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Cabe advertir, de início, que o processo do trabalho contempla um capítulo próprio dedicado às
nulidades processuais (arts. 794 a 798 da CLT), em função do que as normas do CPC somente
ser-lhe-ão aplicadas subsidiariamente e, assim mesmo, desde que não contrariem os seus
princípios peculiares. Pode-se dizer que o sistema processual trabalhista de nulidades é regido por
normas (princípios e regras) que levam em conta, sobretudo, as especificidades e institutos
peculiares desse ramo especializado.
Entretanto, é preciso lembrar que o nosso sistema processual, civil ou trabalhista, “foi pensado e
construído para que não se decretem invalidades”36. Em outros termos, não há nulidade
processual a ser decretada: se os fins de justiça do processo forem alcançados; se for realizada a
finalidade do ato processual; se não houver manifesto prejuízo às partes.
Art. 277. Quando a lei prescrever determinada forma, o juiz considerará válido
o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade.
Este princípio também é encampado pelo direito processual do trabalho, como se infere da
interpretação sistemática e teleológica dos arts. 795, 796, a, e 798 da CLT, in verbis:
Art. 795. As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das
partes, as quais deverão argui-las à primeira vez em que tiverem de falar em
audiência ou nos autos.
Art. 796. A nulidade não será pronunciada: a) quando for possível suprir-se a
falta ou repetir-se o ato (...)
Art. 798. A nulidade do ato não prejudicará senão os posteriores que dele
dependam ou sejam consequência.
Importa assinalar que o prejuízo referido no preceptivo em causa é de natureza processual, isto é,
não se cogita, aqui, de prejuízo material, financeiro, econômico ou moral decorrente do conflito
de direito material.
O § 1º do art. 282 do CPC dispõe que o ato, ainda que nulo, não será repetido nem sua falta será
suprida quando não prejudicar a parte.
O parágrafo único do art. 283 do CPC é expresso ao dispor que: “Dar-se-á o aproveitamento dos
atos praticados desde que não resulte prejuízo à defesa de qualquer parte”.
Assim, por exemplo, se a parte notificada citatoriamente por edital comparece espontaneamente
à audiência e apresenta sua defesa sem alegação de vício de citação, não poderá depois alegar
nulidade por não ter sido citada regularmente, pois não houve prejuízo para o seu direito de defesa.
Se o empregador-recorrente suscita preliminar de nulidade da sentença por negativa de prestação
jurisdicional e o tribunal verifica que, no mérito, a ação é improcedente, deixa de declarar a
nulidade por inexistência de prejuízo ao recorrente (CPC, art. 282, § 2º).
Tem-se entendido que a oportunidade para a parte arguir a nulidade em audiência encerra-se com
a apresentação das razões finais. Isto porque, como é cediço, a audiência trabalhista é, de lege
lata, sempre una - embora na prática forense isso, geralmente, não ocorra. Se a parte não suscitar
a nulidade na primeira oportunidade que tiver para falar em audiência ou nos autos, haverá a
convalidação do ato, ou seja, o ato anteriormente nulo passa à condição de ato válido, caso em
que estará precluso o direito de a parte, novamente, vir a alegar a nulidade do ato.
Consagrou-se, na prática processual trabalhista, o famoso “protesto nos autos”, mediante registro
na ata de audiência. Trata-se de um costume processual adotado pelas partes, geralmente
representadas por advogados, para evitar a preclusão.
O princípio da convalidação só é aplicável às nulidades relativas, que são aquelas que dependem
de provocação da parte interessada. Dito de outro modo, o princípio da convalidação ou preclusão
não se aplica às nulidades absolutas ou quando a parte provar legítimo impedimento para a prática
do ato.
Nesse sentido, aliás, dispõe o parágrafo único do art. 278 do CPC, segundo o qual não se aplica a
preclusão “às nulidades que o juiz deva decretar de ofício, nem prevalece a preclusão provando a
parte legítimo impedimento”. É o que ocorre, por exemplo, com as hipóteses previstas nos arts.
233, § Ia, 485, § 3-, 337, § 5-, 342, II, e 507 do CPC.
É importante notar que o § 1º do art. 795 da CLT prescreve que deverá ser declarada ex officio a
nulidade fundada em “incompetência de foro” e, em tal caso, “serão considerados nulos os atos
decisórios”. A expressão “incompetência de foro” padece da boa técnica legislativa, razão pela
qual devemos nos socorrer da interpretação lógica do texto legal, pois, do contrário, isto é, se nos
valermos da interpretação gramatical ou literal, estaríamos dizendo que a incompetência
territorial, que é relativa, deverá ser decretada de ofício. De tal modo que por “foro” deve-se
entender a jurisdição, ou seja, o “foro trabalhista”, o “foro civil”, o “foro penal” ou a matéria, isto
é, a “matéria civil”, a “matéria penal”, a “matéria administrativa” etc.
Assim, a ação ajuizada por servidor regido por estatuto próprio da Administração Pública
pleiteando vantagem de natureza estatutária (p. ex.: anuênio) implica a “incompetência de foro”
da Justiça do Trabalho, pois esta não possui competência, seja em razão da matéria, seja em razão
da pessoa, para julgar a lide (STF, ADI n. 3.395). Vale dizer, o “foro” competente, in casu, é a
Justiça comum, para onde o juiz do trabalho deverá, declarando fundamentadamente sua
incompetência absoluta (decisão interlocutória), remeter os autos (CLT, art. 795, § 2a).
Vale dizer, o juiz pode, in casu, determinar, com base nos princípios da economia e celeridade,
que a parte regularize a representação sem, no entanto, suspender o processo. Segundo nos parece,
o princípio da economia processual está consagrado também no art. 797 da CLT, bem como no
art. 282 do CPC.
Com efeito, se, ao pronunciar a nulidade, o juiz deve declarar os atos a que ela se estende, é óbvio
que, por economia (e celeridade) processual, declarará, também, explícita ou implicitamente, os
atos válidos que serão aproveitados.
(i) que os atos inquinados de nulos tenham resultado em manifesto prejuízo à parte
(CLT, art. 794);
(ii) que não seja possível se suprir a falta ou se repetir o ato, e
(iii) que a nulidade não seja arguida por quem lhe tiver dado causa (CLT, art. 796, a e b).
É preciso não confundir as nulidades no direito processual com as nulidades previstas no direito
material.
No direito civil, há os atos nulos e os atos anuláveis, enquanto no direito do trabalho, muito
embora haja cizânia doutrinária no tocante aos atos anuláveis, o art. 9º da CLT declara nulos os
atos praticados com o objetivo de impedir, fraudar ou desvirtuar os preceitos e normas de natureza
trabalhista. Já no direito processual civil ou trabalhista, os atos processuais que contenham
irregularidades, defeitos ou vícios podem ser nulos, anuláveis ou inexistentes.
Da mesma forma que os atos jurídicos em geral podem conter irregularidades ou vícios que
contaminam ou podem contaminar a sua validade, os atos processuais também podem conter
irregularidades, vícios ou defeitos que os tornam nulos ou anuláveis.
a) Meras irregularidades sem consequências processuais: Alguns atos processuais podem não
se revestir das formalidades legais, mas não trazem consequência alguma para a validade do
processo. Por exemplo, o art. 770 da CLT dispõe que os “atos processuais serão públicos salvo
quando o contrário determinar o interesse social, e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 (seis) às 20
(vinte) horas”. Se a audiência ou sessão do tribunal terminar depois das 20 (vinte) horas, por
exemplo, haverá mera irregularidade sem consequência para a validade do processo.
A nulidade absoluta ocorre quando determinado ato fere norma de ordem pública, portanto
indisponível pelas partes. Esta espécie de nulidade pode comprometer a validade total ou parcial
do processo e não se sujeita, em princípio, à preclusão.
Exemplifica-se com a incompetência absoluta. Se a sentença for proferida por juiz absolutamente
incompetente, a consequência será a nulidade da sentença por ausência de pressuposto processual
de validade da relação processual. Tal nulidade é tão grave que pode (e deve) ser decretada, de
ofício, no mesmo processo (CPC, art. 377, § 5°), ou empolgar ação rescisória (CPC, art. 966, II).
A incompetência relativa, por exemplo, constitui um vício sanável, na medida em que pode ser
prorrogada se o réu, nos termos do art. 800 da CLT, não oferecer exceção de incompetência. Dito
doutro modo, se o réu não oferecer exceção de incompetência territorial no momento próprio, o
vício da incompatibilidade relativa estará sanado automaticamente pela omissão do réu, e o
processo prosseguirá normalmente.
Todos os atos processuais são válidos e eficazes até que se decretem as suas invalidades. Em
outras palavras, qualquer nulidade processual depende sempre de decretação judicial, pois o nosso
sistema processual permite o trânsito em julgado de sentença inválida. É dizer, o ordenamento
jurídico brasileiro reconhece a coisa julgada decorrente de sentença absolutamente nula, cujo
exemplo mais expressivo é o da sentença proferida por juiz impedido ou juízo absolutamente
incompetente (CPC, art. 966, II).
No que concerne aos atos processuais inexistentes, ou melhor, juridicamente inexistentes, não há
sequer necessidade de ação rescisória, pois a parte poderá valer-se da ação declaratória de
inexistência de ato processual. Uma sentença é inexistente, portanto, passível de invalidação,
quando não observado um pressuposto processual de existência no processo em que ela foi
prolatada, tal como ocorre no processo em que a citação foi considerada inexistente, como se vê
do seguinte aresto:
Reconhece-se, assim, que, sem um pronunciamento judicial, até mesmo os atos processuais
inexistentes produzem efeitos e se sujeitam à preclusão quando não forem submetidos à
apreciação jurisdicional. Dito doutro modo, um ato processual somente será considerado
inexistente por meio de decisão judicial.