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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO


Curso de Arquitetura e Urbanismo

- EXMO. DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DE ALAGOAS, SR. CARLOS EDUARDO


DE PAULA MONTEIRO
- EXMO. DEFENSOR PÚBLICO COORDENADOR DA COORDENADORIA DO NÚCLEO DE
DIREITOS HUMANOS E DE DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS, SR.
RICARDO ANTUNES MELRO

A UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, através da FACULDADE DE ARQUITETURA E


URBANISMO – FAU e do Arquiteto Urbanista e Professor Doutor, DILSON BATISTA FERREIRA
matrícula SIAPE 2145392, vem através do processo administrativo 23065.026508/2023-83,
apresentar parecer acerca da situação urbanística da comunidade dos FLEXAIS DO
BEBEDOURO, que se encontra em isolamento socioeconômico causado pela Braskem.

I – DO OBJETO DE ANÁLISE

O parecer em abaixo subscrito visa responder tecnicamente o seguinte questionamento,


apresentado pela Defensoria Pública do Estado de Alagoas:

“Se, em face da geografia peculiar da região, no caso


de realocação daquela comunidade, geraria novas
bordas (em sequência) a área de risco, num processo
de mutilação da cidade com mais casos de realocação
sem fim, como numa reação em cadeia”

Como se observa na pergunta em epígrafe, é questionado se a geografia da região do


Flexais de Bebedouro possui condicionantes suficientes que poderiam gerar novas zonas
isoladas (vazios populacionais na cidade de Maceió), como ocorreu com os bairros afetados
pelo afundamento do solo, em decorrência da possibilidade da REALOCAÇÃO destas
comunidades dos Flexais.

É inquirido ainda no “questionamento” objeto deste parecer, se com uma provável


REALOCAÇÃO poderia haver descontinuidade da morfologia urbana de Maceió e da região,
chamado no “questionamento” de mutilação da cidade.

Por fim, lança-se a pergunta: poderia haver um processo de demandas de


REALOCAÇÃO similares, caso seja realizada a retirada dos moradores dos fragmentos
urbanos remanescentes ocupados nestes Flexais? [figura 01].
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[Figura 01]: Detalhe para a área dos Flexais de Bebedouro atualmente em ILHAMENTO SOCIAL

Considerando estas hipóteses, conforme passa a expor, segue o requerido parecer:

II – DA GEOGRAFIA PECULIAR DA REGIÃO E AS RESTRIÇÕES GÉOLOGICAS.

O CELMM constitui um conjunto amplo de lagunas, ilhas e canais fluviomarinhos,


distribuído no litoral central sul de Alagoas, onde ocupa frações dos municípios de Maceió,
Marechal Deodoro, Rio Largo, Satuba, Pilar, Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte.

O CELMM compreende o maior complexo estuarino do Estado e o quinto maior do


Brasil, servindo como nível de base regional, onde desembocam as bacias dos rios Paraíba do
Meio e Mundaú, ambos drenando os compartimentos elevados do sudeste do Planalto
Borborema em Alagoas e Pernambuco, e além de pequenas drenagens encravadas nos
sedimentos da formação Barreiras, todas desembocando nas várzeas e estuário do CELMM.

As maiores drenagens estão em vales mais amplos, como a foz dos rios Paraíba do
Meio e Mundaú e em áreas colinosas, como nos Flexais, por vezes cortando de forma
perpendicular, ou a inclinações acima de 30% nas encostas íngremes das bordas dos
tabuleiros [figura 02].
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[Figura 02]: escala Interfluvial e detalhamento do nível de cadeia de vales na região estudada.

Como observado a área dos Flexais se encontram geograficamente em área encravada


de vales fluviais e encostas. Essa geografia naturalmente ISOLA ESSA COMUNIDADE, entre
a área de transição da área de transbordamento das lagunas e as bordas dos tabuleiros,
com graus de entalhamento médio entre 40m - 80m. Ampliando a análise geomorfológica
observa-se em mapas de dissecação de relevo na região dos Flexais do Bebedouro alturas
próximas a estreita borda lagunar, variando de 12 até 30 metros, formando um estreio vale em
direção ao CELMM, mais precisamente a laguna Mundaú. [Figuras 03 e 04].

Geomofologicamente já EXISTE ISOLAMENTO GEOGRÁFICO e ambiental. Os


Flexais são divididos em dois, o Flexal de baixo na borda da lagoa em áreas alagáveis, as
quebradas e os que estão além da rede ferroviária. Ambas localidade se encaixam em área
definida no plano diretor como restrição urbana e área de risco. Tal definição e macrozoneamento
será detalhado ao longo deste parecer técnico.

No seu inciso III do artigo 32º, o Plano Diretor de Maceió é claro e define encostas
ou grotas com declividade igual ou superior a 45° (quarenta e cinco graus), florestadas ou
não como ÁREAS “NON EDIFICANDI”, na borda lagunar a faixa de proteção deve ser de 30 m
(trinta metros) de cada lado das margens dos cursos d’água. É sabido também pelo regramento
jurídico federal, estadual e municipal, que "Relevos acidentados” e declividade das encostas com
ângulos acima de 30º são consideradas ÁREAS DE RISCO, esse ângulo é determinante para
que exista a eminência de movimentos de massa como os deslizamentos de encostas.
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A estabilidade dos materiais sobre terrenos inclinados é menor quanto maior for o ângulo
de inclinação. Associados a chuvas e outros fatores antrópicos as encostas dos flexais são
suscetíveis aos deslizamentos, especialmente porque nos FLEXAIS DE CIMA ESTÃO
DESPROVIDAS DE COBERTURA VEGETAL e há altas declividades nestes vales. [Figura 05].

As ocorrências de deslizamentos acontece desde o século passado, e toda quadra


chuvosa a Defesa Civil do Município de Maceió, reforça a necessidade de monitoramento
dos Flexais, devido à alta declividade de suas encostas desmatadas, associadas a alta
pluviometrias nesta porção da região do complexo CELMM. Além disso, laudo da própria
Defesa Civil do Município de Maceió e de especialistas como o engenheiro civil especialista em
geotécnica e geologia, Abel Galindo, bem como o Engenheiro Lucas Mattar Protasio Nunes,
apontam o eminente risco e instabilidade geológica oriunda da exploração de Sal-gema na
região. As rachaduras nos imóveis são semelhantes aos bairros do Mutange, Pinheiro,
Bom Parto e Bebedouro. Isto reforçou inclusive a demolição de algumas residências, o
que reforça a classificação de ÁREA DE RISCO associada a geomorfologia da região.

Desta forma a área pela sua condição topográfica que isola a região é suscetível a
desestabilização do solo, associada aos fatores apontados legalmente pela legislação
municipal e federal como ÁREA DE RESTRIÇÃO URBANA devido a sua condição
geomorfológica. Tudo isso, faz com que exista a eminência de deslizamento do morro, a partir
da perca de coesão e estabilidade do solo. Há risco eminente que o morro desça até a base das
encostas onde estão as quebradas e Flexais de Baixo, o que reforça ainda mais a realocação
destas comunidades.

[Figura 03]: Nível de dissecamento do relevo e suas alturas, com detalhe para a área dos Flexais.
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[Figura 04]: área de RESTRIÇÃO URBANA, atualmente ocupada parcialmente, infringindo Leis ambientais vigentes de
uso do solo.

[Figura 05]: representação do relevo acima de 30°, com detalhe para a área dos Flexais.
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III – DA CARACTERIZAÇÃO FLORÍSTICA DA ÁREA DOS FLEXAIS.

Encravado no vale, as regiões dos Flexais, do ponto de vista biótico ainda se caracteriza
como uma região preservada ambientalmente, principalmente em decorrência de suas
CARACTERÍSTICAS GEOGRÁFICAS QUE ISOLARAM A REGIÃO da cultura canavieira e
mesmo de plantio de coqueiral e de algodão no passado, preservando a originalidade do
meio biótico local. Já na região dos Tabuleiros, onde o custo ambiental é considerável, dada as
perdas de patrimônio natural no decorrer dos séculos (especialmente fauna e flora), o
comprometimento dos recursos hídricos, perdas de solos e áreas agricultáveis, e mais
recentemente, problemas ligados à especulação imobiliária e mineração que avança já
impactando 05 bairros na porção oeste da cidade de Maceió. Do ponto de vista biótico faz
mister observar que a região é ÁREA DE REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA, várzeas
e longos manguezais ainda intactos e preservados, justamente pela sua SITUAÇÃO DE
ISOLAMENTO DO RESTANTE DA CIDADE, decorrente de sua configuração de estreito
vale. Apresentada em diversos mapas de geoprocessamento de diversos órgão como IBGE
Cidades, CPRM, essa caracterização biótica proporciona espécies bem diversificadas frangos-
d’água, tatus-bola, cágados-de-barbicha, preguiças, saguis, gaviões, falcões, jacarés, corujas e
tamanduás, dentre outros animais, além de extensa biodiversidade de avifauna, ictiofauna dentre
outros. Tudo isso só é possível dado os fragmentos REMANESCENTES DE MATA
ATLÂNTICA ISOLADOS, ao qual os Flexais se encontram. [Figuras 06, 07 e 08].

[Figura 06]: Níveis florísticos da Região da região lagunar.


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[Figura 07]: Apresentação do vale com detalhe para a área dos Flexais e vale com alta declividade florestada com
remanescente de mata atlântica nativa. POPULAÇÃO GEOGRAFICAMENTE ISOLADA entre as encostas do Tabuleiro,
área de preservação florestal nativa, mangues com preamar de alagamento (30m) e Laguna Mundaú.

[Figura 08]: Níveis florísticos da Região da região lagunar e suas áreas de Preservação, note-se o isolamento natural
da região devido o vale ao Norte dos Flexais, ISOLANDO A REGIÃO da cidade de Maceió.

Além dos aspectos ambientais citados, a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (lei
federal n. 12.651/12), conhecida como novo Código Florestal, regulamenta o uso e a
proteção de florestas e demais tipos de vegetação nativa dos imóveis rurais privado, o
que se configura nos Flexais como área de preservação.

Segundo o Plano Diretor de Maceió (lei municipal nº 5486 de 30/12/2005) toda a área
dos Flexais nem deveriam ter sido ocupadas pois trata-se claramente de uma ÁREA SENSÍVEL
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DE ZONEAMENTO AMBIENTAL, conforme Subseção II Das Zonas de Interesse Ambiental e


Paisagístico, a saber:

Art. 31. As Zonas de Interesse Ambiental e


Paisagístico (ZIAPs) são as áreas de especial
importância ambiental, em face de sua relevante
contribuição para o equilíbrio ecológico.

Art. 32. Serão instituídas as seguintes Zonas de Interesse


Ambiental e Paisagístico, dentro dos limites municipais: I
– terrenos de marinha do litoral, incluindo as áreas
abrangidas por barreiras notáveis, estuários, dunas,
remanescentes de manguezais e de restinga e pela Área
de Proteção Ambiental (APA) dos Corais; II – terrenos de
marinha da lagoa Mundaú, incluindo as áreas
abrangidas por remanescentes de mangues, nos
bairros de Trapiche, Ponta Grossa, Vergel do Lago,
Levada, Bom Parto, Bebedouro, Mutange, Fernão
Velho, Rio Novo e pela Área de Proteção (APA) de Santa
Rita;

Ou seja, trata-se de uma ÁREA DE INTERESSE PAISAGÍSTICO E AMBIENTAL,


devendo sua URBANIZAÇÃO SER EVITADA, o que reforça que a proposta chamada de Projeto
de Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais, proposto pela Prefeitura de Maceió
não encontra amparo respaldo no Plano Diretor, pois propõe ampliar a urbanização na REGIÃO
DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL E RESTRIÇÃO URBANA, ou seja vai de encontro os
regramentos do Plano Diretor para essa região. Apesar de propor requalificação urbana na
região, o Projeto de Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais reforça a assertiva tese
de que a região enfrenta ILHAMENTO SOCIOECONÔMICO e ISOLAMENTO URBANO
identificado por meio de visitas técnicas, reuniões, pesquisas e entrevistas com moradores,
conforme. [Figuras 09, 10 e 11].

[Figura 05]: Trecho do Projeto de Integração Urbana e de Desenvolvimento dos Flexais,


reforçando a condição urbana de ILHAMENTO DA REGIÃO da região.
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[Figura 09]: Condição urbana de ILHAMENTO DA REGIÃO da região do Flexais em relação a área desocupada.

[Figura 10]: Condição urbana de INCLUSÃO NA ÁREA AFETADA da região do Flexais em relação a área desocupada.
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[Figura 11]: Condição urbana de ILHAMENTO DA REGIÃO e seus limitantes de vegetação nativa que isolam ainda
mais a área em relação aos bairros desocupados.

Apesar do Projeto Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais propor retirar a


comunidade desta região da CONDIÇÃO DE ISOLAMENTO, há limitantes ambientais como
apresentado, impedindo a intervenção urbana devido a sua sensibilidade ambiental prevista no
Plano Diretor de Maceió. Na sua porção Leste há o ISOLAMENTO dos Flexais com o Bairro
de Bebedouro que hoje se tornou uma área desabitada destinada a zonas de desocupação e
de resguardo, inclusive com isolamento da linha férrea atualmente. Na sua porção Oeste e
Norte há o ILHAMENTO ambiental e geomorfológico com encostas e morros, além de
fragmentos de mata atlântica não podendo fazer conexões com vias que possam interferir na
área de proteção ambiental em direção a Fernão Velho, sendo uma limitante de conexão urbana.
Na porção Norte há ainda o LIMITANTE DA ENCOSTA que já isolava os Flexais mesmo antes
do acidente ambiental. Por fim, na Porção Sul há o LIMITANTE DA LAGUNA E DE ÁREAS DE
ALAGAMENTO, bem como zonas sensíveis de manguezal e várzeas.

IV – DAS ÁREAS DENOMINADAS DE RISCO DE DESMORONAMENTO E INUNDAÇÃO

Analisando a condição dos Flexais sob o aspecto de RISCOS A POPULAÇÂO,


identifica-se alto potencial de desmoronamento, principalmente nos Flexais de cima, exatamente
nas áreas de restrição urbana apontadas pelo Zoneamento do Plano Diretor de Maceió. Essa
área é bastante ocupada segundo levantamentos realizados pelo Instituto dos Arquitetos do
Brasil em Alagoas (IAB/AL), no mês de setembro de 2023. Neste levantamento é visível que a
predominância de uso do solo na região isolada é de moradias (uso residencial) e uso misto
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(residência associada e comércio ou serviço). O que reforça que o uso de residencial é


predominante, mesmo estando associado a outros usos apontados no levantamento [Figura 12].

[Figura 12]: Mapa de Uso e ocupação do Solo na Região dos Flexais


Fonte: IAB/AL, 2023

Paralelamente este intenso uso residencial e segundo dados do Serviço Geológico do


Brasil – CPRM, antes mesmo da identificação do acidente ambiental oriundo da mineração, foi
identificado por essa autarquia como setor de risco de deslizamentos em área urbana, em
área de ocupação irregular desde 2017, sugerindo a recomposição da encostas após
estudos geotécnicos. Tal mapeamento do CPRM indica alto risco de deslizamento de
encostas em uma região atualmente PREDOMINANTEMENTE RESIDENCIAL E ISOLADA
DA CIDADE.

Tal fato reforça que o Projeto Integração Urbana e Desenvolvimento dos Flexais não
considerou nas suas intervenções essa restrição geológica da CPRM. Tal RISCO DE
DESLIZAMENTO, atualmente associado a subsidência do solo na região e as patologias
encontradas em diversas edificações, reforçando o laudo do laudo da Defesa Civil do Município
de Maceió e de especialistas, como o engenheiro civil especialista em geotécnica e geologia,
Abel Galindo e o Engenheiro Lucas Mattar Protasio Nunes reforçam não apenas o risco da
mineração, apontam para risco de desmonte de encostas por deslizamento do solo. O Serviço
Geológico do Brasil – CPRM, classifica ainda a área dos Flexais de Cima com RISCO DE
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DESLIZAMENTO podendo atingir os Flexais de Baixo e Quebradas, conforme [Quadro 01] e


[Figura 12], a seguir.

Município MACEIÓ
Número Setor AL_MACEIO_SR_11_CPRM
Local Flexal de Cima
Tipologia Geral 1 Deslizamento
Tipologia Específica 1 Deslizamento não especificado
COBRADE 1 1.1.3.2.1
Grau de Vulnerabilidade Alto
Grau de Risco Muito alto
Órgão Executor Serviço Geológico do Brasil
Descrição Setor de risco de deslizamentos em área urbana, em área de ocupação
irregular.
Sugestão Intervenção Estudos Geotecnicos para implantação de obra de contenção.
Data de Setorização 8/1/2017 9:00 PM
Quantidade de Edificações 700
Quantidade de Pessoas 2.800

[Quadro 01] – Análise de Risco de Vulnerabilidade a desastres por deslizamento na região dos Flexais de Cima,
classificando a região como de ALTO RISCO DE DESLIZAMENTO de encosta
https://geoportal.sgb.gov.br/desastres/.

[Figura 13] – Mapa de Risco de Vulnerabilidade a desastres por deslizamento na região dos Flexais de Cima com de
ALTO RISCO DE DESLIZAMENTO de encosta
https://geoportal.sgb.gov.br/desastres/.
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Quanto ao RISCO DE ALAGAMENTO, a mancha de alagamento atinge áreas próximas


aos Flexais de Baixo, no entanto o CPRM não apresenta grau alto de risco de grandes
alagamentos, porém há registros de pontos de alagamentos nos Flexais, quando há grandes
vazões, tanto descendo de drenagens da parte alta dos tabuleiros, como da bacia do mundaú
na laguna que transborda, o que não deixa de ser um elemento de risco o que enquadra a área
como de PREVENÇÃO DE ACIDENTES DE RISCO DE ALAGAMENTO, pequeno, porém
eminente a depender do regime pluviométrico, intenso a cada ano.

VI – DAS ÁREAS DE RESTRIÇÃO URBANA DO PLANO DIRETOR

O Plano Diretor de Maceió, na sua Seção II - Divisão Territorial Subseção I -


Macrozoneamento Municipal em seu artigo Art. 120, estabelece para fins de uso e ocupação do
solo, o território municipal dividido em: I – Área Rural, subdividida em: a) Macrozona Agrícola; b)
Macrozona de Manejo Sustentável; II – Área Urbana, subdivida em: a) Macrozona de
Adensamento Controlado; b) Macrozona Prioritária para Implantação de Infraestrutura Urbana;
c) Macrozona de Restrição à Ocupação; d) Macrozona de Estruturação Urbana, por fim o item
e) definindo a Macrozona de Expansão Intensiva.

Visando caracterizar o enquadramento urbanístico dos Flexais de Bebedouro analisou-


se os mapas de macrozoneamento. O objetivo foi identificar em qual zona os Flexais se
enquadravam (Macrozoneamento Municipal, Macrozoneamento Rural ou
Macrozoneamento Urbano). Analisando o Mapa 06 [Figuras 14 e 15], observa-se mais uma
limitante restritiva legal a permanência dessa comunidade, atualmente isolada, conforme
descrito abaixo:

[Figura 14} – Macrozoneamento Municipal Segundo o Plano Diretor de Maceió.


Fonte: Lei Municipal nº 5486 de 30/12/2005
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[Figura 15] – Macro Zoneamento Municipal e detalhe para a área do Flexais, consideradas no Plano Diretor de Maceió,
como área de MACRO ÁREA DE RESTRIÇÃO A OCUPAÇÃO.

Como se observa no mapa 06, referente ao macrozoneamento municipal, definido no


Plano Diretor do Munícipio de Maceió. Tal área é definida claramente no plano diretor, da seguinte
forma, à saber:

Art. 129. A Macrozona de Restrição à Ocupação é


constituída por:

I – na planície costeira e flúvio-lagunar:


a) áreas de fragilidade ambiental com deficiências de
infra-estrutura urbana e baixa intensidade de ocupação
urbana;
b) áreas de fragilidade ambiental que necessitam de
restrição ao uso e à ocupação urbana para se
compatibilizarem à capacidade de suporte físico natural;
c) áreas em situação de risco ambiental pela
proximidade ao complexo cloroquímico do Pontal da
Barra;

II – no tabuleiro:
a) áreas de mananciais ou bacias de recarga cujas
condições ambientais exigem controle na ocupação e nas
atividades a serem implantadas;
b) áreas com restrições legais ou institucionais à
ocupação urbana;

III – nas encostas, áreas com declividade superior a


17º (dezessete graus) e inferior a 45° (quarenta e cinco
graus).
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Além disto o Plano Diretor é claro no seu § 2° do mesmo artigo, definindo que os bairros
de Pontal da Barra, Pescaria e Ipioca e parte dos bairros Bebedouro (entre eles os Flexais),
Fernão Velho, Rio Novo e Riacho Doce, integram a MACROZONA DE RESTRIÇÃO À
OCUPAÇÃO na planície costeira e flúvio-lagunar.

Dado o exposto, nota-se claramente que a área atual dos Flexais se enquadra como
área de RESTRIÇÃO A OCUPAÇÃO, devido a aspectos não apenas de ISOLAMENTO
SOCIAL E AMBIENTAL, porém por limitantes topográficas, ambientais e LIMITANTES
URBANAS, previsto na lei Municipal nº 5486 de 30/12/2005 que institui o Plano Diretor do
Município de Maceió e estabelece diretrizes gerais de política de desenvolvimento urbano na
capital alagoana. Tudo isso reforça a incompatibilidade do Projeto Integração Urbana e
Desenvolvimento dos Flexais, que pretende intensificar a urbanização na região, indo de
encontro ao regramento urbano atualmente vigente na cidade de Maceió.

Como se observa há LIMITANTES URBANAS, definidas em lei demonstrando a vocação da


região para ter sua ocupação restringida. Dado o acidente ambiental e o ISOLAMENTO
GEOGRÁFICO, AMBIENTAL E SOCIAL, qualquer medida de ampliar a ocupação na região
estaria indo de encontro ao regamento urbano atualmente vigente em Maceió.

Quanto A NOVAS BORDAS (EM SEQUÊNCIA) A ÁREA DE RISCO, não há possibilidade de


novas bordas pois a região legalmente é de restrição urbana, diferente de outros bairros afetados
e que se encontram nas bordas das áreas de riscos que possuem um macrozoneamento de
caráter de ocupação urbana e não de restrição urbana. OS FLEXAIS POSSUEM ZONEAMENTO
DIFERENTE DESTES BAIRROS, pois se encontra dentro de limites geográficos e urbanísticos
com limitantes a ocupação urbana e há claro LIMITE GEOGRÁFICO QUE ISOLA A ÁREA.
Desta forma a REALOCAÇÃO DA COMUNIDADE dado a atual situação de ilhamento e a
aderência a legislação vigente é justificada, pois estamos tratando de uma área que nem
deveria ser ocupada pelo regramento jurídico atual.

VI – DA CONCLUSÃO DO PARECER

CONSIDERANDO, que o inciso III do artigo 32º do Plano Diretor de Maceió que define encostas
ou grotas com declividade igual ou superior a 45° (quarenta e cinco graus), florestadas ou não
como ÁREAS “NON EDIFICANDI;

CONSIDERANDO, que as patologias dos imóveis são semelhantes aos bairros do Mutange,
Pinheiro, Bom Parto e Bebedouro reforçando e classificando a região como ÁREA DE RISCO
associada a geomorfologia da região;
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CONSIDERANDO, que a condição topográfica dos Flexais que isola a região é suscetível a
desestabilização do solo, conforme relatório e mapas públicos da base de dados do Serviço
Geológico do Brasil – CPRM, que classifica a área dos Flexais como área de risco de
deslizamento de encostas;

CONSIDERANDO, que segundo dados do Serviço Geológico do Brasil – CPRM, antes mesmo
da identificação do acidente ambiental oriundo da mineração, foi identificado Setor de risco de
deslizamentos em área urbana, em área de ocupação irregular em 2017, sugerindo a
recomposição das encostas após estudos geotécnicos.

CONSIDERANDO, que a Lei de Proteção da Vegetação Nativa (lei federal n. 12.651/12),


conhecida como novo Código Florestal, regulamenta o uso e a proteção de florestas e demais
tipos de vegetação nativa dos imóveis rurais privado, o que se configura nos Flexais como área
de preservação, restringindo e isolando ainda mais a comunidade pelas suas limitações florestais
nas suas porções Norte, Sul, Leste e Oeste, seja pelo ilhamento com Bebedouro, encostas do
Tabuleiro, Laguna e Mangue até a Massa arbórea preservada em direção a APA de Fernão Velho;

CONSIDERANDO, que o Plano Diretor de Maceió, impede o desenvolvimento urbano por


classificar parte dos bairros Bebedouro (entre eles os Flexais), Fernão Velho, Rio Novo e Riacho
Doce, integram a Macrozona de Restrição à Ocupação na planície costeira e flúvio-lagunar, ou
seja impedida de ser ocupada dada sua sensibilidade ambiental;

CONCLUI-SE que:

A geografia peculiar da região é restritiva a ocupação, seja por motivos geográficos,


geológicos, florestais ou urbanísticos, respaldados pelo regramento jurídico vigente apontado
neste parecer.

A realocação daquela comunidade, não geraria novas bordas (em sequência) a


área de risco, pois a classificação urbana do Plano Diretor de Maceió para região restringe
a ocupação e justifica a Realocação, mesmo que não tivesse o ocorrido acidente, ou seja, é
uma prerrogativa legal, não apenas fundamentada nas leis urbanísticas, porém por base técnica
e geológica, ambiental e urbanística. O CPRM define claramente que a região é área sujeita
a deslizamento de encostas, o que seria uma imprudência, ou mesmo prevaricação do
poder público, ter a ciência deste parecer geológico e manter os flexais na eminência de
uma tragédia urbana por deslizamento de solo. Não é apenas um problema de isolamento e
ilhamento social, estamos diante de um problema ambiental também, devido a área florestal ser
protegida por rigoroso regramento jurídico e ambiental federal.
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Não haverá processo de mutilação da cidade, com a realocação do Flexais, com


mais casos de realocação sem fim, como numa reação em cadeia, devido ao fato que
geograficamente, ambientalmente, geologicamente e urbanisticamente a região é única,
sendo CLASSIFICADA COMO ÁREA DE RESTRIÇÃO URBANA pelo Plano Diretor de
Maceió.

Outro fato é o pleno isolamento pelas limitantes expostas neste parecer, o que
torna a região com variáveis únicas em relação a outras áreas da cidade, que inclusive
possuem limites urbanos conectados com o restante da cidade, diferente dos Flexais que
possui um único acesso urbano, atualmente dentro da área de risco, ou seja, A POPULAÇÃO
ESTÁ ISOLADA DA CIDADE, não apenas em função do acidente, porém pela sua característica
urbana de ocupação de um vale.

Diante dos fatos e argumentos o nosso parecer é pela REALOCAÇÃO IMEDIATA DOS
FLEXAIS E RECOMPOSIÇÃO DE TODOS OS SEUS COMPONENTES AMBIENTAIS,
conforme preconiza as leis urbanísticas e ambientais vigentes.

Subscreve atenciosamente.

DILSON BATISTA FERREIRA,

Prof. Dr. da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas - UFAL.


Registro Nacional CAU/BR: A86881-7
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VI – FONTES CONSULTADAS:

LEI MUNICIPAL Nº 5486 DE 30/12/2005. PLANO DIRETOR DO MUNICÍPIO DE MACEIÓ.


CPRM, 2005. 88 pp.

Lei 12.651, de 25 de maio de 2012, que instituiu o Novo Código Florestal.

CPRM. Análise de Risco de Vulnerabilidade a desastres por deslizamento na região dos


Flexais de Cima. https://geoportal.sgb.gov.br/desastres/. Acesso em 12/08/2023.

LAUDO TÉCNICO DE INSPEÇÃO. Bairro do Bebedouro – Flexal de Cima e Flexal de Baixo.


Responsável Técnico: Lucas Mattar Protasio Nunes – CREA/AL nº 022016788-5. 17 de
Fevereiro de 2022 e 21 de Fevereiro de 2022.

MEDEIROS, Yuri Henrique Silva. Levantamento de Manifestações Patológicas


Características de Construções Afetadas por Movimentos de Terra no Bairro do Pinheiro,
Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Adjacências. Orientador: Prof. Dra. Karoline Alves de Melo
Moraes. 2021. 89 f. TCC (Graduação) – Engenharia Civil, Centro de Tecnologia do Curso de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Alagoas, Maceió. 2021.

SAMPAIO, Alec. LAUDO TÉCNICO DE INSPEÇÃO: Flexal de Baixo e Flexal de Cima. Maceió,
2020.

BRASKEM ALAGOAS. Mapa das áreas de resguardo, desocupação e monitoramento.


Maceió, 2023. Disponível em: https://www.braskem.com.br/cronograma-para-areas-de-risco
Acesso em: 30 ago 2023.

RIOS, Giovanna, et al. Realocar ou revitalizar? Diagnóstico Socioambiental do Flexal de


Cima e do Flexal de Baixo, no bairro do Bebedouro Maceió. Trabalho apresentado para a
Disciplina Diagnóstico e Planejamento 2, pelo Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal de Alagoas, ministrada pela Prof. Dra. Caroline Gonçalves dos Santos e Prof. MsC..
Regina Coeli Carneiro Marques. FAU/UFAL, Maceió, AL 2023.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
Curso de Arquitetura e Urbanismo

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