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l, ao
O fato de que o hom em não pertence, de modo inquestionáve
afastar,
estado natu ral do mundo, ao contrário do animal, mas dele se
impondo-
confrontando-o, fazendo-lhe exigências, lutando contra ele,
grande
-lhe sua violência e sofrendo sua violência, constitui o primeiro
entre o
dualismo a dar origem a um processo infindável de interacão '
encontra
sujeito e o objeto. Uma segunda instância desse dualismo
ano cria
espaço no interior do próprio espírito humano. O espírito hum
-- -- -- -
inúmeras formas que continuam a existir com peculiar inde_P.en_
çiênci~
o que as
mante dess a mes ma alm a que as criou ou de qualquer outr
religião,
aceite ou rejeite. Assim é que o sujeito vê-;; - diantê da~lei, dà
lido pelo
da tecnologia, da ciência e da moral - ora atraído, ora repe
s formas
conteúdo que lhe é oferecido, às vezes fundindo -se com essa
nciado
como se fossem part e de seu próprio Eu, outras vezes delas dista
momen-
e evitando inte ncio nalm ente o contato com elas. Em outros
aind a, é sob uma form a rígida, coag ulad a, como num a existência
tos
opõ~-se à
congelada, que o espírito, assim transformado em objeto,
d~ si e do
vitalidade fluída, à própria responsabilidade pessoal diant~
etiva. Pelo
mundo, às cambiantes tensões interiores de sua psyche SUbJ
9
, . d tar espírito estreitamente vinculado a si mesmo 1
propno fato e es O . ,e e
. , eras tragédias surgidas desse profundo conflito ent
passa por inum . . . . . re
. entre a vida subjetiva, incessante mas finita no ternp
formas opostas • _ . , . o,
, dos que uma vez criados, sao inamoviveis e permanece
e seus cont eU , rn
indefinidamente válidos.
-------------------------------~~~--------- ~----------
perfeito, algo que já estava pré-formado e constituído nele mesmo,
algo irreal mas de algum modo existente. Não nos referimos a um
ideal ingênuo localizado em a gum ponto do mundo espiritual, mas
ao ser-livre, à liberação das energias potenciais nele existentes, ao
desenvolvimento de seu próprio ser mais profundo que obedece a
uma pulsão formal interior. Assim como a vida - em seu ponto mais
alto de desenvolvimento consciente - contém, de forma imediata,
~ -__ -----------
seu próprio passado como uma parte de seu inorgâni~
__ ,_ na_
- ~ - - - ---- --
o passado
'-
segue vivo
im corno
consciência com seu conteúdo original e não
--
-
apenas como causa mecânica de ulteriores tr~ orm-Ê-~s, do mesmo
-------
modo a vida abarca o próprio futuro de uma forma que não tem qual-
quer analogia com o mundo do inanimado. Em todos os momentos
da existência de um organismo que pode crescer e reproduzir-se,
sua forma futura está nele presente como uma necessidade e uma
pré-moldagem tão profundamente interior que de modo algum pode
ser comparada, por exemplo, ao processo de uma mola tensionada que
em si mesma contém sua subsequente liberação e expansão~
-~~ que é não-vivo possui como seu apenas o instante presente,
0
--s~ r ....vivo
_..,......-~ ____...---, _____ de maneira incomparável por seu assado e
estende-se
seu futuro. Todos os movimentos da alma como a vontade, 0 senso
de dever, â:' vocação, a esperança, são prolongamentos espirituais da
determinação fundamental da vida que é esse fato de conter O futuro
em seu propno, · presente de uma forma específica que so, exis· te no
10
vida. E isso se aplica não apenas ao d .
Processo da- . . ,. s esenvolv1mentos
e realizaçoes parciais do esp1nto: também a personal'd
. 1 adecomoum
todo, e como uma urudade, traz dentro de si uma imag .
em previamente
desenhada com linhas invisíveis, imagem que realizad ...
. . . ' a, perm1tina
à personalidade, por assim dizer, sua realidade plena e n-
ao sua mera
possibilidade. Por mais que o amadurecimen to e O refinamento das
forças do espírito possam consumar-se sob aspectos parciais, em acões
e interesses parciais e, digamos, provinciais, abaixo ou acima d~sse
plano encontra-se a exigência de que a totalidade do espírito como
tal cumpra a promessa nele mesmo contida de tal modo que todos os
aperfeiçoamentos parciais do espírito surjam, com efeito, corno uma
multiplicidade de caminhos pelos quais o espírito chega a si mesmo. se
for o caso de dizê-lo assim, esse é um pré-requisito metafísico de nossa
natureza prática e emocional- por mais que também essa expressão
simbólica mantenha-se a uma ampla distância do comportamento
real, isto é, do fato de que a unidade da alma não é simplesmente
um vínculo formal que permite o desenvolvimento de suas forças
parciais sempre da mesma maneira, mas que, através dessas forç~
parciais, dá-se um desenvolvimento do espírito corno um todo - e
esse desenvolvimento do todo antepõe-se, internamente no espírito,
ao objetivo de um desenvolvimento para o qual todas essas faculda-
des e perfeições parciais surgem como meios para a consecução do
objetivo final.
,J 4
em si mes mo : não pod e per mit ir que exi s~m
. res.
ape nas co ~ va l~
--- --- -
~ 'o bj etif icad os, a ele ext eno
i-
par ado xo da cul tura con sist e em que a vid a sub jeti va, que sent
0
a imp ulsi ona -se rumo
mo s em seu flux o con tínu o e que por si me sm
feiç ão (con side rad a na
à per feiç ão inte rior , não pod e alca nça r ess a per
de si me sma : só a pode
per spe ctiv a da ideia de cult ura ) a par tir ape nas
fica ram com plet ame nte
con seg ui-l a pas san do por aqu elas form as que
had o e autossuficiente.
fora del a e que se cris tali zar am em um tod o fec
,.,_ \
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A cul tura sur ge - e isso é abs olu tam ent
pre ens ão - ao reu nire m-s e os doi s ele me nto
isol ada men
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e cru cial par a a sua com-
s, nen hum dos quais
- çõe s espirituais
-cria
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desses componentes em seu interior mais profund
. . . .
tentativas finitas de resolver uma tarefa infinit 0 e continuam sendo
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. ª·
com os obJetos com os uais nos cultivamos incorp as nossa relação
- - - -,---: - ---:d:---_ __:__
mesmos, e de outra natureza porque eles mes , oran o-os em nós
- . . mo s - ,.
se tornou obJehvado naquelas formas éticas e intesao o esp1nto que
. . __ __ lect •
__ . .
estéticas, religiosas e tecnológicas: o dualismo com ua1s, soc1a1s e
_ - ~ -- -- -: -- -- - - - q
O ua1 ..
e:1cerrado em se~s próprios limites, 02õe-se ~o_o o su1e ito, i
bje ~is ten te por
si mesmo, expenmenta uma conformação singular
- -- - - - - - quando amb
os componentes são, tornam-se espírito. Assim, o os
espírito subjetiv~
deve sair de sua subjetividade, mas não de sua esp
iritualidade, para
experimentar a relação com o objeto através do qua
l seu cultivo ocorre.
Essa é a única maneira pela qual a forma dualista
da existência, que
se define a partir da existência do sujeito, organiz
a-se rumo a um
relacionamento internamente uniforme. É aí que
o sujeito torna-se
objetivo e o objetivo se torna subjetivo, o que cara
cteriza a especifici-
dade do processo cultural no qual, para além dos con
teúdos parciais, ele
exibe sua forma metafísica. Sua compreensão mais
profunda, portanto,
requer uma análise mais detalhada dessa objetiva
ção do espírito.
15
~ b
autonomo. A O ra exter na ou imat erial na. qual merg ulha .
a vida do
,. ,
esp1nto e perceb·da 1
como um valor especial - por mais que a Vida
, ,
. ·nteri or enve rede por um beco sem saida ou seja levada
fluindo em seu 1 , ,
pelas ond as da corre nteza que deix am para tras essas form as imóveis•
. . . . ,
e esse va1or esp ecial cons titui a nque za espe cific amen te hum ana
.
1.e., o
fato de que os prod utos da vida objet iva perte ncem ao mesmo,
temp o a uma orde m objetivada de valores, que não flui, a uma ordem
lógica ou moral, a uma orde m relig iosa ou artís tica, a uma ordem
tecnológica ou jurídica. Ao se reve larem porta dore s de tais valores,
como mem bros de tais séries, esses prod utos da vida objet ivada são,
não apen as libertados de seu rígido isola men to do processo vital, em
virtude do entre laçam ento e siste mati zaçã o de ambo s, como tamb ém
alcançam, ness a mesm a malh a, um signi ficad o a que não poderiam
aspirar dado o carát er irrefreável de sua dinâ mica .
15
ritmos irrequietos do processo sub. t ·
Je ivo de nosso -·
entanto, surge como uma represent _ espinto, no qual, no
. açao,comoum t 'd ..
subjetivo. Mas por pertencer a um d . con eu o esp1ntual
mun o ideal a · d .
. cima ª consc1encia
A •
Na felicidade que o criador sente diante de sua obra, por mais rele-
vante ou menos importante que ela seja, talvez exista uma satisfacão
objetiva, por assim dizer, ao lado da descarga das tensões internas, ao
longo da criação, ao lado da comprovação da força subjetiva, ao lado
da satisfação de ver sua própria expectativa atendida - ao lado de
tudo isso continua existindo, por assim dizer, uma satisfação objetiva
pelo fato de que o cosmo das coisas com valor tornou-se mais rico
com essa parte a ele agora agregada. Sim, talvez não exista um prazer
pessoal sentido de modo mais sublime com nossa própria obra do que
quando a percebemos em sua impessoalidade e em seu distanciamento
de nosso ser subjetivo. E assim como as objetificações do espírito são
valiosas para além dos processos subjetivos da vida que atuaram
como suas causas, também o são para além dos outros processos que
delas dependem como consequência. Por mais que apreciemos os
modos pelos quais a sociedade se organiza e os formatos técnicos dos
fenômenos naturais, das obras de arte e do conhecimento científico
da verdade, dos costumes e da moral, e embora saibamos o quão
influentes são em sua incidência sobre a vida e o desenvolvimento
dos espíritos, apesar de tudo isso muitas vezes, talvez sempre, está
implícito o reconhecimento do que são essas formas em geral e de que
0 mundo também compreende
essa conformação do espírito. Trata-se,
aqui, de uma diretriz de nossos processos de valoração que se detém
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na natureza do dua is
r mo objetivo-esp iritual sem indagar, além d
. e
. .. - essas coisas, a respeito de suas consequência
uão definitivas sao . s
q .. . d do prazer subjetivo fornecido pelo fato de que
espirituais. Ao 1a O a
emplo é percebida como algo que se torna parte de
obra de arte, por ex , .
, . d. er reconhecemo s como um valor especial o fato de
nos, por assim iz , , .
, •t criou esse recipiente de conteudos assim proposto a
que um espin o . .
sobra Assim como pelo menos uma duetnz da vontade
que ch amamo • _ . , . .
artística desemboca na persistencia propna da obra de arte e implica
uma valoração em tudo objetiva do desfrute da força criativa eviden-
ciada por suas energias vitais, do mesmo modo existe uma diretriz
semelhante, de igual orientação, no interior da atitude do receptor
dessa mesma obra.
Se obse rvar mos esse s mov ime ntos sob a ótic a de uma
pola rida de,
veremos, por um lado , uma aval iaçã o que pert enc e ape
nas à vida sub-
jetivamente mot ivad a, na qua l todo sent ido, valor, sign
ificação, são não
apenas gera dos com o nela perm ane cem cont idos . Por
outr o lado, não é
menos com pree nsív el a ênfa se radi cal no valo r que se
torn ou objetivo.
Certamente, esse valo r obje tivo não está vinc ulad o à prod
ução orig inal
das obras de arte , das relig iões, tecn olog ias e con heci men
tos; mas O que
quer que uma pess oa faça, para ser con side rado com o algo
de valo r deve
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t •buir para O universo ideal, histórico e materializado do e .
con n . . _ spirito
- cabe ao imediatismo subjetivo de nosso ser e açao fazê-l o, Inas·
Nao . . .
•ma seu conteúdo objetivament e normalizado e ordenado de zno~·
s1 ,
que no final das contas, apenas essas normas e ordens contenh
, . azn a
substância do valor e a comuniquem aos eventos ~essoais que fluem.
Mesmo a autonomia da vontade moral em Kant nao envolve nenhu
valor próprio em sua facticidade psicológica, mas a vincula à realizaç:
de uma forma existente na idealidade objetiva. Também o espírito e a
personalidade têm sua significação, para o bem e para o mal, na medida
em que pertencem a um domínio suprapessoal . A cultura formata
sua unidade comparando e contrastando essas avaliações do espírito
subjetivo e objetivo: é que a cultura significa esse tipo de perfeição
individual que só pode ser alcançada por meio da incorporação de uma
forma suprapessoal que de algum modo situa-se fora do sujeito. o valor
específico de ser-culto é inacessível ao sujeito se ele não chegar a esse
valor através de realidades espirituais objetivadas; estas, por sua vez,
são valores culturais apenas na medida em que fornecem o caminho
do espírito que vai de si para si mesmo, um caminho que vai do ponto
que pode ser chamado de seu estado natural ao ponto descrito como
seu estado cultural.
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É possível também expressar a forma do conceito de cultura do
seguinte modo: não há valor cultural que seja apenas valor cultural;
para apresentar-se com esse valor, deve ainda ser um valor numa
série objetiva. No entanto, mesmo quando esse valor existe numa
série objetiva, e ainda que algum interesse ou capacidade de nosso ser
seja por ele estimulado, o valor cultural somente surgirá quando esse
desenvolvimento parcial elevar o Eu-total a um ponto mais próximo
de sua unidade e perfeição. Essa é a única maneira de entender dois
fenômenos negativos da história do espírito e que de algum modo
correspondem -se mutuamente: de um lado, o fato de que ~ s
com O mais profundo interesse cultural geralmente demonstram urna
n~ vFnd!fe~ à pelos conteúdos objetivos parciais da cultura~e
até
_ os · ·t
reJei am, ------=::-
por nao . , _ _
conseguirem~perceber o grau de cont n·buica
.1
0
__,
20
superespecializada que aportam à promo - d
çao as person 11·d
nas (e provavelmente não há qualquer prod t O h ª ades le-
~ u umano
demonstrar tal grau de contribuição embor , . que tenha de
- a, sem duvida ta
exista algum que nao possa demonstrá-lo) D ' mpouco
. e outro lado sur
fenômenos que parecem ser apenas valores cult . ' gern
urais por ostenta
certas formalidades e refinamentos do modo de . rern
viver que pertencem
a épocas maduras e por demais esgotadas. Ali ond .
. e a vida se tornou
estéril e sem sentido, todo desenvolvimento na dire - d .
, , . çao a plenitude
do ser, que e poss1vel .como man1festacão
, da vontade, n~ao passa de urn
esboco· de desenvolvimento e já não é capaz de extrai·r, do conteudo ,
das coisas e ideias, o necessário alimento e estímulo _ como ocorre
com o corpo doente que não mais consegue assimilar a substância dos
alimentos com os quais poderia recuperar suas forças e desenvolver-se.
Neste caso, o desenvolvimento individual apenas pode extrair das
normas sociais a conduta socialmente válida e, das artes, apenas O ✓
desfrute improdutivo, assim como dos avanços tecnológicos somente
0 ado negativo manifestado nas aci 1 a es e como idades propos~
à vida cotidiana. Surge nesse momento uma espécie de cultura formal-
--=;ubjetiva désprovida da trama interna com o elemento objetivo que
atende às exigências do conceito de cultura concreta. Assim é que, por
um lado, manifesta-se uma ênfase tão apaixonadamente centralizada
na cultura que o conteúdo objetivo de seus fatores objetivos torna-se
excessivo e com isso desvia-se de suas metas maiores uma vez que,
como tal, não cabe e não pode caber em sua função cultural. E, por outro
lado, manifesta-se também um tal enfraquecimento e esvaziamento
da cultura que ela não consegue absorver os fatores objetivos em sua
qualidade própria de conteúdos objetivos. Ambos fenômenos - que
surgem à primeira vista como contrapostos à vinculação da cultura
pessoal com os eventos impessoais - confirmam a necessidade de um
estudo mais preciso dessa relação.
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er desfeita para de certo modo ressuscitar, no processo de cultivo dos
:ndivíduos, de uma forma inteiramente diferente, uma forma sintética.
É or isso que o interesse pela cultura reside nesses dois movimentos:
0
puro autodesenvolvimento do espírito subjetivo e o puro emergir na
~ri a - não em um nível situado além do impulso axiológico ime-
~te rio r da matéria, mas apegando-se a ela mesma corno algo
sêwndário, abstrato. Assim, mesmo quando o percurso do espírito em
direção a si mesmo - único fator definidor da cultura - gera outros
fatores, a cultura permanece em ação como puro autodesenvolvimento
do próprio ser, seja como for que esse ser determine-se sob um ponto
de vista objetivo.
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