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AS POSSIBILIDADES
TERAPÊUTICAS
ob
DE ÁLCOOL
COMUNIDADES TERAPÊUTICAS; ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS E
RELIGIOSAS, EM ESPECIAL OS ALCOÓLICOS ANÓNIMOS; OU PELO SISTEMA
ÚNICO DE SAÚDE (SUS), NOS DIVERSOS SERVIÇOS DA REDE DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL (RAPS), ESPECIALMENTE NOS CENTRO DE ATENÇÃO
PSICOSSOCIAL DE ÁLCOOL DE DROGAS (CAPSAD) E CONSULTÓRIOS NA
RUA, COM USO DA ESTRATÉGIA DE REDUÇÃO DE DANOS, SÃO OPÇÓES
TERAPÊUTICAS PARA USUÃRIOS DE ÁLCOOL
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"Uma forma de tratamento para o alcoolismo e a dependência de outras drogas são as internações em
Comunidades Terapêuticas."
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documento estabelece as exigências mínimas que familiares e amigos; a permanência voluntária; a
essas instituições precisão atender para estarem vedação a qualquer forma de contenção física, iso-
liberadas para realizar o atendimento aos depen- lamento ou restrição à liberdade; a possibilidade
dentes de álcool e outras drogas (COSTA, 2009). do usuário interromper a permanência a qualquer
São Instituições privadas, sem fins lucrativos momento; a privacidade, quanto ao uso de vestuá-
e financiadas, em parte, pelo poder público. Ofere- rio próprio e de objetos pessoais.
cem gratuitamente acolhimento para pessoas com Uma das formas mais conhecidas de aco
transtornos decorrentes de dependência de dro- Ihimento aos alcoolistas são os Grupos de Ajuda
gas. São instituições abertas, de adesão exclusiva- Mútua, como por exemplo os Alcoólicos Anónimos
mente voluntária, voltadas a pessoas que desejam (AA). O AA nasceu em Akron, Ghio a partir de um
e necessitam de um espaço para acolhimento (de grupo evangélico para alcoolistas dentro Oxford
até 12 meses) para recuperação da dependência à Group, em 1935. É considerado uma "irmandade de
droga, devendo manter seu tratamento na rede de homens e mulheres que compartilham suas ex-
atenção psicossocial e demais serviços de saúde periências, forças e esperanças, a fim de resolver
que se façam necessários. seu problema comum e ajudar outros a se recu
As Comunidades Terapêuticas mantêm sem- pecarem do alcoolismo". Possui grupos voltados
pre um responsável técnico de nível superior le- para os alcoolistas e para os familiares e amigos, o
galmente habilitado, bem como um substituto com Al-Anon (JOHN; LABONIA FILHO, 2014).
a mesma qualificação. O AA tem como objetivo ajudar os alcoolistas
No processo de admissão, a Comunidade a evitar "primeiro gole" e, assim, manter a "so-
Terapêutica deve garantir: o respeito à pessoa e briedade". Nas reuniões do AA, álcool e alcoolismo
à família, independente da etnia, credo religio- funcionam como operadores simbólicos a partir
so, ideologia, nacionalidade, orientação sexual, dos quais seus membros constroem um sentido a
antecedentes criminais ou situação financeira; respeito de suas experiências. Nas reuniões, quan-
a orientação clara ao usuário e seu responsável do narram uns para os outros como eram suas
sobre as normas e rotinas da instituição, incluin- vidas enquanto estavam no vício, surgem os sen-
do critérios relativos a visitas e comunicação com tidos atribuídos ao alcoolismo. O próprio ato de
"Uma das formas mais conhecidas de acolhimento aos alcoolistas são os Grupos de Ajuda Mútua, como por
exemplo os Alcoólicos Anónimos (AA)."
TRATAMENTO - POSSIBILIDADES TERAPÊUTICAS
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"Consideram-se os encontros do AA como rituais terapêuticos onde os participantes, além de compartilhar
suas experiências, são convidados a seguir alguns comportamentos propostos por esta irmandade."
Mais especificamente sobre atenção ao usuá-
rio de álcool, a Política Nacional de Saúde Mental,
Álcool e Outras Drogas é orientada pelas diretri-
zes da Reforma Psiquiátrica e da lei n° 10.126, que
busca a superação do modelo asilar anterior, em
busca da garantia dos direitos de cidadania da
pessoa e categorias de cuidado onde ela é sujeito
ativo do seu processo. Nessa perspectiva, prioriza
iniciativas que visam o cuidado integral, centrado
na promoção de autonomia e exercício da inclu-
são social. No caso de usuários de álcool, priorita-
riamente nos CAPS e Consultório na Rua.
Nessa rede, os CAPS possuem papel funda-
mental, sendo o elo da rede. Existem cinco tipos
de CAPS, classificados por tipo de clientela dife-
renciada (adultos, crianças/adolescentes e usuá-
rios de álcool e drogas) a depender do contin-
gente populacional a ser coberto (pequeno, médio
e grande porte) e do período de funcionamento
(diurno ou 24h):
possa incluir pessoas em situação de crise, mui- visa a ampliar o acesso da população de rua
to desestruturadas e que não consigam, naquele aos serviços de saúde, ofertando, de maneira
momento, acompanhar as atividades organizadas mais oportuna, atenção integral à saúde para
da unidade. O sucesso do acolhimento da crise é esse grupo populacional, o qual se encontra em
essencial para o cumprimento dos objetivos de um condições de vulnerabilidade e com os vínculos
CAPS, que é de atender aos transtornos psíquicos familiares interrompidos ou fragilizados. Reco
graves e evitar as internações" (BRASIL, 2004. p.l8). nhece que a responsabilidade pela atenção à
Além de prestar um atendimento clínico, o saúde da população de rua é de todo e qualquer
CAPS tem como objetivo, também, realizar a re- profissional do Sistema Único de Saúde, mesmo
inserção social dos usuários. Para isso, devem que ele não seja componente de uma equipe de
ser realizadas "ações intersetoriais que envolvam Consultório na Rua. Desta forma, em municípios
educação, trabalho, esporte, cultura e lazer, mon- ou áreas em que não haja equipe, a atenção de-
tando estratégias conjuntas de enfrentamento dos verá ser prestada pela Atenção Básica, incluindo
problemas" (BRASIL, 2004. p.l3). os profissionais de Saúde Bucal e os Nasf do
O CAPS oferece diversos tipos de serviços, território onde essas pessoas estão concentra-
tanto individuais quanto coletivos. Para isso, con- das (MS, 2010)
ta com uma equipe multiprofissional geralmente Um diferencial desses dois úhimos serviços,
composta por médicos, enfermeiros, técnicos em que atuam dentro da RAPS, inserida no SUS, a
enfermagem, psicólogos, farmacêuticos, assisten- atuação ocorre pautada na produção do cuida-
tes sociais e terapeutas ocupacionais. do, em busca da autonomia e atuação ativa do
Já o Consultório na Rua foi instituído pela usuário sobre seu processo terapêutico. Tem como
Política Nacional de Atenção Básica, em 2011, e norte ainda a Estratégia de Redução de Danos que
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objetiva reduzir os danos causados pelo abuso de ofertados "tratamentos" inspirados em modelos de
drogas lícitas e ilícitas. Sob esse olhar, diferente exclusão/separação dos usuários do convívio social
das propostas anteriores, a abstinência não pode - como único objetivo a ser alcançada a abstinência.
ser, então, o único objetivo a ser alcançado. Põe Hoje, surgem novos desafios, exigindo de
em ação estratégias de proteção, cuidado e auto- nós o esforço de evitarmos simplificações redu-
cuidado, possibilitando mudança de atitude frente cionistas sobre o alcoolismo. Este possui implica-
a situações de vulnerabilidade. Busca lidar com as ções sociais, psicológicas, económicas e políticas
singularidades, com as diferentes possibilidades e que são evidentes, e devem ser consideradas na
escolhas que são feitas. Busca práticas de saúde compreensão global do problema. O usuário deve
acolham, sem julgamento, as demandas de cada ser visto de maneira singular, sem "receitas de
situação. Contempla se, todavia, que não pode ser bolo", mas também com a consciência de que cada
confundida com incentivo ao uso de drogas, em- um de seus usuários expressam a história de vida
de muitos brasileiros. Contempla-se, por fim, que
bora fundamente-se no princípio da tolerância ou
este é tema transversal da Psicologia e de outras
respeito às escolhas individuais.
áreas da saúde, da justiça, da educação, social e de
Elencadas de forma resumida as possibilida-
desenvolvimento.
des de atenção e cuidado ao usuário de álcool, que
possuem perspectivas, abordagens e objetivos dife
* Cynthia de Freitas Melo é psicóloga (licenciatura e formação),
rentes, conclui-se refletindo que historicamente, a doutora em Psicologia (UFRN) e professora do Programa de Pós-
questão do uso abusivo e/ou dependência de álcool Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
e outras drogas tem sido um tema associado à cri- É também coordenadora do Laboratório de Estudos e Prática em
minalidade e práticas antissociais, por uma ótica Psicologia e Saúde (LEPP-SAÚDE). Lattes: http://lattes.cnpq.
predominantemente psiquiátrica ou médica. São br/0959784070938964
ESPECIAL ALCOOLISMO
COMO TUDO
TE COMEÇA
Entender as origens do
ependência quím^fllRk
O tratamento da dependência quími problema ajuda a evitar que ele
exige uma abordagentjKftpêuticfflS
íemíèfaDêutica centrada ^ se agrave e também auxilia na
nas questões do pacierfM^em sliá busca por um caminho de
QQ interação com a s^^ recuperação e reabilitação