimento e na redução dos custos das tecnologias que já estão
maduras, sendo esse um dos maiores gargalos da produção de hidrogênio. Nesse sentido,
durante a feira de Hannover, foi possível ver a corrida das empresas que investem em
tecnologia para desenvolver novos materiais catalíticos, componentes de eletrolisadores e
células a combustível mais acessíveis, simplificando plantas e melhorando tecnologias de
armazenamento do gás e logísticas de transporte. Todos os esforços giram em torno da
redução de custo e do aumento da eficiência energética dessa tecnologia, o que nos faz
seguir para um caminho de aceleração quanto à transição energética.”

Erica Almeida
58

CIBERSEGURANÇA
“Todos os dias, 6,4 trilhões de e-mails falsos são enviados em todo o mundo, a cada
segundo com sucesso. Mas apesar de toda a conversa sobre segurança industrial e
segurança cibernética estar na boca de todos, as pessoas geralmente reagem da
maneira errada. Com a digitalização dos processos na indústria, a segurança
cibernética assume um papel cada vez mais importante.”

TRL 8-9

Com o crescimento da digitalização e dos


dispositivos conectados à rede, os termos
ransomware, DDoS, firewall e malware têm se
tornado mais frequentes nos noticiários, e
fazem parte de um tópico de extrema
importância para a era digital: a segurança
cibernética, uma vertente da tecnologia da
informação que procura assegurar que os
sistemas de informação utilizados por uma
organização estejam protegidos contra
ameaças e ataques.

É um tema de grande relevância, em função


da enorme dependência que as empresas têm
de sistemas de informação e da manutenção da integridade dos dados que são
manipulados. Ataques que resultam em roubo ou perda de dados, bem como em inserção
de informações falsas em bancos de dados, podem gerar elevados prejuízos financeiros,
além de desgastar a imagem da empresa perante o mercado. Ademais, é necessário
considerar que a crise causada pela pandemia de covid-19 agravou tal problemática, pois
muitas empresas tiveram a necessidade de implantar sistemas de colaboração às pressas,
relevando, em alguns casos, aspectos ligados à segurança desses sistemas.

Outro aspecto refere-se à implantação das tecnologias da indústria 4.0, que está ocorrendo
em muitas empresas está relacionado aos sistemas de informação até então restritos às
áreas administrativas da empresa, pois, agora, são utilizados no chão de fábrica, área com
pouco ou nenhum know-how no que se refere à segurança da informação. Tecnologias
como IoT, 5G e computação de borda e na nuvem estarão cada dia mais presentes nas áreas
produtivas da indústria, fato que irá impor uma forte política de segurança para a operação
desses sistemas.
59

Figura 50 – Tecnologias de cibersegurança.

A Cisco apresentou as funcionalidades de sua linha de produtos Meraki, composta de


switches, access points (controle de acesso), câmeras inteligentes e sensores IoT. Os dados
gerados por esses equipamentos são integrados em um dashboard na nuvem. Essa
centralização e integração torna possível criar uma melhor gestão entre as equipes de TI
(Tecnologia da Informação) e TO (Tecnologia Operacional), o que acarreta um aumento de
produtividade e da segurança operacional.

Figura 51 – Equipamentos da linha Cisco Meraki.

A OPC Foundation apresentou as funcionalidades do OPC UA, que é um padrão aberto de


comunicação de dados industriais e que está no mercado desde 2008. A grande diferença
do OPC UA para os demais protocolos de comunicação industrial é que tem em sua
concepção o suporte de algoritmos de criptografia, para aumentar a segurança dos dados
que trafegam por ele. No uso desse padrão para a comunicação com dispositivos IIoT, o
fabricante aconselha a utilização do algoritmo de criptografia ECC em vez de RSA, devido
60

ao ECC conseguir se equiparar em nível de segurança ao RSA, mas utilizando chaves


menores. Desse modo, são ideais para os equipamentos industriais que geralmente têm
baixa capacidade de memória e de processamento.

A empresa DCSO alertou acerca da importância de estarmos preparados previamente para


ataques cibernéticos e para a necessidade de as organizações terem um plano de resposta
a incidentes desse tipo. Um dos pontos que exige mais atenção envolve investimentos na
conscientização sobre segurança, promovendo uma cultura que a torne facilitadora, e não
um empecilho. Outro ponto importante é a periodicidade em que é feita a higienização do
ambiente de TI, ou seja, frequência com que o ambiente é atualizado, retirando-se itens e
equipamentos que não estão mais sendo utilizados e, assim, diminuindo-se os riscos dentro
da infraestrutura.

A segurança física do ambiente também não pode ser ignorada. Pensando nisso, a empresa
IDloop apresentou uma solução que combina a segurança da identificação biométrica com
a praticidade de um escaneamento 3D sem contato, o que torna essa solução mais
higiênica, prática e amigável para o usuário final. Adicionalmente, a utilização do
escaneamento 3D dificulta a obtenção de falsificações de digitais. Outro aspecto
importante do uso dessa solução é que ela é compatível com uma base de dados de
impressões digitais em 2D e pode ser utilizada para a identificação de pessoas que já
estejam cadastradas com a tecnologia 2D.

Figura 52 – Leitor biométrico apresentado pela empresa IDloop.

A empresa Heylogin apresentou um produto que tem o objetivo de facilitar o manuseio das
senhas utilizadas em sistemas coorporativos. O produto é um gerenciador de logins que,
diferentemente das demais soluções existentes no mercado, não necessita de uma senha
mestre para acessar as credenciais cadastradas. Para realizar esse acesso, ele utiliza o
smartphone do usuário como “chave secreta”. Isso acaba reduzindo as falhas de segurança
que podem ocorrer pelo uso de senhas fracas ou até mesmo pela anotação dessas senhas
em suportes físicos, como blocos de notas adesivas.
61

A empresa TxOne Networks apresentou o produto Trend Micro Portable Security 3 para
realizar escaneamento de malwares em computadores e estações que não tenham
conexão com a internet. Para realizar o escaneamento, basta plugar o dispositivo em uma
porta USB. Feito isso, um LED presente no equipamento exibirá três resultados: azul,
quando nenhum malware for detectado; verde, quando um malware for detectado e
eliminado; ou vermelho, quando um malware for detectado com necessidade de uma
investigação mais aprofundada no sistema. Além disso, grava informações de log que
depois podem ser exportadas para soluções de gerenciamento de logs como um SIEM
(gerenciamento de informações e eventos de segurança).

Figura 53 – Dispositivo Trend Micro Portable Security 3.

Comentários do especialista
“Segurança cibernética é um tema transversal na indústria, ou seja, aplica-se a toda e
qualquer parte em que a TI esteja envolvida. E é evidente, pelo que foi apresentado na feira
de Hannover, que esse não é um tema que deve continuar sendo ignorado.
Grande parte dos incidentes de segurança cibernética são causados porque algo ou
alguém deixou de fazer o simples e de realizar os itens mais básicos de prevenção em seu
ambiente. Essa é a oportunidade necessária para que alguém mal-intencionado consiga
invadir e causar prejuízos no ambiente empresarial.

Portanto, para tornar a indústria mais segura, é necessário um forte investimento na


capacitação de profissionais especializadas no tema e desmitificar a ideia de que um
dispositivo “milagroso” solucionará todos os problemas de segurança cibernética, mesmo
porque de nada adianta ter equipamentos de última geração para a gestão da segurança
em TI se não houver profissionais qualificadas para gerenciá-los e configurá-los
adequadamente.”

Matias Lopes
62

PLATAFORMAS DIGITAIS
“Os dados são a matéria-prima da era digital, mas como esse recurso pode ser
usado? As plataformas digitais são um bloco de construção, que conectam
provedores, produtores e clientes. Na Hannover Messe, as empresas mostraram como
big data se torna smart data a partir de softwares básicos e de soluções de software
para a análise de negócios.”
TRL 7-9

“Os dados são a matéria-prima da era digital, mas como esse recurso pode ser usado?
As plataformas digitais são um bloco de construção, que conectam provedores,
Estamos em uma época na qual há mais
produtores e clientes. Na Hannover Messe, as empresas mostraram como Big Data se
acesso aos dados operacionais do que nunca.
torna Smart Data desde softwares básicos até soluções de software para análise de
Porém, em muitas ocasiões, surge a seguinte
negócios.”
questão: Quando e como utilizamos esses
dados para gerar valor?
Uma máxima da atualidade diz que “dados são
o novo petróleo”, uma vez que eles têm grande
valor, mas precisam passar por um processo
de refinamento que envolve seleção, limpeza,
extração de informação para finalmente
produzir conhecimento.

Desse modo, as plataformas digitais devem ser capazes de facilitar o emprego dessa
tecnologia no contexto da manufatura. Tais plataformas consistem em diferentes tipos de
software que operam em conjunto com internet das coisas (IoT) e aplicativos para sistemas
móveis e tradicionais, operando tanto em computação local quanto em nuvem.

Outro aspecto relevante para a implantação das plataformas refere-se aos processos de
simulação computacional do produto e do processo produtivo. Com a crescente demanda
por personalização de produtos, em que a experiência do usuário é colocada em foco,
ferramentas e plataformas que permitam realizar simulações fiéis aos cenários reais têm
alto impacto no tempo de desenvolvimento dos produtos, além da redução nos custos dos
processos produtivos.

A Hannover Messe 2022 evidenciou que as plataformas digitais já se encontram


disseminadas no meio industrial, e que novas tecnologias estão constantemente sendo
introduzidas no mercado com o intuito de tornar o seu uso mais simples, abrangente e
produtivo. Foram apresentadas diversas aplicações envolvendo simulações de processos
produtivos e do produto, visualização 3D, análises de dados e ferramentas de colaboração
para criar definições de processos de manufatura e de desenvolvimento do produto, sendo
esses processos realizados de modo simultâneo.

Nesse contexto, a empresa americana Salesforce em pareceria com a alemã Siemens,


apresentou os maiores desafios para 2022, que envolvem mudanças na cadeia de
suprimentos, necessidade de realizar previsões, complexidade nos preços, inflação e
avaliação de prioridades. A empresa enfatizou também que as experiências digitais são um
63

dos grandes motores para a diferenciação nos negócios, principalmente com o aumento
do poder de processamento dos sistemas móveis, como tablets e smartphones. Ressaltou-
se, ainda, a importância da coleta e do processamento de dados e como a plataforma da
Salesforce pode ser integrada a sistemas da Siemens para facilitar o gerenciamento de
manufaturas.

Já a Microsoft apresentou os serviços disponibilizados pela plataforma Azure, dando


especial ênfase ao Microsoft Azure IoT, que permite o gerenciamento e a criação de gêmeos
digitais em nuvem. Ele também inclui sistemas operacionais e de segurança para
dispositivos e equipamentos, bem como dados e análises que ajudam as empresas a criar,
implantar e gerenciar aplicativos de IoT.

Outra área que se encontra em franca expansão são os marktplaces de aplicativos voltados
à área empresarial. A Psi Software Ag, da Alemanha, apresentou sua loja de aplicativos
focados para o setor industrial. Suas soluções envolvem gerenciamento de listas de
materiais de compras, sistema de gestão e aplicações de gerenciamento de energia
baseado em sistemas de inteligência artificial. Nesse contexto, a IndustryApps apresentou
uma grande variedade de aplicativos para a indústria 4.0, oferecendo soluções seguras,
econômicas e inovadoras em um modelo plug and play simples (que utiliza assinatura).

A Amazon apresentou uma plataforma própria de venda de soluções, a AWS Marketplace.


Ela disponibiliza aplicativos das mais diversas áreas, como segurança, armazenamento,
data analytics e aprendizado de máquina, entre outros. Os softwares já estão disponíveis
por meio do serviço de clould oferecidos pela Amazon AWS. Segundo a AWS, a plataforma
já tem mais de 12.000 soluções em 65 categorias diferentes e mais de 2.000 fornecedores
cadastrados. A Amazon também apresentou o AWS IoT RoboRunner, que é uma
plataforma para otimização e orquestração de robôs colaborativos conectados na internet.

Figura 54 – Tela do AWS Marketplace.

A SAP apresentou a SAP Store, que consiste em um mercado online em que os clientes de
todo o mundo podem descobrir, experimentar, comprar e renovar soluções da SAP com
parceiros da empresa. Disponível em mais de 200 países, oferece aos clientes acesso em
tempo real a soluções inovadoras para se tornarem empresas inteligentes e transformar
64

digitalmente seus negócios. Na plataforma, as empresas conseguem pesquisar de maneira


rápida soluções SAP de parceiros por categoria, produto SAP, setor, editor, tipos de
certificação e muito mais.

Como se pode observar, há uma expansão de empresas atuando no mercado de soluções


de prateleira para o ambiente industrial. Isso corrobora com necessidades latentes há
algum tempo por diversas organizações, que frequentemente se deparavam com a
seguinte questão: Em termos de plataformas digitais, o que será necessário para que as
industriais da próxima geração prosperem?

Uma boa resposta seriam as App Store para a indústria. Da mesma maneira que os
consumidores podem acessar facilmente os aplicativos de smartphone mais recentes, as
organizações industriais poderão instalar aplicativos plug and play desenvolvidos para
resolver problemas dessas empresas. As melhores soluções serão avaliadas e
compartilhadas publicamente por empresas que já testaram a aplicação.
Se, por exemplo, uma empresa necessitar de um software de monitoramento de seus
equipamentos, esta pode pesquisar na plataforma pelos melhores softwares de
monitoramento e instalar a aplicação que tenha os melhores comentários. Assim, a
documentação de implementação, os treinamentos e o suporte online já estarão
disponíveis no momento da instalação, assim como a precificação do software e a forma de
pagamento.

O software não atendeu às necessidades? A organização pode entrar em contato com a


empresa desenvolvedora da solução e pedir uma customização ou simplesmente
desinstalar e testar outro similar presente na plataforma.

Nesse cenário, as empresas ganham com a agilidade na implementação e colaboram para


aumentar a eficiência e reduzir o custo da inovação.
As tecnologias imersivas permitem aos usuários transitarem no mundo digital com mais
facilidade, seja por meio de interações mais realísticas, seja para uma melhor visualização
de dados e informações. Atualmente, diversas empresas estão desenvolvendo tecnologias
e recursos que nos permitirão ir mais a fundo no mundo digital.

A empresa Vuframe, localizada na Alemanha, apresentou uma solução de realidade


aumentada para visualização de modelos 3D integrados a imagens de ambiente real. O
usuário realiza o upload de um modelo 3D no sistema e imprime em papel um identificador
que permite a projeção do modelo no ambiente que está sendo filmado. Tal solução
apresenta ótimos resultados em processos de desenvolvimento do produto e sistemas de
treinamento.

A RealWear e a Eye4task mostraram soluções semelhantes, apresentando monóculos para


acompanhamento e supervisão de tarefas remotamente. O objetivo é permitir que
especialistas possam acompanhar de maneira remota uma pessoa em campo, oferecendo
instruções em tempo real para que seja possível resolver problemas. Essa solução combina
hardware vestível e uma plataforma digital.
65

Figura 55 – Monóculos da RealWear.

Os testes com o equipamento da RealWear mostraram que o sistema responde muito bem
a comandos de voz, além de ter uma interface de fácil utilização. O produto já está
disponível e tem um elevado grau de maturidade. Já as empresas TeamViewer e Holo-Light
apresentaram soluções semelhantes, porém de realidade mista, baseadas nos óculos da
Microsoft, chamado de HoloLens 2.

Ainda no contexto da realidade aumentada, estar apenas imerso em um ambiente de


simulação virtual não é o bastante. Há a necessidade de interação. Porém, a interação com
ambientes virtuais ainda apresenta limitações, principalmente no aspecto de um feedback
para o usuário.

Sentir, segurar e apertar no mundo virtual – essa é a proposta da SenseGlove, empresa que
desenvolveu uma solução que dá ao usuário feedback tátil em suas interações digitais. Com
a proposta de um produto mais acessível ao mercado, a luva desenvolvida fornece ao
usuário sensações de rigidez e tamanho dos objetos manipulados. Além do preço reduzido,
a solução é portátil e compacta, não apresentando a necessidade de um cabeamento para
se conectar aos demais hardwares.

Figura 56 – Luva com feedback tátil de interações digitais desenvolvida pela SenseGlove.

Outra solução que envolve a interação do usuário com o ambiente de atuação foi proposta
pela Dassault Systèmes, em parceria com a Accenture e Faurecia. Essas empresas
apresentaram o “cockpit do futuro”, que mudará a maneira com a qual motoristas e
passageiros interagem com os veículos. A proposta é traduzir o conceito de conforto de
66

cada indivíduo para ajustes personalizados no automóvel, como posição do volante,


climatização com foco em áreas específicas, luminosidade, entre outros. Muito mais que
simplesmente perguntar ao usuário qual é o parâmetro ideal para cada um dos ajustes, o
sistema interpreta essas preferências indiretamente, além de também monitorar os
passageiros, respondendo a sinais de stress e fadiga.

Esse produto está sendo desenvolvido graças a dados colhidos dos próprios usuários. Os
dados são utilizados nas ferramentas de simulação e permitem que engenheiros e
projetistas compreendam os impactos de cada modificação no projeto, possibilitando a eles
criarem produtos com mais aderência às necessidades personalizadas dos consumidores.
A visão da Faurecia para o cockpit do futuro é criar um ambiente mais personalizado,
preditivo e conectado.

Figura 57 – Proposta de cockpit do futuro – Faurecia.

Comentário dos especialistas


“As plataformas digitais utilizadas no processo de manufatura têm cada vez mais se
aproveitado da computação pervasiva, principalmente graças ao desenvolvimento de
sistemas mobile, computação vestível e internet das coisas (IoT). A necessidade de
gerenciamento de grandes volumes de informação provenientes de equipamentos e
sensores, associada a informações de fornecedores e compradores, demanda o
desenvolvimento de plataformas integradoras que facilitem o processo de gerenciamento
de tais tarefas. Esse foi o grande foco durante a feira, principalmente após a pandemia de
covid-19, iniciada em 2020. Com as restrições acarretadas pela pandemia, percebeu-se a
necessidade de aproveitar ao máximo o potencial das ferramentas digitais para facilitar a
comunicação entre gestores e colaboradores, com o intuito de maximizar ganhos em
produtividades sem deixar de lado os fatores humanos envolvidos no processo.”

Eduardo Pereira
67

“Na era da personalização em massa, ferramentas e plataformas que nos permitam


compreender como diferentes dados se relacionam e os impactos que provocam no
consumidor mudam totalmente a maneira que projetamos nossos produtos. A facilidade
trazida com as simulações dos gêmeos digitais traz agilidade ao desenvolvimento e
destrava ainda mais o potencial criativo humano.

Paralelamente, também se observa a intensificação no desenvolvimento de tecnologias


que nos permitirão mergulhar nos ambientes simulados. Ao se avançar na direção de áreas
como o metaverso, por exemplo, é perceptível que há certa carência em como será feita a
interação com os elementos que compõem esse novo espaço virtual.

Ao permitir que os usuários utilizem os demais sentidos além de visão e audição,


aproximamo-nos da verdadeira convergência entre real e simulado. Soluções práticas e
acessíveis também aumentam a inclusão de pessoas e empresas no uso dessas tecnologias,
e isso tem impacto direto na maneira como experiências e negócios são desenvolvidos. Por
muito tempo, a interação com o mundo virtual foi limitada. E isso está prestes a mudar.”

Bruno Huffenbaecher

“À medida que o número de aplicações disponíveis aumenta, alguns podem argumentar


que a utilização de sistemas de vários fornecedores aumenta o risco de que ocorram
problemas na operação da solução, mas a realidade é exatamente oposta.

O risco é reduzido quando um usuário final se beneficia da experiência de muitos


fornecedores especializados.

Além disso, quando um software é testado, são disponibilizados comentários sobre sua
utilização e integração, além de serem ofertados treinamentos. Desse modo, a utilização
desse software fica mais confiável e os riscos envolvidos em sua escolha são diminuídos. Por
outro lado, sistemas proprietários programados sob medida são caros para manter e difíceis
de se atualizar.

A melhor solução disponível não é a de um fornecedor ao qual você se encontra preso, mas,
sim, uma solução em que novos recursos e funções podem ser adicionados rápida e
facilmente ao hardware existente por meio de atualizações de software. O ROI (Return on
Investiment ou Retorno sobre o Investimento) nesse caso é facilmente capturado,
aumentando a longevidade e o valor de máquinas e equipamentos.

Para a empresa desenvolvedora da solução, o ganho está na escalabilidade do sistema e na


facilidade de ofertar aos seus clientes um teste de produto, ocasionando,
consequentemente, uma maior probabilidade na realização da venda.

Plataformas que centralizam soluções industriais possibilitarão estender para essa área o
modelo já consolidado de loja virtual (AppStore e PlayStore, por exemplo) para soluções
industriais.”

Henrique Nogueira
68

ELETROMOBILIDADE
“A infraestrutura de mobilidade elétrica abrange a infraestrutura de carregamento,
bem como as conexões correspondentes para veículos elétricos como pré-requisito
para uma mobilidade confiável. A Hannover Messe apresenta as tecnologias de
sistemas de transporte elétrico e as tecnologias de carregamento até infraestrutura
de energia, armazenamento estacionário, compartilhamento de viagens e muito
TRL 6-8
mais.”

A corrida para reduzir as emissões de gases


poluentes tem colocado a indústria
automotiva frente a uma grande mudança. Tal
transformação inclui: eletrificação da frota,
processos de manufatura mais eficientes e uso
consciente de recursos naturais. Nesse
cenário, o Brasil tem destaque, devido à sua
matriz energética ser composta de
aproximadamente 84% de fontes renováveis,
frente a uma média mundial de
aproximadamente 27%.

A transição para a mobilidade elétrica requer


investimentos em infraestrutura de
carregamento, bem como conexões correspondentes para os veículos elétricos. Na
Hannover Messe 2022, foram apresentadas algumas tecnologias relacionadas à área, como
sistemas de transporte elétrico, carregamento e infraestruturas de energia,
armazenamento estacionário de energia, compartilhamento de viagens, segunda vida de
baterias, entre outras.

O ciclo de vida das baterias dos carros elétricos consiste em mineração, produção e
aplicação, e isso corresponde à primeira vida da bateria. Com o uso, as baterias perdem a
capacidade de armazenamento, necessitando serem substituídas.

No ciclo tradicional, a bateria seria enviada para a reciclagem, porém, devido à


complexidade, esse processo ainda não está maduro. E sem a reciclagem, os usuários
precisam utilizar suas baterias de maneira mais consciente. Em razão disso, surgiu a
necessidade de criação da segunda vida das baterias.
69

Figura 58 – Ciclo de vida da bateria dos carros elétricos.

A empresa Voltfang apresentou um caso relacionado à economia circular, em que o


objetivo é estender o ciclo de vida das baterias de veículos elétricos (que atualmente têm
duração de 8 anos). A empresa propõe que baterias cuja vida útil não supram a demanda
do veículo devam ser recolhidas e reaproveitadas para outros usos que necessitam de
menor capacidade energética da bateria.

A Voltfang recolhe as baterias que não têm mais aplicação veicular, analisa-as por meio da
curva característica de carga/descarga, determina quais células de bateria estão em bom
estado e quais serão enviadas para uma empresa de reciclagem. As baterias que
apresentam boa capacidade de armazenamento de energia são retiradas da estrutura do
carro e montadas no sistema de armazenamento da Voltfang, que servirá para
armazenamento de energia proveniente do sistema fotovoltaico.

Devido a isso, esse sistema de armazenamento de eletricidade é chamado de verde, pois


usa apenas baterias de segunda vida de carros elétricos. Desse modo, o sistema pode
armazenar o excesso de energia dos painéis solares e fornecer energia limpa para empresas
e residências, assim como para a recarga de veículos elétricos.
70

Figura 59 – Aplicação do sistema de armazenamento – Voltfang.

A empresa FLEXeCHARGE apresentou uma interface de carregamento inteligente para


carros elétricos. O sistema permite otimizar e gerenciar a geração de energia elétrica
proveniente de um sistema fotovoltaico. A solução tem o objetivo de realizar o
carregamento de carros elétricos sem que ocorram picos de consumo, o que resulta em
tarifas mais caras. A solução apresentada também serve como um sistema de proteção
contra sobrecarga na rede elétrica.

Figura 60 – Interligação smart charging.


71

O sistema de gerenciamento conta com uma interface de software que permite definir um
limite máximo de corrente para as instalações e direcionar, de maneira eficiente, a energia
gerada pelo sistema fotovoltaico para os postos de carregamento. Se em um determinado
momento do dia, por exemplo, a geração é baixa, então, pode-se para não iniciar o
carregamento do veículo. Assim, o sistema de gerenciamento de carga fornece
comunicação com a plataforma de gerenciamento.

Figura 61 – Interface do sistema de gerenciamento da FLEXeCHARGE.

A ARENA2036 – acrônimo para Active Research Environment for the Next generation of
Automobiles – é um dos nove campos de pesquisa da iniciativa de financiamento Research
Campus – Parceria Público-Privada para Inovações, na Alemanha. A ARENA2036 conta com
o apoio da BMBF e é administrada como uma associação registrada com membros da
ciência e da indústria.

A visão do projeto colaborativo FlexCAR, por sua vez, é transferir esse desenvolvimento para
novos conceitos de mobilidade, abrindo os processos de inovação, desenvolvimento,
produção e distribuição. Fornecedores, bem como novos participantes do mercado, como
startups ou comunidades de desenvolvedores, são convidados a fornecer serviços e
componentes para o operador de plataforma (OEM) ou diretamente para o cliente final
durante todo o ciclo de vida do veículo. Para isso, as interfaces devem ser definidas a nível
de hardware e software e devem ser tão fáceis de usar quanto possível (preferencialmente,
plug and play), sem deixar de atender aos mais altos requisitos de segurança cibernética.
72

Figura 62 – FlexCAR.

Foi apresentado o protótipo do projeto FlexCAR que tem como premissa de


desenvolvimento a modularidade, dividida em quatro áreas temáticas:
Rolling Chassis – A plataforma serve como uma transportadora agregada e é uma base
comum para as tecnologias individuais do projeto.

Figura 63 – Rolling chassis.

Acesso interior e cibernético – Baseia-se nos temas da área de rolling chassis. Os casos de
uso relacionados ao interior são examinados nessa área, com foco em “trabalhando
enquanto dirige” e “Relaxando enquanto dirige”. Por exemplo, se um cliente reserva uma
carona por meio de um aplicativo, essa solicitação é enviada e processada via 5G. Um
veículo é atribuído de acordo com as exigências do cliente, e o cliente recebe detalhes da
hora e do local.

Conceitos flexíveis de produto e produção – Está trabalhando no conceito de produção


FlexCAR em estreita colaboração com o projeto fluid production (FluPro). Os módulos de
acionamento e energia devem ser o foco das considerações de engenharia de produção. O
rolling chassis faz parte do sistema de produção cibernética e pode ser usado como um
outro caso de uso durante a produção, por exemplo, como um sistema de transporte sem
73

motorista, substituindo, assim, as tecnologias atuais de transporte e de transporte na


fábrica.

Processo de desenvolvimento aberto de veículos modulares – Trata-se da


implementação de um dos critérios essenciais do FlexCAR: o processo de desenvolvimento
aberto. O objetivo é desenvolver e implementar interfaces abertas em hardware e software,
o que permitirá a criação de novos modelos de negócios. FlexCAR é, portanto, muito mais
do que apenas um novo conceito de veículo. Oferece uma plataforma de pesquisa para o
desenvolvimento central e a produção de sistemas modulares de veículos.

O projeto conta com muitos parceiros de desenvolvimento, incluído universidades e


fabricantes das áreas de eletrônica, software e conectividade, além de renomadas
montadoras, que trazem consigo todo o conhecimento da produção automotiva.

Comentário do especialista
“Grandes empresas vinculadas ao setor automotivo no mundo estão em fase de testes e
validação de projetos relacionados ao tema de e-mobility. O Brasil apresenta-se como um
país-chave para a adoção da eletrificação veicular, visto que nossa matriz energética é
preponderantemente renovável. A transição para frotas de veículos elétricos deverá ser feita
de maneira gradual e contando com a participação de automóveis que façam uso de outras
tecnologias veiculares, como o híbrido puro e plug-in, célula combustível tradicional, etanol,
entre outros.

O veículo movido a célula de combustível tem grande oportunidade de implantação e


versatilidade em nosso mercado, o que permite que o veículo eletrificado possa sair dos
grandes centros sem risco de ficar desabastecido por não haver uma grande infraestrutura
de recarga nas rodovias. Essa recarga, por sua vez, pode ser feita a partir de célula de
combustível tradicional utilizando hidrogênio verde ou célula de combustível a etanol,
projetos que estão sendo desenvolvidos em parceria entre as universidades de Campinas
(UNICAMP) e de São Paulo (USP) e parceiros da indústria, como BOSCH e Volkswagen.

Dada a extensão territorial e as condições climáticas que apresenta, o Brasil tem grandes
oportunidades para as empresas investirem em melhor aproveitamento de energias solar
e eólica, por exemplo, que serão fundamentais à transição para um modelo 100%
sustentável e renovável. Em consonância com a eletrificação das frotas veiculares no país,
surge também uma demanda por formação técnica e superior de profissionais capazes de
atender a essa cadeia de valor, desde pesquisa e desenvolvimento até industrialização e
manutenção desses veículos, o que nos alerta sobre o papel estrutural que as instituições
de ensino terão nesse novo cenário.

No contexto da descarbonização, o veículo híbrido a etanol tem grande aceitação no


mercado e muita versatilidade. No entanto, como o etanol só é aplicado massivamente no
Brasil, é pouco provável que tenhamos veículo híbridos abastecendo unicamente com
etanol.”

José Martinho Leal


74

TECNOLOGIAS DE AR COMPRIMIDO
“Seja em automação, pneumática ou sistemas ecologicamente corretos: sem
tecnologia sofisticada de ar comprimido e vácuo, a indústria inteligente continuaria
sendo um sonho do futuro. Se você deseja projetar processos de produção que sejam
energeticamente eficientes e sustentáveis, você não pode evitar as tecnologias
transversais.” TRL 6-9

A pneumática é um tema amplamente


difundido e fundamental para os processos de
fabricação, é responsável por auxiliar a
automação de máquinas e equipamentos. O
avanço dessa tecnologia resulta em aumento
de produtividade, assegura a diminuição de
problemas como movimentos repetitivos dos
operadores e garante a padronização da
fabricação.

Apesar da vasta utilização, as tecnologias


desenvolvidas nessa área continuam
avançando e sendo cada vez mais lapidadas. A
Hannover Messe trouxe cases inovadores da aplicação do ar comprimido, sobretudo na
robótica e em dispositivos com elevada sensibilidade e precisão.

Na edição de 2022 da Hannover Messe, a empresa Festo, considerada no mundo a maior


fabricante e desenvolvedora de soluções industriais no segmento de tecnologias
pneumáticas, apresentou novos equipamentos, soluções e produtos, com destaque para o
primeiro robô colaborativo pneumático do mundo.

Trata-se de um robô industrial de 6 eixos de liberdade, o que oferece funções para uma
colaboração segura entre humanos e robôs. Graças à flexibilidade dos acionamentos
pneumáticos, o robô atua com sensibilidade a uma velocidade adequada à situação e com
movimentos fluidos e harmoniosos. Quando é tocado, é tão suave como o contato feito por
uma pessoa. Os atuadores diretos pneumáticos do robô e o seu baixo peso reduzem a
energia de contato. Por utilizar acionamentos diretos em suas juntas articuladas, acabam
não utilizando acionamentos elétricos; dessa forma, eliminam-se componentes pesados,
como redutores, e até mesmo sensores de força e torque.

Devido ao projeto avançado de pneumática controlada, o Festo Cobot tornou sua utilização
possível em pequenas e médias empresas, com o intuito de automatizar processos de
pequeno porte.

A ferramenta conta com uma capacidade de manuseio de cargas de até 3 kg, um


comprimento de 670 mm, pesa apenas 17 kg. Em razão dessas características, torna-se um
equipamento flexível e de fácil manuseio. Pode ser guiado com a mão de um operador para
ensinar os pontos de movimentação. Atualmente, o Festo Cobot ainda não está sendo
comercializado e estará disponível no mercado a partir de 2023.
75

A Festo também lançou um novo sistema de terminal de válvula modular, o VTOP, que tem
uma forma construtiva com um regulador de pressão, placas para conexões, booster e, o
grande diferencial, uma placa adaptadora que possibilita a conexão entre um atuador
pneumático e um posicionador. Tais componentes são utilizados comumente em
processos industriais em conjunto com válvulas de controle de fluidos.

Figura 64 – Festo Cobot.

Figura 65 – Festo Cobot: conceito de colaboração homem-máquina.

Por ter montagem modular, torna-se flexível, pois a quantidade de módulos pode ser
expandida. Além disso, elimina a necessidade de tubulações para conectar elementos
como o atuador e o posicionador, reduzindo a possibilidade de vazamentos de ar
comprimido.
76

Figura 66 – Terminal de válvula modular VTOP.

Além de um grande stand no evento, a empresa também expôs em um dos pavilhões a sua
unidade móvel, que conta com diversos painéis para demonstração de toda sua linha de
produtos. Vale a pena destacar o conceito de conectividade em seus produtos, desde redes
industriais, como o EtherCAT, até redes de comunicação IoT.

Nesse espaço foi apresentada a linha de objetos voadores biônicos, os Bionics, que fazem
parte de uma tradicional linha de pesquisas da Festo, possibilitando estudos avançados de
materiais, consumo de energia e deslocamentos. Foram apresentados os Bionics em forma
de água viva, morcego e pássaro, o BionicSwift.

O BionicSwift foi desenvolvido a partir de um material de espuma ultraleve e flexível


utilizando penas de carbono ligadas as articulações que simulam a estrutura de uma ave
real. Além do realismo, elas têm um sistema de conexão e navegação 3D via GPS que pode
ser utilizado para mapeamento, em processos produtivos ou até mesmo no transporte
materiais.

Figura 67 – BionicSwift: a ave da linha de objetos voadores biônicos.


77

Figura 68 – BionicFlyingFox: O morcego da linha de objetos voadores biônicos.

O AVENTICS Smart Pneumatics Analyzer monitora instalações e sistemas pneumáticos e


gera um banco de dados que pode ser visualizado e analisado. Esse banco contém um
gateway integrado a uma rede IIoT (internet industrial das coisas), o que o permite registrar
dados de maneira contínua por meio dos sensores integrados da unidade de preparação
de ar. Assim, é possível que as empresas tenham monitoramento de seus componentes
pneumáticos, podendo melhorar a eficiência global dos equipamentos (OEE).

As tecnologias pneumáticas surpreenderam pelo espectro de atuação. Além das aplicações


supracitadas, foram apresentadas soluções para o campo da ergonomia aplicadas à
resolução de problemas cotidianos. Dores nas costas, devido à manipulação de objetos
pesados ou ao trabalho em posições não ergonômicas, estão entre as causas que lideram
afastamentos e limitações de trabalho, provocando doenças crônicas e prejuízos
relacionados a despesas médicas, além de impactos na cadeia produtiva.

Exoesqueletos são sistemas mecânicos que consistem em uma estrutura externa utilizada
por uma pessoa como recurso para auxiliar a execução de movimentos. Esse tipo de
equipamento tem se mostrado uma solução cada vez mais viável, com aplicações
principalmente nos campos de esforços manuais e reabilitação de pacientes.

Empresas como Innophys, Ottobock e Laevo apresentaram o que pode ser considerada
uma nova categoria de exoesqueletos, uma vez que não requerem eletricidade para
operarem. Graças a um sistema pneumático, o Muscle Suit Every, da Innophys, atua de
modo a redirecionar a força sentida na coluna para outras regiões do corpo, protegendo o
operador de possíveis lesões.

Com solução semelhante, os produtos das empresas Ottobock e Laevo utilizam de sistemas
de molas para armazenar e liberar energia, compensando e aliviando forças em
movimentos que poderiam sobrecarregar o operador. Todas as soluções,
independentemente da tecnologia utilizada, trazem a mesma abordagem de produtos
leves, fáceis de utilizar e ajustáveis a diferentes biótipos.
78

Figura 69 – Muscle Suit Every da Innophys.

Figura 70 – Exemplo da utilização do exoesqueleto da Innophys.


79

Figura 71 – Exoesqueleto da Laevo.

Figura 72 – Exoesqueleto da Ottobock.

Comentário dos especialistas


“Com o avanço tecnológico proporcionado pelas áreas de pesquisa e desenvolvimentos
(P&D) das empresas líderes de mercado no seguimento de tecnologias de ar comprimido,
fica evidente que essa tecnologia não funciona mais de maneira isolada, totalmente
mecânica, visto que hoje os processos exigem conectividade e integração.

Soluções apresentadas, como o Festo Cobot, o primeiro Cobot pneumático ou os sistemas


analisadores e coletores de dados da Emerson, abrem um leque de oportunidades para os
processos produtivos, não só para as grandes empresas, mas também para as micro e
pequenas empresas, possibilitando controlar, analisar e otimizar os processos produtivos
como um todo.

Para os próximos anos, acreditamos que a indústria brasileira receba essas novas
tecnologias, pois, com o grande movimento de digitalização que está acontecendo no
Brasil, em razão da quarta revolução (indústria 4.0), a tecnologia de ar comprimido torna-
se um fator importante na evolução dos processos produtivos.

João Neto
80

“É muito interessante acompanhar como a tecnologia avança, muitas vezes, apoiando-se


em outras tecnologias que já existem há tempos. Quando o assunto são exoesqueletos, vêm
à mente soluções futurísticas altamente complexas e que nos fariam parecer verdadeiros
robôs. A Hannover Messe mostrou alternativas que vão em outra direção: produtos
ergonômicos, práticos, acessíveis e livre de baterias.

Espera-se que soluções como as apresentadas tenham grande adesão por diversos setores
industriais, visto o potencial de prevenção de lesões e impacto na performance da cadeia
produtiva. O fato de apresentarem custo reduzido, quando comparado ao custo de
soluções mais complexas, definitivamente pesará a favor dessas tecnologias.”

Bruno Huffenbaecher
81

AUTOMAÇÃO DE PROCESSOS
“A Hannover Messe é um evento referência para equipamentos, serviços e soluções de
automação para engenharia de processos industriais. Isso inclui sensores, dispositivos
e sistemas para medição de nível, vazão, pressão e temperatura, bem como análise e
registro de valores de medição. As empresas expositoras oferecem suporte em todas
as questões de automação, logística e tecnologia da informação.”
TRL 7-9

A quarta revolução industrial trouxe o conceito


de utilização da automação em larga escala,
porém o que realmente revolucionou os
processos produtivos foi a introdução de novas
tecnologias conectadas entre si, como os
cyber-sistems, IoT (internet das coisas), Big
Data, manufatura aditiva, realidade virtual e
aumentada, entre outras.

Atualmente, temos um mundo com infinitas


possibilidades de soluções nos processos de
automação, desde integrações simples, como
o acionamento de um motor por meio de um botão físico, até o acionamento remoto e
coleta de dados por meio da nuvem.

A Siemens apresentou, na Hannover Messe 2022, o veículo elétrico demonstrador de


conceito SimRod, que emprega em seu processo de fabricação às mais recentes soluções
oferecidas pela empresa. Como exemplo, o SimRod utilizou em seu processo de
desenvolvimento a plataforma SimCenter Testlab, que utiliza o conceito de teste de sistema
baseado em modelo. Graças ao uso dessa plataforma, criaram-se bancadas de testes que
reproduziam de modo fidedigno o ciclo de acionamento do veículo, utilizando os dados
obtidos para a avaliação virtual do desempenho do automóvel e posterior otimização do
projeto.

Figura 73 – SimRod: e-car desenvolvido pela Siemens.


82

Foi possível conferir, na planta industrial apresentada no evento, a integração de


tecnologias, como gêmeos digitais, manufatura aditiva, AGVs, inteligência artificial (IA), 5G
industrial, realidade virtual e aumentada, IIoT, computação em nuvem, robótica industrial
e colaborativa.

A Siemens também apresentou o SIMATIC Robot Integrator, uma solução que


revolucionará o modo como é feita a automação, a programação e a integração dos robôs.

Trata-se de um aplicativo que faz parte do software TIA Portal utilizado para programar os
CLPs (controladores lógicos programáveis) da empresa. Por meio dessa solução é possível
integrar robôs de diferentes fabricantes em suas estruturas de máquinas de maneira rápida
e fácil, sem a necessidade do auxílio de especialistas em robótica. Com a biblioteca universal
de robôs SIMATIC, o TIA fala a mesma linguagem que os robôs, trazendo inúmeras
possibilidades de flexibilização e eficiência para os usuários.

A SIMATIC Robot Library fornece uma interface padronizada entre o controlador da


máquina e o controlador do robô, o que permite a comunicação universal entre CLP e robô
utilizando as redes de comunicação PROFIBUS e PROFNET International (PI). Outra grande
vantagem é que o programa do robô só precisa ser configurado uma vez, podendo ser
reutilizado para diferentes marcas e fabricantes de robôs.

Figura 74 – Esquema de funcionamento do SIMATIC Robot Integrator.


83

Figura 75 – Integração com o SIMATIC Robot Integrator.

A empresa Schneider Electric apresentou a EcoStruxure, uma plataforma digital que


combina soluções de TA (tecnologia de automação), com TI (tecnologia da informação),
permitindo maiores eficiência operacional e energética e sustentabilidade.

A plataforma é baseada em redes de conexão IoT; dessa maneira, é possível conectar toda
a empresa, desde o chão de fábrica até o andar executivo.

O sistema coleta dados importantes dos sensores, analisa-os e os envia à nuvem,


permitindo que se façam análises posteriores mais avançadas com o objetivo de obter
informações importantes.

No site da EcoStruxure Automation Expert, é possível acessar a demonstração interativa de


utilização da plataforma e simular integrações com o sistema, tornando mais fácil a
visualização das inúmeras possibilidades da utilização.

Figura 76 – Estrutura da solução EcoStruxure Automation Expert.


84

A empresa BECKHOFF fez o lançamento do MX-System, uma solução que permite


automações de forma modular e sem a necessidade de utilização de um painel elétrico,
com possibilidade de fixar o módulo direto em máquinas e equipamentos.

A combinação de uma placa base do MX-System e dos módulos de função do MX-System


de construção modular, combinam todas as tarefas e características de um painel elétrico:
alimentação de energia, proteção e distribuição de fusíveis, geração e monitoramento de
tensões, controle de sequência de acionamentos com as entradas e saídas e controle de
motores e atuadores.

A integração total do sistema e funcionalidades do equipamento são alcançadas por meio


de módulos IPC (PC industrial), que consistem em módulos acopladores que permitem a
integração em redes EtherCAT, PROFINET e EtherNet/IP, módulos de E/S (entradas e
saídas), relés e fontes de alimentação. Além da comunicação EtherCAT ultrarrápida e
proteção IP67, cada módulo tem resfriamento, superfícies cromadas com resistência a óleo
e agentes de limpeza, podendo ficar exposto a ambientes agressivos.

Figura 77 – MX-System da BECKHOFF.

As vantagens da utilização do padrão universal IO-Link já se tornaram bastante evidentes.


No entanto, a utilização de fios limitava o uso principalmente em dispositivos em
movimento. Agora, diversos fabricantes estão disponibilizando a tecnologia wireless para o
padrão IO-Link. Desse modo, dispositivos em movimento podem se comunicar com
dispositivos fixos sem a utilização de fios.

A aplicação dessa tecnologia é muito vantajosa em sistemas de movimentação com


esteiras, pórticos e similares que contenham dispositivos elétricos, como sensores e
dispositivos de medição.

Os equipamentos que têm IO-Link wireless apresentam como vantagem a baixa latência
de até 5 ms na comunicação entre os dispositivos e a confiabilidade de uso é equivalente à
do IO-Link com fio. Um aparelho mestre wireless IO-Link suporta até 40 dispositivos sem
fio.
85

A tecnologia apresentada quanto à movimentação por flutuação de peças sem contato é a


XPlanar, que combina as vantagens das tecnologias convencionais com a levitação
magnética. O XPlanar simplifica significativamente as etapas de produção individuais,
porque os graus de liberdade e precisão familiares da robótica podem ser usados para o
manuseio de produtos 6D. O conceito de posicionamento do produto durante o
processamento é aplicado ao sistema de transporte. O efeito flutuante substitui todos os
componentes da guia mecânica e reduz drasticamente os custos de limpeza e
manutenção.

Figura 78 – Movimentação por flutuação XPlanar.

Comentário do especialista
“A cada dia fica evidente que as tendências de pesquisas e desenvolvimento de soluções
tecnológicas no segmento de automação industrial seguem o caminho da integração com
os sistemas de comunicação de TI (tecnologia da informação). As grandes empresas vêm
investindo para desenvolver plataformas que possibilitem a integração e conexão de todos
os componentes, máquinas e equipamentos envolvidos nos processos de automação,
tornando-os cada vez mais flexíveis, multiplataforma e multimarca (referente aos
fabricantes), facilitando cada vez mais a programação e coleta de dados.

Podemos citar como exemplo a plataforma SIMATIC Robot Integrator da Siemens, a qual
possibilita a programação de robôs por meio do TIA Portal, um software utilizado para
programar a linha de CLPs. Outro exemplo é a plataforma EcoStruxure da Schneider
Electric, que possibilita a total conectividade e integração dos processos de chão de fábrica.
Finalmente, podemos citar também a RexRoth com a plataforma ctrlX, que também
apresenta integração flexível com diversos componentes.

Outra grande tendência exibida na feira é a modularidade dos sistemas de controle. Cada
vez mais, torna-se possível customizar controladores, acionamentos e dispositivos de
comunicação conforme as necessidades e particularidades de cada processo.

Com certeza as novas tecnologias de plataformas de integração e modularização


revolucionarão a maneira como automatizamos os processos produtivos.”

João Neto
86

ROBÓTICA

“Na Hannover Messe, foram apresentadas uma ampla variedade de robôs industriais
e tecnologias de montagem e manuseio, bem como processamento de imagens
industriais para robótica. As principais empresas de robótica oferecem soluções
perfeitamente adaptadas às aplicações da indústria.”
TRL 7-9

Temos atualmente robôs físicos executando


tarefas que exigem força e/ou precisão, por
exemplo, a aplicação de solda em junções
metálicas automotivas e robôs digitais para
executar tarefas repetitivas que dependem de
pouca ou nenhuma cognição, como a
transferência de informações de um software
para outro.

O uso de robôs na indústria possibilitou uma


automação de tarefas complexas,
principalmente quando era exigido o
manuseio de um objeto de maneira mais
elaborada e que não seria possível por meio de
elementos de automação tradicionais
(atuadores e garras pneumáticas, por exemplo). Portanto, o que temos no momento,
quanto à automação na indústria, deve-se em boa parte ao emprego de robôs.

No cenário atual, percebemos uma série de avanços e a inclusão de novas tecnologias nessa
área. Controladores mais eficientes, sistemas colaborativos, novas metodologias de
programação (mais fáceis e intuitivas) e desenvolvimento de novos sistemas mecânicos
tornam os robôs mais resistentes e leves.

A empresa Standard Robots apresentou sua linha de robôs móveis autônomos. Um modelo
que merece destaque é a empilhadeira inteligente GULF, utilizada para a movimentação
de cargas em processos produtivos. Essa empilhadeira utiliza a tecnologia SLAM
(simultaneous localization and mapping), que permite ao equipamento reconhecer o
ambiente de trabalho e adaptar a movimentação e o trajeto conforme os obstáculos que
encontra pelo caminho.
87

Figura 79 - Modelos da empilhadeira inteligente GULF.

A robótica autônoma está ampliando o emprego de robôs em outros seguimentos além do


industrial. Muitas áreas de prestação de serviços estão começando a utilizar sistemas
robóticos, como restaurantes, bibliotecas, hospitais, hotéis, entre outros. A Hyundai está
trazendo produtos para a área de serviços com a intenção de comercializar soluções
prontas, ou seja, sem que haja a necessidade de adaptação de berços ou garras.

A empresa apresentou a linha de robôs de serviço, que consistem nos robôs autônomos T1,
T5, T6 e T8, que têm por objetivo servir e atender clientes que necessitam da entrega de
bandejas e de outros tipos de objetos, podendo ser acionados por meio de botões físicos,
telas touchscreen e até mesmo reconhecimento de voz.

Quanto às características técnicas, dependendo do modelo, esses robôs podem comportar


até 4 bandejas e têm bateria que pode durar até 15 horas com o robô, retornando
automaticamente à base para recarregar. Ressalta-se que são necessárias 4 horas para
atingir a capacidade máxima de carregamento.
Outro lançamento envolve as linhas de robôs de desinfecção D1 e D2, que têm
características semelhantes aos robôs da linha T. Os robôs de desinfecção apresentam um
sistema de ventilação e evaporação para eliminação de vírus presentes no ambiente e um
sistema de medição em tempo real por meio de uma lâmpada LED UVC.

Figura 80 – Linha de robôs série T da Hyundai.


88

A Cognite, empresa norueguesa desenvolvedora de softwares industriais, apresentou o


software Cognite Data Fusion. Esse software encontra-se integrado a robôs quadrúpedes,
como os da linha de robôs da Boston Dynamics. A utilização desse software torna possível
realizar a gestão de dados, gestão de ativos e manutenções em processos industriais.

Figura 81 – Utilização do software Cognite Data Fusion em robôs do tipo quadrúpede.

A empresa Franka Emika, com sede em Munique, apresentou o Franka Production 3 (FP3).
Trata-se do primeiro robô colaborativo com recursos táteis certificado e disponível no
mercado. Esse Cobot tem mais de cem sensores, o que permite maior aproximação da
movimentação e destreza dos humanos em tarefas que exijam uma sensibilidade maior
nos movimentos.

Outro ponto inovador desse robô é o foco na facilidade de instalação e programação. A


empresa traz o conceito de plug and play para a instalação, além de introduzir uma
plataforma de marketplace de programas que podem ser utilizados nesse sistema. Um
case apresentado na Hannover Messe foi o da utilização do marketplace de programas para
selecionar um robô capaz de remover um produto de dentro de um molde de injeção
plástica. Nesse caso, foi possível encontrar um programa pronto com essas características,
modificando apenas as coordenadas de atuação do robô. Adicionalmente, usuários que
desenvolvam um programa para esse sistema podem compartilhá-lo nessa loja e receber
uma parte do valor a cada venda realizada do produto.
89

Figura 82 - Robô colaborativo Franka Production 3.

Comentário dos especialistas


Hoje não é possível enxergar um futuro para as indústrias sem a robótica em seus processos
produtivos. Verificamos o avanço tecnológico dessa área por meio da ascensão
principalmente dos robôs colaborativos, que são de fácil manipulação e programação e que
podem ser utilizados em processos de maneira conjunta com os humanos, tornando os
processos industriais mais flexíveis e produtivos.

Outros tipos de robô, como os quadrupedes e os robôs de serviços, chegam para


revolucionar a maneira como controlamos os processos e até mesmo a experiência do
usuário (User Experience ou UX).

A robótica não é mais uma tendência, e sim uma necessidade para garantir a
competitividade das indústrias.

João Neto

A utilização de sistemas robóticos está cada vez mais acessível. Com a introdução de novas
tecnologias que tornam mais fácil o manuseio do robô, incluindo uma maior facilidade no
processo de programação por meio do uso de interfaces gráficas e do reaproveitamento de
códigos que podem ser adquiridos em aplicativos especializados. Desse modo, a introdução
dos atuais sistemas robóticos nos processos produtivos tem se tornado cada vez menos
traumática e mais rentável, fornecendo maiores índices de eficiência e produtividade.

Muitas empresas fabricantes de robôs estão investindo muito no desenvolvimento de


softwares de programação do usuário, deixando-os com uma interface amigável e intuitiva,
que interage com o programador. Em muitos robôs de pequeno porte, a programação dos
pontos a serem gravados são realizadas movendo os eixos do próprio robô com as mãos.
90

Para quem é iniciante na programação de robôs, esse procedimento facilita muito a


definição da trajetória que se deseja, tornando a programação mais ágil.

Sobre a integração com robôs, os expositores dessa área informaram que têm todos os tipos
de protocolo de comunicação industrial, que facilitam a programação, reduzem o tempo
de fabricação de células e contêm documentação atualizada para comunicação utilizando
esses protocolos de comunicação.

Marcelo Moura
91

GÊMEOS DIGITAIS
“As máquinas de hoje são projetadas com representações virtuais correspondentes.
As contrapartes físicas e digitais trocam dados, que são constantemente capturados
por sensores. Dessa forma, as empresas podem detectar falhas mais cedo na fase de
desenvolvimento e até mesmo monitorar máquinas e componentes após a
distribuição.”
TRL 7-9

Nos últimos anos, a computação gráfica teve


grandes avanços, com aplicações tanto em
simulações e desenvolvimento de produtos,
usando softwares de modelagem 3D, quanto
em aplicações para entretenimento e
educação por meio de filmes, jogos e modelos
interativos. Com o avanço da chamada
internet das coisas (internet of things – IoT) e a
capacidade de coletar e analisar grandes
volumes de dados em tempo real, a indústria
se beneficia das ferramentas de computação
gráfica. As máquinas atuais são projetadas com representações virtuais correspondentes.

Nesse contexto, os gêmeos digitais são, basicamente, cópias virtuais de uma peça, de um
equipamento ou mesmo de um processo já existente. Essa tecnologia faz com que as
partes físicas e digitais troquem dados, que são constantemente capturados por sensores.
A partir desses dados, o gêmeo digital é capaz de interpretar os comportamentos reais no
ambiente digital. Dessa maneira, como uso dessa tecnologia, as empresas podem detectar
precocemente falhas, mesmo que na fase inicial de desenvolvimento, e fazer o
monitoramento de componentes e máquinas após a distribuição.
Os gêmeos digitais, em combinação com ferramentas de inteligência artificial e
aprendizagem de máquina, estão revolucionando o modo como a indústria funciona, pois
podem acompanhar um produto desde o seu conceito inicial e processo de design até a
produção, melhorando aspectos como diversidade de produtos, maior qualidade e redução
de custos de produção.

A Microsoft apresentou uma solução em seu sistema de cloud computing para modelagem
e simulação industrial com gêmeos digitais, chamada de Gêmeos Digitais do Azure. O
sistema consiste em uma aplicação web que permite a integração de modelos digitais com
IoT para criar uma representação digital de coisas, lugares, processos de negócios e pessoas
do mundo real.
92

Figura 83 – Imagem da plataforma Digital Twin da Azure – Microsoft.

Um consórcio de empresas e institutos de pesquisa sul-coreanos (KAIST, ABH, Digifort,


KEMP, UNIST e Universidade Hanayang) apresentou uma plataforma chamada “Fábrica de
Manufatura baseada em Inteligência Artificial e Metaverso” (manufatruing AI metaverse
factory). A solução consiste na integração entre sensores, coleta de dados, utilização de
redes neurais para a análise de séries temporais e sistema de visualização em realidade
virtual. Tudo isso focado no controle de equipamentos e plantas industriais de maneira
remota.

Representantes da CloudSME apresentaram o tema “Projeto DIGITbrain – Como gêmeos


digitais estão revolucionando a manufatura”, que consiste num programa de inovação da
União Europeia com o objetivo de desencadear o potencial de inovação em manufatura a
partir do uso de gêmeos digitais. Existe uma chamada aberta no site para empresas
interessadas em participar do programa, iniciada em julho de 2020, com trinta e seis
parceiros dentro da União Europeia, tendo possibilidade de agregar entre trinta e cinco a
quarenta novos parceiros em duas novas chamadas abertas. Alguns dos casos
apresentados foram uso de gêmeos digitais para criação de moldes de injeção, vigilância
em processos de manufatura e processos para manufatura aditiva e robótica para
agricultura. O projeto ainda está em estágio inicial, sendo uma grande promessa para a
padronização e adoção massiva de gêmeos digitais dentro da União Europeia.

No stand da Dassault Systèmes, empresa de plataformas de modelagem digital e 3D, foram


apresentados produtos como SIMULIA, que permite o desenvolvimento de aplicações de
simulações realísticas, para que usuários explorem o comportamento no mundo real de
produtos da natureza e promover interações com seres vivos.

A empresa Energy Advice apresentou os gêmeos digitais EA-SAS, prontos para o uso,
garantindo resultados de otimização em 6 meses ou menos. Diferentes sistemas podem
ser conectados a um único EA-SAS cloud. Assim, todos esses gêmeos digitais podem ser
usados pela mesma empresa e controlados a partir de um único ponto. Essa tecnologia visa
93

coletar os dados existentes, analisá-los e adicionar a inteligência artificial, que ajuda a


desbloquear o potencial de economia em energia e a eficiência tecnológica. A partir do EA-
SAS é possível realizar aumento da eficiência energética e tecnológica de uma fábrica,
aumentando a produção e reduzindo as emissões de CO2. O EA-SAS não apenas identifica
potenciais áreas de economia, mas também sugere regimes operacionais que reduzem o
consumo de energia ou até mesmo realizam o controle automatizado avançado sem
interação humana.
A Cosmo Tech, em parceria com a Microsoft, apresentou a Simulation Digital Twin Platform,
que estava no TOP 5 tendências estratégicas para assistir em 2022. Tecnologia que fornece
simulação de gêmeos digitais, de maneira holística e estrategicamente orientada,
aproveitando-se de análises preditivas e prescritivas para compreender e garantir um
futuro robusto, resiliente e sustentável para a empresa que desfrutar dessa tecnologia. Esse
gêmeo digital permite simular uma evolução dinâmica da indústria, efeitos em cascata de
processos e análises de risco. Permite testar cenários ilimitados que incorporam
interrupções, antecipando todas as situações possíveis, permitindo planejar o futuro e
ações para sanar problemas que acontecer. No site da empresa é possível adquirir uma
versão demo dessa tecnologia.

Figura 84 - Simulação Cosmo Tech.

No Fórum, com a palestra intitulada “Digital material twin – material modeling, simulation,
engineering, and conformity”, o palestrante Torsten Runge abordou o software Simcenter,
um gêmeo digital desenvolvido pela Siemens. Runge enfatizou que os departamentos de
engenharia da atualidade precisam desenvolver produtos inteligentes que integrem
funções mecânicas e eletrônicas a controles, além de utilizar novos materiais e métodos de
manufatura. Nesse cenário, o software permite acompanhar um processo mais preditivo do
desenvolvimento de produtos conduzidos por sistemas, utilizando simulação de sistema,
94

CAE 3D e testes para ajudar o cliente a prever o desempenho de todas as etapas essenciais
com antecedência e ao longo de todo o ciclo de vida do produto. A Siemens, em entrevista
concedida na Hannover Messe 2022, ainda destaca que 80% do impacto ambiental de um
produto é determinado na fase de projeto; assim, usar o Simcenter no início do
desenvolvimento de um produto, e com frequência, é altamente valioso do ponto de vista
de sustentabilidade. Com esse software, os clientes podem impulsionar a inovação para
produtos mais eficientes em energia e recursos, reduzir número de protótipos, prolongar a
vida útil e otimizar o desempenho do produto, equilibrando o impacto ambiental de
produção.

Figura 85 – Áreas abrangidas pelo Simcenter.

A maioria das plantas na indústria de processo tem dados massivos, dos quais podemos
extrair insights de diferentes maneiras que ajudariam a otimizar processos e melhorar o
desempenho operacional, a segurança e a qualidade de um produto. Assim, o PlantSight
apresentado pela Siemens é um gêmeo digital disponibilizado por meio de um portal da
web. O software permite cruzar informações dentro dos processos durante todo o ciclo de
vida da planta, criando um ponto de partida para simulações, otimizações, expansões e
novos planejamentos, buscando principalmente eficiência e redução dos custos de
produção. A tecnologia já está disponível no mercado e, além do aspecto preditivo,
apresenta análises de demanda e manutenção, controle do processo e economia de
recursos, que é alcançada a partir do uso de algoritmos para otimização online. O feedback
do mundo real para o virtual permite o cálculo dos dados de utilização e eficácia, e, por meio
de inteligência artificial integrada à máquina, tecnologias de aprendizagem na simulação
da planta virtual podem direcionar decisões para futuras modificações da planta ou
operação permitindo que todas as verificações sejam realizadas com antecedência,
reduzindo, assim, o número de imprevistos que poderiam ocorrer nessa ação.
95

Figura 86 – Conceito de escalonamento do PlantSight.

O Instituto Fraunhofer IWU, pensando na indústria de hidrogênio, apresentou o Reference-


factory.H2, que é um sistema de produção baseado em componentes físicos e virtuais.
Trata-se de um gêmeo digital usado para criar um design de referência e novas soluções
em tecnologia, enquanto os existentes são otimizados. De acordo com a Dra. Ulrike Beyer,
chefe da força-tarefa de hidrogênio na Fraunhofer IWU e coordenadora do projeto, essa
tecnologia surge para criar uma cadeia de valor altamente eficaz para sistemas de
hidrogênio, fornecendo uma visão global de todo o processo e novas oportunidades
econômicas. As imagens virtuais oferecem aos pesquisadores a possibilidade de simular a
rede de novos processos e sistemas de produção e de verificá-los e compará-los
detalhadamente no computador, selecionando, assim, os materiais, as ferramentas e os
sistemas adequados para alcançar uma produção eficaz. Como resultado, relações gerais
podem ser claramente exibidas assim como cadeias de processo completas, sendo possível
avaliar o custo incorrido na produção de sistemas de hidrogênio. A expectativa do instituto
é que esse serviço possa ser oferecido para a indústria alemã a partir do terceiro trimestre
de 2022.
96

Figura 87 – Esquema de uma planta Reference-factory.H2.

Comentário dos especialistas


O conceito de internet das coisas (IoT) nasceu no final da década de 1990, com o trabalho
de K. Ashton, mas só agora começamos a verificar de maneira prática a sua utilização, sendo
uma das tecnologias habilitadoras da chamada indústria 4.0. Os gêmeos digitais são uma
combinação de modelagem 3D, computação gráfica, IoT, inteligência artificial e realidade
virtual. Seus benefícios vão muito além de um sistema de observação e controle em tempo
real. Começa-se a notar um estreitamento entre a fronteira do mundo digital e do real, em
que ao se realizar uma ação em uma das realidades, a outra é instantaneamente alterada.
O grande benefício de se ter um gêmeo digital está na capacidade de realizar experimentos
e simulações e adaptar processos sem interferir na produção. Isso representa ganhos na
produção e melhoria na competitividade.

Eduardo Pereira

Considerando as tecnologias citadas, é possível concluir que os gêmeos digitais fornecem


informações confiáveis e específicas ao usuário e à situação. Permitem a tomada de
decisões baseada em dados concretos, reduzindo riscos, erros e custos. Também são
capazes de aumentar a eficiência dos processos produtivos e otimizar os protocolos de
manufatura. Corroborando com a sustentabilidade dos processos produtivos, também
conseguem apontar soluções para o reaproveitamento de resíduos decorrentes da emissão
de CO2. Por exemplo, no caso do setor sucroenergético, presente principalmente no interior
do estado de São Paulo, a tecnologia de caldeira EA-SAS apresentada pela Energy Advice
indica uma redução do consumo de biomassa (bagaço) em 10%. Quando pensamos que o
consumo de biomassa em algumas usinas pode estar dividido em combustível para
caldeira e produção de etanol de segunda geração, essa economia de 10% pode causar um
impacto significativo, aumentando o rendimento de produção em ambas as situações.
Erica Almeida
97

INDÚSTRIA 4.0
“A indústria conectada também esteve na Hannover Messe. Fluxos operacionais
inteiros estão sendo transformados. Flexibilidade de produção e logística
individualizada são pré-requisitos para se manter competitivo.”

TRL 7-9

As empresas reconhecem a indústria 4.0 como


prioridade estratégica para melhorar
resultados e aumentar sua produtividade,
receitas e lucratividade. Mas, para possibilitar a
aplicação desse conceito uma série de
tecnologias habilitadoras devem ser
implementadas. Entre elas: inteligência
artificial, computação em nuvem, manufatura
aditiva, digitalização, entre outros.

Trata-se da quarta revolução industrial, em


que as empresas estão buscando ter tanto
uma produção otimizada, pautada na
automação e na manufatura enxuta, quanto prospectando a digitalização de seus
processos. Esse conceito se baseia em tecnologias portadoras de futuro, causando
impactos desde o chão de fábrica até os modelos de negócios, que passam a ser inovadores
e catalisados pelo contexto de digitalização de bens, ativos e informações.

A empresa Shining 3D trouxe cases de uso de scanners 3D portáteis, fixos ou móveis. O


modelo Einscan H possui fonte de luz com estrutura híbrida, ou seja, integra luz estruturada
de LED e luz infravermelha, invisível aos olhos, em um único dispositivo. Essa tecnologia
facilita a digitalização de objetos escuros e proporciona digitalizar rostos de maneira segura
e confortável.

Sua predefinição inteligente e avançada com diferentes modos de digitalização permite


ampla gama de aplicações. Além disso, o software atrelado ao scanner tem fácil usabilidade
e é capaz de fazer o pós-processamento do modelo 3D em tempo real, no qual é possível
"fatiar" a peça em trechos, espelhá-la, analisar o estrutural do modelo escaneado, entre
outras funcionalidades que trazem ganhos e dinamismo ao processo de modelagem 3D.
98

Figura 88 – Scanner 3D portátil híbrido, com LED e Infravermelho – Eiscan H.

Figura 89 – Ilustração do uso do Eiscan H e do resultado obtido.

A Röhm trouxe cases de dispositivos de fixação inteligentes e conectados, esses dispositivos


foram inspirados em conceitos da natureza, como uma leoa segurando seu filhote pelo
pescoço, e são utilizados em processos de metalmecânica como usinagem, tornearia, entre
outros. O dispositivo iJaw (a palavra “Jaw” significa “maxilar”) apresenta conectividade
nativa no formato IO-Link e atua como um sensor IoT, responsável pela convergência de
dados em nuvem.

É um sistema tátil de clamping, com inteligência embarcada para realizar predição de


manutenção, reparos e lubrificação, automação de travamento, testagem de qualidade, e
memória para a guarda de relatórios, documentos e dados históricos. Percebe-se a
tendência de dispositivos de fixação, travamento e sensoriamento terem conectividade
nativa, para que os dados coletados pelos elementos finais de controle sejam analisados em
tempo real.
99

Figura 90 – iJaw, dispositivo de fixação com sensor integrado.

Dentre os casos apresentados, a empresa Pozyx oferece um sistema de localização em


tempo real (real-time location system ou RTLS) para ativos internos e externos. Esse
produto consiste em um dispositivo pequeno e leve, com bateria embutida, utilizado para
o posicionamento preciso de pessoas, veículos, pedidos e qualquer ativo no qual se deseje
melhorar a eficiência operacional, aumentar a produtividade e o desempenho do fluxo de
trabalho.

O dispositivo utilizado para a rastreabilidade e geoposicionamento interno e/ou externo


entrega informações confiáveis e assertivas de posicionamento, combinando bateria de
longa duração com flexibilidade de implementação em processos.

Essa nova plataforma é baseada em omlox hub, em que os dados de localização de UWB
(Ultra WideBand), 5G, RFID, WiFi, Bluetooth e GPS convergem para fornecer operação em
tempo real independentemente da tecnologia e do fabricante.

Os casos de uso do Pozyx visam trazer visibilidade e insights valiosos para os clientes, no
âmbito de WIP (trabalho em progresso), quanto à eficiência da força do trabalho, à cadeia
de suprimentos e à utilização de espaço da empresa, além de facilitar o controle de estoque,
manter o controle de embalagens, ferramentas críticas e, com isso, os custos de ativos
perdidos são reduzidos.
100

Figura 91 – Controle de produção: processos e insights em tempo real por meio do RTLS – Pozyx.

Figura 92 – Pozyx RTLS: exemplo de utilização do dispositivo de rastreabilidade e


geoposicionamento.

O Instituto Fraunhofer trouxe uma discussão interessante acerca do uso de metamateriais


vibroacústicos para otimização de portas de veículos autônomos. Basicamente, dentro das
portas dos carros são inseridos “beam-type resonators” ou vigas metálicas em formato de
chapas, com ranhuras na superfície, a fim de que atenuem os efeitos da vibração e a
incidência de sons externos no interior do veículo.

Atenuar ou isolar ruídos externos ao veículo é um retrato das linhas de pesquisas industriais
voltadas para carros autônomos, com foco na maximização do conforto do passageiro no
interior do veículo.
101

A discussão acerca do motorista não precisar estar ciente das condições de direção do
veículo traz o seguinte debate: Se um carro autônomo falhar, atropelar e matar uma pessoa,
quem é o responsável pelo delito? Atualmente, existem seis níveis de maturidade para
veículos, em que se considera o nível mais baixo um veículo sem qualquer automação e o
nível mais alto é a automação total. Para os veículos de maturidades de 3 a 5, o motorista
está isento de qualquer responsabilidade na condução do veículo.

Nesses casos, discute-se a responsabilidade quanto ao crime, cuja tendência é recair sobre
a manufatureira mecânica do veículo e/ou das empresas fornecedoras de inteligência
artificial e sensoriamento IoT para o funcionamento autônomo do automóvel. Políticas
públicas estão sendo debatidas na Alemanha e em outros países da Europa acerca dessas
questões que deverão moldar o futuro da mobilidade urbana.

Figura 93 – Metamateriais vibroacústicos: beam-type resonators ou vigas metálicas em formato de


chapas, com ranhuras na superfície.

A Cisco apresentou a solução Meraki Smart Cameras, que consiste em câmeras de alta
resolução com inteligência artificial embutida, as quais podem ser instaladas no chão de
fábrica para que se realize o monitoramento ativo de todo o fluxo de valor da indústria.

As câmeras admitem não somente o monitoramento físico para segurança do ambiente,


mas também a coleta e os tratamentos de dados ativos que permitem a habilitação da
inteligência de negócios (BIs). Entre os principais recursos dessa solução, destacam-se: a
detecção inteligente de movimentos e a inteligência artificial por aprendizado de máquinas
aplicada para a identificação de objetos.
102

As tecnologias embarcadas no produto permitem realizar uma análise avançada por meio
da visão computacional e da aprendizagem de máquina, de maneira mais acessível e
econômica. Entre as aplicações, podem ser utilizadas para detectar, classificar e rastrear
objetos e pessoas dentro de um determinado espaço. Assim, obtém-se desde insights sobre
o tráfego de pedestres no escritório até padrões de comportamento de clientes; todas as
informações são visíveis no painel sem a necessidade de um software especial ou hardware
dedicado.
Ademais, o produto possibilita a obtenção do mapa de calor de movimento, fornecendo
uma visão geral do movimento relativo a cada hora ou dia ou da movimentação ocorrida
em determinada área, evidenciando tendências gerais de movimento. Essa tecnologia tem
um elevado potencial, pois se apresenta como o próximo nível de evolução das câmeras
comuns de segurança.

Figura 94 – Meraki MV: resultado do mapa de calor de movimento feito pela câmera.

Figura 95 – Meraki MV: câmera em operação.


103

A CtrlX World é um ecossistema de solução de indústria 4.0 que mais se aproxima de um


produto que fornece todos os blocos de construção para soluções completas. A ideia é unir
soluções proprietárias com soluções de outros parceiros.

O sistema de automação do CtrlX Automation supera os limites clássicos entre os controles


de máquinas, a TI e a internet das coisas. Devido à integração desses sistemas, os custos de
componentes e engenharia são reduzidos de 30 a 40% e é fornecido um sistema modular,
escalável e que cobre os requisitos de quase todas as aplicações.
Dentro dessa plataforma, os usuários podem usar aplicativos da Bosh Rexroth, de
fornecedores terceirizados ou aplicativos próprios. Esses aplicativos podem ser baixados de
maneira intuitiva na CtrlX Store para a utilização.

Figura 96 – Ecossistema ctrlX World.

Comentário dos especialistas


“O tema indústria 4.0 abordado na Hannover Messe em 2022 buscou enfatizar o fator
padronização que engloba protocolos de transmissão de dados e integração entre
máquinas, dispositivos, equipamentos, entre outros. A tendência é que a padronização deva
ser mantida independentemente de marcas e fabricantes.

Essa padronização é importante porque muitos insights e informações podem se perder


no chão de fábrica pela ausência de conectividade; em contrapartida, uma integração
malsucedida é como uma tradução ineficiente de uma conversa em dois idiomas, que trará
enormes perdas de contexto e traduções literais sem sentido. Destaca-se que um
profissional que permeie o fluxo de informações de TO (tecnologia operacional) será, sem
dúvidas, valorizado e requisitado, pois será capaz de solucionar diversos problemas latentes
na indústria no âmbito de integração e convergência.
104

Em edições anteriores da Hannover Messe, as empresas trouxeram informações e


discussões sobre o que seria indústria 4.0, afinal o tema é muito amplo. Nessa feira, o foco
esteve em soluções especificas dos pilares que compõem o conceito (robótica autônoma,
integração vertical, gêmeo digital, realidade aumentada etc.) e pouco foi tratado acerca do
significado do termo como um todo. Atualmente, uma empresa não aplica ou vende o
produto “indústria 4.0”, e sim produtos e serviços como alicerces para o tema 4.0.”

Victor Bernardes

“A indústria brasileira tem potencial para integrar as soluções de indústria 4.0 apresentadas
na Hannover Messe e, por meio da aplicação delas, trazer benefícios e alavancar esse setor.
Indo além de aplicações esporádicas da automação simples e pura, softwares de
monitoramentos, entre outros, mas unindo as tecnologias habilitadoras com o intuito de
atingir uma consolidação desse tema no Brasil.

Para isso, é necessário investir tanto em máquinas e equipamentos quanto em consultores


qualificados para disseminar o conceito e implementar projetos com tais tecnologias.”

Eduardo Henrique Santos da Silva


105

MANUTENÇÃO PREDITIVA

“Antigamente, uma planta de produção tinha que quebrar antes que pudesse ser
reparada. Os sistemas inteligentes atuais reconhecem as falhas antes que elas
apareçam. A manutenção preditiva pode gerar enormes economias de custo e abrir
caminho para novos modelos de negócio.”

TRL 8-9

A manutenção preditiva é uma metodologia


de manutenção associada a um caráter
preventivo e antecipado de todo o aparato
físico utilizado nas indústrias. A aplicação
desse tipo de manutenção permite uma
vantagem econômica global, pois o tempo de
parada de máquina em produção diminui e,
consequentemente, os prazos de entregas dos
clientes são respeitados. Além disso, existe um
planejamento para a compra de componentes
que tornam as entregas da fábrica mais
assertivas e flexíveis. Desse modo, podemos ver a importância que esse tema tem dentro
de uma empresa. Porém, há um ponto importante: para utilizar esse tipo de modalidade,
faz-se necessária uma fábrica minimamente digitalizada.

Na indústria 4.0, a manutenção preditiva pode alcançar níveis elevados de assertividade,


pois a quantidade de informações e o uso de inteligência artificial permitem que os
componentes/máquinas sejam utilizados em sua capacidade máxima com risco de quebra
diminuto.

A aplicação de inteligência artificial em nuvem utilizará algoritmos que trarão resultados


estratégicos de predição das condições de operação, além de proposições de ciclos de
manutenção otimizados, maximizando custos e atribuição de mão de obra. Esse formato
de tratamento de dados disponíveis em tempo real traz ao planejamento e controle da
manutenção a inteligência necessária para a manutenção proativa.

Para aplicar a manutenção preditiva em uma fábrica, faz-se necessário itens como:
digitalização dos estados dos componentes de máquinas, totens para apontamentos gerais
por parte dos colaboradores, infraestrutura de rede robusta para o envio de informações,
servidor para instalação de softwares, entre outros.

Na Hannover Messe, de maneira geral, as empresas focaram em criar soluções capazes de


trabalhar sem exigir os níveis prévios de digitalização comentados anteriormente. Isso
ocorre devido à utilização de sensores capazes de extrair diversos tipos de informação para
um servidor em nuvem por meio de um software com toda inteligência e capacidade de
processamento necessárias.
106

A empresa AiSight trouxe uma completa solução para a manutenção preditiva. Seus
produtos são constituídos por encapsulamento (sensor de vibração, temperatura,
humidade e corrente elétrica), gateway/concentrador e plataforma em nuvem. Os
equipamentos não exigem infraestrutura prévia, pois o encapsulado se comunica
diretamente com o concentrador dotado de acesso à internet. Isso permite o envio dos
dados para a plataforma em nuvem.

A plataforma dispõe de algoritmo de machine learning capaz de enviar alertas sobre


eventos inesperados, além de abrir roteiros de manutenção quando for identificado que
determinado item precisa de reparo e/ou substituição.

Com essa ferramenta não há pré-requisitos, é tudo plug and play. De acordo com a
empresa, o sensor é instalado em 3 minutos; em um dia, os algoritmos de machine learning
se adaptam e se ajustam às condições dos sensores; em dois dias, os primeiros feedbacks
começam a chegar da plataforma e, em 3 meses (média), tem-se o retorno do investimento.

Figura 97 – Produto AION – AiSight.

A Treon – Sulzer apresentou sensores que medem vibração, temperatura, índice de


qualidade do ar, umidade, luz ambiente, pressão barométrica e aceleração. São sensores de
baixo custo de instalação e manutenção, com tecnologia wireless e que atuam em rede de
malha inteligente, a qual permite o monitoramento de ambientes e máquinas em escala.

Por exemplo, tem-se o Treon Industrial Node 6, que é um sensor de vibração sem fio,
econômico e fácil de implantar. Ele mede a vibração triaxial e a temperatura da superfície
de equipamentos rotativos, como bombas, motores e compressores.
107

Figura 98 - Treon Industrial Node 6, sensor de vibração.

Os sensores fornecem os dados para uma plataforma que armazena as informações. Caso
ocorram leituras dos dados fora do padrão, como vibração e temperatura, os softwares
geram alarmes devido à ocorrência dessas anomalias. Esses são sinais precoces de falha da
máquina devido ao desequilíbrio de componentes, desalinhamento, desgaste ou uso
inadequado do equipamento.

Sensores cabeados geralmente têm altos custos de instalação e manutenção de


infraestrutura. Isso faz com que os sensores sem fio se tornem uma solução mais econômica
para o monitoramento das máquinas de uma indústria. Por ter comunicação em rede, sem
fio, o dado chega pronto para ser armazenado, pois não há interferências ou perdas de
sinais ao longo do cabo.

A SoftGate traz soluções de hardware e software para manutenção preditiva. Os dispositivos


apresentados são capazes de coletar dados, registrar e processar as informações. Esses
dados arquivados são traduzidos para um estado de saúde da máquina com auxílio de
analytics e aprendizado de máquina. O software já tem exportação e integração com os
principais sistemas ERPs e MES do mercado.

Dentre os produtos com maior destaque da SoftGate, a plataforma de software escalável


SOMA é uma ótima opção para as empresas que desejam preparar um processo produtivo
para o futuro. Esse sistema fornece uma solução para quase todos os objetivos de
digitalização que as empresas desejam alcançar.
A plataforma SOMA pode coletar, processar, armazenar, preparar e visualizar dados de uma
ampla variedade de fontes. Devido ao sistema modular, as quatro etapas anteriores do
processo podem ser usadas de maneira independente umas das outras. O SOMA traz
alguns benefícios, entre eles: fácil integração entre as interfaces, alta compatibilidade com
muitos sistemas, fácil extensão e suporte de projeto.
108

Figura 99 – Exemplo da interface da plataforma SOMA – SoftGate.

A Igus tem se destacado no uso de materiais plásticos inteligentes e leves, dedicados para
a manutenção preditiva por meio do monitoramento de condições. Dentro desse contexto,
a empresa oferece soluções inteligentes que proporcionam integração rápida com
segurança máxima, além de manutenção preditiva para as indústrias que desejam se
conectar à internet das coisas (IoT).
A linha iSense permite que os usuários monitorem os cabos chainflex em relação às forças
de tração, qualidade do cabo e taxa de transmissão de dados. Além disso, é possível
monitorar as condições de trabalho de plug-ins.

Tudo isso possibilita a inteligência em retrofits de máquinas, além de paradas inesperadas


com incidência de manutenção corretiva. Esse dispositivo é conectado fisicamente na linha
de cabeamento, coletando dados e transmitindo-os via USB para o módulo anexo,
possibilitando o tratamento.
109

Figura 100 – Cabos chainflex – Igus.

A empresa iQunet propõe o uso de sensores iQunet para o monitoramento de condições


de máquina sem fio, ativados por intervalo programável pelo operador ou por acionamento
físico configurável por gráficos, API ou protocolo de comunicação de dados OPC UA. Os
sensores wireless poderão medir temperatura, vibração, nível de CO2, rotação, umidade,
inclinação, proximidade, movimento, atuar como contadores de proximidade com alcance
de 50 metros e protocolos de economia de bateria.
A empresa sugere um arranjo contendo os sensores wireless conectados a repetidores ou
atuadores, e estes conectados a um servidor iQunet para gerenciamento e armazenamento
local, com OPC UA embarcado. Ou seja, a plataforma iQunet-CloudLink atua no formato
DBaaS (base de dados como um serviço) com esse banco de dados espelhado localmente
em um servidor Edge iQunet, os quais receberão os dados monitorados pelos sensores.

Essa plataforma permite escalabilidade e interoperabilidade entre plataformas, visando ao


tratamento de dados para a extração de relatórios e tomadas de decisões para
planejamento e controle da manutenção industrial. A plataforma conta com dashboards
para visualização em navegadores web e pode extrair dados de maneira simples para Excel.
110

Figura 101 – Stand de apresentação da iQunet na Hannover Messe 2022.

A empresa Sensata Technologies Holland apresenta cases de manutenção preditiva para


equipamentos rotativos, visando à maximização do tempo produtivo e vida útil dos ativos.
A ampla oferta da empresa facilita líderes de transformação digital, engenheiros de
automação e gerentes de fábrica a implementar conectividade escalável e econômica em
seus equipamentos.

As redes sem fio eliminam os custos de instalação e manutenção associados a sistemas


com fio para o monitoramento contínuo de ativos. A amplitude e a capacidade de
configuração dos dispositivos do sistema, que incluem sensores de pressão e temperatura
sem fio, gateways, receptores e transmissores, proporcionam escalabilidade e
adaptabilidade para trabalhar em uma variedade de aplicações industriais.

A empresa mostrou que, anualmente, manutenções não planejadas custam cerca de 2,3
milhões de dólares para as indústrias. Para solucionar essa questão, a Sensata Technologies
traz o sensor IQ Solution para equipamentos rotativos, que consiste em um sensor
multimodal com analytics via nuvem local, embarcado para a caracterização de falhas com
95% de assertividade. Um sensor de simples instalação e comissionamento no processo e
de fácil setup via celular, com uma plataforma web embutida para análise de dados,
gráficos informativos, extração de relatórios e inteligência de manutenção.
111

Figura 102 – Sensata – produto IQ Solution para equipamentos rotativos.

Os produtos CoreTigo fornecem para a indústria soluções de comunicação sem fio IO-Link
de alto desempenho e permitem projeto e retrofit de máquinas e linhas de produção que
antes não eram possíveis. Essas soluções aumentam a flexibilidade, a adaptabilidade e a
modularidade, resultando em economia, maior produtividade e redução do tempo de
inatividade.

O case da empresa baseia-se em sensores com conectividade nativa em formato IO-Link


sem fio, como o produto TigoBridge, que consiste em um sensor de vibração e temperatura
a ser aplicado em máquinas a serem reparadas e alvo de restaurações de sistema. Ele
conecta-se a um módulo chamado TigoMaster, que extrai dados do sensor em tempo real
de forma wireless, que também extrai dados de controladores lógicos programáveis (CLP)
dos sistemas para envio para nuvem e/ou IIoT, com compatibilidade de transmissão de
dados por protocolos de comunicação e envio de dados nos formatos MQTT e/ou OPC UA.

Figura 103 – TigoBridge, da empresa CoreTigo.


112

Comentário dos especialistas


“As soluções de manutenção preditiva reduzem custos para empresa, pois identificam e
eliminam os pontos fracos antes que ocorram danos maiores à máquina. As soluções
fornecem confiança aos clientes, pois evitam tempos de inatividade, economizam recursos
e realizam manutenções somente quando necessário. Por meio dessas tecnologias, os
setores de transformação são os mais beneficiados. As soluções apresentadas na Hannover
Messe têm uma alta empregabilidade, visto que não necessitam de requisitos que
inviabilizam esse tipo de projeto, como alterações na infraestrutura das empresas. Essa é
uma área que poucos institutos desenvolvem atividades de consultoria e existe uma
grande demanda por parte das empresas.”

Eduardo Henrique Santos da Silva

“Entre tantas tecnologias e temas visualizados, o conceito por trás da manutenção preditiva
mostra-se totalmente aderente à indústria brasileira devido ao setor industrial necessitar
de constantes manutenções em máquinas e equipamentos. Atuando na ponta, é possível
observar que as empresas apresentam passividade em empregar manutenções e as fazem
utilizando métodos corretivos ou, em casos avançados, por meio de uma manutenção
preventiva com poucos critérios e de maneira repetitiva.

Atualmente, muitas empresas têm máquinas e equipamentos que não contam com
conectividade nativa ou possibilidade de operação com extração de dados para inteligência
e tomada de decisões. Para atingir esse patamar, as empresas necessitam de estratégias
de retrofits no âmbito de sensorização nos padrões para comunicação, com sistemas de
inteligência embarcada para a predição algorítmica de manutenção. Habilitar
conectividade em equipamentos manifesta-se como uma oportunidade de agregar valor,
trazendo benefícios, como:

• redução de custos oriundos de compras de peças e itens de manutenções corretivas;

• aumento de performance produtiva vinculada a maiores índices de disponibilidade de


máquinas;

• tecnologia acessível em nível técnico para capacitações e instruções de trabalho;

• soluções de relativa simplicidade e eficiência.

Plataformas em nuvem contendo algoritmos de inteligência artificial para predição de


manutenção, conectadas a sensores IoT com conectividade nativa, mostram-se como
soluções eficazes, acessíveis ao público industrial em geral, com diversos fabricantes e
soluções disponíveis. Os resultados trazem ganhos contundentes no contexto de
planejamento e execução de uma manutenção inteligente.”

Victor Bernardes
113

5G INDUSTRIAL

“A tecnologia Long Term Evolution (LTE) ainda tem margem de crescimento, mas seu
sucessor já está esperando nos bastidores. O padrão de comunicação sem fio 5G deve
ter melhor desempenho e abrir novas possibilidades para a indústria.”

TRL 7-9

A tecnologia 5G se apresenta como


ferramenta habilitadora das tecnologias da
indústria 4.0, trazendo mais rapidez,
estabilidade e confiabilidade na transmissão
de dados entre dispositivos industriais e não
industriais. Há 3 anos, discutíamos em casos
teóricos as possibilidades e os impactos que o
5G proporcionaria na indústria. Nos últimos 2
anos, no entanto, presenciamos o
comissionamento das primeiras redes fora de
laboratórios, denominadas bolhas 5G, em
diversos setores, em grande parte sendo
realizadas de maneira experimental, como provas de conceito e com equipamentos
protótipos. Este ano, a tecnologia 5G recebeu um destaque especial, em que pela primeira
vez o teórico e o protótipo se tornaram produto e diversos casos de utilização em produção
foram apresentados.

Em 2022, Hannover abrigou o maior centro de exposições 5G da Europa. O centro de


exposições ofereceu uma rede 5G privada no campus possibilitando aos expositores sua
utilização para testar e demostrar suas aplicações. Além disso, os visitantes tiveram
excelente cobertura da rede pública 5G no local.

Em estreita parceria com a Deutsche Telekom, a organização do evento transformou


gradualmente o recinto de exposições em um campus de inovação multifuncional. A
arquitetura de rede instalada está garantindo cobertura 5G de alto desempenho em uma
área total de mais de 1,4 milhão de metros quadrados. O objetivo é criar um campo de teste
globalmente exclusivo para aplicativos 5G em que os líderes de tecnologia de diferentes
setores consigam utilizar.

A T-Systems apresentou um caso de uso em que uma empilhadeira de condução


autônoma encontrava autonomamente os paletes em um armazém e os deslocava para a
rampa de carregamento. Ao mesmo tempo, a empilhadeira monitorava os níveis de
estoque e fornecia informações oportunas para um supervisório na nuvem. O equipamento
e suas atividades autônomas eram controlados por um computador de borda (edge) no
equipamento local, enquanto a comunicação com o software de gestão hospedado em
nuvem era realizada via 5G.
114

Figura 104 – Empilhadeira autônoma com comunicação 5G.

Quanto à comunicação em situações de desastre, sabe-se que equipes de socorro


necessitam de uma boa ferramenta de comunicação. A empresa VITES demonstrou uma
maneira fácil de habilitar a comunicação em ambientes remotos, seja por voz, seja por
vídeo.

A solução conta com um link de internet via satélite para conexão externa e gera, no local
de atuação da equipe, uma rede 5G privada. Utilizando-a, as pessoas no local podem ter
acesso, via seus dispositivos móveis, à internet com baixa latência e alta confiabilidade.

Figura 105 – Vikomobil 2.0, solução de comunicação para ambientes remotos.


115

A empresa Media Broadcast oferece uma solução de energização de rede 5G portátil


tornando possível estabelecer uma rede 5G em questão de minutos. Entre os cases
apresentados, destacaram-se a transmissão de vídeo em alta resolução (UHD) utilizando
câmeras profissionais para transmissão ao vivo de eventos e a transmissão de vídeos de
drones, ambas em baixa latência.

Figura 106 – 5G Blue Box, da Media Broadcast.

Nesse último, além da transmissão de imagens aéreas que poderiam ser integradas a
programas de TV em tempo real, a aplicação possibilita imagens de alta resolução para
manutenção, análise em tempo real de multidões, coordenação de operações de resgate
em caso de desastres, transporte de equipamentos críticos e vitais, entre outros usos.

Escaneie e conecte-se ao seu local favorito. Essa é a proposta da Allianz Arena, um dos
estádios mais modernos do mundo e que no qual a conexão móvel 5G está disponível e
complementa a rede LTE anterior. Essa nova conexão móvel possibilita a transmissão mais
rápida de grandes quantidades de dados quase em tempo real.
Todos os visitantes terão a capacidade de fazer upload de várias fotos ou vídeos sem que a
conexão seja interrompida e possibilita que os torcedores utilizem aplicativos de realidade
aumentada e virtual, como tirar selfies com avatares de jogadores em frente ao estádio ou
controlar jogadores virtuais. Um outro ponto de destaque foi o modelo de conexão
implementado utilizando a tecnologia e-SIM, o chip de celular virtual embutido no celular
que substitui o atual cartão SIM físico.

Para tornar o 5G um sucesso para aplicações industriais, o 5G-ACIA reúne um grupo de 94


empresas interessadas em 5G. Seu objetivo geral é estudar e aplicar o 5G industrial da
melhor maneira possível. Os membros se esforçam em conjunto para garantir que os
interesses particulares do domínio industrial sejam considerados adequadamente na
116

padronização e regulamentação do 5G. Juntos, eles discutem e avaliam aspectos técnicos,


regulatórios e de negócios em relação ao 5G para o domínio industrial.

O Fraunhofer IPT está testando um total de oito cenários de aplicação com sua
infraestrutura de pesquisa 5G, o da cidade de Aachen tem quase um quilômetro quadrado
de tamanho. Os cenários envolvem desde sensores 5G para monitorar e controlar processos
de fabricação altamente complexos até robótica móvel e logística para cadeias de
produção. Com esse conhecimento, pretende-se apoiar as empresas na implementação de
tecnologias com o 5G. Para isso, é oferecida uma consultoria com um total de oito módulos
diferentes
O portfólio oferece a possibilidade de apoiar as empresas durante as fases de planejamento,
implementação e validação.

Figura 107 – Cenários de aplicação para implantação do 5G, pelo Fraunhofer IPT.

Comentário do especialista
“O crescimento da tecnologia 5G em 2022 e 2023 será guiado pela transição dos dispositivos
4G para dispositivos 5G. Isso significa que a adoção do 5G será conduzida por meio do
aparecimento no mercado de dispositivos com conectividade nativa 5G em vez de serviços
que necessitam da tecnologia. Isso ficou evidente com a quantidade de dispositivos,
gateways e roteadores apresentados durante a feira. Os benefícios do 5G em relação ao 4G
e outras redes são visíveis, entretanto, pelo fato das aplicações e casos de uso disponíveis
não exigirem necessariamente a tecnologia 5G, ainda não é viável o investimento para
substituição de hardwares já existentes no chão de fábrica.

Atualmente, existem 10 casos de uso que já foram testados e que devemos nos familiarizar:
streaming de vídeo em tempo real; wearables para conectar trabalhadores; rastreabilidade
de ativos móveis; acionamento remoto de equipamentos; realidade aumentada; realidade
117

virtual; veículos autoguiados; cobots; e aquisição de dados para manutenção preditiva e


para o monitoramento de processos.

Além disso, três setores já possuem grande adoção de redes móveis e com certeza serão os
pioneiros na adoção da tecnologia: setor de mineração, setor portuário e aeroportos.”

Henrique Nogueira
118

MINISTÉRIO ALEMÃO DE EDUCAÇÃO E PESQUISA

“O Ministério fornece financiamento para projetos e instituições de pesquisa com o


objetivo de proporcionar excelência em pesquisa e é responsável por definir diretrizes
para a política educacional no país, embora os estados tenham autonomia para gerir
a própria política educacional.”

O Ministério alemão da educação e pesquisa


trouxe em seu stand diferentes projetos de
universidades, empresas e institutos parceiros,
que tinham como objetivo comum a discussão
do futuro da Alemanha, contemplando
diferentes áreas, como energia, indústria e
tecnologia.

Esses são temas estratégicos para o governo,


que busca investir no desenvolvimento de
tecnologias-chave que fortalecerão a
soberania do país, além de assegurar o
suprimento energético, com foco na
transferência do conhecimento resultante da pesquisa para a aplicação prática.

Durante o evento, a ministra de educação e pesquisa alemã, Bettina Stark-Watzinger


visitou os stands e acompanhou apresentações e pesquisas apresentadas pelos institutos
e empresas. Após a visita, ela discursou brevemente e reafirmou a importância do evento e
das pesquisas apresentadas para um futuro mais sustentável.

Figura 108 – Ministra federal alemã de educação e pesquisa, Bettina Stark-Watzinger, nos
stands da Hannover Messe 2022.
119

O 6G-life, liderado pelas universidades de Munique e Dresden, é um hub de pesquisa criado


para desenvolver projetos para o futuro da comunicação 6G com o foco nas interações entre
humanos e máquinas e o mundo virtual, utilizando tecnologias como redes 5G, inteligência
artificial, realidade virtual, entre outras. O hub visa estimular a indústria e o ecossistema de
startups alemão, por meio do desenvolvimento de demonstradores, impulsionando a
pesquisa e a economia.

Neste hub são discutidos e criados conceitos nos campos de segurança cibernética,
resiliência de sistemas, latência nas comunicações e sustentabilidade, além de desafios
tecnológicos que permeiam essas áreas.

Uma das metas é fomentar o desenvolvimento de 10 startups nos primeiros anos de projeto,
além de envolver pelo menos outras 30 na ação. O projeto também contribuirá para o
desenvolvimento de uma força de trabalho habilitada para o futuro e para a transformação
digital da sociedade.
O demonstrador apresentado na feira é o Hello Robot, projeto resultante do hub de
pesquisa, que consiste em um demonstrador robótico interativo que espelha movimentos
do braço e mãos do usuário, por meio de uma luva com sensores.

Figura 109 – Hello robot: desdobramento do projeto 6G-life.

Além da busca por sensores menores, mais precisos e com maior autonomia, o projeto
também visa expandir a capacidade do sistema no reconhecimento de gestos,
intensificando as interações entre humanos e máquinas.

No contexto de converter a matriz energética alemã para um modelo mais sustentável e


com maior presença de energias renováveis, conforme metas do acordo de Paris, surge o
120

projeto Kopernikus, que tem por objetivo auxiliar a transição energética, desenvolvendo
tecnologias, conceitos e diretrizes que contribuirão para que empresas, indústrias e
sociedade participem ativamente e se adaptem ao modelo energético do futuro.

Um dos principais desafios do projeto é lidar com a flutuação na produção de energia – à


medida que mais fontes renováveis são utilizadas, maior a flutuação, pois elas dependem
de fatores ambientais, como vento ou luminosidade. Assim, o projeto busca alternativas
para evitar possíveis apagões.

Figura 110 – Transição sustentável da matriz energética alemã – Projeto Kopernikus.

As soluções apresentadas e discutidas são complexas, uma vez que envolvem sistemas de
armazenamento e distribuição de energia e produtores residenciais, além de uma coleta
massiva de dados de consumo e produção de todos os agentes conectados à rede elétrica.

O demonstrador apresentado no evento simulava a integração de diferentes tecnologias


de monitoramento energético, balanceamento e adequação da demanda, fontes
energéticas renováveis e eventos adversos, como o impacto da redução da intensidade do
vento. Analisando diferentes cenários, frutos da combinação de cada um dos fatores
simulados, era possível simular soluções para garantir o abastecimento ininterrupto de toda
a cadeia conectada à rede e antever possíveis lacunas.

Alinhado aos conceitos trazidos pela indústria 4.0 e buscando a inovação em modelos de
negócio por meio da tecnologia, surge o projeto Robot as a Service, desenvolvido pela
Objective Partner. Em parceria com a SAP, a empresa desenvolveu uma plataforma para a
administração de ativos industriais (no caso, o robô), monitorando dados de uso, consumo
de energia, localização, tarefas executadas, entre outros parâmetros.
121

O projeto propõe que ativos como o robô sejam fornecidos totalmente configurados e
prontos para uso, cabendo ao usuário final apenas a instalação e utilização, sem a
necessidade de configurações adicionais, programação ou conhecimentos específicos.

Mais do que uma plataforma para monitoramento de ativos, a empresa vai além, o conceito
discutido é a transição para modelos de negócios mais flexíveis e sustentáveis orientados a
serviços, e não mais a produtos. O projeto utiliza o modelo pay-per-use, e abre espaço para
a monetização por tarefa executada, baseada na duração e complexidade da tarefa.
Com um longo caminho a ser percorrido até a disponibilização para o mercado, os autores
do projeto também trazem à tona a discussão de propriedade sob o ativo e
responsabilidade de cada um dos agentes envolvidos no negócio, como fornecedores e
usuários.

Figura 111 – Robot as a Service: novos modelos de negócio.

Comentário dos especialistas

“Um dos pontos que mais chama a atenção é a interação entre governo, empresas e
universidades. A maioria dos projetos era fruto da parceria entre diversas instituições, todos
focados em beneficiar a indústria e sociedade alemã.
122

O entendimento comum da urgência em desenvolver soluções para um futuro mais


sustentável e benéfico a todos faz toda diferença na viabilização e no andamento desses
tipos de projeto. Alguns dos temas apresentados estavam mais orientados à discussão de
conceitos, validação de hipóteses e análises de alternativas, e não em apenas criar
tecnologia.

Investir na pesquisa aplicada parece ser um dos caminhos. O contexto da indústria


brasileira, ainda que com algumas diferenças, é muito semelhante ao alemão, pois
enfrentaremos, cedo ou tarde, os mesmos problemas. As indústrias e instituições devem
avaliar como estão se posicionando frente a essas questões e, mais ainda, como poderão
agir e buscar parceiros a fim de superar os desafios do futuro.”

Bruno Huffenbaecher

“É interessante ver a forma como a Alemanha alavanca seus processos de pesquisa e


desenvolvimento, pois existe uma grande proximidade entre governo, academia e
empresas. A maioria dos projetos era forte em conceitos e buscava validar possibilidades
tecnológicas, existindo um funil de projetos iniciados, porém apenas alguns serão
efetivamente implementados em curto e médio prazos conforme a janela de oportunidade
surgir.

Esse processo de inovação sem dúvida incorre em custos e incertezas maiores, mas é fator
determinante para colocar países na vanguarda do ranking de inovação mundial. Ao
incentivar projetos com conglomerados de empresas e envolvendo um número mínimo de
startups, o governo torna convidativo o empreendedorismo já na universidade e esse
número se reflete claramente ao notar que a Alemanha figura entre os países que mais tem
revelado unicórnios.
Ações para geração de novas tendências tecnológicas e fomento às startups de base
industrial sem dúvida implicam em capital de risco aportado pelos governos nesses
projetos, que arcam com os custos da inovação. Porém, o retorno desse investimento para
o governo alemão vem por outras vias que não apenas tecnológicas. Mas, ao consolidar
startups no mercado, as oportunidades e a empregabilidade no próprio país também são
afetadas, ou seja, o ciclo de inovação torna a economia do país mais forte.
Avaliando o cenário alemão, percebe-se que o Brasil tem criado mecanismos legais e editais
de fomento para que ações similares ocorram; contudo, para que essa ação seja bem-
sucedida, é preciso engajamento dos atores brasileiros e clareza dos objetivos do país como
provedor de tecnologia.”

Túlio Silva
123

MISSÃO SENAI
O Núcleo de Inteligência e Vigilância Tecnológica do SENAI-SP nasceu com o objetivo
monitorar e avaliar as tendências tecnológicas que surgem no Brasil e no mundo. Como
parte dessa estratégia, este ano foi enviada uma comitiva para Alemanha para acompanhar
a feira internacional de Hannover com o propósito de mapear e trazer para o Brasil os
principais destaques do evento e análises de nossos especialistas.

Durante a missão à Alemanha, os agentes de inovação Túlio Oliveira e Bruno Huffenbaecher


do SENAI-SP visitaram instituições referências no ensino e na pesquisa em tecnologia no
país. Na cidade de Darmstadt, os representantes do SENAI-SP foram recebidos, pela manhã,
pelo sr. Felix Geßner, engenheiro-chefe do Instituto de Gestão da Produção, Tecnologia e
Máquinas (PTW) e, no período da tarde, pelo sr. Tim Giese, pesquisador no Instituto de
Processamento de Dados (DiK). Ambos os institutos fazem parte da infraestrutura da
Universidade Técnica de Darmstadt.

(a) (b)
Figura 112 – (a) Universidade Técnica de Darmstadt; (b) Equipe do SENAI-SP em Darmstadt.

Os institutos visitados na cidade de Darmstadt apresentaram soluções e pesquisas


desenvolvidas em parcerias com empresas alemãs, com o propósito alavancar a inovação
tecnológica nas universidades e propor aplicações de baixo custo para empresas de
pequeno porte. Foram discutidas possibilidades de atuação conjunta entre as instituições
e analisadas oportunidades que ambas as instituições vislumbram para fortalecer o parque
industrial.

Nossos representantes também estiveram na cidade de Berlim, onde visitaram o Instituto


Fraunhofer IPK, que tem como especialidade sistemas de produção e tecnologia de design.
A equipe foi recebida pelos pesquisadores Thiago Neves, Gustavo Reis, Kelly Vaver e Marcelo
Prim, executivo de internacionalização do SENAI Nacional.
124

Figura 113 – Visita da equipe do SENAI-SP ao Instituto Fraunhofer em Berlim.

O instituto Fraunhofer e o SENAI são parceiros de longa data e atuam com modelos
similares em seus respectivos institutos de tecnologia e inovação. Durante a agenda entre
as instituições, foram apresentados projetos de pesquisa em desenvolvimento e discutidas
propostas de atuação conjunta em projetos de internacionalização, com o propósito de
colaborar com o crescimento e avanços tecnológicos das indústrias brasileiras e alemãs.

Ações como essa fazem parte da estratégia do Núcleo de Inteligência e Vigilância


Tecnológica do SENAI-SP e buscam aproximar a indústria brasileira das principais ações
realizadas pelos ecossistemas de inovação no mundo. Avaliando as melhores práticas que
ocorrem no Brasil e no mundo, o SENAI-SP assume com a indústria o compromisso de
trazer a inovação por meio da educação, da tecnologia e do empreendedorismo.

As missões internacionais também têm o objetivo de fomentar a rede de tecnologia e


inovação do SENAI-SP a partir do conhecimento de novas tendências mundiais e da
avaliação de possíveis parcerias e intercâmbios intermediados por nossos especialistas.

“O SENAI sempre foi reconhecido como uma instituição de vanguarda no país, que se
compromete a formar profissionais para entrar e se reposicionar no mercado. Em um
mundo globalizado, em que as tendências tecnológicas trazem mudanças nas maneiras
com que interagimos com o mundo, a integração de instituições de referência como o
SENAI com outros institutos e órgãos governamentais no mundo é fundamental. Futuro do
trabalho, tendências tecnológicas e melhores práticas de ESG para promover questões de
sustentabilidade e seguridade social compõem o repertório dos temas tratados nessas
reuniões internacionais e que vemos como grandes potenciais para a economia do futuro.”
Tulio Silva
125

“O ponto de destaque durante nossas visitas foi a variedade das temáticas dos projetos
desenvolvidos pelas instituições. De soluções versáteis e de baixo custo para digitalização
até projetos que têm impacto em políticas nacionais de sustentabilidade, o que fica
evidenciado é o foco em prover soluções que fomentem o desenvolvimento industrial, além
da preocupação com o futuro da sociedade alemã.

No mais, vemos que o Brasil e Alemanha apresentam grande potencial de parcerias,


principalmente no que tange às áreas de sustentabilidade e energias renováveis
considerando a relevância e o impacto dos assuntos para ambas as nações.”

Bruno Huffenbaecher
126

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Hannover Messe 2022, este ano realizada pela primeira vez na modalidade híbrida, mostra
o porquê é um evento referência em tecnologia no mundo. Após a pandemia de covid-19 e
o gradual retorno às atividades presenciais, a feira de Hannover mostrou em sua
organização que a combinação de ações virtuais e presenciais será de fato o novo “normal”.
Nas palavras do Dr. Jochen Köckler, CEO da Deutsche Messe AG, “o retorno da Hannover
Messe veio exatamente na hora certa”. O virtual provou que proporciona redução de custos
para muitos processos, melhora a qualidade de vida das pessoas e promove a acessibilidade
a novas oportunidades, como as empresas que buscam profissionais capacitados em outros
países para trabalharem a distância.

Um aspecto notório que permaneceu nesta edição foi a busca das empresas em trazer
soluções compactas com aplicações de inteligência artificial embarcadas em seus
produtos, de modo que os clientes possam utilizar produtos sem a necessidade de terem a
expertise no uso de IA. Essa tendência vem se afirmando a cada edição, tornando essas
tecnologias gradualmente mais acessíveis para empresas de pequeno e médio porte.

Os assuntos abordados e as direções adotadas pelas empresas evidenciam, ainda, o


alinhamento com as ações desenvolvidas pelo SENAI. Temas como a Jornada de
Transformação Digital para a indústria e os conceitos de ESG (meio ambiente, social e
governança corporativa) se fizeram presentes em praticamente todos os painéis.
Outro tema que sem dúvida teve grande destaque no evento foi a busca por fontes de
energia renováveis e nesse aspecto o hidrogênio verde protagonizou o debate. Com os
recentes acontecimentos geopolíticos na Europa e as discussões sobre o aquecimento
global ganhando maior proporção, as exigências para criar uma matriz energética mais
limpa se tornaram prioridade. Notou-se durante o evento diversos debates sobre como
realizar a transição da matriz energética para um modelo mais limpo e como se preparar
para as demandas energéticas que surgirão nas próximas duas décadas com o aumento
da frota de veículos elétricos.

Com exposições em 13 pavilhões, a Hannover de 2022 trouxe muitas soluções e


disponibilizou um pavilhão para startups de setores diversos, onde ocorreram pitchs das
soluções e contou com a participação de investidores que abordaram sobre critérios e
estratégias de investimento em Venture Capital. Ações como esta posicionam o evento de
Hannover não apenas como uma feira de exposições e negócios, mas como um verdadeiro
ecossistema em que se reúnem os principais atores do mercado.

Não obstante as soluções apresentadas, o evento deu espaço a pesquisadores que


apresentaram soluções que provocam o futuro da tecnologia, por exemplo, por meio dos
projetos apresentados pelo Ministério alemão de educação e pesquisa. A união entre
indústrias, startups e centros de pesquisa tem sido ponto fundamental para alavancar a
inovação na indústria.

A Hannover Messe 2023 está prevista para ocorrer entre os dias 17 e 21 de abril, e a Indonésia
será o país parceiro para a próxima edição do evento.

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