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vila iapó

avenida brasil, 108 . . santa efigênia


belo horizonte . mg . brasil . 30140 001
arquitetos@arquitetosassociados.arq.br
Alexandre Brasil, André Luiz Prado, Bruno Santa Cinco casais de amigos, praticantes de escaladas e amantes da natureza, compartilhavam um sonho
arquitetos Cecília, Carlos Alberto Maciel e Paula Zasnicoff comum: construir uma pequena vila com cinco moradias e espaços de uso comum para passar
Cardoso finais de semana, que servisse de base para suas escaladas e para estarem próximos da natureza
exuberante do Parque Nacional da Serra do Cipó, uma importante unidade de conservação na Serra
colaboração Carolina Miguez
do Espinhaço, zona central do estado de Minas Gerais, famosa por suas cachoeiras e cânions e por
local Jaboticatubas , MG, Brasil suas formações rochosas.

área construída 742 m²


A região da Serra do Cipó, que já foi chamada de “jardim do Brasil” por Burle Marx, abriga uma
projeto 2020 diversidade florística impressionante e foi exatamente a vegetação de um terreno em particular que

fotos Pedro Sales chamou atenção dos cinco casais que procuravam um local para construir a sua vila, batizada de
Iapó, que significa “rio de raízes” em tupi, e que pode ter sido o nome original da região do Cipó.
Definido o terreno, o projeto teve início tomando como base alguns pressupostos construídos
coletivamente pelos cinco casais e compartilhados com os arquitetos, como princípios inegociáveis
para a concepção da Vila Iapó.

O primeiro e mais importante deles dizia respeito à implantação das cinco habitações e do espaço
de uso comum, que deveriam respeitar integralmente a presença das várias árvores de médio e
grande porte, mesmo que para isso fosse necessário criar um ordenamento mais heterodoxo entre
os volumes, fazer seguidas correções nos levantamentos topográficos em relação à posição de cada
árvore e ainda admitir pequenos ajustes na implantação geral já no início das obras, no momento da
marcação da movimentação de terra e das fundações. Além disso, a cuidadosa definição dos níveis
de cada um dos volumes respeitando a topografia, equilibrando cortes e aterros, fez com que o
mínimo de terraplanagem precisasse ser feita, mais uma vez privilegiando a presença das árvores no
terreno. As árvores definiram o projeto.

O segundo princípio estava na solução arquitetônica das cinco casas. Sua volumetria foi definida a
partir de dois gestos projetuais que privilegiaram a questão da sustentabilidade ambiental,
articulando-a com as questões funcionais, construtivas e estéticas das casas. Os lados maiores dos
volumes foram conformados como grandes planos de vedação dupla, com tijolos cerâmicos do lado
externo e blocos de concreto do lado interno, o que criou uma condição de inércia térmica excelente
para essas superfícies do volume que, por sua extensão, recebem a maior parte da radiação solar
diária. Além disso, a solução garante uma condição adequada para as instalações prediais e gera
maior privacidade entre uma casa e outra. A segunda estratégia sustentável para os volumes das
casas foi criar a possibilidade de aberturas quase totais nas faces menores do volume, garantindo
uma ótima condição de ventilação natural cruzada por diferença de pressão. Por fim, a adoção de
uma cobertura de uma só água inclinada para os fundos, aumenta a altura da abertura frontal das
casas, contribuindo também para favorecer a ventilação cruzada. Também era um princípio
fundamental para a Vila Iapó, desde o início das conversas e do projeto, a racionalização de recursos
naturais por meio do aproveitamento das águas pluviais e do uso da energia solar.
Os planos de cobertura sobre os volumes construídos funcionam como grandes coletores da água
da chuva, direcionando-a para um sistema de condutores com uma canaleta de concreto comum
entre os volumes e gárgulas que direcionam a água para reservatórios específicos para tratamento e
aproveitamento. Além disso, o sistema de coletores solares adotado para aquecimento de água,
garante economia significativa de energia elétrica.

O quarto princípio fundamental da sustentabilidade ambiental da Vila, e que também se articula com
os princípios de sustentabilidade social e econômica, foi a adoção de materiais construtivos e mão
de obra local. Isso garantiu a redução significativa dos impactos com o transporte de materiais e
pessoal até o canteiro de obras já que foram utilizados tijolos, blocos, perfis metálicos e peças de
madeira de fornecedores locais, além de pequenos empreiteiros locais para a execução dos serviços
como construtores, marceneiros, serralheiros, eletricistas e bombeiros. A ideia de uma obra de baixo
impacto, sem atividades que mobilizassem grandes quantidades de pessoas e máquinas, ao mesmo
tempo favoreceu a redução de impactos na flora e fauna local e contribuiu para um processo de
construção com o mínimo de interferência na vida cotidiana dos vizinhos.

A construção ficou pronta e as cinco famílias podem agora habitar seu sonho comum. A Vila Iapó
materializa não só o desejo de cinco famílias de poderem conviver e criar seus filhos numa condição
de proximidade com a natureza. Materializa a possibilidade de conciliação entre a construção e o
uso das edificações de um lado e o respeito e o cuidado com a preservação ambiental do outro. Um
caminho possível para a difícil transformação de uma ideia tão repetida, mas ainda tão difusa como
a sustentabilidade ambiental em práxis cotidiana.

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