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COP28: a classe dominante zomba da crise climática – Organização Comunista Internacionalista (Esquerda Marxista) 2024/02/03, 22:24

COP28: a classe dominante zomba


da crise climática
Lubna Badi

A COP28 esteve repleta de ironias desde o primeiro dia, tendo sido


realizada nos Emirados Árabes Unidos, uma importante economia de
petróleo e gás; e liderada pelo Sultão Al Jaber, que é o presidente-
executivo da empresa petrolífera nacional Adnoc. “Isso é uma piada?”,
você pode perguntar perplexo, através do ar cada vez mais contaminado.
Longe de ser motivo de piadas, esta é a melhor oferta da classe
dominante quando se trata de “combater as alterações climáticas”.

Depois de mais um ano de ondas de calor recorde, de condições


climáticas extremas e de incêndios florestais, que custaram a vida de
milhares de pessoas, estamos em uma corrida contra o relógio para
evitarmos um maior aquecimento global e para nos adaptarmos a
condições cada vez mais adversas para garantir a segurança das
pessoas.

Em vez de melhorar as coisas, esta conferência se propôs, por assim


dizer, a lançar mais lenha na fogueira.

Conflito de interesses
A Adnoc é a responsável pelos maiores planos de expansão para acabar
com as emissões líquidas zero de qualquer empresa no mundo, de acordo
com o Guardian. Os investigadores apontaram o quão “ridículo” é para o
CEO Sultan Al Jaber ser presidente da COP28, dado o “conflito de
interesses” bastante óbvio.

Em defesa das suas ações, o Sultão Al Jaber afirmou vergonhosamente

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que “não há ciência” que indique ser necessária uma eliminação


progressiva dos combustíveis fósseis para restringir o aquecimento
global! Acrescentou que “a menos que se queira levar o mundo de volta
às cavernas”, a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis não
permitiria o desenvolvimento sustentável.

Claramente, Al Jaber considerou a conferência simplesmente como uma


oportunidade de negócios. Documentos vazados obtidos pelo Center for
Climate Reporting (CCR) e vistos pelo Guardian, revelaram que, nos
bastidores, a Adnoc conversou com 15 países com quem quer trabalhar
para extrair os seus recursos de petróleo e gás.

Assim, embora sejam feitas as promessas mais ribombantes, a empresa


propôs ajudar a China a avaliar as suas oportunidades de GNL (gás
natural liquefeito); e, em Moçambique, Canadá e Austrália, “está pronta”
para ajudar a desenvolver reservas de petróleo e gás.

50 grandes empresas de petróleo e gás “comprometeram-se” a reduzir as


emissões, mas nem mesmo concordaram em parar a perfuração. E as
principais empresas da produção global de petróleo de grandes
produtores como a China, o Iraque, o Irã e o Qatar sequer se preocuparam
em adicionar os seus nomes.

Promessas vazias e retrocesso


O Financial Times noticiou em 11 de dezembro que qualquer menção à
eliminação progressiva dos combustíveis fósseis foi completamente
retirada do projeto de acordo da COP28. Isto causou tanta indignação que
tiveram de prolongar a conferência até 13 de dezembro.

No final, concordaram sobre uma “transição” dos combustíveis fósseis.


Tentaram retratar isto como um acordo “histórico”, porque
(escandalosamente), nenhuma COP anterior alguma vez mencionou o
abandono do petróleo e do gás! No entanto, os acontecimentos ridículos

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acima descritos significam que podemos encarar este “acordo” com uma
quantidade enorme de ceticismo.

Um artigo da Bloomberg explica que, para estas promessas mínimas se


tornarem realidade, tudo dependerá de “investidores, consumidores e
governos nacionais”. Eles salientam que os compromissos anteriores
foram ignorados e as emissões continuaram a aumentar.

A Arábia Saudita também exerceu forte pressão contra a possibilidade de


concordar com uma “eliminação progressiva” dos combustíveis fósseis,
como relata Bloomberg:

“Quando a COP28 entrou em pleno funcionamento, Bloomberg News


perguntou ao Ministro da Energia do reino se ele ficaria feliz em ver, no
texto, uma redução gradual.

‘Absolutamente não’, ele respondeu.”

“A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) enviou


posteriormente uma carta aos seus membros, pedindo-lhes que
fizessem lobby contra qualquer texto que visasse os combustíveis
fósseis em vez das emissões.”

E assim, a linguagem final foi diluída para refletir essas “preocupações”.

Os cientistas do clima afirmaram repetidamente como é “essencial” parar


de explorar mais reservas de combustíveis fósseis o mais rapidamente
possível. Que não se pode queimá-los com segurança sem causar danos
catastróficos ao meio ambiente. E, no entanto, quando Riad apenas emite
um rosnado, consegue o que quer.

Adaptação?
A COP28 não passou de uma cortina de fumaça. Não podemos ficar
surpresos ao descobrir que a classe dominante coloca os seus próprios

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interesses econômicos nacionais à frente da luta contra as alterações


climáticas. Particularmente em uma época de crise mundial e de
mercados em contração, as suas prioridades residem em fechar acordos
comerciais lucrativos.

Não é nenhuma surpresa que a “adaptação” tenha sido pressionada por


muitos funcionários e ativistas de nações vulneráveis ao clima, uma vez
que se tornou extremamente urgente. Sem um fim à vista para a queima
dos combustíveis fósseis, os países africanos, em particular, precisam
desesperadamente de mais e maiores fundos para desenvolver resiliência
contra o aumento das temperaturas, das secas e das tempestades.

COP28 não tem sido nada além de uma cortina de fumaça / Imagem: Fotografía oficial de la Presidencia de
Colombia, Flickr

Mas também sobre isso não se viu quaisquer compromissos sérios na


conferência.

The Independent conversou com Teresa Anderson, líder global de justiça

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climática na ActionAid International, que chamou a situação de


“incrivelmente frustrante” e acrescentou:

“As negociações não corresponderam à urgência, ao ritmo e ao tipo de


compromissos ambiciosos que precisamos ver. O problema é que o
dinheiro da adaptação não dá aos financiadores um retorno sobre o
investimento [grifo nosso].”

Isso não resume a lógica míope do capitalismo?

Após décadas de cortes e austeridade, os capitalistas não vão investir


dinheiro em infraestruturas que simplesmente não são lucrativas. Não há
planejamento de longo prazo, uma vez que se concentram
exclusivamente nas questões de curto prazo de proteção dos seus
próprios mercados e lucros.

No entanto, à medida que avançam no agravamento destes problemas,


isso apenas torna a adaptação, no futuro, extraordinariamente
dispendiosa.

Farsa
A COP28 certamente desempenhou um papel na exposição em maior
escala da classe dominante. Mas todas as COPs anteriores provaram ser
totalmente inúteis e poderiam ser comparadas a uma representação
teatral.

Nada foi feito para travar as alterações climáticas com urgência e não
devemos ter quaisquer ilusões de que a classe dominante fará o
necessário.

A questão é que não somos impedidos por nada além do regime da


propriedade privada e da motivação do lucro. Possuímos as soluções
tecnológicas para harmonizar a nossa economia com a natureza, mas isso
não pode ser alcançado sob o sistema capitalista com todos os seus
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grilhões.

Isto traz à tona a questão fundamental de classe: não se pode planejar o


que não se controla e não se pode controlar o que não se possui.

Só quando a classe trabalhadora assumir o controle dos postos de


comando da economia, como os grandes bancos, as indústrias e os
grandes monopólios, poderemos planejar a economia no interesse da
maioria da sociedade, em vez de maximizar os lucros para poucos.

Este nível de planejamento e controle é necessário para investir em


infraestruturas que permitam a adaptação aos impactos das alterações
climáticas, bem como para estabelecer as bases para fontes alternativas
de energia baseadas na energia solar, eólica e hídrica.

Naturalmente, isso seria apenas o começo. Mas, ao retirar o lucro da


equação, com base no genuíno controle e gestão dos trabalhadores,
podemos libertar o potencial de toda a engenhosidade e experiência da
humanidade.

É por isso que estamos lutando. A COP28 deste ano demonstrou a


arrogância da classe dominante. Eles riem na nossa cara enquanto
fecham negócios lucrativos, e somos obrigados a arcar com as
consequências.

Não vamos aceitar isso de braços cruzados, e você também não deveria.
Precisamos lutar urgentemente por uma sociedade comunista sã,
democraticamente planejada, e tomar o destino nas nossas próprias
mãos.

TRADUÇÃO DE FABIANO LEITE.

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