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SINDICATO DOS TÉCNICOS DE SEGURANÇA

DO TRABALHO DO ESTADO DE SERGIPE – SINTEST/SE


FILIADO A FENATEST / CNTC / CSB
Fundado em 14 de novembro de 1990 - Código Sindical nº 005.371.91109-5 CNPJ 32.804.817/0001-09

NOTA DE ESCLARECIMENTO

O Sindicato dos Técnicos de Segurança do Trabalho do Estado de Sergipe - SINTEST/SE, devidamente inscrito sob
CNPJ nº 32.804.817/0001-09 e Código Sindical nº 005.371.91109-5, vem por meio desse instrumento, fazer jus à
manifestação diante de sua categoria expressamente representada, e se posicionar diante do ocorrido na tarde do
último dia 05.03 do ano em curso, quando foi noticiado o encerramento do inquérito policial pela Delegacia de
Rosário do Catete, que apurava infrações penais relacionadas ao acidente ocorrido no município, em decorrência do
atropelamento e morte de um homem de 55 anos, durante a demolição de uma guarita desativada, o que resultou no
indiciamento de um profissional Técnico de Segurança do Trabalho, por homicídio culposo qualificado pela
inobservância de regra técnica da profissão. A conduta foi determinada pela negligência, não tendo havido a intenção
de matar.

Primeiramente, precisamos considerar que a Segurança do Trabalho encontra-se intimamente ligada às ações
integrativas e à participação dos trabalhadores que integram o ambiente laboral, desde os mais singelos níveis
operacionais, até os mais altos quadros de gestão, todavia, garantir segurança, é também conceber a participação de
diversos atores e condicionantes dentro de um mesmo cenário, conhecer os riscos das atividades envolvidas, prever
suas possíveis causalidades, e gerenciar procedimentos, de forma a garantir que etapas sejam cumpridas segundo as
previsões legais previamente estabelecidas. É notório que cada cenário acidentário contemple seus próprios
elementos, o que nos daria total propriedade para elucidarmos as reais causas do triste ocorrido, se a estes
tivéssemos acesso, mas obviamente, somos conhecedores dos procedimentos que acercam a segurança de uma
atividade, e o quão importante se faz garantirmos registros documentais de tudo que fazemos, como também
guardarmos evidências das nossas ações e tomadas de decisão, considerando, é claro, o escopo de tudo aquilo que
nos compete ou encontra-se sob nossa responsabilidade, cientes de que, por um simples lapso, podemos responder
tanto na esfera civil, quanto na criminal.

O item 1.9 da NR-01 aduz ao empregador que o não cumprimento das disposições legais e regulamentares sobre
segurança e medicina do trabalho, acarretará ao empregador a aplicação das penalidades previstas na legislação
pertinente. Vamos lá! No uso de suas atribuições, o Técnico de Segurança do Trabalho representa o empregador no
arcabouço de suas competências normativas, desta forma, poderá ser penalizado por Negligência, imprudência ou
imperícia, desde que não se apresentem provas para inocentá-lo, vez que, como já citado, deve-se “conceber a
participação de diversos atores e condicionantes dentro de um mesmo cenário”, isso para toda e qualquer
investigação.

Negligência, imprudência e imperícia são termos presentes em diversos cenários jurídicos. De modo geral,
negligência é a omissão da conduta esperada para uma determinada situação; imprudência é a ação sem cautela; e
imperícia, é a ação equivocada por falta de técnica, inaptidão.

O Código Civil apresenta os três institutos no art. 186:


Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Como consequência, o art. 927 estabelece que:


Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei,
ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos
de outrem.

Sede Provisória na Av. Doutor Carlos Firpo, nº284, 1º Andar – Aracaju / Sergipe CEP. 49.010-250.
E-mail: sintestse@yahoo.com.br
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A imperícia, por sua vez, é tratada no art. 951 e, essa diferenciação será melhor explicada nos tópicos
seguintes:

Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que, no
exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente, agravar-
lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

O Código Penal, por outro lado, apenas menciona os institutos no art. 18, colocando-os como modalidades de
crime culposo:

Art. 18 – Diz-se o crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (…)
Crime culposo (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II – culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.

Em contrapartida, o princípio do contraditório e da ampla defesa decorre do art. 5º, LV, da Constituição Federal, que
determina que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. Além disso, eles constam expressamente no
caput do art. 2º da Lei 9.784/99. O contraditório se refere ao direito que o interessado possui de tomar conhecimento
das alegações da parte contrária, e contra eles poder se contrapor, podendo, assim, influenciar no convencimento do
julgador. A ampla defesa, por outro lado, confere ao cidadão o direito de alega, podendo se valer de todos os meios e
recursos juridicamente válidos, vedando, por conseguinte, o cerceamento do direito de defesa. Dessa forma,
consagra-se a exigência de um processo formal e regular, realizado nos termos de previsão legal, impedindo que a
Administração Pública tome qualquer medida contra alguém, atingindo os seus interesses, sem lhe proporcionar o
direito ao contraditório e a ampla defesa.

Informações obtidas nos artigos até então noticiados, também permitem questionamentos:

“Segundo relatos de testemunhas, o trabalhador estava acompanhado de outros operários da empresa quando
foi demolir uma cobertura desativada com risco de desabamento e não observou que tinha alguém dentro.”
Vamos lá! Mas de quem seria a obrigação para inspecionar a área antes do início da atividade? Quem autorizou? O
Técnico de Segurança estava presente no início da atividade relatada? Como vemos, apesar de sabermos o “caminho
das pedras”, este caminho nem sempre segue a mesma ordem, visto que conflitos de ordem hierárquica também
podem acarretar acidentes, fato. Mas uma vez, precisaríamos de todas as informações pertinentes para sermos
formadores de opinião no tocante ao ocorrido.

“No momento do acidente, a vítima estacionou sua moto na parede da estrutura e ficou descansando no local,
sendo atingido pelos escombros. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu no local.” Claro, é pública a
informação de que se tratava de uma guarita desativada, mas como podemos conceber o início de uma atividade sem
que antes fosse garantida a segurança da área? Mas, e se o homem entrou depois do início da atividade? Quem estaria
responsável pela segurança do local? Bem, pelo que sabemos, o Técnico de Segurança do Trabalho estaria envolvido
com a segurança da atividade, mas seria impossível para o mesmo controlar também o acesso de fora para dentro, se
por algum motivo, esse homem em determinado momento resolvesse entrar. Percebam que muitas são as
possibilidades, e torna-se praticamente impossível fazermos qualquer tipo de prejulgamento daquilo que na realidade
nós desconhecemos.

“No momento do acidente, a vítima estacionou sua moto na parede da estrutura e ficou descansando no local,
sendo atingido pelos escombros. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu no local.” Será que ninguém viu esse
homem descansando no local? Por onde ele entrou? A área estava isolada e sinalizada? Quantos trabalhadores
estavam presentes na atividade? A vítima estacionou a sua moto antes ou depois? Isso não ficou claro na informação
divulgada.

Sede Provisória na Av. Doutor Carlos Firpo, nº284, 1º Andar – Aracaju / Sergipe CEP. 49.010-250.
E-mail: sintestse@yahoo.com.br
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“O motorista da máquina foi absolvido, tendo em vista não ter tido responsabilidade no acontecimento, tendo
tido ordens expressas para o início e tido realizado sua conduta sem atuação imprudente.” Perfeito, mas afinal
de quem foram essas ordens expressas? Também não ficou claro!

“Ele foi indiciado por homicídio culposo qualificado pela inobservância de regra técnica da profissão. A
conduta foi determinada pela negligência, não tendo havido a intenção de matar.” Claro que nós Técnicos de
Segurança do Trabalho precisamos respeitar o cumprimento das regras técnicas alusivas à nossa profissão, mas
precisamos também, considerar, que muitas vezes o descumprimento dessas regras partem dos próprios
empregadores, dificultando inclusive a atuação do profissional. Quantas e quantas vezes somos submetidos à
discordâncias gerenciais ou mesmo administrativas pelas às ações que tomamos para cumprir justamente essas regras
técnicas?

“Após várias diligências, documentos técnicos e oitivas, com mais de 150 páginas do procedimento, foi
concluído pela responsabilidade do técnico de segurança, que não verificou o local antes de liberar o
procedimento, conforme determina a legislação.” Temos a certeza do fiel engajamento da Delegacia de Rosário
do Catete, e de todos os envolvidos para a elucidação deste caso, mas também contamos com a justiça, para que
havendo novos elementos investigativos, sejamos mais uma vez cumpridores de uma justiça capaz de reavaliar e
rever, se necessário, algumas de suas decisões, para o cumprimento do dever, da ordem e da democracia. Nossas
sinceras condolências aos familiares e amigos do acidentado.

A investigação de um acidente de trabalho deve ser bastante criteriosa, e deve considerar três aspectos
fundamentais:

Coleta de dados: Logo depois de serem prestados os primeiros socorros à vítima ou mesmo se constatado o óbito, é
necessário coletar o máximo de informações possíveis no local do ocorrido. Deve-se evitar que haja qualquer tipo de
alteração ou intervenção na cena, e entrevistar testemunhas.

Realização de simulações: Realizar uma simulação ajuda na investigação do acidente, fazendo com que os
trabalhadores visualizem melhor o momento, se lembrem das circunstâncias e confirmem a cronologia dos fatos.
Com isso, apuram-se os fatos com precisão.

Contextualização do cenário: Nessa etapa, é necessário analisar o processo de produção no dia do fato. Cabe, por
exemplo, investigação relativa ao maquinário, como defeitos e revisões, assim como averiguar o adequado
fornecimento de EPIs, e garantir a análise de todas as possíveis condicionantes.

A formação profissional na área de Segurança e Saúde do Trabalho passa inclusive pelo desenvolvimento de
habilidades gerenciais e competências técnicas relacionadas com as áreas de conhecimento que o Técnico de
Segurança de Trabalho atua, como, por exemplo, análises e avaliações preliminares, inspeções in loco, práticas de
Auditorias em SST, evolução de tecnologias de monitoramento, embasamento técnico e aplicabilidade de
equipamentos de proteção. Este profissional tem seu registro expedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) e sua profissão é regulamentada pela lei 7.410/85. A NR 4 é a norma regulamentadora que estabelece os
critérios e as exigências para que as organizações tenham o SESMT, que são Serviços Especializados em Segurança
e Medicina do Trabalho, onde por sua vez, cabe ao Técnico de Segurança do Trabalho estar sempre atento aos riscos,
fazendo inspeções diárias, acompanhando o dia-a-dia dos trabalhadores, ministrando treinamentos, conscientizando,
proferindo palestras e realizando campanhas voltadas à segurança e a percepções dos risco no trabalho.

A NR12, por sua vez, é uma das normas de trabalho que regulamenta os procedimentos de segurança para operações
de máquinas e equipamentos. O uso de máquinas pesadas também está previsto na norma. Logo, é fácil concluir que
toda atividade que envolve a utilização de pá carregadeira e outras máquinas pesadas devem possuir regras e boas
práticas para um uso seguro e eficiente dos equipamentos.

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O direito tem em sua criação a mão do legislador, mas o que não quer dizer que o legislador é responsável em
totalidade por esta criação, há uma parcela de responsabilidade por parte dos seus operadores, tais como, juízes,
advogados, juristas enfim, todos os que estão incluídos no rol de operadores. Isto faz com que perceba-se que o
direito não se limita à lei, não resta ter conhecimento da lei para que o direito seja aplicado de maneira justa, é
necessário que o aplicador, à interprete de forma que, ainda que a lei tenha um conteúdo que pareça desproporcional
ao que realmente é preciso pela sociedade, esta seja amoldada a uma aplicação proporcional. Como conceito, a
justiça social parte do princípio de que todos os indivíduos de uma sociedade têm direitos e deveres iguais em todos
os aspectos da vida social.

Por todos os contributos asseverados nesta nota de esclarecimento, queremos reiterar o nosso comprometimento junto
à categoria dos Técnicos de Segurança do Trabalho do Estado de Sergipe.

Aracaju, 07 de março de 2024

Sandro de Menezes Azevedo


Presidente/SINTEST-SE

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E-mail: sintestse@yahoo.com.br

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