Você está na página 1de 9

DISCIPLINA: PROCESSO DO TRABALHO I

ASSUNTO: NULIDADES PROCESSUAIS

PROFª: Petrucia Danielle

PRINCÍPIOS DAS NULIDADES PROCESSUAIS

Cabe advertir, de início, que o processo do trabalho contempla um capítulo próprio dedicado às
nulidades processuais (arts. 794 a 798 da CLT), em função do que as normas do CPC somente
ser-lhe-ão aplicadas subsidiariamente e, assim mesmo, desde que não contrariem os seus
princípios peculiares. Pode-se dizer que o sistema processual trabalhista de nulidades é regido por
normas (princípios e regras) que levam em conta, sobretudo, as especificidades e institutos
peculiares desse ramo especializado.

Entretanto, é preciso lembrar que o nosso sistema processual, civil ou trabalhista, “foi pensado e
construído para que não se decretem invalidades”36. Em outros termos, não há nulidade
processual a ser decretada: se os fins de justiça do processo forem alcançados; se for realizada a
finalidade do ato processual; se não houver manifesto prejuízo às partes.

1 PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS: Princípio da


instrumentalidade das formas, também chamado de princípio da finalidade, considera que quando
a lei prescrever determinada forma para o ato processual, sem cominar nulidade, o juiz
considerará válido o ato se, realizado de outro modo, alcançar a sua finalidade. O CPC, em seus
arts. 188 e 277, consagra o princípio da instrumentalidade, nos seguintes termos:

Art. 188. Os atos e os termos processuais independem de forma determinada,


salvo quando a lei expressamente a exigir, considerando-se válidos os que,
realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial.

Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido
o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.

Este princípio também é encampado pelo direito processual do trabalho, como se infere da
interpretação sistemática e teleológica dos arts. 795, 796, a, e 798 da CLT, in verbis:

Art. 795. As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das
partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem de falar em
audiência ou nos autos.
Art. 796. A nulidade não será pronunciada: a) quando for possível suprir-se a
falta ou repetir-se o ato (...)

Art. 798. A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele
dependam ou sejam consequência.

Sobre princípio da instrumentalidade das formas, colhemos o seguinte julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA


REGIDO PELA LEI N. 13.015/2014. DEPÓSITO RECURSAL. GFIP.
AUSÊNCIA DE AUTENTICAÇÃO MECÂNICA. PAGAMENTO
ELETRÔNICO. COMPROVANTE DE PAGAMENTO. PRESENÇA
DE ELEMENTOS IDENTIFICADORES. PRINCÍPIO DA
INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. DESERÇÃO NÃO
CARACTERIZADA.

A Presidência do Tribunal Regional considerou deserto o recurso de revista


da Reclamada, ao fundamento de que o depósito recursal foi efetuado através
da Guiade Depósito Judicial Trabalhista e não da Guia GFIP. Entretanto,
verifica-se que, no caso dos autos, houve o devido recolhimento do depósito
recursal, mediante guia própria (GFIP), atestado por comprovante de
pagamento eletrônico, no prazo alusivo ao recurso de revista. Insta salientar a
necessária observância dos princípios da razoabilidade, da instrumentalidade
e da finalidade dos atos processuais que impede o excesso de rigor e
formalismo para a prática do ato processual, se a lei assim não dispõe e se foi
atingida a finalidade do ato. Assim, existindo elementos que vinculem os
valores recolhidos a título de depósito recursal à demanda, é suficiente o
comprovante de pagamento, efetuado por meio de pagamento eletrônico, não
havendo que se falar em deserção do recurso de revista. Afastado o óbice
apontado pelo Tribunal Regional para denegar seguimento ao recurso de
revista e atendidos os demais pressupostos extrínsecos, passa-se à análise
imediata dos seus pressupostos intrínsecos, nos termos da OJ n. 282
SDI 1/TST (...) (TST-AIRR 11633-32.2015.5.15.0004, 5â T., Rei. Min.
Douglas Alencar Rodrigues, DEJT F-7-2019).

2 PRINCÍPIO DO PREJUÍZO OU DA TRANSCENDÊNCIA:

O princípio do prejuízo, também chamado de princípio da transcendência, está intimamente


ligado ao princípio da instrumentalidade das formas. Segundo o princípio em tela não haverá
nulidade processual sem prejuízo manifesto às partes interessadas.
O art. 794 da CLT “Nos processos sujeitos à apreciação da Justiça do Trabalho só haverá nulidade
quando resultar dos atos inquinados manifesto prejuízo às partes litigantes”.

Importa assinalar que o prejuízo referido no preceptivo em causa é de natureza processual, isto é,
não se cogita, aqui, de prejuízo material, financeiro, econômico ou moral decorrente do conflito
de direito material.

O § 1º do art. 282 do CPC dispõe que o ato, ainda que nulo, não será repetido nem sua falta será
suprida quando não prejudicar a parte.

O parágrafo único do art. 283 do CPC é expresso ao dispor que: “Dar-se-á o aproveitamento dos
atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte”.

Assim, por exemplo, se a parte notificada citatoriamente por edital comparece espontaneamente
à audiência e apresenta sua defesa sem alegação de vício de citação, não poderá depois alegar
nulidade por não ter sido citada regularmente, pois não houve prejuízo para o seu direito de defesa.
Se o empregador-recorrente suscita preliminar de nulidade da sentença por negativa de prestação
jurisdicional e o tribunal verifica que, no mérito, a ação é improcedente, deixa de declarar a
nulidade por inexistência de prejuízo ao recorrente (CPC, art. 282, § 2º).

A respeito do princípio do prejuízo ou da transcendência, invocamos alguns julgados:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA.


PRELIMINAR DE NULIDADE POR CERCEAMENTO DE DEFESA.
CARTA PRECATÓRIA. DEVOLUÇÃO. TESTEMUNHA NÃO
LOCALIZADA. DECISÃO DENEGATÓRIA. MANUTENÇÃO.
Segundo o princípio do prejuízo ou da transcendência, inserido no art. 794 da
CLT, na Justiça do Trabalho somente haverá nulidade quando resultar dos atos
inquinados manifesto prejuízo processual aos litigantes. Não há como
assegurar o processamento do recurso de revista quando o agravo de
instrumento interposto não desconstitui os fundamentos da decisão
denegatória, que subsiste por seus próprios fundamentos. Agravo de
instrumento desprovido (TST-AIRR 68641-49.2008.5.03.0067, 3â T, Rei.
Min. Mauricio Godinho Delgado, DEJT 15-3-2013).

NULIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO


RECLAMANTE. ERRO DE PROCEDIMENTO. PRINCÍPIO DA
TRANSCENDÊNCIA. PREJUÍZO CONFIGURADO. De acordo com o
princípio da transcendência, ligado umbilicalmente ao princípio da
instrumentalidade das formas, não haverá nulidade sem prejuízo manifesto às
partes litigantes. Entretanto, existente o erro de procedimento ou de
julgamento que resulte em prejuízo à parte processual, impõe-se a anulação
dos atos que não podem ser aproveitados, a fim de que se observe o
procedimento legal, nos termos do art. 794, da CLT (TRT 3- R., RO 0010122-
37.2018.5.03.0033, Rei. Juiz Conv. Vitor Salino de Moura Eca, 8â T. DEJT
19-9-2018).

3 PRINCÍPIO DA PRECLUSÃO OU CONVALIDAÇÃO:

O princípio da convalidação, também conhecido como princípio da preclusão, está consagrado


no art. 795 da CLT, segundo o qual “as nulidades não serão declaradas senão mediante
provocação das partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem de falar em
audiência ou nos autos”.

Tem-se entendido que a oportunidade para a parte arguir a nulidade em audiência encerra-se com
a apresentação das razões finais. Isto porque, como é cediço, a audiência trabalhista é, de lege
lata, sempre una - embora na prática forense isso, geralmente, não ocorra. Se a parte não suscitar
a nulidade na primeira oportunidade que tiver para falar em audiência ou nos autos, haverá a
convalidação do ato, ou seja, o ato anteriormente nulo passa à condição de ato válido, caso em
que estará precluso o direito de a parte, novamente, vir a alegar a nulidade do ato.

Consagrou-se, na prática processual trabalhista, o famoso “protesto nos autos”, mediante registro
na ata de audiência. Trata-se de um costume processual adotado pelas partes, geralmente
representadas por advogados, para evitar a preclusão.

O princípio da convalidação só é aplicável às nulidades relativas, que são aquelas que dependem
de provocação da parte interessada. Dito de outro modo, o princípio da convalidação ou preclusão
não se aplica às nulidades absolutas ou quando a parte provar legítimo impedimento para a prática
do ato.

Nesse sentido, aliás, dispõe o parágrafo único do art. 278 do CPC, segundo o qual não se aplica a
preclusão “às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a
parte legítimo impedimento”. É o que ocorre, por exemplo, com as hipóteses previstas nos arts.
233, § Ia, 485, § 3-, 337, § 5-, 342, II, e 507 do CPC.

É importante notar que o § 1º do art. 795 da CLT prescreve que deverá ser declarada ex officio a
nulidade fundada em “incompetência de foro” e, em tal caso, “serão considerados nulos os atos
decisórios”. A expressão “incompetência de foro” padece da boa técnica legislativa, razão pela
qual devemos nos socorrer da interpretação lógica do texto legal, pois, do contrário, isto é, se nos
valermos da interpretação gramatical ou literal, estaríamos dizendo que a incompetência
territorial, que é relativa, deverá ser decretada de ofício. De tal modo que por “foro” deve-se
entender a jurisdição, ou seja, o “foro trabalhista”, o “foro civil”, o “foro penal” ou a matéria, isto
é, a “matéria civil”, a “matéria penal”, a “matéria administrativa” etc.

Assim, a ação ajuizada por servidor regido por estatuto próprio da Administração Pública
pleiteando vantagem de natureza estatutária (p. ex.: anuênio) implica a “incompetência de foro”
da Justiça do Trabalho, pois esta não possui competência, seja em razão da matéria, seja em razão
da pessoa, para julgar a lide (STF, ADI n. 3.395). Vale dizer, o “foro” competente, in casu, é a
Justiça comum, para onde o juiz do trabalho deverá, declarando fundamentadamente sua
incompetência absoluta (decisão interlocutória), remeter os autos (CLT, art. 795, § 2a).

Acerca do princípio da preclusão, colacionamos algumas ementas:

AGRAVO INTERNO. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PRINCÍPIO


DA PRECLUSÃO. A ausência de impugnação do acórdão da Turma no
momento processual adequado ocasiona a preclusão da oportunidade de
recorrer, impossibilitando que a parte, após denegado o recurso extraordinário
de outra integrante do polo passivo, interponha agravo interno em face da
referida decisão. Neste contexto, o não conhecimento do presente agravo é
medida que se impõe, e sendo constatado o caráter inadmissível do apelo,
aplica-se a multa prevista no § 4- do art. 1.021 do CPC. Agravo interno não
conhecido, com aplicação de multa (TST - Ag-AIRR 2129002320095020038,
Rei. Min. Renato de Lacerda Paiva, Órgão Especial, DEJT 9-4-2019).

PRECLUSÃO LÓGICA. Se o reclamante na inicial requer a exclusão da lide


do sócio da empresa executada, reconhecendo que este, embora conste da
composição societária da empresa, era, na verdade, empregado da empresa e
não sócio de fato e, em agravo de petição, requer a penhora de salário do
mesmo sócio para a satisfação da execução, o presente ato processual
encontra-se em contradição com o ato anteriormente praticado, ofendendo a
lógica do comportamento das partes, aflorando, in casu, a preclusão lógica
(TRT 17â R., AP 0029200-75.1999.5.17.0006, 2â T, Rei. Des. Carlos
Henrique Bezerra Leite, DEJT 9-11-2010).

4 PRINCÍPIO DA ECONOMIA E CELERIDADE PROCESSUAIS: O princípio da


economia processual está implicitamente contido no art. 796, n, da CLT, segundo o qual a
nulidade não será pronunciada quando for possível suprir-se a falta ou repetir-se o ato. Este
princípio está intimamente ligado ao princípio da celeridade processual, segundo o qual o
processo deve ser o mais rápido possível, pois justiça tardia é injustiça manifesta.
À luz do princípio da economia processual, se o réu comparece irregularmente representado por
preposto não portador da carta de preposição, o juiz deverá, com base no art. 76 do CPC,
subsidiariamente aplicado ao processo do trabalho (CLT, art. 769; CPC, art. 15), suspender o
processo e determinar prazo razoável para ser sanado o vício e se o réu não cumprir a
determinação judicial será considerado revel.

Vale dizer, o juiz pode, in casu, determinar, com base nos princípios da economia e celeridade,
que a parte regularize a representação sem, no entanto, suspender o processo. Segundo nos parece,
o princípio da economia processual está consagrado também no art. 797 da CLT, bem como no
art. 282 do CPC.

Com efeito, se, ao pronunciar a nulidade, o juiz deve declarar os atos a que ela se estende, é óbvio
que, por economia (e celeridade) processual, declarará, também, explícita ou implicitamente, os
atos válidos que serão aproveitados.

Sobre princípios da economia e celeridade processuais, trazemos a lume o seguinte aresto:

RECURSO DE REVISTA. NULIDADE DO ACÓRDÃO REGIONAL POR


NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. 1 - No que se refere aos
temas “INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS”, “DOBRA DE FÉRIAS”,
“INTEGRAÇÃO DA PREVIDÊNCIA PRIVADA” e “COMPENSAÇÃO”, o
Tribunal Regional apreciou, detida e fundamentadamente, toda a matéria
devolvida, pelo que não há falar em negativa de prestação jurisdicional. 2 -
Quanto ao tema “NULIDADE DO PEDIDO DE DEMISSÃO. AUSÊNCIA
DE HOMOLOGAÇÃO SINDICAL”, com fundamento no art. 249, § 2-, do
CPC/73 (art. 282, § 2-, do CPC/15), e observando os princípios da economia
processual e da instrumentalidade das formas, deixo de analisar a nulidade
arguida, em face da possibilidade de julgamento em favor da parte a quem
aproveitaria a declaração de nulidade. Recurso de revista não conhecido (...)
(TST-RR 15551320105150114, Rei. Min. Márcio Eurico Vitral Amaro, 8â T,
DEJT 14-12-2018).

5 PRINCÍPIO DO INTERESSE: A parte tem o direito de demonstrar manifesto prejuízo


ao seu direito de demandar em juízo, mas somente estará autorizada a arguir a nulidade do ato se,
e somente se, não concorreu direta ou indiretamente para a ocorrência da irregularidade. Trata-
se, pois, do princípio do interesse, que está previsto no art. 796, b, da CLT, segundo o qual a
nulidade do ato processual não será pronunciada quando arguida por quem lhe tiver dado causa.
Dito de outro modo, quem causou a nulidade processual não pode argui-la posteriormente.
No mesmo sentido, dispõe o art. 276 do CPC: “Quando a lei prescrever determinada forma sob
pena de nulidade, a decretação desta não pode ser requerida pela parte que lhe deu causa”. O
princípio do interesse, portanto, constitui postulado ético do processo e corolário do princípio da
boa-fé (CPC, art. 5°), o qual não admite que alguém obtenha vantagem valendo-se de sua própria
torpeza. Dito de outro modo, nenhum participante do processo poderá postular decretação de sua
invalidade se ele mesmo lhe deu causa, pois, ao “praticar o ato viciado, a parte vê logicamente
preclusa a possibilidade de alegar vício a que deu causa (preclusão lógica)”.

O princípio do interesse é reconhecido na seguinte ementa: PRELIMINAR DE NULIDADE


DA SENTENÇA.

Para efeito de eficácia da nulidade arguida, mister concorram as seguintes condições:

(i) que os atos inquinados de nulos tenham resultado em manifesto prejuízo à parte
(CLT, art. 794);
(ii) que não seja possível se suprir a falta ou se repetir o ato, e
(iii) que a nulidade não seja arguida por quem lhe tiver dado causa (CLT, art. 796, a e b).

3. ATOS PROCESSUAIS NULOS, ANULÁVEIS E INEXISTENTES

É preciso não confundir as nulidades no direito processual com as nulidades previstas no direito
material.

No direito civil, há os atos nulos e os atos anuláveis, enquanto no direito do trabalho, muito
embora haja cizânia doutrinária no tocante aos atos anuláveis, o art. 9º da CLT declara nulos os
atos praticados com o objetivo de impedir, fraudar ou desvirtuar os preceitos e normas de natureza
trabalhista. Já no direito processual civil ou trabalhista, os atos processuais que contenham
irregularidades, defeitos ou vícios podem ser nulos, anuláveis ou inexistentes.

Da mesma forma que os atos jurídicos em geral podem conter irregularidades ou vícios que
contaminam ou podem contaminar a sua validade, os atos processuais também podem conter
irregularidades, vícios ou defeitos que os tornam nulos ou anuláveis.

As irregularidades ou vícios processuais são classificados segundo a gravidade que representam


para o processo. Assim, de acordo com as consequências que acarretam para o processo, temos
quatro grupos de vícios processuais:

a) Meras irregularidades sem consequências processuais: Alguns atos processuais podem não
se revestir das formalidades legais, mas não trazem consequência alguma para a validade do
processo. Por exemplo, o art. 770 da CLT dispõe que os “atos processuais serão públicos salvo
quando o contrário determinar o interesse social, e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 (seis) às 20
(vinte) horas”. Se a audiência ou sessão do tribunal terminar depois das 20 (vinte) horas, por
exemplo, haverá mera irregularidade sem consequência para a validade do processo.

b) Irregularidades com sanções extraprocessuais: Alguns atos praticados sem observância de


algum requisito legal geram apenas sanções fora do processo (geralmente, de ordem disciplinar),
como é o caso do juiz que retarda, sem justificativa, a prática de algum ato (CPC, art. 143, II).

c) Irregularidades que acarretam nulidades processuais: Há, aqui, uma consequência


processual de acordo com a gravidade da nulidade, que, por isso mesmo, pode ser relativa ou
absoluta.

d) Irregularidades que acarretam a inexistência do ato processual: A sentença sem assinatura


do juiz ou por juiz aposentado (ato de aposentadoria publicado no Diário Oficial), segundo
entendimento quase unânime, é ato processual inexistente.

3.1. Nulidade absoluta e nulidade relativa do ato processual:

A nulidade absoluta ocorre quando determinado ato fere norma de ordem pública, portanto
indisponível pelas partes. Esta espécie de nulidade pode comprometer a validade total ou parcial
do processo e não se sujeita, em princípio, à preclusão.

Exemplifica-se com a incompetência absoluta. Se a sentença for proferida por juiz absolutamente
incompetente, a consequência será a nulidade da sentença por ausência de pressuposto processual
de validade da relação processual. Tal nulidade é tão grave que pode (e deve) ser decretada, de
ofício, no mesmo processo (CPC, art. 377, § 5°), ou empolgar ação rescisória (CPC, art. 966, II).

Já a nulidade relativa corresponde a um vício sanável, porquanto decorrente de ato praticado no


interesse da parte. Vale dizer, há um vício no ato praticado, mas ele pode ser convalidado por
ação ou omissão da parte. A nulidade relativa depende de provocação do interessado, uma vez
que não pode ser pronunciada ex officio.

A incompetência relativa, por exemplo, constitui um vício sanável, na medida em que pode ser
prorrogada se o réu, nos termos do art. 800 da CLT, não oferecer exceção de incompetência. Dito
doutro modo, se o réu não oferecer exceção de incompetência territorial no momento próprio, o
vício da incompatibilidade relativa estará sanado automaticamente pela omissão do réu, e o
processo prosseguirá normalmente.

Todos os atos processuais são válidos e eficazes até que se decretem as suas invalidades. Em
outras palavras, qualquer nulidade processual depende sempre de decretação judicial, pois o nosso
sistema processual permite o trânsito em julgado de sentença inválida. É dizer, o ordenamento
jurídico brasileiro reconhece a coisa julgada decorrente de sentença absolutamente nula, cujo
exemplo mais expressivo é o da sentença proferida por juiz impedido ou juízo absolutamente
incompetente (CPC, art. 966, II).

3.2. Ato processual inexistente:

No que concerne aos atos processuais inexistentes, ou melhor, juridicamente inexistentes, não há
sequer necessidade de ação rescisória, pois a parte poderá valer-se da ação declaratória de
inexistência de ato processual. Uma sentença é inexistente, portanto, passível de invalidação,
quando não observado um pressuposto processual de existência no processo em que ela foi
prolatada, tal como ocorre no processo em que a citação foi considerada inexistente, como se vê
do seguinte aresto:

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE SENTENÇA POR


INEXISTÊNCIA DE CITAÇÃO. A ação declaratória de nulidade ou
querela nullitatis é o remédio processual eficaz para invalidar sentença após o
trânsito em julgado em processo em que o réu não foi citado (TRT 17â R.,
0107500-19.2011.5.17.0010, Rei. Des. Cláudio Armando Couce de Menezes,
DEJT 15-8-2012).

Reconhece-se, assim, que, sem um pronunciamento judicial, até mesmo os atos processuais
inexistentes produzem efeitos e se sujeitam à preclusão quando não forem submetidos à
apreciação jurisdicional. Dito doutro modo, um ato processual somente será considerado
inexistente por meio de decisão judicial.

Você também pode gostar