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Boletim Behaviorista

O que rola nas revistas de análise do comportamento

Água no umbigo sinal de perigo!


FEBRUARY 24, 2016 / REVISTADASREVISTAS
Pesquisadores afirmam que os estímulos classificados como
aversivos podem adquirir um valor de reforço positivo quando
emparelhado com reforço negativo

Alguns ditados populares nos falam sobre os “perigos” da vida,


como por exemplo “Água no umbigo sinal de perigo! ”. Esse ditado,
bem simples, descreve algo que fazemos no nosso dia a dia: evitamos
e até mesmo buscamos eliminar aquilo que nos assusta. A “água no
umbigo” nos sinaliza que devemos ficar na região mais rasa do mar
para evitarmos o afogamento.

Esses sinais são importantes para nossa segurança, pois permitem a


nossa adaptação e prevenção a situações de perigo. Na presença de
algo que sinaliza um evento que nos ameaça ou nos incomoda,
podemos nos comportar para evitar o contato com esse tipo
conhecidos como “eventos aversivo”.
Entretanto, embora alguns desses sinais reduzam a probabilidade
de entrarmos em contato com um evento aversivo, também podem
resultar em prejuízos pessoais. Esse é o caso, por exemplo,
de quando avistamos uma placa escrito “Perigo” e mudamos de
caminho para desviarmos do perigo, mesmo que isso nos
faça gastar muito tempo com o novo caminho.

Nesse caso, mudar de caminho seria a melhor opção, mesmo diante


do desconforto? A publicação de Ioannis Angelakis e Jennifer
Austin na revista The Psychologycal Record, apresentou uma
investigação sobre como comportamentos de evitação são
mantidos, sugerindo que estímulos classificados como
aversivos poderiam adquirir um valor de reforço positivo devido ao
seu emparelhamento com períodos reais (ou percebidos) de
segurança.

Na investigação, 7 estudantes universitários (com 19 a 22 anos) que


não tinham estabelecidos em seus repertórios um padrão
comportamental de busca de segurança (ou seja, atos repetitivos que
servem para tranquilizar a pessoa da ausência de um perigo
eminente), foram convidados a jogar um jogo, com o objetivo
de descobrir tesouros escondidos e evitar bombas escondidas em um
mapa da Europa, através de cliques na tela de um computador.

A descoberta de tesouro, produzia o ganho de pontos e a descoberta


de bombas produzia a perda de 2 pontos. Os cliques que
produziam tesouro estavam programados em um esquema de Razão
Variável 50 e os cliques que produziam bombas em um esquema de
Intervalo Variável 20. O jogo era reiniciado após cada ponto ganho
ou a cada perda, reiniciando os esquemas programados. Os pontos
eram computados na parte superior da tela. As bombas poderiam
ser desativadas (e com isso a perda de pontos) caso o jogador
acionasse um pedal, que produziria um tom de 72 decibéis. Os
esquemas de VI e VR eram repostos para que os participantes não
pudessem evitar as bombas e perdas pontuais, pressionando
continuamente o pedal

Antes de iniciar o jogo, os participantes passaram por uma fase de


avaliação pré-experimental para garantir que o suposto estímulo
aversivo (tom) funcionasse como um reforçador negativo.
Os participantes jogaram por 10 minutos, um jogo de alinhar uma
série de três cores idênticas na horizontal, vertical ou diagonal.
O tom foi programado para ser apresentado em esquema de
VT10s. Eles também foram informados que o tom poderia ser
rescindido (até a próxima entrega programada), pressionando o
pedal.

Nessa fase, todos pressionaram o pedal para encerrar o tom em 100%


de apresentações, indicando que o tom funcionava como
um reforçador negativo para todos.

Com o início do jogo (linha de base) os participantes receberam as


instruções sobre como jogar e realizaram três sessões que duraram 30
minutos.
Em seguida os participantes foram expostos a duas condições: Ruído
(+) e Ruído (-). Na condição Ruído (+) o jogo aconteceu nas mesmas
condições que na linha de base por 5 minutos. Após esse período
uma mensagem aparecia na tela informando a maioria das bombas
haviam sido desativadas e o participante poderia continuar
procurando os tesouros restantes. Com isso, após o primeiro clique
era ativado um esquema VR-50 para tesouros, mas não
haviam bombas programadas. A condição Ruído (-), foi idêntica a
condição Ruído (+) exceto pelo fato de que as prensas dos pedais não
produziam o tom.

Por fim, foi realizada a fase de teste, nas mesmas condições que na
fase pré-experimental. Para alguns participantes, foi apresentado
primeiro a Condição Ruído (+) e depois Condição Ruído (-) e para
outros participantes ocorreu o inverso. Nesta configuração, o tom foi
apresentado por 5s para sinalizar o início da Condição Ruído (+). As
Condições Ruído (+) e Ruído (-) duraram 20 minutos cada. Cada
participante experimentou duas a quatro sessões experimentais de 40
min.

Além disso, ao final foi aplicado um questionário para investigar:


se eles empregaram quaisquer estratégias particulares durante o jogo
(para ganhar tesouros ou evitar perdas); como se sentiram nas
condições em que prensas de pedais produziam o tom e quando
isso não acontecia; se se sentia ansiosos durante o jogo e se eles
acreditavam que as bombas tinham sido efetivamente desativadas
durante as condições experimentais.

E, o que isso resultou? Os resultados indicaram altas taxas


de respostas pressão ao pedal na linha de base e na condição de
Ruído (+) indicando que o “tom” era menos aversivo do que
descobrir uma bomba (e a perda ponto associado), e queda nas taxas
de respostas na condição Ruído (-), sugerindo a extinção pela
ausência do reforço positivo “tom”.

Bom, retomando as questões mudar de caminho seria a melhor


opção, mesmo diante do desconforto? O estudo nos faz afirmar que
sim! Nesse caso, o comportamento de evitação pode funcionar como
sinal de segurança positivamente correlacionados com a prevenção
de eventos aversivos. Os sinais de segurança ganharam função
de SDs para o comportamento de evitação, e como reforçadores
positivos para o comportamento de evitar.

Que saber mais? Confira o artigo:

Angelakis, I;. Austin, L. J. (2015) Aversive Events as


Positive Reinforcers: An Investigation of Avoidance and Safety Signals in Humans. The Psychological Record
(http://link.springer.com/journal/40732). December, 65, 627-
635. DOI 10.1007/s40732-015-0133-4
Fonte da imagem: http://revistarugbier.com.br/o-perigo-do-fim/

Escrito por Vivian Bonani de Souza Girotti, doutoranda do Programa


de Pós-Graduação em Psicologia da UFSCar. Docente da Faculdade
de Tecnologia, Ciências e Educação – FATECE.

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