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“Tudo que eu sei agora, é que estou feliz quando Cecília se preocupa ou fica irritada comigo.

Isso
me lembra que ela ainda está aqui, ao meu lado.”

-Era assim que eu costumava pensar.


Pelo menos antes de perder o pingo de esperança que me fazia seguir em frente.
Minha luz, um anjo que apareceu na minha vida quando estava no pior momento. Só para
despedaçar ela, ao sair de repente.

“Cecília”. O significado de seu nome conseguia ser o contrário da pessoa que lhe pertencia.
“Cego”, “escondido”, diferente dela.
Cecília era do tipo que aparecia em sua vida, e por mais forte que você tentasse, não iria
conseguir esquecê-lá.

E eu de fato, nunca esqueci.


Nós nos conhecemos ainda no ensino fundamental, quando eu não passava de uma criança
insatisfeita com a vida.
Parte disso era culpa de meus pais, ou melhor, de minha mãe. Ela cuidava sozinha de mim,
e por isso, achava que eu devia a ela, toda minha existência.

Honestamente, eu preferi esquecer meu período morando com aquela mulher instável e
narcisista. As únicas memórias que me recordo daquela época eram de mim com Cecília.
Passávamos o dia inteiro juntas.
No começo, era só uma desculpa para eu não voltar mais para casa, e para Cecília, uma
para estar perto de alguém, já que sempre foi tanto grudenta, quanto solitária, mesmo
tendo tantos amigos.

Mas depois, as tardes que eu considerava mortas e sem graça, se tornaram alegres e
vívidas, só por ter ela ao meu lado.
E depois que finalmente nos formamos, passamos a morar juntas, com planos de mais
tarde, irmos morar na tão aclamada “New City”.

A companhia de Cecília era algo especial, mas confuso. Em certas noites, deitávamos
lado-a-lado, enquanto ela me dizia palavras gentis, e de vez em vez, pressionava seus lábios
contra os meus.
Mas em outros dias, lá estava eu, lhe ajudando com mais encontros que arranjava para si.

Nunca entendi Cecília, e nem queria entender.


Se eu deixasse as coisas do jeito que eram, não iriam existir chances de tudo desmoronar.
Isso é, até o dia que antes mesmo de estacionar em frente ao nosso prédio, meus olhos
foram preenchidos por sirenes de polícia, enquanto barulhos de ambulância ecoavam em
meus ouvidos.

Cecília, a única pessoa que já amei, estava morta. E eu não fiz nada. Não tentei fazer nada.
Não pude fazer nada.

Vir para essa cidade de merda, numa tentativa de recuperar parte do sentimento que tinha
com Cecília, e também de fugir de sua morte, apenas piorou tudo.

Cada segundo nesse buraco de inferno, que se mascara como uma cidade “revolucionária”,
me faz questionar mais e mais a razão de sequer estar aqui.
É como se eu estivesse vivendo constantemente no piloto automático.

Esperando por algo a mais.

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-Detalhes extras :D :

•A mãe de Nari ainda é viva (até porque ela é uma mãe consideravelmente
jovem), e tenta contatar sua filha, que ignora incessantemente suas ligações,
mensagens e outras formas de comunicação.

•Essa era a aparência da querida Cecília (quando já adulta):


•Cecília desenhava, e constantemente fazia ilustrações nos braços ou costas
de Nari, que mais tarde, viriam a se tornar tatuagens.

•A morte de Cecília foi algo muito inesperado para todos, já que sua
depressão era silenciosa, até mesmo para Nari, que apesar de ter notado, não
conseguiu ajudar.

•Nari conhece algumas pessoas em New City por causa de Cecília, que tinha
muitos contatos, até distantes.

•Nari tinha parado de fumar e beber graças a Cecília, mas voltou depois de
sua morte.

•Nari tem alergia a gatos

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