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PERIGOSAS NACIONAIS

O Médico
LIVRO 2

Ana Paula Vilar


1a Edição
2016

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2016 ANA PAULA


VILAR.

Todos os direitos reservados à


autora. Nenhuma parte deste livro pode
ser utilizada ou reproduzida sob
quaisquer meios existentes sem
autorização da autora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido
na lei n° 9.610/98, punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Equipe Editorial:
Revisão: Sara Rodrigues

PERIGOSAS ACHERON
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Capa & Diagramação Digital:


Míddian Meireles

Esta é uma obra de ficção. Seu


intuito é entreter as pessoas. Nomes,
personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Essa obra foi escrita e revisada
de acordo com a Nova Ortografia da
Língua Portuguesa. O autor e o revisor
entendem que a obra deve estar na

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norma culta, mas o estilo de escrita


coloquial foi mantido para aproximar o
leitor dos tempos atuais.

PERIGOSAS ACHERON
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O Médico
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
BÔNUS DOUGLAS
Capítulo 11

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BÔNUS ABBY
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Epílogo
BÔNUS MADSON
Agradecimentos

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Sinopse
Douglas agora é um médico renomado na área
neurológica, sua vida parece perfeita. Mas nem
sempre foi assim, houve um tempo em que ele era
mais feliz, só que esse tempo se tornou um
pesadelo e o seu coração foi partido em mil
pedaços. Depois de mudar de cidade e de
personalidade, ele se tornou o cara mais
mulherengo que poderia haver, deixando de lado
vários de seus valores e também a sua família.
Tudo muda quando ele é convocado para fazer
uma cirurgia de alto risco, onde ele se depara com
Madson, uma paciente que estava à beira da morte.
E com o passar do tempo a afeição que ele já sentia
por ela vai aumentado, até que ele se vê
apaixonado. O passado parece voltar para

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atormentá-lo e a muralha que há em volta de seu


coração ameaça cair. Quando o amor desperta, ele
se vê dividido entre tomá-la como sua para sempre
ou deixá-la escolher seu próprio destino.
Madson sofreu um acidente grave, meses
lutando entre a vida e a morte. Quando ela acorda
percebe que está sem os movimentos das pernas e
acredita que tudo está perdido, porém há uma luz
no fim do túnel, e essa luz tem um nome e um belo
sorriso, Douglas Fitiz.
Ela luta a cada dia para conseguir de volta os
movimentos de suas pernas, mesmo que a vontade
de desistir seja grande, a de prosseguir será maior.
Interessada pelo médico responsável pelo seu
tratamento e com medo do que o amor pode lhe
proporcionar, ela se vê obrigada a fazer uma
escolha que poderá mudar todo o seu destino.
Duas histórias diferentes.
Duas pessoas quebradas.
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E um amor forte.

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Prólogo
30 de agosto de 2000.

Um dia não tão normal quanto todos os outros,


talvez pelo fato de ser o primeiro dia de aula no
ensino médio, ou até mesmo por algum motivo
desconhecido.
Douglas estava sentado em um banco em
frente ao colégio rodeado por seus amigos e por
alguns outros caras que não conhecia. Ele esperava
conseguir entrar para o time de futebol americano e
continuar tirando notas boas. Ele nunca foi um
rapaz bagunceiro, talvez um pouco namorador, ou
galinha se assim preferir, mas sempre manteve as
notas altas.
Ele se mantinha tranquilo, mesmo faltando

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apenas alguns minutos para poder entrar de vez no


ensino médio. Os caras com quem estudava
estavam envolvidos em uma conversa animada
sobre algum assunto fútil, mas ele não conseguia se
concentrar. Do nada uma onda de nervosismo
envolveu Douglas, ele olhou para todos os lados
procurando por algo, só não sabia exatamente o
quê.
E foi nesse exato momento que seus olhos
cruzaram com os dela, uma moça de longos cabelos
loiros e os olhos verdes mais lindos que ele já tinha
visto. Você acredita em amor à primeira vista? Ele
não acreditava, mal acreditava no amor. Cresceu
em uma casa onde conflitos eram mais comuns que
afetos.
Não sabia o que estava sentindo naquele
momento, mas a moça que parecia tímida estava
parada olhando-o assim como ele a olhava.
— Para de encarar, cara. — Um dos amigos de
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Douglas falou dando um tapa nas costas dele. Ele


sorriu timidamente, abaixou o olhar e voltou a olhar
novamente. Mas a menina já não estava olhando
em sua direção, ela olhava em outra direção.
Ele seguiu o olhar dela e encontrou um rapaz
loiro, que parecia um pouco mais velho indo na
direção dela com um grande sorriso. Esse rapaz a
abraçou e falou alguma coisa em seu ouvido.
Douglas sentiu um enorme desconforto com aquilo,
mesmo sem ter motivos para isso. Quando o sinal
tocou, todos os rapazes se levantaram e seguiram
fazendo brincadeiras até as suas salas, estavam
eufóricos.
Nos dias seguintes, a garota loira não apareceu
na escola, nem nas semanas seguintes. Passou-se
um mês até que ela finalmente voltou a aparecer.
Douglas passou mais alguns meses apenas a
observando de longe. Logo ele que era um cara que
tinha facilidade com as mulheres, não conseguia
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reunir coragem suficiente para falar com ela. Até


que a vida resolveu dar uma ajudinha a ele,
literalmente.

Um dia, ele estava atrasado e corria pelos


corredores para chegar a tempo na aula de biologia.
Alguém chamou pelo seu nome e ele olhou para o
lado, em seguida foi atingido por algo pesado. Caiu
no chão de olhos fechados, abriu os olhos devagar e
sorriu ao ver quem estava ali com ele: A moça dos
olhos claros.

— O que aconteceu? — Ele perguntou


confuso enquanto se recompunha.

— Um carrinho de limpeza desgovernado te


atingiu. — A menina falou, parecia preocupada.

— Qual o seu nome? — Ele perguntou,


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enquanto se levantava.

— Sarah Smith. — Ela respondeu com aquela


voz doce, sorrindo e o ajudando. Ela não perguntou
o nome dele, mas parecia querer saber, então ele se
apresentou.

— Eu sou Douglas Fitiz. — Sarah fez questão


de levá-lo até a enfermaria e ficou ao lado dele
enquanto a enfermeira do colégio fazia curativos
em sua cabeça.

Depois disso, a aproximação entre Douglas e


Sarah se tornou uma bela amizade, mas ele não
sentia que deveria ser apenas aquilo. E então um
dia arriscou-se e a pediu em namoro, para a sua
surpresa, ela aceitou muito bem. Passaram os três
anos seguintes juntos, e ele a amando cada vez
mais, já estava no final do ensino médio quando ele
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decidiu pedi-la em casamento.

Organizou um jantar lindo à luz de velas e fez


o pedido, ele achou que ela não fosse aceitar, mas
ela aceitou. Os dois combinaram de ir juntos para a
faculdade, eles queriam fazer música na Juilliard.
Entrariam no ano seguinte e se casariam após se
formarem.

Para todos, eles eram o casal mais lindo já


visto. Combinavam e se entendiam em todos os
aspectos, e para eles, a felicidade nunca esteve tão
evidente.

Faltando apenas dois meses para poderem ir


para Juliart, em uma noite de neblina, Douglas
sentiu um aperto no peito, sabia que precisava ver
Sarah. Pegou o carro e foi até a casa dela, chegando
lá todas as luzes estavam apagadas. Ele bateu na
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porta, gritou várias vezes e realmente não havia


ninguém lá. Tentou ligar nos telefones de todos da
casa, mas ninguém atendia, decidiu então ir para
casa.

Semanas se passaram e ele tentava ligar todos


os dias e agora os telefonemas nem chamavam
mais, iam direto para a caixa postal. Aquele aperto
no peito continuou crescendo, a casa continuava
vazia e ele temia pelo que poderia ter acontecido.

Quando se passaram exatas quatro semanas,


ele recebeu um telefonema do pai da Sarah, e com
esse telefonema a vida de Douglas acabou. Sarah
estava internada há um mês por causa de dois tipos
de câncer, e no dia anterior havia feito uma cirurgia
a qual infelizmente não resistiu.

Douglas culpou-se por não perceber antes, por


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não passar mais tempo com ela, por não ajudá-la.


Culpou-se por achar que ela estava bem quando na
realidade estava morrendo. Chorou trancado em seu
quarto durante o dia inteiro, e seu irmão mais novo,
Brad, tentou consolá-lo, mas de nada adiantou.

Três dias depois aconteceu o enterro de Sarah,


Douglas não aguentou ficar até o final, foi embora
antes de enterrarem o seu caixão. Os dias que se
seguiram foram de estrema tristeza, ele havia
perdido a vontade de viver, havia perdido o motivo
pelo qual viver.

Antes de conhecê-la, a vida dele era vazia, e


quando a conheceu parecia que tudo finalmente
fazia sentido, ele tinha algo pelo que lutar. Algo
que fazia a vida realmente valer a pena, mas isso
havia acabado.

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Pensou várias vezes em matar-se, não


conseguia sair de casa porque cada lugar de
FellsFord lembravam ela. E as lembranças traziam
muita dor para ele, era como se tivesse um peso de
muitas toneladas em cima de seu coração. Ela era a
sua vida e havia morrido, decidiu então que a partir
daquele momento não iria viver, iria apenas existir.

Ele queria fazer algo por ela, queria que a


morte dela não fosse em vão. Decidiu então largar a
música e fazer Medicina, salvaria vidas. Sentia que
isso era o mínimo que poderia ter feito por não
conseguir salvar a vida dela.

***

19 de maio de 2014.

Madson havia acabado de sair do seu trabalho,


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caminhava feliz pelas ruas e despreocupada,


finalmente havia saído mais cedo. Faria uma
surpresa para Caleb. Apesar de todas as brigas que
eles tinham, Caleb era um namorado carinhoso que
sempre atendia aos pedidos dela.

Eles namoravam sério há dois anos, haviam se


conhecido no colegial e logo se apaixonaram. Ela
havia desistido do seu sonho de cursar uma
faculdade grande para ficar no Arizona junto com
ele. Cursaria uma faculdade local mesmo e depois
faria especialização.

Era um dia especial, exatamente neste dia eles


completavam dois anos de namoro. Resolveu ir
andando porque o apartamento onde Caleb morava
era próximo ao trabalho dela. Não demorou mais de
quinze minutos para chegar até o apartamento de
seu amado, como de costume o porteiro a deixou
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entrar, ela ia lá quase todos os dias e já tinha a


chave da casa.

Entrou no elevador e apertou o andar do


apartamento de Caleb, uma mulher atrasada correu
pedindo para que ela segurasse o elevador, quando
as portas iam fechando ela segurou e a mulher pôde
entrar. O elevador fez seu caminho silencioso e
lento até o andar onde Madson desceu, ela achou
estranho a porta do apartamento estar trancada, mas
tinha a chave. Procurou na bolsa e abriu a porta.
Passou pela sala e pelo chão haviam roupas do
Caleb jogadas, enquanto fazia seu caminho até o
quarto dele seu sorriso foi morrendo.

Haviam peças femininas espalhadas pelo


corredor e quanto mais se aproximava do quarto
dele, mais gemidos e risos ouvia. Temeu continuar,
mas tinha que ter certeza do que estava
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acontecendo ali. Ela não queria acreditar que ele


seria capaz disso.

Empurrou a porta já entreaberta devagar e não


acreditou no que estava vendo. Caleb estava com
duas mulheres na cama. Logo na cama em que eles
faziam amor. Se perguntou por quanto tempo
aquilo já vinha acontecendo.

Quando ele a viu, tratou de se cobrir, levantar


da cama e começar a ir em direção a ela. Em vez de
gritar e xingá-lo, ela estava paralisada, algumas
lágrimas escorriam pelo seu rosto, não conseguia
forçar as pernas a se moverem. Queria correr dali e
esquecer que um dia havia amado aquele traste.

— Amor, eu posso explicar. — Ele falou e


encostou a mão no ombro dela.

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— Não encosta em mim. — Ela gritou dando


um passo para trás, sentia nojo dele, nojo de si por
ter se deitado com ele enquanto ele deitava com
outras. Queria arrancar a própria pele por ter sido
tocada por ele. — Eu tenho nojo de você.

— Não é o que parece.

— Não? — Ela falou sorrindo de um modo


irônico, várias lágrimas escorriam pelo seu rosto.

— Não, eu posso explicar. — Ele se


aproximou dela encostando a mão na cintura dela.

— Eu te avisei para não encostar em mim. —


Ela falou e deu um tapa na cara dele.

— Sua vadia! — Ele falou enquanto colocava


a mão no local atingido.
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Ele gritou mais algumas grosserias, mas ela


não conseguiu ouvir, saiu correndo com o rosto
banhado em lágrimas. Não conseguia pensar em
nada, só pensava que o Caleb dela a havia traído.
Entrou no elevador e apertou o botão do térreo,
encostou a cabeça na parede do elevador e desabou
ainda mais no choro.

Como não havia percebido? Era culpa dela a


traição? Quando as portas do elevador se abriram,
ela correu passando por todos sem levantar a
cabeça, correu pela rua, quase foi atropelada. E
continuou correndo até chegar ao lugar que a
acalmava, era um lago. Sentou em um dos bancos e
chorou, lembrou-se de todos os momentos que eles
haviam vivido.

Procurou por evidências que poderiam tê-la


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avisado, encontrou várias e sentiu-se idiota por não


perceber antes. Não voltou para casa naquela noite,
ficou no lago, não poderia encontrar a mãe naquele
estado.

Ela decidiu que iria mudar a própria vida,


precisava ir embora daquele lugar. Mudaria a
escolha da faculdade, a mãe teria que entender. A
sua vida ali havia acabado, mas não deixaria que
acabasse para sempre, se renovaria e seria
independente.

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Capítulo 1
Quando voltou para casa no dia seguinte,
Madson não contou à mãe o que havia acontecido.
Primeiramente porque não aguentaria ver a cara de
desgosto da mãe, que sonhava que ela se casaria
com Caleb. Segundo porque não queria mais
chorar, havia chorado demais por toda a noite
naquele lago e terceiro porque, mesmo que fosse,
odiava parecer fraca.

Para encobrir ter passado a noite fora, Madson


falou que tinha dormido na casa de uma amiga, e
agora estava esperando essa amiga entrar no
facebook para falar pra ela ajudar na mentira.
Porque do jeito que dona Melissa Martínez é, ela
iria querer saber da história e relembrar isso não

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seria algo bom.

Uma janela de conversa começou a piscar no


canto da tela do computador, uma tal de Katherine
Snow, por ter o mesmo sobrenome que o pai dela,
Madson resolveu abrir a conversa. Nela, a menina
dizia tudo, e de um modo bem direto. E falava algo
sobre querer conhecê-la, que o pai delas não podia
ter feito algo assim a elas.

A mãe de Madson nasceu na Espanha e veio


para os Estados Unidos com uma prima numa
viagem à passeio. No meio dessa viagem ela
conheceu Gerald Snow, e acabou se apaixonando
por ele, os dois tiveram um caso rápido, mas logo a
mãe de Madson teve que voltar para a Espanha. Só
que, alguns meses depois, ela descobriu que estava
grávida. Manteve contato com Gerald e por meio
de uma ligação contou tudo a ele, decidiu que teria
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o bebê na Espanha e só quando nascesse ela


voltaria aos Estados Unidos.

Quando Madson estava com três meses de


vida, Melissa decidiu que era hora de levá-la até o
pai e foi para os Estados Unidos, procurou por
Gerald ao chegar lá e por cerca de três meses ele se
manteve junto a ela. Só que havia períodos em que
ele sumia e Melissa começou a desconfiar, quando
ela conversou com ele sobre aquilo, ele acabou
contando a ela que não teria como ficar com ela
porque era casado e já tinha mulher e filha, mas
prometeu que sempre estaria presente na vida de
Madson. O mundo de Melissa desabou, mas como
era uma mulher forte, ela decidiu que não voltaria
para a Espanha, não seria humilhada por seus
parentes por ser mãe solteira.

Gerald a ajudou a ficar nos Estados Unidos, e


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como havia prometido, ele visitava a filha sempre,


mas se mantendo distante de Melissa. E assim era
melhor, ele a tinha magoado muito. Quando
Madson completou 10 anos, Melissa casou-se
novamente, com Dean. Que era uma maravilha de
homem, tudo o que uma mulher sonhava para
marido e pai de sua filha e ele acabou sendo bem
aceito por Madson.

Melissa sempre fora bem clara com a filha,


não queria esconder nada dela e por isso Madson
cresceu entendendo o porquê da distância do pai.
Ela nunca havia tentando procurar a outra família
do pai e naquele momento vendo a foto da tal de
Katherine Snow, quis saber mais sobre eles. Pela
primeira vez a ideia de ter uma irmã era algo que a
agradava, sair do Arizona era o que mais a
agradava, e o melhor de tudo, sair de lá sem ter que
dar mais explicações, começar uma nova vida, ao
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lado de uma pessoa que talvez a entendesse.

Ela conversou por horas com a irmã pelo


facebook, acabou até esquecendo de falar com a
amiga. Mas aquilo pouco importava naquele
momento, quando mais falava com a irmã, mais
afinidade sentia por ela. As duas trocaram números
e passaram a se falar com frequência. Madson
começou a conversar com a mãe sobre ter
conhecido a irmã, e no começo essa ideia não a
agradava, mas ela acabou cedendo e começou a
gostar de Kate também.

Depois de um mês conversando com a irmã


sobre tudo, ela acabou decidindo que iria fazer
faculdade em Stanford, onde a irmã fazia. Iria
cursar psicologia e seguir sua vida bem longe
daquele local, voltaria apenas para visitar a mãe e o
padrasto. Difícil foi convencer a mãe disso, foram
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longas horas de conversa explicando o porquê de


querer ir para tão longe. Melissa ainda quis falar
com Kate e fazer mil recomendações sobre como
deveria cuidar de Madson, parecia até que ela tinha
15 anos de idade.

***

Aqueles cabelos loiros, aquele sorriso branco e


aqueles olhos verdes, Douglas sabia muito bem
quem era. Estava vendo-a, ela caminhava
lentamente até ele com um longo vestido branco e
aparência angelical. Seu sorriso era a coisa mais
linda que ele já havia visto. Ela se aproximou e
encostou a mão no rosto dele, por um momento ele
fechou os olhos e quando abriu, viu que o sorriso
dela havia sumido. Ela retirou a mão do rosto dele e
pronunciou algumas palavras com a voz doce, mas
cheia de mágoa.
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— Você me deixou morrer. — Ela falou e ele


sentiu o coração apertar. — Você não se importou
comigo e me deixou morrer. — A voz dela foi
mudando de tom. — Agora estamos separados para
sempre. — Aquela não era a voz da sua doce Sarah.

— Não! — Douglas acordou gritando, aquele


mesmo sonho que o atormentava todas as noites
havia voltado.

O sonho que era o motivo pelo qual ele não se


dava ao luxo de dormir com alguma mulher ao seu
lado. O sonho que o fazia acordar desesperado
todos os dias e o sonho que fazia a saudade de
Sarah se renovar. Ele se achava incapaz de amar de
novo, ou mesmo de gostar de alguém. Seu coração
havia sido partido em tantos pedaços que nem
poderia contar, ele se sentia como Jack e a
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mecânica de corações, com um coração quebrado,


prestes a parar e que precisava urgentemente de um
concerto.

Depois que se mudou para Stanford e começou


a faculdade, ele havia virado um galinha, essa
palavra o definia bem. Não se descuidou dos
estudos, mas todo dia tinha uma mulher diferente.
Isso só ficou menos frequente quando passou a
trabalhar no hospital, depois de formado.

Desde que havia saído de FellsFord não havia


voltado lá, e já fazia 14 anos. Seus pais o visitavam
uma vez ao ano, juntamente com seus dois irmãos
mais novos, o irmão mais velho havia ido lá apenas
os cinco primeiros anos, eles tiveram uma briga e
acabaram se afastando.

Douglas levantou da cama, precisava de um


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banho para se acalmar. Entrou no chuveiro e ficou


por uns tempos perdido em seus pensamentos, ele
se perguntava quando superaria a morte de Sarah, e
a resposta que sempre vinha a sua mente era
“nunca”.

Saiu do banho, vestiu apenas uma calça de


moletom e caminhou até a sala principal. A casa
onde morava era ampla, totalmente branca e
móveis de cores claras. Tudo muito moderno, mas
ele passava pouca parte de seu tempo ali.

Pegou o violão e começou a tocar uma de suas


músicas preferidas, Talking to the moon — Bruno
Mars. Ele sempre mantinha o hábito de cantar
quando estava sozinho, era o que ele realmente
amava fazer, mas nunca mais havia deixado que
ninguém o ouvisse cantar. Para todos, ele havia
desistido do sonho de se tornar um cantor famoso.
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***

O avião havia acabado de decolar, o coração


de Madson havia doído quando ela viu a mãe
chorar nos braços de Dean, seu padrasto. Queria
voltar lá e abraçá-la mais uma vez, mas a última
chamada para o voo já havia sido anunciada. Seria
quatro horas de voo até o aeroporto próximo a
Stanford.

Kate, sua irmã, a havia ajudado a entrar na


faculdade e as suas boas notas no colegial também.
Como não havia muito o que fazer naquele voo, ela
pegou um pacote de M&M's e seu celular, colocou
na sua pasta de músicas preferidas e abriu o pacote
e começou a comer. Ofereceu para a moça que
estava ao lado, mas esta recusou.

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Depois do flagra que havia dado em Caleb, ele


havia tentado de todas as maneiras possíveis entrar
em contato com ela. Mas ela havia conseguido
driblá-lo todas as vezes.

Por um momento Madson sentiu-se egoísta,


estava deixando a cidade sem pensar em como a
mãe ficaria. Mas ela também sabia que Dean
cuidaria muito bem dela, e ela estava seguindo um
sonho. Que mal haveria em ir em busca da
felicidade?

A música How it ends começou a tocar e


Madson começou a ficar com sono, seus olhos
pesaram e ela adormeceu. Acordou com mãos em
seus ombros a sacudindo.

— Moça, ei, moça. — Um homem com o


uniforme da empresa de avião a estava chamando.
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— Oi? — Falou sonolenta.

— Chegamos. — Ela sorriu, finalmente havia


chegado.

---
Madson pegou as suas malas e arrastou
devagar pelo hall do aeroporto, ela estava nervosa.
Iria conhecer a irmã, sangue do seu sangue. Pelo
telefone a irmã parecia ser uma pessoa muito legal,
mas bem ocupada. E como seria ela pessoalmente?
Não sabia, mas esperava que fosse daquele mesmo
modo.

Madson havia sido a última a pegar as malas,


por causa do pequeno incidente com o sono pesado.
E por isso o hall do aeroporto já não estava tão
cheio, caminhou até uma porta de vidro que dizia
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desembarque e a abriu com cuidado, quando passou


por ela, logo parou seus olhos na moça loira que
conversava animadamente com mais três pessoas.
Quando a moça se virou, ela percebeu que era a
irmã, as duas sorriram uma para a outra e Madson
largou a mala e correu para abraçar Kate. As duas
ficaram ali por um tempo emocionadas e enquanto
as duas conversavam, um dos caras que estavam ali
com a irmã pegou a mala dela.

— Vamos? — Ele perguntou interrompendo as


duas. — Prazer, Thomas Wolf. — Ele estendeu a
mão para Madson e abriu um sorriso sincero, ele
era simplesmente lindo, será que este seria o
namorado da irmã? Ou um amigo?

— Prazer. Madson Martínez. — Ela sorriu e


apertou a mão dele.

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— Ah, esse é John e aquela é a sua namorada e


minha melhor amiga, Tracy. — Kate falou
sorrindo.

— E minha filha. — Thomas acrescentou.

— Filha? — Madson perguntou em surpresa.


— Mas você parece tão novo, eu poderia dizer que
são irmãos. — Ela sorriu de lado e pelas rugas ao
lado dos olhos do homem, poderia perceber que ele
era mais velho que ela.

— Muita gentileza sua. — Thomas respondeu


com um sorriso.

Eles começaram a andar em direção ao carro,


ao chegar lá, Thomas guardou a mala e entrou no
lugar do motorista, o tal de John, que por sinal
também era um cara charmoso, entrou ao lado de
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Thomas e as três foram juntas nos bancos traseiros.


Conversaram durante todo o caminho, e as meninas
explicaram a ela várias coisas sobre Stanford, sobre
onde Kate morava e tudo mais.

Antes de finalmente irem para a casa da irmã,


eles passaram em Stanford. Madson ficou
maravilhada com tudo que havia visto ali, a
faculdade era muito mais linda do que ela
imaginava e fria também, mas já passava das 23
horas, então com certeza estava frio.

— Estão entregues, mocinhas. — Thomas


falou depois de retirar a mala de Madson do carro.

— Obrigada, senhor Wolf. — Madson


respondeu com um enorme sorriso, a irmã não
havia mencionado em momento nenhum algum
envolvimento com Thomas, então ela não se
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preocupou com o modo de tratá-lo.

— Chame-me só de Thomas, por favor. — Ele


respondeu com meio sorriso. Ele era realmente
encantador e a estava tratando muito bem.

— Ok, Thomas. — Ela falou o nome dele bem


devagar. Nesse momento Kate estava se
despedindo de Tracy.

— Obrigada pela carona, Thomas. — Kate


sorriu para ele, Madson ficou tentando desvendar o
sorriso da irmã, mas não havia nada ali, ou ela
apenas não a conhecia suficientemente.

— De nada. — Ele sorriu por um momento,


mas parou de sorrir assim que John chegou
abraçando Kate por trás. — Não quer carona, John?
— Thomas perguntou de um modo um pouco
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grosseiro. Madson ficou observando aquilo, esse


Thomas parecia gostar da irmã dela.

— Hoje não, Thomas, deixei meu carro aqui.


Obrigado. — John respondeu brincalhão, ele
parecia ser uma pessoa legal e bem-humorada.

— Tudo bem então. Tchau, meninas. John. —


Thomas acenou com a cabeça.

John soltou Kate do abraço e foi pegar as


malas de Madson. As duas entraram na casa
abraçadas e rindo, Kate levou Madson até um
quarto, era lindo, com uma cama de casal, um
guarda-roupas e uma mesinha ao canto, não era
muito amplo, mas era aconchegante. Madson por
sua vez falou ter adorado tudo e alegou estar
cansada demais, já eram 23:40, e também precisava
ligar para a mãe avisando que havia chegado bem.
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— Achei que o professorzinho fosse me matar


quando te abracei. — Madson ouviu a voz de John
seguida de alguns risos.

— Shiii. — Dessa vez era a voz da irmã. —


Você provoca, né. — O que veio em seguida era
um sussurro.

Madson resolveu deixar de escutar atrás das


portas, não era educado. Pegou o celular e discou o
número da mãe, chamou algumas vezes antes dela
finalmente atender.

— Filha, eu estava tão preocupada. — Melissa


falou rápido.

— Oi, mãe, eu estou bem, já pode ficar calma.


— Madson falou rindo, a mãe dela às vezes
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exagerava na preocupação.

— Não ria de sua mãe, Maddy. — Melissa a


repreendeu.

— Mãe, não tenho mais 8 anos, me chame de


Mad, e não Maddy. — Madson reclamou, odiava
ser chamada daquele modo, e pior ainda era quando
a mãe apertava suas bochechas. — Já estava
dormindo?

— Ainda não, filhinha, e eu te chamo como eu


quiser, não fique pensando que vai mandar na
minha boca. — Melissa respondeu e Madson riu,
aquela era a sua mãe. Meio maluquinha.

— Tudo bem, senhora Martínez. Eu já vou


dormir, amanhã tenho um longo dia. Boa noite,
mãe, já estou com saudade de você.
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— Boa noite, meu amor, amanhã me ligue de


novo ou eu vou morrer de saudades. Beijos.

— Beijo. — Madson falou e desligou.

Caminhou até as malas e pegou uma roupa


leve, por sorte havia um banheiro em seu quarto,
ela tomou um banho rápido e foi dormir.

***

Douglas estava cheio de trabalho nesse último


mês, e quando a faculdade ofereceu a ele mais uma
secretária que precisava estagiar, ele logo aceitou.
Ele já tinha uma secretária, Anne, que trabalhava
com ele há um bom tempo. Mas toda ajuda era
bem-vinda.

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O nome da nova secretária era Katherine, ela


ficaria em uma sala conjunta a de Douglas e
participaria o máximo possível das cirurgias e
consultas. Para poder aprender tudo, já que ela
havia escolhido seguir a carreira justamente nesse
setor.

Katherine era uma pessoa bem-humorada,


profissional e responsável. De um modo bom, ela o
fazia lembrar da Sarah, deveria ser por causa dos
cabelos longos, loiros e olhos claros, ou até mesmo
pelo jeito de sorrir. Tudo bem que a aparência dela
não era lá tão parecida com a de Sarah, mas tinha
uns pequenos detalhes que o faziam lembrar.

Isso de um certo modo acabava o atraindo,


mas ele não cometeria a burrada de se envolver
com sua outra secretária. Ele já havia se envolvido
com Anne, e esta não aceitou muito bem que havia
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sido só uma noite. Havia feito um escândalo


enorme e surtado de ciúmes quando ele saiu com
outra mulher. Por esse motivo ele havia deixado de
se envolver com pessoas do seu ambiente de
trabalho e não seria com Katherine que ele
quebraria essa regra.

De certo modo, Douglas já estava cansado de


ficar com uma mulher diferente toda semana, ele
queria mais do que aquilo, estava cansado de sentir-
se solitário o tempo todo. Mas ele não conseguia se
envolver com outra pessoa de um modo sério, não
com a memória de Sarah tão viva em sua mente.
Sentia-se culpado por não ter percebido que ela
estava doente, e ainda mais culpado por não ter
ficado ao lado dela nos últimos dias de sua vida.

A memória de Sarah já não era uma coisa boa,


era dolorosa. Ele havia tentado de vários modos se
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livrar daqueles pesadelos que tinha todas as noites,


mas não conseguia. Ele queria seguir em frente,
mas não sabia se teria força e pior, não sabia se era
capaz de amar.

---------------

Madson havia acordado cedo, estava ansiosa


para conhecer Stanford, infelizmente a irmã não
poderia acompanhá-la, então ela iria com Thomas,
Tracy e talvez John. As aulas dela só começariam
na semana seguinte, mas queria conhecer cada
lugarzinho de Stanford, estava animada com a
mudança de vida. Queria esquecer tudo o que havia
acontecido e seguir em frente. Pena que para ela
isso não era muito fácil, Caleb continuava ligando e
não sabia que ele poderia ser tão insistente.

Quando finalmente terminou de se arrumar,


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saiu do quarto. Na noite anterior ela não havia


prestado atenção na casa onde a irmã morava. Mas
agora, via que a casa era extremamente
aconchegante, com cada móvel no lugar certo, e
todos os cômodos de um tamanho perfeito. Nem
muito grandes, nem muito pequenos.

Madson caminhou até a cozinha, estava


disposta a fazer um café da manhã para ela e a
irmã, mas ao chegar lá, viu que Kate já tinha
deixado tudo pronto, e perto da bandeja de café
havia um pequeno bilhete.

"Bom dia, Mad, eu tenho aula logo cedo e por


isso precisei sair antes de você, espero que fique
bem. Nove horas os meninos passam para te
buscar, espero que se divirtam. Bem-vinda a
Stanford, maninha."

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Madson sorriu ao terminar de ler o bilhete, a


irmã era tão atenciosa. Tomou o café devagar e
depois esperou dar nove horas na sala. O pessoal
era bem pontual, já que, quando deu exatas nove
horas ela ouviu uma buzina. Correu para fora e
trancou a casa, como não sabia onde a irmã
guardava a chave, decidiu levar consigo. Sabia que
a irmã iria da faculdade direto para o hospital e
então chegaria tarde.

Quando entrou no banco de trás do SUV Jeep


vermelho de Thomas, ela percebeu que John não
estava. Fechou a porta com cuidado, não sabia se o
dono do carro era enjoado e com certeza não estava
fechando a geladeira de sua casa, que francamente
sofria com os baques que Madson dava. Sorriu para
Tracy e Thomas antes de falar.

— Bom dia, gente. — Animou-se.


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— Bom dia, Mad. — Tracy falou sorridente.

— Dia. — Thomas falou, olhando fixamente


para a frente.

— Aonde vamos primeiro? — Madson


perguntou.

— À Biblioteca de Stanford. — Tracy


respondeu.

— Tratem de colocar o cinto de segurança. —


Thomas avisou enquanto dava partida no carro.

— Ok. — As duas responderam juntas e


sorriram em seguida.

Durante todo o caminho, Madson e Tracy


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mantiveram uma conversa animada sobre as lojas e


o shopping que havia ali perto, e acabaram
marcando de ir lá assim que Kate tivesse um
tempo. Ao falar na irmã, Madson percebeu que o
corpo de Thomas estremeceu, era nítido que ele
gostava pelo menos um pouco dela, mas talvez não
fosse correspondido.

Como a boa curiosa que era, Madson resolveu


montar um plano para tentar atrair a atenção da
irmã para Thomas e também saber o quanto ele
gosta dela.

— Pronto, meninas! — Thomas falou


enquanto estacionava o carro em frente à Stanford.

Madson estava deslumbrada, mesmo já tendo


visto a faculdade durante a noite do dia anterior,
vê-la assim de manhã era muito melhor. Dava para
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reparar mais em como ela era linda, tinha algumas


torres altas, os gramados estavam verdes e em um
deles havia o nome da faculdade e o que parecia a
bandeira da faculdade desenhada em flores. Tudo
era de um marrom vivo e cores derivadas desse
tom.

Ela agradeceu mentalmente por ter chegado


em uma época que o frio já havia passado. Mesmo
adorando aquelas roupas que se usava no inverno,
ela preferia usar as roupas mais simples do verão. E
como, quando acordou, o dia já estava quente, ela
havia optado apenas por um vestido branco leve
florido e um salto vermelho que combinava com
algumas das flores no vestido, os cabelos estavam
soltos como quase sempre e ela não havia passado
uma maquiagem complicada, apenas o básico para
não parecer uma morta viva.

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Começaram a andar devagar pelo campus de


Stanford, passaram primeiro pela biblioteca e Tracy
tinha razão, era enorme e simplesmente linda. Em
seguida passaram pelos outros prédios de Stanford
e quando já se aproximava das 11 horas, eles foram
até um restaurante que havia ali perto para comer
algo.

— Isso aqui é maravilhoso. — Madson falou


apontando para a lasanha em seu prato.

— Meu pai ama comer aqui, até porque ele


não cozinha nada bem e eu não tenho tempo para
cozinhar. — Tracy falou, e Thomas a olhou de
canto de olho.

— É verdade. — Ele confessou rindo.

— Sabe, essa comida só não é melhor que a da


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Kate. — Madson falou jogando um verde para


Thomas.

Thomas engasgou com a comida e Tracy foi


ajudá-lo, batendo em suas costas. Aquilo seria
engraçado se não fosse tão trágico, já não havia
dúvidas de que Thomas nutria um sentimento por
sua irmã. Agora ela só precisava provocar ciúmes
em Kate e fazê-la notar Thomas de outro modo.

Continuaram o passeio por Stanford, Madson


conheceu algumas pessoas, uma mulher que
estudava psicologia em Stanford já fazia um ano,
um dos professores que iria lhe dar aula e um cara
que, assim como ela, estava entrando na faculdade
agora.

Quando finalmente voltou para casa, Madson


decidiu que ligaria para a mãe. Fazia pouco mais de
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um dia que não a via e já sentia saudades, queria


saber também se o novo emprego do padrasto havia
dado certo. Esperou pacientemente enquanto o
celular chamava.

— Oi, meu amor. — A mãe atendeu e pela voz


parecia feliz.

— Olá, mamãe. — Madson falou sorrindo, era


tão bom ouvir aquela voz.

— Como foi o seu dia? — A mãe perguntou,


pela voz dela Madson deduziu que ela escondia
algo.

— Foi ótimo, eu passei o dia em Stanford com


a amiga da Kate e o pai dela. E como foi o seu? —
Madson perguntou.

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— Foi ótimo, filha, Dean conseguiu o


emprego, o prédio vai começar a ser construído na
semana que vem. — Melissa falou animada.

— Ele deve estar bem feliz. — Madson falou.

— Filha, tem alguém aqui que está louco de


saudade e quer falar com você. — Melissa falou e
quando Madson ia falar algo, ouviu aquela voz que
tanto temia ouvir de novo.

— Oi, amor. — Caleb falava animado.

— É muita cara de pau sua. — Madson falou


com raiva.

— Eu também estou com saudade. — Falou


como se não tivesse ouvido o que Madson havia
dito, mas ela sabia que era porque provavelmente a
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mãe estava por perto e usaria disso para poder falar


tudo o que não havia falado para ele.

— Olha aqui, seu viado, eu quero que você


suma da minha vida porque nem em um milhão de
anos eu voltaria para você, espero sinceramente que
você se foda e me deixe em paz. Volte para as suas
vadias e seja muito infeliz, saiba que você perdeu
uma mulher e tanto, e que nunca vai encontrar
alguém a minha altura. Passar muito mal, adeus. —
Ela praticamente gritou tudo e desligou.

— Idiota. — Madson praguejou jogando o


celular na cama.

Ela não conseguia entender como ele podia ser


tão cara de pau, só faltava ele dizer que aquelas
mulheres escorregaram e caíram no pau dele. Isso a
deixava possessa de raiva, será que ela não havia
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sido mulher o suficiente para ele? Fazia de tudo,


sempre tiveram uma vida bem ativa e ele não tinha
do que reclamar.

Mas nem tudo são flores, uma das amigas de


Madson já havia tentando avisá-la sobre Caleb, mas
ela não havia dado atenção, estava cega de amor. E
depois de estar cega por tanto tempo, enxergar era
algo difícil e doloroso. Pelo menos ela estava
conseguindo seguir em frente, e alguma hora
conseguiria ser feliz.

***

Madson jogou-se na cama ainda atônita, se


perguntava mentalmente como pôde ser tão idiota.
Deveria ter seguido o seu sexto sentido, sabia que
havia algo de errado naquele relacionamento que
mantinha com Caleb, mas nunca imaginaria que ele
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pudesse traí-la. Uma parte dela gostaria de saber há


quanto tempo vinha sendo traída, mas a outra parte
só queria esquecer isso tudo e seguir em frente.
Lembrando de algumas situações, ela começou
a se achar idiota, havia tido várias pistas de que ele
a traía e mesmo assim ignorava cada uma delas
como uma boa cega apaixonada. Teve um dia em
que os dois foram juntos ao mercado, e enquanto
Madson buscava um macarrão para eles fazerem o
que queriam, ele conversava com uma mulher loira,
alta e magra, quando Madson chegou, a loira
apenas sorriu, piscou para Caleb e saiu. No
momento Madson não havia imaginado nada, mas
agora vendo desse modo, sabia que tinha sido
besta.

Cada ligação estranha, cada vez que ele falava


que estava ocupado, cada festa que ele insistia em
ir sozinho dizendo que seria uma chatice para ela.
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Realmente ela havia ficado cega de amor, se é que


se pode chamar aquilo de amor.

Levantou da cama decidida a assistir sua série


preferida, precisava tirar aquele canalha da cabeça.
Foi até a sala e pegou o notebook que havia em
cima da mesinha que ficava ao lado de um dos
sofás e pesquisou na Netflix a série que queria ver:
Sobrenatural. Ela sabia que ficaria morrendo de
medo e provavelmente teria dificuldade para
dormir à noite, mas não conseguia evitar, amava
assistir filmes e séries de terror.

Por sorte ainda conseguia entrar no site com a


conta da mãe, logo achou a série e o episódio que
havia parado, 7x6. Deixou pausado enquanto corria
até a cozinha à procura de algo para comer. Pegou
no armário algumas guloseimas, por sorte Kate era
viciada em doces assim como ela e no armário
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haviam vários. Pegou também uma lata de coca


cola e seguiu de volta para a sala, dando play na
série.

Ela era apaixonada pelos irmãos Winchester,


surtava cada vez que o Sam ou o Dean sem camisa.

Madson estava comendo mais do que assistia,


isso a fazia lembrar das suas amigas que viviam de
regime e reclamavam por ela comer tanto e não
engordar ou ter celulites. Ah maravilha de genética.

Por um momento se perdeu em pensamentos,


ela estava doida para ver o pai, mas pelo que havia
conversado com a irmã, ele ainda não sabia que ela
estava ali. E Kate queria fazer tudo com calma, pois
não queria magoar a mãe dela, que por sinal, ainda
não sabia sobre Madson e Melissa.

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Afastou tais pensamentos de sua mente e


voltou a se concentrar nos gostosões lutando contra
os demônios, teria pesadelos, com certeza teria.
Mas no meio desses pesadelos haveria os dois para
salvá-la. Afinal, essa era a graça de um pesadelo
com Sobrenatural, Dean e Sam prontos para
socorrê-la.

***

Estava perto da hora em que seria realizada a


cirurgia na ala C, Douglas sentia-se calmo, já havia
feito dezenas de cirurgias como essa. Havia pedido
à Kate que o acompanhasse na cirurgia. Esta por
sua vez havia se mostrado uma ótima secretária, e
como ela queria seguir a mesma área da Medicina
que ele, havia decidido que a ajudaria nisso.

Ela participaria de algumas cirurgias


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juntamente a ele, para poder tomar a decisão certa e


ver se realmente gostava daquela profissão. Ele
tinha criado um grande apego a ela, e fazia muito
tempo que não se apegava a ninguém. Mas o apego
não era algo físico, era como se ele quisesse cuidar
dela, como cuidaria de uma irmã mais nova.

Ele estava se sentindo culpado por tê-la tratado


mal mais cedo, quando ela chegou atrasada. Ele só
não queria dar a ela privilégios que a sua outra
funcionária não tinha. Sabia que havia exagerado
um pouco no tom, pensava em se desculpar, mas
fazia tempo que não sabia o que desculpas
significavam, então certamente não o faria.

Já era 22:27 quando ele desceu para a ala C,


que ficava dois andares abaixo de onde se
localizava seu escritório. Preparou-se para a
cirurgia, o homem que passaria pela cirurgia já era
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de idade, segundo o prontuário tinha 68 anos e


estava com um tumor maligno no cérebro. A
cirurgia era de alto risco e por isso demoraria um
pouco, e seria bastante complicada. Enquanto
alguns enfermeiros sedavam o homem, ele
terminou de preparar-se e poucos minutos depois
Kate entrou na antessala de cirurgia se
esterilizando.

— Katherine, esterilize essas ferramentas e


depois traga-as para mim. — Falou com um tom de
voz brando, ela apenas assentiu e começou a fazer
o que ele mandou.

Eram exatas 23:18 quando a cirurgia começou,


houveram complicações e a cirurgia durou três
longas horas. Quando terminou, já passava das duas
da manhã, voltou para a sala realizado, havia
conseguido salvar a vida daquele senhor. E era isso
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que fazia o trabalho dele valer a pena, as vidas que


ele salvava, e era isso que o fazia sentir-se menos
mal todos os dias.

Poucos minutos depois que entrou em sua sala,


Kate passou indo para a pequena sala aos fundos da
dele, ela parecia aflita enquanto tentava ligar o
celular. Foi aí que teve a ideia de chamá-la e pedir
para levá-la em casa, não poderia deixar que ela
fosse sozinha a essa hora da madrugada, afinal, era
por causa dele que ela estava ali.

— Kate. — Falou batendo na porta.

— Sim, doutor Fitiz? — Ela falou, sua voz


parecia preocupada.

— Posso te levar em casa? — Ele perguntou


no tom mais amigável possível, estava tentando
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reparar o tom grosseiro com o qual tinha falado


com ela mais cedo. Ela por sua vez, parecia relutar
em um conflito interno, então ele continuou. —
Não posso permitir que vá sozinha a esta hora.

— Tudo bem. — Ela respondeu mais


tranquila. — Vou apenas pegar minhas coisas e já
volto. — Falou e entrou na sala novamente, saiu
dois minutos depois com uma bolsa e uma jaqueta.

— Vamos. — Ele falou e os dois saíram da


sala.

O hospital já estava quase vazio, havia apenas


algumas pessoas que estavam fazendo o turno da
noite. Desceram e foram até o estacionamento,
chegando lá, Douglas procurou entre tantos carros
o seu Range Rover branco, fruto de tantos anos de
trabalho como médico. Ninguém sabia, mas
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Douglas era louco por carros e motos, mantinha em


sua casa uma velha Harley vermelha, o Range
Rover e um jaguar preto.

Kate parecia não se impressionar com o carro,


era admirável da parte dela, geralmente toda
mulher que Douglas, diga-se de passagem,
"convidava para sair", se impressionava pelo carro
e logo ia para a cama com ele. Não que aquela
fosse a intensão dele com Kate, pois não era, mas
esperava uma reação melhor dela.

Entrou no carro e logo conectou o iPod no som


do carro, colocando uma playlist calma para tocar.
Não queria manter um clima tenso ali, a primeira
música a tocar foi Lucky — Janson Mars and
Colbie Caillat, tudo bem que aquela era uma
música meio gay, mas o acalmava e era de um
clima bom.
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O caminho até a casa de Kate foi silencioso,


ela apenas falou com ele para lhe indicar onde
morava e ao chegar lá na frente, parou o carro e se
apressou para dar a volta nele e abrir a porta para
ela, era um típico cavalheiro, usava da boa
educação que a mãe lhe tinha dado.

— Obrigada pela carona, Doutor Fitiz. — Ela


agradeceu assim que eles pararam em frente à
porta.

— Me chame só de Douglas fora do trabalho,


por favor, Katherine. — Ele respondeu com um
sorriso, odiava esse modo formal como todos o
tratavam até fora do trabalho, precisava de mais
amigos, tinha Janson, mas como o filho dele estava
doente, eles pouco se viam.

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— Então me chame de Kate. — Ela sorriu


também, o seu sorriso era sincero, mas cansado.

— Tudo bem, vejo você amanhã no hospital e


sem atrasos. — Ele falou sério e depois sorriu
mostrando estar brincando.

— Claro, boa noite. — Ela estendeu a mão


para ele, que agarrou a mão dela e a puxou para dar
um beijo em sua bochecha. Ele a viu corar
imediatamente.

— Boa noite! — Ele foi saindo e entrou no


carro, continuou olhando para Kate até ela entrar
em casa e quando ela abriu a porta, os olhos dele
cruzaram com os de outra moça, uma energia
estranha percorreu todo o corpo dele deixando-o
nervoso. Ficou alguns instantes a encarando, ele
sabia que ela também o tinha visto, porque parecia
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tão estática quando ele.

Não sabia o que estava acontecendo com ele,


de repente sentiu uma vontade imensa de descer
correndo do carro e ir até a moça. Não se sentia
assim desde que namorara Sarah, lembrava-se de se
sentir do mesmo modo ao vê-la pela primeira vez
no colegial, mas não poderia ser isso. Se ama
apenas uma pessoa em toda a vida e ele estava
destinado a morrer sozinho e sem amor. Pelo
menos era o que ele pensava enquanto se
martirizava todos os dias.

Quando Kate finalmente fechou a porta, ele


parecia ter saído de um transe, finalmente recobrou
os sentidos e ligou o carro, pronto para ir para casa.

Chegou em casa pouco mais de três da manhã,


acendeu as luzes e tudo ficou mais claro. A casa
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que havia comprado em um condomínio próximo


ao hospital era ampla, para não se dizer exagerada.
Ele não precisava daquele espaço todo sendo que
morava sozinho, mas como uma vez ao ano sua
família o visitava, ele achava que seria necessário
ter quartos para acolher a todos.

A casa tinha 9 quartos, sendo 4 suítes, dois


andares, uma cozinha enorme, uma sala de jogos,
uma sala comum, uma sala de jantar, seis
banheiros, dois quartos de limpeza e lá fora tinha
uma piscina média e uma área com churrasqueira,
além de um belo jardim. O primeiro andar da casa
praticamente não tinha paredes, era todo em vidro,
com paredes apenas para separar os cômodos. E os
quartos que ficavam no segundo andar tinham uma
bela vista para os campos e o pequeno lago do
condomínio.

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Subiu as escadas desanimado, assim que


entrou no quarto foi para o banheiro tomar banho.
A essa hora a sua empregada, Maria, já estava
dormindo, e mesmo que estivesse faminto, não a
incomodaria para que pudesse comer. Tomou um
banho rápido e vestiu apenas uma calça moletom,
jogando-se na cama. Ficou perdido em
pensamentos, não conseguia tirar os belos olhos cor
de mel da moça que vira na casa de Kate.

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Capítulo 2
Era o dia em que finalmente conseguiria fazer
a irmã olhar para Thomas, Madson estava super
animada com o que tinha planejado. Primeiro a
irmã havia falado que iam em outra cidade e que
Thomas as levaria juntamente com Tracy e John.
Mas Madson insistiu para que fossem a um clube já
que pela meteorologia faria sol.
Enquanto Kate fazia o café da manhã, ela
tomava um banho e arrumava algumas coisas para
levar, estava perdida em pensamentos desde o dia
anterior quando a irmã chegou tarde. Ela não estava
conseguindo dormir de preocupação com a irmã, e
quando ela chegou, instintivamente Madson se
levantou e foi até a porta.
Ao olhar para fora, seus olhos cruzaram com

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os belos olhos azuis de um homem e no momento


foi como se tudo tivesse parado, não havia mais
gravidade, não havia mais tempo, era como se ali
só estivessem os dois. Ela não percebeu que estava
segurando a respiração até a irmã fechar a porta e
cortar seu contato visual com o homem, parecia que
tudo havia voltado ao normal. Ela nunca havia se
sentido desse modo, nem quando namorava.
Além do homem dos belos olhos, que aliás era
o chefe de Kate e se chamava Douglas, e que ela
estava tentando descobrir se ele tinha algum tipo de
envolvimento com a irmã, porque se tivesse ela se
sentiria muito mal por desejá-lo, ela também estava
pensando no pai. Kate havia pedido a irmã que por
enquanto deixassem o pai de fora disso, pois tinha
medo de acabar com o relacionamento dos pais e
Madson entendia isso, mas queria se manter
próxima ao pai.
Quando finalmente terminou de arrumar as
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coisas, ela foi pra sala e se jogou no sofá maior, ao


lado dela, no sofá de dois lugares, Kate estava
digitando algum número e parecia um pouco sem
graça.
— Thomas? — Kate falou ao telefone e
Madson começou a prestar mais atenção na
conversa.
— Ainda vai poder nos acompanhar hoje? —
A voz dela falhava, com certeza ela estava com
vergonha por Madson estar tão interessada na
conversa. Kate se manteve calada por um tempo,
apenas escutando o que Thomas falava do outro
lado da linha e ao analisar a expressão da irmã,
Madson percebeu que ela parecia nervosa.
— Queria poder acompanhá-lo. Mas como não
posso, vejo você em alguns minutos. — Kate falou
séria, mas ainda parecia estar nervosa. “Será que
Thomas finalmente passou uma cantada nela?”,
Madson se perguntou mentalmente, mas logo
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concluiu que não, pois ele parecia tímido perto de


Kate.
— Até logo, professor. — Kate falou sorrindo,
e desligou o telefone.
Madson a encarou com um enorme sorriso. E
quando Kate percebeu, apenas fez uma cara de
confusa e perguntou. — O que foi?
— Nada. — Madson respondeu rapidamente,
se levantando do sofá. — Vou comer para irmos.
— Ok, vou tomar um banho rápido. — Kate
falou e Madson a observou sair.
A irmã era realmente muito boa na cozinha,
ela conseguia cozinhar maravilhosamente e em
pouco tempo. Parecia até um milagre, Madson não
falaria isso pra mãe, mas Kate cozinhava até
melhor que ela. Na mesa haviam alguns croissants,
uns cookies que pareciam ter acabado de sair do
forno, uns pãezinhos e suco de laranja, além de
café. Isso porque só as duas que teriam que tomar
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café ali, imagina se tivessem convidados.


Madson pegou um croissant, dois cookies e
um copo de suco, ela odiava café desde pequena,
não via a graça que todos viam naquela bebida,
antes um chocolate quente do que café. Quando
estava terminando de comer, Kate apareceu na
cozinha, estava simplesmente lacrante, como diria a
melhor amiga de Madson.
— Uau. — Madson exclamou pra irmã. —
Tente humilhar menos com toda essa beleza. —
Falou sorrindo.
— Ah para né, olha quem fala. — Kate revirou
os olhos.
— E essa comida pra um batalhão aqui? —
Madson perguntou com humor, enquanto levantava
para lavar o pouco de prato que havia na pia.
— Para, eu fiz pra deixar na reserva. Sei que
você não cozinha e não quero que morra de fome
enquanto eu estiver no trabalho. — Kate falou e
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Madson apenas deu língua para a irmã.


Enquanto Madson terminava de lavar os
pratos, Kate estava guardando tudo em potes. E
quando as duas finalmente saíram, esperaram
apenas o pessoal chegar, o que não demorou muito.
Quando eles chegaram, Madson percebeu o olhar
que Thomas tinha sobre Kate, um olhar apaixonado
e de admiração. Ela conhecia esse olhar porque
havia visto isso no modo como o padrasto olhava
para a mãe dela. Por um momento se deu conta de
que o olhar que Caleb, antes de tudo acontecer, lhe
dava, não havia paixão e muito menos amor.
Admirou Thomas por aquilo, naquele
momento ela só queria que ele tomasse alguma
atitude em relação a irmã, se declarasse ou alguma
coisa do tipo. E pelo modo como ele a olhava, isso
iria acontecer logo. Era o que ela esperava.
Ao pensar em olhar, ela se lembrou da noite
anterior, de algum modo ela sabia que aquele olhar
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profundo nunca sairia da sua mente, aquele rosto


bem delineado como se fosse esculpido por anjos.
Seria possível sentir-se atraída por um cara que
apenas havia visto uma vez? Ela achava que não,
mas no fundo sabia que queria vê-lo de novo para
ter certeza se era isso que estava acontecendo.
Todos entraram no carro e Madson insistiu
para irmã ir na frente, mesmo preferindo ir na
frente por causa de suas pernas longas. O carro de
Thomas era ótimo e tal, mas praticamente todo
carro mais compacto apertava as pernas de Madson
quando ela ia no banco de trás.
— Ninguém manda ter pernas de modelo. —
A mãe dela sempre zoava.
Acabou que quem foi na frente foi John, pelo
mesmo motivo que Madson iria, o aperto do banco
de trás. Eles seguiram rindo e conversando
animados para o clube mais próximo, que ficava a
30 minutos da vila. Thomas ligou o som e a música
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Sing, de Ed Sheeran, começou a tocar. Como era


uma das preferidas de Madson, ela começou a
cantar alto, e logo todos já estavam gritando como
loucos a música dentro do carro.

(If you love me, come on, get involved


Feel it rushing through you, from your head to
toe
Sing
Oh oh oh, oh oh oh
Louder
Oh oh oh, oh oh oh
Sing
Oh oh oh, oh oh oh
This love is ablaze
I saw flames from the side of the stage
And the fire brigade comes in a couple of
days)
***
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Douglas acordou animado naquele dia, não só


porque tinha dormido muito bem, mas porque
também havia tido sonhos maravilhosos com a
garota dos olhos cor de mel. Ele se achava meio
precipitado por estar sentindo-se daquele modo,
mas ele havia sido hipnotizado pelo olhar da moça
e não sabia como desfazer isso.
E para deixar de pensar um pouco nela,
resolveu que precisava arrumar algo pra fazer
naquele dia, deixaria pra fazer o turno da noite no
hospital e aproveitaria o dia em um clube. Poderia
jogar tênis com algum amigo, coisa que não fazia
há muito tempo, mas que era o que precisava para
se distrair.
Levantou em um pulo da cama e tomou um
banho rápido, colocando uma roupa de tênis e
descendo rápido pelas escadas enquanto penteava o
cabelo. Passou pela senhora de cabelos negros
cacheados e deu-lhe um beijo estalado na
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bochecha.
— Buenos dias, Maria. — Falou piscando pra
ela, estava extremamente animado.
Maria era a funcionária mais antiga que ele
tinha, era como uma segunda mãe, mesmo que as
vezes ela se enrolasse com seu espanhol/inglês. Ele
achava engraçado quando ela começava a misturar
os dois idiomas.
— Douglas, não passe correndo desse modo
ou vai me derrubar. Valha-me Deus. — Gritou ela.
— Parece um adolescente.
— Desculpe, Maria. — Douglas gritou
enquanto sentava à pequena mesa que havia na
cozinha para comer algo.
Não sabia de onde havia vindo tanta animação,
deveria ser da boa noite de sono que havia tido,
mas era como se algo especial fosse acontecer hoje.
Ele só não sabia em que sentido. Terminou o café
rapidamente e ligou para Fábio, um amigo
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brasileiro que ele tinha e que costumava jogar tênis


com ele.
— Fábio? — Douglas perguntou assim que o
amigo atendeu.
— Caiu da cama, homem? Me deixe dormir.
— O amigo bradou com raiva.
— Levante essa bunda da cama, vamos jogar.
— Douglas falou com falsa raiva. — Te vejo no
clube em 40 minutos. — E desligou na cara do
amigo.

Douglas sabia que o amigo deveria estar


morrendo de raiva nesse momento, mas com
certeza ele iria.

Passou correndo por maria e deu outro beijo


em sua bochecha, assustando-a e a fazendo gritar
vários palavrões. Pegou a chave de um de seus
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carros sem conferir qual era, parou e olhou dentre


os três carros, as luzes do Range Rover branco
acenderam e seguiu para ele. Mas lembrou-se que
havia esquecido de pegar a sua raquete de tênis,
então desceu correndo e seguiu para a pequena sala
de equipamentos, com um pouco de dificuldade e
ajuda da Maria, é claro, conseguiu achar e voltou
correndo para o carro.

Talvez ele fosse um pouco exagerado, pois não


precisava de todos aqueles carros, mas era homem
e acima de tudo fascinado por carros. O primeiro
que ele havia comprado era o jaguar preto do ano
de 2012, o segundo era uma S10 e esse ano havia
comprado o Range Rover. Que era o segundo carro
que ele mais usava.

Apertou o botão que abria o portão da garagem


e seguiu para a portaria do condomínio, de lá até o
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clube levaria pouco mais de 20 minutos. Dirigiu


tranquilo ao som de Coldplay, não era o seu tipo de
música preferido, mas o deixava calmo, e como ele
estava agitado naquele dia, aquilo era o que ele
precisava.

Antes de chegar ao clube passou em uma


Starbucks e comprou um Cappuccino, precisava de
energia e se voltasse para passar no Coff Star
perderia uns 14 minutos. Não que ele estivesse com
pressa, até porque conhecia o amigo e sabia que ele
iria se atrasar. Chegou no clube eram 10:18.

O clube era um lugar bem calmo, havia várias


quadras, alguns campos, cinco piscinas enormes e
mais duas infantis, havia algumas churrasqueiras,
um hotel enorme com área de lazer e várias
cadeiras de sol espalhadas em volta da piscina
principal. E por todo o clube haviam pequenos alto
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falantes que tocavam música a todo momento,


tornando o lugar mais animado.

O clube estava parcialmente vazio e com


razão, já que era meio de semana. As duas piscinas
principais ficavam ao lado das quadras de tênis e de
basquete, e pouco mais à frente havia as
churrasqueiras que estavam ocupadas por algumas
famílias.

Família era uma coisa da qual ele sentia falta.


Seus irmãos brigando a todo tempo, sua irmã sendo
paparicada, sua mãe e seus delírios de consumo,
seu pai sempre ocupado, mas que quando tinha
tempo dava toda atenção à família. Parecia bobeira
sentir-se assim aos quase 30 anos, já era um
homem formado, estava na hora de construir sua
própria família, mas só de pensar nisso um nó
enorme se formava em sua garganta.
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Por um momento lembrou-se que na última


noite não havia tido nenhum pesadelo. Pela
primeira vez em anos, não havia sonhado com
Sarah e não havia acordado desesperado aos gritos.
Havia acordado animado e feliz, como não
acordava desde o fim do colegial.

Douglas caminhou diretamente para a quadra


de tênis e se jogou no banco, haviam dois casais
ocupando a quadra. Ele assistiu ao jogo por um
bom tempo enquanto esperava o amigo, e quando
ele finalmente chegou, os dois casais já haviam
saído da quadra então eles puderam começar a
jogar.

— Tá meio atrasado hein, cara. — Douglas


gritou enquanto dava uma raquetada na bola.

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— Estava me preparando psicologicamente


para acordar cedo. — Fábio respondeu enquanto
revidava devolvendo a bola.

Continuaram nesse jogo por uma partida


inteira e depois decidiram que iam até o restaurante
do clube tomar um suco e colocar o assunto em dia.

***

Quando chegaram ao clube já eram quase


11:00 da manhã. Primeiro Thomas e John desceram
do carro e foram pegar as bolsas no porta malas,
depois Tracy, Kate e Madson desceram. Ainda
estavam animadas por causa das músicas que
haviam cantado no caminho, mais elas do que eles.

Quando terminaram de pegar as bolsas,


Madson foi surpreendida pela irmã, que do nada
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chamou Thomas e pediu para conversar com ele a


sós. Nesse mesmo momento Madson abriu um
enorme sorriso significativo para Thomas, como se
o mandasse tomar uma atitude.

Enquanto caminhava ao lado de Tracy e John,


Madson se mantinha perdida em pensamentos. Ela
não era o tipo de pessoa que vive aérea, mas nesses
últimos dias era meio difícil se manter atenta. Saiu
de seus pensamentos quando chegaram à recepção
do clube. Uma mulher loira linda, mas parecendo
meio enjoada estava atrás do grande balcão de
madeira ao celular.

Eles esperaram pacientemente pelo término da


ligação dela e quando ela foi atende-los, lançou a
Madson um olhar de reprovação. Parecia que ela
não tinha ido com a cara de Madson tanto quanto
ela. Tentou ignorar isso, quem tomou a frente foi
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John e a mulher agora se insinuava a ele.

— Em que posso ajuda-lo? — A mulher que


tinha em seu crachá o nome de "Candy" perguntou
enquanto apoiava os cotovelos no balcão, fazendo
os silicones quase saltarem da blusa.

— Preciso de cinco pulseiras em nome de Jonh


Moore. — John falou impassível, como se não
tivesse visto a provocação da mulher.

Madson olhou para Tracy que estava tão


vermelha quanto os cabelos, provavelmente de
ciúme.

— Aqui está, senhor Moore. — Ela falou o


nome dele pausadamente, estendendo as cinco
pulseiras verdes. Madson revirou os olhos, era
horrível ver uma mulher se sujeitar daquele modo.
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— Essas duas você entrega para aqueles dois.


— John falou apontando para Thomas e Kate.

— Bye, quedinha. — Madson falou


provocando-a, e Candy fez uma cara feia para ela.

Enquanto passavam por dentro da recepção,


Madson olhou admirada, os clubes que tinham na
pequena cidade que ela morava não eram nada
comparados àquele. Quando chegaram do lado
externo, ela ficou ainda mais admirada, haviam
diversas piscinas e quadras de todos os esportes. E
ainda tinha uma área de lazer com churrasqueiras,
além de um tipo de hotel e campo de golfe.

— Uau! — Exclamou em pensamento, nunca


havia visto nada parecido. O clube mais legal que
ela havia ido era um que tinha uma piscina mais
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funda. Sentia-se uma caipira naquele lugar. O


melhor do lugar é que era calmo, não haviam
muitas pessoas nele e uma bela música tocava nos
Alto falantes num volume razoável.

Quando o cantor começou a cantar o refrão,


ela percebeu qual música era, Wonderwall, do
Oasis. Como não havia reparado antes? Era uma de
suas músicas preferidas no primeiro ano do
colegial.

Because maybe

You're gonna be the one that saves me

And after all

You're my Wonderwall
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* Porque talvez

Você vai ser aquela que me salva

E no final de tudo

Você é minha protetora*

Sorriu com a lembrança que aquela música


trazia, era da época em que ela acreditava que
poderia ser cantora. Ela adorava cantar, mas bem
longe dos ouvidos dos outros, pois morria de
vergonha.

Enquanto John ia para a beira da piscina,


Tracy e Madson foram até o banheiro feminino,
pois Madson morria de vergonha de tirar a roupa na
frente dos outros e mesmo que o clube estivesse
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quase vazio, ela preferia fazer isso no banheiro. Ao


entrar no banheiro teve outra surpresa, parecia mais
uma sala chique do que propriamente um banheiro,
era tudo bem iluminado e com móveis, além das
portas serem em um tipo de madeira diferente das
que ela já tinha visto e dos enormes espelhos por
todo canto.

Estranhamente Madson sentia-se ansiosa com


algo, queria sair logo daquele banheiro, talvez essa
sensação fosse apenas pra saber se a irmã já havia
se entendido com Thomas, mas no fundo ela sabia
que não era isso.

Tirou a roupa e se olhou no espelho, havia


escolhido um biquíni florido em tons de vermelho
degradê. Ele não era pequeno, era de um tamanho
aceitável. Olhou-se várias vezes no espelho para
ver se não tinha nenhuma pequena celulite ou
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gordurinha a mais aparecendo, mas por enquanto


estava tudo em ordem.

Amarrou a canga na cintura e pegou a bolsa,


logo ela e Tracy saíram de dentro do banheiro.
Madson ainda um pouco envergonhada. Quando
chegaram à piscina principal, Madson reparou que
a irmã já estava dentro da piscina juntamente com
John nadando e brincando como dois irmãos de
infância, enquanto Thomas se mantinha um pouco
afastado, ainda com roupas, sentado em uma das
cadeiras de sol.

Daria mais trabalho do que ela pensava, mas


talvez provocando ciúme na irmã ela conseguiria
atrair a atenção dela e fazê-la perceber que gosta
dele. Pelo menos foi o que pensou. Arrancou a
canga e se deitou na cadeira de sol ao lado de
Thomas, com a desculpa de pegar um pouco de sol.
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Logo observou Tracy se jogar na água juntamente


com os outros dois e sentiu uma vontade enorme de
se jogar lá também, mas não antes de cumprir sua
missão.

Concordou consigo mesma em mente que iria


tentar por alguns minutos e depois iria aproveitar o
clube, afinal não era de ferro e estava ali para se
divertir. Ainda se sentia nervosa e inquieta por
algum motivo, o olhar dela percorria o clube à
procura de algo ou alguém. Ela só não sabia direito
o que.
***
— Ei... Ei... Cara. — Fábio fala enquanto
estala os dedos na frente do rosto de Douglas, e só
aí ele percebe como estava perdido em
pensamentos novamente. Deveria ser a terceira vez
do dia. — Cara, você está muito aéreo hoje.

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— É, tá complicado. — Douglas respondeu


sem graça, não queria que ninguém percebesse isso.

— Me fala aí, tem alguma gata na jogada? —


Fábio perguntou misturando um pouco do inglês
com o português como geralmente fazia.

— Essa tua mania de misturar as línguas me


confunde todo. — Douglas falou despistando o
amigo.

— Foi mal, é que o Brasil ainda corre na veia.


— Fábio respondeu batendo duas vezes no peito.

— Estou vendo. — Douglas apenas respondeu.

— Mas conta aí, quem é que tanto domina a


sua mente?

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— Ninguém. — Douglas respondeu


rapidamente. — Não viaja, cara.

— Quem anda viajando aqui é você. — Fábio


respondeu.

— Chega de conversinha, vamos voltar pro


jogo. — Douglas falou levantando e dando um
tapinha nas costas do amigo.

Os dois caminharam conversando até a quadra,


mas Douglas ainda estava meio perdido em
pensamentos, mas dessa vez a moça dos olhos
castanhos não era o motivo, era outro amigo dele, o
Dan, o filho dele estava em coma fazia um tempo e
no dia seguinte teriam que operá-lo. Douglas
considerava o menino como um sobrinho, porque
assim que entrou em Stanford, conheceu o Dan, a
Rachel e o pequeno Joe, e tinha acompanhando
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toda a história deles.

— Me conta o que está te incomodando, cara.


— Fábio perguntou tirando Douglas mais uma vez
de seus pensamentos.

— Amanhã é a cirurgia do Joe. — Ele falou e


só no momento percebeu que estava mais
preocupado do que achava, seria uma cirurgia de
risco e o menino tinha poucas chances de sair vivo,
mas era algo necessário, pois a cada dia em coma
ele tinha menos chance de viver.

— Oh cara, eu ando tão ocupado no escritório


que nem lembrei disso, o Dan e a Rachel devem
estar muito mal. — Fábio falou num tom triste, ele
também conhecia o Danniel, só que a menos tempo
que Douglas.

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— Pois é, deve ser por isso que preciso


relaxar. Vamos jogar outra partida antes de ir
trabalhar. — Douglas falou tentando afastar toda
aquela tensão de si.

Os dois começaram a jogar novamente, tênis


não era o jogo preferido de Douglas, mas era o que
o amigo sabia jogar e pra desestressar já estava
ótimo.

— Achei que você queria uma revanche. —


Douglas zombou o amigo enquanto aceitava a
pequena bola verde com uma raquetada.

— Não se gabe antes do final. — Fábio


respondeu mandando de volta a bola que Douglas
havia jogado.

— Ah não? — Ele acertou mais uma raquetada


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na bola. Ela quicou uma vez do lado de dentro da


rede, passou por cima dela e quicou de novo no
chão, só que do lado oposto da rede, por pouco
Fábio não a pega.

— Admito que essa foi boa, mas eu sou


melhor. — O amigo zoou mandando a bola de volta
que logo foi acertada por Douglas e voltou.

Douglas ouviu uma risada vinda da piscina


principal e como por extinto virou o rosto para
procurar a dona dela e foi aí que seus olhos se
prenderam nela, parecia uma miragem, era isso,
agora ele estava tendo alucinações. O tempo
pareceu passar mais devagar enquanto ele
observava a moça que havia visto na casa de Kate
ser empurrada por um cara forte e moreno, em
seguida ele se jogar e os dois começarem a brincar
na piscina.
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Sentiu uma dor lancinante na cabeça e foi


arremessado para o chão, ainda sem entender como
aquilo havia acontecido, passou a mão na cabeça e
olhou para o chão, ao lado dele estava a bola de
tênis e correndo em sua direção estava Fábio com
um semblante preocupado.

— Ei, cara, você está bem? — Fábio


perguntou estendendo a mão para Douglas, que
logo pegou a mão do amigo e se deixou ser puxado
enquanto ainda passava a mão onde a bola o tinha
atingido.

— Eu estou. — Ele voltou a olhar pra piscina,


não era uma ilusão, ela realmente estava lá.

— Que bom, achei que fosse precisar te levar


para o hospital. — Fábio zombou. — O que
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prendeu a tua atenção desse modo? — Ele


perguntou e seguiu o olhar de Douglas até a moça
que agora já estava fora da piscina novamente. —
Uau, cara, você não brinca em serviço.

— O que? — Douglas perguntou confuso e


quando percebeu para onde o amigo olhava, tratou
de inventar logo uma desculpa. — Não, não, não,
só achei que a conhecia, mas foi besteira. Nunca a
vi na minha vida. — Falou rápido, meio nervoso.

— Não? Então não se importa de eu ir lá, não


é? Ela é uma tremenda gata. — Fábio falou fitando
o amigo.

— Por mim. — Tentou se fazer de


desinteressado, mas em sua voz era óbvio que
estava com raiva e não se conteria se o amigo fosse
lá.
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— Tô brincando, cara, eu já estou atrasado


para o serviço. Então partiu. — Fábio pronunciou a
última palavra em português, fazendo Douglas ficar
confuso.

— Partiu? — Douglas tentou pronunciar a


palavra se enrolando um pouco.

— É uma nova gíria brasileira, ah esquece.


Vamos embora.

Os dois caminharam em direção a saída e ao


passar ao lado da piscina, os olhos dele
encontraram a bela moça novamente, mas ela
parecia estar se divertindo tanto que nem o
percebeu. Só restou passar na recepção e acertar a
conta das bebidas que ele e Fábio haviam tomado.

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A ideia não o agradava muito, pois quem


estava na recepção era Candy, e aquela loira
maluca não desistia de correr atrás dele. Tudo bem
que parte disso era culpa dele, ele havia ficado com
ela uma vez (leia-se comido ela e vazado), e depois
disso a mulher parecia ter ficado obcecada, e como
Douglas tinha uma regra explícita de nunca ficar
com uma mulher mais de uma vez, já havia dado
nela uns bons foras.

— Doug. — Candy falou com uma voz


extremamente melosa. — O que posso fazer por
você? — Ela perguntou e ele não pôde deixar de
notar o duplo sentido em sua voz.

— Cobre a conta do meu cartão. — Ele falou


secamente entregando a ela um cartão dos que eles
usavam para salvar o que os clientes consumiam.

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— Só isso mesmo? — Ela perguntou depois


que pegou o cartão.

— Sim.

— São 67,95. — Falou meio desapontada,


como se esperasse mais dele.

— Aqui. — Douglas entregou uma nota de


100, ela voltou o troco e logo ele e Fábio saíram da
recepção.

— Cara, até hoje? — Fábio perguntou, e


Douglas sabia que ele estava se referindo a Candy.

— Pois é. — Respondeu apenas aquilo.

— Então falou, vamos marcar uma boate


depois, faz tempo que não saímos pra caçar. —
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Fábio falou e Douglas tentou ignorar o uso da gíria


provavelmente brasileira.

— Quem sabe. — Disse enquanto apertava a


chave do alarme do carro. — Até mais.

***

O dia no clube estava sendo extremamente


agradável, como previu, Madson não havia
conseguido chamar a atenção da irmã então decidiu
aproveitar o clube. Se jogou na piscina e começou a
"brincar" com John e Tracy, para algumas pessoas
aquilo poderia parecer meio ridículo, três adultos
jogando água um no outro como se fossem
criancinhas do pré 1, mas para eles era algo
libertador. Era bom ser feliz sem se importar com
que os outros iriam pensar.

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Depois de uns minutos dentro da piscina, ela


resolveu sair, mas assim que saiu da piscina foi
surpreendida por John que a empurrou de volta e
em seguida se jogou , espirrando água pra tudo
quanto é canto e molhando Kate e Thomas que
estavam sentados nas cadeiras na beira da piscina.

Madson e Tracy ficaram conversando por


algum tempo. Madson sentada na beira da piscina e
Tracy dentro da piscina, e John havia ido pedir
comida, pois já estava perto do meio dia e todos
estavam famintos. Depois que saíssem da piscina
iriam até o lago andar de "pedalinho"

— E as batatas chegaram. — John falou


enquanto colocava em uma pequena mesinha uma
porção de batata frita grande, o que havia sido
pedido de Madson.

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— Oba. — Ela se levantou e sentou-se perto


das batatas, quando se tratava de comida Madson
era um tanto quanto gulosa, principalmente se
fossem batatas fritas.

— Não sei como consegue ter esse corpo se


come tanta besteira, é injusto. — Tracy falou
colocando uma batata na boca.

— Acredite, eu me mato de comer aqui e


depois me mato de malhar na academia para poder
comer ainda mais. — Madson sorriu.

Era ótimo estar entre amigos, e pela primeira


vez sentiu que estava onde deveria estar.

Andar de "pedalinho" havia sido mais


divertido do que ela esperava, como Thomas havia
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se recusado a andar com eles, Madson havia ido


com a irmã e Tracy com John. Nadando no lago
haviam alguns patos, o que tornava o passeio ainda
mais divertido. Era algo que não tinha na antiga
cidade dela e por um dia completo ela havia
conseguido se livrar de seus problemas.

Depois que saíram do clube, eles foram para


um restaurante próximo à Stanford, já estava perto
de anoitecer quando deixaram o restaurante.
Primeiro deixariam John e Tracy em Stanford e
depois Thomas as deixaria em casa. Mas quando
chegaram em Stanford, os planos mudaram, Kate
disse que precisava fazer algo e iria dormir no
antigo quarto com Tracy e John se ofereceu para
levar Madson em casa, já que todos ficariam por ali
mesmo, e ele iria para o apartamento dele que
ficava pouco depois da vila.

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Dentro do carro de John, o silêncio era


extremamente constrangedor, então Madson
resolveu puxar assunto, já que o som do carro
estava desligado e ela não teria a ousadia de ligar,
não sabia que tipo de rádio ele escutava.

— Qual é a da tara por carros pretos? — Ela


perguntou sorridente.

— Oi? — John perguntou confuso.

— Você, Kate e Thomas. Os três têm carro


preto. — Ela observou John sorrir.

— Coisa do destino. — Ele deu de ombros.

— O seu é o mais assustador.

— Não é nada. — Ele defendeu o carro.


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— Se eu visse esse carro de janelas fechadas


passando lentamente por uma rua, eu correria.

— Irônico. — John falou rindo e Madson


ficou confusa.

— O que? — Perguntou com curiosidade.

— Eu consegui assustar Kate desse jeitinho.


— Ele sorriu.

— Coitada! Seu desalmado. — Falou dando


um leve tapa no ombro dele.

— Você precisava ver a cara dela. — Ele falou


convencido.

— Da próxima vez você grava. — Ela sorriu.


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Assim que terminou de falar, o carro parou em


frente à casa de Kate, Madson se despediu de John
agradecendo pelo menos umas três vezes por ter
trago ela. Desceu do carro e correu para a frente da
casa, tentando encaixar a chave na porta e abri-la o
mais rápido possível. Quando finalmente
conseguiu, entrou e acenou para John, que por sua
vez acelerou o carro, ela fechou a porta assim que o
carro sumiu de suas vistas.

Foi direto para a lavanderia jogando as roupas


molhadas dentro da máquina e enquanto a máquina
lavava, ela decidiu tomar um banho quente e
dormir.

Tomou o banho com tranquilidade enquanto se


lembrava do dia ótimo que havia tido com os
amigos. Ela já podia chamá-los assim, pois nesse
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pouco tempo de convivência já sentia que eles eram


amigos, poderia demorar um certo tempo para isso
se oficializar, mas ela estava feliz por todos estarem
aceitando-a tão bem.

Depois que saiu do banho, vestiu apenas um


pijama folgado e decidiu ligar para a mãe, na
primeira vez que ligou ninguém atendeu, mas na
segunda a mãe finalmente atendeu.

— Oi, filha, achei que tinha me esquecido. —


A mãe falou fazendo drama.

— Nunca esqueceria. — Madson falou um


pouco emocionada, era ótimo ter saído daquela
cidade que tanto lhe trazia lembranças ruins, mas
era horrível estar longe da mãe que sempre foi sua
melhor amiga. Por um minuto sentiu-se culpada por
ter mentido para a mãe em relação aos reais
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motivos de ter mudado, mas também estava


fazendo aquilo para preservá-la, sabia o quanto a
mãe gostava do seu ex.

— Como foi seu dia? — Melissa perguntou,


parecia animada do outro lado da linha.

— Foi ótimo, eu saí com Kate e os amigos


dela para um clube maravilhoso. — Madson falou
sorrindo ao lembrar-se do ótimo dia que havia tido.

— Que bom, meu amor, eu tenho uma super


novidade. — A mãe falou ainda mais animada.

— Conta, mãe. — Madson pediu, estava


curiosa sobre o que deixava a mãe tão eufórica.

— Eu estou trabalhando. — A mãe


praticamente gritou do outro lado da linha.
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— Sério? Que ótimo. — Respondeu animada,


sabia que a mãe odiava ficar parada e
provavelmente estava encontrando um modo de
ocupar a mente para não sentir tanta falta da filha.

— Sim! E você não sabe o melhor, estou


trabalhando no jornal local. — Falou convencida.

— Que maravilha, mãe, fico muito feliz por


você. Queria estar aí para podermos comemorar. —
Disse a última frase com certo pesar.

— Podemos comemorar depois. Preciso


desligar, senão vou queimar a comida que deixei no
fogo. Beijos, querida. — Melissa falou e Madson
ouviu um bater de panelas do outro lado da linha.
Por um momento imaginou sentir o cheiro da
comida da mãe e a saudade bateu.
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— Mãe! — Chamou antes que ela pudesse


desligar.

— Oi?

— Eu te amo. — Falou e uma lágrima


escorreu pelo seu rosto.

— Eu também te amo, querida! — Pela voz da


mãe, ela certamente estava emocionada, Madson
não era uma pessoa que expressava os sentimentos
com facilidade.

— Até amanhã. — Madson falou e ouviu a


mãe se despedir antes de desligar e chorar em
silêncio agarrada a um travesseiro.

Quando finalmente conseguiu acalmar o


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choro, foi até a cozinha pegar alguns cookies dos


que a irmã havia feito e seguiu para a sala.
Precisava de chocolate, isso a deixaria animada
com certeza. Ligou a televisão em um canal que
passava um filme romântico. Enquanto assistia,
chorou mais um pouco, amaldiçoando os diretores
do filme por tentar fazer jovens inocentes
acreditarem que o amor poderia ser algo lindo
daquela forma.

Talvez até pudesse, como era o caso de


Melissa e Dean, mas antes de dar certo, tudo dava
errado e era complicado ter que passar por aquelas
fases do amor. Por um momento desejou não ter
passado por aquilo e ter encontrado de cara o
homem da sua vida. Mas sabia que isso era
impossível e talvez um dia o amor chegasse para
ela, assim como chegou para a mãe.

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***

Douglas sentou-se atrás da grande mesa que se


encontrava no canto de sua sala com alguns exames
em mãos. Estava um tanto preocupado quanto ao
caso do filho de seu amigo, estudava o máximo de
possibilidades possíveis para poder salvar aquela
criança. Daria o melhor de si, pois era para isso que
havia seguido a profissão de ser médico. Não se
arrependia momento algum, já havia salvado várias
vidas e era isso que fazia o seu trabalho valer a
pena.

O celular de Douglas soltou um som estridente


avisando que mais uma mensagem havia chegado.
Olhou para a tela com certa relutância, era outra
mensagem da Candy, ela não parava de perturbá-lo
desde o clube. Desbloqueou a tela com a digital e
abriu o WhatsApp, na conversa de Candy haviam
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dez mensagens.

Você foi ao clube me ver,


não foi? 13:45

Por que não me responde?


14:50

Eu sei que gostou daquelas


noites que tivemos tanto
quanto eu. 15:06

Eu vi o modo como me olhou


hoje. 15:39

Sinto sua falta.


16:40

Me responde!!!
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16:41

Da pra ver que você visualizou.


16:41

Você não pode sumir novamente.


18:32

Eu não vou parar de mandar mensagens.


19:50

Idiota!!
22:30

Douglas suspirou em desapontamento, a


mulher era uma louca de pedra, ele mal havia
trocado uma palavra com ela a mais do que o
necessário mais cedo. Como sabia que as
mensagens persistiriam, Douglas bloqueou o
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número dela de seu celular.


Estava cansado de tudo aquilo, e o dia seguinte
seria difícil, decidiu encerrar o trabalho e ir para
casa, descansaria o máximo possível para o dia
seguinte.

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Capítulo 3
Madson dormiu pouco durante a noite, não
sabia o porquê, mas sentia-se triste. Depois de
assistir dois filmes ela havia ido deitar, no intuito
de conseguir dormir, mas antes de pegar no sono
ouviu a porta da sala bater e alguns soluços, parecia
ser Kate. Ela achava que a irmã dormiria no
alojamento com Tracy.

Por um momento quis ir ver se a irmã estava


bem, mas pelo modo que a irmã chorava baixinho
no outro quarto, achou melhor deixá-la sozinha e
falar com ela na manhã seguinte. Demorou mais
algumas horas para conseguir dormir, quando
conseguiu já passava das três da manhã. No dia
seguinte acordou cedo com uma cólica terrível, era

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esse o motivo de tanto sentimentalismo.

Nesses dias Madson sempre virava uma pessoa


chorona, não tinha quem a aguentasse por perto.
Precisava de chocolate, sorvete e balinhas. Isso a
deixaria calma e gorda também, mas por hora ela
não se importava. Logo faria a matrícula em uma
academia e voltaria a manter o corpo em forma.

Quando finalmente saiu de seu quarto, Madson


decidiu passar no da irmã. Bateu duas vezes na
porta antes de abri-la, mas para a surpresa dela, a
irmã já havia ido para o trabalho. Suspirou, estava
arrependida por não ter ido consolá-la durante a
noite, sentia-se uma péssima irmã.

Decidiu por apenas vestir uma roupa


confortável e ir até o mercadinho que havia ali
perto comprar algumas coisas.
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No caminho ela foi observando as casas da


vila, quanto mais distante da entrada, maiores eram
as casas e mais sofisticadas também, algumas até
com mais de um andar e garagem subterrânea.
Quando chegou ao mercado, ela foi direto para
seção de doces, não estava nem aí se pareceria uma
criança comprando tantos doces.

Pegou três barras de chocolate de sabores


diferentes, alguns canudos de chocolate, várias
balas e doces, e por fim pegou sorvete. Não havia
como ela ficar triste com tanta coisa gostosa para
comer.

Começou a andar de modo desajeitado pelo


corredor segurando todas as coisas, quando sem
querer esbarrou nas costas de um cara, esse mesmo
cara virou parecendo estar com raiva, mas a
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expressão de seu rosto ficou mais calma quando ele


olhou para Madson.

— Me desculpe. — Ela falou com vergonha.

— Tudo bem. Falo com você depois, tchau. —


Ele disse essa última frase para o celular e desligou.
— Precisa de ajuda aí? — Ele falou apontando para
o tanto de doces que ela tinha em mãos.

— Ah, não precisa se incomodar. — Ela


respondeu enquanto analisava o cara, ele era loiro,
alto, com um porte atlético e vestia terno e gravata.

— Tudo bem, não estou com pressa. — O


moço falou dando um belo sorriso de lado, ele era
bem diferente dos caras que ela já havia conhecido,
em aparência pelo menos. — Aliás, eu sou Fábio.

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— Eu sou Madson. — Ela falou com um


pouco de vergonha, o nome dele também era
diferente até no modo de pronunciar. Ele a ajudou a
levar as coisas até o caixa.

— Você deve ter achado meu nome diferente.


— Ele falou sorrindo e ela assentiu com a cabeça
timidamente. — Eu não sou daqui, sou do sul do
Brasil. — Agora estava explicado o porquê da
aparência diferente.

— Legal. Não sente falta de lá? — Ela


perguntou imaginando como seria conhecer o
Brasil, a verdade era que sabia pouquíssimo sobre o
país.

— Quase sempre, mas os Estados Unidos se


tornou a minha segunda casa. — Ele sorriu
abertamente.
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— Eu também não sou daqui, nasci na


Espanha. Mas só nasci mesmo. Moro aqui desde
meus primeiros meses de vida. — Ela falou sem
jeito, nem sabia por que estava falando aquelas
coisas para um estranho. — Obrigada pela ajuda.
— Ela falou assim que os dois passaram pela porta
do supermercado.

— De nada. — Ele falou sorrindo


abertamente. — Quer uma carona?

— Não, obrigada. Preciso perder as calorias


que vou repor com isso e as sacolas não estão
pesadas. — Ela nunca aceitaria a carona de um
estranho.

— Tudo bem então, até outro dia. — Ele falou


entrando em um carro vermelho.
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— Até. — Ela andou de volta para casa,


disposta a passar o dia inteiro assistindo uma série
que a amiga havia recomendado. Once Upon a
Time, ela não fazia ideia do que se tratava a série,
mas como havia terminado todas que
acompanhava, iria assisti-la.

Chegou em casa largando todas as coisas em


cima da mesa da cozinha, pegou algumas balas e
uma barra de chocolate meio amargo e se jogou no
sofá, colocando o primeiro episódio da série para
tocar.

***

Douglas estava impaciente, em poucas horas


faria a cirurgia do filho de seu amigo. Mesmo que
tivesse dormido bastante na noite anterior, se sentia
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cansado, tentava se manter calmo para a cirurgia.

Ele andava de um lado para o outro em sua


sala quando Kate chegou, alguma coisa nela estava
diferente, ela não parecia bem e sua feição
demostrava que estava triste. Ela apenas sibilou um
bom dia baixo e seguiu para a pequena sala.

Mesmo estranhando o jeito de Kate, decidiu


não incomodá-la, ela não parecia querer conversa.
Se jogou na mesa disposto a tentar se acalmar,
havia separado o dia somente para essa cirurgia,
então tinha tempo de sobra.

Douglas ter bloqueado Candy não adiantou


muita coisa, até tinha sido pior, pois ela ligava toda
hora exigindo que ele lhe desse atenção. Era até
engraçado, haviam ficado uma vez só e fazia uns
meses e mesmo assim ela insistia em pegar no pé
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dele.

O telefone tocou novamente e Douglas o


pegou com receio, poderia ser Candy novamente. O
nome fazia jus a garota, era mais melosa do que um
doce. Douglas ficou aliviado ao olhar para a tela do
celular e ver que não era Candy, e sim, Fábio.

— Fala, cara. — Falou ao atender.

— E aí, não te conto quem eu encontrei hoje.


— Fábio falou num tom sarcástico.

— Só pode ser mulher. — Douglas respondeu


em ironia.

— Claro. Não quer saber quem foi?

— Fala.
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— Lembra aquela mulher do corpo escultural


lá no clube? — Fábio falou e o corpo de Douglas
gelou, não poderia ser.

— Qual delas? — Tentou disfarçar o


nervosismo em sua voz, sem saber direito o porquê
disso.

— A morena dos cabelos longos. — Fábio


falou e Douglas teve a certeza de que ele estava
falando da mesma mulher que havia dominado os
seus sonhos. — O nome dela é Madson.

— Ah. — Respondeu com desânimo. Pelo


menos já sabia o nome dela.

— Achei que você fosse ficar mais animando.

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— Por que ficaria?

— Por mim, ué. Logo, logo ela será do papai


aqui. — Ao ouvir isso Douglas sentiu uma raiva o
consumir, pela primeira vez desejava que o amigo
se fodesse.

— E o que te leva a pensar isso? — Tentou


não parecer muito interessado.

— Ela foi gentil. — Fábio falou de um modo


meio retraído e Douglas sentiu um enorme alívio.

— Boa sorte. — Falou com ironia, mas o


amigo pareceu não perceber.

— Sempre tenho. — Fábio respondeu.

— Preciso desligar aqui e voltar ao trabalho.


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— Até mais, cara. — Fábio falou ao desligar.

Douglas suspirou, ainda estava com raiva do


amigo. Ficou girando de um lado para o outro na
cadeira enquanto pensava no que fazer sobre a
notícia que o amigo havia dado a ele. Por um
momento toda a tensão pré cirurgia deu lugar a uma
tensão diferente. Não se sentia confortável ao
pensar em Madson com Fábio.

——-
Douglas estava nervoso, não só pela ligação do
amigo, mas também por outra ligação. Haviam
ligado do pronto socorro avisando que um paciente
precisava ser operado às pressas, e ele era o único
neurocirurgião disponível. Tentou contestar, teria
que fazer outra cirurgia em algumas horas, mas não
adiantou e ele não deixaria um paciente
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desamparado.

Ele chamou Kate e avisou a ela que teria uma


cirurgia de emergência em alguns minutos, deixou-
a livre para escolher se queria estar presente ou
não. Pelo pouco de informação que haviam passado
a ele pelo telefone, sabia que havia sido um
acidente feio e era meio ruim para estudantes
verem isso já em seus primeiros dias de estágio,
isso poderia levá-los a desistir.

Ele confiava bastante na estagiária para saber


que ela não desistiria por causa disso, Kate já havia
se mostrado uma ótima profissional. E mesmo que
não participasse de modo direto na cirurgia, era
essencial ela estar presente.

Desceu para a ala D o mais rápido que pôde, o


paciente já estava recebendo atendimento na sala de
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cirurgia e logo teria que ser operado. Douglas já


estava mais calmo, era um bom profissional e tinha
que lidar com situações como aquela sempre. Ele
não poderia deixar o envolvimento emocional
atrapalhar o seu desempenho durante a cirurgia,
qualquer erro ali seria fatal.

Ele havia se formado para salvar vidas e não


para tirá-las, e era isso que faria. Salvaria a vida
daquele homem e salvaria a vida do filho do amigo,
já estava decidido sobre isso. Kate havia optado por
descer e participar da cirurgia, depois que ela
esterilizou tudo e entregou a Douglas, a cirurgia
começou.

O paciente havia batido a parte posterior da


cabeça ao ser arremessado de um carro, e os
ferimentos eram feios. Ele também estava com uma
grave concussão, o que dificultava mais ainda o
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trabalho de Douglas.

Foram duas longas horas de cirurgia, Douglas


sentia-se exausto e ao mesmo tempo realizado.
Havia conseguido salvar a vida daquele homem,
pelo menos inicialmente. O paciente ainda teria que
ficar sob observação por um tempo até poder dizer
que ele realmente estava fora de risco, mas tudo
havia corrido bem durante a cirurgia.

Douglas arrancou a máscara e a touca que


usava e passou as mãos no cabelo, nervoso. Em
poucos minutos ele teria que operar o filho do
amigo, estava nervoso porque o quadro clínico do
menino era difícil, talvez o mais difícil que ele já
tinha pego. Estava saindo da sala de cirurgia
quando o gerente do hospital o parou.

— Você fez um belo trabalho naquela cirurgia.


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— Ele falou batendo nas costas de Douglas.

— Obrigado, senhor Vasquez, não fiz mais


que a minha obrigação. — Falou meio nervoso,
eram poucas as vezes que o gerente descia de seu
"trono" para conversar com alguém do hospital.

— Admiro a sua dedicação, garoto, você sabe


quem era o cara que você operou? — Perguntou de
modo enigmático.

— Não, sei apenas o básico. — Douglas


respondeu confiante.

— Ele é um dos criminosos mais procurados


de toda a América, ele estava fugindo quando
aconteceu o acidente e ele é uma peça importante
para o uso do FBI. Nós acompanhamos a cirurgia
da minha sala de conferências e você fez realmente
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um ótimo trabalho. — Vasquez falou e Douglas


gelou, havia salvado um bandido?

— Obrigado, senhor, preciso ir. — Falou


tentando se livrar daquela conversa, ele iria
descansar por quinze minutos antes de poder entrar
para a próxima e mais difícil cirurgia.

Douglas caminhou a passos lentos até a sala de


descanso, enquanto passava por um dos corredores,
viu Danniel e a esposa esperando aflitos, aquilo fez
o coração dele se apertar. Não poderia errar nada
nessa cirurgia.

***

Madson já havia assistido vários episódios da


série e já estava entediada, não via a hora de
começar a estudar e voltar pra academia, e assim
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ter algo para fazer. Ela andou de um lado pro outro


pela casa à procura de algo para fazer, acabou
achando o notebook de Kate jogado em cima de um
mesinha na sala e resolveu então entrar em suas
redes sociais.

Por sorte no notebook havia como entrar como


visitante, ela abriu a internet e digitou facebook na
aba de pesquisa, fazia um tempo que não abria o
face. Quando abriu, havia mais de 99 notificações,
algumas solicitações de amizade e muitas
mensagens.

Resolveu abrir primeiro as mensagens. A


maioria delas eram de suas amigas, maioria das
mensagens eram interrogativas e todas no mesmo
estilo. "Madson, por que você fez isso?" Madson
ficou confusa, resolveu abrir as notificações.
Maioria delas eram em um único Post, um que
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falava que Madson havia traído Caleb.

— Mas que porra é essa? — Ela gritou para o


computador.

Ficou irada com o que viu, não era só um Post,


eram vários e todos a difamando. Ela foi a traída e
ele que saiu como bonzinho da história? Ficou
ainda mais magoada porque as amigas acreditaram
naquilo, num surto de raiva ela decidiu que
excluiria o facebook. Não precisava passar por
aquilo e não precisava ler xingamentos, até de
pessoas que não a conheciam.

Excluiu o face e desligou o computador, ainda


estava em nervos com tudo aquilo. O dia havia
começado até bom, mas aquilo havia tirado toda a
sua animação. Ficou pensando no que fazer para
tirar aquilo da cabeça. Ela precisava se ocupar ou
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acabaria ligando para Caleb e o xingaria de todos


os nomes ruins possíveis. E ela sabia que era isso
que ele queria, atenção. Não precisava ligar para
aqueles boatos, já estava muito longe daquela
cidade e não devia nada a ninguém.

O celular de Madson tocou, assustando-a, ela


correu até o outro lado da sala para pegá-lo. Era
Gerald, ele quase nunca ligava, ficou em dúvida se
atendia ou não, resolveu atender e agir
normalmente para ele não desconfiar de algo.

— Oi, pai. — Falou com falsa animação.

— Oi, filha, como você está? — O pai


perguntou normalmente.

— Ótima. — Falou e fingiu um sorriso.

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— Que bom, preciso falar com a sua mãe, ela


está por perto? — Ele perguntou e Madson gelou,
pensou em mil desculpas para falar até achar uma
boa. — Filha, você está aí?

— Foi mal, a ligação estava ruim. — Ela


desculpou-se. — Melissa não está. Ela agora
trabalha. — Falou e suspirou. Esperava ter sido
convincente.

— Ah, depois eu ligo para ela então. — Ele


falou e ela ficou aliviada.

— Qual o motivo da ligação? — Perguntou


para o pai.

— Nenhum em especial.

— Tudo bem então. — Ela sorriu. — Preciso


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ir, pai. Até mais. — Ela falou e não esperou a


resposta dele, apenas desligou.

Madson decidiu que realmente precisava


relaxar, iria fazer uma caminhada para ver se ficava
um pouco menos nervosa. Depois de ler tudo aquilo
na internet, decidiu que seria bom se começasse a
praticar alguma luta. Se um dia encontrasse Caleb,
daria-lhe uma surra para ele aprender a honrar o
que tem no meio das calças.

Tomou um banho rápido e vestiu uma roupa


de caminhada, amarrando o cabelo em um rabo de
cavalo, pegou o IPod e conectou na playlist
preferida, prendeu do lado da calça, passando os
fones por dentro da blusa para que não caíssem
durante a corrida e saiu de casa. Prendendo a chave
debaixo de um vaso de planta que ficava ao lado da
porta.
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Começou a correr devagar pelas ruas da vila


em direção a um parque que havia ali perto, daria
duas voltas no parque antes de voltar para casa.
Precisava queimar todas aquelas calorias que havia
ingerido durante a manhã. O sol no alto do céu a
ajudaria a queimá-las mais rápido.

Quando chegou ao parque parou em frente ao


grande caminho cheio de árvores, por algum
motivo sentia receio em entrar naquele lugar.
Decidiu apenas ignorar isso e voltou a caminhar.
——-
Madson já estava correndo pela pequena trilha
escura no parque, haviam outras poucas pessoas
fazendo caminhada e passeando com seus animais.
A cena mais esquisita foi ver um cara puxando um
gato por uma coleira. Madson ficou tão vidrada na
cena que acabou não olhando por onde corria e deu
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de cara com uma enorme árvore. Bateu fortemente


e foi arremessada para trás, de modo que caiu,
batendo o corpo com força no chão.

— Ai! — Madson exclamou passando uma


das mãos em sua cabeça. Aquilo com certeza
deixaria uma marca roxa.

— Deixe eu te ajudar. — Um rapaz loiro de


porte atlético falou, estendendo a mão para ela.

— Obrigada. — Ela apertou a mão dele e foi


puxada, ficando de pé novamente.

Madson hesitou um pouco antes de levantar o


olhar para o seu "salvador".

— Você está bem? — O loiro perguntou e em


seu rosto havia preocupação.
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— Estou sim, obrigada novamente. — Madson


respondeu e forçou um sorriso, ela ainda estava
com vergonha. Sentia-se uma idiota por ter batido a
cara em uma árvore. — Preciso ir. — Ela falou,
sorriu e acenou para ele.

Não continuaria a caminhada, decidiu que


voltaria para casa, havia perdido toda a vontade de
caminhar. Antes de sair do parque ela se permitiu
olhar novamente para o loiro, ele ainda tinha um
sorriso compreensivo no rosto. Ela sorriu forçado
novamente e começou a correr para casa, já não
prestava atenção em que música tocava em seu
iPod.

Chegando em casa, pegou a chave debaixo do


vaso de planta e abriu a porta. Não queria nada
naquele momento, só precisava de um banho.
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Caminhou até o quarto e chegando lá puxou os


fones do iPod, conectou-o a um acessório que o
fazia tocar alto e deixou a playlist tocando. Um
fundo dramático para uma pessoa dramática.

Entrou no banheiro e tirou aos poucos as peças


de roupa. Entrou no box de vidro, o fechando em
seguida e ligou a água. Quando a água morna
atingiu seu corpo, Madson sentiu sobre si o peso
dos problemas e uma vontade enorme de chorar
cresceu em seu peito. Naquele momento ela não se
importava mais se deveria ou não ser forte, apenas
enfiou a cabeça debaixo d'água, fechou os olhos e
chorou. Chorou pela traição de Caleb, chorou por
estar longe da mãe, chorou por ter sido tão idiota
nos anos de namoro e chorou por todas as mentiras
que haviam inventado ao seu respeito.

Nada mais importava, Madson se sentiu fraca


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e incapaz. Passou as mãos pelos cabelos e apoiou


as costas na parede, o choro agora vinha com mais
força, ela estava chorando por todas as vezes que se
manteve firme mesmo quando precisava desabar.
Escorreu as costas na parede até parar no chão do
box, agarrou os joelhos e deitou a cabeça neles
enquanto a água caia sobre o corpo, começou a
soluçar alto enquanto chorava. Além do choro e do
barulho da água em contato com a sua pele, ouvia-
se uma música triste da Birdy, o que não melhorava
a situação.

Permaneceu nesse estado por mais alguns


minutos antes de finalmente conseguir se acalmar
um pouco, tomou banho normalmente lavando os
cabelos. Chorar havia tirado um grande peso de
suas costas, ela precisava daquele momento,
precisava ser frágil e de certo modo sentia-se
aliviada.
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Ao sair do banho, Madson vestiu um vestido


folgado e prendeu o cabelo em uma trança ainda
molhado. Deitou-se na cama, puxando para perto
de seu corpo um dos travesseiros. Agarrou-o com
força e enquanto tocava uma música calma do
Simple Plan, ela foi sentindo os olhos pesados e
acabou pegando no sono.

---------

Já estava na hora da cirurgia começar, aqueles


poucos 15 minutos de descaso não haviam sido
suficientes para ele. Além de cansado, ele ainda
estava nervoso. Entrou na sala de cirurgia e encarou
o corpo do garoto em cima daquela cama, o seu
coração se apertou, era o mesmo que ver um filho
naquele estado. Isso doía nele, havia passado anos
sendo profissional e naquele caso já estava tão
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envolvido emocionalmente que sentia medo de


errar.

Poucos minutos depois de Douglas, Kate


entrou na sala. Ela não parecia feliz, em seu rosto
havia um misto de raiva e de preocupação, havia
também um pouco de indignação. De certo modo
Douglas entendia o lado dela, pelo pouco que ela já
havia estudado em medicina ela deveria saber que
aquela era uma operação complicada, ainda mais
para um garoto de 12 anos. Ele também não
concordava com o método que teria que utilizar na
cirurgia, mas era uma regra do hospital. Ele teria
que apresentar aos parentes do paciente todos os
tipos de soluções, ela poderia não entender isso
agora, mas logo entenderia o lado dele.

A cirurgia era uma das mais complicadas na


área dele, e quando Douglas conversou com o
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amigo e a mulher dele, eles exigiram que ele


fizesse essa cirurgia, era a única solução. O garoto
morreria em pouco tempo se ele não o fizesse e
mesmo que as porcentagens não fossem
animadoras, ele teria que tentar salvar aquele
garoto. Os pais do garoto viam nele uma esperança,
e Douglas não queria decepcioná-los.

Foi até o lado de Kate e começou a vestir todas


as roupas esterilizadas, enquanto ela estava
cuidando em esterilizar as ferramentas. Ele colocou
as luvas com cuidado nas mãos e antes de colocar a
máscara no rosto, resolveu falar com Kate.

— Você está bem? — Ele perguntou


transmitindo a ela um olhar preocupado.

— Eu não me conformo, um garoto tão novo.


— Ela falou com a voz embargada de tristeza.
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— Eu também não, mas precisamos ser fortes


para salvá-lo. Pode ser forte por mim? Preciso do
seu apoio agora. — Ele falou e tentou transmitir
confiança a ela, era a verdade, ele não estava sendo
forte e precisava que alguém fosse por ele,
precisava de apoio.

— Posso. — Ela falou, ele sabia que não era


só aquilo que a estava incomodando.

— Pronta? — Ele perguntou e ela assentiu


com a cabeça.

Ele colocou a máscara no rosto e entrou na


sala, olhou mais uma vez para o garoto antes de
ligar a luz, mesmo o garoto não estando acordado
ele aplicou uma anestesia. Morfina, isso ajudaria
caso ele acordasse, não sentiria dor. Douglas pediu
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mentalmente forças pra Deus antes de começar a


operação. Na sala haviam várias enfermeiras, um
outro médico, alguns assistentes e enquanto
Douglas tentava remover o tumor da cabeça do
garoto, o outro médico ajudava controlando a
pressão sanguínea.

Foram longas e cansativas três horas de


cirurgia, durante a qual o garoto sofreu dois ataques
cardíacos. No primeiro ataque os médicos haviam
conseguido trazê-lo de volta, mas o segundo foi
fatal. O coração do garoto parou e não mais voltou
a bater, Douglas olhou espantado para o corpo do
garoto, sem vida, jogado em cima da mesa de
cirurgia. Carregaria a culpa consigo para sempre,
ele havia feito de tudo para salvar aquela criança e
mesmo assim havia falhado, talvez o riso dele não
fosse suficiente.

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Enquanto alguns enfermeiros e o médico


cuidavam do atestado de óbito do garoto, Douglas
saiu transtornado da sala, a dor que sentia no peito
era grande e o estava sufocando. Antes de passar
pela porta da sala de cirurgia, Douglas foi barrado
por Kate, ele apenas pediu para que ela fosse dar a
notícia aos pais do garoto e seguiu para a sua sala.

Não sentia-se forte o suficiente para encarar o


amigo naquele momento, se o fizesse com certeza
desabaria em um choro. Essa era a segunda pessoa
importante que ele havia perdido, por isso
precisava fechar o coração, não queria se apegar a
mais ninguém.

Entrou na sala e foi até uma estante no canto


dela, pegou um porta-retratos com a foto de Sarah e
foi até a mesa, abraçando-o. Sentia falta do sorriso
dela, era isso que geralmente animava o dia dele, e
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a dor que ele estava sentindo talvez fosse embora se


ela estivesse ao seu lado.
——-
Quando havia dito que queria "colocar tudo
para fora", Madson não imaginava que acordaria
passando mal e que vomitaria tudo o que havia
comido mais cedo. Ela havia exagerado nas
besteiras e com certeza aquilo era só o seu
organismo reagindo. Madson havia dormido
praticamente a tarde toda, depois do seu ataque de
nervos mais cedo havia colocado tudo o que
precisava para fora.

Quando acordou, sentou-se na cama e sentiu


tudo girar, passou as mãos pelo pescoço que
queimava de febre e o enjoo começou. Ela ainda
ficou alguns minutos sentada achando que iria
passar, mas quando piorou se viu obrigada a correr
até o banheiro e vomitar tudo o que havia comido.
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Essa era uma das coisas que ela mais odiava,


vomitar. Era uma situação desagradável, e sempre
que começava a passar mal, ficava assim um longo
tempo, mesmo sem ter mais nada no estômago
vomitava.

Entrou no banho ainda meio fraca, a febre já


havia baixado e o enjoo já havia ido embora, agora
ela só precisava comer algo leve e ficar quieta.
Lavou os cabelos novamente, se houvesse como, os
cabelos perderiam a cor de tanto que os havia
lavado. Enrolou-se em uma toalha e começou a
escovar os dentes, quando estava quase terminando
ouviu a campainha, terminou de enxaguar a boca,
pegou uma toalha e foi secando os cabelos até a
porta. Olhou pelo olho mágico quem era e viu que
era Kate. Estranhou a irmã ter chegado aquela hora,
já era para ela estar em casa há um tempo.

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— Kate. — Madson parou de secar os cabelos


e abraçou a irmã. — Eu estava preocupada, você
demorou a chegar. — Falou, aquilo não era
totalmente mentira, mas também não era uma
verdade completa, só havia reparado na ausência da
irmã há pouco.

— Oi, Mad. — Kate falou meio constrangida,


ela parecia nervosa. — Depois que você terminar
seu banho, eu preciso falar com você sobre algo. —
Falou ainda nervosa, Madson ficou imaginando o
que a irmã queria conversar.

— Eu já terminei, vou só vestir uma roupa e


nós conversamos. — Ela disse e foi para o quarto.

Procurou rapidamente por uma roupa


confortável, ainda não estava totalmente bem, mas
também não diria isso a irmã. Fingiria que estava
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ótima para não preocupá-la, depois de vestir um


shortinho e uma regata, Madson saiu do quarto e
encontrou a irmã já sentada no sofá.

— O que você queria me contar, maninha? —


Madson falou sentando no sofá ao lado de Kate
enquanto penteava os cabelos.

— Ok. — Kate suspirou, Madson percebeu


que a irmã realmente estava nervosa. — Eu te
escondi algo, e não quero mais que haja segredo
entre a gente, o problema é que esse segredo
envolve algo maior e o que eu te contar não pode
sair daqui, ok? — Ela falou e Madson ficou
nervosa, a irmã teria matado alguém? Por que pra
esse suspense todo isso era o mínimo.

— Ok. Kate, fala logo, porque tá me deixando


nervosa. — Madson respondeu deixando a escova
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no braço do sofá.

— Olha. — Kate apontou para a aliança no


dedo, Madson se surpreendeu, a primeira pessoa
que veio à sua cabeça foi o chefe de Kate, que já
havia vindo deixá-la em casa uma vez. Esse
pensamento a irritou um pouco, mas ela tentou
controlar a voz para falar.

— Ok, você está namorando. Esse é o grande


segredo? — Madson perguntou rindo, o sorriso não
era totalmente sincero. Queria que a irmã
arrumasse alguém legal, mas torcia para que não
fosse o chefe dela, e ela nem sabia o motivo disso.
— Isso eu já desconfiava. — Afirmou, mas isso
não era bem uma verdade.

— O grande segredo é quem eu estou


namorando. — Kate falou fazendo suspense, nesse
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momento Madson teve certeza de que ela falaria


que estava namorando o chefe e isso poderia custar
o emprego dos dois. — Sabe o professor, pai da
minha amiga? — Madson sentiu o coração
acelerar, agora sim estava feliz, realmente feliz.
Mas sentia-se idiota por ter tentado juntar um casal
que já estava junto.

— Não! — Madson falou ironicamente em


surpresa. — Danadinha! Eu achei que você fosse
falar que estava namorando o seu chefe. Eu vi
quando aquele delícia te deixou aqui, agora eu
posso falar assim, né? Já que você não está
namorando com ele e tal. — Disparou a falar, a
felicidade era tanta que mal se controlava.

— Pode. — Kate riu. — Achei que você fosse


surtar.

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— Eu estou surtando. — Ela falou sorrindo. —


Agora eu preciso confessar que eu já desejei o
corpo nu do seu namorado, mas isso foi quando eu
não sabia que ele era seu namorado, então tudo
bem, né? Não vou mais desejar o corpo nu dele,
mas o do seu chefe eu vou. Tô pensando em
começar a dirigir só pra ir te buscar todo dia no
trabalho. — Continuou falando sem parar até que
Kate a interrompeu.

— Tudo bem, respira, Mad. — Kate falou e as


duas riram.

— Por isso que ele não me dava bola, e eu


achando que ele havia mudado de lado, virado
gilete, trocado de fruta. — Elas riram ainda mais.
— Fico feliz que tenha confiado em mim para
contar isso. — Ela disse por fim.

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— E eu fico feliz que tenha sido sincera


comigo. — Kate sorriu de um modo doce. — Acho
que você estava começando a assustar o meu
namorado. — Falou e as duas riram.

— Eu causo isso nas pessoas. — Madson fez


uma pausa. — É tão bom saber que aquele seu
chefe delícia está solteiro. Você vai me apresentar
ele, não é? Diz que sim. Olha, com todo o respeito
que a frase permite, o seu chefe é mais gostoso do
que o seu namorado. Que imã hein, só atrai homem
bonito pra perto de ti. Ainda tem aquele seu amigo
que é um gos...

— Gostoso. — John completou entrando na


casa. — Eu malho cinco vezes por semana. —
Madson ficou com vergonha e seu rosto queimou.

— Chegou o convencido. — Kate falou e


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jogou uma almofada nele. — Senta aí. — Ela falou


abrindo espaço pra ele no sofá. — Mad, sobre o
meu namoro...

— Ninguém pode saber. Eu entendo. —


Madson falou ainda sem graça.

— Agora as duas já podem me ajudar a


reconquistar o meu namoro, não é? — John falou
animado, Madson ficou confusa, mas como a
primeira tarefa como cupido não havia dado certo,
talvez uma segunda não fosse tão mal.

— Claro. — Elas responderam juntas.

— E sem fantasia de coração? — Ele


perguntou animado.

— Fantasia de coração? — Madson perguntou


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confusa, não fazia ideia do por que alguém se


vestiria de coração. Era ridículo.

— É uma longa história, depois eu te conto. —


Kate afirmou e os três riram. — Vamos fazer você
reconquistar Tracy com algo mais romântico e
menos radical. — Kate falou.

— Que tal um jantar à luz de velas? —


Madson deu a ideia, sempre se imaginava num
jantar desses, mas seu antigo namorado não era tão
romântico.

— Isso é uma boa, poderíamos organizar tudo


pra você. O jantar podia ser no quarto dela, como
ela ainda não tem colega de quarto acho que está
tudo bem. Só precisamos distraí-la. — Kate
concluiu.

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— Ah, e compra um daquele hiper, mega,


grande urso. Toda mulher pira nisso. Buquê de
rosas, chocolates. Vinho tinto. — Madson foi
falando sem parar, tinha essa mania horrível.
Quando ficava muito animada com algo, disparava
a falar como uma adolescente boba.

— São ideias boas. — Ele apenas falou.

— Vamos fazer isso amanhã, nós cuidamos do


jantar e de distrair ela, e você compra o urso, as
rosas e o chocolate. — Kate afirmou.

— Tudo bem. Nós formamos um belo trio. —


John falou.

— Com certeza. — Madson respondeu e


sorriu, era ótimo ter bons amigos.

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— Concordo. — Kate falou e os três riram.

Depois que John foi embora, Kate e Madson


foram assistir um filme, fizeram pipoca, pegaram
algumas guloseimas e sentaram no chão da sala.
Madson havia dito que comeria algo leve, mas o
seu lado de gorda falou mais alto.

— Ainda vai me apresentar seu chefe gato,


não é? — Madson perguntou enfiando uma pipoca
na boca.

— Você não tem jeito! — Kate sorriu. “Não


tenho mesmo”, Madson pensou.

— Não mesmo, mas ainda quero conhecê-lo. É


muito injusto que você e sua amiga tenham
namorados gatos e maravilhosos e eu esteja assim
sozinha. — Madson falou fingindo estar brava.
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— Vou te arrumar um namorado gato e


maravilhoso também. — Kate disse e tomou um
pouco do refrigerante.

— De preferência seu chefe. — Madson disse


e não teve como ela não rir.

— De preferência meu chefe. — As duas


riram, tudo estava como deveria estar.

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Capítulo 4
Madson estava esperando pela irmã em um
café próximo a faculdade, o nome era Coff Star, o
lugar era bem aconchegante. Tinha como logo, as
cores vermelho e branco, dentro haviam algumas
mesas próximas à parede com bancos no estilo de
sofás, fora havia mesas redondas com quatro
cadeiras, tudo na cor vermelha. Enquanto a irmã
não chegava, ela pediu um cappuccino e ficou
tomando, estava eufórica com as ideias para o
plano cupido dois. Esperava que esse desse certo, já
que o plano cupido um havia ido por água abaixo.
Como se tenta juntar um casal que já estava junto?
Esse havia sido o pior plano dela, com toda a
certeza. Madson havia adotado uma política de vida
diferente, já que sua vida amorosa não tinha jeito,

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ajudaria os outros com as deles. Até porque,


pimenta na comida dos outros é refresco.

Quando já estava acabado o cappuccino, a


irmã chegou, parecia cansada, como se estivesse
corrido. Uma coisa era certa, Kate parecia tão
eufórica quanto Madson. Antes delas começarem a
discutir sobre o que fazer, Kate pediu um
cappuccino também.

— Se eu não tomar uns três desse não fico


acordada. — Kate falou assim que o cappuccino
ficou pronto. Madson sorriu, elas duas haviam
ficado acordadas até tarde no dia anterior
conversando sobre vários assuntos. Dentre eles,
relacionamentos, Kate havia contado tudo sobre
como havia conhecido Thomas, quando ela
perguntou sobre os relacionamentos de Madson, ela
preferiu mentir para a irmã, falar sobre Caleb ainda
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era doloroso, ela poderia fazer piadas sobre outros


caras e até sentir atração por eles, mas sabia que
não havia se recuperado do "amor" que sentia por
ele. O que era uma merda, já que ele havia feito
muito mal para ela.

— Juro que não sei como você ainda está


acordada. — Madson abriu um largo sorriso,
mesmo que por dentro não estivesse bem, ninguém
precisava saber disso. E ela era boa em fingir estar
feliz, eram anos fazendo isso para a mãe, para as
amigas e o namorado, agora ex. A verdade era que
Madson quase nunca estava feliz, não
completamente. Antigamente o motivo era seu pai,
que não era nem um pouco presente e que ela
julgava ter vergonha de si, por nunca ter falado dela
para a família. Mas atualmente o que não deixava
que ela sorrisse com sinceridade eram os últimos
acontecimentos. A única coisa boa naquilo tudo era
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ter ido para Stanford, lá ela tinha amigos e a irmã


perto de si.

— Eu também não sei, já tomei dois desse


hoje. — Kate falou levantando o copo. — Vamos
ao plano. O que você pensou? — Kate perguntou e
bebericou o líquido.

— Bom, poderíamos fazer algo no quarto dela.


— Madson sugeriu.

— Isso, perfeito. — Kate concordou.

— Temos que pensar em músicas românticas.


— Madson ponderou, aquilo seria o que ela
desejava para si, talvez Tracy também gostasse.

— Eu acho que deveríamos colocar a música


do velozes e furiosos para tocar na hora que ela
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entrar no dormitório. — Kate falou sonhadora.


Madson fez uma careta, a música era maravilhosa,
mas tinha um significado tão triste.

— Não, Deus me livre. Vai que o Paul Walker


resolve baixar lá. Se bem que um fantasma gostoso
daqueles eu queria. — Elas riram juntas.

— Você anda muito assanhada, querida


maninha. — Kate falou cutucando a irmã.

— Sempre fui, só escondia para não te assustar


e funcionava. — Madson piscou para a irmã.

— Com certeza, voltando pro assunto da


música. Acho que colocar Sam Smith seria algo
maravilhoso. — Kate sugeriu, Madson já até tinha
ideia de algumas músicas dele que poderiam ser
colocadas lá.
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— Eu tinha pensado em Michael Bublé, mas


lembrei que não é um enterro. E Home com certeza
é muito depressiva. — Madson falou pensativa.
Amava aquela música, mas era para os dias de
fossa e não de romance. — Que tal colocar Bruno
Mars também? — Esse cantor tinha músicas lindas,
e com a dose certa de romance, de depressão, de
tudo.

— Ótima ideia. Agora o jantar, que tipo de


comida pedimos? — Kate perguntou, estava
anotando tudo em um caderninho. Madson desejou
ser organizada como a irmã naquele momento.

— Italiana, sem dúvida. — Madson falou.

— Ok. E o vinho? — Kate anotou no caderno


novamente.
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— Qualidade Merlot, quem sabe assim ele já


não leva ela pra cama também. — Madson brincou
levantando uma das sobrancelhas.

— Você é terrível. — Kate falou. — Vamos


deixar o vinho a escolha de Thomas então, acho
que ele entende mais que nós. — Madson
concordou com a cabeça, sabia que a irmã só estava
querendo preservar a integridade da amiga. — A
decoração agora.

— Pétalas de rosa vermelha pelo chão. —


Madson falou de modo sonhador, lembrava a cena
de um filme.

— Ótimo. Velas espalhadas pelo quarto em


forma de corações. Só temos que ter cuidado para
não tocar fogo na faculdade. — Kate falou e as
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duas riram.

— Temos que arrumar uma desculpa para tirá-


la de lá. — Madson ponderou, elas ainda não
haviam pensado nisso e era o principal.

— Thomas se encarregará disso. — Kate


assegurou. Menos mal. Pensou Madson.

— E temos que arrumá-la também. Deixá-la


linda pro jantar, mas sem que ela desconfie. —
Madson lembrou.

— Isso fica pra você, maninha, hoje eu tenho


que trabalhar até mais tarde. — Kate falou já
recolhendo as coisas.

— Queria eu trabalhar com um chefe gato


daqueles até tarde. — Madson falou lembrando-se
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da troca de olhares com o chefe da irmã.

— Te vejo mais tarde. — Kate falou, e deu um


beijo no rosto da irmã.

Madson chamou um táxi e ficou mais alguns


minutos esperando ali, perdida em alguns
pensamentos.

***

Estava difícil se concentrar no trabalho, os


acontecimentos do dia anterior ainda o assombrava.
Ele nem havia conseguido ir dar a notícia ao amigo,
havia sido covarde e mandado Kate, sua assistente,
fazer isso. Mesmo assim ele teve que conversar
com o amigo e a mulher dele.

Ele estava em sua sala agarrado ao porta-


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retratos de Sarah enquanto deixava uma lágrima ou


outra cair. A dor do dia da morte de sua amada
havia voltado com tudo, e pior, juntamente com a
morte do garoto que ele havia visto crescer. Ele já
havia dispensado Kate quando sua outra assistente
avisou que o seu amigo e a mulher estavam lá fora
querendo falar com ele.

Nessa hora ele limpou o rastro de lágrimas que


havia em seu rosto e tentou ser forte, conseguiu até
ver as lágrimas da mulher do amigo, ele nem
poderia imaginar quanta dor ela estava sentindo por
seu único filho agora estar morto. Mais uma vez ele
culpou-se por ter falhado, abaixou a cabeça para
controlar as novas lágrimas que queriam vir.

— Douglas. — O amigo chamou e ele


finalmente levantou o rosto para encará-los.

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— Danniel. — Douglas o saudou de modo


profissional. — Rachel. — Ele falou com a voz
menos firme.

— Eu sei o que você está fazendo e quero que


pare. — Danniel falou.

— O que? — Douglas perguntou confuso.

— Você está se culpando. Não faça isso,


amigo. Eu... — ele fez uma pausa e puxou Rachel
para perto de si. — Nós dois sabemos que você fez
tudo o que podia. Dói perder um filho, dói muito.
Mas doía mais ver o sofrimento dele. — Danniel
tentava tranquilizar Douglas. — Eu te conheço há
15 anos, eu sabia que você daria o seu melhor para
salvar o Joe, e se você não conseguiu salvá-lo,
ninguém mais conseguiria.

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— Obrigado, amigo, eu sinto muito por isso.


Queria tê-lo salvado. — Douglas falou com
sinceridade.

— Eu sei, você fez tudo o que podia. —


Danniel falou e Douglas o abraçou.

Aquilo havia tirado um peso enorme de suas


costas, a culpa ainda não havia ido totalmente
embora. Mas o vazio que havia se instalado dentro
de Douglas já não estava mais lá.
——-
Madson estava organizando todo o quarto,
como Kate estava ocupada com o trabalho, havia
sobrado para ela deixar tudo em ordem antes que
Tracy chegasse. Todas as coisas que elas haviam
anotado na lista já estavam lá, inclusive dúzias de
rosas vermelhas. Madson faria aquilo com toda a
sua dedicação, era o sonho dela que um dia um cara
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fosse tão romântico com ela como John seria com


Tracy, e já que o plano de juntar Kate e Thomas
havia ido por água abaixo ela ajudaria no retorno
do outro casal.

Primeiramente ela tratou de organizar a mesa,


colocou uma toalha de mesa branca e por cima
outra vermelha. Organizou dois lugares na mesa,
com um conjunto de pratos e talheres, colocou duas
taças e no meio um balde cheio de gelo com o
vinho que Thomas havia escolhido. Além das velas
na mesa, Madson havia espalhado velas por todo o
quarto, a iluminação ficaria por conta delas.

Já passava das 18 horas, a comida italiana


havia chegado e estava no forno. Depois que
arrumou a mesa, Madson espalhou as pétalas de
rosa pelo quarto, apenas deixou sem pétalas um
caminho que levava até onde a mesa de jantar
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estava posta. Madson agora esperava por John, ele


tinha que comprar as últimas, e mais importantes,
coisas. Madson correu o olhar por todo o quarto,
aprovou o que viu, o ambiente estava
extremamente romântico.

Ela estava animada com tudo isso, mesmo não


conhecendo muito bem a Tracy, tinha certeza de
que ela iria gostar. Era o sonho de toda mulher, um
cara lindo e romântico e um jantar à luz de velas.
Thomas entrou no quarto tirando-a de seus
devaneios. Ele parecia meio sem graça e ela
percebeu isso, tinha que reparar aquilo. Não foi
certo dar em cima do namorado da irmã, mas em
sua defesa, ela não sabia que eles eram namorados
e depois ainda tentou juntá-los, sem saber que
estavam juntos há tempos.

— Eu trouxe o vinho. — Ainda sem graça ele


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entrou na cozinha.

— E eu trouxe todo o meu corpo pra você,


gato. — Ela falou com voz sedutora, viu a cara de
susto de Thomas, então começou a rir. — Te
enganei direitinho. — Ela gargalhou e a cara de
assustado de Thomas deu lugar a um belo e largo
sorriso. — Você tinha que ver a sua cara. — Ela
zombou.

— Idiota. — Thomas jogou um cubo de gelo


nela e começou rir.

— Ai! — Ela gritou passando a mão no braço,


sobre o local que o gelo havia acertado. — Agora
falando sério, queria te pedir desculpas. Por ter
dado em cima de você, sabe. Eu não imaginei que
você estivesse com a minha irmã. Não sou dessas.
— Ela se explicou, deixou de fora a parte em que
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depois havia tentado jogá-lo para cima da irmã, era


ridículo.

— Tudo bem. Fico feliz que ela tenha te


contado, odeio ter que esconder das pessoas o meu
relacionamento com ela. — Ele falou pensativo.

— Vocês se gostam muito, não é? —


Perguntou mesmo já sabendo a resposta.

— Eu a amo, com todas as minhas forças. Eu


nunca encontrei alguém como ela em toda a minha
vida, e mesmo sabendo que a nossa diferença de
idade é muito grande e que muitas pessoas podem
ficar contra o nosso relacionamento, eu tenho
vontade de gritar aos quatro cantos do mundo que
eu achei a mulher da minha vida. Jogaria tudo pro
ar para ficar com ela, ela me aceitou, mesmo com
tantos defeitos, e mesmo estando quebrado.
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Concertou meu coração que há muito tempo não


funcionava e acreditou em mim, mesmo quando
tudo apontava o contrário. — Uma lágrima
escorreu no rosto de Thomas, ele tratou de limpar
tudo bem rápido, Madson se emocionou com
aquela declaração. Era maravilhoso ter certeza de
que a irmã estava em boas mãos.

— Isso foi lindo, Thomas, você precisa dizer


isso a ela. Nem imagino o quão emocionada ela
ficaria ao ouvir isso. — Ela sorriu com os olhos
lacrimejando. — Eu fiquei.

— Eu preciso da sua ajuda, Mad. — Ele falou


pensativo, contou para ela toda a ideia que estava
tendo e eles discutiram sobre isso até John chegar.
Quando ele chegou, os dois começaram a combinar
tudo com ele, e ele concordou também. Madson
tinha certeza de que a irmã amaria tudo e com
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certeza aceitaria. Thomas teve que ir embora, tinha


que buscar Tracy. Madson continuou arrumando o
quarto, agora com a ajuda de John.

— Sabe, eu nunca pedi ela oficialmente em


namoro. — John confessou enquanto tirava a
comida do forno.

— Por que não? — Madson perguntou


enquanto arrumava o som.

— Eu era muito galinha antes de conhecer a


Tracy, ela era tão meiga e tão diferente. Eu tinha
medo de não dar certo, mesmo querendo com todas
as minhas forças que desse. Ela é a mulher mais
linda que eu já vi, mesmo quando é desastrada ou
quando usa aqueles óculos enormes. Me faz rir
sempre e eu nunca fico entediado com ela. Tenho
vontade de protegê-la a todo tempo e morro de
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ciúmes com a aproximação de qualquer cara.

— Eu devo ser um tipo de ímã de declarações,


vocês têm que falar isso para as suas mulheres. —
Ela falou e ele começou a rir.

— Obrigado pela ajuda, Mad. — Ele deu um


breve abraço nela e deixou a comida em cima da
mesa. — Espero que tudo dê certo. — Ele falou em
um tom quase inaudível.

O big urso estava em cima da cama com um


buquê enorme escorado nele e pétalas no resto da
cama, no mesmo tom das que estavam espalhadas
pelo resto do quarto.

— Eu comprei alianças também. — John falou


da cozinha. — Farei um pedido de namoro decente
para ela esta noite.
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— Que bom. — Ela sorriu. Uma mensagem


chegou em seu celular, era de Thomas avisando
para eles acelerarem tudo que já estava voltando
com Tracy. — Thomas já está voltando. Você está
pronto?

— Estou nervoso. — Ele falou vindo até perto


dela e mexendo freneticamente no celular.

— Isso é normal. — Ela disse, ligou o som e o


ambiente foi embargado por Ed Sheeran. — Agora
me dê seu celular. — Ela estendeu uma das mãos e
posicionou a outra na cintura.

— Ah não. — Ele falou escondendo o celular


nas costas.

— Ordens da Kate. Amanhã cedo ela te


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devolve.

— Eu vou me vingar dessa baixinha. — Ele


disse e entregou o celular.

— Só queremos que tudo saia perfeito.

— Eu sei, Mad. Obrigado por tudo. — Ele


falou e beijou a testa de Madson. — Já te considero
uma irmã.

Ela se emocionou novamente. — Também te


considero meu irmão. Boa sorte. — Disse pouco
antes de sair do quarto.

Caminhou lentamente pelos corredores até


encontrar a saída, ainda não estava acostumada
com a faculdade. Enquanto caminhava pelo
estacionamento, avistou a sombra de um homem e
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uma sensação estranha de que já o conhecia a


invadiu. Continuou encarando-o no escuro
enquanto andava em direção a saída, quando o
homem passou perto de um dos postes de
iluminação, ela pôde ver seu rosto, era o mesmo
cara em que ela havia esbarrado no mercadinho da
vila.

— Fábio? — Ela chamou e ele se virou.

— Olá, americana. — Ele veio em sua direção


e a envolveu em um abraço. — Que surpresa te
encontrar por aqui.

— Eu quem o diga. Você estuda aqui? — Ela


perguntou, mesmo achando que não, ele não
parecia ter idade para ainda estar ali.

— Não, mas estudei aqui. Vim ver meu irmão


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e agora estou esperando o meu amigo. — Ele falou


sorrindo.

— Bem, eu preciso ir. — Ela falou, não estava


muito confortável perto dele, mesmo ele parecendo
um cara legal.

— Não quer sair com a gente? Meu amigo


deve chegar logo e vamos para uma balada aqui
perto. — Falou animado.

— Não estou vestida para isso, mas obrigada


pelo convite. — Ela sorriu para ele. — Nos vemos
por aí. — Disse se afastando.

Madson andou até o portão e de lá ligou para


um táxi, tinha que comprar um carro logo. Odiava
essa vida de depender dos outros ou de transportes
públicos.
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——-
Douglas estava sentado à beira do balcão de
uma boate para qual o amigo havia o arrastado, já
estava em seu quinto copo de whisky. Fazia pouco
mais de uma hora que os dois haviam entrado na
boate e ele não conseguia se divertir. Sentia-se
pouco à vontade naquela situação, já Fábio parecia
se divertir bastante enquanto uma loira se
enroscava em seu corpo ao som de uma música
animada.

Anos atrás isso poderia parecer animador para


ele, estaria na pista de dança bebendo um pouco de
whisky enquanto dançava com a sua bela
namorada. Mesmo que aquela memória pudesse
estar distante, para ele estava perto. Sarah sempre
estaria em sua mente e em seu coração, nada e nem
ninguém tinha o poder de mudar isso. Douglas
sabia o que o amigo estava tentando fazer,
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admirava-o por isso, mas ele ainda preferia estar


em casa. Quando acabou o quinto copo, decidiu
que não beberia mais, não queria chegar em casa
num estado lamentável. Vendo como o amigo se
divertia, resolveu ir embora, não precisava ficar ali,
só atrapalharia Fábio e beberia mais do que devia.

Douglas jogou duas notas de cem dólares no


balcão, pegou a jaqueta e saiu dali. A música alta já
o estava perturbando. Talvez o amigo não
entendesse, mas não tinha como sentir-se feliz
depois de ter perdido alguém tão importante.
Douglas saiu sorrateiramente pelo canto do bar, não
queria que o amigo percebesse que estava indo
embora. Ao chegar do lado de fora da boate, puxou
com força o ar puro, lugares tão abafados e cheios
não eram para ele. Deveria estar ficando velho, não
de idade, mas sim mentalmente. Já não tinha
vontade de sair, beber com amigos ou curtir
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qualquer coisa que alguém "normal" da sua idade


faria. Parecia que a única vida que tinha agora, era
o seu trabalho.

“Eu estou no fundo do poço.” — Pensou


enquanto passava as mãos pelo cabelo. Como
alguém poderia conquistar tudo o que queria e
mesmo assim sentir-se vazio? Para ele, parecia
mais que todos os seus sonhos haviam sido
destruídos, faltava um objetivo em sua vida.

Douglas caminhou até a calçada e esperou por


um táxi, havia chegado à boate de carona com o
amigo e mesmo que tivesse ido de carro, voltaria de
táxi. Já havia bebido bastante e tinha a consciência
de que poderia sofrer algum acidente se chegasse a
pegar num carro. Ver tantas pessoas passando pelo
hospital por conta desses acidentes também havia
ajudado a formar esse pensamento.
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Um táxi passou, mas ele estava distraído e


acabou perdendo-o. Quando avistou outro, tratou
logo de fazer sinal para que parasse, mas não
funcionou, o táxi passou direto. Segundos depois
Douglas ouviu um cantar de pneus e o táxi
começou a dar ré. Quando finalmente parou em sua
frente, Douglas abriu a porta com rapidez, mas já
havia uma passageira dentro dele.

— Me desculpe. — Tratou de falar


rapidamente. Quando ia fechar a porta, ouviu uma
voz doce falar.

— Espere! — Ele encarou a moça de longos


cabelos negros. — Para onde você está indo?

— Condomínio Salt Lake. — Ele respondeu


com um sorriso. Era quase que inevitável não sorrir
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para ela.

— Eu estou indo pelo mesmo caminho, talvez


possamos dividir o táxi. — Ela sugeriu com um
belo sorriso no rosto.

— Se não for muito incômodo. — Ele falou


com cuidado.

— Claro que não. — Ela sorriu ainda mais.

— Tudo bem então. — Ele falou entrando


dentro do táxi.

Douglas se permitiu encarar a moça por um


tempo, ela tinha cabelos castanhos e olhos da
mesma cor bem marcantes, o seu rosto era em
formato de coração e o sorriso era maravilhoso. Ela
estava usando um vestido azul com detalhes
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vermelhos que tinha um decote generoso e era


colado até a cintura. Talvez fosse efeito da bebida,
mas Douglas quase viu a Madson naquela mulher.
Pensou que se conseguisse se relacionar com
alguém como ela, talvez esquecesse a obsessão pela
outra, que agora tomava conta de seus sonhos e
pensamentos.

— O que uma mulher como você faz andando


sozinha a essa hora da noite? — Ele perguntou em
tom brincalhão e para a sua surpresa ela não reagiu
mal.

— Você pode não acreditar, mas eu saí com


umas amigas, elas estavam se divertindo tanto, mas
eu não estava nenhum pouco à vontade então
resolvi ir para casa. — Ela confessou suspirando.
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— Acredito, porque aconteceu o mesmo


comigo. — Ele confessou, os dois sorriram.

— Eu sou Alison. — Ela falou estendendo a


mão direita.

— Sou Douglas. — Ele falou e apertou a mão


dela. — Obrigada por parar o táxi para mim.

— Não foi nada. — Ela sorriu novamente. —


Você é muito bonito, sabia? — Ela perguntou
sorrindo. Ele sorriu sem graça pelo elogio
repentino. — Oh meu Deus, eu estou bêbada. Me
desculpe. Nunca havia bebido antes e acho que
exagerei. — Ela falou rapidamente.

— Tudo bem. — Ele sorriu para tranquilizá-la.


— Eu desço bem ali. — Ele avisou ao taxista. —
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Foi um prazer te conhecer. — Falou para Alison


quando o táxi parou na porta do condomínio.

— Espera, vou aproveitar que estou bêbada e


pedir o seu número. — Alison falou sorrindo.

— Que tal você me dar o seu? — Ele


perguntou estendendo o celular para ela.

Enquanto Alison salvava o seu número no


celular de Douglas, ele aproveitou para pagar ao
taxista pela corrida. Deixou com ele dinheiro
suficiente para pagar as duas corridas e pegou o
celular de novo.

— Até mais, Alison. — Ele falou e saiu do


carro, fechando a porta em seguida.

Douglas sentiu-se atrevido, ele sabia que não


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era certo usar Alison para esquecer Madson, mas


também era errado querer a mesma mulher que o
amigo queria. E sonhar com ela todas as noites
parecia mais errado ainda. Douglas caminhou pelas
ruas do condomínio ainda pensativo, ele sabia o
que o esperava quando deitasse a cabeça no
travesseiro. Não que os sonhos que ele tinha não
fossem bons, eram ótimos e sem dúvidas melhores
do que os pesadelos. Ele só tinha medo de nutrir
sentimentos por alguém que nem sabia que ele
existia.

Chegando à sua casa, entrou e foi diretamente


para o quarto. Tomaria um banho e dormiria porque
com certeza o dia seguinte seria longo, havia muito
trabalho a se fazer no hospital. Já em sua cama,
Douglas caia aos poucos no sono, e aos poucos a
imagem de Madson sorrindo se formava em sua
mente. Ele estava certo sobre sonhar com ela, cada
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vez mais os sonhos ficavam intensos, cada dia que


passava mais reais.
——-
Madson chegou em casa um pouco antes da
irmã chegar, estranhou o fato de que ela estava em
casa tão cedo.

— Hey, Kate, estou fazendo o jantar. — Falou


assim que a irmã passou pela porta da cozinha.

— Melhor eu te ajudar nisso. — Kate zombou


fazendo a irmã rir.

— Eu não cozinho mal. — Madson se


defendeu batendo com um pano de prato na irmã.

— Ai! — Kate falou quando o pano atingiu as


suas costas. — Ok, mas mesmo assim quero ajudar.
— Falou e se aproximou do fogão.
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— Por que chegou cedo hoje? — Madson


perguntou sem retirar os olhos do molho que estava
fazendo.

— Douglas me liberou mais cedo. — Kate


falou dando de ombros.

— Uau, que sortuda, um chefe gostoso e agora


bonzinho. — Madson falou sorrindo largamente. —
Quero um trabalho como esse para mim.

— Você tinha que ver a tristeza nos olhos dele.


— Kate falou, ignorando a irmã. — A morte
daquele garotinho mexeu muito com ele. — Ela
terminou de constatar.

— Queria poder consolá-lo. — Madson disse e


Kate revirou os olhos. — Eu realmente queria
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poder ajudar, entende? — Madson sentiu o coração


apertar ao pensar que Douglas estava sofrendo, era
um sentimento muito estranho, já que os dois não
tinham nada e ainda por cima mal se conheciam.

— Você realmente está interessada nele, não


é? — Kate perguntou. Madson pensou em sua
mente que aquilo era loucura dela, mas não poderia
evitar tal sentimento. Era para ela estar fechada
para o amor depois do que aconteceu com o ex,
mas ao invés disso ela parecia necessitar
desesperadamente amar.

— Com todas as minhas forças. Mas ele nem


sabe da minha existência. — Respondeu de modo
triste, fantasiou por um momento que Douglas
sabia de sua existência e sentia o mesmo que ela,
mas tirou logo a ideia da cabeça porque aquilo era
impossível.
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— Eu tenho certeza de que se soubesse,


gostaria de você. Não tem como não gostar, Mad.
— Kate tentou tranquilizar a irmã, com pouco
sucesso, talvez Madson estivesse tão iludida quanto
a Douglas pelos sonhos estranhos que estava tendo
com ele todas as noites, era como se eles se
encontrassem em sonhos, um mais real do que o
outro.

Um celular começou a tocar e seu som ecoou


por toda a sala e cozinha tirando Madson dos
pensamentos e chamando a atenção de Kate, que
logo foi até a sala olhar o celular. Madson observou
a irmã com o celular em mãos, não era o dela, mas
sim o de John. Kate tinha um largo sorriso no rosto
quando atendeu o celular, mas aos poucos o sorriso
foi se desfazendo. Madson se desesperou quando
viu a irmã cair no chão com várias lágrimas
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escorrendo pelo rosto.

Madson assustou-se quando a irmã jogou com


toda a força que tinha o celular de John na parede
da sala, naquele momento ela desligou o fogo e
correu para acolher a irmã. Não sabia ainda o que
havia acontecido, mas sabia que a irmã precisava
de um abraço e um ombro amigo naquele
momento. Não fez nenhuma pergunta, apenas
sentou-se no chão ao lado de Kate e a abraçou com
toda a força que tinha. Desejando naquele momento
poder pegar todas as dores da irmã.

Aos poucos Kate pareceu se acalmar mais,


mas ainda chorava bastante. Madson sentiu-se
impotente por não poder fazer nada naquele
momento.

— Você consegue me contar o que houve? —


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Madson perguntou com cuidado. Kate apenas fez


sinal que sim com a cabeça e se afastou um pouco
de Madson.

— Ela morreu, Mad, a mãe de John morreu. —


Kate falou com lágrimas escorrendo sem parar
pelos olhos. Um choque de realidade a atingiu,
Kate já havia falado com ela sobre o quanto a mãe
de John era importante para ela e sobre a doença
dela também.

Madson voltou a abraçar a irmã, tentando


consolá-la, não estava funcionando muito bem, já
que a irmã parecia cada vez mais nervosa. Madson
a deixou por um momento e fez um chá de
camomila, só depois de tomar todo o chá, a irmã
conseguiu dormir. Doía ver a irmã naquele estado,
e doía ainda mais saber que aquilo não iria passar
tão cedo.
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***

Douglas acordou com uma forte dor de cabeça,


havia sonhado novamente com Madson. No sonho
ela falava que precisava da ajuda dele, e chorava
em seus braços sobre algo relacionado a irmã.
Douglas não conseguiu entender nada do sonho,
mas uma aflição tomou conta dele assim que
acordou. Essa aflição durou a manhã toda, ele
estava quase ligando para Kate, para saber se havia
acontecido algo, mas era ridículo pensar que aquilo
tinha a ver com a realidade. Era impossível.

Chegando ao hospital, Douglas ainda tinha o


sonho em sua memória, lembrou-se também da
noite anterior e da jovem que havia conhecido, será
que valia a pena tentar sair com ela? Poderia deixar
de pensar em Madson, o problema no meio de tudo
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isso era que ele não sabia se queria deixar de pensar


nela.

O telefone da sala tocou fazendo com que


Douglas levasse um susto, levou apenas alguns
segundos para se recompor e mais alguns segundos
para que ele ficasse desnorteado novamente. A voz
do outro lado da linha era tão doce que parecia
música aos seus ouvidos.

— Alô. — Ele ouviu a voz repetir até que


conseguiu responder.

— Alô, quem fala? — Perguntou


desesperadamente rápido.

— Meu nome é Madson, eu sou a irmã de


Katherine Snow, sua secretária. — Douglas
paralisou naquele momento, ele só poderia estar
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fantasiando aquilo. — Doutor Fitiz? — A voz de


Madson o chamou.

— Desculpe, em que posso ajudá-la, Madson?


— Ele falou com o máximo de confiança que
conseguiu reunir.

— Liguei para avisar que Kate não está em


condições de ir para o trabalho hoje, eu espero que
você entenda, ela acabou de perder alguém muito
próximo. — Madson falou e Douglas percebeu o
quanto a voz dela estava trêmula. Aquilo tinha tudo
a ver com o sonho, isso acabou deixando-o
confuso.

— Ela não precisa se preocupar, eu entendo


mais do que você imagina, Madson. Diga a sua
irmã que leve o tempo que precisar, e qualquer
coisa eu estou aqui. — Douglas falou com firmeza,
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mesmo que estivesse curioso para saber de quem se


tratava ele não seria indelicado ao tocar no assunto.

— Obrigada, Doutor. — Ela falou com a voz


um pouco menos trêmula.

— Chame-me de Douglas. — Ele falou


sorrindo em mente.

— Obrigada, Douglas.

Ela desligou o telefone, o coração dele estava


acelerado. O sonho, inacreditavelmente, tinha algo
a ver com a realidade. Ele só esperava que Kate
ficasse bem, ou que pudesse novamente ouvir a voz
de Madson que nunca mais sairia de sua mente.

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Capítulo 5

Já haviam passado pouco mais de três longos


meses desde a morte da mãe do John. Foram três
meses em que ele tentava se recuperar, e ela,
juntamente com a irmã e Tracy, tentavam ajudá-lo.
Aos poucos John estava conseguindo voltar a sua
vida normal, elas o tinham convencido de que a
última coisa que a mãe dele iria querer, era vê-lo
triste.

Nesses três meses muitas coisas haviam


mudado, Madson já estava tendo aulas na
faculdade, havia tido um envolvimento rápido com
um de seus colegas de turma, o que não havia dado
muito certo. Thomas havia largado o trabalho como
professor na faculdade de Stanford e agora
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trabalhava no mesmo hospital que Kate. Tracy, a


filha de Thomas, estava estagiando e ela e o pai
haviam se mudado para a antiga casa onde
moravam. Não havia porque continuar morando na
faculdade.

A única coisa que não havia mudado era o fato


de que o ex de Madson continuava a ligar,
insistindo para que voltassem, ela não era nem
louca de cogitar essa opção. Ainda tinha certeza da
falta de caráter dele, e continuava a negar, xingá-lo
por telefone ou desligar em sua cara. O ruim dessas
ligações dele, era que elas não a deixavam esquecer
o que ele havia feito. E como esqueceria? Ela só
havia visto uma das traições, e quantas mais não
houveram?

Outra pessoa que não parava de perturbá-la era


Douglas, mas não do modo que ela queria, e sim
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em seus pensamentos e sonhos. Ela sabia o quão


errado era desejar alguém que mal sabia quem ela
era, e o quão mais errado ainda era sonhar com essa
pessoa. Ela mesma se iludia pensando que talvez
um dia ele viesse a reparar nela e seriam "felizes
para sempre", sim, ela ainda acreditava em contos
de fadas, e nunca deixaria de acreditar. Mesmo que
a amargura em seu coração não parasse de crescer,
lá no fundo ela sempre acreditaria no amor e que o
seu "príncipe encantado" estava perdido em algum
lugar por aí esperando por ela. Ele poderia não vir
em um cavalo branco, como nos contos de fadas,
ou com uma roupa pomposa, mas um dia ele viria.

Enquanto vagava entre seus pensamentos,


Madson estava parada em frente ao espelho
analisando a roupa que havia escolhido para o
encontro com o amigo de John. Ela vestia uma
calça alta colada ao corpo na cor de um jeans claro,
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uma blusa um pouco solta estampada em tons de


azul, e por cima um blazer branco. Estava com um
salto não muito alto, também branco, havia se
assegurado de que não fosse alto porque andaria de
moto.

Madson estava animada, havia conhecido Alex


durante um churrasco na casa da irmã. Ela havia
acabado de chegar do mercado com várias bebidas
nas mãos e Kate, de um modo nada discreto,
praticamente o jogou para cima dela. Durante o
churrasco eles acabaram conversando muito e ele a
chamou para sair, de primeira ela hesitou um
pouco, mas depois que ele disse que era apenas
como amigos, ela resolveu aceitar.

Madson se olhou mais uma vez no espelho e


passou um batom vermelho nos lábios, estava
pronta. Ouviu uma buzina e logo saiu animada pelo
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corredor que levava até a sala, pegou uma bolsa e


saiu. Do lado de fora da casa, Alex a esperava
escorado em sua moto, ela o analisou por um
momento, ele estava perfeito, mas isso não parecia
suficiente. Uma agonia tomou conta do peito dela,
sempre odiara motos e agora estava prestes a subir
em uma com alguém que ela mal conhecia, afastou
o máximo que pôde aqueles pensamentos e sorriu
para Alex que logo retribuiu sorrindo largamente.

— Pronta para a aventura? — Alex perguntou


enquanto encaixava o capacete em Madson.

Ela hesitou um pouco em responder, ainda


estava agoniada por algum motivo, só não sabia ao
certo qual era. Havia passado o dia todo com essa
agonia constante, várias vezes pensou em ligar e
desmarcar com Alex, chegou a ligar para a mãe e
certificar-se de que estava tudo bem. No final
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decidiu que aquilo não era nada e resolveu sair, nos


últimos três meses só havia estudado e precisava
sair. Ou como Alex havia dito "Voltar a
sociedade."

— Mais do que pronta. — Madson finalmente


respondeu.

Alex subiu na moto e ajudou Madson, meio


sem jeito ela subiu, era a primeira vez que chegava
perto de uma dessas. Agarrou-se a cintura de Alex
e ele acelerou a moto. Tirando-os da vila
rapidamente. Madson não sabia bem para onde
iriam, Alex só havia dito que era uma boate fora da
cidade. Hora ou outra a consciência dela pesava
dizendo que estava agindo como uma maluca, mas
ninguém vive até cometer uma loucura.

Quando finalmente saíram da cidade, a única


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coisa que se podia ver na beira da estrada eram os


postes e as luzes passando rápido. Enquanto o
vento frio batia em suas mãos, ela só conseguia
agradecer por ter pensado em usar um blazer.
Demorou cerca de vinte minutos até que eles
chegaram a uma boate, Alex não estava brincando
quando disse que ficava no meio do nada. Naquele
local só havia a boate, que por sinal era bem
vigiada por dois guardas enormes.

Madson desceu da moto de modo meio


desengonçado e tentou tirar o capacete sozinha,
logo Alex chegou para ajudá-la. Tirou o capacete
dela e passou levemente a ponta dos dedos pelo seu
rosto. Madson sorriu sem graça com o carinho e
colocou uma das mechas do cabelo atrás da orelha.

— Vamos? — Ela perguntou.

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— Primeiro as damas. — Ele sorriu fazendo


um gesto para que ela passasse. Chegando na porta,
Alex falou algo com os seguranças que logo o
deixaram passar.

— Você os conhece? — Ela perguntou.

— Sim, eu não te contei, mas essa é uma das


boates que meu pai deixou para mim depois que
morreu. — Ele falou meio sem jeito. Os dois
haviam conversado sobre a morte do pai dele no dia
anterior, ele havia citado que o pai havia deixado
uma empresa em sua mão e que o tio o ajudava, ela
só não imaginava que essa empresa seria a boate
que iriam. Madson ficou sem saber o que
responder, então resolveu apenas elogiar a boate.

— O ambiente é maravilhoso. — Ela sorriu.

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— Essa é a sede de todas as boates que ele


deixou. — Ele falou enquanto os dois andavam
pela boate. — Sei que é estranho uma sede ser no
meio do nada. Mas meu pai era meio excêntrico. —
Ele sorriu. Madson analisou ao redor, Alex tinha
razão sobre a excentricidade do pai. Cada mínimo
detalhe da boate demonstrava isso.

A boate era incrivelmente espaçosa, havia uma


pista enorme, as paredes eram de tons de roxo
escuro com preto, a iluminação era mais baixa em
algumas mesas reservadas, haviam cabines com
cortinas escuras, um bar em que o balcão brilhava e
piscava mais do que as luzes da pista. Ela estava
simplesmente maravilhada com tudo aquilo

— É maravilhosa. — Foi a única coisa que ela


conseguiu dizer.

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— Vem, vamos dançar. — Alex a puxou pela


mão e os dois entraram no meio da multidão.

— Não sou uma boa dançarina. — Ela falou


próximo ao ouvido dele. O som estava alto.

— Eu te guio. — Alex gritou e pousou as


mãos na cintura dela, ajudando-a a dançar .

Depois de um tempo, Madson já estava solta e


com menos vergonha, os dois dançavam em um
ritmo perfeito, com seus corpos próximos. Era
impressionante como não precisavam de bebida
para poderem animar-se, haviam combinado que
não beberiam até porque ainda precisariam voltar
para a cidade.

Mesmo se divertindo, mesmo dançando,


Madson sentia que algo estava errado, ela tentava
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afastar tais pensamentos, mas não conseguia. Em


um momento se distraia e no outro já estava
pensando nisso novamente.

——-
— Essa é a última música. — Madson gritou
em meio ao som alto enquanto dançava. A música
que tocava no momento era Demons do Imagine
Dragons. Já passava das duas da madrugada e ela
estava ficando cansada.

— Eu poderia dançar a noite toda. — Alex


gritou de volta. Madson fez uma cara feia, então ele
logo tratou de completar. — Mas, eu sei que temos
que ir. — Ele sorriu para ela.

Dito isso, a música cessou e deu lugar a uma


outra que Madson ainda não conhecia. Logo ela e
Alex saíram da pista já em direção às portas.
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Madson estava impressionada porque durante toda


a noite Alex tinha se mostrado um bom amigo, e
nada mais do que isso. Era do que ela precisava no
momento, um amigo e um pouco de felicidade.
Assim que passaram pelas portas da enorme boate,
o frio os atingiu. Madson vestiu o blazer, que havia
tirado depois de dançar três músicas.

— Espero que tenha gostado da noite. — Alex


falou assim que os dois chegaram até a moto.

— A noite foi maravilhosa. — Ela sorriu


largamente pegando o capacete. — Obrigada.

Alex subiu primeiro na moto, e depois Madson


subiu, dessa vez sem ajuda. Estava um pouco mais
confiante do que mais cedo. Alex acelerou e os dois
entraram na pista, como já era tarde, quase não
haviam carros durante o percurso. Vez ou outra
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havia um caminhão que eles tinham que


ultrapassar. Madson olhou por cima do ombro de
Alex a velocidade na qual já iam, 160 km/h.
Assustou-se com isso, já que antes desse dia não
subiria em uma moto nem forçada, apertou ainda
mais as mãos em volta da cintura de Alex. Como se
percebesse o medo dela, ele diminuiu a velocidade
da moto para 140 km/h, não era o suficiente para
Madson sentir-se segura, mas já ajudava. Madson
animou-se quando viu as luzes da cidade, os dois já
estavam perto. Impressionantemente a noite havia
sido maravilhosa, e ela esperava que houvessem
mais dessas.

— Estamos chegando. — Alex virou o rosto


de lado e falou.

Depois disso, tudo aconteceu muito rápido,


Madson abriu a boca para responder, mas ao invés
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disso gritou, um carro vinha na direção deles. Não


deu tempo para Alex virar a moto e desviar do
carro, já estavam perto demais. Madson sentiu a
batida e fechou os olhos, a sensação que sentiu
depois disso foi como a de voar, um frio invadiu
sua barriga, mas isso durou apenas alguns
segundos. Logo ela sentiu um baque forte contra
algo sólido, rolou algumas vezes e parou por cima
de algo relativamente macio. Forçou-se a abrir os
olhos, com muita dificuldade conseguiu, o corpo
todo doía e ela não conseguia se mover. Ouviu um
chiado angustiante seguido de uma explosão, o céu
tomou a cor laranja e ela sentiu um dos braços
queimar. A cabeça doía mais do que qualquer outra
parte do corpo, forçou um pouco o pescoço e
conseguiu mover a cabeça, mas logo perdeu as
forças batendo-a contra o chão e depois disso veio
o escuro.

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***

Uma hora, quarenta e cinco minutos e vinte


segundos depois.

A correria estava grande na central de


emergências do hospital de Stanford, Douglas havia
acabado de terminar uma cirurgia quando
informaram que havia um acidente em uma estrada
próxima à cidade e que trariam as vítimas para lá.
Ninguém falou muito sobre o acidente, apenas que
haviam dois jovens em uma moto e um casal com
uma criança dentro do carro. Os dois haviam
colidido e os jovens foram arremessados da moto, o
garoto havia morrido na hora, a garota estava viva,
mas durante o percurso já havia tido duas paradas
cardiorrespiratórias. O casal estava em estado grave
e a criança também, lutando entre a vida e a morte.
Três ambulâncias haviam sido enviadas para o local
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e estavam prestes a chegar. Douglas havia ficado


encarregado de tratar da jovem que estava na moto,
esperava na emergência do hospital para que
pudesse fazer tudo o mais rápido possível, não
perderia outro paciente.

As sirenes da ambulância soaram alto pelo


estacionamento da emergência, Douglas correu
para perto dos elevadores e acionou um deles, mais
um médico e dois enfermeiros apareceram ao seu
lado. A ambulância estacionou próximo ao
elevador e os paramédicos rapidamente desceram e
abriram a porta, dois deles pegaram a maca onde a
paciente estava imobilizada e desceram da
ambulância, Douglas se aproximou da maca para
ajudar a conduzir a paciente com cuidado. Quando
olhou para o rosto dela, suas pernas quase
falharam, não era uma jovem, era A jovem. Aquela
que atualmente tomava conta de seus sonhos,
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aquela por quem ele mantinha uma paixão secreta.


Seu coração se apertou quando a viu naquele
estado, ele não podia perdê-la, precisava salvá-la a
qualquer custo. Voltou à realidade, apressou os
paramédicos e entrou no elevador, encarou mais
uma vez o corpo de Madson naquela maca, iria
salvá-la.

***
Uma hora, dez minutos e cinquenta segundos
antes.

Madson abriu os olhos, o corpo doía e a


cabeça ainda mais, haviam luzes piscando sem
parar no local. Ela só conseguia olhar para o céu,
queria mover a cabeça, mover o corpo, mas não
conseguia. Haviam muitas vozes e sons no local,
Madson tentou se concentrar para ouvir o que
diziam.
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— Vamos precisar levá-la com urgência ao


hospital. — Era a voz de um homem.

— Ela sofreu um traumatismo e tanto na


cabeça. — Era uma voz masculina também, mas
diferente da outra. — Ela acordou, vamos colocá-la
na maca. No três.

— Um, dois, três. — As duas vozes falaram


juntas.

Madson sentiu o corpo ser levantado e tocar


algo, que deveria ser a maca. Ela queria gritar de
dor naquele momento, mas não conseguia, não
conseguia fazer nada. Sentiu algumas lágrimas
escorrerem pelo rosto, ardendo como brasa ao tocar
em uma de suas bochechas. A única coisa que via
antes, o céu, havia sido substituído por um teto
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totalmente branco. Os olhos de Madson doíam


juntamente com a cabeça, em uma fração de
segundos ela os fechou. Então o escuro tomou
conta dela novamente, a última coisa que ouviu foi
uma frase falada pela voz do primeiro homem.

— Ela está tendo uma parada


cardiorrespiratória. — Depois disso não havia nada.

Três minutos depois.

Madson voltou a abrir os olhos, ouviu as vozes


comemorarem algo, não entendia bem o que. A dor
só parecia aumentar, ela se esforçava para manter
os olhos abertos, mas não estava conseguindo.
Antes de fechar os olhos, Madson torceu para que
tudo aquilo acabasse, ela desejou morrer, não
queria continuar com aquela dor insuportável.
Fechou os olhos e esperou que tudo acabasse, em
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minutos não havia mais nada o que sentir ou ouvir.

***

Uma hora, quarenta e oito minutos e 56


segundos depois.

— Levem ela para a sala de cirurgia, não


podemos perder tempo. — Douglas gritou enquanto
corria atrás da maca.

— Doutor, achamos que a paciente sofreu um


Hematoma epidural (1), precisamos fazer um
exame antes de fazer a cirurgia. — Um dos
paramédicos falou, Douglas sentiu o coração
apertar novamente. Quanto mais tempo perdessem,
menores eram as chances de salvar Madson.

— Faça os exames o mais rápido possível,


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quero isso para ontem. — Douglas praticamente


gritou. — Não vamos perder essa jovem. — Ele
falou para todos, mas para si estava falando "Eu
não vou perdê-la."

——-
O hematoma epidural havia sido confirmado
uma hora depois que os médicos levaram Madson
para fazer os exames, depois disso a correria para
salvar a vida dela foi grande, Douglas nunca havia
se dedicado tanto a um caso como estava se
dedicando ao dela. Infelizmente ela também havia
quebrado uma costela, e quando o dia amanheceu
precisou fazer outra cirurgia, essa Douglas não
comandou, apenas acompanhou, já que a sua área
era a neurológica.

Quando a cirurgia acabou, Douglas estava


extremamente cansado, mesmo com os conselhos
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de seus colegas dizendo que ele deveria ir para casa


e descansar um pouco, mas ele se recusava a deixar
Madson sem seu acompanhamento mesmo que por
poucos minutos. Ele estava no hospital já fazia
mais de 24 horas, a noite havia sido agitada, mesmo
antes do acidente de Madson. Os olhos de Douglas
mal ficavam abertos quando ele se recostava em
alguma cadeira, o cansaço já estava tomando conta
dele, mas ele tinha prometido a si mesmo que só
sairia dali quando os parentes dela chegassem. Ele
precisava deixá-los seguros, precisava daquilo não
só por eles, mas por si mesmo.

Douglas levantou da cadeira e foi em direção a


cafeteira da sala de descanso do hospital. Enquanto
preparava o café, ele tentava afastar de sua cabeça
os pensamentos de que ela poderia não resistir. Ela
resistiria e ficaria bem, ele tinha certeza disso
porque faria de tudo para que isso acontecesse, não
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perderia mais ninguém importante na sua vida.


Quando o café ficou pronto, Douglas ouviu seu
nome ser chamado nos Alto falantes, tomou dois
goles do café, que desceram queimando por sua
garganta, e apressou-se em ir para a sala de espera.
O café já não fazia mais tanto efeito, depois de anos
tomando bastante dele todos os dias, o organismo já
havia acostumado com aquela dose de cafeína e
não ficava mais tão ativo.

Ao chegar na sala de espera, Douglas parou,


olhou para os parentes de Madson e sentiu-se meio
receoso, era horrível ter que dar notícias tão ruins a
eles, isso não se encaixava só nesse caso, mas sim
em todos os casos. Ver o sofrimento nos olhos das
pessoas causava dor a ele, mesmo depois de tantos
anos trabalhando assim. A primeira pessoa que
Douglas encontrou foi Thomas, o rosto dele estava
abatido e ele não estava próximo a Kate. Douglas
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se aproximou e colocou a mão no ombro do colega.

— Tudo bem? — Ele perguntou com receio,


sabia que não tinha como estar bem naquela
situação.

— Na medida do possível, sim. — Thomas


sorriu fraco. — Como ela está?

— Estável. Infelizmente não sabemos quando


ela vai acordar e nem como vai estar quando
acordar. — Douglas afirmou com pesar na voz, por
algum motivo falar aquilo alto doía nele. — Ela
sofreu um trauma muito grande na cabeça e
infelizmente o amigo dela não resistiu.

— Eu ainda tinha esperanças de alguma


notícia boa. — Thomas falou baixo, quase que para
si mesmo. — Acho que na minha vida a felicidade
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nunca vai estar completa, sempre foi assim e


sempre será assim. O dia mais feliz da minha vida
se tornou um dos mais tristes em um piscar de
olhos.

Quando ouviu Thomas falar aquilo, Douglas


sentiu-se mal pelo colega. Ele sabia sobre o pedido
de casamento, até tinha dado três dias de folga para
Kate, tanto por causa do noivado quanto por causa
do aniversário dela, que era exatamente naquele
dia.

— Eu sinto muito por isso, Thomas. Mas vou


fazer o que puder para salvar a sua cunhada. —
Douglas falou dando dois tapas de leve no ombro
de Thomas. Aquilo poderia não ser muita coisa,
mas para eles tinha um significado enorme.

— Tenho certeza que vai. — Thomas afirmou


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e tentou sorrir.

— Eu preciso ir a um lugar antes de tudo. —


Douglas falou e se despediu do colega.
Caminhando rapidamente até a sua sala.

Chegando lá, ele pegou uma caixinha que


continha um colar de ouro com um mini
estetoscópio de pingente na ponta, ele havia
comprado isso a pouco mais de uma semana para
dar de presente a Kate pelo seu aniversário, ele
sabia que aquela não era a melhor hora para se
fazer isso. Mas queria dar todo o apoio possível a
ela, e alegrá-la, mesmo que por alguns segundos, já
podia ajudar muito. Ele saiu da sala e voltou à sala
de espera, encontrou Kate em um canto
conversando com uma mulher que parecia
fisicamente com Madson, deveria ser a mãe dela.
Caminhou até elas, logo Kate levantou e com um
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olhar esperançoso perguntou.

— E aí? — Podia ser só uma palavra, mas


Douglas sabia o quanto perguntar algo mais
específico doeria. Ele havia passado por isso.

— A cirurgia foi um sucesso, mas ela ainda


está em coma, as visitas vão ser liberadas a partir
de amanhã. Vá para casa e descanse, Kate, não vai
precisar trabalhar essa semana. — Ele falou e deu
um sorriso fraco para ela.

— Não vou conseguir, Douglas, ela é a minha


irmãzinha. Me sinto tão mal por ela estar nesse
estado. — Douglas sentiu o coração apertar ao
ouvir aquelas palavras.

— Eu entendo, Kate. — Ele falou e a puxou


para um abraço. — Lembra do meu sobrinho? Ele
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era como um irmão mais novo para mim também.


Essas coisas não escolhem idade ou gênero,
simplesmente acontecem. Vamos torcer para que
ela fique bem e eu farei de tudo para salvar a sua
irmã. — Ele fez uma pausa. — E eu sei que é o seu
aniversário. — Ele falou e ela se afastou surpresa.

— Quem te contou? — Ela sussurrou.

— Seu noivo. — Ele sorriu fraco, tirou uma


caixinha do bolso e entregou a ela. — Parabéns,
Kate.

— Obrigada. — Douglas observou algumas


lágrimas surgirem nos olhos de Kate. — Eu adorei.
— Sorriu fraco.

— Ei, eu vou salvá-la. — Ele falou assim que


viu as lágrimas escorrerem pelo rosto de Kate. —
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Vou dar o meu melhor por ela, pode ter certeza


disso.

Ela não respondeu nada, apenas confirmou


com a cabeça. Douglas pediu licença e começou a
caminhar em direção ao quarto de Madson, ele
precisava vê-la. Ele queria realmente salvar
Madson, não só por ela ser irmã de Kate, mas havia
outro motivo desconhecido até por ele.

Voltou para o quarto onde Madson se


encontrava e sentou-se em uma cadeira ao lado da
cama dela. Pegou a mão direita dela e envolveu no
meio de suas mãos, como havia feito na noite
anterior.

— Ei, menina, eu acho que consegui acalmar a


sua irmã um pouco. Hoje é o aniversário dela,
sabia? Ela sente tanto a sua falta. — Ele deu uma
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pausa suspirando. — Todos sentem. — Até eu. Ele


pensou. — Espero que, de onde você está, consiga
me escutar. Não sei o que você tem, mas sinto que
você é especial, assim como a sua irmã. E quero
que saiba que todos esperam a sua volta, queria ter
te conhecido melhor em outro momento. — Ele
deixou uma lágrima escapar. Não podia se envolver
emocionalmente com os casos do hospital, mas não
tinha como não sentir por aquela família, pela
menina que estava ali de cama, desacordada. —
Leve o tempo que precisar para se recuperar,
menina, mas tente não demorar muito, todos
sentem a sua falta. Eu virei conversar com você
todas as noites e estarei aqui quando você acordar,
mesmo você não sabendo quem eu sou. — Ele se
inclinou e deu um beijo na testa dela e depois
colocou, gentilmente, a mão dela na cama.

Levantou-se da poltrona e olhou novamente


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para ela, seu belo rosto agora tinha um corte que ia


do início da sobrancelha até a bochecha, os braços
tinham diversos arranhões e cortes, as mãos
também tinham arranhões e a perna que havia sido
quebrada estava envolvida em uma bota de gesso,
suspensa no ar.

Olhou o prontuário que estava preso ao pé da


cama e depois saiu do quarto, dando apenas uma
última olhada nos batimentos cardíacos antes de ir.
Se dirigiu até a sua sala, cumprimentando
rapidamente a secretária que estava ao telefone.

— Espere, Doutor Fitiz. — A secretária gritou


e ele voltou rapidamente. — Telefonema na linha
2, é a Abby. — Ela falou com a mão cobrindo o
telefone.

— Pode transferir. — Ele se apressou em ir até


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a mesa.

Nesses últimos dias, Abby já havia ligado


diversas vezes e ele tinha quase certeza de que ela
estava querendo aprontar algo. Abby era a irmã
mais nova de Douglas, com apenas quinze anos já
havia passado por mais colégios internos do que
qualquer outra pessoa em toda a sua vida, a garota
era pura confusão por onde passava.

— O que você quer? — Ele atendeu de modo


grosseiro.

— Meu Deus, Doug, que mau humor. — Ela


reclamou do outro lado da linha. — Eu só queria te
comunicar que estou namorando. — Ela disparou e
Douglas sentiu o rosto queimar de raiva.

— O que?! — Ele gritou ao telefone.


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— Brincadeirinha. — Ela começou a


gargalhar. — Seu rosto deve estar vermelho como
um pimentão, sabe, já está na hora de você arrumar
uma namorada e largar do meu pé. — Ela falou em
um tom divertido.

— E que tal você falar logo o que quer,


pirralha? — Ele falou mais calmo dessa vez.

— Nada, eu hein! Só estava com saudades do


meu irmão preferido.

— E eu sou o coelhinho da Páscoa. — Ele


zombou. — Escute, Abby, eu preciso ir, não
apronte nada.

— Não posso prometer isso. — Ela falou e


desligou na cara dele. Douglas olhou para o
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telefone perplexo.

------

O seu turno de trabalho estava prestes a


acabar, e depois de olhar como a senhora Anderson
estava, uma senhora de idade que havia feito uma
cirurgia para retirada do apêndice, ele resolveu
passar novamente no quarto de Madson e olhar se
ela havia apresentado alguma melhora. Ele andou
devagar pelos corredores e entrou no quarto em
silêncio, não que isso fizesse alguma diferença
naquele momento, pois se barulho a acordasse com
certeza ele faria muito.

Sentou-se novamente na cadeira ao lado da


cama dela e pegou sua mão. Ficou em silêncio por
alguns momentos apenas a observando, fora o corte
em sua face tudo parecia normal, era como se ela
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tivesse apenas dormindo. Já tinha visto diversas


pessoas no mesmo estado em que ela se encontrava,
mas nunca havia sentido o que estava sentindo
naquele momento.

— Ei, menina, aqui estou eu de novo. Não te


disse que voltaria à noite?! Eu vou precisar ir
embora daqui a pouco, mas amanhã cedo eu volto
para conversar mais com você. Sabe, foi difícil
convencer os seus familiares a irem descansar, eles
são muito teimosos, mas tive uma pequena
ajudinha da sua irmã. Ela os convenceu de que eu
cuidaria muito bem de você, e é isso que vou fazer.
— Ele suspirou, e encarou o rosto dela. — Quando
eu for embora, um outro médico tomará conta de
você, e acho que você já o conhece muito bem.
Thomas, o seu cunhado. Ele é um ótimo médico,
claro que eu nunca direi isso a ele, mas eu
reconheço que ele é. Espero que você fique bem,
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lute com todas as suas forças para voltar, pequena.


— Ele deu um beijo na testa dela. — Até amanhã.

Ele se levantou e percebeu alguém o olhando


na porta.

— Você ouviu? — Ele perguntou a Thomas.

— Tudinho. — Thomas abriu um sorriso. —


Obrigado pelo elogio.

— Nunca irá ouvir isso novamente, sabe disso,


não sabe?! — Ele sorriu.

— Sei. Mas já é o suficiente. Você gosta dela?


— Thomas perguntou andando até perto do
aparelho que media os batimentos cardíacos.

— Não sei, mas vê-la nesse estado realmente


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mexeu comigo. – A verdade era que Douglas


gostava dela.

— Ela é uma pessoa maravilhosa. — Thomas


falou sorrindo. — E sei que ela adoraria acordar e
continuar te tendo por perto.

Thomas falou e Douglas ficou sem graça por


um tempo, depois de mais algumas palavras, foi
embora, entrou em seu carro já pensando em voltar
para lá. Queria dar o melhor de si para não perder
Madson como perdeu o sobrinho.
——-

Foram longas horas no escuro, várias vezes


indo e voltando entre a vida e a morte. Madson
estava totalmente desesperada, conseguia ouvir
tudo o que se passava ao seu redor como se
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houvessem caixas de som em algum canto daquele


escuro, mas nada via. Aquela escuridão era
agonizante e o medo já tomava conta dela, ela não
sabia se estava em pé, se estava deitada ou até
mesmo onde estava.

Até aquele momento nenhuma das vozes ou


sons que ouvia pareciam conhecidos, todos os sons
que escutava não eram nítidos o suficiente para se
entender. Sabia que eram pessoas falando, carros
buzinando, mas não conseguia ouvir bem. Talvez
não quisesse ouvir, tinha medo do que poderia
escutar daquelas pessoas. E se estivesse morta?
Tinha tanto para viver ainda que não conseguia
imaginar essa possibilidade.

Aquele misto de vozes e confusões durou até


que ela escutou ao longe uma voz conhecida, a
princípio não conseguiu entender o que a voz dizia,
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mas desejava tanto ouvi-la que se esforçou. Os sons


ficaram mais nítidos, o escuro começou a sumir e
deu lugar a uma luz intensa e branca. Ela
reconheceu a voz, aquela voz que fazia seu coração
acelerar, suas mãos ficarem trêmulas. Era Douglas,
ele pedia para que ela voltasse e dizia que todos
sentiam sua falta.

Meio desnorteada, Madson olhou a sua volta,


ela estava em um tipo de prédio, não tinha
nenhuma luz natural, apenas várias lâmpadas fracas
no teto do corredor. Ela olhou para os lados e
haviam vinte e uma portas, dez de um lado e dez do
outro e uma à sua frente no final do corredor, atrás
dela só havia a parede pintada em um tom de
vermelho escuro, mesmo com iluminação aquele
lugar era sombrio. Madson já não conseguia se
concentrar na voz de Douglas, estava hipnotizada
por aquelas portas, talvez uma delas fosse a sua
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saída daquele lugar, seja lá o que fosse.

Ela ouviu ao longe uma última frase dita por


Douglas, "Eu virei conversar com você todas as
noites e estarei aqui quando você acordar, mesmo
você não sabendo quem eu sou.". Ela sabia que
aquela frase era uma despedida, tentou gritar para
que ele voltasse, estava com medo de afundar no
abismo novamente, mas ele já tinha ido. Madson
fechou os olhos esperando que o escuro voltasse
novamente, mas não foi isso o que aconteceu,
quando ela abriu os olhos tudo estava do mesmo
modo. Suspirou aliviada e passou a mão pelos
cabelos, era estranho como tudo ainda parecia estar
em seu devido lugar mesmo depois do acidente que
sofrera, as roupas e a pele estavam intactas.

Um brilho forte vindo da fechadura de uma


das portas do corredor chamou a atenção de
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Madson, ela caminhou até a porta e com receio


colocou a mão sobre a maçaneta, aos poucos ela
girou a maçaneta e foi abrindo a porta. A forte luz
invadiu todo o local, cegando Madson por alguns
segundos, quando a visão dela se ajustou à luz, ela
conseguiu reconhecer um jardim enorme, tirou a
mão da maçaneta e entrou. Ao contrário do
corredor, o que havia dentro daquela porta era
totalmente iluminado, tudo estava muito verde,
como se fosse primavera.

— Maddy, cadê você? — Madson ouviu a voz


da mãe e se assustou. — Eu vou te achar, sua
menina sapeca. — A mãe falava de um modo
diferente.

Madson começou a olhar em volta e logo


achou ao longe a mãe, ela estava mais nova, com
um sorriso enorme no rosto. Os cachos castanhos
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claros caiam sobre os ombros e ela usava um


vestido florido. Algumas lágrimas se formaram em
seus olhos e começaram a cair pelas bochechas, ela
realmente estava ali, a mãe olhava para ela com
felicidade e estava com os braços estendidos
pedindo um abraço. Madson secou as lágrimas com
as costas das mãos antes de começar a andar, mas
antes que ela conseguisse dar o primeiro passo uma
menininha de longos cabelos castanhos passou
correndo e se jogou nos braços de sua mãe.

— Eu achei você, mamãe! — A menininha


falou com uma voz doce e começou a rir.

— Maddy! — Dessa vez Madson ouviu a voz


do pai, olhou para o seu lado esquerdo, de onde
vinha a voz e viu seu pai, também com uma
aparência mais jovem.

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— Papai! — A menininha se remexeu no colo


da mãe até que conseguisse se desvencilhar e
correu até o pai.

Foi nessa hora que Madson se deu conta do


que estava acontecendo ali, aquela menina era ela
mais nova e tudo aquilo não passava de uma
lembrança. Numa tentativa falha de chamar a
atenção da mãe, Madson andou até ela e tocou o
seu ombro, mas a mão passou direto e ela quase
caiu.

— Você veio, papai. — A voz doce da menina


chamou a atenção de Madson, ela olhou para onde
a menina e o pai estavam.

— Eu nunca perderia o aniversário de quatro


anos da minha princesinha. — O pai de Madson
falou enquanto acariciava os cabelos da menina.
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— Pai! — A menina exclamou. — Agora eu já


sou uma adulta. — Ela cruzou os bracinhos e fez
um enorme bico.

Madson sorriu com aquilo, algumas lágrimas


escorreram pelas suas bochechas, mas dessa vez
eram lágrimas de felicidade.

— Eu sei, minha linda. — Ele falou e colocou


a pequena Maddy no chão. — Agora vá lá para
junto dos seus amiguinhos que o papai e a mamãe
precisam conversar.

A pequena Maddy correu para o outro canto


do jardim, onde haviam algumas mesas e várias
pessoas, crianças corriam, estouravam balões.
Madson não conseguiu fixar muito o olhar naquele
canto, estava mais interessada na conversa que os
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pais teriam.

— Eu preciso ir. — O pai de Madson falou e


Madson observou o rosto sereno da mãe ficar
raivoso em instantes.

— Você acabou de chegar! — A mãe de


Madson respondeu num tom pouco alto, talvez
quisesse gritar, mas tinha medo de chamar a
atenção de todos na festa.

— Eu só vim trazer um presente para ela, não


posso ficar mais. — Ele respondeu com uma voz
calma e quase fria, Madson sentiu raiva do pai
naquele momento.

— Você não pode tratá-la desse modo, Gerald.


Ela também é sua filha. Não é justo que fique
escondendo ela de todos, o erro foi seu, não nosso,
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então dê um jeito de assumi-lo. — A mãe de


Madson respondeu com raiva, parecia que a
qualquer minuto iria voar para cima dele.

— Você sabe que não posso fazer isso. — Ele


falou em um tom mais alto agora.

— Pare de ser egoísta uma vez na vida. —


Melissa gritou. — Você está magoando ela. — Os
olhos dela estavam cheios de lágrimas, mas ela
parecia se recusar a deixar que elas caíssem. — Ela
é apenas uma menininha, Gerald. Cada vez que
você vai embora, o coração dela se parte. — Agora
as lágrimas escorriam sem parar pelo rosto de
Melissa e Madson também já chorava, estava com
muita raiva do pai.

— O coração dela ou o seu?! — Gerald falou


de modo frio. — Eu já vou, Melissa, entregue o
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presente a Madson por mim. — Ele entregou uma


grande caixa para ela.

Melissa estava chorando silenciosamente


quando a pequena Maddy chegou e abraçou uma de
suas pernas, rapidamente ela tentou enxugar as
lágrimas e se recompor.

— Mamãe? — A pequena puxou a barra da


saia da mãe.

— Oi, minha linda. — Melissa se abaixou e a


pegou no colo.

— Aonde o papai foi? — Maddy perguntou e


Madson percebeu no rosto da pequena uma
expressão triste.

— Ele precisou ir embora, mas deixou esse


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presente. — Melissa colocou a pequena no chão em


frente a grande caixa.

— Eu não quero presentes, já ganhei muitos.


Eu quero o papai. — A expressão no rosto da
menina partiu o coração de Madson, ela sentiu
vontade de correr atrás do pai e bater nele por ser
tão idiota.

A luz foi ficando mais intensa novamente até


que tudo ficasse totalmente branco, aos poucos a
luz foi diminuindo e os olhos de Madson foram
acostumando com a falta de luz do novo ambiente.
Ao olhar ao seu redor, Madson percebeu que estava
de volta ao corredor e a porta por onde havia
entrado já não existia mais, restavam 20 portas.
Instintivamente, Madson caminhou até a porta do
lado contrário do corredor, girou a maçaneta,
empurrou, girou novamente, mas a porta não abria.
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Repetiu o mesmo movimento em todas as outras 19


portas, mas nenhuma delas se abriu. Exausta,
encostou na parede e deixou o corpo escorregar até
o chão, caindo no choro.
——-

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Capítulo 6
Já havia se passado uma semana desde o
acidente que pusera a vida de Madson em suas
mãos, uma semana em que todos os dias Douglas ia
ao quarto dela e conversava com ela pedindo para
que voltasse. Uma semana de extrema agonia entre
todos os parentes dela, e uma semana em que o
estado dela nada havia melhorado. Douglas encarou
o corpo quase morto de Madson com tristeza, uma
mulher tão bela naquele estado. Daria tudo para ver
o brilho dos olhos dela novamente. Toda vez que
saia do quarto onde ela estava, ele ficava arrasado,
sentia-se mal por não poder fazer nada para que ela
saísse do coma. De que adiantavam tantos anos de
faculdade e tantos anos trabalhando se na hora que
mais precisava não poderia fazer nada.

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Douglas caminhou até o quarto da criança que


também estava envolvida no acidente, ela também
estava em coma devido a uma forte pancada na
cabeça e assim como Madson, também havia
quebrado alguns ossos importantes do corpo, um
dos braços e alguns dedos. Os pais da criança
haviam morrido poucas horas depois que chegaram
ao hospital e as secretárias do hospital descobriram
que a criança não tinha mais nenhum parente vivo.
Um dos diretores do hospital queria apenas desligar
as máquinas que mantinham aquela criança
respirando, porque sem nenhum parente ela não
tinha como pagar o tratamento e também não tinha
nenhum plano de saúde. Mas Douglas soube da
situação da pequena menininha e resolveu que
pagaria todo o tratamento.

Segundo o prontuário, a menina se chamava


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Anna e tinha pouco mais de dois anos, era


praticamente um milagre ela ter sobrevivido.
Douglas sabia o que esperava aquela menina
quando ela acordasse, teria que ir para algum
internato e esperar que alguém a adotasse. Ele
sentiu-se mal por ela, era traumatizante para uma
criança ter perdido os pais e ainda por cima ficar à
mercê de pessoas que ela não conhecia. A pequena
criança parecia serena naquela cama, em seu corpo
haviam alguns arranhões, mas nada muito grave, os
médicos ainda não tinham descoberto o motivo
exato para a menina ainda não ter acordado. Os
cabelos dourados da menina estavam espalhados
pela cama, na ponta dos fios haviam cachos
enormes e mesmo naquele estado de quase morte as
bochechas dela estavam um pouco rosadas.

No hospital todos a chamavam de "O milagre",


o trauma da menina havia sido pior do que o de
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seus pais e mesmo assim ela ainda lutava para


viver, enquanto seus pais só viveram por mais
algumas horas depois do acidente. Muitas das
enfermeiras já haviam se apegado a menina e
algumas que eram mais religiosas haviam criado
círculos de orações que todos os dias ao pôr do sol,
oravam para que ela sobrevivesse. Douglas também
torcia para que a menininha sobreviesse, e que
encontrasse um lar logo, não seria bom para ela
crescer em um internato.

Com o coração ainda apertado, ele saiu do


quarto dela e caminhou até a sua sala, já estava
quase na hora de ir para casa e mesmo que não
quisesse, era preciso ir. Todos os dias ele entrava
em uma luta interna consigo mesmo para ter que ir
para casa e deixar Madson na mão de outros
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médicos, ele queria estar lá quando ela acordasse e


também queria garantir que ela estava sendo bem
cuidada. Ele sabia que Thomas daria o seu melhor,
até porque ela era a cunhada dele, mas ainda assim
hesitava muito antes de finalmente partir para casa.

Já sentado em seu escritório, Douglas rolava as


mensagens de seu celular a procura de alguma
importante. Haviam mensagens de Fábio, algumas
de sua mãe e uma de uma pessoa em especial,
Alison. Ele havia ligado para ela no dia seguinte ao
que pegou seu número e ela havia avisado que
salvaria o dele. A mensagem dela era bem simples,
mas também bem direta. Era um “boa tarde”
seguido de um convite para jantar, ele hesitou um
pouco antes de abrir a conversa e finalmente
responder com outra pergunta: “Hoje às oito?”.
Quando ele pensou em fechar a conversa, percebeu
que Alison estava digitando. Ela respondeu apenas
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com um emoticon de uma mão fazendo sinal de


positivo e depois mandou outra mensagem com o
endereço. Douglas ficou se perguntando se era
certo ter um encontro com ela naquele dia, mas
achava que seria bom se distrair um pouco. A
semana havia sido exaustiva, tanto fisicamente
quanto psicologicamente e talvez se saísse poderia
ficar um pouco mais relaxado.

Tentou convencer-se de que o encontro não


seria nada de mais, ele não sabia bem o motivo
disso, mas no fundo sentia-se um pouco culpado
por ter marcado de sair com Alison. Talvez bem lá
no fundo ele soubesse que essa culpa era devido à
Madson estar naquele estado e ele ir se divertir,
mesmo que eles não tivessem nada, Douglas sentia-
se ligado a ela. E essa ligação parecia só aumentar a
cada dia que passava, a cada vez que ele falava com
ela, porque mesmo sem obter nenhuma resposta,
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ele sentia ou pelo menos torcia para que ela


estivesse escutando.

Quando terminou seus devaneios, Douglas


olhou para a tela de seu celular e já passava das seis
da tarde, ele foi até o canto da sala e tirou o jaleco
branco que vestia e o pendurou em um cabide. Em
seguida voltou até a sua mesa e recolheu as chaves
e a carteira. Caminhando o mais rápido possível até
o elevador, se não o fizesse, com certeza se sentiria
tentado a novamente checar se Madson estava
bem. Depois que o elevador parou no subsolo, ele
caminhou até o seu carro e apertou o botão do
alarme, o som do carro sendo destravado ecoou por
todo o estacionamento. Ele entrou no carro e seguiu
para a sua casa.

Douglas não sabia se estava ansioso ou com


medo, talvez as duas coisas, pois fez o caminho de
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casa em um período de tempo bem menor ao que


geralmente fazia. Ao entrar em casa foi abordado
por Maria, que o bombardeou com perguntas, e não
era para menos, fazia mais de uma semana que ele
mal encontrava ela pela casa.

— Dios mio, você vai acabar me deixando


caduca, menino. — Ela falou de modo exagerado.
— Por onde você andou? Você tá tão magrinho,
não está se alimentando direito, não é?! — Ela
colocou uma mão na cabeça. — Eu sabia que isso
ia acontecer. Eu vou fazer algo para você comer
agora. — Ela disse rapidamente.

— Ei, Maria, relaxa. — Douglas falou e sorriu


para ela. — Eu não vou jantar em casa hoje, tenho
um encontro. — Ele piscou para ela e começou a
subir as escadas.

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— Espero que não seja com nenhuma puta. —


Maria gritou e Douglas começou a rir.

——-
Madson não fazia ideia de quanto tempo fazia
que estava ali, sentada no chão do enorme corredor
com as costas encostadas à parede lisa. Uma porta
havia se aberto após Douglas falar novamente com
ela, ele parecia ser a chave de tudo, inclusive de
suas memórias, ela só queria entender o porquê. E
assim que foi puxada dessa segunda porta, a
terceira se abriu, nas três primeiras portas só
haviam cenas dela com os pais, ainda pequena.
Cada uma dessas portas sumia assim que ela era
puxada de lá, mas ainda restavam 18 portas e ela
torcia para que uma dessas a tirasse daquele lugar
sombrio para sempre e não apenas
momentaneamente.

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Uma voz doce chamou a atenção de Madson e


ela levantou-se do chão frio, não era Douglas quem
falava dessa vez, era a sua irmã, Kate.

— Mad, eu li em um site que falar com


pessoas em coma geralmente as ajuda a encontrar o
caminho de volta. Bem, eu ainda não sei se isso é
verdade, mas não custa nada tentar. Eu vou te
contar tudo o que tem acontecido ultimamente.
Vamos lá, eu acho que você já sabia, mas agora
estou noiva, imagine a cara feia que o papai fará
quando descobrir isso. Sua mãe e o Dean estão
ficando lá em casa, na verdade estão no seu quarto.
Espero que você não tenha nenhum segredo
cabuloso que queira esconder deles lá. — Madson
ouviu a risada fraca da irmã. — Sua mãe me disse
que seu namorado não para de te ligar, ex
namorado na verdade. Eu não sabia da existência
dele, mas aposto que você deve ter bons motivos
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para não ter me falado. Falando em namorado,


Douglas vem ao seu quarto todo dia, duas vezes ao
dia na verdade, até no dia de folga ele vem. Ele me
confessou que havia te visto naquele mesmo dia
que você o viu, lembra?! E ele também disse que
fazia tempo que não sentia um sentimento tão forte,
eu quase chorei ao ouvir isso, ultimamente ando me
emocionando com facilidade. Infelizmente ele me
disse que já sabia que você não lembraria de nada
do que ele disse quando acordasse, e que não te
falaria essas coisas quando você estivesse acordada,
ele não quer forçar você a gostar dele, tão inocente.
É claro que eu não contei a ele que você também
havia se interessado por ele, mesmo achando que
deveria contar aí vocês ficariam juntos logo que
você acordasse. Infelizmente eu já preciso ir
embora. — Madson ouviu Kate soltar um suspiro
pesado. — Mas me sinto até mais leve tendo falado
com você, não sei se você realmente está me
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escutando, espero que sim. Só quero que você volte


logo, Mad, sinto a sua falta.

Quando a voz da irmã sumiu, Madson já


estava com os olhos cheios de lágrimas, uma luz
branca chamou a atenção dela novamente, foi como
das outras três vezes, ela sabia que a porta quatro
estava aberta. Dessa vez não caminhou com receio,
foi segura de si até a porta e a abriu de uma vez.
Não demorou para que os olhos se acostumassem
com a luz que vinha do local já que não era tão
forte como a luz do dia nos outros locais. Estava de
noite, Madson estava parada no meio de uma rua
vazia e ao longe podia se ouvir uma música agitada
tocando. Madson olhou para a lua, ela estava
perfeita. Madson ouviu uma risada vinda do seu
lado direito e virou para lá.

Lá estava ela novamente, ela e mais duas


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amigas, Madson se lembrava desse dia. Teria uma


festa na casa dos Malfoy's e a mãe não tinha
deixado ela ir, mesmo assim ela resolveu fugir e
com a ajuda de suas amigas tinha ido até a festa.
Essa tinha sido a primeira e única vez que havia
desobedecido a mãe, aquela lembrança havia feito
Madson se perguntar se aquilo era o purgatório,
pois até aquele momento todas as lembranças que
teve eram dolorosas demais e mesmo que aquela
lembrava em especial fosse uma lembrança até
feliz, ela sabia que no final ficaria dolorosa.

Madson seguiu a si mesma e as amigas até a


casa onde aconteceria a festa, ao chegar lá tudo
estava muito iluminado, várias pessoas com copos
de bebidas conversavam do lado de fora da casa ou
tentavam conversar já que a música era muito alta.
Observou tudo ao seu redor, haviam pessoas
"chapadas" como ela diria na época, outras bêbadas
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e nenhuma totalmente sã nem mesmo ela e as


amigas, já que tinham bebido um pouco antes de ir
para aquele lugar. Não demorou muito e logo as
amigas a deixaram sozinha e deslocada no meio do
pátio daquela grande casa, Madson observou a
forma como havia ficado desconfortável naquele
lugar. Certamente não se encaixava ali, ela
lembrava o porquê de estar fazendo aquilo, ela
estava interessada em um menino, menino esse que
nunca havia dado nenhuma moral para ela.

Vendo isso por outro lado, chegava a ser


idiota, mas na época ela não achava isso, achava
que era o certo a se fazer para que fosse notada.
Madson observou tudo aquilo com um olhar de
indignação estampado no rosto, mesmo que
nenhum daqueles adolescentes pudesse vê-la. Em
seguida uma menina passou por Madson e foi até a
outra Madson, esbarrou nela e derramou um copo
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cheio de bebida em sua roupa. Logo um garoto se


aproximou dela e a ajudou com aquilo, puxando-a
para a cozinha. Madson os seguiu até a cozinha,
lembrava daquela cena como se tivesse acontecido
no dia anterior.

O garoto que a estava ajudando era o mesmo


por quem ela nutria sentimentos secretos, ela
observou o modo como as bochechas da outra
Madson estavam coradas com o garoto limpando a
sua blusa com um pano molhado. Ela queria gritar
para ela mesma que aquele garoto era um idiota,
mas sabia que de nada adiantaria já que aquelas
eram apenas lembranças e não poderiam ser
mudadas. Havia aprendido isso durante as
tentativas falhas com as outras três lembranças.
Quando o garoto terminou de limpar a blusa dela, a
outra Madson falou um obrigada um tanto quanto
baixo e ele sorriu para ela, falando que não tinha
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feito nada demais.

Em seguida Madson observou o garoto


começar a jogar o seu charme, com conversas
baratas. Na época ela havia achado isso o máximo,
mas agora achava nojento o modo como ele
despejava dezenas de cantadas baratas em cima
dela, esperando que uma fizesse efeito. Com
certeza ele sabia que todas fariam efeito, a paixão
secreta de Madson não era tão secreta assim, todos
sabiam que ela gostava dele.

Madson fechou os olhos quando lembrou do


que estava prestes a acontecer, ele iria beijá-la, ela
se recusava a olhar isso novamente. Enquanto
mantinha os olhos fechados, torcia para que essa
lembrava acabasse logo, essa festa era uma das
coisas que ela mais se arrependia por ter feito. A
música cessou, então Madson se forçou a
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finalmente abrir os olhos, ela estava novamente no


corredor sombrio e pela primeira vez estava feliz
por isso, ela não queria ter que reviver aquela
lembrança até o fim, sabia como acabaria, a mãe
indo buscá-la na festa com uma enorme cara de
decepção, ela não havia esquecido isso.

Madson olhou para o longo corredor, algumas


portas haviam sumido juntamente com a de número
quatro, e agora só estavam lá as portas à frente da
Número dez, ela caminhou vagarosamente até a
porta 10 e tentou abri-la, mas não conseguiu, teria
que esperar até que alguém viesse abrir para ela,
como das outras vezes. Madson caminhou
novamente até o fundo do corredor e sentou-se no
chão, esperava que aquilo não durasse tanto tempo.
Queria sair daquele lugar que ela havia intitulado
de "Purgatório mental".
——‘
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Douglas se olhou no espelho mais uma vez


para ver se tudo estava no lugar certo, ele iria levar
Alison para jantar em um restaurante que havia
aberto há pouco tempo. Segundo os amigos dele, o
restaurante era um pouco distante, porém valia a
pena, não só pela comida maravilhosa, mas também
pela vista. Antes de sair de casa, Douglas ainda
ouviu algumas reclamações vindas de Maria, que
não concordava com o fato dele estar saindo com
uma mulher que mal conhecia. Ele apenas sorriu
com toda a preocupação dela, beijou rapidamente a
testa dela e saiu, deixando-a falando sozinha.

Já na estrada que levava ao endereço que ela


havia passado para ele por mensagem de texto, uma
música animada tocava no carro e ele batucava no
volante com as mãos. Estava visivelmente nervoso,
fazia anos que não tinha nenhum encontro de
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verdade e não fazia ideia de como seria esse. Temia


que fosse um verdadeiro desastre. Mais alguns
minutos dirigindo até que ele finalmente passou
pela portaria do condomínio, menos de um minuto
depois ele já estava em frente à casa dela, que
ficava em uma das primeiras ruas.

Ele desceu do carro meio receoso, era ridículo


estar se sentindo daquele modo. Era apenas um
encontro.

Ele tocou a campainha e arrumou a camisa,


esperando de modo paciente que Alison saísse.
Demorou pouco mais de um minuto para que ele
finalmente conseguisse ouvir o som dos saltos dela
em contato com o chão, em seguida pôde-se ouvir o
som da chave e da fechadura. Quando ela abriu a
porta, ele surpreendeu-se. Ela estava simplesmente
maravilhosa, o cabelo castanho escuro estava solto
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com alguns cachos, no rosto tinha apenas uma leve


maquiagem. Um vestido preto descia justo ao seu
corpo, até a metade de suas coxas. Fazendo com
que as suas curvas ficassem ainda mais evidentes.
O sorriso dela ia de orelha a orelha, fazendo com
que ele desejasse de verdade gostar dela.

— Boa noite. — Ele falou um pouco tímido.

— Boa noite. — Ela sorriu e passou uma


mecha de cabelo por trás da orelha.

— Você está maravilhosa. — Ele falou se


aproximando e depositando um breve beijo na parte
direita do rosto dela.

— Você também não está nada mal. — Ela


falou, piscando para ele em seguida.

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Ele a acompanhou até o carro e abriu a porta,


esperou que ela entrasse para fechá-la novamente e
deu a volta no carro, entrando nele e fechando a
porta atrás de si.

— Aonde você irá me levar? — Ela perguntou


cruzando as pernas.

— Isso é uma surpresa. — Foi a vez dele de


piscar e em seguida dar partida no carro.

— Você é um cara cheio de mistérios, Doutor


Douglas Fitiz. — Ela o encarou. — Será que terei a
chance de desvendar alguns deles? — Voltou o
olhar para as ruas do condomínio.

— Isso só depende de você. — Ele olhou para


ela rapidamente e sorriu.

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Talvez não estivesse tão enferrujado assim na


paquera. Ele falou com o porteiro e saiu do
condomínio.

As ruas estavam escuras devido à pouca


iluminação, mas ainda assim estavam agitadas.
Nada infernal como pelas manhãs, mas já dava para
deixar o percurso mais demorado.

— Alison, me fale um pouco sobre você. Vejo


que vamos passar um bom tempo nesse trânsito. —
Douglas falou sem tirar os olhos do carro à frente.

— Bem, eu nasci no estado de Massachusetts.


Meus pais nasceram no Texas e atualmente moram
lá. Divido uma casa com meus cinco cachorros, que
são como a minha família e fundei uma ONG que
resgata animais abandonados e os trata para depois
colocá-los para a adoção. — Ela sorriu de modo
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tímido. — Você já deve imaginar como consegui


meus cinco cachorros, não é?! — Ela fez uma
pausa, como se estivesse pensando no que dizer. —
Sou vegetariana, gosto de fazer caminhada antes do
sol nascer e tenho 26 anos. — Ela terminou de falar
e ele ficou analisando todas aquelas informações
em sua mente. Ela parecia ser simplesmente
perfeita.

— Uau. — Foi o que ele conseguiu falar.

— Me fale um pouco sobre você. — Ela disse


com interesse.

— Não há muito o que saber sobre mim. —


Ele respondeu sem graça.

— Isso não é justo, acabei de te falar sobre a


minha vida. — Ela tentou parecer chateada.
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— Tudo bem. — Ele respirou fundo. — Não


sou vegetariano. — Ela sorriu. — Uma das minhas
paixões é a música, sempre me imaginei em cima
de um palco sendo ouvido por milhares de pessoas.

— E por que optou pela Medicina? — Ela


perguntou.

— Eu queria salvar vidas, precisava dar às


pessoas mais uma chance de viver. De voltar para
casa, abraçar os seus familiares e lhes falar o
quanto os ama. Sabe, acho que todo mundo merece
uma segunda chance e é isso que eu quero que
essas pessoas tenham. Muitas vezes na vida, você
esquece de dizer para quem ama o quanto ela é
importante para você. E não acho que alguém
mereça morrer sem saber disso. Luto para manter
essas pessoas vivas como se elas fossem da minha
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família, claro que nem sempre eu as salvo. Mas


nunca deixarei de tentar, vivo para isso. — Ele
falou sem tirar os olhos da estrada.

— Isso foi lindo. — Ela falou o encarando. —


Você tem verdadeira paixão pelo que faz, admiro
isso. — Ela sorriu e olhou para a estrada.

— Você parece ser uma boa pessoa, Alison. —


Ele falou.

— Você também parece ser legalzinho. — Ela


deu de ombros, fazendo-o sorrir.

Demorou pouco mais de vinte minutos até que


eles chegassem ao restaurante que o amigo havia
indicado, Douglas desceu rapidamente do carro
para abrir a porta para ela.

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— Espero que não tenha medo de altura. —


Ele falou.

— Por que?! — Ela perguntou confusa.

— Vamos jantar lá em cima. — Ele apontou


para o final do enorme prédio.

— Sorte sua que eu sou uma mulher de


aventuras. — Ela falou.

— Então vamos, Milady. — Ele falou


fazendo-a sorrir.

Enquanto andavam, ele pousou a mão sobre a


cintura dela e a conduziu até o elevador. Apertou o
botão do último andar, 52º, e os dois viraram-se
para o outro lado do elevador. Que no lugar das
paredes só havia vidros, o que os proporcionou
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alguns minutos de uma bela vista da cidade.

Depois de alguns minutos, as portas do


elevador se abriram e eles entraram em um
ambiente mais escuro. A iluminação do restaurante
era baixa, os móveis pretos com um tom escuro e
fechado de vermelho, fazendo com que o ambiente
ficasse mais romântico. Douglas não sabia o
porquê, mas aquilo o incomodou um pouco.

— Reserva em nome de Douglas Fitiz. — Ele


falou para a recepcionista.

— Me acompanhe. — Ela pegou os cardápios


e os levou até uma mesa próxima a uma janela
enorme.

— Alison. — Ele falou puxando a cadeira para


que ela pudesse se sentar.
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— Você é sempre um cavalheiro assim? —


Ela perguntou e ele pôde ver um brilho em seus
olhos.

— Acho que todo homem tem um pouco de


cavalheiro em si, só que alguns não deixam isso
transparecer. — Douglas falou e sentou-se à frente
dela na mesa.

— É impressionante. — Ela sorriu


abertamente.

— O que? — Ele perguntou confuso.

— Você é um conquistador, cada palavra e


cada gesto parecem ser perfeitos.

— Não é para tanto. — Ele falou tentando


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parecer ofendido. — Apenas sei como uma mulher


merece e deve ser tratada. — Ele piscou.

— É exatamente disso que eu estou falando.


— Ela sorriu.

No mesmo instante o garçom chegou,


interrompendo a conversa e perguntando se eles já
haviam escolhido algo. Douglas brincou com o fato
de ter preparado tudo para a noite e só depois
descobrir que Alison é vegetariana. Eles
escolheram os pratos e Douglas pediu um vinho.
Passaram alguns minutos conversando enquanto a
comida não chegava, a todo momento Alison
elogiava o local.

— O jantar está maravilhoso. — Ela falou


enquanto bebia um pouco de vinho.

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— Fico feliz que esteja gostando. — Ele


sorriu.

— Você é o tipo de cara que costuma ferrar os


corações das mulheres. — Ela falou, parecia estar
um pouco "Feliz".

— Por que você acha isso? — Ele perguntou


confuso.

— Porque você parece perfeito. — Ela rolou


os olhos.

— Ninguém é perfeito. — Ele rebateu com um


enorme sorriso no rosto.

Os dois ainda conversaram por quase uma


hora antes de saírem do restaurante, foram em
silêncio até o carro. Douglas repetiu o processo de
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abrir a porta para ela e esperar que ela entrasse para


poder entrar do outro lado. Durante todo o caminho
eles ficaram em silêncio, apenas ouvindo a música
calma que emanava dos alto falantes do carro.
Assim que chegaram em frente à casa dela, os dois
ficaram parados apenas olhando para frente, em
meio a um silêncio constrangedor.

— Antes de você ir embora posso te levar a


um lugar? — Ela perguntou alguns segundos
depois, quebrando o silêncio.

— Pode. — Ele deu de ombros e saiu do carro.

— Espere um pouco aí. — Ela correu para


dentro de casa e ele apenas ficou olhando-a.

Minutos depois ela saiu de casa com uma


roupa totalmente diferente e capacetes em mãos.
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Ela estava usando uma calça jeans justa ao corpo,


uma blusa escura e uma jaqueta. Ao chegar perto
de Douglas, ela estendeu um dos capacetes a ele,
que pegou com certo receio.

— Nós vamos subir naquela moto? — Ele


perguntou apontando para uma moto enorme que
havia na entrada da garagem.

— Eu te disse que sou uma mulher de


aventuras. — Ela falou e colocou o capacete em si.

— Por que será que tenho a sensação de que


não deveria confiar em você?! — Ele falou com
ironia.

— Porque não deve, mas vai precisar confiar.


— Ela montou na moto. — Você vem? —
Perguntou olhando para ele por cima do ombro.
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— Por que não?! — Ele falou e deu de


ombros.

Subiu na moto e colocou as mãos na cintura


dela, apertando um pouco em volta. Ela acelerou
um pouco e em instantes os dois saíram dali,
passando rapidamente por todas aquelas ruas e
saindo novamente do condomínio. Douglas
aproveitou a sensação maravilhosa de vento no
rosto enquanto ela acelerava cada vez mais.
Passaram pouco mais de dez minutos em uma
autoestrada até ela entrar em uma estrada pequena e
quase deserta. Os cantos da estrada eram totalmente
cobertos por uma mata quase densa, enquanto os
dois passavam por lá, Douglas não poderia deixar
de encarar o modo mágico como a luz da lua
iluminava por entre as árvores. Mais cinco minutos
naquela pequena estrada até que ela entrou em uma
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trilha, não foi preciso mais do que dois minutos até


que eles chegaram a uma cachoeira, cercada pela
mata e iluminada pela luz da lua.

Ele desceu da moto e tirou o capacete,


encarando a bela cachoeira à sua frente.

— É um lugar maravilhoso, não é mesmo?! —


Alison perguntou ao lado dele.

— É simplesmente lindo. — Ele falou sem


tirar os olhos das águas quase transparentes da
cachoeira.

Ele continuou assim por alguns segundos a


mais e em seguida olhou para o lado, Alison estava
tirando a blusa e já não estava mais com as botas
nem a jaqueta.

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— O que você está fazendo? — Ele perguntou


a encarando.

Ela estava com um enorme sorriso no rosto,


apenas piscou para ele antes de tirar a calça e ficar
apenas de roupa íntima. Correndo em direção a
cachoeira e se jogando nela logo em seguida,
fazendo com que uma grande quantidade de água
jorrasse para cima.

— Você é maluca. — Ele sorriu.

— Venha. — Ela o chamou.

— Isso deve estar congelando.

— Você precisa viver mais um pouco,


Douglas. — Ela insistiu. — Esqueça os problemas
por alguns minutos.
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Ela estendeu a mão para ele, que começou a


tirar a roupa lentamente, tirou os sapatos, as meias,
a calça e a blusa. Hesitou um pouco antes de entrar
na água, se jogando ao lado dela. Ela gargalhou
com aquilo e assim que ele chegou à superfície,
jogou um pouco de água no rosto dele. Ele a olhou
horrorizado antes de jogar água nela. Os dois
começaram então uma briga debaixo d'água, rindo
e gritando. Como dois adolescentes.

— Obrigado por me trazer aqui. — Ele se


aproximou dela. — Eu realmente estava precisando
relaxar.

— Era o mínimo que eu poderia fazer depois


de você ter me levado àquele restaurante
maravilhoso. — Ela passou os braços pelo pescoço
dele.
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— Acho que aquilo não se compara a esse


lugar.

— Esse lugar faz eu me sentir bem. — Ela


confessou.

— Você é maravilhosa, Alison. — Ele falou


observando como ela olhava com paixão para tudo
aquilo, naquele momento ele desejou como nunca,
gostar dela. Ele sabia que se gostasse, conseguiria
ser feliz.

Enquanto os dois se encaravam, ele decidiu


tentar algo, precisava saber se sentiria alguma
coisa. Ele encarou a boca semi-aberta dela e foi
aproximando seus rostos, a respiração dela
começou a ficar irregular e ele finalmente selou o
beijo. Passou as duas mãos pela cintura dela e
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aproximou seus corpos, beijou-a com urgência.


Queria sentir alguma magia naquele beijo, o beijo
era extremamente bom, mas não era apaixonante.
Não havia amor ali e isso o tornava sem graça.

Claro que havia desejo ali, como não desejar


alguém tão linda e cativante como Alison?! Mas
isso não mudava o fato de que não era ela quem
fazia o seu coração disparar e não era ela quem ele
queria beijar.

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Capítulo 7
O tempo agora parecia passar ainda mais
devagar, faltavam duas portas para que Madson
descobrisse o que a esperava na vigésima primeira
porta. Ela havia se deparado com fases felizes e
tristes de sua vida, sorrido e chorado, e continuava
a escutar Douglas. Ele era a pessoa que mais falava
com ela e toda vez que o escutava, conseguia sentir
em sua voz o que ele estava sentindo.

Ela sabia quando ele estava mais triste, quando


ele estava mais animado, quando ele tentava
parecer bem. Era como se os dois estivessem
conectados de algum modo. Nas últimas visitas ele
parecia mais animado, ela não descobriu o porquê
até ele contar que estava saindo com alguém.

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Aquilo havia sido como uma facada em seu


coração, ele parecia gostar dessa pessoa e isso a
deixou com medo, ela estava cada vez mais
apaixonada por ele e não sabia como suportaria
acordar e perceber que perdeu o que já não tinha
antes, mas sonhava em ter.

Cada vez que ele falava com ela, fazia com


que seus sentimentos por ele aumentassem e a
única coisa que ela conseguia pensar era que
desejava acordar e lembrar de todas as palavras, de
todo o carinho e toda a atenção que ele lhe dava.
Desejava acordar nos braços dele e ver que todo
aquele sofrimento não foi em vão, que tudo o que
havia escutado era real e não apenas fruto de sua
mente.

Jogada no chão no corredor escuro com os


braços em volta dos joelhos, Madson chorava, eram
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lágrimas dolorosas resultantes da última lembrança


que havia vivido na porta número 18. Ela só queria
que tudo aquilo acabasse rápido, não importava
mais se ela continuaria viva ou se iria morrer. O
choro cessou quando ela ouviu a voz de Douglas
novamente.

— Oi de novo, minha pequena. Eu estou meio


atrasado hoje, houve uma emergência e eu passei
no quarto de Anna, antes de vir ao seu. Se lembra
dela? O pequeno milagre do hospital, ela ainda não
acordou, assim como você, mas continua lutando.
Eu admiro vocês duas por isso, são duas mulheres
fortes. Essa semana eu me peguei pensando em
como seria adotá-la, sei que é muito difícil
conseguir isso. Principalmente sendo solteiro. Mas
eu pensei em como seria casar-me com você e
adotar ela.

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— Douglas. — Madson ouviu uma voz


feminina desconhecida chamar por ele, ela pode
sentir toda a mágoa que a voz carregava naquele
momento.

— Alison, deixa eu te explicar, eu não... —


Douglas tentou falar, mas foi interrompido pela
mulher novamente.

— É por isso que você não consegue me


amar? — Ela perguntou e pela voz Madson deduziu
que ela estava chorando. — É ela quem você ama?

— Alison, é complicado. Eu gosto de você,


mas...

— Mas eu não sou ela, não é mesmo? —


Madson sentiu o coração apertar, ela estava com
pena de Alison naquele momento.
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— Alison...

— Nunca vai ser eu, não importa o quanto


você tente, Douglas. Não posso ficar insistindo em
algo que eu sei que não vai levar a lugar nenhum.
Eu sabia que você era perfeito demais para estar na
minha vida.

— Me deixa ao menos falar alguma coisa.

— Não fale nada, apenas me deixe em paz. Eu


só preciso ir para casa e chorar no meu travesseiro,
se é ela quem você ama, tudo bem. Corra atrás do
que você ama, eu vou superar.

Madson sentiu o peito apertar mais ainda, ela


estava atrapalhando a sua felicidade, aquela mulher
parecia ser uma ótima pessoa e ela atrapalhou o
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relacionamento deles. Mesmo que gostasse dele,


gostasse muito, a última coisa que queria era vê-lo
infeliz e mesmo que para vê-lo feliz ela precisasse
se manter longe, o faria, pois a felicidade dele
consequentemente traria a felicidade dela.

Uma porta se abriu, liberando uma luz forte


por todo o corredor, ela levantou do chão e
enxugou as lágrimas que haviam em suas
bochechas.

-----

Já tinham se passado quarenta dias desde que


Madson sofreu o acidente, quarenta dias em que
Douglas ia todo começo de tarde e todo fim de
noite falar com ela. Ele tinha certeza, em seu
coração, que de onde ela estava podia escutá-lo. E
todo dia torcia para que ela acordasse do coma e
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voltasse para ele. Os sentimentos que haviam se


instalado em seu peito eram contraditórios, um
misto de amor e agonia. Na verdade, todos os
acontecimentos em sua vida eram meio
contraditórios.

Depois que saiu com Alison na noite da


cachoeira, ele percebeu que ela fazia bem a ele,
com ela sentia-se feliz e era bom ter algo que o
fizesse relaxar depois de um dia inteiro tenso por
causa do trabalho. Fazia um mês que os dois
estavam saindo juntos, não deram um nome
específico à relação que estavam tendo, mas
estavam "se curtindo". Se viam todos os dias,
faziam programas divertidos como patinar no gelo
ou ir à aulas de dança.

Era ótimo estar com Alison, ela conseguia


animar até a pessoa mais triste e por isso que ele se
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sentia tão bem perto dela. Durante todo o mês que


ficaram juntos ele não conseguiu achar um só
defeito nela, tudo o que fazia parecia ser perfeito.
Ele foi conhecer a ONG dela e estava maravilhado
pelo trabalho deles, todos os dias eles resgatavam
cães das ruas e até mesmo da carrocinha. Cuidavam
e tratavam desses animais, transformando eles de
cães tristes a cães felizes. Era um projeto lindo,
tanto que se ele tivesse tempo até aderiria a causa.

Naquele momento, Douglas estava no quarto


da pequena Anna, o rostinho de anjo dela já não
tinha mais arranhões, porém continuava pálido. O
quarto da garota estava cheio de flores, cartões e
ursos. Ela era extremamente adorada por todos no
hospital e todos ainda tinham esperanças de que ela
acordaria logo. Douglas conversou um pouco com
a pequena garota e saiu em direção ao quarto de
Madson.
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Assim que chegou na porta de quarto e viu


Madson, o seu coração se apertou, era assim todas
as vezes que entrava naquele quarto. O medo de
que ela não resistisse tomava conta de seu corpo e
ele tentava controlar o nervosismo que surgia em
sua voz. Voltou a conversar com ela e falou um
pouco sobre a garotinha, confidenciou o segredo
que ainda não havia contado a ninguém. Desejava
adotar aquela garota, sabia que seria difícil por ser
homem e solteiro e por toda a burocracia que
envolvia uma adoção. Mas ele confidenciou algo
ainda mais secreto, quando pensou em adotar Anna,
ele pensou em Madson ao lado dele. Os três como
uma família.

Ele não terminou de dizer tudo o que queria,


Alison apareceu e quando ele ouviu a voz dela
cheia de mágoa, percebeu que ela havia ouvido
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tudo. Os dois discutiram e ele não conseguiu se


explicar para ela, ele viu toda a dor no olhar dela
naquele momento. Ele a magoou, não queria isso,
mas também não teve como evitar. Ele não a
amava, não sabia se um dia conseguiria amá-la, seu
coração já tinha dona — mesmo que essa não
soubesse — ele era totalmente dela.

— Não fale nada, apenas me deixe em paz. Eu


só preciso ir para casa e chorar no meu travesseiro,
se é ela quem você ama, tudo bem. Corra atrás do
que você ama, eu vou superar. — Ela falou e ele
viu lágrimas escorrendo pelas bochechas coradas
dela.

O único erro de Alison havia sido gostar dele.

----

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Madson deu mais alguns passos em direção à


porta, a luz forte ofuscava a sua vista e era mais
forte do que as outras. Quando faltava menos de
um passo para se aproximar da porta, ela ouviu a
voz de Douglas novamente.

— Me desculpe por isso, Mad. Não é sua


culpa, e sim minha, eu não deveria ter insistido em
algo que não tinha como dar certo.

Ela não queria ouvir mais nada, deu o último


passo e a luz branca a invadiu, naquele momento
ela sentiu medo. Ela não sabia o porquê, mas o
peito dela doía e a respiração dela estava falha. A
luz branca foi diminuindo de modo gradativo e o
ambiente em que ela estava foi escurecendo.

— Espero que tenha gostado da noite. —


Madson ouviu a voz de Alex e se virou para onde
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ele estava, sentiu vontade de gritar para que ele não


subisse naquela moto.

— A noite foi maravilhosa. — Ela se viu sorrir


e colocar um capacete. — Obrigada.

Madson correu até ela e Alex gritando para os


dois não subirem naquela moto, mas a única coisa
que conseguiu foi ver quando eles saíam em alta
velocidade na estrada escura. Madson fechou os
olhos, apertando-os, ela sabia que era inútil tentar
impedir qualquer uma das lembranças, nada que ela
fizesse poderia mudar. Madson abriu os olhos
devagar, esperando estar de volta ao corredor
escuro, mas estava em uma estrada quase vazia.

Dois faróis extremamente fortes passaram pela


estrada e começaram a andar em "zig zag", como se
o motorista estivesse embriagado ou distraído com
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alguma coisa. Outra luz forte chamou a atenção


dela, quando ela olhou de onde vinha a luz, não deu
tempo de pensar em nada. O carro colidiu com uma
moto e a única coisa que ela conseguiu ver foram
os corpos sendo arremessados para longe.

— Eu não quero mais ver! — Ela gritou se


jogando no chão e fechando os olhos. — Não quero
mais lembranças!

Ela começou a chorar enquanto o som de uma


explosão ecoou por toda estrada, levou as mãos até
os ouvidos desejando não escutar aquilo. Não
queria escutar mais nada, só queria que tudo
acabasse logo e pudesse voltar para casa.

Os sons cessaram e com um pouco de receio


ela abriu os olhos, não conseguia enxergar mais
nada, ouvir mais nada. O desespero cresceu em seu
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peito, ela temia estar morrendo.

---

Douglas terminou de falar com Madson com o


coração apertado e resolveu ir embora, precisava
chegar no horário certo para o jantar. O filho de
Maria estava vindo para a cidade e ele havia falado
que ofereceria um jantar a eles. Mesmo que toda a
sua animação estivesse evaporada no momento em
que a briga com Alison ocorreu, ele não era homem
de quebrar a palavra.

Enquanto dirigia, Douglas não conseguia parar


de pensar em como se desculparia com Alison, ele
sabia que precisava falar com ela, mas não naquele
momento. Daria um tempo para que ela pudesse
pensar em tudo, ele queria continuar sendo amigo
dela, de certo modo já tinha se acostumado com a
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presença dela todos os dias.

Douglas passou uma das mãos pelo cabelo


escuro em busca de uma solução para seu
problema, ele simplesmente odiava decepcionar as
pessoas e odiava mais ainda magoá-las. Tentou por
um momento tirar aqueles pensamentos de sua
cabeça, não queria parecer um cara amargurado e
assustar o filho de Maria, ele sabia o quanto ela
batalhou para poder trazê-lo para os Estados
Unidos. Mais alguns minutos dirigindo em uma
estrada relativamente movimentada e ele chegou ao
condomínio, falou boa noite para o segurança,
como sempre fazia e entrou.

Estacionou o carro em frente à casa, pensou


que poderia colocá-lo na garagem depois. Abriu a
enorme porta de vidro e pôde ver Maria arrumando
a mesa de jantar, se aproximou dela e deu um beijo
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em seu cabelo.

— Você quase me matou do coração! — Ela


gritou.

— Eu sei disso, vou tomar um banho rápido e


desço para o jantar. — Ele correu para as escadas e
subiu rapidamente, antes que Maria pudesse falar
algo.

Sentia-se um menino travesso perto de Maria,


ela era como uma mãe, tinha um cuidado extremo
com ele. Já em seu quarto, Douglas tirou a jaqueta
preta que vestia e a jogou em cima da cama, tirou
os sapatos e os deixou em um canto próximo à
parede e em seguida começou a tirar a blusa
branca. Puxou-a para cima e a arrancou do corpo
despejando-a no chão. Em seguida tirou a calça e a
cueca e também as jogou no chão. Entrou no
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banheiro e abriu o box de vidro, ficou debaixo do


chuveiro e só então o abriu, fazendo com que a
água morna atingisse o seu corpo.

Naquele momento Douglas se permitiu deixar


uma lágrima escorrer pelo rosto, em seguida outra e
mais outras. Apoiou as mãos no vidro do box e
deixou a dor que sentiu durante todo o mês
finalmente escorrer junto com aquelas lágrimas.
Não importava se naquele momento parecia fraco,
não queria ser forte o tempo todo. Desde que o
acidente de Madson havia acontecido, os pesadelos
haviam voltado, piores. Quando acordava sentia a
culpa da morte de Sarah o invadir juntamente com
o medo de que não conseguisse salvar Madson, ele
simplesmente não poderia perdê-la também.

Douglas abriu os olhos e encarou o seu reflexo


no vidro embaçado do box, os olhos extremamente
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azuis estavam um pouco avermelhados, o cenho


franzido fazendo com que o seu rosto ficasse um
pouco mais sério, o queixo parecia ainda mais
quadrado e as linhas de expressão mais evidentes.
Ele fechou os olhos rapidamente e respirou fundo.

Depois de mais alguns minutos no banho, ele


resolveu sair e vestir algo para descer para o jantar.
O seu estômago doía ao pensar em comida, havia
se esquecido totalmente de comer durante todo o
dia. Douglas vestiu uma calça jeans clara, pegou
uma blusa de tecido fino na cor azul e penteou os
cabelos para trás. Só precisou se perfumar e já
estava pronto, essa era a parte boa de ser homem,
não precisava de muitos cuidados.

Quando estava no topo da escada se forçou a


colocar um sorriso enorme no rosto, queria evitar
perguntas desnecessárias que Maria faria se
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percebesse que ele estava triste. Já era muito difícil


de se esquivar das perguntas dela sobre o porquê de
ele acordar todos os dias gritando. Ela sabia do
passado dele, claro que sabia, mas os pesadelos não
eram tão intensos antes e no último mês haviam
piorado tanto que não havia um só dia em que ele
não os tivesse.

Douglas desceu as escadas com um falso


sorriso no rosto, na base da escada estava Maria e
ao seu lado um rapaz que parecia ter cerca de 16
anos, tinha a pele levemente bronzeada, cabelo
preto liso, olhos escuros e porte atlético. Douglas
conseguiu perceber no garoto vários traços de
Maria, tanto no rosto como no cabelo.

— Doug, esse aqui é Juan, meu filho. — Maria


falou enquanto colocava as mãos nas costas do
garoto.
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— Prazer, Juan. — Douglas estendeu a mão e


o garoto a apertou com certo receio. — Fico feliz
que você finalmente esteja aqui. — Ele sorriu.

Douglas havia acompanhado de perto toda a


luta de Maria para conseguir trazer o filho para os
Estados Unidos, sabia de toda aflição que ela sentia
todos os dias e de como ela se manteve forte.
Foram 6 anos de luta e finalmente ela estava com o
filho novamente, ele não poderia imaginar o quanto
ela deveria estar feliz. Pela primeira vez desde que
entrou em casa, ele conseguiu abrir um sorriso
sincero.

Durante todo o jantar o menino se manteve


calado, estava tímido demais para falar qualquer
coisa. Douglas até tentou puxar assunto sobre
futebol e jogos, mas nada deu certo. Ao final do
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jantar ele se despediu dos dois e subiu para o


quarto, estava na hora de enfrentar os seus
fantasmas novamente. Douglas tirou toda a roupa
pesada e se jogou apenas de cueca na cama, rezou
como fazia todos os dias e torceu para que aquela
noite, nenhum sonho ruim o perturbasse, mesmo
sabendo que não daria certo.

Assim que os olhos foram fechando, uma


agonia crescente começou a tomar conta do peito
de Douglas, a respiração ficou pesada como se ele
tivesse corrido uma maratona e todo o corpo
parecia estar preso na cama. Ele tentou se mover,
mas de nada adiantava, quanto mais tentava, mais
preso ele parecia. Tentou gritar, mas nenhuma voz
saiu de sua boca ao invés disso a respiração se
tornou ainda mais escassa e a imagem de uma
mulher loira com o vestido branco começou a se
formar à sua frente.
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Douglas tentou abrir os olhos, mas suas


pálpebras pareciam estar pregadas, tentou
novamente falar, mas o ar parecia preso em sua
boca. Ele acompanhou com os olhos enquanto a
mulher de branco — que agora tinha o rosto de
Sarah — saia de seu local e começava a se
aproximar da cama. A mulher tocou no lençol da
cama com a ponta dos dedos e começou a rodear a
cama ainda tocando no lençol, enquanto os dedos
se arrastavam pela beirada. Mesmo que ela tivesse
um belo e singelo sorriso no rosto, Douglas estava
com medo, sabia no que aquilo iria se transformar.
Ela se aproximou ainda mais e parou ao lado dele,
Douglas tentou virar a cabeça para o outro lado,
mas o máximo que conseguiu foi mover os olhos.
Ela se abaixou e aproximou o rosto do dele, lhe deu
um breve selinho nos lábios e ficou com o rosto a
centímetros do dele.
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— Meu amor. — Ela levantou o rosto e sentou


ao lado dele na cama, passando a mão pelo rosto
dele. — Eu sinto tanto a sua falta. — Assim que ela
tirou a mão do rosto dele, ele sentiu o lugar
queimar. — Por que você não vem ficar comigo?
— Uma lágrima escorreu pelo olho dela, caindo no
vestido branco e manchando o local como sangue.
— É assustador, não é?! — Ela perguntou, agora
pelo seu olho escorria sangue. — Foi você que fez
isso comigo. — Uma raiva crescente começou a
tomar conta da voz dela. — Você não conseguiu
me salvar. — Ela gritou batendo com força uma
das mãos na cama. — E ela? — A mulher apontou
para o outro lado da cama, onde Douglas pôde ver
Madson também. — Você não pode salvá-la. —
Sarah sorriu de um modo assustador.

— Douglas, por que você ainda não me


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salvou? — Madson chorava. — Por que me deixou


aqui? — Pelo rosto dela várias gotas de sangue
escorriam. — Eu estava contado com você e você
não conseguiu impedir que eu fosse embora.

Douglas fez um esforço quase que


sobrenatural para levantar, o corpo todo parecia
pesar toneladas, ele levantou o corpo e abraçou
Madson.

— É tarde demais, Douglas. — Ela falou.

Douglas acordou ofegante, a primeira coisa


que fez foi olhar ao redor do quarto, tudo estava
calmo e vazio. Ele suspirou e levou as duas mãos
até os olhos, tentando se convencer de que não
havia passado de um pesadelo. Ele decidiu que iria
mais cedo para o hospital, precisava vê-la e saber
que ela ainda estava viva.
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---

Um mês e meio já havia se passado desde o


acidente e Douglas sabia que a cada dia que
passava, menores eram as chances de que Madson
acordasse. Todas as noites Douglas visitava
Madson, a cada dia se encantava mais por ela, o
difícil era saber que quando ela acordasse nem
saberia sobre os sentimentos dele, mesmo ele
fazendo questão de lembrá-la todas as noites que a
estava esperando. Ele lembrava da manhã da
semana anterior quando ele e Kate estavam com ela
no quarto e ela mexeu a mão. Todas as esperanças
que estavam se esvaindo voltaram no mesmo
momento. A felicidade nos olhos de Kate era
imensa. E ali estava ele novamente, observando
Madson.

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— Olá, princesa, voltei. Como faço todas as


noites. — Ele sorriu e passou a mão no rosto dela.
— Sua mãe ainda está na cidade, mas o seu
padrasto teve que voltar devido ao trabalho dele.
Todos estamos tão ansiosos para que você acorde e
acho que não vai demorar para que isso aconteça.
Estarei te esperando quando você acordar. — Ele
beijou a testa dela. — Até amanhã.

Ele saiu da sala com lágrimas nos olhos, viria


vê-la todas as noites durante 10 anos se preciso,
mas esperaria por ela. Andou até a sua sala em
silêncio e ao entrar foi surpreendido por Abby, sua
irmã mais nova.

— O que você aprontou dessa vez? — Ele


perguntou andando para a sua mesa e ela o seguiu.

— Nada, eu juro, maninho! — Ela beijou os


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dedos cruzados.

— E o que está fazendo aqui a essa hora? —


Ele levantou uma sobrancelha.

— Talvez eu tenha sido expulsa do internato.


— Ela falou encolhendo os ombros.

— Como assim, Abby Fitiz? — Ele perguntou


bravo e se jogou na cadeira de sua mesa.

— Aquelas freiras não têm senso de humor,


Doug. — Ela falou fazendo cara feia.

— Você não vai tomar jeito nunca, Abby, já


está com 15 anos, tem que aprender a ser mais
responsável.

— Mas, maninho, eu só fiz uma festinha de


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nada no meu quarto. — Ela falou com voz


manhosa. — Que acabou pegando fogo e quase
queimando a escola toda, mas foi só uma festinha.

— O que eu vou fazer com você, mocinha? —


Ele perguntou retoricamente.

— Me deixar ficar com você, prometo não


tocar fogo na casa. — Ela abriu um sorriso enorme.

— A mamãe sabe disso?

— Sim, mas o papai está no Brasil e não sabe.


Me ajuda. — Ela juntou as mãos e ficou de joelhos
no chão.

— Levanta daí, pirralha. Eu vou ajudar, mas


vou te colocar em outro colégio. — Ele cruzou os
braços. — E se você aprontar, vai ter que ir morar
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com o papai.

— Eu serei a melhor irmã do mundo, eu juro.


— Ela deu a volta na mesa e o abraçou. — Agora
me conte.

— O que?

— Aquela moça lá na UTI, é sua namorada?


— Ela perguntou com um tom triste.

— Vai ser! — Ele falou com toda a certeza


que tinha.

— Convencido. — Ela deu língua para ele.

— Eu farei de tudo para conquistá-la. — Ele


sorriu. Nesse momento Kate estava saindo da sua
sala, olhou para Abby confusa.
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— Olá? — Ela falou e direcionou um sorriso


para Abby.

— Oi. — Abby respondeu tímida.

— Kate, essa é a minha irmã caçula, Abby. E


Abby, essa é a minha secretária e irmã da moça que
você viu.

— Sabia que o meu irmão vai namorar a sua


irmã?

— Abby! — Ele a repreendeu.

— Mas é verdade.

— Espero que sim. — Kate falou e sorriu para


eles. — Eu tenho que ir, se importa, Doutor?
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— Claro que não, Kate, seu turno já terminou


faz tempo. — Ele sorriu para ela. — Pode ir.

— Obrigada.

Kate saiu da sala rapidamente e logo Abby já


estava com um sorriso enorme no rosto.

— O que? — Ele perguntou ao ver a expressão


da irmã.

— Que família hein! Ela também é uma gata.


— Falou batendo palmas. — Será que ela não tem
nenhum irmão mais novo?

— Você só vai namorar aos 20! — Ele falou.

— Vai sonhando. — Ela falou e se jogou num


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pequeno sofá que tinha no canto da sala.

— Folgada. Só tenho que terminar mais


algumas coisas e vamos para casa, ok?

— Ok.

— Onde estão suas malas, Abby? — Ele


perguntou ao perceber que sua sala estava vazia.

— No seu carro. — Ela falou estendendo a


chave para ele.

— Como você conseguiu isso? — Ele


perguntou confuso.

— Deveria trancar a sua sala, viu?

— Vou me lembrar disso.


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Douglas levantou de sua mesa e passou o


braço em volta do ombro da irmã. — Vamos para
casa, pirralha. — Ele falou e os dois começaram a
andar em direção ao elevador.

Durante o caminho, Douglas pôde perceber


alguns olhares de homens sobre a irmã, ele sentiu-
se muito incomodado por isso. Mesmo que a irmã
fosse bonita, era apenas uma criança ainda, eles não
tinham direito de desejá-la. Ele apertou ainda mais
o braço em volta do ombro dela e apertou o botão
do elevador, já no elevador ele olhou para a irmã
pelo espelho, tinha que admitir que a menininha
dele estava crescendo. Fazia tanto tempo que não a
via que não tinha se dado conta disso, ele sabia que
uma hora ela precisaria crescer, mas não esperava
que fosse tão rápido.

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----
O escuro ainda permanecia e mesmo nele
Madson havia conseguido escutar Douglas nos
últimos dias, ela só não sabia ao certo quantos
haviam passado, algo no peito de Madson estava
diferente. Ela sentia uma agonia incessante, como
se algo estivesse prestes a acontecer. Ela sabia que
não estava morta, pelo menos ainda não. Temia
estar em um tipo de transição entre o purgatório e a
morte, nada tirava da cabeça dela que aquele
maldito jogo de portas havia sido seu purgatório,
até as lembranças mais felizes eram dolorosas para
ela.

Depois de horas de silêncio, Madson pôde


ouvir passos que pareciam aumentar a cada
segundo, ouviu a porta ser aberta e os passos
aumentaram ainda mais.

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— Ainda tem esperanças de que ela acorde?


— Uma voz masculina que ela desconhecia
perguntou.

— Não muitas, ela bateu feio com a cabeça


quando foi arremessada da moto, já é um milagre
estar viva. — Outra voz masculina desconhecida
falou.

— Será que a família dela tem esperanças? —


Madson queria gritar que eles tinham, mas não
conseguia.

— Acho que poucas, já faz quase dois meses


que ela está nesse estado. — O homem falou e ela
ouviu o barulho de algum tipo de máquina.

— Eu não acho que ela vá acordar.

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— Sinceramente, eu também não. Agora


vamos checar a senhora Anderson. — No momento
em que aqueles dois homens saíram do quarto,
Madson se sentiu desesperada, eles acreditavam
que ela não sobreviveria e ela sentiu medo, talvez
os dois tivessem razão.

Madson começou a gritar que queria viver, que


queria e precisava voltar porque aquela era a
melhor parte de sua vida. Implorou uma chance de
ver a mãe novamente e de confessar a Douglas o
que sentia e que sabia que ele a visitava sempre.
Uma pequena luz começou a surgir em um ponto a
sua frente, a luz foi aumentando de modo gradativo
e Madson começou a andar em duração a ela, do
nada a luz tomou todo o local e os olhos dela
começaram a arder. Ela os fechou por um momento
e quando os abriu conseguiu ver um teto branco.

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— Eu acordei. — Ela gritou.

Tentou mover os braços, as pernas e como


nada doía resolveu levantar, primeiramente
levantou a parte de cima do corpo e em seguida
colocou as pernas para fora da cama e saltou dela,
ficando em pé. Um sorriso enorme tomou conta de
seu rosto, ela queria sair correndo pela porta,
gritando a todos que estava de volta. Ela deu dois
passos, olhando tudo à sua volta e em seguida
olhou para a cama que deveria estar vazia, o sorriso
que havia em seu rosto havia morrido naquele
mesmo momento, na cama estava seu corpo,
interligado a uma máquina por vários fios. Com
lágrimas nos olhos, ela se aproximou lentamente do
corpo e o tocou, estava normal, levantou a mão até
o próprio rosto na cama e tocou com ternura. Seus
dedos percorreram o enorme arranhão que havia no
rosto e ela correu o olhar por todo o corpo na cama,
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em um dos pés havia uma bota de gesso. Ela tocou


o próprio rosto numa tentativa de sentir o aranhão e
não havia nada lá, olhou para o pé e lá também não
havia gesso.

Ela deu alguns passos vacilantes até a porta e a


tocou, estava sólida também. Colocou as duas mãos
na porta e a empurrou, quando ela se abriu, Madson
passou rapidamente por ali e estava em um
corredor, várias pessoas passavam e ninguém
parecia notar a sua presença ali, ela começou a
caminhar em direção a uma sala animada, sua
cabeça começou a doer assim que ela viu quantas
pessoas haviam nela. Procurou por um rosto
conhecido, mas não encontrou ninguém. Nenhum
daqueles médicos era Douglas e nenhuma daquelas
pessoas eram da sua família.

— Eu acho que ela adoraria essas flores. —


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Ela ouviu a voz da mãe em algum canto daquela


sala, correu os olhos por toda ela até encontrar
perto de um elevador a mãe saindo juntamente com
a irmã.

— Eu queria que ela pudesse vê-las. — Kate


falou, as duas caminhavam em passos rápidos até o
quarto de Madson, ela começou a andar atrás delas,
as duas pareciam tristes. Kate abriu a porta e a mãe
de Madson passou, ela aproveitou para passar
também antes que a porta se fechasse.

— Olá, filha, eu voltei pra te ver e trouxe


tulipas. Eu sei que são as suas flores preferidas. —
A mãe de Madson falou e sentou em uma pequena
cadeira/poltrona que havia do lado da cama,
colocou o vaso com as tulipas em cima de uma
mesa e segurou a mão direita do corpo dela na
cama com as duas mãos. Madson sentiu o toque da
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mãe em sua mão e uma lágrima escorreu pelo seu


rosto. — Sabe, eu venho aqui todos os dias te ver
na esperança de que você tenha acordado. Oh,
minha menina. Eu sinto tanto sua falta. — Mais
lágrimas escorreram pelo rosto de Madson. —
Filha, eu não posso te perder, preciso que você lute
para voltar à vida e... — Ela não deu conta de
terminar de falar e desabou no choro, Kate se
abaixou e a abraçou.

Madson deu alguns passos e as abraçou,


mesmo que elas não pudessem sentir, e chorou
junto. Ouviu o barulho da porta e se obrigou a sair
do abraço, olhou para a porta e viu Thomas e
Douglas entrarem por ela. Naquele momento o
coração dela acelerou, o olhar parou em Douglas
por um tempo e ele parecia ainda mais lindo do que
ela lembrava, Thomas tinha em suas mãos um vaso
com algumas rosas, ele caminhou até uma mesinha
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do outro lado da cama e as colocou lá.

Douglas se aproximou mais da cama e sorriu


de modo fraco para a mãe de Madson, naquele
momento ela pôde ver toda a dor que ele carregava
no olhar. Thomas se aproximou e Kate o abraçou,
desabando no choro, Madson sentiu-se culpada.
Todos naquele quarto estavam chorando por causa
dela, ela não queria ver ninguém sofrendo. A vista
dela ficou embaçado pelas lágrimas que teimavam
em cair, ela só queria acordar e voltar para as
pessoas que amava.

Novamente a porta do quarto se abriu e o pai


dela entrou, estava com uma expressão triste, ela
sentiu um desespero crescer em seu peito. Todos
estavam ali, era como uma despedida, mas ela não
queria morrer, precisava voltar e dizer o quanto
cada um era importante para ela. Gerald se
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aproximou e tocou a mão da filha rapidamente, em


seguida ele e a mãe de Madson se afastaram da
cama e ficaram abraçados em um canto. Ela não via
os dois tão próximos desde os seus 5 anos.

— Gente, eu estou aqui! Eu não vou embora.


— Ela falou, mas ninguém se moveu.

Douglas caminhou em direção à cama e sentou


na poltrona ao lado dela, segurou a mão direita dela
com as duas mãos, como a mãe havia feito
anteriormente e abaixou o rosto até ficar próximo
do dela.

— Minha pequena, se você pudesse ver o


quanto todos sentem a sua falta eu tenho certeza de
que voltaria, precisamos de você, Mad. Eu preciso
de você, eu sei que você é forte o suficiente para
voltar, lute por nós, por você. — Ele sussurrou e
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depositou um breve beijo no rosto dela, Madson


levou a mão até o rosto onde sentiu o beijo dele.

Uma luz forte invadiu todo o quarto, mas ela


não viu nenhum deles fazer menção de se mover ou
parecer incomodado com a luz. Ela colocou a mão
acima dos olhos e olhou diretamente para a luz, ela
era tão atrativa. Madson sentiu uma curiosidade
crescente e começou a dar passos em direção ao
canto do quarto de onde a luz havia surgido.
Quando mais se aproximava, mais atraída por ela se
sentia.

O barulho de um aparelho começou a tomar


conta de todo o quarto e Madson se obrigou a olhar
para trás e saber o que estava acontecendo. Era o
aparelho dos batimentos cardíacos, ela não
conseguiu parar de andar em direção à luz. Os
bipes que o aparelho fazia antes haviam se tornado
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um som contínuo, ela virou o rosto para trás


novamente e viu como todos estavam desesperados.
Douglas havia levantado do banco e chorava
enquanto fazia uma massagem cardíaca no corpo
quase morto em cima da cama

Gerald correu para fora do quarto, gritando


para que chamassem os enfermeiros e médicos. A
mãe de Madson chorava descontroladamente e
Kate parecia estática. Mesmo que a luz a atraísse
muito, Madson sentiu o peito apertar, ela não
queria deixá-los para trás.

— Volte para mim, amor. — Douglas falou e


ela começou a correr na direção contrária da luz.

Se jogou em cima do corpo desacordado na


cama, sem se importar se o atingiria com força.
Assim que o fez, tudo ficou escuro novamente. Ela
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teve que forçar os olhos para conseguir abri-los,


piscou várias vezes tentando se acostumar com a
luz. Aos poucos os sons foram voltando, e ela
começou a enxergar tudo borrado. Piscou mais
algumas vezes e abriu os olhos com dificuldade,
conseguiu enxergar o teto branco. A cabeça doía
um pouco e parecia pesar mais do que deveria. Ela
moveu a cabeça um pouco para o lado e conseguiu
ver o rosto da mãe, imediatamente várias lágrimas
surgiram em seu rosto.

— Mãe. — Ela falou com a voz fraca.

— Você voltou para mim. — A mãe disse e


em seu rosto várias lágrimas escorriam, ela queria
saber quanto tempo havia ficado fora.

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Capítulo 8
Douglas se afastou um pouco estático, olhando
diretamente nos olhos de Madson, naquele
momento ele imaginou que seu coração iria sair
pela boca. Cogitou a opção de se beliscar para
saber se aquilo era realmente verdade. Passou
alguns segundos apenas a encarando, sentindo os
olhos começarem a marejar de alegria, aquilo era
tudo o que ele havia pedido no último mês.

— Mad. — A voz de Kate cortou o silêncio,


Douglas observou enquanto ela se ajoelhava ao
lado da cama e chorava. — Nunca mais me dê um
susto desses, eu... Eu... — Ela começou a chorar
mais e encostou a cabeça na ponta da cama.

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— Eu estou bem. — Douglas ouviu a voz doce


de Madson, o coração estava tão acelerado que ele
poderia imaginar que teria um ataque cardíaco.

O olhar de Douglas foi parar na porta, assim


que ele a ouviu bater, parados à frente dela estavam
John, Gerald e um outro médico também
responsável por Madson.

— Filha? — Gerald se aproximou e falou com


a voz baixa.

— Papai. — Ela estava com um sorriso fraco


no rosto, que aos poucos foi dando lugar a uma
expressão de dor. — Meu corpo, minha cabeça,
estão doendo muito. — Ela começou a chorar.

O médico correu até ela, Douglas sabia que ela


se sentiria assim, mas não estava pronto para vê-la
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sofrer.

— Eu vou precisar que todos saiam daqui, ela


precisa ser medicada. — O médico falou com a voz
um pouco alarmada.

— Ela vai ficar bem não é, doutor? — Kate


perguntou preocupada.

— Vai sim, mas por enquanto temos que


medicá-la e deixá-la descansar, nada de visitas por
hoje. — Ele falou e Douglas sentiu um extremo
aperto no coração.

— Eu vou ficar por aqui. — Douglas falou, os


olhos dele estavam repletos de lágrimas, não queria
deixá-la sozinha.

— Não, Douglas, você está muito envolvido


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nessa história. Fique na sua sala e se acalme. — O


médico, que já trabalhava ao lado de Douglas há
dois anos, falou.

— Eu não posso deixá-la. — Douglas insistiu.

— Está doendo. — Madson gritou e ele sentiu


como se o coração fosse ser estraçalhado.

— Eu fico. — Thomas falou e Douglas


resolveu que sairia, não queria atrapalhar nada com
o seu nervosismo.

Douglas saiu ainda receoso, faziam tantos dias


que ele esperava por isso que estava com medo de
sair do quarto e algo ruim acontecer. Apenas se
obrigou a sair porque sabia que não conseguiria
ajudar em nada estando nervoso daquele modo.
Anos trabalhando no hospital e nunca havia ficado
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tão alterado quanto naquele momento.

Já na recepção ele andava de um lado para o


outro tentando se acalmar, o que no momento,
parecia meio impossível. Em um canto os outros
estavam, quase todos chorando ou com os olhos
cheios de lágrimas. Ele já havia visto várias cenas
como aquela, mas por algum motivo, essa parecia
ainda mais emocionante.

— Doug. — Ele ouviu a voz da irmã ao seu


lado e se virou para olhar ela. — Você está bem?
— Ela perguntou encarando-o.

Naquele momento ele se perguntou porque ela


não estava em casa, já que a havia deixado lá, mas
ele conhecia bem a irmã.

— Estou. — Ele se limitou a dizer.


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— Não parece. — Ela falou e ele revirou os


olhos.

— Me acompanhe até a minha sala, Abby. —


Ele falou e começou a andar em direção a um
corredor.

— Você não vai brigar comigo, vai? Eu ainda


nem quebrei nada da tua casa. — Ela falou.

— Nem vai quebrar. — Ele disse.

Abriu a porta da sala e esperou que ela


entrasse para poder entrar logo em seguida.

— Já consegui um colégio para te matricular.


— Ele falou.

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— E o que isso tem a ver com o fato de você


estar chorando? — Ela cruzou os braços.

— Madson acordou. — Ele simplesmente


respondeu.

— Aquela moça que você disse que


namoraria? — Abby perguntou colocando a mão
sobre o queixo, enquanto Douglas apenas
concordou com a cabeça. — E vocês já estão
namorando?

— Não é tão fácil assim. — Ele respirou


pesadamente. — Agora ela vai precisar passar por
muita coisa.

— Tipo o que?

— Observação, fisioterapia, exames e


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readaptação se for o caso. — Ele falou pensando no


quanto tudo aquilo seria cansativo para Madson e
como ele desejava que ela fosse forte naquele
momento.

— Por isso você está desse jeito? — Abby se


jogou no pequeno sofá que havia no canto da sala.

— Em parte sim.

— E o que mais anda passando pela sua


cabecinha? — Ela perguntou.

— Estou com medo de que ela não tenha


escutado nada do que eu disse durante esses
últimos dias, medo dela ter alguma sequela e medo
de não conseguir me aproximar dela.

— Claro que você vai conseguir, Doug. Olhe


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só para você, não é porque sou sua irmã, mas quem


não iria querer ficar perto de um cara como você?!
— Ela parou por um momento, ele a encarou, o
modo como ela falou a fez parecer uma adulta.
Odiava lembrar que a sua menininha estava
crescendo. — E pelo que você me falou, Madson é
forte e com a sua ajuda ela vai conseguir passar por
tudo isso numa boa. Não acho que deva se
preocupar tanto, só precisa relaxar um pouco. —
Ela terminou encolhendo os ombros.

— Quando foi que você ficou tão madura? —


Douglas encarou a irmã e sorriu fraco.

— Não estou sendo madura, apenas realista.


— Ela falou dando de ombros.

— Eu acho que você tem razão e eu preciso


recobrar a minha razão. — Ele falou decidido. —
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Vou ajudar ela e conquistá-la. Leve o tempo que


levar.

----

Madson abriu os olhos devagar, com medo da


dor de cabeça invadir a sua mente de novo. O
quarto que antes estava cheio de pessoas, naquele
momento estava completamente vazio. Ela rolou os
olhos sobre toda a extensão do teto extremamente
branco do quarto, depois desceu os olhos pela
parede de cor creme e manteve o olhar parado em
uma pequena mesa ao canto do quarto, onde havia
um vaso com várias flores.

— Eu trouxe essas flores para você, espero


que goste. Infelizmente não sei dizer se são as suas
preferidas, ainda não te conheço tão bem, mas
espero conhecer.
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Aquela voz em sua mente era de Douglas, ela


virou a cabeça para olhar se aquilo era só fruto de
sua mente ou se ele realmente estava ali. O quarto
continuava vazio, ela se repreendeu em pensamento
por estar fantasiando.

— Olá, pequena, voltei novamente.


Infelizmente você ainda não acordou, mas eu ainda
não desisti de você, todos os médicos acham que
você não irá acordar mais, só que eu sinto em meu
coração que logo, logo você voltará para mim. Eu
estou te esperando e te esperarei quanto tempo for
necessário, continue sendo forte.

A voz dele novamente invadiu a sua mente, ela


ficou se perguntando se aquilo realmente era
apenas fruto da sua imaginação. A emoção que
sentiu ao pensar naquelas palavras era tão grande
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que ela se recusava a aceitar que fosse apenas sua


imaginação lhe pregando uma peça.

— Você acordou. — Madson ouviu uma voz


estranha e olhou para o lugar onde julgava que a
voz teria vindo. — Está sentindo alguma dor? — O
médico loiro perguntou, a visão dela estava um
pouco embaçada. Piscou algumas vezes para poder
se acostumar com o formato do rosto dele.

— Não. — A voz saiu fraca.

— Que bom. — Ele se aproximou dela e


encaixou o estetoscópio no ouvido, colocando em
seguida a outra extremidade sobre o peito dela. —
Já tentou mover algum membro? — Ele perguntou
com o ar sério.

— A cabeça.
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— Vamos tentar mover os outros, tudo bem?


— Ele perguntou e ela apenas balançou a cabeça
devagar. — Mexa a cabeça para a direita. — Ela
virou o rosto com um pouco de dificuldade. —
Isso, agora para a esquerda. — Ela virou
novamente o rosto. — Tudo certo por aqui. — Ele
puxou o lençol que estava sobre o corpo dela até a
cintura. — Agora mexa o braço direito. — Madson
mexeu alguns dedos e em seguida, com muita
dificuldade levantou um pouco o braço.

— Dói um pouco. — Ela falou.

— É normal. Agora tente mexer o outro. —


Madson levantou o braço esquerdo com um pouco
menos de dificuldade. — Parece que está tudo certo
por aqui. Agora vamos tentar levantar o seu tronco,
tudo bem? Eu vou te ajudar. — Ele colocou a mão
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entre as costas dela e a cama e ela começou a forçar


o corpo a levantar, a dor era intensa, ela reprimiu
um grito mordendo o lábio. Respirou pensadamente
e soltou a respiração de uma vez quando já estava
totalmente sentada na cama. — Vou tirar a mão das
suas costas devagar e você tentará permanecer
sentada. — Ela confirmou com a cabeça, enquanto
ele afastava a mão das costas dela, ela forçou o
corpo para frente, sentindo a dor tomar conta de seu
corpo. Uma lágrima de desespero escorreu pelo
rosto dela.

Madson conseguiu segurar o corpo por alguns


segundos, antes dele começar a cair na cama. O
médico rapidamente colocou uma das mãos sobre
as costas dela e a ajudou a deitar novamente.

— Tudo bem. — Ele falou sorrindo para ela.


— Isso já foi muito bom. Agora vamos tentar
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mover os pés e as pernas. — Ele falou e ela


assentiu.

O doutor rapidamente removeu o lençol que


cobria as pernas dela e ela pôde ver uma bota de
gesso envolvendo o pé direito, nela haviam
algumas assinaturas que ela não conseguia
distinguir por causa da visão turva. A outra perna
tinha alguns arranhões e cicatrizes.

— Pronta? — Ele perguntou e ela assentiu


com um pouco de receio. — Tente mover os dedos
do pé. — Ela começou a tentar mover o pé, mas
nada acontecia. Um desespero crescente tomou
conta do peito dela, ela tentou mover a perna, nada
acontecia.

O médico a olhou um pouco alarmado e tentou


sorrir para passar confiança para ela. — Eu vou
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tocar na sua perna e você me diz o que sente, tudo


bem? — Ela assentiu com os olhos cheios de
lágrimas. Ele levou a mão até a perna direita dela e
apertou um pouco, ela não sentiu o toque e muito
menos o aperto, só sabia que ele a estava tocando
porque havia visto.

— Não sinto nada. — Ela conseguiu falar


entre alguns soluços.

— Tudo bem, não se desespere. Vamos fazer


alguns exames amanhã e quando começarmos a
fisioterapia seus movimentos voltarão ao normal.
— Ele falou e ela apenas assentiu. — Eu tenho que
ir olhar um outro paciente, mas vou pedir que uma
das enfermeiras traga comida para você.

— Tudo bem. — Ela respirou fundo, tentando


não chorar ainda mais.
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Antes de sair do quarto, o médico a enrolou


novamente com o fino lençol e sorriu para ela.
Madson ficou encarando o teto do quarto, tentando
se acalmar. Em sua mente ela ficava dizendo a si
mesma que tudo daria certo, só precisava confiar e
acreditar. Desejou muito poder abraçar alguém e
chorar em seu ombro naquele momento, mas não
queria preocupar as pessoas, precisava parecer forte
para que eles também fossem fortes.

— Acho que estou perdidamente apaixonado


por você, não consigo entender como esse
sentimento cresceu dentro do meu peito, mas sinto
uma vontade exagerada de cuidar de você.

Madson sentiu o peito apertar, ela sabia que


aquelas palavras eram reais, sabia que elas
realmente haviam sido ditas, pois transmitiam um
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sentimento tão intenso que até fazia com que uma


emoção percorresse o corpo dela. Ela também
estava perdidamente apaixonada por ele, desde o
bendito dia em que os seus olhos se cruzaram, ela
sabia que nunca mais seria de outra pessoa. Poderia
parecer insano e impossível, e se alguém tivesse
falado sobre um sentimento assim para ela,
certamente ela riria da cara da pessoa e diria que
aquilo não existia. Mas naquele momento, ela
defenderia com todas as forças que existia sim
amor à primeira vista, porque em anos ao lado de
uma pessoa que ela julgava amar, ela não havia
sentido o que sentiu em segundos perdida no olhar
de Douglas.

Naquele momento, ela desejou com todas as


forças poder escutar ele dizer aquilo, não apenas
em seus pensamentos, mas ali naquele quarto.
Desejava que ele entrasse pela porta branca do
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quarto e dissesse que a queria, ela certamente se


entregaria a ele de corpo e alma. O coração,
quebrado uma vez, se reconstruiria no mesmo
momento e ela arrumaria forças para continuar.

Uma lágrima solitária correu pela bochecha de


Madson, com um pouco de dificuldade ela levantou
a mão até o rosto e a enxugou. Olhou novamente
para as pernas, agora, novamente cobertas pelo fino
lençol e mais algumas lágrimas escorreram pelos
seus olhos. O medo de não voltar a andar
novamente tomou conta de seus pensamentos, ela
não conseguia se imaginar sem poder correr, nadar,
pular e em uma cadeira de rodas para o resto da
vida. Em seu peito, um desejo de poder superar
tudo aquilo crescia, fazendo com que uma
determinação tomasse conta de seu corpo e a
fizesse expulsar aqueles pensamentos negativos.
Ela não era desse modo, era a pessoa que sempre
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via o melhor das outras pessoas, que sempre


enxergava além das dificuldades e acreditava
cegamente que tudo sempre ficaria bem. Era essa a
pessoa que ela queria continuar sendo, por mais
difícil e doloroso que fosse.

— Como está a minha paciente preferida? —


Ela ouviu a voz rouca de Douglas e sentiu o
coração saltar em seu peito.

Ela observou enquanto ele se aproximava da


cama com certo receio, em seu rosto podia-se
perceber um misto de alegria e preocupação. O
modo como os olhos azuis dele brilhavam ao olhá-
la, fazia com que ela tivesse certeza de que aquelas
palavras não eram apenas fruto da sua imaginação.
Ela sorriu de modo fraco para ele.

— Você está bem? — Ele perguntou com a


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voz baixa, passando uma das mãos pela bochecha


dela e enxugando as lágrimas que nela haviam.

— Estou. — Ela sorriu, mas outra lágrima


escorreu pelo seu rosto.

— Não precisa ser forte para mim, Mad. —


Ele falou e sorriu para ela, passando a mão pelo seu
rosto. — Estou aqui para ser forte por você. — As
palavras ditas fizeram com que o coração dela
batesse ainda mais rápido, ela teve a sensação de
que a qualquer momento ele sairia pela boca.
——-
— Preciso ser forte. — Ela falou enquanto as
lágrimas caiam sem parar pelas suas bochechas. —
Eu não sei como passar por tudo isso. — Ela
confessou fechando os olhos por um momento.

— Eu estarei do seu lado e quando você


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pensar em desistir, te lembrarei que você não está


sozinha. — Ele falou com uma expressão séria. —
Sei que você precisa ser forte, mas não precisa
passar por isso sozinha, me deixe entrar. Prometo
que estarei do seu lado para sempre.

Ela ficou sem palavras diante de tal


constatação, queria dizer que ele já estava dentro,
que já havia ocupado seu coração, mas não sabia se
era o certo a se fazer. Ela apenas concordou com a
cabeça e sorriu com sinceridade.

Para sempre. — Ela repetiu em pensamento,


esperava que ele soubesse o peso que essas duas
palavras tinham. Esperava que ele cumprisse essa
promessa e ficasse para sempre.

— Eu... — ela começou a falar, mas se perdeu


em pensamentos.
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— Não precisa falar nada, só quero que não


desista. — Ele falou passando novamente a mão
pelo rosto dela.

— Não vou desistir, Doug. — Ela falou e um


enorme sorriso tomou conta do rosto dele, ela pôde
observar cada detalhe de seu rosto. Tudo parecia
milimetricamente perfeito, o cabelo extremamente
preto contrastava com a pele pálida e os olhos
azuis, o rosto tinha uma expressão máscula e ao
mesmo tempo delicada. Como se cada detalhe dele
tivesse sido perfeitamente desenhado. Ela precisou
piscar algumas vezes para voltar a si, precisava
falar algo, não queria que ele fosse embora. — Eu
vou fazer exames hoje?

— Alguns, aposto que Marcel já deve ter


passado por aqui e conversado com você. — Ele
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falou com a voz um pouco impassível, ela tentou


decifrar os sentimentos que se passavam pela
cabeça dele, mas era péssima naquilo.

— O loiro? — Ela perguntou.

— Sim, o loiro. — Ele falou dessa vez com


um pouco de raiva na voz.

— Ele não conversou muito, apenas fez um


exame. — Ela sentiu o peito apertar e seu olhar foi
parar novamente nas pernas, uma vontade constante
de chorar tomou conta de seu peito.

Douglas seguiu o olhar dela e pareceu ter


entendido o que havia acontecido, pois em seu
rosto uma expressão de angústia se instalou.

— Eu não quero ficar assim. — Ela falou com


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o olhar perdido.

— Não vai. — Ele assegurou.

Ela olhou novamente para ele e se perdeu em


seus olhos, toda a confiança que eles passavam
fazia com que ela tivesse certeza de que não iria
ficar daquele modo. Ela sabia que ele faria de tudo
para ajudá-la e isso simplesmente por aquele olhar.

— Daqui a uns meses você estará nadando e


pulando na piscina do Country clube novamente.
— Ele piscou para ela e ela sorriu.

— Como sabe disso? — Ela o olhou surpresa.

— Eu estava lá. — Ele deu de ombros. — Só


não me aproximei de vocês, naquela época Thomas
e eu não éramos muito chegados e eu não sabia o
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que falar. — Ele passou as mãos pelo cabelo.

— Ele é um pouco ciumento quando se trata


da Kate. — Ela sorriu. — E até eu jurava que vocês
dois tinham algo, por causa do dia em que você a
levou em casa.

— Kate é como uma melhor amiga. Desde o


primeiro dia se mostrou uma ótima pessoa e no
início daquele dia eu havia sido um completo idiota
com ela, estava procurando um modo de me
desculpar. — Falou sem graça.

— Entendi. — Foi a única coisa que ela


conseguiu falar.

— Doutor Fitiz, emergência na ala D. — A


voz de uma mulher surgiu nos alto falantes. —
Doutor Douglas Fitiz, comparecer à ala D.
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— Preciso ir. — Ele falou. — Você vai ficar


bem? — Perguntou e ela assentiu. — Daqui a
pouco as visitas serão liberadas e você verá seus
parentes, eles estão todos preocupados lá fora. —
Piscou para ela.

— Estou ansiosa para vê-los. — Ela sorriu.

— Até mais tarde, pequena. — Ele se


aproximou e depositou um beijo em sua testa.

A menção daquela palavra fez com que um


Flash de memória invadisse a mente dela, a voz de
Douglas começou a pairar sobre a sua mente.

— Voltei novamente, pequena. Faço isso todas


as noites na esperança de que você volte. Nessas
últimas semanas eu descobri que preciso ver você,
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me sinto vazio quando não o faço. Passo o dia


ansioso para te ver, saber como você está reagindo
e poder falar com você. Tenho esperanças de que
quando você acordar, lembrará das minhas palavras
e das palavras de todos os outros que te visitam.
Mesmo que não possa me responder agora,
esperarei por respostas quando você acordar.

Ela voltou a si quando ouviu o barulho da


porta batendo e percebeu que ele já não estava mais
no quarto. Respostas. Ela pensou, se perguntou
sobre o que seriam as respostas. Tentou forçar a
mente para que mais lembranças voltassem, só que
nada acontecia. Sabia que precisava esperar até que
tudo ficasse claro em sua mente, mas a ansiedade
fazia com que ela quisesse as memórias naquele
exato momento.

Depois de alguns minutos apenas olhando para


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o teto, Madson ouviu a porta bater novamente e


uma mulher morena baixinha, que parecia ter por
volta dos 50 anos, entrou no quarto com uma
bandeja de comida.

— Olá, querida. Como se sente? — A mulher


perguntou enquanto colocava a bandeja em cima da
mesa.

— Bem. — Madson sorriu com simpatia.

— Eu vou levantar um pouco a cama para que


você possa comer, tá bom? — Madson apenas
assentiu.

A enfermeira apertou alguns botões em um


pequeno controle e a cama começou a subir de
modo lento, até que Madson estivesse sentada.

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— Precisa de ajuda para pegar a comida? — A


enfermeira falou enquanto posicionava a bandeja
em cima das pernas de Madson.

— Não sei. — Madson falou e tentou mover a


mão até a colher que havia ao lado de um tigela de
sopa.

Com certa dificuldade ela segurou a colher e


levou até o recipiente, enchendo-a com a sopa.
Devagar ela levou até a altura da boca e soprou um
pouco, para garantir que não se queimaria, antes de
finalmente colocar na boca. A sopa simplesmente
não tinha gosto algum e Madson se perguntou se
pelo menos tinha algum valor nutritivo. Ela pôde
sentir quando a sopa desceu pela garganta de modo
lento, o que foi um pouco doloroso. Ela fez uma
careta e o estômago dela roncou, fazendo um
barulho baixo.
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— Sei que pode estar um pouco


desconfortável agora, mas depois você vai se
acostumando. — A mulher falou. — A propósito,
eu me chamo Lauren. — Ela sorriu.

Madson levou outra colherada da "sopa" até a


boca, repetindo o mesmo processo de antes. Não
era algo muito consistente, era como apenas um
líquido sem cor. Ou ela ainda não conseguia sentir
o gosto das coisas ou o cozinheiro daquele lugar era
terrível.

----

Douglas vestiu o jaleco branco e andou


rapidamente até a sala de emergência da ala D, fez
a higienização necessária antes de colocar as luvas,
a touca e a máscara e finalmente entrar na sala. Na
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maca, havia um jovem com um corte enorme na


cabeça, um foco de luz forte estava sobre ele e
alguns enfermeiros estavam ao redor dele
preparando os objetos e anestesias.

— O que houve com ele? — Douglas


perguntou e sua voz saiu um pouco abafada por
causa da máscara.

— Briga de rua, acho que tinha envolvimento


com gangues. Ele foi empurrado em um duto de
esgoto e o ferro cortou a sua cabeça, ele também
bateu a cabeça com força no concreto, fazendo com
que tivesse uma lesão na porção frontal do cérebro.

— Me passe a anestesia. — Douglas falou


estendendo a mão para o enfermeiro.

Pegou a anestesia e encarou o enorme corte


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aberto na cabeça daquele jovem. Levou a agulha


até a cabeça dele e a colocou com cuidado,
segurando parte do couro cabeludo enquanto um
pouco de sangue escorria. Aplicou três anestesias e
precisou esperar um pouco antes de começar os
procedimentos.

— Fiquem atentos a respiração dele. —


Douglas falou para os outros dois enfermeiros ao
seu lado. — Quero uma bombinha de ar preparada
para quando a cirurgia começar.

Foram quase duas horas na cirurgia, foi


preciso remover um pedaço de metal que estava
preso no canto superior da cabeça do jovem, e mais
alguns procedimentos antes de dar os pontos.
Douglas se perguntava por que as pessoas se
metiam em situações como aquelas, aquele jovem
poderia estar estudando ou até mesmo trabalhando,
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ao invés de estar metido com coisas erradas.


Poderia ter um futuro brilhante pela frente.

Douglas removeu o jaleco, as luvas, a touca e


a máscara. Estava exausto, mas sem vontade
nenhuma de voltar para casa, na verdade ele sentia
que era impossível voltar para casa quando Madson
estava ali. Sentia necessidade de estar ao lado dela.

A primeira coisa que fez quando saiu da sala


de cirurgia foi voltar para a ala C e ir novamente ao
quarto de Madson. Precisava levá-la para fazer
alguns exames e também queria ouvir novamente a
voz dela, era impressionante o modo como ela tinha
um efeito sobre ele. Ele entrou no quarto olhando
para um prontuário que tinha em mãos e quando
olhou para a cama percebeu que ela estava
dormindo, se aproximou devagar e parou ao lado da
cama.
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Douglas se permitiu ficar alguns minutos


apenas a olhando dormir, parecia um anjo, os
cabelos castanhos escuros quase pretos estavam
espalhados no travesseiro, o rosto que antes estava
pálido e sem vida agora estava com um pouco mais
de rubor, os lábios que antes estavam roxos haviam
voltado a cor rosa quase vermelho. Ele se conteve
um momento antes de acordá-la, queria passar mais
alguns minutos a admirando, mas tinha que levá-la
para fazer os exames.

Ele levou a mão direita até o rosto dela e


acariciou com cuidado, observou o modo como a
cicatriz em seu rosto estava quase sumindo, se
perguntou se ela já havia visto aquilo e como
reagiria.

— Mad. — Chamou passando a mão pelo


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cabelo dela.

Ele pôde ver a imagem dela acordando em


câmera lenta na sua mente, o modo como ela
piscou várias vezes os olhos e se remexeu na cama
para poder finalmente abri-los e o encarar. Aqueles
olhos cor de mel estavam fixos nos dele, por alguns
segundos os dois ficaram assim, apenas se olhando.

— Boa tarde. — Ele falou para quebrar o


silêncio.

— Que horas são?

— Quase quatro. — Ele disse olhando para o


relógio prateado em seu pulso. — Não queria te
acordar, mas preciso te levar para fazer alguns
exames. — Ele sorriu para ela passando a mão pelo
cabelo, fazia isso quando estava sem jeito.
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— Dói? — Ela perguntou com uma expressão


de preocupação no rosto.

— Não, pode ficar tranquila. — Ele sorriu. —


Vamos apenas fazer um exame de vista e um raio X
da sua perna, para saber se já podemos retirar a
bota de gesso.

— Tudo bem então.

Douglas caminhou até o canto do quarto e


arrastou uma cadeira de rodas até a cama, ele
percebeu a tristeza no olhar dela quando seus olhos
se fixaram na cadeira.

— Será por pouco tempo. — Ele afirmou e ela


sorriu. — Vou precisar te pegar no colo para
colocar na cadeira, tudo bem? — Ele perguntou
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enquanto travava as rodas da cadeira.

— Tudo bem. — Ela ruborizou.

Ele puxou o lençol que cobria o corpo dela e o


colocou de lado na cama. Passou um dos braços por
baixo das costas dela e aos poucos a levantou até
que ela estivesse sentada. Ainda segurando suas
costas, passou outro braço pela parte de trás dos
joelhos dela.

— Consegue segurar meu pescoço? — Ele


perguntou e ela assentiu, levando os dois braços até
o pescoço dele. — No três eu vou te levantar,
segure firme. Um... Dois... Três. — Ele a levantou
devagar.

Naquele momento os seus olhos se cruzaram, a


profundidade no olhar dela fez com que ele se
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perdesse por um momento, esquecendo o porquê de


estar ali. O olhar dele desceu dos olhos dela até a
sua boca rosada, sentiu vontade de beijá-la naquele
momento. Foi preciso juntar todas as forças que
tinha para não o fazer, ele não queria assustá-la.
Depois de respirar fundo, a colocou na cadeira com
cuidado, se abaixando em seguida para colocar os
pés dela no encalço da cadeira.

— Tudo bem? — Perguntou assim que se


levantou. Ela apenas assentiu e seu rosto corou
novamente, ele desejou saber o que ela estava
pensando naquele momento. Ele destravou as rodas
e se posicionou atrás da cadeira, começando a
empurrá-la em direção à porta.

Ele saiu de trás da cadeira apenas para abrir a


porta e seguiu com ela pelos corredores, o silêncio
entre os dois estava começando a incomodá-lo. Ele
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sentia uma necessidade constante de ouvir a voz


dela, para saber se ela estava bem. Respirou fundo
antes de abrir a porta da sala do primeiro exame, o
de vista. A oftalmologista os recebeu com um
sorriso enorme estampado no rosto, parecia estar
tentando passar confiança para Madson.

— Olá, eu sou Megan Parker. — A mulher


falou olhando para Madson. — Você deve ser a
Madson.

— Isso. — Madson assentiu sem graça.

— Pode deixá-la em minhas mãos agora,


Doutor. — A médica falou de modo simpático.

— Se não se importar, eu gostaria de ficar


durante o exame, ela é uma paciente importante e
eu não tenho nenhum compromisso por agora. —
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Ele falou e Madson olhou diretamente em sua


direção, surpresa.

— Por mim tudo bem. — Megan falou e olhou


para Madson que assentiu.

Durante o exame, Douglas se manteve atento a


tudo o que Megan falava, no final eles descobriram
que Madson precisava usar óculos, por causa do
acidente a visão dela havia ficado um pouco
danificada para longe. Ela estava com um grau e
meio de miopia no olho direito e um grau no olho
esquerdo. Precisaria usar os óculos para que esse
grau diminuísse novamente, o que levaria alguns
meses.

Depois ele a levou para fazer um raio X da


perna e como previsto ela já poderia tirar a bota de
gesso, o que aconteceria no dia seguinte. Já era
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começo de noite quando o exame acabou. Durante


o caminho de volta para o quarto, Madson se
manteve calada e Douglas pôde observar o modo
desconfortável como ela mexia nos dedos.
Chegando ao quarto ele parou novamente a cadeira
próxima a cama e posicionou os braços em volta de
Madson para colocá-la na cama.

Ela estava com os braços em volta do pescoço


dele e seus rostos próximos, Douglas sentiu a
vontade de beijá-la voltar novamente. Ele a deitou
na cama com cuidado e quando ela já estava
deitada, foi incapaz de se afastar, uma de suas mãos
ainda estava na cintura dela e os braços dela ainda
estavam em volta de seu pescoço, nenhum dos dois
fez menção de soltar. Ele olhou diretamente nos
olhos dela, tentando se convencer que era forte o
suficiente para não beijá-la naquele momento. Não
teve muito tempo para pensar, logo ela levantou o
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rosto e o beijou.

Inicialmente ele se assustou, não esperava por


aquilo, mas depois retribuiu o beijo com paixão.
Naquele momento ele sentiu uma estranha corrente
elétrica percorrer todo o seu corpo, o coração
acelerou, a pele queimava onde as mãos dela o
tocavam. Ele apertou um pouco mais a cintura dela,
se deixando aproveitar aquela situação, era melhor
do que em seus pensamentos. O modo como se
sentiu foi tão intenso que ele se perguntou se
conseguiria afastar-se dela. Quando o beijo cessou,
ela tirou as mãos do pescoço dele e novamente
começou a ficar corada. Eles permaneceram se
encarando, incapazes de quebrar a conexão entre
seus olhares.

— Me desculpa. — Ela falou com a voz baixa.


— Eu não deveria...
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Ele não esperou que ela terminasse de falar e a


beijou novamente, um beijo rápido dessa vez.
Antes de se afastar dela, depositou um beijo rápido
em sua testa. Os dois permaneceram se olhando,
sem saber o que dizer ou como agir. Ele passou a
mão pelo rosto dela.

— Eu preciso ir. — Falou sem vontade, não


queria sair daquele quarto, mas precisava olhar
como o paciente que havia feito a cirurgia mais
cedo estava.

— Você vai voltar? — Ela perguntou e ele


assentiu. — Fica comigo essa noite. — Ela pediu.

— Eu fico. — Ele falou ainda a olhando nos


olhos.

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Capítulo 9

Madson teve a confirmação do que


desconfiava quando tomou coragem e beijou
Douglas. O modo como as suas línguas se tocaram,
fazendo com que um arrepio percorresse seu corpo,
havia dado a ela a confirmação de que estava
apaixonada por ele. Por um momento desejou ser
mais forte, mais forte para poder ter resistido e
esperar ele a beijar. Agora, não sabia se ele gostava
dela ou se ela estava forçando aquele beijo, mesmo
tendo sentido que ele a correspondeu.

Ela estava jogada naquela cama de hospital,


olhando para o teto e mexendo nos dedos,
totalmente angustiada. Se repreendia mentalmente

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por ter pedido a ele que passasse a noite ao seu


lado, sabia que isso era muito. Ele deveria estar
cansado por ter passado o dia inteiro no hospital, e
ela também deveria descansar por causa dos
remédios que estava tomando. Mas seu coração
estava tão acelerado que ela sabia que não
conseguiria dormir antes de vê-lo novamente.

Ela sabia que deveria estar chorando, ou


totalmente depressiva porque ainda não conseguia
mover as pernas, mas simplesmente não conseguia
ficar triste quando pensava nele. Não conseguia ser
pessimista quando ele lhe dizia que tudo iria ficar
bem. Acreditava cegamente no que ele dizia, ela
não sabia se isso era efeito do beijo, ou se
simplesmente sabia que tudo iria ficar bem. Talvez
as duas opções, mas o caso era que naquele
momento, ela não conseguia pensar em nada que
não envolvesse Douglas. Parecia até uma daquelas
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fãs psicopatas, pensando no que ele estava fazendo


naquele momento, que horas ele chegaria no quarto
e como seria quando ele a olhasse. Ela esperava
que todos aqueles explosivos que explodiam em
sua barriga toda vez que o via, explodissem na dele
também. Ou que, no mínimo mil borboletas se
remexessem no estômago dele, o fazendo ter
certeza de que a amava.

Amar?! Isso é insano, Madson, pare de pensar


nele. — Ela se repreendeu mentalmente.

Porém não era tão fácil, se fosse assim ela teria


escolhido dormir e esperar por ele. Mas os olhos se
recusavam a fechar, ela não queria perder um só
instante dele, para que as imagens ficassem
gravadas em sua mente quando ele não estivesse
ali, assim, sempre o teria por perto.

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Uma batida na porta tirou Madson de seus


pensamentos, o coração dela saltou no peito, ela
olhou para a porta esperando que fosse Douglas,
mas ao olhar percebeu que não era ele e sim Beth,
com uma bandeja cheia de comida torturante.
Madson gemeu em desgosto, não estava nem um
pouco a fim de comer aquilo e sabia que Beth
ficaria no quarto até que ela terminasse de comer.

— Boa noite, Madson. — Ela falou.

— Boa noite, Beth. — Madson respondeu sem


vontade, Beth poderia até ser uma pessoa legal,
mas a comida era realmente ruim.

— Trouxe algo para você.

— Essa comida é péssima. — Madson


reclamou.
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— Eu sei disso. — Beth fez uma cara feia. —


Mas você precisa comer dela até o seu organismo
se acostumar. Sinto muito.

— Eu sinto mais ainda. — Madson falou.

— Seja boazinha, Madson. — Beth falou. —


Eu vou ajustar a sua cama, ok?!

— Ok.

Madson sentiu a cama começar a se inclinar,


demorou alguns segundos até que Madson estivesse
sentada.

— Quer ajuda com a comida? — Beth


perguntou.

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— Preciso fazer isso sozinha.

— Sabe que ainda é muito cedo, né?! Você


pode levar o tempo que precisar para se recuperar,
estou aqui para ajudar.

— Sei disso, mas me sinto um pouco menos


impotente fazendo algo sozinha. — Madson sorriu,
mas não um sorriso verdadeiro, não estava feliz.
Quando Douglas estava perto dela, ela conseguia
ficar feliz, mas bastava só ele se afastar para ela
tomar um choque de realidade.

— Aqui. — Beth falou colocando a bandeja


sobre as pernas de Madson e entregando a ela uma
colher.

— Obrigada.

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— Posso interromper as duas? — Madson


sentiu o coração acelerar assim que ouviu a voz de
Douglas, agradeceu por não estar usando o
equipamento para controle cardíaco naquele
momento.

— Fique à vontade, Doutor Fitiz. — Beth


falou. — Posso deixá-la sobre a sua custódia?

— Claro. — Ele falou e sorriu, Madson ficou


o encarando, só percebeu que Beth havia saído
quando ouviu a porta bater.

— Você voltou. — Ela falou sem conseguir


tirar os olhos dele.

— Eu disse que voltaria. — Ele caminhou até


uma poltrona e sentou lá. — Você precisa comer.

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— Essa comida é horrível. — Ela falou e fez


uma careta.

— É para o seu bem e acredite em mim, eu sei


o quanto é ruim. Nos meus anos de residente eu
precisava comer dela. — Ele deu de ombros.

— Sério?!

— Infelizmente sim, não sobrava muito tempo


para procurar algo melhor.

— Você está cansado? — Ela perguntou de


repente.

— Talvez um pouco. — Ele sorriu.

— Está trabalhando há quantas horas?

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— Quase 24 horas, mas já estou acostumado.


— Ele se levantou e caminhou até ela. — Coma. —
Falou apontando para a comida.

— Eu me sinto uma criança nesse hospital. —


Ela resmungou e colocou uma colher da sopa de
água na boca, fazendo careta logo em seguida. —
Isso tem tanto gosto quanto água. — Colocou outra
colher na boca.

— Seja boazinha. — Douglas sorriu de lado.


Ela apenas fez careta e continuou tomando a sopa.

— Não consigo me concentrar com você me


olhando desse modo. — Ela falou e olhou para ele
entre os cílios.

— Desde quando se precisa de concentração


para tomar uma sopa?! — Ele ergueu uma
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sobrancelha.

— Eu preciso. — Deu de ombros.

---

— Você nunca aprendeu a andar de bicicleta?


— Madson perguntou abismada. — Todo mundo
sabe andar de bicicleta.

— Eu não. — Ele deu de ombros sorrindo.

— Você não teve infância.

— Acho que já passei da idade de aprender. —


Ele falou.

— Nunca é tarde demais para ser feliz. Minha


mãe sempre me disse isso. Aliás, quando ela virá
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me ver?

— Amanhã à tarde é o seu horário de visitas,


creio que todos virão te ver. — Ele falou.

— Eu não deveria estar assim, não é?!

— Como assim?

— Sorrindo, conversando, sem me dar conta


da minha real situação. Quero dizer... eu acordei
faz um dia e acho que...

— Não faça isso, Madson. — Douglas a


interrompeu. — Não desdenhe de você ser uma
mulher forte. O jeito que você está lidando com as
coisas é muito bom, você não precisa ficar
depressiva ou com raiva, porque sabe que no final
tudo ficará bem.
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— Será?

— Você confia em mim?

— Mais do que você imagina.

— Então sabe que ficará melhor, e como eu te


disse ontem, eu estarei aqui para ajudá-la. — Ele
pousou a mão sobre a dela e a apertou.

— Obrigada por isso. — Ela sorriu e virou a


mão para apertar a dele de volta.

Douglas se aproximou e lhe deu um breve


selinho nos lábios, imediatamente o rosto dela
corou, naquele momento teve certeza que não
estava sonhando. Ela se inclinou um pouco e levou
uma das mãos até o pescoço dele, eles se
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mantiveram desse modo por alguns segundos, um


olhando para os olhos do outro. Ela se aproximou
ainda mais e selou seus lábios nos dele,
imediatamente ele colocou uma mão atrás da
cintura dela e a outra na nuca, invadindo sua boca
com a língua.

---

Douglas nunca havia sentido uma sensação tão


maravilhosa quanto aquela, enquanto se beijavam o
coração dele se acelerou, tanto que parecia que iria
saltar do peito a qualquer momento. Como o beijo
dela era maravilhoso, aquele beijo fez com que
todos os nervos de seu corpo acordassem e ele
sabia que precisava parar. Não era certo estar
daquele jeito perto de uma paciente e ainda mais no
hospital.

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— Melhor pararmos. — Ele encostou a testa


na dela e falou ainda com os olhos fechados. — Se
continuar me beijando desse jeito eu vou ter que
sair do quarto.

— Estava ruim? — Ela perguntou parecendo


preocupada.

— Muito pelo contrário, esse foi o melhor


beijo da minha vida. — Ele confessou e
imediatamente lembrou-se de Sarah, de como o
beijo dela era terno e carinhoso.

O beijo de Madson era muito mais, era suave,


carinhoso, apaixonante, excitante e conseguia fazer
com que cada parte do corpo dele se manifestasse.
Se ele continuasse a beijá-la sabia que não iria
aguentar, por mais imoral que parecesse, isso não
era algo que ele podia se controlar.
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— Eu posso me meter em tantas encrencas por


causa disso. — Pensou alto. — Mas vale a pena.

— Eu sonhei com você. — Madson falou


fazendo-o abrir os olhos.

— Quando? — Ele perguntou.

— Quando estava em coma. — Ele se afastou


um pouco e a observou. — Você estava comigo,
quer dizer, eu não podia te ver, mas eu te ouvia.

Ao ouvir aquilo o coração dele acelerou, talvez


ela lembrasse de tudo, talvez ela soubesse que ele a
amava.

— Você se lembra o que eu dizia?

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— Algumas coisas sim, outras estão


aparecendo como lembranças aos poucos. Vai
demorar até que eu me lembre de tudo? —
Perguntou apertando a mão dele que ainda estava
na sua.

— Talvez, ainda não posso afirmar. Me diga o


que você se lembra.

— Você dizia que estava comigo, pedia para


que eu lutasse para sobreviver e acordar, porque
todos estavam esperando por mim. — Uma lágrima
solitária escorreu pela bochecha de Madson. —
Você não sabe o quanto eu lutei, Douglas. Mas não
era fácil, teve momentos que eu só queria que
aquilo acabasse e eu pudesse deixar de existir. Teve
momentos que eu quis muito desistir.

— Você se lembra do que aconteceu? — Ele


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perguntou. — O que passou quando estava


desacordada?

— Era um corredor escuro, frio e cheio de


portas. Eu não consigo me lembrar do que tinha
atrás delas, mas era tão doloroso, meu coração se
partiu em todas as 21 portas. — Ela falou e ele
sentiu o coração apertar.

— O importante é que você está aqui agora e


eu não vou deixar que nada a machuque
novamente, isso é uma promessa.

— Obrigada. — Ela falou e mais algumas


lágrimas escorreram pelas suas bochechas.

— Tente dormir. — Ele falou passando a mão


pelo rosto dela.

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— Eu dormi por dois meses. — Ela


resmungou.

— É diferente agora, você precisa descansar


de verdade. Amanhã fará uns exames não tão legais
quanto os de hoje.

— Certo. — Ela falou começando a fechar os


olhos. — Amanhã você vai estar aqui?

— Vou sim, vejo você amanhã. — Ele deixou


um beijo na testa dela e saiu do quarto.

Douglas saiu do hospital e foi direto para casa,


estava cansado e precisava dormir um pouco antes
de voltar novamente ao hospital.

---

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— Eu já escolhi o meu quarto. — Brad falou


de repente, assim que Douglas entrou em casa.

— Eu havia me esquecido que você estava


aqui. — Douglas passou as mãos pelo cabelo, havia
esquecido totalmente que o irmão tinha aparecido
no hospital e pedido para ficar um tempo em sua
casa.

— Onde está a Abby? — Douglas perguntou


ao perceber que a casa estava muito silenciosa.

— Dormindo. — Brad respondeu sem tirar os


olhos do celular.

— Vou dormir também, por favor, não faça


barulho. — Douglas falou enquanto subia as
escadas.

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Antes de dormir tomou um banho morno,


assim que seu corpo atingiu a cama, pôde sentir
todo o cansaço do dia o invadir. Não havia
percebido que estava tão cansado até chegar em
casa, não demorou muito para que ele pegasse no
sono.
——-
Douglas olhou para os irmãos sentados no sofá
à frente da sua mesa, eles realmente não sairiam
dali até conseguirem o que queriam. Brad estava
com os braços cruzados e uma expressão
indecifrável, já Abby estava com um sorriso
esperançoso no rosto.

— Vocês dois não poderiam simplesmente me


deixar em paz? — Douglas falou revirando os
olhos.

— Não até você deixar eu ir para uma escolha


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normal. — Abby falou e cruzou os braços, seu


sorriso sumindo aos poucos.

— Não até você me emprestar um de seus


carros. — Brad sorriu de lado.

— Isso está fora de cogitação, Abby, e nem


pensar que eu entrego um dos meus carros a você,
Brad. — Douglas se levantou da mesa. — Agora se
vocês me dão licença, eu preciso cuidar de uma
paciente. — Ele começou a andar em direção à
porta e saiu por ela, ignorando os resmungos de
seus irmãos.

Douglas suspirou aliviado assim que passou


pela porta de madeira e ela se fechou atrás de si.
Ele não estava nem um pouco a fim de ceder aos
caprichos dos irmãos, simplesmente não podia
deixar Abby estudar em uma escola comum, ela
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havia sido criada em escolas apenas para moças,


uma mudança desse tipo poderia ser ruim para ela.
E não podia emprestar o carro para Brad sem ter
certeza se ele bateria na primeira esquina.

Douglas respirou fundo novamente e começou


a andar em direção ao quarto de Anna, precisava
fazer alguns exames de rotina e depois encaminhá-
la para um dos residentes a levar para uma
tomografia. Ele passou pelas portas de vidro da
UTI e caminhou mais um pouco até chegar na porta
branca do quarto de Anna. Tirou o estetoscópio do
pescoço e encaixou no ouvido, colocando a parte de
metal sobre o peito da pequena. A respiração dela
estava fraca e os batimentos cardíacos também, ele
não sabia se ela resistiria por muito mais tempo.

Alguns médicos do hospital estavam cogitando


a eutanásia, se fosse pensar pelo lado racional da
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coisa, poderia até ser a escolha certa. A menina não


tinha mais parentes, estava à beira da morte e
"ocupando" o lugar de alguém que poderia ter mais
chances de sobreviver. O problema era que
Douglas não conseguia pensar desse modo e por
esse motivo estava pagando todos os cuidados da
pequena. Pela primeira vez ele sentia que o seu
dinheiro estava sendo usado para algo correto, algo
que realmente valia a pena.

Ele não desistiria de salvar ela enquanto


houvesse chances de fazê-lo.

Douglas terminou os exames e a encaminhou


ao seu residente de confiança. Depois ele saiu da
UTI e caminhou diretamente até o elevador,
precisava ver a Madson, levá-la para fazer outros
exames e depois precisava ir até a emergência.

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— Bom dia. — Ele falou ao entrar no quarto.


— Como se sente? — Ele encarou Madson, ela
estava um pouco pálida e tinha uma expressão triste
em seu rosto.

— Bem. — Ela falou e sorriu de modo fraco.

— Não parece. — Ele se aproximou dela e


ligou a pequena lanterna. — Siga a luz com os
olhos. — Ele passou a lanterna de uma extremidade
da cabeça dela até a outra. — Tudo certo por aqui,
eu vou te levantar um pouco e checar os seus
pulmões, tudo bem? — Ele perguntou e ela apenas
fez que sim com a cabeça.

Ele colocou uma das mãos sobre as costas dela


e a outra sobre o tórax, a ajudando a se levantar.
Pegou o estetoscópio e colocou a parte de metal por
baixo da blusa dela do lado do pulmão esquerdo.
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— Respire fundo e solte o ar pela boca. — Ela


o obedeceu. — Outra vez e mais uma. — Ela
continuou respirando fundo. — Tudo bem, agora eu
preciso te levar para fazer alguns exames, lembra?
— Ela fez que sim com a cabeça.

Ele puxou o lençol que cobria o corpo dela e a


pegou no colo, como no dia anterior, a colocando
sobre a cadeira de rodas.

— Que exames vamos fazer? — Ela


perguntou.

— Alguns para checar qual será o método de


Fisioterapia que a doutora usará com você e
estamos vendo se é possível o uso de células tronco
para melhorar o seu desempenho. — Ele falou com
confiança em sua voz.
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— Você acha que é?

— Sim, apesar de não ser um método muito


usado por não ter garantias concretas, mas como
você já acordou com alguns movimentos quase
normais e com fala e consciência também normais,
tem grandes chances de se recuperar mais rápido. A
maioria dos pacientes que ficam em coma por
quase o mesmo tempo que você, acordam com mais
sequelas, às vezes precisam reaprender a falar,
reaprender o significado de algumas coisas. Como
se fossem bebês novamente.

— Então isso quer dizer que sou sortuda? —


Ela perguntou quase que para si mesma. — Irônico.

— Isso quer dizer, sim, que você é sortuda. —


Douglas parou de empurrar a cadeira e deu a volta
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nela, ficado de frente para Madson. — Não vou


deixar você desistir da recuperação, por mais difícil
que seja. — Ele se abaixou e passou a mão pelo
rosto dela. — Aliás, você prometeu que iria me
ensinar a andar de bicicleta. — Ele piscou e voltou
a empurrar a cadeira.

----

Depois de cinco longos exames cansativos,


Madson estava de volta ao seu quarto, a única coisa
mais forte que o seu cansaço naquele momento era
a sua fome, aquela comida que eles lhe davam no
hospital simplesmente não parecia servir de nada.
Madson estava assistindo a um noticiário quando
ouviu batidas na porta, rapidamente desligou a
televisão e falou um sonoro "pode entrar" para
quem quer que fosse.

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— Olá, maninha. — Kate entrou no quarto


com um enorme e brilhante sorriso estampado no
rosto, imediatamente Madson soube que algo bom
havia acontecido.

— Oi, loira. — Madson tentou retribuir com


um enorme sorriso para a irmã, mas estava um
pouco fraca... — Olá, mamãe, Tracy. — Falou com
carinho.

— Oi. — As duas responderam em uníssono, o


que a fez sorrir.

— Como se sente, amor? — Melissa


perguntou se aproximando de Madson e passando
as mãos pelo cabelo da filha.
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— Não sei ainda, mãe, Douglas me levou para


fazer uns exames. — Madson respondeu com a voz
triste. — A comida daqui é péssima. — Tentou
fazer uma piada, não queria um clima pesado ali.

— A comida da sua mãe é ótima. — Kate


falou e Madson automaticamente deu língua para
ela.

— Não me faça inveja, sua chata. — Ela


cruzou os braços.

— É tão bom ver as duas felizes. — Tracy


falou sorrindo.
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— Mãe, você poderia comprar comida para


mim. — Madson descruzou os braços e juntou as
mãos, queria tirar a mãe do quarto para poder
conversar com Kate e Tracy sozinha.

— Tudo bem, filha. Eu volto já. — Melissa


falou e as três esperaram ela sair do quarto para
começar a conversar.

— O que eu perdi? — Madson perguntou em


um sussurro.

— Muita coisa, eu agora sou a futura madrasta


da minha melhor amiga barra cunhada. — Kate
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falou e mostrou o anel para a irmã.

— Isso é tão confuso. — Tracy falou fazendo


uma careta e sorrindo logo em seguida.

— Isso eu já sabia. — Madson se gabou. —


Como John está? Com o negócio do Alex? — Ela
sentiu o coração apertar, sentia-se culpada por estar
viva quando ele não conseguiu sobreviver, era
como se tivesse roubado a vida dele.

— Ele está superando aos poucos, toda semana


visita o túmulo do amigo. — Tracy respondeu
sorrindo fraco.

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— Não, gente. Assuntos tristes hoje não. —


Kate falou. — Agora vamos ao assunto que
realmente interessa.

— E qual seria? — Madson perguntou


confusa.

— Douglas, é claro. — Tracy falou, ela e Kate


se aproximaram da cama. O simples mencionar do
nome dele fez com que os pelos do corpo dela se
arrepiassem, se elas soubessem.

— O que tem ele? — Madson perguntou


fingindo estar confusa.

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— Então você não sabe? — Kate se


manifestou.

— O que? — Madson deu de ombros.

— Ela não sabe. — Tracy falou espantada.

— Falem logo, vocês estão me deixando


nervosa. — Mad falou zangada, tentou cruzar os
braços, mas a dor a impediu, naquele momento ela
realmente não sabia do que as duas estavam
falando.

— Tudo bem, eu falo. — Kate disse. —


Desde a sua entrada aqui no hospital que Douglas
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não sai do seu lado. No começo eu pensei que fosse


preocupação de médico, já que ele era o médico
responsável por você na maior parte do tempo. Mas
um dia eu vim te visitar e ouvi uma voz masculina
vinda daqui de dentro, quando eu olhei pela fresta
da janela da porta, vi Douglas sentado aqui nesta
cadeira que estou. Ele segurava a sua mão direita
entre as dele e chorava ao falar com você, como se
você pudesse ouvi-lo. Ele pedia que você voltasse
para nós, dizia que iria cuidar de você como se
fosse dele. Havia tanta emoção nas palavras dele.
Quando eu entrei no quarto, ele se assustou, e
depois de conversar um pouco comigo ele acabou
confessando que vinha aqui todas as noites
conversar com você na esperança de que você
acordasse. — O coração de Madson deu um salto
no peito, naquele momento ela teve certeza de que
as vozes que estava ouvindo não eram apenas fruto
de sua mente.
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— Eu sonhei com ele. Com a voz dele na


verdade. — Madson confessou envergonhada.

— Isso é tão romântico. — Tracy disse com


olhar sonhador.

— Por que ele não me falou nada quando


acordei? — Madson perguntou.

— Não seria nada normal ele chegar e falar:


“eu estou gostando de você”. — Kate disse a última
parte imitando uma voz masculina.

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— Eu sei, você está certa. — Madson falou.

— Eu sempre estou. — Kate gabou-se.

Nesse momento um dos médicos chegou


avisando que o horário de visita havia acabado.
Enquanto Tracy e Kate saiam do quarto, ela fez
uma cara feia porque não poderia comer o que a
mãe tinha ido buscar e porque ficaria sozinha
novamente naquele quarto sem graça. Assim que o
médico saiu do quarto, ela pegou o controle e ligou
novamente a televisão, estava passando um filme
que ela não conhecia. Mas em sua mente deveria
ser melhor do que ficar olhando para o teto.

Depois de quase uma hora assistindo ao filme


extremamente meloso e exagerado, Madson ouviu
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duas batidas na porta. A pessoa não esperou que ela


respondesse, apenas entrou no quarto. Madson
observou o homem se mover em sua direção, ele a
lembrava alguém conhecido, ela só não sabia
distinguir ao certo quem era. Pelo fato de estar
usando um jaleco branco, ela julgou que ele deveria
ser algum médico que já a atendeu.

— Oi. — Ela falou chamando a atenção do


cara para ela.

— Você é a Madison? — Ele perguntou e ela


pôde ver que ele estava com algo nas mãos.

— Madson, na verdade. — Ela o corrigiu. —


E você quem é? — Ela levantou uma das
sobrancelhas.

— Brad Fitiz.
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— Irmão do Douglas? Você também é


médico?

— Sim e não, entrei aqui escondido. Estava


com muito tédio, não há nada o que fazer nesse
hospital. — Ele falou sentado na poltrona que havia
ao lado da cama. — Sua mãe pediu para eu lhe
entregar isso. — Ele estendeu para ela um pequeno
pote com uvas e morangos.

— Obrigada, a comida desse hospital é


realmente péssima. — Ela fez careta e pegou o
pote. — Você pode, por favor, levantar a cama? É
só apertar esse botão aí. — Ela apontou para o
controle.

— Claro. — Ele sorriu abertamente. — Assim


está bom?
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— Está ótimo, obrigada. — Ela sorriu e levou


um morango até a boca, o gosto era bem melhor do
que o esperado. — Por que escolheu o meu quarto?
— Ela perguntou mordendo mais uma vez o
morango.

— Soube que o meu irmão vem muito aqui. —


Brad deu de ombros.

— Você se parece bastante com ele. — Ela


observou o moreno à sua frente, ele também tinha
olhos azuis como os de Douglas, mas os seus eram
um pouco menos intensos. O cabelo estava cortado
de modo moderno e o corpo dele era mais magro e
não tão musculoso quanto o do irmão. Duas coisas
que eram idênticas neles, eram a boca e o queixo.

— Não mesmo. — Negou se recostando na


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poltrona.

— Parece sim, até o formato do rosto. — Ela


analisou. — Também vai ser médico? —
Perguntou.

— Não, quero ser advogado. — Ele sorriu


largamente. — Mas isso pode mudar, Douglas
também não queria ser médico quando estava com
Sarah.

— Sarah? — Ela tentou não parecer muito


interessada.

— A ex namorada dele. — Ele deu de ombros.

— E o que ele queria ser?

— Músico. — Ela ficou surpresa ao ouvir


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aquilo.

— Parece que há muito sobre ele que eu ainda


não sei.

— Você acabou de acordar, não é?! Quero


dizer, não tem como saber disso.

— Tem razão. — Ela sorriu sem graça.

— Você é irmã da Kate, não é?

— Aham. — Ela falou com a boca cheia.

— Eu a conheci na faculdade, ela é uma garota


legal. — Ele falou sorrindo.

— Ela tem um noivo. — Madson o fuzilou.

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— Por que todo mundo diz isso?! — Ele


sorriu. — Não estou interessado nela.

Madson conversou com Brad por cerca de uma


hora, até que ele teve que ir embora. Assim que ele
saiu, Thomas chegou e pouco depois Kate, que
começou a passar mal e Thomas precisou levá-la
até a enfermaria. Madson ficou preocupada com a
irmã, se pudesse iria atrás dela, mas depois que
Thomas a convenceu que ela estava bem,
conseguiu ficar um pouco mais tranquila.

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Capítulo 10
As duas semanas que se passaram não foram
fáceis, todos sabiam que não seriam, mas talvez
houvesse aquela pequena esperança de que tudo
seria fácil e lindo. Madson simplesmente não
aguentava mais ficar naquele hospital, os dias eram
todos tão iguais e vazios. Depois do dia em que ela
e Douglas se beijaram, eles não estavam mais tão
próximos e ela sequer sabia o porquê daquilo. Toda
vez que ele a olhava, ela podia perceber a paixão
transbordando de seu olhar.

Ele simplesmente estava distante quando


parecia querer estar perto. Ela não entendia o
porquê daquilo e também não tentava fazer nada
para que mudasse a situação, ao invés disso apenas

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o tratava mal. Sim, ela estava o tratando mal, estava


sendo uma pessoa insuportável de propósito.
Preferia que ele se afastasse de vez ao invés de
ficar nesse perto-distante. Poderia parecer loucura,
mas estava funcionando bem, isso a estava
ajudando a blindar o seu coração. O problema era
que não havia como mudar o que estava em seu
coração, não havia como evitar as reações em seu
corpo toda vez que o via. Não havia como deixar de
amá-lo.

A cada dia que passava, mais memórias


voltavam para ela. Quando fechava os olhos
sonhava que estava de volta ao corredor escuro,
abrindo novamente uma porta e vendo sua vida
como uma simples espectadora. Toda a dor voltava,
toda a angústia. Era quase um castigo reviver
aquelas cenas todas as noites. Mesmo com os
pesadelos e as lembranças tomando conta da mente
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de Madson a cada parte do dia, ela se mantinha


forte, por fora parecia extremamente bem. Uma
parte de seu coração estava feliz, a irmã havia
descoberto que estava grávida e já estava de
casamento oficialmente marcado. Outra parte
estava apagada, essa parte pertencia totalmente a
Douglas e o modo como estavam distantes, a
machucava de uma maneira que ela não sabia ser
possível.

A dor que sentiu ao ver o ex com outra era


miseravelmente pequena em comparação a dor que
sentia por saber que Douglas tinha uma namorada.
Ele não havia contado nada disso para ela, mas ela
teve uma lembrança sobre isso e a cada vez que
olhava para ele, o culpava. Ela queria que ele
tivesse esperado por ela, como disse que esperaria,
por mais egoísta que isso parecesse ser.

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— Como está se sentindo hoje? — Douglas


perguntou olhando para o prontuário em sua mão,
ele nem sequer olhou para ela desde o momento em
que atravessou a porta do quarto.

— Muito bem, poderia sair daqui correndo se


as minhas pernas não estivessem paralisadas. —
Ela falou de modo irônico o que o fez respirar
pesadamente.

— Isso não está ajudando. — Ele falou ainda


sem olhar para ela. — Você precisa querer
melhorar.

— Não entendo o porquê, adoro como todos


me tratam com pena. Poderia ser assim para o resto
da minha vida. — Ela falou revirando os olhos.

— Madson. — Ele finalmente abaixou a pasta


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e a encarou. — Você é melhor que isso.

— Sério?! — Ela sorriu de modo irônico com


algumas lágrimas nos olhos. — Porque pelo modo
como você me trata, parece que sou pior do que
isto. Apenas estou interpretando o personagem que
você me tornou. — Ela falou e sentiu uma lágrima
escorrer pelo rosto.

— Isso não é com...

— Isso não é com você, é comigo. Sério?! —


Ela sorriu de modo irônico. — Eu só preciso sair o
mais rápido possível desse hospital e nunca mais
olhar para você. — Ela fechou os olhos.

— Não diga isso, eu não suportaria ficar longe


de você. — Ele falou com a voz pesada.

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— Você já está. — Ela falou e virou o rosto,


abrindo os olhos e encarando a parede branca. —
Eu quero outro médico.

— Como assim?

— Quero outro médico para cuidar de mim,


não quero te ver.

— Madson, não faça isso. — Ele apertou o


prontuário que tinha em mãos. — Por favor, não
me distancie de você.

— Eu não estou fazendo, você fez. Sinto


muito, Doug. Não posso continuar olhando para
você e partindo meu coração.

— Não precisa ser assim... — Douglas parou


de falar assim que um dos internos entrou no quarto
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com a respiração ofegante e olhar alarmado.

— Dr. Fitiz, acabou de chegar uma


ambulância e precisam de você.

— Tudo bem, Daniel, prepare o paciente que


eu já estou indo. — Douglas falou e virou-se para
Madson novamente.

— Tudo bem. E senhor?! — Daniel chamou a


atenção dos dois, fazendo com que eles olhassem
diretamente para ele, que parecia relutante em falar.

— O que foi?

— Você deveria saber que é o pai da Alison.


— Madson sentiu o coração apertar e viu Douglas
estremecer na sua frente. Era o pai da namorada
dele que estava na ambulância, isso o deixaria
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arrasado. Por um momento ela sentiu-se culpada


por estar brigando com ele por algo tão idiota
enquanto algo mais sério estava acontecendo.

— Okay. — Foi a única coisa que Douglas


disse antes de Daniel deixar a sala. — Eu preciso ir.
— Ele falou para Madson ainda olhando para a
porta.

----

Douglas correu pelo corredor branco e


aclamou as escadas de emergência, desceu
rapidamente por elas enquanto vestia a roupa de
proteção branca. Já no final das escadas empurrou a
grande porta de ferro e a atravessou, de lá pôde ver
as duas ambulâncias encostadas com alguns
paramédicos removendo as macas delas.

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— Qual a gravidade? — Douglas perguntou a


Daniel que estava com uma prancheta em mãos.

— Acidente de carro, o outro motorista estava


embriagado e foi encaminhado para outro hospital.
A mulher está consciente e será tratada pela
doutora Kyle, o homem sofreu perda de
consciência e parada cardíaca durante o percurso.

— Encaminhe ele para a tomografia e depois


para o doutor Peterson. — Douglas falou encarando
os corpos dos pais de Alison sendo levados pelo
grande corredor.

Douglas passou as mãos pelos cabelos de


modo nervoso, não sabia o que iria fazer dali para
frente. A sua vida estava uma bagunça, as últimas
duas semanas haviam sido as mais corridas e
complicadas de sua vida. Ele queria se manter perto
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de Madson, mas estava sendo complicado, toda vez


que pensava em passar um tempo com ela havia
alguma cirurgia para fazer. Ele não sabia o porquê
do hospital estar naquele ritmo caótico, mas todos
do hospital estavam com as agendas cheias.

Douglas voltou a caminhar pelos corredores e


começou a tirar a roupa de proteção, deixando-a em
um cabide antes de sair da ala de emergência.
Segundo Daniel, já haviam ligado para Alison e ela
estava a caminho, ele sabia que precisava falar com
ela, mas temia que ela não quisesse falar com ele
depois do que aconteceu. Douglas parou atrás da
última porta que o separava da sala de espera do
hospital e respirou fundo, antes de finalmente
empurrá-la.

Assim que atravessou a porta, pôde ver Alison


do outro lado da sala, havia uma outra mulher com
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ela, parecendo um pouco mais velha, ela a abraçava


enquanto as duas choravam. A mulher falou algo
para Alison e ela imediatamente se virou e encarou
Douglas. Naquele momento ele pôde sentir toda
dor e mágoa que havia no olhar dela, ele sabia o
quanto deveria estar sendo difícil. Douglas
começou a se aproximar dela e tocou seu ombro,
antes de a envolver num abraço terno.

— Eles estavam vindo me ver, Doug. — Ela


falou com a voz fraca. — A culpa é minha. — Ela
completou começando a soluçar.

— A culpa não é sua, Ali, eles vão ficar bem.


— Ele passou a mão pelos cabelos longos dela. —
Farei de tudo para que eles fiquem, você confia em
mim? — Ele perguntou e sentiu ela balançar a
cabeça em seu ombro.

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— Confio. — Ele passou novamente a mão


pelo cabelo dela.

Douglas olhou pelo ombro de Alison e pôde


ver Madson, ela estava em sua cadeira de rodas
sendo empurrada por uma enfermeira, o olhar dela
estava diretamente nele e Alison. Quando Douglas
pensou em mexer os lábios e falar algo para
Madson, ela simplesmente virou o rosto. Naquele
momento ele teve certeza de que havia perdido uma
parte dela.

---

Madson fechou os olhos sentindo a dor tomar


conta de seu corpo, a médica estava fazendo os
exercícios da fisioterapia com ela e pela primeira
vez desde que começou, Douglas não estava junto.
Ela sabia que tinha dito a ele que queria outro
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médico, mas isso não era verdade, nunca poderia


ser. Ela precisava dele de um modo que sequer
conseguia explicar.

Mesmo que ela tivesse achado que afastá-lo


tornariam as coisas mais fáceis, não era bem assim,
afastá-lo era ainda mais doloroso.

— Você está sentindo dor. — A fisioterapeuta


comemorou.

— Sim. — Madson falou sem prestar muita


atenção.

— Você não entende?! Isso é bom, é a


primeira vez que você sente algo, isso quer dizer
que você está reagindo bem ao tratamento. —
Assim que a médica falou, ela fechou os olhos e se
entregou àquela sensação, havia esperança, ela
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poderia sim voltar a andar.

Madson apenas abriu os olhos quando sentiu


uma mão quente apertar a sua, ela olhou para a
pessoa que estava ao seu lado, era Douglas. Ele
estava ali e estava sorrindo. Ela deixou que as
lágrimas caíssem e apertou a mão dele de volta sem
conseguir quebrar o elo que havia se formado entre
seus olhares.

Nenhum dos dois se atreveu a falar nada que


pudesse estragar aquele momento, nada que
pudesse apagar a pequena faísca de esperança que
havia surgido no peito de Madson. Nenhum dos
dois percebeu quando a médica saiu da sala e os
deixou sozinhos. Nenhum dos dois percebeu o
quanto estavam cansados daquela briga, o quanto
precisavam um do outro para ficar bem. Até aquele
momento.
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Douglas era como um sol para Madson, todo o


seu mundo girava em torno dele e sem ele, só o que
havia era escuridão.

— Eu sinto... — Os dois falaram juntos e em


seguida sorriram.

— Eu sinto muito. — Douglas falou. — Não


tenho te dado toda a atenção que merece...

— Eu entendo, Douglas. — Ela falou o


interrompendo. — Eu entendo que além do hospital
você tem uma vida, que tem uma namorada e
precisa cuidar dela. — Ela tirou a mão debaixo da
dele.

— Espera, eu não tenho uma namorada.

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— Alison. — Ela falou sorrindo de modo


fraco.

— Não estamos namorando faz muito tempo.

— Eu lembrei de algo e depois vi vocês dois e


liguei as coisas. — Ela falou sentindo-se um pouco
envergonhada por isso.

— Talvez eu não tenha sido totalmente sincero


com você e não tenha deixado as coisas claras. —
Ele puxou a mão dela para si novamente. — Eu
estive esperando por você todo esse tempo, porque
desde o primeiro dia em que te vi, você não saiu
mais da minha mente. Desde aqueles poucos
segundos de uma troca de olhares, você tem sido
dona do meu coração. No começo eu estava tão
assustado que não queria admitir o que estava
acontecendo, fazia muitos anos que eu não me
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apaixonava e me apaixonar por uma completa


estranha não parecia algo certo. Você transformou
meus pesadelos em sonhos novamente, me deu uma
nova luz para seguir, mesmo sem saber que estava
fazendo isso. — Ele respirou fundo. — Ver você
chegar no hospital naquela ambulância, partiu o
meu coração em mil pedaços. Eu senti tanto medo
de te perder, tanto medo de perder a única chance
que eu tinha de amar. Mas meu coração foi se
reconstruindo com o passar dos dias, a cada vez
que eu falava com você. E eu fazia isso todo santo
dia, porque a única coisa que me fazia sentir bem
era você. Eu me apaixonei por você, Madson, a
cada dia que passava, mais eu me apaixonava por
você. E saber que você acordaria e não saberia o
que eu sentia me machucava, eu não podia
simplesmente chegar e lhe dizer que a amava,
parecia completamente insano. Você não me
conhecia, não me amava, mas eu decidi que a faria
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me amar. Nem que para isso eu levasse anos, eu


iria te conquistar. — Uma lágrima solitária
escorreu pelo rosto dele. — Eu tenho sido um
verdadeiro idiota esses últimos dias porque isso
estava engasgado na minha garganta, eu não
aguentava mais ter que esconder os meus
sentimentos. Eu a amo, Madson. — Ele inclinou o
copo e encostou a testa na dela, fechando os olhos
em seguida.

— Douglas... — Ela falou com a voz falha. —


Todos os dias que eu passei naquele lugar foram
um verdadeiro inferno, eu pensei em desistir tantas
vezes quanto era possível. Sabe o que me fazia
continuar? Você. Saber que você estaria aqui
quando eu acordasse, essa era a minha motivação.
Saber que eu poderia ouvir a sua voz novamente.
Eu sofri com você, Doug. Tudo o que me falava,
todos os sentimentos que você estava sentindo, eu
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sentia. Era como se nossas almas estivessem


conectadas e agora eu sei que elas realmente estão.
Você faz parte de mim e sem você, eu não sou
nada. — Ela deixou as lágrimas escorrerem pelo
rosto. — Você me dá forças para lutar, me dá
esperança para viver e me dá motivos para
acreditar. O seu beijo é capaz de me tirar da terra e
me levar para um lugar onde só existe nós dois,
sem problemas, sem preocupações. Um mundo
perfeito. Você é o meu sol, Doug. — Ela levou as
mãos até o rosto dele e o segurou. — Eu o amo. —
Ela fechou os olhos e sentiu os lábios dele contra os
seus.

O beijo que Douglas lhe deu foi ainda mais


apaixonado do que antes, nele ela pôde sentir toda a
mágoa se esvair, toda a esperança se reestabelecer.
Toda a vida tomar conta de seu corpo. O beijo dele,
como ela havia dito, era capaz de fazer com que
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todos os problemas sumissem. Só haviam os dois


naquele pequeno mundo e nesse mundo eles
poderiam escrever suas histórias colocando
reticências felizes ao invés de um final feliz.
——-
Douglas levou o estetoscópio até o peito da
pequena Anna e ouviu seu coração, estava batendo
num ritmo mais forte do que na última vez que
havia checado. Ele tirou o estetoscópio dali por
alguns segundos e ficou a encarando, o pequeno
anjinho já estava há dois meses entre a vida e a
morte. Quando Douglas pensou em se virar e ir
embora, viu algo que o surpreendeu. Anna havia
aberto os olhos e o olhava fixamente.

— Ei, princesinha. — Ele falou e não obteve


nenhuma resposta.

Pegou uma pequena lanterna e iluminou os


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olhos dela, passando de um lado para o outro. O


olhar da menina seguiu a lanterna, mas ela ainda
não parecia responder. Imediatamente ele bipou o
pediatra que estava de plantão e checou novamente
o pulso da garota. Se os olhos dela estavam
respondendo, significava que ela havia saído do
grau 4 do coma para o grau 2, e isso por sua vez,
significava que com os medicamentos corretos, eles
poderiam finalmente acordá-la.

Assim que o pediatra chegou, Douglas


conversou com ele sobre acordar ela e sobre os
medicamentos que poderiam usar para induzir o
cérebro dela a voltar ao funcionamento completo.
Eles tiveram que fazer alguns exames para ver se
isso seria realmente possível e depois precisaram
conseguir a autorização do chefe do hospital, que
aceitou que eles tentassem o método com uma
condição. Se ela não acordasse naquele momento,
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desligariam as máquinas que a estavam mantendo


viva.

Douglas achava um absurdo essa decisão, mas


estava confiante e por fim aceitou a condição do
chefe. Mesmo que não desse certo, ele não
desistiria da garota, não enquanto houvesse
esperança. Havia se tornado um médico para salvar
vidas e era isso que faria.

----

No final da noite, Douglas passou na UTI para


checar o estado do pai de Alison, segundo o
cardiologista que o havia atendido, a cirurgia havia
sido um sucesso e logo ele acordaria. Essa notícia o
deixou um pouco mais calmo, todas aquelas
preocupações estavam enchendo a sua mente.

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Depois de sair da UTI, Douglas decidiu ir até o


quarto de Madson, queria saber se ela queria que
ele passasse a noite ao seu lado, estava cansado,
mas não se importaria de continuar no hospital se
fosse para ficar com ela. Douglas caminhou
apressado pelo corredor do hospital e parou em
frente à porta do quarto de Madson ao ouvir a voz
do irmão lá de dentro. Olhou de modo discreto pela
pequena janela de vidro que havia na porta e pôde
ver o irmão sentado na poltrona ao lado de Madson,
inclinado para a cama, com um enorme sorriso no
rosto.

Naquele momento Douglas sentiu o sangue


subir até a cabeça e a raiva tomar conta de seu
corpo, sabia que o idiota do irmão estava dando em
cima da sua garota, era a cara dele fazer isso.
Douglas precisou se acalmar um pouco antes de
entrar no quarto, se não o tivesse feito, teria partido
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para cima do irmão e o arrancado de perto de


Madson. Só a possibilidade dele tentar beijá-la já o
deixava sem controle, ele sabia que era cedo para
ser tão possessivo em relação a ela, mas era
inevitável não se sentir assim.

Quando ele entrou no quarto e ela o olhou, ele


simplesmente esqueceu toda a raiva que estava
sentindo do irmão naquele momento, o modo como
ela o olhou, seus olhos brilhando e o enorme
sorriso em seu rosto, deu a ele a certeza de que ela
não teria olhos para outro, assim como ele não
conseguia se imaginar com alguém que não fosse
ela.

— Douglas. — Ela falou com um sorriso


enorme no rosto.

— Madson. — Ele falou tentando conter o


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sorriso que ameaçava surgir em seu rosto.

Os dois ficaram se encarando, alheios a tudo o


que estava a sua volta, encantados um com a
intensidade do olhar do outro. Naquele momento
era como se os seus olhos estivessem em uma
conversa secreta, onde mesmo sem palavras, eles
conseguiam se entender. A conexão entre seus
olhares apenas foi quebrada quando Brad
pigarreou, chamando a atenção dos dois. A
carranca de Douglas voltou ao seu rosto no exato
momento que ele se lembrou que o irmão estava ali
naquele quarto, atrapalhando os dois e tentando se
engraçar para cima da sua garota.

Ele simplesmente não conseguia evitar todo o


ciúme que estava sentindo naquele momento, o seu
peito estava apertado porque sabia que o irmão era
uma pessoa legal e também muito bonito. Ele tinha
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o tipo de beleza que poderia facilmente conquistar


uma mulher até mesmo se ele não tivesse cérebro, e
ele tinha um, um muito bom na verdade. Conseguia
ser divertido, inteligente e encantar as mulheres ao
mesmo tempo. Aquele conjunto todo era frustrante.
Douglas se perguntou mentalmente porque ainda
abrigava ele em sua casa, mas em seguida se
repreendeu, porque mesmo o irmão sendo um
canalha insensível às vezes — maioria das vezes —
ele ainda era o seu irmão.

— Brad. — Douglas finalmente o


cumprimentou com pouco humor.

— Irmãozinho. — Brad sorriu.

— Você não deveria ir buscar a Abby?! —


Douglas semicerrou os olhos.

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— Eu já estava indo fazer isso, apenas passei


para saber como essa moça linda está se saindo na
fisioterapia. — Ele falou sorrindo e olhando para
Madson, que sorriu timidamente e olhou para as
mãos em cima do colo.

Douglas apertou as mãos com raiva, sentia-se


totalmente descontrolado. O sentimento que sentia
naquele momento era tão intenso que parecia que a
qualquer momento ele iria sufocar ou explodir.
Nunca havia ficado tão inconstante, bem, não
depois de Sarah.

— Que bom. — Essa foi a única coisa que


Douglas conseguiu falar sem expressar o desprezo
em sua voz.

— Tchau, Maddy. — Brad se levantou e


depositou um beijo na testa dela antes de passar por
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Douglas e dar dois tapas leves em suas costas.

Douglas precisou respirar fundo para se


acalmar, não queria que Madson presenciasse o seu
descontrole, não podia assustá-la.

— Então vocês dois são amigos? — Douglas


perguntou, sentando-se na poltrona onde o irmão
estava.

— Você está com ciúmes? — Madson


retrucou com um sorriso divertido no rosto.

— Eu não estou com ciúmes. — Ele revirou os


olhos.

— Você está sim. Eu sei quando alguém está


com ciúmes. — Ela levantou uma das sobrancelhas.

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— Talvez um pouco. — Ele admitiu. — Foi


doloroso ver o modo como vocês dois têm
intimidade. — Ele falou quase que para si mesmo.

— Não temos intimidade. — Ela se defendeu.


— Ele apenas vem aqui e me diverte. — Deu de
ombros.

— Hum. — Ele emitiu um som de desprezo.

— Você fica uma graça com ciúmes. — Ela


brincou. — Está quase fazendo um bico de criança
birrenta. — O provocou.

— Simplesmente não tem como ficar com


raiva perto de você. — Ele sorriu.

— Ainda bem.

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— Como foi seu dia? — Ele aproximou um


pouco mais a poltrona e se inclinou contra a cama
dela.

— Foi bonzinho. — Ela deu de ombros. — Só


não aguento mais ficar nesse hospital, é
deprimente. — Ela fez uma careta. — E o seu?

— O meu foi ótimo, acho que as enfermeiras


nunca me viram de tão bom humor, graças a você.
— Ele piscou para ela. — Eu passei no quarto da
Anna, para ver como ela estava se saindo e
descobri que tem como acordá-la do coma, amanhã
cedo iremos tentar o procedimento.

— Sério?! — Ela perguntou, seus olhos


brilharam em expectativa. — Eu também fui vê-la
hoje cedo, ela parece um anjo.

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— Acho que ela é. — Ele falou pensativo. —


As chances dela sobreviver ao acidente eram tão
próximas de zero, é um milagre ela estar aqui
ainda.

— Quase zero? — O olhar dela ganhou


preocupação.

— Sim, quando o carro bateu na moto de


vocês, ele capotou, um grande pedaço de vidro
entrou no peito do pai e cortou sua aorta principal.
A mãe ficou inconsciente e a pequena Anna bateu a
cabeça e quebrou um dos braços, mas ficou
protegida entre o corpo dos pais. — Ele falou como
algo normal, mas ao ver o olhar assustado de
Madson, resolveu se desculpar. — Desculpe-me
por isso, sei que é muito para se pensar no
momento, mas a pequena Anna é uma guerreira,
assim como você. Vocês duas são um milagre. —
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Ele completou e ela corou na hora.

— Espero que dê tudo certo amanhã.

— Eu também.

Os dois conversaram por quase uma hora,


falaram sobre Alison e o seu pai, assunto que
parecia deixar Madson desconfortável. Falaram
sobre o que os dois estavam tendo, e Madson pediu
a ele que aquilo ficasse em segredo, não queria ter
nenhuma discussão com o pai no momento e não
queria que isso viesse a atrapalhar Douglas no
hospital, ela sabia das regras rígidas que haviam
sobre a relação entre médicos e pacientes. Douglas
só foi embora depois que ela insistiu muito,
dizendo que ele precisava descansar e que ela
também estava cansada.

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A contragosto, ele deixou o hospital, mas sabia


que o seu coração havia ficado ali, junto com
Madson naquele quarto, e sabia que só se sentiria
completo novamente quando a visse no dia
seguinte.

---

No outro dia o hospital estava um caos, várias


enfermeiras e médicos estavam ansiosos pelo
procedimento que finalmente poderia acordar o seu
"milagre", todos estavam muito envolvidos com a
história da pequena e por isso havia muita
expectativa sobre o que iria acontecer a seguir.
Ninguém sabia ao certo quantos danos ela havia
sofrido, não sabiam se a pancada em sua cabeça
havia atingido alguma parte importante do cérebro.
Ela poderia acordar sem fala, sem audição, sem
visão ou sem conseguir movimentar algumas partes
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do corpo. Tudo dependeria de como ela se sairia


nas primeiras 24 horas de observação.

Douglas estava com seu uniforme azul e jaleco


branco por cima, andando apressadamente pelo
corredor em direção ao quarto dela. Felizmente
essa não era uma operação, e por isso não
precisariam transferi-la de sala. Eles apenas iriam
aplicar medicamentos nela que estimulariam os
impulsos de seu cérebro e que, se tudo corresse
bem, a acordariam. Assim que ele entrou no quarto,
pôde ver o diretor do hospital em um canto, uma
equipe de enfermeiros em outro, preparados com
desfibrilador para o caso dela ter uma parada
cardíaca ou cardiorrespiratória e perto dela estava o
pediatra, apenas esperando a confirmação para
poder começar o procedimento.

Douglas acenou positivamente com a cabeça e


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o médico pegou uma das seringas com


medicamento e encaixou no pequeno tubo que
levava soro para a veia dela. Por um momento
Douglas deixou de respirar, esperando em
expectativa alguma reação dela. À medida que o
medicamento dentro da seringa acabava, mais
nervoso ele ficava por não ter nenhuma reação
vinda dela.

Um suspiro alto chamou a atenção de todos na


sala, a pequena garota em cima da cama começou a
tremer e se mover, seus olhos estavam assustados,
ela lutava contra os tubos que estavam em seu
corpo. Duas enfermeiras se posicionaram ao lado
dela e a seguraram para que ela não arrancasse
nenhum dos tubos e fios. De repente o monitor
cardíaco começou a mostrar uma queda de pressão
e em seguida a emitir um som contínuo. A equipe
rapidamente se posicionou com o desfibrilador,
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próximos a cama e passaram um gel nele.

— Carregue 200. — Douglas falou ao pegar o


desfibrilador.

Uma das enfermeiras abriu a roupa da menina


e ele posicionou o equipamento sobre o tórax dela,
dando a ordem para que o ligasse. Assim que o
choque a atingiu, o corpo da menina deu um salto
na cama, Douglas olhou para o monitor, esperando
que houvesse alguma mudança, mas o som
mantinha-se contínuo.

— Carregue 300. — Ele falou e fez sinal para


que o enfermeiro ligasse o equipamento.

O corpo da menina novamente deu um salto na


cama, Douglas olhou para o monitor, torcendo para
que o coração dela voltasse a bater. Acompanhou a
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linha verde até o final do monitor e de repente um


bip, o coração dela havia voltado a bater
novamente. Todos na sala suspiraram aliviados. A
pressão dela voltou a se estabilizar e ela abriu os
olhos novamente, parecendo fraca e atordoada.
Douglas entregou o desfibrilador para o enfermeiro
novamente e se aproximou da garota.

— Vai ficar tudo bem. — Ele falou e todos


comemoraram na sala.

Douglas olhou para o chefe no canto da sala e


percebeu que ele tinha um sorriso orgulhoso em seu
rosto. Aos poucos, os enfermeiros foram deixando
o quarto, que naquele momento estava quase vazio.
O pediatra estava ao lado de Douglas ajustando o
soro que a mantinha hidratada enquanto ele
checava novamente o coração dela. Eles só
precisavam acompanha-la nas próximas 24 horas,
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pois ainda poderiam haver quedas de pressão, o


corpo dela estava muito fraco e qualquer coisa
poderia ser fatal.

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BÔNUS DOUGLAS
Não é fácil deixar de lado todos os seus sonhos
para seguir um objetivo, quando Sarah morreu, foi
isso o que eu fiz. Deixei o sonho de me tornar um
músico famoso e estudar em uma das melhores
universidades de artes dos Estados Unidos, Juilliard
School, para seguir o meu mais novo objetivo,
tornar-me médico e salvar vidas. Escolhi estudar
em Stanford porque a faculdade me mantinha longe
do meu passado e perto dos meus objetivos. Não
posso dizer que me arrependo totalmente por ter
feito essa escolha, hoje em dia sou muito bom no
que faço e já salvei inúmeras vidas. Mesmo que eu
tenha perdido algumas, o que no começo era mais
doloroso, eu passava dias me martirizando por isso,
pensava que se não podia salvar uma vida, não

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tinha o porquê de estar ali.

Com o passar dos anos eu aprendi que mesmo


que algumas vidas se percam no caminho, eu tenho
a chance de salvar outras e lhes dar a oportunidade
de viver da melhor maneira possível. Outra escolha
que fiz e hoje não me arrependo foi ter escolhido a
neurologia ao invés da cardiologia, até porque, isso
colocou Madson no meu caminho, que hoje é o
maior bem que eu tenho. Eu achava que o meu
coração era um caso perdido antes de conhecê-la,
mas assim que a vi, uma pequena chama se
acendeu em meu coração e eu senti algo que achava
que nunca mais sentiria.

Há quem acredita que só se ama uma vez, eu


acreditava nisso, mas hoje, ao olhar dentro dos
olhos de Madson, percebo que isso é besteira. Eu
amei Sarah e hoje amo Madson, do mesmo modo, e
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acho que com ainda mais intensidade. Acho que


pelo fato de ter perdido o amor uma vez, hoje me
mantenho mais cuidadoso, mais ciumento e ainda
mais apaixonado.

Ver Madson chegar no hospital naquele


estado, entre a vida e a morte, fez com que a chama
que havia acendido em meu coração começasse a
se apagar. Por um momento eu senti que iria perdê-
la, mesmo que eu ainda não soubesse que a amava,
a dor que senti ao vê-la naquele estado foi tão forte
que seria capaz de fazer o meu coração parar.
Foram quase dois meses de agonia, dois meses
vendo o modo como ela estava lutando para
sobreviver, vendo como ela era extremamente
forte. Até mais forte do que eu.

Acreditem em mim quando eu digo que


homens choram, eu não tenho vergonha de dizer
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que chorei, chorei ao saber que a garota que eu


amei desde a primeira troca de olhares estava entre
a vida e a morte. E chorei ainda mais ao saber que
ela finalmente havia acordado, toda a sua luta e
toda a esperança haviam válido a pena.

Hoje, quando olho dentro daqueles olhos


castanhos, sinto a chama que há em meu coração
aumentar, a respiração falhar e o peito se apertar.
Toda vez que olho dentro de seus olhos, tenho a
certeza de que a amo e sempre amarei, mesmo que
um dia ela desista de mim, afinal, sou um cara
quebrado com um passado cheio de fantasmas. Mas
isso realmente não importa, o que importa é que
mesmo que ela me permita ficar ao seu lado por
dias, meses ou anos, o pouco de amor que me der e
a certeza de que ela estará feliz será suficiente para
me deixar bem.

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— Por que você está me olhando desse modo?


— Um doce sorriso surge em seus lábios e
imediatamente vejo suas bochechas ruborizarem.

— Estou te admirando. — Falei e um sorriso


bobo tomou conta de meu rosto.

— Está me deixando sem graça. — Ela se


remexeu na cama e puxou o lençol branco para
cima do rosto.

— Tudo bem, desculpa. — Falei me


levantando da poltrona em que estava e sentando
no canto da cama. — Eu amo o seu sorriso. —
Passei a mão pelo rosto dela.

— Só o sorriso? — Ela ergueu uma das


sobrancelhas de modo interrogativo, eu
simplesmente amo o humor dela.
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— Eu amo você inteira. — Falei e me inclinei


contra a cama. — Eu tenho uma boa notícia. —
Sussurrei contra os seus lábios.

— Ah é? — Ela perguntou parecendo meio


perdida, os seus olhos olhando dentro dos meus,
como se pudessem ver a minha alma.

— Aham. — Falei e a beijei, um beijo doce e


ao mesmo tempo sedento. Cada parte de mim
queria cada parte dela, é inexplicável o modo como
meu corpo reage em cada mínimo toque de sua pele
na minha.

— Me conte. — Ela sussurrou, após o beijo.

— Anna acordou. — Me afastei um pouco


para ver sua reação.
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O rosto de Madson se iluminou, lágrimas


surgiram em seus olhos e começaram a rolar
rapidamente pelas suas bochechas, um lindo e
emocionado sorriso tomou conta de seus lábios e
ela levou as mãos até o rosto cobrindo os olhos.
Aproximei meu corpo dela e a abracei, deixando
que a emoção do momento tomasse conta de mim.

— Eu posso vê-la? — Madson perguntou com


a voz embargada de emoção.

— Por enquanto não, mas assim que liberarem


as visitas eu te levarei lá.

— Douglas... — Ela chamou por meu nome e


eu me levantei para encará-la. — Eu tive outra
lembrança.

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— Me conte. — Passei o polegar pela sua


bochecha e enxuguei o rastro de uma lágrima que
havia passado por ali.

— Você me falou que quer adotá-la. — Ela


falou e vi seus olhos brilharem em expectativa.

— Eu quero. — Falei com toda a certeza que


tinha. — Agora que ela acordou, vou arrumar um
modo de dar entrada no processo.

— Quero fazer isso com você. — Ela revelou,


me deixando totalmente surpreso.

— O que você disse? — Perguntei para


confirmar o que havia acabado de ouvir.

— Eu quero adotá-la. — Ela falou.

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— Você sabe que não poderemos fazer isso


agora, não é?! — Falei, sentindo um aperto em meu
coração.

— Eu sei. — Admitiu com pesar.

— Vamos esperar até o momento certo. —


Peguei a sua mão e apertei. — Tudo bem? —
Perguntei em expectativa.

— Tudo bem. — Ela sorriu.

E foi naquele momento que eu tive certeza de


que ela é a mulher da minha vida. Naquele
momento eu confirmei o que já sabia, eu queria
passar o resto da minha vida ao lado daquela
mulher e se o que os outros pensariam já não me
importava antes, depois de ouvi-la dizer que queria
Anna, assim como eu, nada mais importava. Iria
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fazê-la minha para sempre, só precisava esperar o


momento certo e preparar algo perfeito.

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Capítulo 11

Madson estava no meio de mais uma seção de


fisioterapia, sentia o seu corpo doer, mas segundo a
fisioterapeuta isso era bom, significava que ela
havia voltado a sentir a sensibilidade do corpo. Nos
últimos dias ela estava se esforçando bastante para
melhorar, sabia que isso não seria rápido, mas
estava empenhada.

— Mais uma vez. — A fisioterapeuta falou


segurando o pé dela e a ajudando a levantar a perna
e a descendo em seguida. — Por hoje é só, vendo
como você está avançando rapidamente, acho que
logo você poderá ir para casa. — Madson sorriu
abertamente ao ouvir aquilo.

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— Isso seria maravilhoso. — Ela falou sendo


ajudada pela fisioterapeuta a levantar do chão.

— Ah, você chegou bem na hora. — A mulher


falou olhando além de Madson, o que chamou a
atenção dela e a fez virar parte do corpo para olhar
também.

Quem estava atrás dela era Brad, não Douglas


como ela esperava que fosse. Brad não a
incomodava, muito pelo contrário, ela havia criado
uma grande afeição por ele, porque quando estava
sozinha, ele sempre aparecia no quarto e os dois
conversavam. Brad era uma das únicas pessoas que
sabiam que ela e Douglas estavam namorando, não
que Douglas soubesse disso, pois morria de ciúme
do irmão. Além dele, só Abby e Tracy sabiam.
Madson ainda não havia contado para irmã porque
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achou que a incomodaria, e também não queria que


o relacionamento deles mudasse.

— Como essa mocinha está se saindo? — Ele


perguntou piscando para ela.

— Com muita determinação e força de


vontade. — A fisioterapeuta respondeu, parecendo
um pouco tímida.

Ele se abaixou e ajudou a mulher a levantar


Madson e a colocar na cadeira de rodas novamente.

— Eu a levarei de volta para o quarto. —


Falou e a mulher apenas concordou com a cabeça.

Madson acenou para a fisioterapeuta e depois


que eles se afastaram um pouco, falou. — Acho
que a Candice desenvolveu um pequeno tombo por
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você.

— Deve ser coisa da sua cabecinha linda. —


Brad falou pondo a mão sobre a cabeça dela.

— Ou você está cego. — Ela cruzou os braços.

— Tudo bem, eu vim te buscar justamente


porque queria conversar com você sobre algo, e
como é a única amiga que tenho por aqui e a mais
inteligente, acho que você pode me ajudar nisso. —
Ele falou e uma ponta de curiosidade surgiu na
mente de Madson. — Assim que chegarmos ao
quarto eu te conto tudo e você me diz o que acha,
espero que seja apenas loucura da minha mente.

— Você está me deixando curiosa. — Ela


falou mexendo nos dedos.

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— Ih, lá vem encrenca. — Ele falou e ela tirou


a atenção dos dedos para olhar para frente.

Douglas vinha na direção dos dois, com uma


carranca mostrando que não estava gostando
nenhum pouco daquela situação. Claro que ela
sabia o que viria a seguir, ele e Brad iriam começar
uma briga desnecessária. Madson adorava Brad,
mas ele poderia simplesmente parar de implicar
com o irmão, parecia que adorava aquilo. Madson
apenas balançou a cabeça antes de pensar no que
fazer, queria muito escutar o que Brad tinha a dizer,
mas não queria deixar Douglas de lado, pois sabia
que aquilo o incomodaria bastante.

— Eu levo ela daqui. — Douglas falou,


olhando diretamente para Brad.

— Não, tudo bem. — Brad falou e mesmo não


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olhando para ele, Madson sabia que ele estava


sorrindo de lado, era o que costumava fazer para
tirar o irmão do sério.

— Não sei se você entendeu isso como uma


pergunta, mas não foi uma. Estou dizendo que eu a
levo daqui. — Douglas falou com toda a sua
possessividade.

— Não sei porque você se importa, já que não


é mais o médico dela. — Brad provocou e Madson
revirou os olhos, sabia que ele usaria aquilo contra
Douglas.

— Quer saber, vocês dois podem ficar aqui


discutindo, eu vou para o quarto sozinha. —
Madson falou chamando a atenção dos dois. —
Vocês são irmãos, por que vivem se matando? —
Ela revirou os olhos sem paciência.
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— Ele está se intrometendo onde não foi


chamado. — Brad falou. — Lembra que eu te falei
que tinha que te contar algo? Então, é meio urgente.

— O que seria esse algo? — Douglas


perturbou.

— Um segredo meu e dela. — Brad falou.

Douglas parecia que iria responder com algo


grosseiro, mas seu pager tocou, chamando a
atenção dele e ele bufou irritado. — Eu preciso ir,
se ele te incomodar, me chama pelo pager que
chego em dois minutos e chuto a bunda dele para
fora do seu quarto. Tudo bem?

— Entendido. — Madson falou e Douglas


saiu, correndo pelos corredores do hospital. —
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Você não perde uma chance, não é?!

— Ele que provoca. — Brad falou sorrindo.

Depois de menos de cinco minutos, eles


estavam no quarto, Brad pegou Madson no colo e a
colocou sobre a cama. Era interessante o modo
como o toque dele não causava a mesma sensação
que o de Douglas. Quer dizer, ele a estava
segurando do mesmo modo que Douglas fazia, mas
isso não tinha nenhum significado, não fazia o seu
coração acelerar. Não lhe despertava desejo, não
havia nada ali, além de uma boa amizade. Por um
momento isso a deixou tranquila, estranharia se
houvesse algo a mais. Por mais que Brad fosse
homem, era um bom amigo e mesmo que muitas
pessoas não acreditassem em amizade entre homem
e mulher, ela acreditava.

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— Agora pode me contar tudo. — Ela falou


assim que ele se afastou da cama.

— Tudo bem, você escuta caladinha e só me


fala o que achou depois. Certo? — Ele falou
sentando-se na poltrona ao lado da cama.

— Conta logo. — Ela falou animada.

— Eu conheci uma pessoa essa semana, aqui


no hospital. A primeira vez que a vi, senti algo
diferente despertar dentro de mim, tipo uma
corrente elétrica presa dentro do meu coração.
Resolvi me aproximar para descobrir o que era
aquilo que eu estava sentindo. Puxei assunto com
ela e descobri que ela está aqui porque o pai está
internado, seu nome é Alison. E por alguma merda
do acaso, descobri que ela já teve um
relacionamento com o meu irmão. — Madson fez
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cara feia ao ouvir essa parte. — Eu tenho


conversado bastante com ela nesses últimos dias,
praticamente todos. Quando estou perto dela me
sinto nervoso, ansioso, meu coração parece querer
sair pela boca, minhas palavras saem embaralhadas
e nem se fala dos meus pensamentos. Volto a me
sentir a merda de um adolescente, da idade da
minha irmã. Eu sempre fui muito bom com
mulheres, mas ao lado dela eu simplesmente travo.
Me diga que isso não é o que eu estou pensando, e
é só loucura. — Ele pediu.

— Primeiramente, que carma, se apaixonar por


alguém que já namorou o seu irmão. Ela sabe que
você é irmão do Douglas?

— Não, não contei o meu sobrenome para ela,


bem, não o verdadeiro e ela aceitou sair comigo.

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— Tudo bem, você não está louco. Está


apaixonado e isso é uma coisa completamente
normal. — Madson falou e deu de ombros.

— Não é normal, não sou o tipo de pessoa que


se apaixona. — Ele revirou os olhos.

— Parece que agora é. — Madson sorriu e ele


fez cara feia.

— Que tipo de amiga ri da desgraça do amigo?

— Amigas sinceras fazem isso e não é


nenhuma desgraça, você apenas precisa aceitar que
está apaixonado e dar um jeito de conquistá-la.

— Pare de dizer essa palavra, ela me dá


calafrios.

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— Paixão? — Ela sorriu.

— Essa mesmo.

— Ainda vou viver para vê-lo cair de quatro


por uma mulher.

— Vai morrer depois de mim então. — Ele


cruzou os braços.

— Hora do remédio. — Uma enfermeira


entrou no quarto, chamando a atenção dos dois.

— Acho que essa é a minha deixa. Sei que


você vai descansar agora, então eu vou ser um
amigo legal e pensar no que conversamos. — Ele
falou e recebeu um sorriso em resposta, antes de
sair.

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----

Douglas passou a mão pelo longo cabelo


castanho de Madson e ficou a encarando dormir.
Ele amava fazer aquilo, amava ver a paz que
emanava dela toda vez que ela dormia. Poderia
parecer estranho e até um pouco irracional, mas ele
desejava poder vê-la dormir todas as noites, acordar
com os cabelos dela esparramados pela cama e seu
corpo parcialmente em cima do seu. Ele olhou para
a porta antes de depositar um beijo na testa dela,
estava prestes a deixar o quarto quando ela
começou a se espreguiçar e abrir os olhos. Ele a
observou piscar algumas vezes e um sorriso fraco
tomar conta dos lábios dela.

— Há quanto tempo está aí? — Ela perguntou


passando as costas das mãos pelos olhos.

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— Alguns minutos. — Ele falou e passou a


mão pelo cabelo dela novamente. — Na verdade eu
já estava de saída quando você acordou.

— Precisa ir embora? — Ela perguntou


enquanto seu sorriso sumia do rosto.

— Na verdade não, apenas tenho que ir dar


uma olhada em Anna. — Ele falou e o sorriso
voltou ao rosto dela.

— Será que eu posso ir junto?

— Isso seria maravilhoso, acho que você vai


adorar conhecê-la. — Ele falou. — Deixe-me te
ajudar a levantar da cama. — Ele falou passando
um braço por baixo do corpo dela e com a outra
mão segurando a cabeça dela.

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Com cuidado ele inclinou o corpo dela até que


ela ficasse sentada. Depois ele puxou o lençol que
cobria o corpo dela e a ajudou a colocar os pés para
fora da cama.

— Eu estive pensando. — Ela falou e parou


por um momento. — Quero criar uma lista de
coisas para fazer depois que eu recuperar os
movimentos das pernas, estou tentando ser positiva
e pensar que eu irei recuperá-los em breve.

— É uma ótima ideia, amor. — Ele a encarou


por um momento, deixando essa última palavra
fluir como uma melodia pelos seus lábios.

— Você pode me ajudar com isso, se quiser.


— O rosto dela começou a ruborizar.

— Eu adoraria. — Douglas falou e com


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cuidado a envolveu nos seus braços para então


transferi-la para a cadeira de rodas.

— Você acha que a Anna irá gostar de mim?


— Perguntou com receio.

— Tenho certeza que sim, quem não gostaria?!


— Ele perguntou sorrindo, enquanto se posicionava
atrás dela na cadeira de rodas e a empurrava para
fora da sala. — Também quero criar uma lista de
coisas para fazer. — Douglas falou com receio. —
Mas uma lista de coisas para fazer enquanto você
não recupera o movimento das pernas. Então
primeiro realizaremos a minha lista e depois a sua.

— Já tem algo em mente? — Ela perguntou.

— Quero tocar uma música para você, então


pode escolher a que quiser.
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— Eu adoraria ouvi-lo cantar. Principalmente


se fosse Sky full of Stars do Coldplay.

— Quando você menos esperar eu a cantarei


para você. — Ele falou e ouviu ela sorrir.

— Mais algum item?

— Pensei em te sequestrar para um piquenique


no campo.

— Parece uma ideia maravilhosa.

— Acho meio injusto eu te contar a minha


lista e você não me falar nada sobre a sua.

— O primeiro item é andar de patins, na


verdade, eu nunca aprendi a fazer isso, então se eu
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puder, quero aprender. Sei que parece algo bobo,


mas tem um significado especial. Uma nova
chance. — Ela falou, sua voz transbordava emoção
e paixão.

— Então eu te ajudarei nisso. — Ele falou


tentando conter o sorriso que começava a se formar
em seu rosto. — Quero saber outro item.

— Dançar na chuva. — Ela falou sonhadora.


— Como naquelas cenas de filmes românticos.

— Dançaremos na chuva.

— Quero fazer uma tatuagem também. Isso é


algo que eu nunca teria coragem de fazer.

— Que rebelde. — Brincou.

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— Você ainda não viu nada.

— Chegamos. — Douglas falou parando a


cadeira em frente à porta do quarto onde Anna
estava.

— Pode esperar um minuto, antes de entrar?


— Madson pediu colocando a mão sobre a de
Douglas.

Ele apenas assentiu e ficou parado ali, olhando


para Anna pela parte de vidro da porta. Ela estava
acordada, sentada na cama e parecia meio avoada a
tudo ao seu redor, seus olhinhos passeavam pelos
balões, flores e ursos que haviam em seu quarto
com certo receio. Pelos testes psicológicos que ela
havia passado ao decorrer da semana, parecia que
ela havia esquecido suas memórias mais recentes,
talvez nunca as recuperasse ou talvez elas
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surgissem em um determinado tempo da sua vida.


Pelos exames que Douglas havia feito, os
movimentos do corpo dela estavam bons, ela só
sentia algumas dores no corpo por ter passado tanto
tempo deitada e parecia estar com um pouco de
medo de se movimentar.

Logo uma fisioterapeuta iria começar a ajudá-


la nisso, então as dores diminuiriam e ela poderia
voltar a brincar e correr como todas as crianças de
sua idade. De todo modo, ela precisaria passar mais
dois meses internada no hospital, por causa dos
ferimentos em sua cabeça, eles precisariam ter
cuidado.

— Podemos entrar. — Madson falou


acordando Douglas de seus pensamentos.

Ele empurrou a porta e em seguida a cadeira


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para dentro do quarto. Rapidamente o olhar da


pequena criança caiu sobre ele e dele foi parar em
Madson. Ela já o conhecia, por isso toda vez que
ele entrava no quarto se animava, mas pelo fato de
não conhecer Madson, estava um pouco acanhada.

— Oi, pequena. — Douglas falou parando a


cadeira de Madson próxima a cama.

— Oi. — A menina respondeu com timidez.

Anna estava com pouco mais de três anos,


havia completado três anos quando estava em
coma, ninguém do hospital conseguiu comemorar
porque ela estava em coma, mas algumas pessoas
deixaram algumas cartas e mais flores. O quarto era
bem animado, ao contrário dos outros quartos do
hospital. Geralmente todos eram a mesma coisa,
brancos e sem vida, mas aquele estava com tantas
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flores, balões e ursos que não tinha como não se


destacar.

— Oi, querida. — Madson falou e a menina a


encarou, a analisando com cuidado.

— Quem é voxê? — Ela perguntou sem tirar


os olhos de Madson.

— Meu nome é Madson.

— Madxon. — Ela falou com dificuldade.

— Isso, pequena. — Madson sorriu,


encantada.

— Meu nome é Anna. — Ela falou mexendo


nos dedos das mãos, assim como Madson tinha
costume de fazer.
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Douglas encarou as duas com atenção, era


como ver a sua vida sobre os seus olhos, porque as
duas pessoas que ele queria em sua vida pelo resto
dela estavam sobre os seus olhos naquele momento.

— Puquê voxê está nexa cadeira?

— Eu sofri um acidente, estou nessa cadeira


para poder ficar melhor.

— Os médicos falaram que eu também sofri


um axidente. — Anna falou se esforçando para
falar as palavras de modo correto. — Meus papais
morreram, mas eu não me lembro deles.

— Sinto muito, minha pequena. Se isso ajuda,


eu e o Douglas vamos cuidar muito bem de você.
Sempre que eu puder estarei aqui e poderemos
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brincar e conversar, que tal?

— Voxês serão os meus novos papais? — Ela


perguntou com cuidado.

— Você quer que nós sejamos? — Madson


perguntou e a pequena assentiu com cuidado. —
Então seremos. — Madson afirmou, pegando
Douglas de surpresa, mesmo ela já tendo dito que
queria adotar a pequena com ele, ouvir isso
novamente ainda fazia com que o coração dele
acelerasse.

— Mas voxês não vão embora como os meus


outros papais, não é?!

— Não vamos a lugar nenhum, pequena. —


Madson afirmou.

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— Voxê é bonita, Madxon.

— Você também é linda, princesa.

— Quando eu melhorar, vou vixitar voxê no


seu quarto. — Um sorriso enorme estava no rosto
da pequena criança.

Ela passou a mão pelo cabelo loiro e o colocou


para as costas, levantando os ombros e sorrindo um
pouco mais.

— Se eu pudesse eu te daria um abraço agora,


mas estou presa nessa cadeira. — Madson falou e
sorriu.

— Quando eu ficar melhor, voxê vai poder me


abraxar.

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— Vou sim, querida.

— Ih, acho que tá na hora do remedinho. —


Anna falou e automaticamente Douglas e Madson
olharam para trás.

— Melhor nós irmos então. — Madson falou e


Douglas se posicionou atrás da cadeira dela
novamente. — Depois passamos aqui de novo, se
estiver tudo bem para você.

— Eu quero. — Ela falou e todos sorriram. —


Tchau, Madxon

— Tchau, princesa.

Douglas acenou para a criançada e começou a


puxar a cadeira de Madson para fora do quarto,
estava impressionado pelo modo como as duas
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haviam se dado bem em tão pouco tempo. Pois


Anna havia demorado para confiar nas outras
pessoas, já em Madson ela havia confiado de
primeira.

— Acho que ela gostou de você. — Douglas


falou.

— Sério? — Madson perguntou animada.

— Tenho certeza que sim, não a vi interagir


desse modo com nenhuma outra enfermeira que
passou pelo quarto.

— Isso é ótimo, eu senti algo diferente ao


olhar dentro daqueles pequenos olhinhos azuis. Era
como se ela fosse uma parte de mim fora do meu
corpo.

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— Vocês são parecidas, duas guerreiras que


lutaram bastante para sobreviver e continuam
lutando pelo seu lugar no mundo.

— Eu pensei em outros itens para a minha


lista, quero correr num campo florido e nadar em
um lago. São duas coisas que eu sempre tive
vontade de fazer, correr num campo florido vai ser
na primavera, então eu tenho tempo até lá.

— Vamos realizar todos os seus itens, juntos.


Eu tenho mais dois itens para a minha lista
também, mas ainda não posso te contar.

— Por que não? — Ela perguntou intrigada.

— Quero te fazer uma surpresa. — Ele falou.

— Madson. — Os dois olharam para frente ao


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ouvir a voz da mãe de Madson.

— Mamãe. — Madson sorriu abertamente.

— Oi, filha, oi, Douglas. — Melissa falou.

— Oi, senhora Martínez.

— Eu já disse que pode me chamar de


Melissa. — Sorriu de modo gentil.

— Bem, eu preciso ir. Vejo que você está em


boas mãos e tenho que olhar um outro paciente. —
Douglas passou a mão pelo cabelo, sem graça. —
Até mais, senhoritas. — Sorriu antes de deixar o
quarto.

Melissa olhou para a filha com um olhar cheio


de segundas intenções e Madson revirou os olhos.
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— Nem começa, mãe. — Madson revirou os


olhos.

— Não estou falando nada, vai dizer que você


não gosta nem um pouquinho dele? — Ela
perguntou erguendo uma das sobrancelhas.

— Mesmo se gostasse, ele é meu médico, há


regras no hospital. Não que seja o caso, claro. —
Ela falou e a mãe bufou indignada.

— Não existem regras para o amor. — A mãe


falou.

— A senhorita anda muito romântica, parece


que uns dias longe do Dean te deixaram ainda mais
apaixonada. — Madson brincou.

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— Com certeza. — Piscou.

— Mãe, pode pegar aquele telefone e ligar


para uma das enfermeiras vir aqui?

— Claro, filha.

Enquanto a mãe mexia no telefone e falava


com alguém do outro lado da linha, Madson
pensava na frase que ela havia dito. "Não existem
regras para o amor", ela acreditava nisso.
Acreditava que nada seria capaz de fazê-la desistir
de viver o seu grande amor. Já havia sido
massacrada pela vida e não deixaria que isso
acontecesse de novo. Estava com uma ideia fixa na
cabeça e logo a colocaria em ação.

— Mãe, posso te fazer uma pergunta?

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— Até duas, querida.

— Você amava o meu pai, não é mesmo? Foi


difícil para você amar o Dean?

— Amava muito. Hoje amo apenas o que ele


me proporcionou, você. Não vou negar que no
começo eu senti certo receio em me envolver com o
Dean, estava magoada por tudo que tinha
acontecido e tinha medo de me magoar novamente.
Mas foi impossível não amá-lo. Acho que Deus o
colocou na minha vida por algum motivo e desde o
momento em que o conheci, tive a certeza de que
ele era diferente, ele poderia me fazer feliz. Então
me joguei de cara e corri atrás da minha felicidade.
— A mãe falou e Madson pôde ver algumas
lágrimas se formarem em seus olhos.

Uma batida na porta chamou a atenção das


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duas, Madson falou um "pode entrar" para a pessoa


que estava do outro lado da porta e logo uma
enfermeira entrou no quarto, perguntando no que
poderia ajudar. Madson pediu que ela a ajudasse a
ir para a cama, e com a ajuda da mãe, a enfermeira
a colocou na cama com cuidado e logo em seguida
saiu para atender um chamado do outro quarto.

— Foi bom você ter tocado no assunto de seu


pai. — Melissa começou. — Ele comprou uma casa
para você, era para ser uma surpresa, mas eu sei o
quanto você odeia surpresas, então achei melhor te
contar antes. Logo você sairá do hospital e
precisará ficar em algum lugar, eu também. Por
enquanto estou na casa de Kate, mas lá não é nem
um pouco acessível para você, por isso ele fez
questão de comprar uma casa que tivesse toda a
acessibilidade que você precisa, a mãe de Kate foi
quem escolheu. — Melissa sorriu para a filha.
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— E quanto ao Dean? Ele não vai ficar


conosco?

— Ele não pode faltar ao trabalho, mas virá


nos visitar sempre. Enquanto você precisar de mim,
estarei aqui para você, filha. — Melissa falou.

— Obrigada, mãe. Sei que é difícil para você


ter que ficar longe dele. Por isso vou me esforçar e
melhorar rápido e logo você poderá voltar a sua
vida.

— Não diga besteiras, Maddy. Você é a minha


vida. — Melissa revirou os olhos.

— Sou parte dela, Dean também é sua vida.

— Tem razão. Sabe, Caleb tem me ligado


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bastante, ele estava preocupado com você. —


Madson revirou os olhos. — Ele falou que viria te
ver qualquer dia, para conversar com você.

— Mãe, eu não quero vê-lo. — Madson


começou a falar, estava mais do que na hora de
contar o que havia acontecido para ela. — Há algo
que eu deixei de te contar, em parte por vergonha e
medo, eu não terminei com ele porque viria para cá,
na verdade, vir para cá caiu na hora certa. Eu
descobri que ele estava me traindo há um tempo e
por isso nós terminamos. Só que ele ainda não
aceitou bem isso.

— Aquele cretino idiota. E eu acreditando que


ele era um bom moço. Se você tivesse me contado
eu iria até a casa dele e cortaria as bolas daquele
desgraçado.

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— Por isso mesmo não te contei. — Madson


sorriu. — Ele é passado, mamãe. Não me faz
nenhuma diferença agora. Na verdade, eu já nem
me lembrava mais dele.

— Que bom, filha, mas ainda sinto vontade de


bater nele como a mãe dele deveria ter feito há
muito tempo.

— Me chama que eu te ajudo. — Madson


falou e as duas sorriram.

— Filha, eu preciso passar em um mercado e


comprar algumas coisas para fazer um jantar para a
Kate e Thomas. Eu insisto que aquela menina
deveria se alimentar melhor, mas ela não me
escuta. — Melissa falou revirando os olhos. — Ela
falou que passaria aqui mais tarde para que você a
ajudasse a decidir algumas coisas do casamento.
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Falta menos de dois meses.

— Que bom, todo mundo resolveu me visitar


hoje. Geralmente eu tenho que chamar uma
enfermeira para ficar conversando comigo.

— Você falando desse jeito faz com que eu me


sinta uma péssima mãe.

— Você não é. — Madson sorriu e apertou a


mão da mãe. — Mas eu tenho direito de fazer um
pouco de drama.

— Tem sim, filha. — Melissa se inclinou e


deu um beijo na testa da filha. — Amanhã eu volto.
Pense em tudo o que eu te disse, principalmente a
parte sobre o seu médico bonitão.

— Você não toma jeito, dona Melissa.


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— O que é isso, uma reunião sem as pessoas


mais importantes? — Madson ouviu a voz da irmã
e sorriu ao vê-la entrar no quarto com algumas
revistas e ao seu lado estava Tracy.

— Viemos fazer a tarde de fofocas. — Tracy


falou.

— Essa é a minha deixa. — Melissa falou. —


Tchau, meninas, se comportem.

— Tchau. — As três falaram em uníssono.

— Tudo bem. Eu trouxe algumas revistas


sobre decoração e bolos, mas nada sobre vestidos.
A minha mãe me mataria se eu não a deixasse criar
todos os vestidos. Portanto só nos resta confiar no
bom gosto dela e esperar pelo dia de prova para
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saber como serão. — Kate falou.

— A roupa do noivo também será feita por


ela? — Madson perguntou.

— Todas as roupas, segundo ela, ela irá me


usar como inspiração para desenvolver a sua nova
linha de roupas para noivos. — Kate sorriu.

— Ela parece animada com tudo.

— Você nem imagina o quanto.

— Eu quero saber das fofocas. — Tracy falou


olhando para Kate.

— Nós duas queremos. — Kate falou e ela e


Tracy se entreolharam.

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— Que fofocas? — Madson perguntou


confusa.

— Douglas ou Brad? — Tracy perguntou sem


nenhum filtro, fazendo Madson ruborizar.

— Nenhum dos dois. De onde tiraram essa


ideia absurda? Os dois são apenas amigos.

— Pare de esconder o jogo, Mad, os dois estão


caidinhos por você. — Tracy falou e Madson
revirou os olhos para a amiga. Que mesmo sabendo
de tudo sobre ela e Douglas, havia entrado no jogo
de Kate para irritá-la.

— Só nos resta perguntar, qual deles que você


prefere? — Kate falou e sorriu um pouco.

— Que pergunta mais idiota, eu não vou


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responder a isso. — Madson revirou os olhos


novamente. — Achei que fôssemos discutir os
detalhes do seu casamento e não tentar me casar.

— Dá para matar dois coelhos com uma


cajadada só.

— Vamos matar só o coelho da Kate por


enquanto. — Madson falou abrindo uma revista de
decoração.

As duas riram, enquanto Madson revirava os


olhos novamente.

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Douglas olhou pela pequena janela do quarto


de Madson e sorriu, ela parecia estar se divertindo
com a irmã e a amiga. Ele decidiu que não iria lá
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naquele momento, resolveu passar no quarto de


alguns pacientes e depois passaria no de Madson
novamente, para só então ir para casa. Quando ele
ia começar a andar em direção ao primeiro
paciente, sentiu seu celular vibrar no bolso e o
puxou rapidamente de lá. Revirou os olhos ao olhar
para o visor e ver que era Brad ligando.

— O que você quer agora? — Ele perguntou


sem paciência.

— Faz dois dias que Abby não vai para casa,


você sabe onde ela está? — Brad parecia realmente
preocupado.

— Eu estou no hospital há 45 horas, eu com


certeza não sei onde ela está. — Falou com raiva.
— Você deveria estar cuidando dela, como só
soube agora que ela não voltou para casa?
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— Eu também tenho uma vida, sabia?! —


Douglas revirou os olhos ao ouvir aquilo. — Maria
acabou de falar que ela pegou um carro há dois dias
dizendo que sairia com umas amigas e desde então
não apareceu.

— Que merda, Brad. Se você não estivesse


ocupado demais dando em cima de toda criatura
com saias e estivesse cuidando da sua irmã, isso
não aconteceria.

— Ei, você não pode me julgar! Está na


mesma situação que eu.

— Eu estou trabalhando e não brincando por


aí, como você.

— Não sei porque eu liguei para você. Você


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não vai fazer nada para ajudar.

— Brad, porra! — Douglas o chamou com


raiva. — Ligue para as delegacias, eu ligarei para
os hospitais e oficinas da região.

— Finalmente!

— Vá se foder. — Douglas falou antes de


desligar o telefone e revirar os olhos.

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BÔNUS ABBY

Eu nunca fui uma santa, muito pelo contrário,


sempre fiz de tudo para chamar atenção. Sempre
aprontei ao máximo e vivi sem me importar com
todas as consequências. Bem, deve ser por isso que
estou aqui agora. Um pequeno conselho, caros
amigos, nunca peguem o carro de seu irmão
escondido. Principalmente se vocês ainda não
tiverem carteira de motorista e não souberem bem o
que fazer.

— Meu deus, Douglas irá me matar. — Bradei


passando a mão pelo cabelo. — Por que eu não
podia simplesmente ficar em casa quieta e não
aprontar?!

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Puxei um elástico do meu braço e amarrei meu


longo cabelo preto em um "rabo de cavalo". Dei
mais alguns passos ficando em frente ao capô do
carro, descansei as minhas mãos sobre a cintura e
suspirei pesadamente. Faltam três dias, mínimos
três dias para eu completar 16 anos e agora estou
perdida no meio do nada e de algum modo
consegui ferrar com o carro do meu irmão. Abri o
capô do carro e tossi quando a fumaça que saiu dele
atingiu o meu nariz.

— Que merda, esse dia não tem como ficar


pior! — Gritei olhando em volta, não havia nada
além das árvores e da estrada. Nenhum mísero
carro passando, nenhuma pessoa por perto e
nenhuma casa. Nada. Um trovão forte soou alto,
ecoando por todo o ambiente. — Era só o que me
faltava. — Falei olhando para o céu, estava
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nublado, provavelmente logo começaria a chover.


— Merda, merda, Merda!

Olhei novamente para o motor do carro, não


entendia nada sobre aquilo, na verdade, ainda não
entendo. Para mim parece um monte de canos e
fios e sei lá mais o que. Senti algo gelado pingar no
meu braço, uma pequena gota, seguida de muitas
outras. Começou a chover intensamente.

— Fala sério! — Gritei olhando para o céu.

Eu já estava toda encharcada quando lembrei


do meu celular no bolso de trás da minha calça
jeans. Peguei-o em mão e apertei o botão do meio
dele, o celular acendeu a tela rapidamente para
depois apagar e não querer ligar de novo.

— Resistente à água, só se for na merda do


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laboratório deles. — Rolei os olhos e enfiei o


celular novamente no bolso.

A chuva estava ainda mais intensa, fechei o


capô do carro e passei a mão pelo rosto assim que a
luz alta de um farol surgiu vindo do lado contrário
da pista. Comecei a sinalizar com os braços
torcendo para que o motorista me visse no meio de
toda essa chuva. Soltei um gritinho de felicidade
quando o carro, que na verdade era um tipo de
caminhonete com guincho, parou ao meu lado.
Esperei um velho barrigudo e barbudo sair de
dentro dele, mas não foi bem isso que aconteceu. A
imagem a seguir passou pelos meus olhos em
câmera lenta. Um moreno alto e forte desceu da
caminhonete, ele usava uma blusa branca suja de
graxa e uma calça jeans clara surrada.

Deixei que o meu olhar vagasse por todo


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aquele corpo maravilhoso, a calça apertava as


coxas do moreno, mostrando o quão musculosas
eram. A blusa regata deixava os belos braços dele à
mostra, por causa da chuva, ela estava um pouco
transparente e eu podia contar com facilidade os
oito gominhos da sua barriga. Sabe aquele
momento em que você acha que suas pernas
viraram gelatina e você pode cair? Estou
exatamente desse modo.

— Você está perdida? — Ele perguntou e


senhor, que voz é essa?

Senti um arrepio gelado percorrer o meu


corpo, a voz dele teve uma reação imediata sobre
mim e pela primeira vez em minha vida, eu estava
sem palavras.

— Eu perguntei se está perdida? — Ele gritou,


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estava com a mão acima dos olhos para evitar as


gotas d'água.

Eu apenas balancei a cabeça de modo


afirmativo, me sentindo incapaz de falar qualquer
coisa, sabia também que não deveria me mover.

— Você está bem? — Ele perguntou se


aproximando e colocou uma das mãos sobre o meu
ombro levemente.

Senti o meu corpo ficar mole e fechei os meus


olhos, esperando atingir o chão rapidamente.

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— Que merda! — Bradei ao segurar o


pequeno corpo da mulher.

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Ela simplesmente havia desmaiado, e se eu


não a tivesse segurado, ela iria parar diretamente no
chão. Olhei para o rosto fino dela, ela era
simplesmente linda. Malditamente linda, tão
encantadora que parecia impossível parar de
encarar seus traços delicados. Vejamos bem, eu
tenho a oficina desde os meus dezesseis anos e
cuido dela sozinho desde o ano passado, quando o
meu pai morreu. Mas nunca havia lidado com uma
situação parecida com essa.

— Ei, moça. — A balancei um pouco, mas não


obtive resposta. — Será que ela está bem? — Tirei
um dos meus braços dela e levei até a veia em seu
pescoço. A pulsação estava regular. — Tudo bem.

Levei um dos meus braços até as pernas dela e


a levantei, dei a volta na minha caminhonete e
coloquei ela dentro da cabine, sem muita
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dificuldade. Fechei a porta e entrei na caminhonete


novamente, precisava guinchar o carro dela. A
maldita tinha sorte, se eu não tivesse chegado ela
poderia ficar desmaiada no meio da estrada por
horas que ninguém passaria. Desde que construíram
uma nova estrada com menos curvas, quase
ninguém usa a antiga, eu mesmo a uso apenas
quando quero passar o meu tempo.

Depois de meia hora o carro dela estava preso


no meu guincho e eu já me preparava para sair dali.
Onde eu fui me meter, tem uma mulher desmaiada
no meu guincho e estou prestes a levá-la para casa.
Tenho certeza de que isso deve ser proibido em
muitos estados. Foram apenas 20 minutos até a
minha casa. Assim que desci da caminhonete, Zeus,
o meu labrador, correu em minha direção e
começou a pular em cima de mim.

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— Calma, garoto, temos visita. Seja bonzinho.


— Falei e ele se sentou.

A chuva já havia cessado, mas o tempo ainda


estava fechado. Rodeei a caminhonete e abri a porta
rapidamente. A mulher ainda estava desacordada,
permiti que o meu olhar corresse pelo seu corpo.
Sei que isso é imoral, mas não consegui evitar, ela
estava usando uma calça jeans escura que apertava
as suas curvas. Tinha coxas grossas e bunda
redonda, isso entrava em contraste com a sua
cintura pequena, que estava apertada em uma blusa
rosa que fazia com que seus seios, também
pequenos, ficassem em evidência. Passei a língua
pelos lábios ao me imaginar sugando eles. Tive que
balançar a cabeça em busca de tirar tais
pensamentos da minha mente, subi na caminhonete
e a peguei no colo, saindo dali rapidamente e
entrando em casa.
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Como num time perfeito, a chuva voltou a cair


do lado de fora. Coloquei a estranha sobre o meu
sofá e fui até o quarto em busca de uma toalha.
Quando voltei à sala, fiquei surpreso ao encontrar
Zeus parado do lado da estranha, lambendo a sua
mão. Geralmente ele era arisco com pessoas que
não conhecia, principalmente com mulheres e com
aquela parecia ter se dado bem.

— Ela também te intriga, não é, amigão?! —


Perguntei e ele latiu. — Vou considerar isso um
sim. — Sorri para ele.

Me inclinei para colocar a toalha sobre a


mulher, sem querer a minha pele tocou a dela e
pude perceber o quanto ela estava quente. Ela
estava ardendo em febre.

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— O que eu faço? — Tentei pensar em algo,


mas a minha mente estava embaralhada demais
para poder lembrar o que deveria fazer.

— Me desculpa, Doug. — Ela gemeu e falou


sem abrir os olhos. — Eu não sabia que iria acabar
assim. — Ela falou mais uma vez e se remexeu no
sofá.

Estava delirando. Ela precisava de roupas


secas, mas eu não podia simplesmente arrancar as
roupas dela, isso seria errado. Tudo bem que já
arranquei a roupa de muitas mulheres, mas
nenhuma delas estava desacordada e sempre tive o
consentimento das tais. Ah quer saber, que se dane.
Não vou deixar que ela fique doente, quando ela
acordar ela pode tentar me matar ou me denunciar,
mas por enquanto vou cuidar dela.

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Com cuidado eu me ajoelhei em frente a ela e


a levantei no sofá, tirei sua blusa, em seguida
desabotoei sua calça. Nesse momento eu estava
usando todo o autocontrole que havia em meu
corpo. O que não era nada fácil, a mulher tinha um
corpo ainda mais maravilhoso por debaixo daquelas
roupas. Deixei-a no sofá apenas com sua roupa
íntima e fui buscar uma camiseta minha. Quando
voltei ao sofá, a vesti rapidamente. Não tirei sua
roupa íntima, achei que isso seria uma invasão de
privacidade desnecessária. Sequei um pouco o
cabelo dela com a toalha e a deitei novamente.

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Onde estou?

Essa é a pergunta que não para de passar pela


minha mente enquanto eu abro os olhos lentamente,
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sinto meu corpo pesar como se tivesse sido


atropelada por um caminhão. Passo as minhas mãos
pelo corpo e percebo que estou vestindo apenas
uma camiseta enorme. Abro os olhos de uma vez,
espantada, não reconheço o lugar a minha volta,
apesar de parecer aconchegante, me preocupa o
modo como eu fui parar ali. Pisco algumas vezes
tentando voltar à realidade, mas ainda estou ali.
Olho para a minha frente e vejo um labrador
enorme me encarando. Me assusto e pulo um pouco
no sofá.

— Ei, garoto. — Ouço a voz de um homem e


olho para os lados a procura do dono dela.

Meu olhar para exatamente no seu, há algo


diferente ali, não consigo desviar o olhar, não quero
desviar. Ele parece tão enfeitiçado quanto eu, pois
mais nenhuma palavra salta de sua boca. O latido
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do labrador faz com que desconectemos nossos


olhares. Olho para baixo, envergonhada, e o meu
olhar cai sobre o tecido da blusa que quase não
cobre nada de mim. Tento puxá-lo um pouco mais
para baixo sem sucesso.

— Você está melhor? — O homem se


aproxima de mim e se senta ao meu lado,
colocando a mão sobre a minha cabeça. — Você
ainda está ardendo em febre. — Fala parecendo
preocupado. — Melhor você tomar um banho
quente enquanto eu faço um chá.

— Quem é você? — Pergunto, sei lá de onde


consegui voz para fazer essa pergunta, pois perto
dele as palavras parecem simplesmente sumir.

— Meu nome é Travis O'Donell, eu estava


passando pela estrada quando te encontrei com o
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seu carro quebrado. Você passou mal, então eu te


trouxe para a minha casa. — Ele falou com
tranquilidade.

— Eu passei mal? Como troquei de roupa? —


Perguntei, um pouco perdida.

— Eu troquei a sua roupa. — Admitiu


envergonhado, pude sentir o rubor crescer em meu
rosto. — Qual o seu nome? Por que veio parar no
meio do nada?

— Eu sou Abby, estava tentando pregar uma


peça no meu irmão mais velho e parece que o
destino resolveu pregar uma peça em mim.

— Não está chateada por eu tê-la despido?

— Estou, mas no momento estou


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envergonhada demais para discutir isso. — Dei de


ombros. — Sinto que um caminhão passou por
cima de mim. — Falei gemendo de dor.

— Acho que você pegou um resfriado. — Ele


falou preocupado.

— Que horas são? — Perguntei me recostando


no encosto do sofá e em seguida protestando de
dor.

— Pouco mais de meia noite. — Ele falou e


arregalei os meus olhos de surpresa.

— Eu deveria estar em casa. — Falei


assustada.

— Acho que você terá que passar um tempo


aqui, o motor do seu carro fundiu, então amanhã eu
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o arrumarei. — Ele falou passando a mão pelo


cabelo.

— Eu não quero incomodar, você tem um


telefone para eu poder ligar para o meu irmão? Ele
resolverá tudo.

— Ter até tenho, mas a tempestade atingiu a


torre de comunicação e todo o condado está sem
linha telefônica.

— Doug irá me matar. — Falei mexendo nos


dedos das minhas mãos.

— Doug? Você o chamou enquanto dormia.

— Meu irmão mais velho, o carro é dele. Eu


sequer tenho carteira de motorista. — Falei
bufando de dor.
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— Entendi. Eu vou pegar uma toalha para


você e outra camiseta um pouco maior. Suas roupas
estão secando, mas acho que só ficarão secas
amanhã. — Dito isso, ele se levantou do sofá e
caminhou até uma porta que havia em frente a ele,
me dando uma bela visão de sua bunda.

Enquanto ele procurava por algo no quarto, eu


aproveitava para olhar tudo à minha volta. A casa
era simples, mas também muito aconchegante, a
cozinha e a sala dividiam o mesmo espaço, sendo
separadas apenas por um balcão. Haviam três
portas, que eu julgava ser um banheiro e dois
quartos.

Meu deus, que situação. Estou na casa de um


total estranho, seminua.

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Pensei e revirei os meus olhos, Douglas


morreria se sonhasse com algo assim. Faço um
pequeno esforço para levantar do sofá, meu corpo
realmente dói muito. Será que eu cheguei a cair no
chão? Tenho vergonha de perguntar. A blusa cai
sobre o meu corpo, cobrindo apenas até a metade
das minhas coxas. Me sinto nua. Pensando nisso
lembro o que ele disse sobre ter me trocado de
roupa, então ele viu mais do que essa blusa mostra.
Sinto o meu rosto queimar. Ele viu mais do que
qualquer outra pessoa.

— Pronto. — Levanto o meu olhar para ele.

Ele vem em minha direção, seguido pelo


labrador. Ele está sem camisa dessa vez, não
consigo evitar, o meu olhar corre pelo seu corpo,
parando em um ponto específico. Sinto o rubor
tomar conta das minhas bochechas novamente.
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— Obrigada. — Me forço a falar e pego as


roupas de suas mãos. — Onde fica o banheiro?

— Aquela segunda porta. — Ele aponta e


passo por ele um pouco envergonhada.

Assim que entro no banheiro, solto a


respiração que eu sequer sabia que estava
prendendo. Aquele homem simplesmente emana
sensualidade, cada passo dele parece ser
propositalmente pensado para isso. Mas não é, é
natural dele. A sua voz seria capaz de levar uma
mulher às nuvens. Sei disso porque é lá que estou.
Sinto o meu corpo quente, mas dessa vez sei que
não é por causa da febre e sim do maravilhoso
moreno que há do outro lado da porta. Como
sobreviverei a mais um dia inteiro ao lado dessa
perdição?
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-----

Meu corpo está quente, queimando como se eu


estivesse ardendo em febre. Eu estou enfeitiçado,
só pode, meu corpo nunca reagiu desse modo a
nenhuma mulher e agora estou assim. A visão dela
caminhando em direção ao banheiro, vestindo
apenas a minha blusa acaba de se tornar uma das
minhas preferidas. Como irei dormir sabendo que
ela estará no cômodo ao lado, usando apenas uma
blusa?!

Pela nossa breve conversa mais cedo, ela


parece ser nova. Pela sua aparência eu poderia dizer
que ela tem cerca de 18 ou 19 anos. Mas pelo que
ela me falou, deve ter menos. O que eu estou
torcendo para não ser verdade, me sentiria sujo
tendo pensamentos perversos com uma garota.
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Porra! Eu sou um homem, não devia deixá-la me


afetar desse modo. Mas parece que simplesmente
perdi o controle de tudo, não sou eu quem comanda
o meu corpo, mas sim o desejo. E é isso que o
volume nas minhas calças me mostra.

Volto a prestar atenção no chá que estou


preparando, coloco as folhas para ferver juntamente
com a água e começo a preparar sanduíches, ela
deve estar com fome. Ouço o barulho do chuveiro e
imediatamente uma imagem dela ensaboando o seu
corpo invade a minha mente.

Que merda, você não é a porra de um


adolescente, pare de agir como um!

Me repreendo mentalmente e olho para Zeus


do meu lado, ele olha para mim como se me
repreendesse. Reviro os olhos.
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— Até você, amigão?! — Pergunto para ele e


ele vira a cabeça, como se confirmasse
silenciosamente.

Depois de alguns minutos termino de preparar


tudo e coloco sobre o balcão, ouço a porta do
banheiro abrir novamente e a vejo sair de lá.
Apenas com outra camiseta minha, algumas roupas
em mão e os cabelos molhados caindo sobre os
ombros e seios.

— Onde posso estender essas roupas? — Ela


pergunta de modo inocente e levanta as roupas que
tem em mãos.

— Pode estender lá fora, só passar por aquela


porta. — Falo apontando para a porta da varanda.

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Ela some lá fora por alguns minutos e depois


volta, tem um sorriso tímido em seu rosto.

— O chá está pronto e eu preparei algo para


você comer, imaginei que estivesse com fome. —
Falei e ela sorriu vindo em minha direção, pude
perceber que os seus olhos que antes pareciam
castanhos, agora estavam num tom esverdeados.

— Obrigada. — A voz doce e ao mesmo


tempo intensa, soou como uma melodia.

Acredite, não sou o tipo de cara que falaria


essas coisas, mas nesse momento simplesmente não
consigo evitar. Ela sentou-se no banco que havia
em frente ao balcão e pegou a caneca com o chá,
levando-a até a boca. Um simples movimento como
esse, fez com que eu sentisse ainda mais desejo. Me
vi tentando pensar em outra coisa para poder tirá-la
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da minha mente.

— Quantos anos você tem, Abby? —


Perguntei sem muito interesse.

— Tenho 15. — Meu queixo foi parar no chão


tão rápido que poderia entrar para o livro de
recordes mundiais.

— Uau, agora entendo o fato do seu irmão


querer te matar. — Brinquei e ela sorriu.

— Não sou a melhor irmã do mundo. — Ela


deu de ombros.

— Nenhum irmão é. — Pisquei para ela, que


sorriu ainda mais. Me inclinei sobre o balcão e
coloquei a minha mão sobre a sua testa. A febre
havia diminuído. — Parece que você não está mais
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com febre, a dor no corpo passou?

— Mais ou menos, ainda sinto meu corpo


pesado. — Falou.

— Vou pegar um remédio para você. — Falei


me levantando do balcão.

Peguei uma pequena cesta e procurei nela um


remédio para dores musculares, quando o achei,
guardei novamente a cesta e peguei um copo
d'água.

— Aqui. — Coloquei tudo sobre o balcão. —


A porta à direita do banheiro é o seu quarto, pode
ficar à vontade. Eu vou tomar um banho, qualquer
coisa você pode me chamar. — Falei e ela apenas
concordou com a cabeça.

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Passei no quarto rapidamente e peguei uma


toalha, entrei no banheiro e coloquei a água no
modo inverno. Precisava esfriar a cabeça,
literalmente. Quando a água gelada atingiu o meu
corpo quente, eu pude sentir o choque térmico.

-----

A intensidade no olhar dele fez com que o meu


corpo queimasse novamente, confesso que por um
momento eu temi que ele sentisse o modo como
meu corpo estava queimando e soubesse que não
era por causa da febre. Terminei de comer
rapidamente e limpei todas as louças, precisava
estar no quarto antes que ele terminasse o seu
banho, não sabia até onde o meu autocontrole iria
durar.

Caminhei rapidamente em direção à porta do


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quarto que ele havia falado, mas parei ao ouvir o


barulho da porta do banheiro se abrindo. Minhas
pernas simplesmente deixaram de me obedecer,
pude notar a surpresa em seu olhar quando ele me
viu parada em frente à porta do banheiro. Ele não
se moveu, eu não me movi. Apenas movi meus
olhos para ter a certeza de que ele estava coberto
apenas pela toalha. Algumas gotas de água
escorriam pelo seu abdômen. Instintivamente
passei a língua pelos lábios e voltei a encarar seus
olhos, eles me encaravam com uma intensidade
monstruosa. Não fui capaz de me mover quando ele
deu um passo e ficou bem próximo a mim, levantou
a sua mão e tocou o meu pescoço descoberto.

Sua mão estava gelada, um gemido


involuntário escapou pela minha boca. Então ele
fez algo que eu não achei que faria, um "foda-se"
tão baixo quanto um sussurro saiu pela sua boca e
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ele me girou e empurrou contra a parede. Segundos


depois a sua boca atingiu a minha e eu a abri,
dando passagem para a sua língua explorar a minha
boca. Suas mãos escorregaram para a minha cintura
e a apertaram, descendo para a minha bunda.
Quando ele a agarrou e me levantou, rodeei a sua
cintura com as minhas pernas e agarrei o seu
pescoço.

Eu estava perdida, perdida naquele


maravilhoso e hipnotizante beijo. Meu corpo estava
em chamas, cada parte em que a minha pele tocava
a sua queimava ainda mais, e eu queria mais
daquilo. Nunca havia sido beijada desse modo, ele
me desejava, eu podia sentir isso. Uma de suas
mãos permaneceu na minha bunda enquanto a outra
subiu para o meu seio, rompi o beijo jogando a
minha cabeça para trás e deixando um gemido alto
escapar pela minha boca.
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Do nada, como se voltasse a realidade, ele


parou, olhei em seus olhos e vi que ele parecia
meio perdido.

— Desculpa. Eu não devia... — Ele falou me


colocando no chão, gemi em desaprovação.

— Tudo bem. — Falei com a voz falha.

Não queria que ele se afastasse, mas ele o fez.


Sem dizer mais nada ele entrou dentro do outro
quarto e eu fiquei ali, parada, tentando absorver o
que havia acontecido e com o corpo queimando de
desejo.
Meu corpo está em chamas, eu queria que um
simples banho resolvesse isso, mas não resolverá.
Já se passaram vários minutos desde o ocorrido na
porta do banheiro, mas a chama que o maldito
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acendeu no meu corpo, se recusa a apagar. Acho


que parte disso se deve ao fato dele estar a uma
porta de distância de mim e outra parte se deve às
memórias do beijo, que passam na minha mente
como uma televisão ligada. Cada vez que penso no
seu toque, me reivindicando, me tomando, a chama
que há em meu corpo só aumenta.

Estou deitada na cama, olhando para o teto


branco do quarto. Meu celular está na pequena
mesinha ao lado, totalmente apagado, então o tédio
não vai deixar de me consumir. Olho para o teto,
mas não é o teto que eu estou vendo, e sim as mãos
dele sobre o meu corpo, passeando pelas minhas
curvas, apertando a minha carne. Fecho os olhos e
deixo um gemido baixo escapar pela minha boca.
Estou frustrada, pela primeira vez me senti uma
mulher e não apenas uma menininha. Pela primeira
vez eu consegui a atenção que eu queria, consegui
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que alguém percebesse que não sou apenas a minha


idade, posso ser mais do que isso. Tudo bem que as
minhas atitudes não demonstram isso, mas sim o
contrário, principalmente o fato de eu ter roubado o
carro do meu irmão e dirigido sem rumo. Juro que
não sei onde estava a minha mente, simplesmente o
fiz, e vendo onde isso me levou, eu simplesmente
não consigo me arrepender.

Cansada de pensar no que aconteceu, levanto


da cama e saio do quarto silenciosamente. Um copo
de água gelado pode me ajudar a deixar de
queimar. Pego um copo no armário e coloco um
pouco de água nele, bebendo em seguida. Quando
abaixo o meu olhar, vejo o labrador me olhando,
seu rosto virado de lado, como se estivesse curioso.

— Ei, garoto. — Falei, deixando o copo sobre


a pia e me abaixando. — Você é muito lindo, sabia
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disso?! — Passei a mão na cabeça dele.

O labrador se deitou de barriga para cima,


pedindo mais carinho. Fiquei ali fazendo carinho e
brincando com o cachorro. Foi só quando senti a
minha pele esquentar que virei o meu rosto, para
encarar novamente Travis. Pela sua postura
relaxada, tenho a certeza de que ele estava ali há
um tempo. Como de costume, não consigo falar
nada, não consigo desviar o meu olhar do seu, não
consigo me mover. A única coisa que faço é
analisar seu corpo, ele estava descalço, com apenas
uma calça de moletom caindo sobre os seus
quadris, seu cabelo está um pouco bagunçado e sua
pele, ao contrário de alguns minutos atrás, está
seca, mas isso não diminui o efeito que ela tem
sobre mim.

— Também está sem sono? — Ele pergunta,


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sua voz neutra, queria ter todo esse autocontrole.


Não, na verdade, queria que ele não tivesse todo
esse autocontrole.

— Sim. — Me limito a falar e me levanto,


recebendo um latido de protesto do labrador.

— Ele gostou de você, geralmente ele não é


tão simpático com pessoas estranhas. — Ele falou e
se aproximou do cachorro, passando a mão pela sua
cabeça. — Zeus é, digamos que um pouco seletivo.
— Ele sorri de lado.

— Fico feliz de saber que sou uma exceção. —


Falo e me viro completamente para ele.

— Sim, você é uma exceção. — Ele fala e


posso sentir o duplo sentido da sua afirmação.

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Um silêncio constrangedor invade o ambiente,


a única coisa que se pode ouvir são os grilos
cantando do lado de fora e nossas respirações.
Torço mentalmente para que ele não perceba que a
minha respiração está inconstante. Quanto mais eu
tento controla-la, mais difícil parece.

— Acho melhor...

— Você quer...

Começamos a falar ao mesmo tempo, e


sorrimos.

— Pode falar. — Falo, um pouco ansiosa para


saber o que ele tem a dizer.

— Você quer um copo de leite quente? Pode


parecer meio infantil, mas me ajuda a dormir. —
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Ele fala e passa a mão pelo cabelo, sorrindo.

Concordo, acenando com a cabeça, pois esse


simples sorriso dele foi capaz de me hipnotizar. O
segui com os olhos enquanto se movia com
agilidade pela cozinha, claro que ele estava
confortável ali, afinal, é a casa dele. Já eu, pelo
contrário, estava me sentindo uma intrusa. Dei um
passo para trás e meu corpo bateu contra a bancada
com tudo, sabia que aquilo deixaria uma bela
marca. Gemi de dor, passando a mão pelo local.

Em menos de cinco segundos, sem nenhum


exagero, ele estava próximo a mim, sua mão na
minha cintura, sobre a minha e sobre o local onde
eu bati, seu olhar intenso e preocupado. Meus olhos
ficaram paralisados nos seus, simplesmente não
conseguia desviar. Senti as minhas pernas
fraquejarem ainda mais, mas a mão firme dele
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estava me segurando. Pisquei os olhos algumas


vezes, com pretensão de finalmente conseguir
desviar o olhar dele, mas não consegui. Toda vez
que abria os olhos, o meu olhar parava exatamente
em seus olhos.

— Você está bem? — Ele perguntou com a


voz rouca, seu peito descia e subia rapidamente
como se tivesse acabado de percorrer uma
maratona.

— Estou. — A voz fraca que escapou da


minha boca sequer parecia minha.

Onde havia ido parar aquela garota insolente,


que faria piada disso e se aproveitaria da situação?!
Ela havia simplesmente corrido e abandonado para
trás uma garota tímida e indefesa que eu sequer
sabia que existia dentro de mim.
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Fechei os meus olhos por um segundo, tentei


virar meu rosto, mas não cheguei a completar tal
ação. Ao invés disso, abri os olhos rapidamente ao
ser surpreendida por um beijo. Sua língua abriu
passagem dentre os meus lábios, reivindicando a
minha boca com urgência. Sua mão apertou ainda
mais a minha cintura, e como se estivesse em um
modo automático, levei as minhas mãos até o seu
pescoço, puxando o meu corpo ainda mais contra o
seu e aumentando o contato entre os nossos corpos.

Pude ouvir ele grunhir contra a minha boca e


gemi em resposta. Meu corpo estava pulsando de
desejo, mas eu sabia que Travis não continuaria
com aquilo por muito tempo, logo ele cairia em si e
faria o mesmo de alguns minutos atrás, me deixaria
na mão.

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— O que você fez com a minha mente, garota?


— Ele perguntou e com a mão em meu cabelo,
puxou a minha cabeça para trás, distribuindo alguns
beijos por ali. — Você é tão nova, eu não deveria
me deixar levar. — Falou e continuou com os
beijos.

Não fui capaz de responder àquilo, na verdade,


não seria capaz de responder a nada naquele
momento. Pela minha idade, e pelos longos anos
em internatos e colégios para moças, já dá para
imaginar a experiência que tenho com beijos,
homens e sexo. Nenhuma. Tudo bem, com beijos
até tenho. Pouquíssima, mas tenho. E acho que já
posso anexar esses dois beijos cheios de pegada a
minha lista.

— Por que eu não consigo me controlar? —


Ele perguntou, não acho que a pergunta tenha sido
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feita para mim, mas sim para ele mesmo.

Eu sei dizer porque "eu" não consigo me


controlar. Quem se controlaria quando uma parede
de músculos morenos está contra o seu corpo,
transmitindo calor, desejo e te beijando de um
modo que você nunca havia sido beijada?! Eu não.

— Não quero que se controle. — Falei, num


fio de voz.

— Eu também não quero me controlar, mas


preciso. — Ele falou e sua boca voltou à minha.

Sim, nós dois precisávamos nos controlar, mas


não parecíamos ser capazes de tal ato. Nossos
corpos não aceitavam se separar e nossas mentes
estavam embaralhadas demais para poder lutar
contra isso. Meu coração estava extremamente
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acelerado, acelerado como nunca esteve e eu podia


sentir o coração dele batendo sobre o meu peito,
forte e rápido. Isso fez com que eu sorrisse em
mente, era bom sentir seu coração. Eu não sabia
onde aquilo nos levaria, não fazia ideia do
momento em que ele fosse parar, mas não queria
pensar nisso.

Ele envolveu o meu corpo no seu e o beijo


ficou ainda mais intenso, suas mãos desceram
passando pela minha blusa e subiram por baixo
dela, parando em minha cintura. Arfei ao sentir seu
toque sobre a minha pele, as mãos dele estavam
quentes, queimando assim como o resto de seu
corpo. Ele apertou um pouco mais as mãos sobre a
minha cintura, como se quisesse se controlar, mas
eu não queria isso. Não queria que ele parasse
novamente, não queria sentir toda aquela
frustração. Mas enquanto uma parte de mim estava
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ansiosa pelo que aconteceria a seguir, outra


pequena parte sentia receio e não sabia se queria
avançar esse estágio.

— Melhor nos afastarmos agora. — Ele falou


com sua testa encostada na minha e respiração
inconstante.

Nenhuma palavra saiu da minha boca, apenas


concordei um pouco hesitante. Um gemido
frustrado escapou dos meus lábios quando ele
afastou seu corpo do meu e tirou suas mãos de
dentro da minha blusa. Aquela situação toda era
inacreditável, nem em um milhão de anos eu
poderia imaginar que uma simples brincadeira
acabaria daquele modo. Eu perdida, numa cidade
tão pequena que até deveria ser considerada uma
vila, na casa de um completo estranho, sem
nenhuma comunicação e principalmente não me
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importando com isso.

Parecia até um sonho, eu só não sabia definir


se era um sonho bom ou ruim. Toda vez que ele se
aproximava de mim eu tinha certeza de que era um
sonho bom, mas quando ele se afastava, tudo se
tornava um pesadelo. Uma chuva de inseguranças
me atingia, idade pesava na minha mente,
inexperiência, culpa e tantos outros motivos que
conseguiam me desanimar por completo. Um clima
estranho tomou conta do ambiente, e não poderia
ser diferente, fora dos amassos nós dois somos
completos estranhos.

— Acho melhor nós dois dormirmos agora.


Amanhã cedo eu te levo para a cidade para tomar
café e compro as coisas para concertar o seu carro.
— Ele se afastou um pouco mais, caminhando até a
geladeira.
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Pensei em protestar, mas Zeus latiu e começou


a passar a lateral de seu corpo nas pernas de Travis,
recebendo um carinho no topo de sua cabeça. Sorri
observando a cena, a relação entre eles era algo
natural, como se não soubessem o que estavam
fazendo, apenas um extinto.

— Boa noite. — Falei me afastando da


bancada e indo em direção ao quarto.

Não recebi uma resposta "falada", apenas senti


o seu corpo contra o meu em um abraço. Paralisei
ali, um pouco confusa, sem entender bem o porquê
daquilo. Não que eu estivesse achando ruim,
porque obviamente não estava, mas nós não temos
toda essa proximidade. Ele me manteve nesse
abraço por poucos segundos, e depois sem me dizer
nada apenas me soltou e caminhou em direção ao
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quarto. Se tivesse um espelho em minha frente eu


poderia ver a cara de idiota com que eu estava no
momento.

De uma coisa eu tinha certeza, seria muito


difícil pegar no sono naquela noite.

----

Um fio de luz clareia os meus olhos, pisco-os


vagarosamente enquanto me acostumo com a luz
do quarto. Assim que abro os olhos por completo,
jogo uma mão sobre o reflexo de luz e encaro
assustada o quarto que com certeza não é o meu.
Bem, agora tenho total certeza de que não é um
sonho. Avalio cada detalhe do quarto com cuidado
e paro ao ver Travis na porta, seu corpo recostado
na madeira, braços cruzados e olhar avaliador.
Automaticamente puxo o cobertor para cima do
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corpo, cobrindo-me até o pescoço, posso ouvir a


sua risada leve enquanto sinto o meu rosto começar
a queimar.

— Fico feliz que tenha acordado. — Ele fala


sem nenhuma preocupação.

Antes que eu consiga responder, ele sai do


quarto sem dizer nada e instantes depois, volta com
algumas peças de roupas em mãos, minhas roupas.

— Se troque. Saímos em vinte minutos. —


Falou deixando as roupas sobre a cama.

Assim que ele saiu do quarto, fechando a porta


atrás de si, tirei o lençol do meu corpo e me
levantei da cama. Olhei para a pilha de roupas na
cama e entre elas estava meu sutiã. Senti meu rosto
queimar novamente imaginando a peça nas mãos
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dele, sob o seu olhar avaliador, tentei imaginar que


pensamentos passavam pela cabeça dele enquanto
olhava para a peça. Sacudi a cabeça numa tentativa
vã de tentar afastar tais pensamentos da minha
mente, tirei a blusa que estava vestindo totalmente
do corpo e me inclinei para pegar o sutiã, senti um
vento frio atingir as minhas costas e me virei
devagar, mas a porta estava fechada. Olhei para o
outro canto do quarto e a janela também estava
fechada. Voltei a me arrumar, minha mente já
estava começando a me pregar peças.

----

Meu erro foi ter entrado no quarto sem ter


batido antes, não imaginei que ela fosse se levantar
tão rápido, achei que permaneceria enrolada por
mais alguns minutos. Mas o que vi ao entrar no
quarto não foi bem isso, mas sim seu corpo quase
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nu, coberto apenas pelo tecido da calcinha branca


de renda. Ela estava de costas e os poucos segundos
em que mantive meu olhar nela, foram capazes de
despertar meu corpo. Eu estava totalmente ferrado,
nunca senti uma atração tão forte por alguém e
quando isso resolve acontecer, acontece com uma
garota. Que é e deve continuar sendo totalmente
proibida para mim. O problema é que todos os
pensamentos devassos que se passam em minha
mente quando ela está perto e até mesmo quando
não está, seriam capazes de fazer até com que um
padre se corrompesse. Por isso eu preciso concertar
o carro o mais rápido possível e levá-la de volta
para o lugar de onde ela veio.

Só tem um pequeno grande problema nesse


plano, não estou com a menor vontade de deixá-la
ir embora. Por mais louco e estranho que pareça,
tentei imaginar a casa sem ela e tudo ficou tão
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vazio, estranho e solitário em minha mente que isso


me assustou. Como é possível um simples olhar ter
tantos significados? Um simples beijo ser tão
maravilhoso e uma simples garota despertar tantos
sentimentos em mim em tão pouco tempo?

Deixei a respiração escapar pesadamente pela


minha boca e me afastei da porta do quarto,
caminhando até a sala e me sentando no sofá. Em
poucos segundos Zeus já estava no meu pé. Seu
rabo balançando alegremente de um lado para o
outro e sua língua para fora. Me inclinei e passei a
mão na cabeça dele, ele fechou a boca e os olhos
por um instante e latiu assim que afastei a minha
mão.

— Parece que alguém gosta de carinho. —


Ouvi a voz alegre de Abby atrás de mim e me virei
para encará-la. — Já podemos ir. — Ela falou e
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sorriu sem graça.

Apenas concordei com a cabeça e me levantei


do sofá. Fiz um gesto com a mão indicando que ela
poderia ir primeiro e a segui até o lado de fora da
casa. Quando chegamos na caminhonete, abri a
porta para que ela entrasse e em seguida entrei. O
caminho todo foi extremamente silencioso e
constrangedor. Eu acho que o percurso entre a
minha casa e a cidade nunca foi tão longo.

Parei a caminhonete em frente ao único


restaurante que servia café na cidade e nós
descemos. Assim que passamos pelas portas
vermelhas do restaurante, vários olhares curiosos
caíram sobre nós, como eu conhecia bem cada uma
das pessoas que estavam com os olhos grudados em
nós, mais especificamente nela, sabia que em
poucas horas surgiria alguma fofoca sobre isso e eu
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receberia algumas ligações de mulheres bravas. Sei


disso não só pelo fato de que as coisas se espalham
rápido pela cidade, mas também porque eu nunca
apareci em público com mulher alguma,
principalmente no café da Shell. E as más línguas
iriam transformar isso em algo maior do que
realmente é.

— Bom dia, Travis. — Shell se aproximou do


balcão e me cumprimentou. — Quem é a sua
amiga?

— Bom dia, Shell. Essa é a Abby, eu estou


concertando o carro dela. — Falei e olhei para
Abby que sorriu e acenou para Shell.

— O que você vai querer, mocinha? — Shell


perguntou e Abby percorreu o cardápio com o
olhar.
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— Ela vai querer o de sempre e eu também. —


Falei e vi o olhar confuso em seu rosto. — Você
não é alérgica a nada, não é mesmo?

— Não.

— Então confia em mim.

— Se eu não confiasse não estaria aqui. —


Sussurrou, mas não baixo o suficiente para que eu
não ouvisse.

----

Tudo bem, valia a pena confiar nele, o café da


manhã estava simplesmente maravilhoso, quase
perfeito, só não estava perfeito porque um pequeno
problema resolveu aparecer.
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— Travis?! — Era uma voz feminina,


automaticamente nós nos viramos e encaramos a
mulher loira.

Ela era muito bonita, como aquelas modelos


de lingerie que vemos nos outdoors. Ela também
estava com uma cara bem fechada, talvez fosse
namorada dele. Esse pensamento me fez sentir uma
ponta de desapontamento.

— Então é por causa dessa criança que você


não me liga mais?! — Ela perguntou apontando o
dedo para a minha cara.

Senti o sangue subir aos poucos para a minha


cabeça, precisava manter a calma.

— Você me trocou por tão pouco?! — Ela


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perguntou num tom mais alto, fazendo com que


todos olhassem para a nossa direção. Vi Travis
abrir a boca para responder, mas antes que ele o
fizesse, eu fiz.

Levantei-me da cadeira e me pus a frente dela,


ela era exatamente da minha altura, então não me
deixei intimidar nenhum pouco.

— Quem você acha que é para falar comigo


desse modo? — Perguntei e sorri ironicamente. —
Acho que a única criança que eu estou vendo aqui é
você, que ao invés de vir conversar civilizadamente
como uma adulta, preferiu começar uma cena. E se
ele te trocou por mim, é porque mais mulher do que
você, eu com certeza sou. — Quando iria levantar a
minha mão para acertá-la, Travis me abraçou e me
afastou dela, se colocando entre nós.

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— Acho melhor você ir embora, Davina. —


Ele falou e eu olhei para ela com o rosto
queimando de raiva.

Ela falou algo mais que eu não consegui ouvir


e em seguida saiu dali.

— Perdi a fome. — Falei me desvencilhando


dele e caminhando para fora do restaurante.

Sim, essa sim é a verdadeira Abby. Uma


garota que não abaixa a cabeça para ninguém, que
adora uma boa provocação e não tem papas na
língua.

— Uau, até eu fiquei com medo. — Ouvi a


voz de Travis e senti meu corpo relaxar.

— Desculpa por isso. — Falei me referindo a


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cena no restaurante.

— Acho que eu deveria estar pedindo


desculpas por fazer você passar por isso.

— Tudo bem, eu estava mesmo precisando


gritar com alguém. — Dei de ombros fazendo ele
sorrir.

— Quem olha para o seu rostinho não imagina


que você pode ser tão brava. Melhor irmos comprar
as peças para não ficar tarde quando você tiver que
voltar para a cidade.

Concordei, acenando com a cabeça. Depois


que saímos do restaurante, passamos em uma loja
de peças onde ele me apresentou um senhor muito
gentil que me fez prometer que voltaria a cidade
para conhecer a sua filha, que tinha a minha idade.
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Na volta, Travis colocou algumas músicas


animadas no som do carro. Ao contrário de quando
estávamos indo, o caminho foi divertido e o clima
dentro do carro estava ótimo. De início, eu estava
tímida demais para cantar, mas aos poucos, ele ia
cantando e fazendo graça e eu acabei me soltando.

Assim que descemos do carro, ele aumentou o


som e desceu cantando. O que me fez rir, ele
caminhou até o meu carro e começou a mexer no
motor. Puxei meu celular do bolso e tentei ligá-lo,
mas por causa da chuva na noite anterior ele havia
deixado de funcionar. Caminhei até a ponta da casa
e me sentei na pequena escada que havia na
varanda, observando ele trabalhar.

Alguma coisa estava errada na minha mente,


porque cada movimento dele, cada gesto parecia
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muito sexy. Na verdade, eu podia ver cada um de


seus movimentos em câmera lenta na minha
cabeça. O que era ridículo, afinal ele nem é tão
sexy com esse corpo moreno, músculos dos braços
a mostra e calça surrada apertando suas pernas bem
definidas. Me peguei mordendo o lábio inferior,
desejando poder tocá-lo e sentir novamente seus
lábios nos meus. Desejo, isso é o que está
acontecendo. Toda essa bagunça na minha mente se
resume a isso.

— Quer aprender alguma coisa sobre carros?


— Ele gritou sem olhar para mim, totalmente
concentrado no motor.

Dei de ombros e me levantei da escada,


caminhando até o lado dele e olhando para aqueles
canos, fios e compartimentos, sem fazer a menor
ideia do que cada coisa ali era.
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— Sei que logo de cara não parece algo muito


atrativo, mas passa a ser legal depois que você
conhece melhor. — Ele falou ainda sem me olhar,
parecia estar com receio de fazê-lo.

— Sem querer ser muito intrometida, mas


acho que já sendo, por que você escolheu a
mecânica? — Ele finalmente me olhou, seus olhos
transmitiam uma intensidade diferente, por um
momento vi ele ser tomado pelo terror e me
arrependi de ter feito tal pergunta.

Como se acordasse de um sonho ruim, ele


sorriu fraco e voltou a olhar para o motor, antes de
me responder.

— Acho que foi a mecânica que me escolheu e


não o contrário. Isso tudo era do meu pai, antes
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dele morrer, e então ficou para mim. Não que eu


não goste, mas faço o que faço por ele e não por
mim. — Falou sem tirar os olhos do carro, olhei
para as suas mãos e pude vê-las perderem um
pouco da cor por causa do quanto ele estava
apertando-as na lataria do carro.

Sem responder, eu apenas me aproximei dele e


coloquei uma das minhas mãos sobre as suas
costas. Não seria capaz de falar nada, sabia que
aquele era o momento dele, pelo menos eu achei
que fosse. Mas quando ele se virou rapidamente e
me abraçou, eu fiquei totalmente confusa.

— Desculpa por te lembrar isso. — Falei


depois de alguns segundos em um abraço
constrangedor.

— Acho que eu quem deveria te pedir


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desculpas. — Ele falou e eu o encarei ainda mais


confusa.

— Pelo que?

— Por isso. — Em questão de segundos suas


mãos estavam em mim, sua boca na minha me
tomando para si.

Senti as minhas pernas ficarem moles, meu


coração acelerar, as mãos formigarem, um arrepio
constante percorrer todo o meu corpo.

Joguei as minhas mãos sobre a sua nuca e


puxei seu cabelo de leve, aproximando ainda mais
seu corpo do meu. Estava me sentindo sedenta por
tal contato, era como se o meu corpo tivesse vida
própria, porque eu não estava pensando nas minhas
ações, elas apenas aconteciam.
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— Eu tenho resistido a você durante toda a


noite porque sei que posso te machucar. Mas você
não facilita as coisas, garota. Meu corpo fica em
chamas quando você está por perto, meus
pensamentos embaraçados. Espero que isso seja
apenas atração. — Ele falou encostando a testa na
minha. — Você não sabe como eu a desejo, você é
tão nova e isso é tão errado, mas não consigo mais
evitar. — Ele falou e me beijou novamente.

Se ele soubesse o quanto eu queria que ele


fizesse tudo o que quer comigo nesse momento,
não esperaria nem mais um segundo. Mas por mais
que eu queira, sempre há aquela pontinha de
insegurança e medo que me faz não falar.
Aproximei ainda mais meu corpo do seu, de modo
que pude sentir a ereção dele contra a minha
barriga.
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Suas mãos desceram da minha cintura,


percorrendo a lateral do meu corpo até chegar no
meu quadril. Ele apertou ali por um instante e
desceu as mãos até as minhas coxas. Fiquei
surpresa com a agilidade com que ele puxou as
minhas pernas para o redor de sua cintura. Senti
quando ele começou a andar em direção a casa,
mas sem cessar o beijo, não me importei com
aquilo. Na verdade, eu estava me sentindo tão
embriagada que nada me importaria.

Ele passou pela porta já aberta e caminhou


mais um pouco antes de me deitar no sofá. Desceu
aos beijos pelo meu pescoço, até a ponta da minha
blusa.

— Eu não vou tomá-la para mim, pois acho


que não sou digno de tal coisa, mas quero te dar
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prazer como ninguém nunca te deu. — Ele falou e


eu apenas concordei com a cabeça.

Ele desceu as mãos até a barra da minha calça


e começou a desabotoá-la, fechei meus olhos com
vergonha enquanto sentia o tecido grosso da calça
descer pelas minhas pernas e as pontas de seus
dedos tocarem a minha pele levemente, me
causando alguns arrepios. Ele puxou com cuidado a
calça de meus pés e a jogou no chão. Abri os olhos
ao sentir a sua boca quente subindo aos beijos pela
minha perna direita, me encolhi um pouco ao sentir
uma sensação estranha em meu ventre.

Ele continuou a subir aos beijos, levantei meu


rosto para encará-lo, meus olhos cruzaram com os
seus e a intensidade que emanava deles foi capaz de
me enfeitiçar ainda mais. Ele não parou ao chegar
em meu quadril, continuou beijando enquanto
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arrancava a minha blusa, senti meu rosto começar a


queimar, mas nada me faria desistir desse
momento. Ele tirou a minha blusa por completo e a
jogou em qualquer lugar da sala.

— Esse sutiã fica ainda mais lindo em você.


— Falou e sorriu de lado voltando a me beijar.

Não demorou muito em minha boca, logo


estava devorando o meu pescoço e descendo
novamente. Parou em minha calcinha, fechei os
olhos novamente enquanto ele a puxava devagar
pelas minhas pernas. Agradeci mentalmente pela
depilação que eu havia feito no dia anterior. Abri
meus olhos ao sentir ele afastar as minhas pernas e
as colocar sobre os seus ombros. Encarei ele, um
sorriso safado estava presente em seu rosto. Ele
abaixou a cabeça e começou a me beijar ali, sua
língua fazendo movimentos contínuos enquanto
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meu corpo parecia ganhar vida e se movia


buscando ainda mais contato. Eu mordia com tanta
força meus lábios que podia sentir o gosto metálico
do sangue em minha boca e mesmo assim isso não
impedia que meus gemidos escapassem.

Ele apertou as minhas coxas com as mãos e eu


arqueei o meu corpo, jogando a cabeça para trás.
Abri minha boca e um gemido alto escapou por ela.
Ele passou a língua lentamente pela minha boceta,
várias e várias vezes, num ritmo enlouquecedor.
Logo começou a movimentar a língua rapidamente
sobre o meu clitóris, o que fez com que ondas de
prazer se espalhassem pelo meu corpo e os gemidos
se tornassem mais constantes. Poucos segundos
depois senti um calor se formar no meu ventre, um
prazer constante se espalhar pelo corpo e minhas
pernas tremerem.

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Senti que estava perto de gozar e ele parecia


saber exatamente isso, pois intensificou os
movimentos contra o meu clitóris e apertou ainda
mais as minhas coxas. Gozei em sua boca, sentindo
meu corpo estremecer até começar a ficar mole, ele
continuou com a boca em mim, sugando todo o
meu líquido até que não restasse mais nenhuma
gota. Ele levantou a cabeça para mim e subiu
novamente beijando a minha barriga até chegar a
minha boca. Se demorou ali enquanto eu sentia o
meu corpo fraco, olhos pesando e sono chegando.

— Obrigada. — Sussurrei.

Senti meus olhos começarem a fechar e o ouvi


falar algo, mas não entendi.

----

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Encarei o belo anjo adormecido na minha


frente, ela estava mais corada e um sorriso tímido
estava presente em seu rosto. Deixei-a sozinha por
um minuto enquanto corri até o quarto e peguei
uma blusa minha, voltei a sala e com cuidado a
vesti nela, que se moveu, mas não acordou. A blusa
cinza ficou enorme nela, cobrindo até a metade de
suas coxas. Ela se moveu novamente no sofá e
deitou de lado. Depois de observá-la por mais
alguns minutos, peguei suas roupas e as deixei
dobradas sobre o sofá.

Voltei para o lado de fora da casa e decidi me


concentrar no concerto do carro, para ver se isso
melhorava a minha situação e meu amigão decidia
se acalmar. Eu até queria atrasar o concerto para
que ela ficasse mais tempo, mas sabia que o irmão
dela provavelmente chamaria até a polícia. Passei
cerca de duas horas concertando o carro até que ele
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estivesse pronto e novinho em folha. Quando voltei


para dentro de casa, ela ainda estava ali,
adormecida.

Caminhei até a cozinha e preparei um lanche


rápido, antes de acordá-la. Parei em sua frente e me
abaixei, toquei seu rosto e o acariciei com cuidado,
chamando pelo seu nome.

— Abby, acorda, dorminhoca. — Falei e ela


abriu os olhos devagar, se espreguiçando e fazendo
com que a blusa subisse e mostrasse um pouco
mais de seu corpo.

Eu estava perdido, aquele simples gesto já


estava me despertando desejo.

— Oi. — Ela falou sorrindo.

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— Oi. — Falei encantado, ela conseguia ser


ainda mais linda quando acabava de acordar. — O
carro está pronto. — Falei na intenção de tirá-la de
meus pensamentos.

— Que bom. — Ela falou e pude ver uma


pontinha de decepção passar pelo seu rosto. —
Melhor eu me trocar.

Apenas concordei com a cabeça.

---

Já no banheiro, eu tirei sua blusa de meu


corpo, blusa que eu sequer sabia como havia ido
parar ali. Vesti rapidamente a minha roupa e fiz um
coque no cabelo. Assim que saí do banheiro, fui
surpreendida por um cheiro bom de torradas, segui
o cheiro até a cozinha, onde Travis estava tirando
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uma forma do fogão.

— Não sou nenhum mestre cuca, mas acho


que isso serve para matar a nossa fome. — Ele
falou e Zeus latiu.

— A cara está ótima. — Sorri sem muita


animação.

Sabia que daqui a poucos minutos eu teria que


deixa-lo para trás, era errado me sentir mal por isso.
Por nunca mais poder vê-lo, mas eu não conseguia
evitar.

— Você pode me entregar algum recibo do


conserto do carro e o número da sua conta para que
o meu irmão lhe pague?

— Não precisa.
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— Precisa sim, não vou te dar prejuízos e além


do mais, não posso chegar lá sem uma conta para
pagar. Conheço meu irmão, ele investigaria o que
aconteceu aqui.

— Seu irmão parece um pouco possessivo. —


Ele sorriu.

— E é.

Comemos e conversamos por poucos minutos


até que eu pedi a ele que me levasse até o carro
para que eu pudesse ir. Meu coração estava
apertado, sentia que nunca mais o veria e isso me
machucava. Assim que paramos em frente ao carro,
me virei para ele e o beijei. Passando minhas mãos
pela sua nuca e apertando meu corpo contra o seu.

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— Obrigada por tudo. — Falei assim que me


afastei.

— Disponha. — Ele falou passando a mão


pelo cabelo.

Travis abriu a porta para mim e eu entrei, antes


que ele fechasse, Zeus correu até mim e latiu,
passei a mão pela sua cabeça e deixei um beijo ali.
Ele se afastou e Travis finalmente fechou a porta,
olhei para a casa e senti um vazio tomar conta de
meu peito, nunca havia me sentido tão à vontade
quanto ali e mesmo que tenha passado pouco
tempo, sentirei falta.

— Adeus, Travis. — Falei e virei meu rosto


para a estrada, uma lágrima solitária caiu pela
minha bochecha. Não esperei que ele respondesse,
apenas liguei o carro e saí dali.
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Capítulo 12
Douglas andava de um lado para o outro,
estava extremamente agoniado, lá fora o céu estava
preto e estrelado. Uma noite linda e seria ainda
mais linda se Abby não tivesse sumido. A pedido
de Brad ele ainda não havia chamado a polícia.
Segundo o irmão essa deveria ser apenas mais uma
brincadeira de mau gosto da irmã e logo ela
apareceria com um enorme e cínico sorriso no rosto
porque conseguiu enganá-los.

Parte de Douglas acreditava nessa hipótese, até


porque conhecia bem a irmã que tinha e ela era
capaz de fazer isso por pura diversão. Mas ainda
havia uma pequena parte dele que sentia que aquilo
não era apenas uma brincadeira de mau gosto. Ele

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lembrou-se da tempestade que havia caído no dia


anterior e imediatamente uma imagem de Abby
parada no meio do nada, com um temporal caindo
ferozmente, veio a sua mente.

Douglas passou as mãos pelos cabelos e


grunhiu de raiva, pegou o telefone do bolso e
quando estava prestes a discar o número da polícia,
ouviu a porta de casa bater. Levantou a cabeça e
encarou quem havia acabado de entrar, Abby
estava com um sorriso sem graça em seu rosto, tão
sem graça quanto ela nunca seria capaz de ser.
Douglas a encarou preocupado, certo de que algo
muito ruim havia acontecido com ela. Toda a raiva
e angústia que estava sentindo se dissiparam de
uma só vez, ele enfiou o celular no bolso de seu
jeans claro novamente, se aproximou da rua e a
abraçou, sentindo uma calma reconfortante invadir
o seu corpo. Ele pôde sentir a irmã ficar tensa sob
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seu abraço, e não era para menos, faziam oito anos


desde que ela a abraçou daquele modo pela última
vez. Naquele momento ele sentiu uma necessidade
enorme de a proteger.

— Você não está bravo? — Ela perguntou e


depois de algum tempo em silêncio, Douglas se
afastou da irmã.

— Estou, mas também estou muito feliz que


você esteja bem. — Ele falou soltando o ar dos
pulmões. — Quero que você seja sincera sobre o
que aconteceu.

— Precisa ser agora? — Abby perguntou com


receio.

— Se não quiser passar algumas semanas de


castigo, sim. — Falou num tom mais sério.
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Ela pareceu pensar um pouco antes de decidir


falar, só que antes de poder abrir a boca, Douglas
tomou a frente e a interrompeu.

— Se estiver pensando em uma desculpa para


me contar, nem perca o seu tempo. — Falou sem
humor.

— Nem se eu fosse um gênio conseguiria


inventar algo em tão pouco tempo. — Revirou os
olhos e cruzou os braços. — A verdade é que eu
peguei seu carro escondido, ele parou no meio do
nada, começou a chover, meu celular ficou
ensopado e deixou de funcionar e então quando
achei que estava perdida, apareceu um mecânico
com um guincho e me ajudou. Ele também
consertou seu carro e agora estou aqui. — Falou de
uma vez.
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— Sinto que você não está me contando tudo o


que aconteceu. Qual o nome desse mecânico? —
Ele ergueu uma das suas sobrancelhas.

— Travis. — Abby falou e imediatamente suas


bochechas tomaram um tom mais rosado.

— Ele tentou algo com você?

— Por Deus, Douglas. É claro que não — Ela


falou parecendo estar surpresa com a pergunta do
irmão.

— Vai me dizer que ele te ajudou, te deu


abrigo e consertou o carro sem pedir nada em
troca?! — Ele arqueou novamente uma
sobrancelha.

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— Eu fico impressionada com a sua falta de fé


nas pessoas. — Ela revirou os olhos.

“Essa sim é a minha irmãzinha.” — Douglas


pensou e sorriu.

— Ele pediu algo em troca. — Ela afirmou e


o sorriso dele foi morrendo de modo gradativo. —
Aqui está a conta pelo conserto do carro. — Ela
puxou um papel do bolso de trás da sua calça e
entregou para Douglas.

Douglas desdobrou o papel e leu tudo com


atenção, o valor da conta era razoável, ele até
cogitou a hipótese de retirar o castigo de Abby, mas
pensou melhor e desistiu. Conhecia a irmã bem o
suficiente para saber que se fizesse isso, ela o
afrontaria novamente.

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— Uma semana sem telefone, sem televisão e


sem sair de casa.

— Tudo bem, meu telefone já não pega


mesmo. — Ela deu de ombros e começou a subir as
escadas.

Douglas revirou os olhos e observou Abby


sumir ao longo das escadas.

----------

Depois de avisar a Maria que Abby estava


bem, Douglas sentou-se para conversar com ela,
sentia que algo a estava incomodando, mas ela
relutava em contar. Depois de alguns minutos de
insistência, ela finalmente abriu o jogo. Contou que
o filho estava começando a seguir os caminhos do
pai, fugindo da escola para beber e fumar e a
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tratando de modo agressivo.

A cada palavra dita por Maria, ele podia sentir


toda preocupação que ela estava sentindo. Douglas
sabia pouco sobre a história dela, mas sabia que ela
havia fugido do país para poder se livrar do marido
que a agredia constantemente. Como na época era
perigoso atravessar a fronteira e o filho ainda era
pequeno, ela precisou deixa-lo com a mãe e a irmã.

Quando começou a trabalhar com Douglas, ela


contou a ele parte de sua história e ele a ajudou a
legalizar seu visto no país e depois de alguns anos
ele havia conseguido ajudá-la a trazer o filho para
os EUA. No começo ele pareceu ser um bom rapaz.
Na verdade, se Maria não contasse a ele,
dificilmente ele perceberia o que estava
acontecendo, tanto porque ele mal ficava em casa,
quanto por andar desatencioso nos últimos dias.
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Douglas sentia-se um pouco culpado por não


perceber antes o que estava acontecendo com ela,
Maria sempre foi como uma segunda mãe para ele.
Por esse motivo ele prometeu que arrumaria um
jeito de ajudá-la a tirar o filho dessa encrenca.

----

4 dias depois…

Madson estava sentada em sua cadeira de


rodas enquanto a mãe lhe trazia a caixinha com o
seu novo amigo, óculos de grau, ela abriu a
caixinha e pegou os óculos, ficou encarando ele por
um instante e então o colocou nos olhos. Assim que
olhou para a mãe, pôde vê-la com mais nitidez,
podia ler os avisos escritos em papéis na parede.

— E aí, filha, o que achou? — Melissa


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perguntou parecendo estar ansiosa.

— Até agora parece muito bom, mas não sei


como ficou no meu rosto. Queria poder ir até um
espelho. — Falou sorrindo fraco.

— Eu trouxe um espelho comigo. — Melissa


falou e se aproximou da filha novamente com um
espelho em mãos.

Madson se encarou no espelho por alguns


instantes e viu que os óculos não haviam ficado tão
ruim afinal. Até a havia deixado com um ar de séria
e coberto um pedaço da cicatriz que havia em seu
rosto. Enquanto se olhava no espelho, um flash de
luz interrompeu a sua visão, assim que a luz cessou,
Madson olhou para mãe e viu que ela havia tirado
uma foto.

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— É para o Dean. — A mãe se defendeu antes


que ela pudesse falar algo.

Madson apenas sorriu e deixou o corpo


encostar na cabeceira da cama.

— Filha, eu preciso ir resolver algumas coisas


no banco, sinto muito por não poder ficar aqui mais
tempo.

— Tudo bem, mãe. Eu estava mesmo


precisando descansar. — Ela sorriu e a mãe se
aproximou, pegando o espelho da mão de Madson e
colocando na mesinha ao lado.

— Vejo você amanhã de manhã. — Depositou


um beijo na testa da filha.

— Eu te amo. — Madson falou antes que a


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mãe pudesse sair do quarto.

A mãe apenas acenou e mandou um beijo no


ar para Madson. Assim que a porta se fechou,
Madson pegou o celular que estava ao seu lado na
cama e conectou seus fones de ouvido. Assim que
abriu o aplicativo de músicas, a música Always in
my head do Coldplay invadiu os seus ouvidos.
Madson fechou os olhos para se concentrar na
música.

Eu penso em você
Eu não tenho dormido
Eu acho que consigo
Mas eu não consigo esquecer
Meu corpo se move
Vai para onde eu quiser
Mas, embora eu tente, meu coração continua
parado.
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Ele nunca se move


Só não sai do lugar
E a minha boca saliva para ser satisfeita
E você está sempre na minha cabeça.

Madson abriu os olhos ao sentir uma boca


macia tocar a sua, assim que viu o rosto de
Douglas, tirou os fones de ouvido e sorriu.

— Você estava bem concentrada na música, te


chamei diversas vezes. — Ele falou cruzando os
braços.

— O volume estava um pouco alto. — Ela


sorriu sem graça.

— Você está linda. — Ele falou e ela sentiu as


bochechas corarem.

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Só depois se lembrou que estava de óculos,


automaticamente tirou os óculos do rosto e o
colocou na cama.

— Não era para você tirar, ficou maravilhosa


de óculos. — Ele falou e ela o encarou sem querer
acreditar que aquele elogio era verdade, mas o
olhar dele transmitia sinceridade.

— Ainda estou me acostumando com eles, não


quero que você fique me encarando, já sou
esquisita o suficiente com essa cicatriz no rosto. —
Ela falou e abaixou a cabeça.

— Não, essa cicatriz te faz ainda mais linda do


que você já é, porque ela mostra o quão forte e
determinada você pode ser. — Ele se aproximou e
deixou um beijo na testa dela. — Eu preparei algo
especial para você. Preciso que você fique de olhos
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fechados até que eu diga que pode abri-los.

— Tudo bem. — Ela fechou os olhos e sentiu


a ansiedade tomar conta do seu corpo.

-----

Douglas saiu do quarto por um instante e


pegou o violão que havia deixado encostado do
lado de fora do quarto, entrando novamente logo
em seguida.

— Pode abrir.

Douglas sentou-se à frente de Madson e


colocou o violão sobre a perna, posicionando as
mãos sobre as cordas e fechando os olhos. Respirou
fundo antes de dedilhar as cordas e os primeiros
acordes da música Thinking out Loud surgirem no
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ar. Ele limpou a garganta antes de começar a cantar


e quando sua voz começou a ecoar pelo quarto,
linda, rouca e afinada, ele pôde imaginar a surpresa
no rosto de Madson. Aquela música era perfeita
para a situação.

Quando suas pernas não funcionarem como


antes
E eu não puder te carregar no colo
A sua boca ainda se lembrará do gosto de meu
amor?
Os seus olhos ainda sorrirão por causa de suas
bochechas?
Querida, eu te amarei até que tenhamos 70
anos
Amor, meu coração ainda se apaixonaria tão
intensamente como foi aos 23 anos

Estou pensando em como


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As pessoas se apaixonam de maneiras


misteriosas
Talvez apenas com o toque de uma mão
Eu, me apaixono por você a cada dia
Eu só quero te dizer que eu estou apaixonado

Então, querida, agora


Me abrace com seus braços de amor
Beije-me sob a luz de mil estrelas
Apoie sua cabeça sobre meu coração
palpitante
Estou pensando alto
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui,
onde estamos

Quando meu cabelo parar de crescer e minha


memória falhar
E as plateias não lembrarem mais do meu
nome
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Quando minhas mãos não tocarem as cordas


do mesmo jeito
Eu sei que você me amará da mesma forma

Pois, querida, sua alma


Jamais envelhecera
Ela é eterna
Amor, seu sorriso estará sempre em minha
mente e memória

Estou pensando em como


As pessoas se apaixonam de maneiras
misteriosas
Talvez seja parte de um plano
Bem, eu continuarei a cometer os mesmos
erros
Esperando que você entenda

Douglas estava cantando com todo o seu amor,


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toda a sua emoção, totalmente entregue aos


sentimentos. Totalmente entregue àquela mulher
maravilhosa que ele tinha mais do que certeza que
amava. Enquanto cantava, imagens dela passavam
pela sua mente, seu sorriso, suas lágrimas, o
primeiro beijo, o primeiro olhar. Douglas fechou os
olhos com mais força, sentiu seu coração saltar em
seu peito enquanto mais estrofes saiam pela sua
boca.

Que, querida, agora


Me abrace com seus braços de amor
Beije-me sob a luz de mil estrelas
Apoie sua cabeça sobre meu coração
palpitante
Estou pensando alto
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui,
onde estamos

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Querida, agora
Me abrace com seus braços de amor
Beije-me sob a luz de mil estrelas (oh amor)
Apoie sua cabeça sobre meu coração
palpitante
Estou pensando alto
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui,
onde estamos

Talvez tenhamos achado o amor bem aqui,


onde estamos
Talvez tenhamos achado o amor bem aqui,
onde estamos
E nós achamos o amor bem aqui, onde
estamos

Assim que Douglas tirou os dedos das cordas e


abriu os olhos, pôde ver as lágrimas escorrerem
pelo rosto de Madson e um sorriso enorme formado
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em seu rosto. Aquilo fazia tudo valer a pena, toda


luta, toda dor, toda tristeza e sofrimento. Parecia
que a sua vida já havia sido traçada antes mesmo
dele nascer, parecia que Deus tinha um propósito
para ele e pela primeira vez ele conseguiu aceitar
que tudo o que aconteceu no passado acabou
resultando em algo bom, em algo que valia a pena
viver. Pela primeira vez em muito tempo, Douglas
sentiu vontade de acreditar em Deus, acreditar que
ele é bom.

Douglas pôde sentir toda a mágoa, tristeza,


rancor e ódio saírem de seu coração, não queria
mais aqueles sentimentos pesados o puxando para
trás. Não queria continuar vivendo preso ao
passado enquanto seu futuro estava bem ali, na sua
frente, pronto para ser vivido. Enquanto a mulher
que ama estava ali na sua frente, esperando por ele
para poderem, juntos, seguir uma vida de felicidade
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e construir uma família.

Douglas tirou o violão do colo e o encostou ao


lado da cadeira na parede, caminhou até a cama de
Madson, onde sentou-se na ponta e se inclinou para
então tomá-la em seus braços e a beijar com
paixão. A cada dia que passava os sentimentos que
ele sentia por ela pareciam crescer mais e mais.
Enquanto o beijo se tornava mais intenso, ele podia
sentir o seu coração sendo entregue para ela, podia
sentir a paixão se espalhar pelo seu corpo e uma
sensação de felicidade tomar conta da sua mente.

— Não importa o tempo que vai passar, não


importa que você esteja em uma cadeira de rodas
agora, não importa que todos achem que estamos
nos precipitando. Eu não te deixaria por nenhum
desses motivos bobos, eu não desistiria de te amar
por nada nesse mundo. Eu fiz uma promessa a mim
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quando você chegou na UTI, não irei desistir de


você, porque sei que a minha felicidade está ao seu
lado e quero que a sua felicidade esteja ao meu. Por
isso, agora… — Ele passou a mão pelo rosto dela,
onde a cicatriz estava. — Eu faço uma promessa
para você, nunca deixarei de te amar. Isso que
estamos construindo é para sempre. — Douglas se
levantou da cama e procurou pela caixinha no bolso
de seu jaleco, assim que a achou, abriu-a e nela
havia um anel de noivado, preso em uma corrente
de ouro, formando um colar. — Eu só preciso da
sua confirmação, só preciso que me aceite para
sempre e eu prometo que o propósito da minha vida
será fazê-la feliz. Madson, eu já te considero
minha, mas quero que seja ainda mais do que isso,
quero que seja a minha mulher, a mãe dos meus
filhos, a minha companheira. Você aceita se casar
comigo? — Ele perguntou se colocando de joelhos.

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Madson o encarou assustada, encantada e


totalmente paralisada, eles já haviam conversado
sobre casamento, por causa de Anna, mas ela não
achava que seria tão rápido assim. Levou as mãos
até a boca enquanto várias lágrimas escorriam pelo
seu rosto. Douglas tinha esse poder sobre
ela, conseguia mexer com todas as suas emoções,
desnorteá-la e a deixar sem palavras. Ela não era
tão boa com as palavras quanto ele, mas não achava
que um “sim” ou um “ com certeza” bastasse.

— Desde que eu te vi pela primeira vez, senti


algo diferente, forte, fiquei totalmente encantada
pelo seu olhar. Achei que fosse loucura da minha
cabeça, eu havia acabado de sair de um
relacionamento da pior maneira possível e achava
que não deveria mais me envolver com ninguém
nem tão cedo. Mas bastou uma troca de olhares
para eu já estar totalmente envolvida com você.
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Creio que o destino resolveu brincar comigo e me


colocou na sua vida dessa maneira, quando podia
ter sido em um encontro casual, em um esbarrão
em algum lugar ou então quando eu viesse visitar a
minha irmã aqui no hospital. Pensando bem, acho
que se tudo o que aconteceu não tivesse acontecido,
nós poderíamos não dar tanto valor ao que sentimos
e talvez nem durássemos juntos. Minha mãe
costuma dizer que nada na vida é por acaso, que
Deus sempre tem um plano para nós e que os
planos Dele são maiores do que os nossos, e eu até
acredito nisso. Eu acredito mais ainda que seremos
felizes juntos e por esse motivo e também porque
eu te amo, que eu digo que te aceito como meu
marido, para o resto das nossas vidas.

Douglas não respondeu, apenas se aproximou


da cama novamente e com cuidado tirou o anel
colar de dentro da caixa de veludo e colocou no
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pescoço de Madson. Ela levantou a mão direita e a


colocou em cima do anel, seus olhos se encheram
de lágrimas enquanto olhava para Douglas. Ele se
sentou na cama novamente e se aproximou,
colocou uma das mãos na lateral do rosto dela e a
observou fechar os olhos enquanto uma lágrima
solitária escorreu pela sua bochecha e um sorriso
brilhante tomava conta de seu rosto. Ele tirou a
mão do rosto dela e com o polegar enxugou a
lágrima. Ela abriu os olhos e ali, Douglas pôde ver
todo o amor que transbordava deles.

Douglas sabia que eles ainda tinham um longo


caminho até poderem conquistar a sua felicidade,
sabia que haveriam pessoas tentando atrapalhar o
seu relacionamento, mas não queria pensar naquilo.
Só queria pensar que se fosse esse o caso, ele
lutaria contra todo um mundo para proteger a
mulher que ama. Ele sabia que haveriam dias em
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que ela não suportaria e desabaria no choro, sabia


que nesses dias precisava estar ao lado dela, a
lembrando que todo aquele esforço no final valeria
a pena e que em breve eles poderiam fazer todos os
itens da lista de sonhos dela. Iria lembra-la que
todas aquelas sessões de fisioterapia a fariam andar
novamente e ela finalmente poderia nadar num lago
ou correr na chuva.

— Eu quero muito te fazer feliz, amor. Tenho


certeza, no fundo do meu coração que isso que nós
temos é para sempre e que enquanto eu viver, farei
de tudo para que o nosso amor só aumente. Eu não
sei bem como explicar o que sinto, mas eu sei que é
verdadeiro, pois nunca senti nada tão intenso
quanto sinto com você. — Ele encostou a sua testa
na dela e fechou os olhos.

— Você é o homem dos meus sonhos, é o


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homem da minha realidade e o homem da minha


vida. Se eu pudesse imaginar sentir algo assim,
nunca chegaria perto do que eu realmente sinto.
Nunca achei possível sentir algo tão forte por
alguém. Então eu sei que será para sempre, porque
eu farei de tudo para que seja.

Assim que ela terminou de falar, ele abriu os


olhos e a beijou, um beijo calmo, lento, mas cheio
de amor. Com aquele simples beijo, ele queria
passar para ela toda a sinceridade dos seus
sentimentos e emoções.

Uma batida na porta fez com que ele se


afastasse rapidamente. Madson escondeu o colar
dentro de sua blusa e gritou um “Pode entrar” meio
fraco. Logo uma enfermeira entrou no quarto,
trazendo consigo uma cadeira de rodas. Estava na
hora de mais uma sessão de fisioterapia, ao ver o
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sorriso triste no rosto de Madson, Douglas


dispensou a enfermeira e disse que ele mesmo a
levaria para a fisioterapeuta.

Com cuidado, ele puxou os lençóis que


cobriam o corpo dela e a tirou da cama, deixando-a
em seus braços por um momento.

— Um dia eu estarei te segurando desse modo


enquanto entro com o pé direito na nossa casa. —
Ele falou e beijou a testa dela antes de colocá-la na
cadeira com cuidado. — Mas por enquanto, vamos
cuidar da sua saúde.

-----

A sessão de fisioterapia havia sido melhor do


que todas as anteriores, mesmo ainda sentindo
muita dor, Madson já conseguia mover os dedos do
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pé e com um pouco de dificuldade, o pé também. A


fisioterapeuta havia avisado que só precisava de
mais cinco sessões antes delas começarem o
tratamento intensivo, que inclui equipamentos
como a esteira e fisioterapia na água. Madson
estava muito animada para isso, já conseguia ver as
coisas com mais positividade do que antes, esse era
o efeito que Douglas tinha sobre ela.

Um pouco dessa alegria que ela estava


sentindo se devia ao fato de que em uma semana
seria o casamento da irmã e elas já estavam fazendo
as últimas provas dos vestidos de madrinhas e de
noiva. Madson só não gostava do fato de entrar
numa cadeira de rodas, mas Douglas estaria ao seu
lado, então esse pequeno incômodo se tornava
quase inexistente.

No dia seguinte seria a penúltima prova do


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vestido, Kate havia avisado que logo cedo passaria


no hospital para “raptar” Madson. E ela estava
muito animada para que isso acontecesse.

Douglas havia ido embora há poucos minutos,


mas antes de ir eles haviam conversado bastante e
ele havia cantado mais duas músicas para ela.
Madson estava simplesmente apaixonada pela voz
dele, assim como por todo o resto. Ele havia dito a
ela que logo a levaria para um piquenique, assim
como havia prometido. Ele provavelmente estava
com Anna naquele instante, ele até havia chamado
Madson, mas depois da sessão de fisioterapia ela
estava desgastada e só queria dormir.

No final da tarde do dia seguinte teria uma


outra sessão de fisioterapia, então ela precisava
descansar bastante para poder aguentar o ritmo do
dia seguinte. Madson pegou o celular por um
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instante e entre muitas, uma mensagem chamou a


sua atenção.
“Estou aqui, amor. E estou louco para te ver.“
A mensagem não tinha remetente, mas pelo
arrepio que correu pela sua espinha ela soube quem
havia mandado e esperava com todas as suas
esperanças que aquilo fosse apenas um “blefe”,
pois não estava nem um pouco a fim de encontrar
com ele naquela semana e nem em nenhuma outra.

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Capítulo 13

Kate, Tracy e Abby se olhavam no espelho


admirando os belos vestidos que estavam usando.
Quando Madson olhava para Abby, tão jovem,
radiante e cheia de vida, lembrava-se do quão
difícil havia sido convencer Douglas a deixá-la ser
dama de honra. Ele estava irado pelo que ela havia
aprontado, mas mesmo assim não conseguiu negar
o pedido à Madson.
Hora ou outra os pensamentos de Madson
vagavam na mensagem que o seu ex havia lhe
mandado. O fato dele estar por perto a preocupava,
mesmo que ele nunca lhe tivesse feito nada de mal,
ou lhe ameaçado. Mas toda vez que se lembrava da
mensagem um arrepio percorria a sua espinha. Uma

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sensação ruim tomava conta de seu corpo e ela se


sentia mal. Não queria vê-lo, não queria ter que
olhar nos olhos dele porque não haviam mais
lembranças boas, apenas as lembranças ruins
haviam ficado. Não pensava mais nele como no
começo, sabia que ele havia deixado de ter
importância em sua vida, mas naquele momento era
inevitável não se lembrar do que havia visto no
último dia em que o encontrou e por isso tinha
certeza de que assim que o encontrasse novamente,
todas aquelas imagens terríveis voltariam.
— Mad, você não gostou do vestido? — Kate
perguntou encarando a irmã com curiosidade.
— Não é isso, eu adorei. Só que ele não fica
tão bom nessa cadeira. — Sorriu de modo triste. —
Vocês podem me ajudar a levantar? — Ela
perguntou e Kate concordou.
Madson havia progredido muito no tratamento,
mas escondia isso de Douglas, queria surpreendê-lo
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quando voltasse a andar. Sentia-se culpada por


esconder isso dele, mas não queria dar falsas
esperanças. Já conseguia ficar em pé por poucos
segundos, mas isso não era suficiente para ela.
Queria voltar a andar, queria correr. Ela havia
conversado com a fisioterapeuta e pedido a ela que,
sem ele saber, marcasse um novo horário para que
elas fizessem a fisioterapia avançada. Então todos
os dias pela manhã elas faziam uma sessão, e pela
tarde faziam os outros exercícios mais brandos.
Que eram os que Douglas geralmente
acompanhava.
As únicas pessoas que sabiam disso eram
Kate, Tracy, Abby e a mãe de Madson. Ela preferia
manter aquilo apenas entre elas, porque elas a
entendiam e sabiam o porquê de tal decisão.

Com cuidado, Kate e Tracy levantaram


Madson e por poucos segundos ela pôde se admirar
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no belo vestido de dama de honra. Logo as duas a


ajudaram a se sentar novamente e dessa vez um
sorriso estava presente no rosto dela. Por poucos
segundos pôde se sentir normal, naquele curto
espaço de tempo sentiu que havia esperança, que
não era tão diferente das outras. Passou a mão pela
cicatriz presente em seu rosto, ela já não a
incomodava como antes.
— Faltam dois dias. — Kate falou e pôde-se
ouvir gritos em coro.
A mãe de Madson apareceu ali para ajudá-las a
tirarem seus vestidos. Em poucos minutos todas
estavam prontas, Madson ficou na porta esperando
pelas outras enquanto elas resolviam com a modista
os últimos acertos de seus vestidos.
Enquanto esperava Kate e as outras meninas,
Madson estava olhando para a grande avenida a sua
frente. O tempo estava nublado, indicando que logo
começaria a chover. Ela estava um pouco
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impaciente, pois logo daria o horário da sua sessão


de fisioterapia, ou seja, o horário em que Douglas a
buscaria no quarto e a levaria para a fisioterapia.
Essa era a única parte boa daquelas sessões, vê-lo,
mesmo que durante esse tempo tivesse que fingir
que não estava avançando no tratamento e mesmo
que se sentisse culpada a cada vez que ele vibrava
com uma pequena melhora dela. Melhora essa que
ela já havia conseguido há um tempo. Ela sabia que
no final toda essa aflição valeria a pena, quando
visse o sorriso no rosto dele ao saber que ela estaria
"curada".
Madson às vezes deixava seus pensamentos
vagarem no quanto o amava e porque o amava.
Sempre que isso acontecia um sorriso surgia no
rosto dela e seus olhos se enchiam de lágrimas,
talvez nunca entenderia como se podia amar tanto
uma pessoa. Como precisava tanto dessa pessoa e
como ansiava pelo momento em que a veria todos
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os dias, ela esperava que esses sentimentos nunca


passassem e faria de tudo para que eles
permanecessem fortes daquele modo, porque queria
se sentir dessa maneira para o resto da sua vida.
Madson já estava completamente perdida em
pensamentos quando um bip vindo de seu celular
chamou sua atenção. Uma nova mensagem havia
chegado, ela nem precisou desbloquear o celular
para saber quem era, ali na tela a mensagem estava
exposta. "Eu estou aqui." A mensagem dizia.
Madson pôs as mãos nas rodas da sua cadeira e a
empurrou para frente, saindo da loja e na calçada,
olhou para todos os lados a procura do dono
daquela mensagem. Um arrepio percorreu as suas
costas, fazendo-a colocar novamente as mãos sobre
a roda da cadeira e tentar empurrá-la para trás, mas
algo estava travando a cadeira.
— Não se assuste. — Disse aquela voz
conhecida, a boca dele estava próxima ao ouvido de
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Madson. — Não farei nada agora, mas ainda vamos


nos ver muito.

Ele terminou de falar, Madson estava


paralisada, não conseguiu virar o rosto, gritar ou se
mover. Estava totalmente assustada, sentiu um
impulso sobre a sua cadeira de rodas e ao olhar
para trás pôde ver enquanto Caleb se afastava. Seu
peito começou a se apertar e a sua respiração
começou a falhar, ela tentou manter seus
pensamentos em outra coisa, mas não conseguia
pensar em mais nada além do que que havia
acabado de acontecer. Ela estava hiper ventilando,
sentiu uma gota cair na sua mão direita, em seguida
outras gotas começarem a cair do céu. Respirou
fundo e olhou para cima, várias gotas de chuva
molharam o seu rosto, fazendo com que a sua
maquiagem começasse a escorrer, borrando suas
bochechas. Ela respirou fundo novamente e
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começou a controlar a respiração. Só não conseguia


se mover.
— Maddy! — Ouviu a mãe gritar e em
seguida proferir algumas palavras que ela não
conseguiu entender por não estar prestando atenção
em nada.
Sentiu a cadeira ser puxada para trás e apenas
soltou as mãos das rodas e deixou que a mãe a
guiasse para a loja novamente.
— Você não tem nenhum pingo de juízo?! —
Olhou para a sua frente e Kate estava ali, com as
mãos na cintura, batendo o pé repetidas vezes no
chão e com uma cara totalmente fechada.
— Acho melhor levarmos ela para o hospital,
meu irmão me disse que a imunidade dela ainda
estava baixa. Um pequeno resfriado poderia afetá-
la de um modo mais brusco do que afetaria uma de
nós. — Abby falou e a mãe de Madson concordou.
— Você não tem nada a dizer em sua defesa?
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— Kate perguntou.
— Achei ter visto alguém conhecido. —
Madson respondeu num fio de voz.

——-

Douglas andava de um lado para o outro nos


corredores do hospital, esperando pelo momento
em que Madson chegaria. Faziam poucos minutos
que ele havia recebido uma ligação da irmã dizendo
que Madson havia pegado chuva e estava resfriada.
Mesmo não sendo algo para tanto alarme, ele não
havia conseguido deixar de ficar preocupado. Era
extremamente cuidadoso quando se tratava da sua
família e Madson seria sua família em breve.

Douglas parou de andar em círculos assim que


viu Madson chegar sendo empurrada pela mãe.
Tentou se controlar ao máximo para não deixar
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transparecer toda a preocupação que estava


sentindo, precisava parecer profissional naquele
momento. Ele esperou que elas se aproximassem
mais e cumprimentou as duas, fazendo um gesto
para que elas entrassem primeiro no quarto.
— Eu poderia brigar com você por ser uma
paciente tão teimosa, Madson. Mas vou apenas te
passar alguns remédios para evitar que seu
resfriado piore. — Ele falou olhando diretamente
nos olhos dela. — Por que ela pegou chuva? —
Perguntou encarando Melissa dessa vez.
— Ela disse que encontrou alguém conhecido.
— Melissa falou e Douglas virou-se imediatamente
para Madson encarando-a com um olhar
interrogativo.
— Achei ter visto alguém conhecido. —
Madson replicou.
— Tudo bem, vou chamar uma enfermeira
para te ajudar a trocar essas roupas molhadas e
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depois volto com os remédios. — Douglas falou


sério, e depois voltou-se para Melissa. — A
senhora pode me acompanhar? — Falou enquanto
digitava o chamado em seu pager.
Assim que saíram do quarto, Douglas levantou
o olhar de seu pager e foi surpreendido por um
olhar interrogativo vindo de Melissa.
— Vocês podem até conseguir esconder isso
de todos, mas de mim não. — Melissa falou
cruzando os braços. — Posso ser velha, mas não
sou idiota. Sei que vocês dois estão tendo algo, vi a
aliança no colar dela hoje quando a ajudei na prova
do vestido.
— Senhora Martínez... — Ele começou a falar,
mas ela levantou a mão fazendo-o parar.
— Sou totalmente a favor desse
relacionamento, sei que vocês escondem isso
porque pode prejudicar os dois. Eu não sei muito
sobre hospitais e sua política interna, mas assisto
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Grey's Anatomy e sei que relacionamento entre


médico e paciente é proibido pelo clube de ética.
Só exijo que vocês não me escondam mais nada, eu
sempre vou descobrir. — Ela falou séria e depois
sorriu, fazendo com que um alívio tomasse conta
do corpo de Douglas. — Não seja idiota como
Derek Shepard, se eu descobrir que você é casado
irei te caçar até no inferno. — Completou.
— Não sou casado, ainda, mas pretendo me
casar com a sua filha em breve e aquele anel no
pescoço dela é a prova disso. Eu amo a sua filha,
Melissa. A amo mais do que já fui capaz de amar
qualquer outra mulher e quero fazê-la muito feliz.
— Ele falou e quando Melissa ia responder, a
enfermeira passou por eles e entrou no quarto.
— Cuide da minha garotinha. Eu confio em
você. — Melissa falou antes de sair dali.
Douglas sorriu com aquilo, estava feliz por ter
a aprovação da mãe de Madson. Saiu dali e foi
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arrumar os comprimidos e o soro que daria a


Madson. Devido ao tempo que ela passou em
coma, sua imunidade havia ficado baixa e por isso
não podia arriscar que ela ficasse doente. Quando
estava voltando com todas as coisas, foi
interceptado pelo pediatra que estava cuidando de
Anna, que contou a ele que já havia marcado uma
data para o teste de sentidos. O sorriso que Douglas
tinha no rosto aumentou ainda mais, a data havia
sido marcada para dois dias depois do casamento
de Kate e Thomas. Ou seja, dali a quatro dias.
Douglas entrou novamente no quarto e foi
recebido pelo olhar de Madson, havia algo de
errado com ela e não era apenas físico, mas havia
algo a incomodando. Ele podia sentir isso, era
impressionante a conexão que tinha com ela, pois
nem precisava olhá-la para saber que ela estava
mal.
— Trouxe os seus remédios, amor. — Falou se
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aproximando dela.
Não houve resposta, então ele apenas começou
a preparar o soro, retirando com cuidado a agulha
de dentro do recipiente. Pediu a ela que estendesse
o braço e com cuidado procurou por uma veia, que
não foi muito difícil de achar. Depois de ajustar o
soro e fazer com que Madson tomasse os
comprimidos, Douglas puxou a poltrona para perto
da cama e ficou encarando-a.
— O que? — Ela perguntou sem graça.
— Estou tentando ler você. Quero saber o que
está te incomodando. — Ele falou e ela sorriu sem
graça.
— Encontrei alguém que não queria hoje. —
Ela confessou.
— E essa pessoa ainda te afeta tanto a ponto
de te deixar mal? — Ele perguntou e ela negou.
— Não do modo que você está pensando... Há
uma parte da minha vida que eu não te contei. —
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Ela falou. — Um dos motivos de eu ter vindo


morar com a Kate foi para fugir do meu passado.
Se eu continuasse lá, nunca seria feliz. — Ela falou
e ele tentou entender aquilo em sua mente.
— Esse seu passado voltou agora? — Ele
perguntou e ela concordou com a cabeça. — Devo
me preocupar com isso? — Perguntou com
cuidado.
— Não, mas eu sim. Pouco antes de vir para cá
eu descobri que meu namorado estava me traindo,
na verdade presenciei isso com os meus próprios
olhos. Por esse motivo resolvi me afastar da cidade.
Ele não aceitou o nosso término e continuou me
perturbando por mensagens, ligações e espalhou
algumas mentiras sobre mim que acabaram me
afastando de pessoas importantes. — Ela falou com
lágrimas nos olhos. — Agora ele resolveu voltar,
não me importo com o que ele fez no passado. E
ele nunca me ameaçou, mas eu conheço a
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personalidade explosiva dele, via isso nos ataques


de ciúmes dele e estou com medo do que ele
pretende fazer aqui. — Douglas se levantou
rapidamente e sentou-se na cama ao lado dela,
puxando-a para os seus braços.
— Não deixarei que esse cara te faça nenhum
mal. Eu prometo, meu amor. Ele não irá encostar
em você. — Beijou o topo da cabeça dela. — Não
se preocupe.

— Obrigada, amor. — Ela falou com a voz fraca.


— Eu sei que não digo muito isso, mas... eu te amo.
— Falou e Douglas sentiu o seu coração saltar em
seu peito. Ouvir essas palavras saindo da boca de
Madson era a sensação mais maravilhosa que já
havia sentido em anos.
— Eu também te amo, minha pequena. —
Falou apertando-a um pouco mais. — Tenho duas
notícias muito boas. — Ele falou e ela se afastou.
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— Acho que é o que eu estou precisando nesse


momento. — Ela sorriu.
— A primeira é que amanhã você poderá ir
para casa, seu pai tem uma surpresa para te fazer.
Essa notícia não é tão boa para mim, pois ficará
mais difícil de te encontrar. Mas você finalmente
poderá ter sua privacidade, uma cama confortável e
só terá que vir ao hospital duas vezes durante a
semana. — Ele falou e um sorriso largo surgiu no
rosto dela. — A segunda, é que marcaram o teste
de sentidos da Anna. Se tudo ocorrer como estamos
esperando, já poderão abrir um processo de adoção
para ela. — Ele falou e um sorriso ainda maior
surgiu nos lábios de Madson.
Ela não respondeu nada, apenas o beijou.
Surpreendendo-o, ela aproximou seu corpo do dele,
não se importando se poderia arrancar o tubo de
soro ligado ao seu braço. Douglas enfiou sua mão
por baixo da blusa dela e apertou a sua cintura. Um
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gemido baixo escapou pelos lábios de Madson,


Douglas sentiu seu corpo esquentar ainda mais.
Precisava de mais controle do que tinha quando
estava perto de Madson, ele não sabia se era capaz
de resistir a ela, a desejava com todas as suas
forças. Sabia que precisaria ser paciente em relação
a isso, e já estava sendo, mas o modo como ela
estava beijando-o não ajudava muito na sua
situação. Douglas esforçou-se para se afastar dela,
não queria, mas precisava. Não podia deixar que
ela visse o modo como ele estava excitado.
Douglas passou a mão pelo rosto de Madson e
beijou a sua testa, mantendo a sua boca ali por
alguns segundos e os seus olhos fechados.
— Sabe... — Madson começou a falar e ele
abriu os olhos, afastando-se para encará-la. —
Depois que eu te conheci, algumas músicas
passaram a ter um significado diferente. Um
significado apenas nosso, toda vez que escuto
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alguma música fico tentando nos encaixar naquela


história. Fico imaginando nós dois vivendo daquele
modo, vivendo uma paixão intensa. Isso pode
parecer um pouco estranho, mas tem um pouco de
você em tudo a minha volta. — Ela sorriu sem
graça.
— Amor, eu acho que nenhuma história,
nenhuma música, é mais bela do que a nossa. Toda
vez que eu fecho os olhos imagino seu rosto e é
isso que me mantém firme quando as coisas
parecem estar ruins. Não vou dizer que não ligo
músicas a nós, porque é impossível escutar uma
música sem pensar em você. Você está em tudo,
você tomou conta de tudo e eu amo isso. Amo,
porque você sempre está perto de mim. Seja por
uma música, uma imagem, pensamento ou em meu
coração. Eu posso até parecer um bobo apaixonado,
e sou, mas você se tornou parte de mim. E eu tenho
certeza que sem essa parte eu não sou nada. —
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Douglas respirou fundo e a puxou para seus braços,


para um abraço apertado. — Quero construir uma
vida ao seu lado, quero que o meu futuro esteja
ligado ao seu para sempre, quero construir uma
família, acordar ao seu lado, poder brigar, rir e
chorar com você. — Ele falou fechando os olhos.
— Não importa o tempo que vai demorar, eu nunca
vou desistir de nós dois.
— Eu também não, mesmo que seja difícil,
mesmo que eu tenha que ir contra o mundo. Nunca
desistirei de nós. — Ele sentiu a mão dela apertar o
tecido da sua blusa branca. — Sabe, seu sorriso é a
minha recarga diária de energia. Quando você sorri,
é como se o meu mundo ganhasse vida, eu poderia
passar horas apenas olhando para ele.
— Que bom, pois o seu sorriso é o que eu mais
amo.
— Me sinto tão bem podendo falar sobre isso
com você. Podendo expressar meus sentimentos
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sem medo. — Ela falou e ele paralisou. Sabia


porque ela estava falando aquilo, sabia que isso
tinha algo a ver com o seu ex e sabia que ela ainda
não estava tranquila quanto àquilo.
— Você nunca mais terá que se preocupar com
isso, amor. Eu te prometo. — Ele começou a falar,
mas um toque alto surgiu de seu celular.
Se recompôs e pegou o celular, na tela dele
estafa escrito "promessa", referindo-se ao que ele
havia dito a Maria que faria. Por mais que quisesse
ficar mais um tempo com Madson, ele precisava ir,
cumpriria com a sua promessa.
— Infelizmente eu preciso ir, amor. Me
desculpa por não ficar aqui mais tempo. — Ele se
afastou e com a mão direita colocou uma mecha do
cabelo dela para trás da orelha. — Chamarei a Beth
para ficar aqui com você, então descanse. — Ele
beijou os lábios dela, um beijo rápido e doloroso,
odiava ter que se despedir dela, mesmo que por
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algumas horas. — Amanhã você terá um dia


agitado.
— Obrigada, amor. Eu vejo você amanhã? —
Ela perguntou.
— Sim, mas mantenha o celular por perto.
Mais tarde eu te ligarei para matar a saudade. —
Beijou a testa dela e se levantou.
— Sim, senhor. — Ela fez um movimento com
a mão sobre a testa.
Douglas sorriu e saiu do quarto, antes de
deixar o hospital, falou com a enfermeira para ficar
ao lado de Madson durante toda a noite e pediu
para um segurança garantir que ninguém a
perturbasse. Douglas levou pouco mais de 30
minutos para chegar em casa, havia pego um
pequeno congestionamento na saída do hospital.
Assim que estacionou o carro em frente a porta de
entrada, pôde ver através das paredes de vidro
Maria vindo juntamente com o filho, que não
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estava com uma cara muito boa.


Douglas desceu do carro para falar com Maria
e o filho dela entrou no carro, passando por ele sem
dizer nada. Maria se desculpou pela atitude do filho
e Douglas apenas pediu para que ela ficasse
tranquila que tudo daria certo. Ao entrar no carro,
acenou para Maria e deu partida, acelerando e
saindo dali.
— Acredite em mim, essa situação é tão
desconfortável para mim quanto é para você. —
Douglas afirmou sem tirar os olhos da estrada.
— Eu duvido muito.
— Eu sei o que você deve estar pensando e sei
o que você quer fazer da sua vida, não estou aqui
por você, mas sim pela sua mãe. Porque ela merece
um filho maravilhoso e não isso que você está
fazendo. — Douglas manteve a voz baixa, mas
ameaçadora. — Vou te levar a dois lugares, se
depois disso você ainda quiser seguir esse rumo, eu
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te deixarei em paz.
— Tudo bem então, coroa. Vamos ver o que
você tem para mim. — Falou com deboche.
Douglas revirou os olhos e continuou
dirigindo, depois de quase uma hora pôde ver o
hospital psicológico. Ao estacionar em frente à
entrada do hospital, olhou para o lado do passageiro
e percebeu que o garoto dormia. O acordou com
cuidado e pediu para que ele o seguisse.
— Quando eu era um residente de Medicina, o
meu professor me trouxe aqui. — Começou a falar.
— Esse é um hospital psiquiátrico, ele abriga os
piores casos do estado e por isso sua localização é
sigilosa.
— Por que eu iria querer conhecer esse lugar?
— O garoto perguntou parecendo confuso.
— Lá dentro eu te explico. — Douglas falou e
parou em frente a um segurança.
Procurou por um cartão em seu bolso e
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mostrou para o segurança que logo os deixou


passar.
— Esse não é um simples hospital
psiquiátrico, mas também uma clínica de
recuperação. Irei te mostrar o seu futuro, caso
queira seguir esse caminho. — Douglas falou e
continuou andando pelos corredores.
Teve que passar por uma revista, e depois
esperar por um médico que os acompanharia, antes
de seguir. O primeiro local pelo qual passaram foi a
clínica de recuperação. O médico mostrou a eles
um paciente usuário de crack, em plena crise de
abstinência. Enquanto o médico explicava a causa
de todas as alucinações e perturbação que o
paciente achava estar tendo. Douglas pôde observar
o temor no rosto do garoto, depois eles passaram
pela sala de tratamento de choque. Não puderam
entrar nela, apenas puderam observar por fora
enquanto era aplicada uma injeção no braço de um
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paciente e seus gritos ecoavam por todo o corredor.


— Ninguém que usa drogas consegue admitir
ou perceber quando está viciado, começa com uma
diversão, um "tapinha" ali e outro acolá com os
amigos. Depois com o uso por diversão em festas, a
pessoa só consegue perceber que é escrava do vício
quando já é tarde. Não pense que fumar te faz ser
descolado, isso só te faz ser idiota. — Douglas
falou de modo duro. — Você pode até achar que
isso não irá acontecer com você, que bebidas e
cigarros são comuns, mas aos poucos isso está te
destruindo.
— Eu não sou viciado. — Rebateu com raiva.
— Você tem certeza disso?! — Douglas
ergueu uma das sobrancelhas — Sabe o que eu vejo
em você? Vejo um garoto que tem tudo para se
tornar um homem de sucesso, vejo todo o potencial
que você tem e que insiste em negar. Vejo que é
inteligente, mas resolveu bancar o burro e se meter
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em um caminho quase sem volta. Digamos que


uma bomba relógio esteja em sua cabeça... O tempo
dessa bomba diminui a cada vez que você coloca
uma porcaria dessas na boca, quando esse tempo
acabar, a sua mente estará voltada apenas para a
droga. Só isso importará, você não ligará de
machucar a sua mãe para conseguir o dinheiro que
precisa para manter o vício, não ligará para se vai
ter que roubar, matar ou passar por cima de
qualquer pessoa. Você pode achar que isso está
longe, mas não está e quanto mais você usa, mais
escravo dela você se torna.
Dessa vez o garoto não conseguiu responder,
apenas balançou a cabeça parecendo tentar
absorver toda aquela informação.
— Você pode nos levar até aquele garoto e
explicar a história dele, Doutor Brighton?
— Claro. — O médico sorriu, os guiou por um
corredor longo até uma porta de ferro, passaram por
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mais três portas como aquela até chegar em frente a


um quarto totalmente lacrado. — Johnny
Gaelanger, tem 19 anos e assassinou quase toda a
sua família há dois anos. Johnny era um garoto
comum, bom nos estudos, ótimo filho, mas ele
começou a se envolver com pessoas erradas.
Começou com a bebida, passou para a maconha,
depois crack e cocaína. Isso em menos de 5 meses.
Johnny não parou por aí, começou a usar tudo
quanto é tipo de drogas. Nada parecia suficiente,
então ele usava com mais frequência e doses
maiores. O cérebro de Johnny entrou em colapso e
as alucinações antes presentes apenas quando ele
usava as drogas, passaram a estar sempre com ele.
Em uma noite, depois de injetar heroína na veia
dentro do banheiro de sua casa, Johnny começou a
alucinar que haviam "monstros" atrás dele, ao sair
do banheiro topou com a sua irmã mais nova
Megan e durante a alucinação, achou que ela era
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um desses monstros e acabou atacando-a. Bateu a


cabeça dela diversas vezes na parede, até que ela
perdesse a consciência. Por causa da adrenalina que
corria nas veias dele, Johnny matou cada um que
estava em sua casa, com suas próprias mãos. A mãe
dele morreu depois de dois dias internada no
hospital. Desde então ele está internado aqui e
precisa de calmantes para se manter são. Todos os
dias temos que mandar um segurança para dentro
do quarto para impedi-lo de se matar. — O médico
terminou de falar e o garoto se aproximou da porta
para olhar pela janela de vidro. — Situações como
as de Johnny são mais comuns do que você
imagina, muitos não precisam de tanto para
enlouquecerem, outros morrem antes de chegar a
enlouquecerem. Alguns, morrem por outros
motivos, como brigas com Gangues, ou com outros
viciados. São várias situações, nenhuma delas boas,
mas todas estão no destino de quem se envolve com
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essas coisas. No caso de Johnny, a irmã mais nova


dele sobreviveu, hoje mora com uma tia e foi ela
quem contou a maior parte da história, pois Johnny
já não tem essa capacidade de raciocínio.
— Obrigado, Doutor. — Douglas falou. —
Agora, acho melhor nós irmos, ainda tenho que
levá-lo a outro lugar. — Douglas falou e o médico
concordou.
Enquanto saiam do hospital, o garoto manteve-
se quieto, parecia ainda estar horrorizado com tudo
o que havia visto.
— Pronto para o próximo local? — Douglas
perguntou e ligou o carro.
— Eu não quero ir. — O menino falou num fio
de voz.
— Acho que precisamos ir, você precisa ver
que além da clínica de recuperação, há outro lugar
para onde você pode ir se continuar nesse caminho.
— Douglas falou, talvez estivesse sendo muito
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duro com ele, mas sabia que se não fosse, a vida


seria.
— Eu não quero continuar nesse caminho. —
O garoto falou desabando no choro. — Preciso de
ajuda para parar, não sei como posso fazer isso.
Douglas sorriu, sabia que não seria simples,
haveria muito o que fazer até conseguir afastá-lo
daquele mundo. Mas o primeiro e mais importante
passo já havia sido dado, agora ele só precisava
manter aquela decisão.

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Capítulo 14
Douglas havia ligado na noite anterior, assim
como havia prometido. Ele e Madson haviam
conversado por horas pelo Skype. Infelizmente não
teria como se verem antes do casamento de Kate,
que já era no dia seguinte, Douglas havia precisado
viajar para outra cidade e resolver algo relacionado
a um garoto que Madson não conhecia. Naquele
momento, ela estava em frente a porta do hospital,
sua mãe estava guiando a sua cadeira de rodas
enquanto o seu pai estacionava o carro. Madson
havia descoberto que a surpresa da qual Douglas
havia falado era uma que sua mãe já havia a
alertado. O pai dela havia comprado uma casa para
que ela e a mãe morassem.
A mãe já havia reforçado o pedido para que

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Madson fizesse cara de surpresa quando o pai


mostrasse a casa. Assim que Gerald estacionou, ele
desceu e colocou Madson no carro com cuidado.
Ela odiava aquilo, odiava depender tanto das outras
pessoas para fazer tudo. Sabia que só precisava ter
um pouco mais de paciência e se concentrar na
fisioterapia para se livrar desse fardo, mas não era
tão fácil ter paciência.
— Lembre-se, Maddy... Faça cara de surpresa.
— Melissa falou novamente ao entrar no carro,
enquanto Gerald colocava a cadeira de rodas no
porta malas.
— Tá bom, mãe. — Madson revirou os olhos e
olhou para o hospital pela janela do carro.
Seu coração acelerou assim que viu aquele
rosto novamente, Caleb estava bem ali, olhando-a
fixamente. Seu rosto estava mais magro, olhos
cobertos de olheiras e um assustador sorriso de lado
no rosto. Madson apertou a mão no tecido da blusa,
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ela queria entender o que havia de errado com ele,


porque ele lhe dava tantos calafrios. Não era como
se ele fosse um psicopata, mas a sua aparência era
de alguém perturbado.
Madson soltou o ar dos pulmões assim que o
pai deu partida no carro e a imagem de Caleb foi
ficando para trás. Ela sentiu aquela mesma
sensação ruim tomar conta do seu corpo, Caleb
parecia determinado a encontrá-la. O celular de
Madson vibrou em seu bolso e ela o pegou com um
pouco de receio.

"Amor?"

Era uma mensagem de Douglas, Madson respirou


aliviada.

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"Você já viu a surpresa?"

Ela sorriu e digitou uma resposta.

"Ainda não, mas já sei o que é."

Esperou alguns segundos até receber uma


resposta.

"Faça cara de surpresa."

Madson revirou os olhos.

"Minha mãe não para de me falar isso."

Ela esperou pouco mais de 10 minutos até que


a resposta finalmente viesse.

"Preciso ouvir a sua voz, quando puder receber


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ligação me manda uma mensagem. Te amo."

O sorriso de Madson foi parar de uma orelha a


outra.

"Ok. Te amo."

Ela travou o celular e começou a olhar para a


paisagem do lado de fora do carro, os prédios
passavam rapidamente. Madson foi fechando os
olhos e uma imagem terrível surgiu em sua mente,
o rosto de Caleb, toda a intensidade assustadora de
seu olhar. O modo como ele estava diferente.
Madson abriu os olhos rapidamente e tentou afastar
aquela imagem da sua mente.
— Você está tão calada. — O pai falou
chamando a atenção dela.
— Só estou um pouco cansada. — Mentiu. —
A sessão de fisioterapia foi intensa.
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— Como você está se saindo?


— Bem.
— Sinto muito por não poder acompanhar de
perto, estou com algumas coisas para resolver na
empresa.
— Tudo bem, pai. Não tem muito o que
acompanhar.
Gerald desceu do carro animado e tirou a
cadeira de rodas do porta malas, Melissa desceu
logo em seguida e abriu a porta para Madson,
depois que Gerald terminou de ajustar a cadeira, ele
pegou Madson no colo e com cuidado passou-a
para a cadeira.
— O que estamos fazendo aqui? — Madson
perguntou se fazendo de desentendida.
— Essa casa é sua. — Gerald falou com
orgulho.
Madson colocou as mãos sobre a boca e se fez
de surpresa. Era péssima naquilo, naquele momento
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agradeceu aos céus por não fazer teatro ou então


morreria de fome.
— Minha? — Ela perguntou fingindo
surpresa.
— Sim e lá dentro tem outra surpresa. — Ele
falou e voltou a empurrar a cadeira.
Assim que passaram pela porta da casa,
Madson pôde ver Kate juntamente com Lexy em
seus braços.
— Ela ficará com vocês por um tempo. —
Kate sorriu e colocou Lexy no chão.
A cadela correu até a cadeira de Madson e
colocou as patas sobre as pernas dela.
— Ei, garota, que bom te ver aqui. — Madson
passou a mão pela cabeça da cadela.
Imediatamente lembrou-se do dia em que
estava desanimada e Kate levou Lexy escondida
para o hospital. Uma das enfermeiras havia ouvido
os latidos da cadela e fez Kate ir embora sob a
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ameaça de não poder mais entrar no hospital.


— Obrigada, pai. Isso é maravilhoso. —
Madson falou com lágrimas nos olhos, não pela
magnitude do presente, mas sim pelo esforço do pai
em fazê-la feliz.
— Outra coisa, vou dormir aqui hoje e amanhã
todas nós vamos nos arrumar aqui. Tudo já está
naquela sala. — Kate falou apontando para uma
porta fechada. — Daqui a pouco Tracy e Abby
estarão aqui, minha mãe decidiu vir pela manhã.
Mas ela já avisou que estamos proibidas de assistir
série até tarde. Justo quando eu achei que poderia
dar um pouco de Diários de um Vampiro para
vocês. — Kate fez uma careta.
— Você está ansiosa, não é?! — Madson
perguntou sorrindo.
— Morrendo de ansiedade. — Kate falou e
respirou fundo.
— Eu sabia. — Gabou-se.
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— Kate, você pode mostrar o quarto para a


Maddy?
— Claro, Melissa.

Kate guiou Madson até um corredor e ao final


dele havia uma porta branca, assim que Kate abriu,
Madson pôde ver uma linda e simples decoração.
Os móveis eram brancos, com pequenos detalhes
em bege. As cobertas também eram no mesmo tom.
Naquele momento Madson teve a certeza de que
não havia sido o pai que havia feito aquilo, pois ele
decoraria tudo com coisas rosas.
— Nós temos o dia todo de bobeira. — Kate
falou ao parar a cadeira de Madson ao lado da cama
e sentou-se nela. — O que vamos fazer? —
Perguntou, estava nitidamente nervosa. — Você
precisa ocupar a minha mente senão eu vou pirar.
— Que tal fazermos aquele negócio que você
gosta do Brasil? — Madson perguntou e um
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sorriso se acendeu no rosto de Kate.


— Ótima ideia, o que vocês acham, bebês? —
Kate perguntou passando a mão pela barriga.
Lexy apareceu com tudo e pulou em cima da
cama. Soltou alguns latidos estridentes e foi para
cima de Kate, tentando lambê-la.
— Ei, garota, nada de chocolate para você. —
Kate falou e a cachorra virou a cabeça de lado,
como se procurasse entender o que a dona estava
dizendo.
— Vou mandar uma mensagem para a minha
mãe pedindo para ela comprar o que precisa.
Pesquisei a receita na Internet. — Madson levantou
o celular para a irmã.
— Ótimo. Já até me sinto mais calma. — Kate
falou e as duas sorriram.
— Acho que no dia do meu casamento não
ficarei tão nervosa. — Madson falou pensativa.
— Como assim, você já saiu do muro? —
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Perguntou estreitando os olhos.


— Como assim pergunto eu. — Madson
revirou os olhos.
— Como diria a Tracy, Doutor Gostoso ou
irmão maravilhoso? — Kate perguntou fazendo
Madson revirar os olhos mais uma vez.
— Já disse que nenhum dos dois. Vocês
precisam parar com isso.
— Sei que você é louca pelo Douglas, não
entendo porque não estão juntos.
— É complicado, ele é meu médico e... —
Madson começou a falar, mas Kate pôs a mão na
boca dela, calando-a.
— Você precisa mesmo assistir Diários de um
Vampiro. — Kate revirou os olhos. — Quando a
Elena vai para a faculdade, se envolve com um dos
médicos e nem por isso deu problemas. Olhe para
mim, estou casando com o meu professor e colega
de trabalho. Na verdade, finalmente vou poder
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matar qualquer uma que ousar olhar para ele. —


Kate sorriu sonhadora.
— Continua sendo complicado, não quero
prejudicá-lo. — Madson falou sem muito ânimo.
— E o irmão? Ele parece gostar muito de
você. — Kate deu de ombros.
— Somos apenas bons amigos, você parece
que está tentando me casar. Eu estou feliz assim. —
Madson revirou os olhos. — Vamos mudar de
assunto ou eu desisto de assistir essa série de
vampiros aí.
— Mandou a mensagem?
— Mandei. Ela respondeu que compraria e
traria em alguns minutos.
Kate fez Madson começar a assistir Diários de
um Vampiro, ela não reclamou porque daquele
modo a irmã se mantinha calma e tentava não
pensar muito no casamento. O nervosismo dela
poderia fazer mal aos bebês. Foram horas
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assistindo a série, elas apenas pararam para fazer o


brigadeiro que, com a ajuda do YouTube, saiu bom.
Quando já estavam no 5º episódio da primeira
temporada, Tracy chegou. Então Kate parou para
explicar tudo o que já havia acontecido até ali.
Madson havia reclamado no começo, mas
estava gostando da série, na verdade, já estava
viciada nela. Ao final da tarde, Melissa apareceu na
porta do quarto e disse a Madson que a
fisioterapeuta estava esperando. Pelo pouco que a
mãe havia explicado, teriam duas sessões de
fisioterapia no hospital e 4 em casa durante a
semana.
Madson trocou de roupa com a ajuda da mãe e
da irmã e logo em seguida a mãe a levou para uma
sala cheia de espelho e equipamentos. Melissa disse
que o pai havia pensado naquilo, mas Madson não
acreditava nisso. Gerald Snow não era um cara
atencioso, então ela sabia que ele apenas havia
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dado o dinheiro para que alguém se encarregasse


disso.
— Pronta, Madson? — A fisioterapeuta
perguntou tirando-a de seus pensamentos.
— Estou. — Madson afirmou e respirou
pesadamente.
— Hoje nós vamos testar a sua resistência
física, precisamos saber quanto tempo você já
consegue se manter de pé. — Falou empurrando a
cadeira até as duas barras que havia no canto da
sala. — Eu vou te ajudar a se levantar e você vai se
apoiar nessas duas barras para se manter de pé o
máximo de tempo possível.
Madson concordou com a cabeça e quando a
fisioterapeuta se posicionava em frente a ela e
começa a levantá-la. Madson sentiu uma dor
começar a se alastrar pelas suas pernas. A
fisioterapeuta a ajudou a segurar nas duas barras.
Mentalmente ela começou a contar os segundos,
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enquanto tentava concentrar-se para não deixar as


pernas falharem.
— Muito bom! — A fisioterapeuta elogiou aos
20 segundos em que Madson tentava ficar em pé.
— Preciso que se concentre parar tentar mover a
sua perna direita para frente, um passo à frente.
— Tudo bem. — Madson falou e concentrou
todo o peso de seu corpo no apoio dos braços. Com
cuidado fez força para que a perna se movesse,
sentiu uma dor que queimava o seu músculo tomar
conta da perna, mas não parou. Estava determinada.
— Acho que já chega, Madson. — A
fisioterapeuta falou.
— Só mais um pouco. — Madson teimou.
— Não. Eu admiro a sua determinação, sei que
você quer melhorar logo e tenho certeza de que vai.
Mas você precisa entender que para tudo há o seu
tempo. Você já está em pé faz um minuto, isso é
maravilhoso, mas não podemos forçar mais e
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arriscar perder todo o nosso progresso. — Falou e


se aproximou para ajudar Madson a sentar-se na
cadeira novamente.
Depois disso elas fizeram mais alguns minutos
de exercícios leves, com Madson deitada no chão,
apenas alongando os músculos com a ajuda da
fisioterapeuta.

----

Douglas mexia nos dedos a todo


momento, estava nervoso, parecia mais que ele era
quem iria se casar. No dia anterior não havia tido
como ver Madson, a irmã dela e o pai estavam na
casa dela a todo momento. Até mesmo quando foi
deixar Abby na casa sequer desceu do carro porque
sabia que no momento em que olhasse para
Madson, os seus olhos o denunciaram. No
casamento era diferente, toda a atenção estaria
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voltada para a noiva, então não havia problema dele


a olhar com desejo e amor.
— Elas chegaram. — Douglas ouviu uma
mulher passar falando e seu coração começou a
acelerar.
Estava ansioso para o momento em que veria
Madson entrar pela porta da igreja, mesmo que ela
não fosse a noiva e esse não fosse o casamento
deles. Aquilo era mais do que especial para ele,
porque sabia que em breve ela entraria ali vestida
com um lindo vestido branco e prestes a ser sua
para sempre.
Para sempre.
Essas duas palavras se repetiam na mente dele
como uma bela melodia, elas tinham um
significado ainda mais especial por estarem
relacionadas a Madson. Por estarem relacionados
ao seu futuro com ela. Uma luz ofuscou os olhos de
Douglas quando a porta da igreja se abriu. Madson
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entrou com Abby empurrando a sua cadeira de


rodas e Tracy ao seu lado. Douglas encarou sua
bela mulher que estava ainda mais maravilhosa.
Seu vestido rosa claro era colado na parte de cima e
solto a partir da cintura. Haviam algumas pérolas
brancas enfeitando o busto que conforme desciam
iam ficando mais escassas, dando um toque
delicado à peça. Os longos cabelos castanhos de
Madson estavam com cachos enormes e lindos.
Isso deixava o rosto dela ainda mais delicado, no
rosto havia uma maquiagem bem marcada nos
olhos e um batom rosa claro. Aquilo destacava a
cor mel dos olhos dela.
— Você está maravilhosa. — Douglas queria
que aquelas palavras tivessem saído de sua boca,
mas saíram da boca de seu irmão.
Douglas o encarou com raiva, sabia que ele
estava fazendo aquilo para provocá-lo. Quando
voltou a olhar para Madson, percebeu que ela
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estava corada e isso o incomodou um pouco.


— Vamos, pessoal, a noiva já está aqui. —
Melissa falou apressando-os.
Brad foi para o lado de Abby, que aliás, estava
tão linda quanto Madson, parecendo uma mulher e
não apenas uma adolescente. Mesmo que ela já
tivesse 16 anos, que aliás havia completado sem
poder fazer festa por causa do castigo, Douglas não
queria que nenhum marmanjo olhasse para a sua
garotinha a desejando. Em sua mente, ela era nova
demais para conhecer o amor e todas as suas
complicações.
Um a um, os casais entraram na igreja. Ao
som da marcha nupcial.
— Você está simplesmente maravilhosa,
minha linda. — Douglas se inclinou e sussurrou
para Madson, dando ênfase à palavra "minha".
Ele sabia que ela não estava totalmente
confortável em estar ali de cadeira de rodas, mas
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queria que estava lá se sentisse tão maravilhosa


quanto qualquer outra mulher naquele lugar. Até
porque ela era a mais linda entre todas. Douglas
imediatamente lembrou-se do sonho que teve com
ela na noite anterior. O modo como seus corpos se
enroscaram e se encaixavam perfeitamente.
Douglas precisou fechar os olhos por um segundo e
abrir novamente para tentar afastar aquelas imagens
de sua cabeça. Em mente, pediu perdão a Deus por
estar daquele modo dentro da igreja.
Ao final do longo tapete vermelho, todos
tomaram seus lugares ao lado do altar. Kate foi
passada para Thomas pelo pai, e a cerimônia
seguiu, linda e emocionante. O que tirou Douglas
do sério foi que a final da cerimônia, Brad se
ofereceu para levar Madson e a tirou da perto dele.
O pior de tudo foi ter que aceitar isso sem poder
falar nada. Douglas ainda não havia quebrado a
cara do irmão porque Madson pediu que não o
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fizesse, mas estava a um fio de fazer isso e deportá-


lo de volta para FellsFord.
Parecia que a sua sina era ter irmãos que lhe
davam trabalho, só faltava o seu outro irmão
aparecer e resolver morar com ele também.
Douglas revirou os olhos com tal pensamento.
Começou a andar pela igreja a procura de Abby,
ninguém sabia onde ela estava. Apenas Tracy disse
que achava que ela havia ido com Abby e Brad.
Por um momento Douglas sentiu-se mais
tranquilo, conhecia a irmã bem o suficiente para
saber que quando ela queria, conseguia ser terrível.
Douglas acabou tendo que ir sozinho para a
festa, chegando lá Brad já não estava mais perto de
Madson, já que ela estava cercada por parentes.
Quando Douglas questionou Brad sobre a irmã, ele
falou que ela havia ido para casa. Aquilo estava
soando estranho, ele sentia que havia algo de
errado, mas resolveu ignorar. Durante toda a festa
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Douglas não pôde se aproximar muito de Madson,


por isso se mantinha ocupado conversando com
Thomas e alguns amigos, e depois com o pai de
Thomas.
Houve um momento em que o telefone de
Douglas tocou, ele se afastou de todos para atender.
Era a sua mãe.
— Estou chegando. — Ela atendeu sem dizer
“Oi”, como de costume.
— Chegando aonde? — Douglas se fez de
desentendido.
— Nem venha com essa, Douglas. Arrume um
quarto confortável para a sua mãe, vou colocar essa
família nos eixos. — Douglas revirou os olhos.
— Mãe, Brad e Abby estão estudando e eu
estou trabalhando. Não vejo nenhuma família fora
dos eixos. — Ele falou com cuidado. Sabia que não
deveria perder a paciência com a mãe, na verdade
nem era louco de fazer isso, Dona Jolie era um
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mulher forte e excêntrica.


— Se eu sinto que há algo de errado, há algo
de errado. E aliás, você já saiu de casa há anos, não
me deu nenhum neto e sequer tem uma namorada.
Você é gay, meu filho? — Perguntou sem nenhum
filtro.
— Mãe! — Ele revirou os olhos. — Já estou
encaminhando uma Nora e uma neta para a
senhora. Quando você chegar eu as apresento.
— Graças a Deus! Os céus ouviram minhas
orações. Eu chego em menos de duas horas, peça
para Maria deixar um quarto pronto para mim. Sei
que vocês não estão em casa. — Jolie falou.
— Preciso desligar, mãe. Mandarei uma
mensagem para Maria. Te amo.
— Sem sentimentalismo, filho. Tchau. —
Desligou.
Douglas sorriu, não era de se admirar que
Abby tivesse pouco juízo, ela era a cópia fiel da
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mãe. Douglas virou-se a tempo de ver o buquê de


rosas que Kate havia jogado parar nas mãos de
Madson. Um sorriso ainda maior tomou conta de
seu rosto, porque até o destino estava querendo
dizer que eles deveriam se casar e se dependesse
dele, logo realizariam esse desejo.
Douglas continuou encarando Madson, parecia
ser impossível deixar de olhá-la. Assim que
percebeu que ela estava com o celular nas mãos,
mandou-lhe uma mensagem.

"Quero te sequestrar para mim, como faço?"

Enviou e olhou para Madson esperando pela


sua reação. Ela parecia surpresa e animada ao
mesmo tempo.

"Vamos fugir daqui."


A mensagem chegou e ele sorriu, digitando
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uma resposta.

"Vou fazer melhor, pedirei permissão."

Colocou o celular no bolso, caminhou


em direção a mãe de Madson, viu o olhar assustado
dela quando se aproximou de Melissa e sussurrou
algo que ela não pôde entender. Melissa por sua
vez, abriu um sorriso largo e falou para ele onde os
dois poderiam se encontrar.
Douglas saiu andando na frente, entrou em
uma porta que a mãe de Madson havia lhe indicado
e lá dentro haviam alguns móveis, como uma sala
para conversas. Poucos segundos depois, Douglas
ouviu a porta se abrir e Melissa entrou guiando a
cadeira de Madson, que estava totalmente corada.
— Prontinho, crianças. — Melissa deixou
Madson ao lado de Douglas. — Não façam nada
que eu não faria. — Piscou para Douglas. — Ou
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seja, podem fazer de tudo. — Sorriu antes de sair


da sala.
— Você contou para ela? — Madson
perguntou, ainda com as bochechas coradas.
— Sua mãe é uma mulher inteligente, ela
descobriu sozinha e ficou feliz porque vamos nos
casar. — Douglas falou com tranquilidade.
— Ela vai torrar a minha paciência até o dia
em que nos casarmos. — Madson falou revirando
os olhos. — Mas estou feliz por não ter que
esconder dela.
— Eu estou feliz por poder te roubar por
alguns minutos. Você está maravilhosa. — Douglas
falou ajoelhando-se em frente a cadeira de rodas de
Madson e segurando a mão dela. — Quando te vi
entrando na igreja, me deu vontade de falar para o
padre parar o casamento e nos casar ao invés da sua
irmã.
— Você é maluco. — Ela sorriu. — Vejo que
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a Abby tem a quem puxar. — Zombou.


— Gatinha, eu estou aqui de joelhos na sua
frente, porque sou maluco, extremamente louco,
mas por você. — Ele falou e observou Madson
corar, amava fazer aquilo.
— Você me deixa sem graça, não sei o que
responder quanto a isso. — Ela admitiu fazendo-o
sorrir.
— Não precisa falar nada. Posso te colocar no
sofá? — Perguntou e ela assentiu.
Com cuidado, Douglas colocou uma das mãos
sob o joelho dela e ela passou os braços em volta
do pescoço dele. Ele a levantou e a colocou sobre o
sofá. Ajudou-a a tirar os saltos e sentou-se ao lado
dela, puxando as pernas dela para cima das suas.
— Eu senti a sua falta. — Madson falou
passando a mão pelo rosto de Douglas.
— Eu ainda sinto a sua falta, parece que
mesmo tendo tudo de você, eu sempre preciso de
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mais. — Disse e então a beijou, puxando-a ainda


mais para perto de si.
Sua mão apertou a cintura dela, querendo
passear por todo o corpo de Madson. Douglas a
beijou dando leves mordidas na boca dela e
chupando o seu lábio com vontade. A mão dele
apertou ainda mais a cintura dela e um gemido
baixo escapou pela boca dela. Douglas desceu aos
beijos pelo pescoço dela, mordiscando e chupando
ali. Ele levou uma das mãos até o pescoço dela e
desceu deslizando um dedo até o decote de seu
vestido.
— Vejo que vocês dois já estão me arrumando
netos. — Douglas soltou Madson imediatamente ao
ouvir a voz da mãe. — Estou atrapalhando? —
Perguntou.
— Não, mãe. Eu achei que você fosse para
casa. — Falou sem graça, enquanto tirava as pernas
de Madson de cima de si com cuidado. —
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Mãe, essa é a mulher de quem eu lhe falei.


— Então você que laçou o meu garoto?! É...
Você é bonita. — Jolie falou sorrindo.
— O que está acontecendo aqui? — Douglas
ouviu a voz de Melissa e então bateu a mão na
testa.
— Os dois estão se preparando para me dar
netos. — Jolie falou com naturalidade.
— Eu vou ser avó? — Melissa levantou o
olhar diretamente para a filha. — Só deixei vocês
sozinhos por 10 minutos e quando volto já estão
assim. Maddy, minha filha. Seu cabelo tá
bagunçado.
— Gostei de você. — Jolie falou. — Sou Jolie
Fitzgerald, mãe desse desnaturado.
— Melissa Martínez, mãe dessa moça sem
graça.
— Mãe! — Madson reclamou.
— Você quem trancou os dois aqui?
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— Isso, achei que assim eles resolvessem dar


um tempero para a relação.
— Sua filha fez uma boa escolha, se o meu
Doug tiver puxado ao pai, ele será maravilhoso de
cama.
— Mãe! — Douglas revirou os olhos. — Por
que vocês duas não conversam lá fora? —
Perguntou.
— Tudo bem, filho, sei o que vocês querem
fazer. Você puxou a mim, gosta de fazer nos
lugares mais inusitados. — Jolie falou deixando a
sala, sendo seguida por Melissa enquanto falavam
sobre como ele e Madson seriam na cama.
— Me desculpe por isso, amor.
— Tudo bem, acho que elas duas iram se dar
muito bem. — Sorriu sem graça. — Me ajuda a
colocar o sapato e voltar para a cadeira?
— Tudo bem, amor.
Mesmo a contragosto, Douglas a ajudou a
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voltar para a cadeira e a levou de volta para a festa.


Durante o resto da tarde ele apenas observou
Madson de longe, enquanto a admirava e morria de
ciúmes. A mãe de Douglas estava contando
histórias sobre ele para Melissa. As duas realmente
haviam se dado bem. No final do dia, Douglas,
Brad e Jolie foram para casa, Jolie foi todo o
caminho falando o quanto adorava o fato de que
iria ter netos. Parecia que o seu mundo se resumia
àquilo.
Douglas deitou em sua cama e fechou os olhos
deixando que o rosto de Madson aparecesse em seu
sonho e lhe desse tranquilidade até que pegou no
sono.

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Capítulo 15
Abby havia fugido novamente. Enquanto
Douglas e Brad discutiam colocando a culpa um no
outro, Jolie ria daquela situação. Douglas estava
impaciente, pois já era meia noite e Abby ainda não
havia chegado, sua mãe não parava de dizer para
que ele deixasse a menina em paz. Mas ele sabia
que se fosse pela cabeça da mãe acabaria ficando
maluco como ela.

A porta da casa se abriu e Abby passou por


ela, caminhando na ponta dos dedos.
— Onde você pensa que vai, mocinha? —
Douglas cruzou os braços.
— Deixe a menina em paz, Douglas. Parece
até que não tem nada melhor para fazer. — Jolie

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tomou a frente e assim que Abby a viu, correu e a


abraçou.
— Mãe, que saudade.
— Também, minha caçula. Eu soube que você
tentou queimar o colégio. — Cruzou os braços e
encarou a filha.
— Não foi bem assim, eu disse que queria
incendiar o local, mas foi no sentido figurado e não
literal da coisa. Acho que Deus ouviu errado e
resolver dar uma mãozinha. Tá vendo, era da
vontade Dele que eu não permanecesse lá.
— Com certeza era, minha filha. Ele sabia que
você lá desvirtuaria toda a igreja. — Jolie falou e
Douglas revirou os olhos. — Douglas, vá
dormir, eu me viro com a sua irmã. Acho que você
já teve atividades físicas o suficiente por hoje, sua
língua deve estar cansada, não a gaste conosco. —
Piscou.
— Mãe, eu não acho que...
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— Que bom que você não acha, querido. Pois


mesmo você já sendo adulto eu continuo sendo a
sua mãe e continuo mandando em você. Já para o
quarto.
Douglas olhou para a mãe incrédulo, mas já
deveria esperar por isso. Abby era o xodó dos pais,
por ser a única filha mulher e ainda por cima a mais
nova. Eles a defendiam com unhas e dentes, de um
modo diferente, é claro, o pai a defendia assim
como Douglas, sem querer que nenhum marmanjo
se aproximasse dela ou que ela saísse para festas e
se envolvesse com pessoas erradas. Já a
mãe defendia que ela deveria aproveitar a vida ao
máximo, viver intensamente, se apaixonar, ir para
festas, conhecer garotos, beijar muito, entre outras
coisas que Douglas preferia não lembrar.
Para evitar que a mãe começasse um sermão
dizendo o quão marxista os homens da família
eram, e como eles não deveriam querer dominar as
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mulheres, Douglas apenas concordou com ela e foi


para o quarto. Seria ótimo ter uma noite de
descanso. Outro irmão ficaria tranquilo se ouvisse
da mãe que ela cuidaria de tudo, mas ele não.
Conhecia a mãe bem o suficiente para saber que o
jeito dela de cuidar das coisas iria piorar tudo, no
mínimo ela daria a Abby o conselho de que ela
deveria arrumar dois namorados, para o caso de um
não ser o que ela esperava.
Nem sempre Jolie havia sido desse modo,
antes, quando Douglas ainda morava com ela, via a
mãe ser submissa a todas as vontades do pai, mas
isso mudou depois que ela descobriu uma traição
dele. Os dois não se separaram, mas vivem como se
não estivessem juntos. Mesmo que morando na
mesma casa. Douglas poderia reclamar o quanto
quisesse, mas prefere a mãe desse jeito louco que
ela vive do que daquele modo sem vida que ela
vivia antes.
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Douglas chegou em seu quarto e depois de


fechar a porta, começou a tirar sua roupa, peça por
peça, as deixando em cima da cama. Quando já
estava totalmente nu, entrou no banheiro e ligou o
chuveiro na água quente. Sentiu o corpo relaxar
assim que a água encostou nele. Enfiou a cabeça
debaixo d'água e deixou os olhos. Em sua mente, a
imagem do sonho que teve na noite anterior pairava
sem parar. O corpo de Madson totalmente nu em
sua cama, suas curvas sendo alisadas pela mão
dele. O modo perfeito como os dois se encaixavam.
Ele sabia que a realidade seria ainda melhor, podia
ter certeza disso, pela intensidade de seus
sentimentos sabia que no momento em que a
tivesse, estaria se entregando de corpo e alma. Não
só na palavra, mas também nas ações.
Douglas ansiava pelo momento em que ela
finalmente seria sua, pelo momento em que
colocaria aquele anel no dedo dela e formaria a sua
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família. Antes de Madson, Douglas não pensava em


formar uma família, não pensava em um futuro, só
pensava no dia em que estava vivendo. Porque na
mente dele, ele sentia que não deveria fazer
planos, pois tinha medo que o destino o
atrapalhasse novamente. Mas dessa vez era
diferente, o destino estava ao seu favor e tudo daria
certo. Ele estava se sentindo capaz de lutar como
um leão para defender o seu amor, a sua família e o
seu futuro.
Douglas desligou o chuveiro e resolveu sair do
banho, precisava descansar e se continuasse ali a
pensar em Madson, precisaria arrumar um jeito de
melhorar a sua situação. Douglas puxou a toalha
azul que havia no boxe e secou seu corpo antes de
enrolá-la em sua cintura. Puxou uma outra toalha
que havia em um gancho na parede do banheiro e
com ela começou a secar os cabelos enquanto saia
de dentro do banheiro. Assim que tirou a toalha do
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rosto, assustou-se ao ver a mãe sentada em sua


cama.
— Mãe! — Reclamou ele. — O que você está
fazendo aqui?
— Vim conversar com você. — Falou, como
se fosse a coisa mais comum do mundo.
— Tudo bem, então você faz isso quando eu
estiver vestido. — Douglas revirou os olhos.
— Douglas Fitiz, eu já te troquei de fraldas
muitas vezes para saber tudo o que você esconde
atrás dessa toalha. Conheço melhor do que
qualquer pessoa. — Ela falou zangada.
— Mãe! — Reclamou.
— Okay, Doug. Te dou cinco minutos para se
trocar ou então invadirei o quarto. — Falou
enquanto saía dali.
Douglas a encarou totalmente perplexo, a cada
dia que passava, parecia que o juízo da mãe ia parar
no ralo. Douglas se vestiu rapidamente e abriu a
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porta para a mãe. Assim que entrou a mãe já foi


começando um sermão sobre como ele deveria
parar de pegar no pé da irmã, como ele deveria tirá-
la do castigo e comprar para ela um celular novo.
Falou sobre como ele era machista, que não tratava
Brad assim. E como um bom filho, ele apenas
concordou com tudo o que ela disse.
— Ah, uma última coisa. — "Graças a Deus."
Pensou Douglas enquanto a mãe falava. — Eu
quero o endereço daquela mulher que você estava
quase comendo naquela sala.
— Sua nora. — Corrigiu.
— Só depois que eu sair com ela.
— Amanhã eu te levo lá.
— Douglas, não sei se você entendeu, mas eu
disse que quero o endereço dela, se quisesse que
você me levasse eu mesma pediria. Não vou atacar
a sua noiva.
— Tudo bem.
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A mãe saiu novamente do quarto, carregando


um sorriso vitorioso no rosto, Douglas se jogou na
cama e depois de alguns poucos minutos conseguiu
dormir.

——-

Dois dias depois...

O sorriso enorme que estava presente no rosto


de Thomas não era apenas pelo fato de que naquele
momento, todos estavam reunidos para o teste que
mostraria se Anna poderia andar ou não, mas sim
pelo fato de que ao seu lado estava a mulher que
amava. Desejando tanto quanto ele que a pequena
estivesse bem e ansiando pelo momento em que
dariam entrada no processo de adoção.
Ao olhar para a pequena Anna, Douglas sente
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seu coração se encher de amor, sente vontade de


protegê-la, garantir que nenhum mal a atinja, que
ela fique sempre feliz. Ao olhar para Madson, ele
sente o corpo se arrepiar, o coração acelerar, a
respiração falhar. É como se tivesse tendo uma
overdose de amor, como se o sentimento fosse
tanto e tão intenso que ele não conseguisse guardar
para si e isso transbordasse pelo seu olhar, pelos
seus gestos, pelas suas palavras. Como se não
pudesse guardar aquilo para si, precisava mostrar a
ela o quanto a amava. O quanto ela era importante
na vida dele e como nenhuma das pequenas coisas
que têm atrapalhado o seu relacionamento fossem
importantes, pois perto do amor que eles sentiam,
essas pequenas coisas se transformam em
inexistentes.
Por esses motivos, Douglas tinha absoluta
certeza de que elas duas são as mulheres da sua
vida, que a felicidade que tanto procurou e achou
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que nunca iria encontrar, está com elas.


O médico pediatra se aproximou da menina e
começou os testes. Pedindo-a para movimentar os
braços, os dedos das mãos e a cabeça. A menina se
movimentou com facilidade, sem esboçar nenhuma
careta de dor. Aquele era um momento importante,
pois pela primeira vez desde que acordou do coma,
ela não estava sedada e se conseguisse executar
todos os movimentos do corpo, logo poderia ter alta
e só precisaria do acompanhamento de uma
fisioterapeuta por pouco tempo.
O pediatra pediu para que ela levantasse a
perna direita e todos se surpreenderam quando ela
fez isso com facilidade, em seu pequeno rosto havia
um sorriso. Ela mexeu a outra perna e em seguida
os dedos do pé.
— Você está pronta? — O pediatra perguntou
e Anna assentiu com a cabeça.
O médico ajudou-a a se levantar e a colocou
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de pé no chão, Anna segurou na mão do pediatra


com firmeza e começou a dar passos em direção a
Douglas. Ele encarou a pequena com admiração.
Ela estava andando com perfeição, mesmo que uma
das pernas ainda estivesse enfaixada, o acidente
não havia afetado na locomoção dela.
Primeiramente os exames já haviam mostrado que
não havia nada de errado com ela e naquele
momento esse último exame estava confirmando
que ela estava perfeitamente bem.
Douglas sorriu ainda mais assim que a
pequena garota chegou até ele e ele pôde pegá-la no
colo. A apertou e fechou os olhos, aquela era a sua
garotinha. Douglas já havia preparado os papéis
para a adoção, já havia checado se havia algum
parente vivo que pudesse querer a guarda dela,
havia uma avó paterna, mas essa estava internada
em uma casa de repouso e não tinha condições de

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criar a garota. O único documento que faltava era a


certidão de casamento, mas isso já estava sendo
encaminhado.
Ele já havia pensado em tudo, já havia
conversado com a mãe de Madson e com Kate, e
elas duas o ajudariam. Kate ficou surpresa e
chateada por saber que eles estavam escondendo o
relacionamento, mas ficou feliz por poder ajudar a
fazer uma surpresa para a irmã.
Quando todos foram embora do quarto, só
Madson, Douglas e o pediatra permaneceram ali. A
pequena Anna já estava dormindo e eles estavam
preparando os exames médicos e relatórios que
precisariam ser passados para a assistente social
que cuidaria do caso.
Depois de quase uma hora de conversa,
Douglas deixou Madson com a mãe e teve que
correr atrás da surpresa, em uma semana eles se
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casariam, primeiramente apenas no cartório, mas


ainda tinha o sonho de vê-la entrar na igreja vestida
de noiva.
---
Madson estava feliz, ver a pequena andando e
saber que em breve já poderia chamá-la de filha,
era muito mais do que ela achava merecer. Douglas
já havia começado a dar entrada no processo de
adoção e isso a deixava animada, mesmo que fosse
nova e que a relação deles fosse nova também.
Madson nunca havia tido tanta certeza de algo em
sua vida quanto tinha de que queria e iria passar o
resto de sua vida com Douglas e que aquela seria a
sua família.
Madson havia passado a tarde do dia anterior
com a mãe de Douglas, elas haviam conversado por
boas horas. Jolie era uma mulher maravilhosa, lhe
deu vários conselhos e até passou receitas de
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comidas que Douglas gostava. Quando Madson


confessou para ela que era péssima na cozinha, as
duas combinaram de se encontrar uma vez por
semana para que Jolie a ajudasse nisso. Ela falou
algo também sobre a segunda mãe de Douglas,
Maria, e como as três poderiam se divertir com
essas aulas de culinária.
Madson sorriu e rolou a mão sobre a roda da
cadeira. Estava esperando a mãe, que havia ido ao
banheiro, para poderem ir para casa. Estava no
primeiro andar do hospital, em frente a recepção. A
sua volta, passavam várias pessoas, o hospital
estava lotado por causa de um acidente que havia
acontecido entre um caminhão e um ônibus escolar.
Madson sabia que Douglas teria muito trabalho
naquele dia.
Madson sentiu a cadeira ser empurrada e
sorriu, finalmente elas iriam para casa, olhou para

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trás a procura da mãe, mas não era ela quem estava


ali, e sim Caleb. Seu sorriso morreu no mesmo
instante, encarou ele com um semblante de
assustada, ao contrário dela, no rosto dele havia um
sorriso. Um sorriso bem assustador.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou
e ele apenas apontou para frente.
Quando ela olhou para frente, ele a pegou no
colo e antes que ela pudesse gritar, a enfiou dentro
de um carro preto. Ela tentou abrir a porta, mas ele
entrou rapidamente do outro lado e a puxou,
colocando o cinto de segurança nela, travando as
portas e acelerando o carro. Antes de sair do
hospital, Madson pôde ver a mãe desesperada do
outro lado do vidro, a procurando por todos os
lados. Gritou pedindo por ajuda, mas o carro já
estava distante.
— Finalmente teremos um tempo para
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conversar a sós, meu amor. — Ele falou olhando


para a estrada e sorrindo.

——-
— Douglas! — Um grito desesperado da voz
de Melissa chamou a atenção dele.
Ao se virar, deu de cara com uma Melissa
chorando muito e muito assustada. Imediatamente
ele sentiu o coração se apertar. Madson. Essa foi a
primeira coisa que veio à sua cabeça e por um
momento ele desejou estar errado, mas assim que
Melissa abriu a boca novamente e falou que
Madson havia sumido, ele sentiu como se alguém
tirasse seu chão. Precisou se segurar no balcão da
recepção para não cair.
— Como isso aconteceu? — Ele perguntou,
sua voz trêmula.

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— Eu fui ao banheiro e quando voltei ela já


não estava mais dentro do hospital, fui procurá-la
do lado de fora, mas só achei a cadeira de rodas
dela. — Melissa falou aos prantos.
— Vamos. — Ele a chamou. Sabia o que
deveria fazer, tinha uma ideia de quem havia sido,
mas precisava ligar para a polícia e olhar as
gravações das câmeras do hospital.
Saiu desesperado em direção a sala de
segurança do hospital. Assim que chegou lá, pediu
para que Melissa o esperasse sentada num banco,
do lado de fora da sala enquanto ele ligava para a
polícia. Douglas pediu para que os seguranças
olhassem as câmeras enquanto ele ligava para a
polícia.
— Doutor Fitiz... — Um dos seguranças o
interrompeu no meio da ligação. — Achamos.
Douglas encarou a televisão, um cara alto,
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branco e de cabelos escuros começava a empurrar a


cadeira de rodas de Madson, ela olhava para trás e
parecia se assustar. Eles sumiam dessa câmera para
aparecer na outra, o rapaz parecia totalmente
perturbado, como se tivesse usado algum tipo de
droga com um forte alucinógeno. Ele pegava
Madson da cadeira de rodas e enfiava num carro
preto e em seguida entrava nele de uma vez e saia
do hospital.
— Imprimam uma foto que mostre o rosto
desse cara, outra que mostre a placa do carro e
outra que mostre o modelo. — Douglas falou.
Não sabia de onde havia tirado forças para
lidar com aquela situação naquele momento, mas
faria o que fosse preciso para pegar aquele
desgraçado e salvar Madson.
— Conseguimos imagens nas câmeras do
hospital. Preciso que vocês estejam aqui o mais
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rápido possível. — Douglas falou ao telefone.


Os policiais confirmaram que em menos de 10
minutos estariam no hospital e também já haviam
avisado aos carros de patrulha para ficar de olho em
qualquer carro preto suspeito, principalmente nas
saídas da cidade. Douglas estava sentindo-se
culpado, havia prometido a ela que não deixaria
que nada de ruim lhe acontecesse, no entanto, ela
estava em perigo e ele não podia fazer nada.
— Melissa. — Chamou a mãe de Madson que
se levantou rapidamente e deu um abraço nele.
Douglas passou a mão pelo cabelo da sogra,
tentando mantê-la calma. — Eu já liguei para a
polícia e eles já avisaram aos outros carros para
ficar de olho em qualquer atividade suspeita. Mas
eu preciso que você não conte para ninguém que
Madson desapareceu, isso poderia atrapalhar no
trabalho da polícia. Sei que você está

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preocupada, acredite, eu estou mais do que a


senhora imagina, nem sei como estou conseguindo
raciocinar direito. Mas precisamos manter a calma.
— Ela não pode andar, Douglas. E se ele
tentar fazer algo com ela? Ela não terá como fugir.
— Falou chorando.
Douglas sentiu a raiva tomar conta de sua
mente, não queria nem imaginar o que ele podia
fazer com ela. Odiava pensar que a sua mulher
estava a mercê daquele idiota. Odiava ainda mais
estar de ali de braços cruzados esperando pela
polícia, queria poder fazer algo por si próprio.
Queria achar aquele idiota e dar a ele o que
realmente merece.
Os dez minutos de espera pela
polícia pareceram horas, Douglas andava em
círculos, se fosse possível já teria feito um buraco
no chão e caído no andar de baixo. Quando
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finalmente os policiais chegaram, Douglas mostrou


a eles o vídeo, entregou uma cópia do vídeo e as
imagens para eles e fez o boletim de ocorrência. As
buscas começariam imediatamente.
Precisou levar Melissa para tomar um
calmante, ela acabou dormindo e Douglas ficou
sentado na poltrona ao lado da cama em que ela
estava, a olhando. Também havia tomado um
calmante, não tão forte quando o de Melissa, mas
forte o suficiente para deixá-lo um pouco
sonolento. Hora ou outra, Douglas começava a
cochilar e acordava assustado. Uma ideia veio à
mente de Douglas, Madson poderia estar com o
celular. Já havia se passado uma hora desde que ela
havia sido "raptada" mas se ele conseguisse falar
com ela, poderia descobrir onde ela estava e avisar
à polícia.
Mandou uma mensagem perguntando onde ela

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estava. Sabia que era algo meio idiota de se fazer,


mas era a sua última esperança.

——-
Caleb estava dirigindo como um louco, isso
assustava Madson. Ele não parava de dizer como
sentiu a falta dela e como ela nunca poderia ser de
outro cara. Dizia que ensinaria ela a andar
novamente e que eles poderiam ir para a faculdade
juntos e se casar. Nenhuma palavra que ele falava
fazia sentindo, ele estava totalmente
transtornado. Madson já havia tentado manter a
calma, mas o desespero tomou conta dela, lágrimas
escorriam sem parar pelos seus olhos enquanto
Caleb gritava que queria a atenção dela, que queria
ouvir a voz dela.
Madson sentiu algo vibrar em seu bolso e
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imediatamente lembrou-se que seu celular estava


ali. Olhou para Caleb assustada, com medo de que
ele tivesse ouvido o barulho do celular vibrando.
Mas ele continuava reclamando por ela tê-lo
deixado e olhando fixamente para a estrada a sua
frente. Madson tentou fazer o mínimo de
movimentos possíveis. Com cuidado pegou o
celular e estendeu a mão para o espaço entre o
banco e a porta. Tentou desenhar a senha do
celular, errou duas vezes e na terceira conseguiu.
Abriu rapidamente o aplicativo de mensagens
e olhou discretamente para a tela do celular, por
estar sem óculos, não conseguia enxergar a
mensagem.
Abriu a opção de compartilhar mídias e abriu a
de compartilhar localização. Apertou duas vezes no
mapa e mandou a localização esperando que a
Internet a ajudasse.

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— Olhe para mim! — Caleb gritou e ela o


encarou assustada.

——-

Douglas vibrou quando a localização chegou


ao seu celular, ligou para a polícia falando onde ela
estava e ao ver que conhecia o local, resolveu sair
em busca dela. Deixou Melissa sob os cuidados da
mesma enfermeira que costumava olhar Madson e
saiu como um louco do hospital. Nunca havia
dirigido tão rápido em toda a sua vida, furando os
sinais fechados e fazendo curvas sem diminuir a
velocidade. Apenas diminuiu a velocidade quando
duas novas mensagens chegaram no seu
telefone, uma era da polícia avisando que havia

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cercado todos os locais de possível saída para eles e


outra era de Madson, mandando mais uma
localização.
Douglas pisou fundo no acelerador de seu
jaguar enquanto conectava o GPS ao carro. Uma
voz feminina surgiu nos altos falantes do carro,
começando a indicar a ele qual caminho deveria
seguir e avisando a cada vez que ele furava um
sinal. O celular começou a tocar, ele olhou por um
segundo para a tela e atendeu, a voz do policial
surgiu nos altos falantes do carro.
— Doutor Fitiz, você recebeu mais alguma
mensagem de vítima?
— Sim, ela está perto da velha rotatória do
sinal leste, na estrada 85. — Falou sem tirar os
olhos da estrada.
— Dois de nossos carros estão a 5 km dali.
Vou avisá-los. Ele não vai escapar.
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— Assim espero. — Douglas falou e desligou,


pisando ainda mais fundo no acelerador enquanto o
ponteiro subia rapidamente no velocímetro.

——-

Madson estava tentando enviar uma terceira


localização quando o de grito de Caleb a assustou.

— O que você está escondendo aí?! — Ele


gritou e ela deixou o celular escorregar de sua mão.
O celular bateu na lataria da porta do carro,
fazendo um estrondo alto. Imediatamente Caleb
pisou no freio de uma vez. O carro patinou na pista
e parou batendo em uma árvore. Madson soltou o
próprio cinto e tentou alcançar o celular, mas não
dava conta, quando percebeu que Caleb já estava
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recuperando a consciência. Pegou um extintor de


incêndio que havia perto de seu pé e o bateu com
toda força no rosto de Caleb.
Com as mãos trêmulas, abriu a porta do carro e
fez um esforço para tirar as pernas de dentro dele.
Os músculos de sua perna queimavam. Ela se
colocou de pé apoiando-se na porta e com muita
dificuldade começou a dar alguns passos para longe
do carro. Andar se tornou ainda mais difícil quando
ela deixou de lado o apoio da porta. Parecia que
todos os seus músculos iriam romper e que as suas
pernas pesavam toneladas. Ela ouviu a porta do
carro sendo aberta e se desesperou, quando pensou
em correr, não aguentou e caiu no chão. Começou a
se arrastar pelo chão, puxando o corpo com os
braços. Mas o corpo era pesado demais para se
mover rapidamente. Sentiu duas mãos agarrem seus
pés e começou a ser puxada para trás.

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— Você se acha tão especial, não é mesmo,


vadia?! — A voz raivosa de Caleb soava como
espinhos aos seus ouvidos.
Madson se debatia, tentando com as mãos se
segurar no chão, sem obter sucesso. Ele continuava
a arrastando.
— Por que você está fazendo isso comigo? —
Ela gritou em meio ao choro.
— Eu te fiz uma promessa, você nunca será de
ninguém além de mim. — Falou quase gritando.
Madson estava pronta para desistir quando
ouviu o com de sirenes de polícia. Caleb também
pareceu ter ouvido, pois estancou aonde estava e
soltou as pernas de Madson. Ela deu um grito assim
que as pernas atingiram o chão duro. Voltou a
puxar o corpo para longe de Caleb, a essa altura
seus braços já estavam com diversos cortes, e o
sangue que escorria deles estava na areia do chão.
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As viaturas de polícia pararam com tudo no


local e vários homens armados desceram delas,
correndo em direção a Caleb. Madson virou o
rosto, cansada, a tempo de ver quando Caleb levou
um tiro na perna esquerda e caiu no chão, sendo
imobilizado por dois policiais.
Outros dois policiais ajudaram Madson a se
levantar, um deles a pôs no colo e levou-a até uma
viatura, onde a colocou sentada e pediu para ela se
manter calma enquanto a ambulância chegava até o
local.
— Madson! — Ela ouviu a voz de Douglas e
olhou para o lado de fora da viatura, ele estava
vindo correndo em sua direção.
Madson fez um esforço quase que sobrenatural
para se levantar dali, deu dois passos rápidos em
direção a Douglas e desabou nos braços dele. Ele a
segurou e a apertou contra o seu corpo, passando a
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mão pelo cabelo dela.


— Você nunca mais ficará longe de mim, eu te
prometo, meu amor. Vamos nos casar o mais
rápido possível e não precisaremos mais esconder
de ninguém o que sentimos. — Ele a pegou no colo
e a beijou, Madson deixou que as lágrimas
invadissem os seus olhos e inundassem o seu rosto.
Douglas sentou-se com ela em seu colo, no
banco da viatura e continuou ali, passando a mão
pelo cabelo dela tentando acalmá-la. Ela se
assustou quando ele tirou a corrente que estava no
pescoço dela e colocou o anel que havia ali, no
dedo dela. Madson apertou as mãos em volta do
pescoço dele e pressionou sua cabeça no peito dele,
se derramando em lágrimas.
— Me desculpa, meu amor. Eu sinto muito por
não ter cuidado de você. — Ele falou. — Os dois
passos que você deu em minha direção valeram
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mais do que uma vida sem você ao meu lado.


Madson tirou a cabeça do peito dele para
beijá-lo, amava aquele homem com toda a sua
alma. Amava cada parte dele, até mesmo os
defeitos. E sabia que ao lado dele seria mais do que
feliz.

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Capítulo 16
Já havia se passado uma semana desde o
terrível dia em que Caleb havia tentando sequestrar
Madson, ele agora estava preso em um hospital
psiquiátrico fora do Estado, havia sido
diagnosticado com uma doença mental genética. O
pai havia tido e ele havia herdado, Madson não
sabia o nome da doença, mas segundo o médico
que falou com ela e Douglas, a doença se manifesta
numa certa etapa da vida de um homem e por isso
antes ele não tinha nenhum vestígio de má
condição mental. Madson ainda sentia um pouco de
medo, mas Douglas a havia garantido que o
hospital era seguro.
Fazia três dias que eles haviam se casado no
cartório e já haviam aproveitado para marcar a data

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do casamento na igreja. Douglas queria casar-se o


mais rápido possível, mas Madson pediu a ele que
esperasse para uma semana antes do Natal, que era
a previsão que a fisioterapeuta havia lhe dado sobre
a sua melhora. Douglas agora a acompanhava em
todas as sessões de fisioterapia, vibrando a cada
pequena conquista dela. Segundo a fisioterapeuta,
em duas semanas Madson já poderia trocar a
cadeira de rodas por duas muletas e em breve não
precisaria mais de nada.
Madson estava animada, eles haviam acabado
de dar entrada no processo de adoção e a assistente
social havia falado que faria de tudo para que os
dois tivessem a guarda total da criança.
— Tem mais uma coisa que vocês precisam
fazer antes de tudo: morar juntos. Eu que sou a
assistente social de vocês, sei de toda a história,
mas não sou a única assistente que vai avaliar se
vocês estão aptos para receber a criança em casa.
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Terá um outro assistente que fará algumas visitas


para vocês e se tudo der certo, em duas semanas
vocês já terão a guarda provisória e logo em
seguida, depois de mais algumas visitas e conversas
da criança com a nossa psicóloga, vocês já poderão
ter a guarda total. — A assistente social falou e
Douglas olhou para Madson com um sorriso
enorme no rosto.
A verdade era que desde o dia em que os dois
haviam se casado no cartório que ele pedia para que
ela fosse morar com ele e ela estava adiando isso.
Mesmo ele falando que Brad já havia se mudado da
casa para um apartamento próximo a faculdade e
insistindo que não conseguia viver longe dela. Ela
se recusava porque ainda haviam alguns passos
importantes a percorrer. O primeiro deles era contar
para toda a família, porque até então só a mãe, a
irmã e a madrasta de Madson sabiam. Tinha que
contar para Gerald e para Dean, e se contar algo
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assim para um pai já era difícil, quem dirá para


dois.
— Tudo bem. — Madson sorriu. — Podemos
fazer isso — Colocou a sua mão sobre a de
Douglas na mesa e apertou.
— Você está vendo por que eu amo essa
mulher? — Douglas falou dando um beijo no rosto
de Madson, deixando-a completamente vermelha.
Enquanto saiam do prédio da assistência
social, Douglas estava com um sorriso enorme e
radiante. Já Madson não conseguia deixar de pensar
no quanto a sua vida havia mudado em uma
semana. Olhou para o anel brilhante em seu dedo,
aquele anel era a confirmação do que todos já
sabiam, que ela era totalmente de Douglas e isso
nunca mudaria.
— Nós vamos direto para a sua casa,
pegaremos suas coisas e você já volta comigo para
a sua nova casa. — Douglas piscou para Madson
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enquanto a ajudava a se levantar e entrar no carro.


Durante o caminho, Madson ligou para a mãe
e pediu a ela que deixasse algumas malas prontas,
dizendo-lhe que explicaria tudo depois. Melissa já
sabia por alto que os dois queriam adotar uma
criança, mas não fazia ideia de que essa criança era
Anna e que eles já haviam dado entrada no
processo de adoção.

——-

Douglas estava animado, havia ligado para a


mãe e pedido para ela ajudar Maria a organizar o
quarto para ele, havia pedido também para elas
prepararem a banheira com velas, pétalas de rosas e
incensos. Pela primeira vez desde que se mudou
para a casa, ele iria usar aquela banheira, nunca
teve tempo ou paciência para isso, mas com
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Madson era diferente. Ele queria fazer algo


especial, algo que os marcasse como marido e
mulher, pois até o momento a ficha ainda não havia
caído.
Assim que chegaram na casa de Madson, os
dois foram bombardeados com milhares de
perguntas. Douglas explicou rapidamente para
Melissa que estava tomando Madson para si de
uma vez, e ela sorriu. Abraçou ele e o ameaçou
com um sorriso no rosto, dizendo que o mataria se
a fizesse infeliz. Douglas nunca havia levado uma
ameaça tão a sério, ameaça com a cara fechada
todo mundo era capaz de fazer, mas aquela ameaça
sorridente era ainda mais assustadora.
Douglas carregou as malas de Madson até o
carro e se despediu de Melissa. Assim que entrou
no carro, percebeu que Madson estava com um
sorriso no rosto enquanto olhava para o celular e
sentiu uma pontada de ciúme.
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— Esse celular parece muito interessante. —


Falou fingindo desinteresse.
— Eu estava pensando em começarmos a
montar um quarto para Anna. O que você acha? —
Madson falou.
— Eu acho uma ideia maravilhosa. — Ele
sorriu, se inclinou e a beijou. — Também te acho
maravilhosa. — Falou e ela sorriu.
— Eu te amo. — Falou.
— Sei disso. — Falou convencido, levando
um tapa de Madson.
Acelerou o carro e saiu da frente da casa de
Madson, por causa de sua ansiedade, o caminho
entre o condomínio onde ficava a casa dela e o
condomínio onde ficava a sua pareceu mais longo.
Assim que chegou em casa, tirou as malas dela do
carro e pediu para que ela esperasse dentro dele.
Subiu com as malas até o quarto e as colocou num
canto. A mãe dele logo apareceu dizendo que tudo
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estava pronto, e que assim que Madson entrasse ela


iria levar o pessoal para uma pizzaria, para que os
dois tivessem privacidade.
Claro que não seria Dona Jolie se não falasse
isso de modo promíscuo e piscasse indicando que
sabia o que eles fariam.
Douglas desceu depois de falar com Maria,
que lhe contou que havia um jantar preparado para
os dois e uma mesa arrumada na sala de jantar e se
despediu dele. Ele voltou até o carro e ajudou
Madson a sair dele, assim que ela se pôs de pé fora
do carro, ele a pegou nos braços, arrancando um
grito de surpresa dela.
— O que você está fazendo? — Perguntou
sorrindo e passando as mãos pelo pescoço dele.
— Estou fazendo como manda a tradição. —
Defendeu-se.
Assim que entraram na casa, foram
bombardeados por saudações. E quando todos
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saíram, Douglas subiu as escadas com Madson em


seus braços.
— Para onde está me levando? — Ela
perguntou um pouco tímida.
— Para o nosso quarto, esposa. — Falou com
um enorme sorriso nos lábios.
Assim que chegou em frente ao quarto, abriu a
porta com cuidado e entrou, não ligou a luz, pois
haviam algumas velas iluminando o quarto.
Douglas desceu Madson de seus braços e a colocou
sentada na cama.
— Aqui começa a primeira de muitas noites
em que eu te amarei. — Falou estendendo a mão
para ela e a ajudando a ficar em pé.
Douglas aproximou o seu corpo do de
Madson, deixando que ela se apoiasse nele. Deu
um beijo no pescoço dela, subiu com outros beijos
até atrás da orelha dela, tirando o cabelo dali com
uma das mãos e continuou a beijando ali, enquanto
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um gemido contido escapava pelos lábios dela.


Douglas parou de beijá-la por um instante para tirar
a blusa dela. Sabia que não podia força as pernas
dela por muito tempo, então a guiou até a cama e a
deitou ali novamente. Tirou a sapatilha dos pés dela
e em seguida subiu até a barra da calça onde
começou a desabotoá-la e a puxou, tirando-a
lentamente.
Quando Madson estava apenas com sua roupa
íntima, ele ficou em pé na sua frente e começou a
desabotoar sua camisa, enquanto tirava os sapatos.
Madson estava mordendo o lábio, isso o tirava do
sério, fazia com que a imaginação dele fluísse mais
do que deveria. Ele desabotoou a própria calça e a
tirou, deixando de lado. Subiu na cama com
cuidado, beijando a barriga dela, beijos lentos e
molhados, trilhando uma linha até os seios dela.
Madson se contorcia em baixo de Douglas. Ele
parou os beijos quando chegou ao sutiã dela, era
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vermelho assim como a cor da paixão. Com


cuidado escorregou uma de suas mãos até as costas
dela e desabou o sutiã. Puxando-o lentamente,
assim que o removeu completamente, ficou
admirando os belos seios de sua mulher.
Não permaneceu nisso por muito tempo, logo
aproximou seu rosto deles e começou a beijar o
seio direito, chupando-o, enquanto a outra mão
apertava e estimulava o outro seio. Madson era bem
sensível naquela área, pois a medida que ele ia
chupando-a, ela se contorcia e deixava que seus
gemidos ecoassem por todo o quarto. Douglas
deixou de dar atenção ao seio direito para dar ao
seio esquerdo. Poderia permanecer ali por horas,
chupando os seios dela e a ouvindo gemer.
Desceu novamente aos beijos, passando a
língua pela pele quente dela. Mordeu a ponta da
calcinha dela, começando a tirá-la com a boca e
terminando com as mãos. Levantou as pernas de
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Madson com cuidado e as colocou sobre os seus


ombros, levou suas mãos até a cintura dela e a
puxou ainda mais contra si. Antes de começar a
chupá-la, olhou para ela e viu que a mesma mordia
o lábio, imaginou o que mais aquela boca rosada
poderia fazer. Sabia que teria uma eternidade ao
lado dela para descobrir, mas naquele momento só
queria aproveitá-la ao máximo.
Passou a língua pelo íntimo dela devagar,
mordeu a parte interna da coxa dela antes de
começar a chupá-la, fazendo movimentos circulares
e rápidos sobre o clitóris dela. Apertando as suas
coxas e a sugando como se fosse seu mel predileto,
e de certo modo era, amava o gosto que ela tinha.
Amava o modo como ela era sensível ao seu toque,
como os gemidos dela o excitavam ainda mais,
como eles eram doces e sexys ao mesmo tempo,
enquanto a chupava, aproveitando e saboreando
cada pedacinho dela. Intensificou os movimentos
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de sua língua sobre o clitóris dela, sentindo o corpo


dela estremecer ao seu toque, sentindo o orgasmo
dela chegar. Manteve aquele ritmo até que ela se
desmanchou num orgasmo, aquela deveria ser a
cena mais linda que ele já havia visto. Chupou todo
o gozo, esperando que o corpo dela se estabilizasse.
Seu membro já estava tão duro que era até
doloroso. Douglas tirou a cueca e liberou seu
membro para fora, ansiava pelo momento em que
estaria dentro da mulher que ama.
— Eu poderia amá-la por horas. — Falou
subindo aos beijos pelo corpo dela. — Seu corpo é
quente, macio, faz com que eu me sinta no paraíso.
— Beijou o pescoço dela. — Preciso que me diga
se eu machucá-la, serei paciente, por mais que eu
esteja louco para me enterrar em você. Você não
faz ideia do quanto eu sonhei com esse
momento, amor. Do quanto eu imaginei como seria
estar dentro de você. — Sussurrou no ouvido dela.
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Madson jogou seus braços em volta do


pescoço dele dando leves beijos no ombro e no
pescoço dele.
— Me faça sua. — Pediu ofegante. — Estou
me entregando a você de corpo e alma, pois o meu
coração já é seu desde a primeira vez em que eu te
vi.
Douglas a beijou com paixão, dando tudo de
si, todo o seu amor transbordando em suas bocas.
Ele a ajudou a colocar as pernas em volta de seu
corpo e posicionou o seu membro na entrada dela,
começando a penetrá-la lentamente, sentindo cada
centímetro dela se alargar para recebê-lo. Tão
molhada, tão quente e tão apertada. Ela mordeu o
lábio dele enquanto um gemido escapava entre as
suas bocas. Madson cravou as unhas nas costas dele
e inclinou a cabeça para trás, gemendo e arfando de
prazer. Douglas beijou o pescoço dela, enquanto
continuava a penetrá-la lentamente. O prazer que
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sentiu naquele momento não podia ser explicado


nem se quisesse. Assim que terminou de penetrá-la,
permaneceu ali parado dentro dela, esperando que
ela se acostumasse com o seu tamanho.
Começou a fazer movimentos lentos, entrando
e saindo, enquanto ela arranhava as suas costas e
mordia o seu ombro.
Intensificou os movimentos, à medida que seu
membro entrava e saia de dentro dela, os gemidos
aumentavam e ecoavam incontroláveis pelo quarto.
Envolveu-a em um abraço, enquanto a penetrava
com mais força, mais rápido. Sentindo o prazer
percorrer o seu corpo, aumentou ainda mais o
ritmo. Entrando e saindo dela várias e várias vezes,
sentindo ondas de calor subirem por seu corpo.
Ela o abraçou com mais força e ele pôde sentir
o corpo dela começar a estremecer debaixo do seu,
manteve o ritmo, sentiu que seu orgasmo estava
perto, aumentou ainda mais o ritmo, sendo
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estimulado pelos gemidos de Madson. Ela gozou


novamente, e ele se permitiu sentir o prazer e
gozou junto, se derramando na cama, ao lado dela.
— Eu te amo. — Madson sussurrou, rolou o
corpo e apoiou a cabeça no peito dele. — Obrigada
por me fazer feliz.
— Eu só estou retribuindo o que você faz por
mim. — Beijou a testa dela. — Vamos lá, tenho
uma segunda surpresa. — Ele falou e ela fez
carinha de manha.
Ele se levantou e a pegou no colo,
surpreendendo-a, caminhou com ela até o banheiro
e ao chegar lá, a ajudou a entrar na banheira,
entrando logo em seguida. Sentou-se atrás dela,
pegou um pouco de sabonete líquido e começou a
passar pelo corpo dela, massageando-o.
— Sua pele é tão macia. — Ele sussurrou no
ouvido dela. — Tão quente. Eu a amo. — Falou e
deslizou as mãos pelas costas dela.
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---

Madson não conseguia evitar de sorrir quando


se lembrava da primeira noite em que fez amor com
Douglas, do modo atencioso dele, de como ele a
tratava maravilhosamente bem, do sexo na cama,
na banheira e do jantar incrível que tiveram depois.
E o sorriso aumentava ainda mais quando ela
pensava em quando Jolie chegou, todas as indiretas
diretas que ela mandava. Perguntando se eles
estavam planejando netinhos.
— Mamãe, esse vestido tá bom? — Anna
perguntou, tirando Madson de seus pensamentos.
— Você está parecendo uma princesa, minha
pequena. Agora, coloque esse. — Falou entregando
um vestido rosa para a filha.
Faziam dois meses desde que haviam
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conseguido a guarda provisória de Anna e já


estavam com a guarda total dela. Não havia sido
fácil chegar até ali, na primeira semana em que
Anna esteve na casa, ela teve um pouco de receio
em se abrir com Madson e Douglas. Às vezes
chorava durante a noite, chamando pelos pais. Mas
aos poucos eles foram ganhando a confiança da
garota. Madson já não estava mais usando cadeira
de rodas, agora apoiava-se em apenas uma muleta,
mas era por enquanto.
O olhar de pena que as outras pessoas lhe
direcionavam já não a incomodava mais, ela sabia o
quanto era sortuda por estar viva e sabia que
mesmo o acidente tendo sido algo ruim, havia lhe
trazido coisas maravilhosas.
— Ela já escolheu? — Douglas perguntou,
abraçando Madson por trás.
— Você conhece a sua filha, ela está indecisa.
— Madson falou encarando a filha com admiração.
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— Assim como a mãe. — Douglas beijou o


pescoço de Madson. — Onde está a Abby? —
Douglas perguntou olhando para todos os lados.
— Foi encontrar o Travis. — Madson falou, já
esperando o surto que viria pela frente.
— Não acho que eles devessem passar tanto
tempo juntos. — Reclamou.
— Eles formam um belo casal. Quero só ver
quando decidirem se casar. — Madson falou.
— Ele terá que namorá-la por pelo menos 10
anos antes de casar. — Falou beijando o pescoço de
Madson novamente.
— Ainda não sei como você a deixou namorar.
— Se não deixasse, ela continuaria a fugir de
casa e da escola. Conselhos da dona Jolie.
— Quando ela vem nos visitar novamente?
— Um mês antes do casamento, ela ficará com
Anna para nós viajarmos.
— Mamãe, papai, eu quero esses dois. —
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Anna falou estendendo dois vestidos.


— Dá aqui pro papai pagar, anjinho. —
Douglas estendeu a mão e pegou as roupinhas.
— Brad acabou de ligar, pediu para
encontrarmos ele na churrascaria do primeiro piso.
— Douglas falou desligando o telefone.
— Vamos então. Pega na mão do papai,
anjinho. — Madson falou.
As duas pegaram nas mãos de Douglas e
saíram caminhando em direção ao elevador. Dentro
do elevador havia uma mulher com um filho da
idade de Anna, Madson precisou controlar Douglas
porque ele estava implicando com a
criança, dizendo que ele estava com segundas
intenções para cima de sua princesa. Madson
tentava não imaginar como seria quando Anna
arrumasse o primeiro namorado, Douglas iria ficar
com os cabelos brancos.
Ao chegar no primeiro piso, eles encontraram
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com Brad e Alison. Era engraçado ver os dois se


dando bem, Madson se lembrava de quando
Douglas tinha ciúmes de Brad, de como os dois
brigavam a todo momento. Madson lembrou-se do
dia em que Brad foi falar com ele sobre estar
namorando Alison, de como Douglas havia ficado
aliviado e da cara de Brad ao saber que o irmão não
ligava para o seu namoro.
— Cadê a princesinha do titio? — Brad abriu
os braços e Anna se jogou neles.
Douglas fez uma cara feia, como o bom e
velho ciumento pai que é. Anna havia conquistado
todos, Abby adorava brincar de boneca com ela, a
maquiando e vestindo. Maria adorava cozinhar
junto com ela, as duas faziam cookies
maravilhosos. Melissa adorava ensinar ginástica
para ela, colocavam roupas coladas e estranhas, e
iam dançar algo animado no jardim. Já
Jolie gostava de ligar para Anna pelo Skype e
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ajudá-la a colocar nomes em suas bonecas.


Kate levava Anna para ajudar a escolher as
roupas dos bebês, Tracy havia começado a levá-la
para aulas de balé. Madson sentia um pouco de
ciúmes porque às vezes precisava dividir a filha
com muitas pessoas. Mas havia se
acostumado, sabia que a pequena ainda lhe daria
muito trabalho.
Como faltava menos de 2 meses para o
casamento, os preparativos estavam a todo vapor,
Melissa e Jolie conversavam sempre sobre os
detalhes e Madson apenas as deixava cuidar de
tudo e sonhava com o dia em que entraria na igreja
para selar sob a vontade de Deus o compromisso
com o homem que ama.
Madson sabia que era sortuda por ter a família
que tinha e agradecia todos os dias por isso.
Amava-os com todo o seu coração e com toda a sua
alma. Sabia que o resto de sua vida já estava escrito
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no livro da vida. Um destino maravilhoso e repleto


de felicidade.

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Epílogo
Os olhos de Douglas estavam brilhando e esse
brilho não era devido à luz que emanava das portas
abertas da igreja, mas sim à bela noiva que estava
vindo em sua direção. Cada passo que ela
dava fazia com que o coração dele se acelerasse,
era como uma recarga de vida, pois ele sabia o
quão valioso eram aqueles passos. O quanto
Madson havia lutado para tê-los de volta, sabia das
dores, da luta e do sofrimento. Havia acompanhado
de perto cada vez em que ela pensou em desistir,
cada vez que ela se reergueu e falou que iria até o
fim, até que não lhe restasse forças. Por esse
motivo passaria resto de sua vida admirando cada
passo que ela der, cada conquista que ela tiver.
A luz que o sol refletia nas janelas de vidro da

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grande igreja não era nada se comparada ao brilho


que Madson tinha. Eram menos ainda se
comparadas a luz natural dela, luz essa que
iluminava a sua vida, mostrando-lhe o caminho da
felicidade. Douglas sorriu vendo a felicidade
estampada no rosto da mulher que ama. Vendo
todos os sentimentos mais puros transbordarem
pelo olhar dela.
A frente de Madson estava sua filha, seu
pequeno tesouro, sua anjinha, Anna. Ela carregava
consigo as alianças de casamento, alianças que logo
selariam o seu amor. Era maravilhoso poder olhar
para a frente e ver o seu futuro ali, ver as duas
mulheres da sua vida vindo em sua direção. Ao
lado de Mad estava Gerald, depois de muita
relutância ele havia aceitado Douglas. Ao lado
direito de Douglas estava Kate e Thomas e ao lado
esquerdo Tracy e John.
Cada passo de Madson os aproximava do seu
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final feliz, cada passo dela eram alguns segundos a


menos, era como se um filme com toda a sua vida
passasse bem diante dos seus olhos. Não existia
mais ninguém naquela igreja, eram só eles dois,
porque ele só tinha olhos para ela e sabia que ela só
tinha olhos para ele. Faltavam poucos metros para o
momento em que receberia a sua noiva e a
transformaria pela segunda vez em sua esposa.
A música Thinking out Loud do Ed. Sheeran
tocava na versão acústica, anunciando o amor que
os dois sentiam. Haviam escolhido essa música,
porque ela marcava o seu relacionamento. Porque
ela dizia tudo aquilo que ele queria dizer. Tudo o
que ele havia escrito em seus votos.
Douglas desceu do altar e cumprimentou o
sogro, que lhe passou Madson, mas antes não pôde
deixar de lhe repreender.
— Esse é o modo correto de me roubar uma
filha. — Gerald falou sorridente.
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Douglas apenas sorriu e estendeu o braço para


a sua mulher, a emoção que sentiu ao caminhar até
o altar e ajoelhar-se diante do padre. Assim que o
padre começou a ler as escrituras, Douglas apertou
a mão da mulher ao seu lado. Passando para ela
todos os sentimentos que havia em seu peito
naquele momento. Eles escutavam cada palavra
dita pelo padre com atenção.
O padre pediu para que eles se levantassem e
fizessem seus votos.
— Madson, eu te juro aqui diante do altar de
Deus, que te amarei até a nossa morte, que te farei
feliz todos os dias, que nunca lhe deixarei faltar
carinho, que você nunca se sentirá
sozinha. Prometo ser fiel, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza até que
a morte nos separe. — Douglas colocou a aliança
no dedo de Madson.
— Douglas, eu prometo a ti, toda a minha
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fidelidade e amor, prometo que mesmo nos dias


mais difíceis te amarei com todas as minhas forças.
Prometo ser fiel a ti, mesmo na doença, na pobreza
e na tristeza. Prometo que renovarei o nosso amor a
cada dia, para que ele possa florescer mais e mais.
Até que a morte decida nos separar. — Madson
colocou a aliança no dedo de Douglas.
— Pelo poder concedido a mim e pela graça
do Espírito Santo, eu os declaro, Marido e Mulher.
— O padre finalizou.
Douglas tomou a iniciativa e beijou Madson
mesmo antes do padre autorizar. Todos na igreja
bateram palmas e gritaram eufóricos.

——-

Madson se sentia realizada, sentia-se a mulher


mais feliz do mundo. Enquanto saia de mãos dadas
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com o seu marido e a chuva de arroz os atingia, ela


só conseguia pensar no quão sortuda era, no quanto
seria feliz.
Madson e Douglas entraram no carro que os
levaria até o local onde aconteceria a festa. Dentro
do carro, Douglas entrelaçou a sua mão na de
Madson e a apertou. Ela sorriu e se inclinou para
beijá-lo.
— Nós só teremos uma hora na festa, tudo
bem? — Douglas perguntou alisando a mão de
Madson.
— Tudo bem, vou aproveitar essa hora para
curtir a minha pequena, sentirei falta dela.
— Ela estará em boas mãos, meu amor. Não se
preocupe. — Douglas falou e Madson sorriu.
Uma lágrima de felicidade escorreu pelo rosto
dela, rapidamente Douglas a limpou e beijou
Madson.
— Coloque um sorriso no rosto, esposa.
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Estamos chegando. — Douglas falou com carinho.


— Nunca se esqueça de que eu te amo.
— Eu deixo você me lembrar todos os dias. —
Ela sorriu de lado. — Eu também te amo, meu
amor. Vamos?
— Para onde você quiser. — Falou e piscou.
Assim que entraram no salão de festa puderam
ver alguns rostos conhecidos e aos poucos mais
pessoas foram chegando. Quando uma boa
quantidade de pessoas já havia chegado até a festa,
Madson anunciou que jogaria o buquê. Contou até
o três e jogou, assim que se virou, viu que o buquê
havia parado nas mãos de Abby. Sabia que Douglas
surtaria ao ver aquilo, e como ela havia pensando,
logo ele apareceu e a careta que fez dizia tudo.
— Vem, vou te levar para trocar essa
roupa. — Kate falou e ajudou a irmã a achar a sala
onde poderia trocar de roupa.
Kate estava com seus quase nove meses de
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gestação, sua barriga estava tão grande que Madson


não sabia como ela aguentava andar. Thomas dizia
que ela deveria fazer menos esforço para não
prejudicar os bebês, mas teimosa como é, Kate não
estava nenhum pouco a fim de escutar. Em um
cabide no canto da sala havia um vestido azul
turquesa de mangas longas, colado até a cintura e
rodado até a metade das coxas. Junto a ele havia
uma sapatilha também azul turquesa, com a ajuda
de Kate, Madson tirou o longo e pesado vestido de
casamento e vestiu o outro mais curto, soltou o
cabelo que estava preso num coque e seus cabelos
caíram nas costas com cachos bem definidos nas
pontas. Tirou o salto branco e calçou as sapatilhas,
ainda não podia abusar da boa vontade de seus pés.
Conhecia seus limites e por isso era melhor usar um
calçado baixo.
Madson saiu da sala e foi direto ao encontro da
filha. Anna pulou em seu colo e colocou as duas
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mãozinhas no rosto da mãe.


— Mamãe, voxê é uma princesa. — A
pequena falou.
— Não, anjinho. A mamãe é uma rainha e
você é a nossa princesa. — Douglas pegou Anna no
colo. — Promete se comportar com a vovó?
— Eu prometo, papai. — Anna falou e
abraçou o pai. — Vou sentir saudade.
— Nós também, meu amor. — Madson falou
beijando o topo da cabeça da filha.
— Precisamos ir. — Douglas falou colocando
Anna no chão. — Se comporte, mocinha.
— Pode deixar, papai. — Anna falou correndo
para as pernas da avó.
Enquanto saiam dali, Madson sentiu o coração
apertar. Era a primeira vez desde que adotaram
Anna que ficariam longe dela por tanto tempo. Da
janela do carro eles acenaram se despedindo de
todos, ali começava uma nova fase do seu
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casamento.

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BÔNUS MADSON
Estávamos em Viena. Haviam sido longas e
cansativas horas de voo, mas claro que foi mais
confortável porque pude usar o peito do meu
marido como um travesseiro. Não há melhor jeito
de dormir do que nos braços de quem se ama.
Quando chegamos em Viena já passava da meia
noite. As ruas estavam vazias e pouco iluminadas.
Chamamos um táxi que nos levou até o hotel que
Douglas havia escolhido, passaríamos uma semana
ali.
Confesso que me dói ter que ficar longe da
minha pequena, mas meu marido tem me
prometido incansáveis horas de sexo para não
deixar que pensamentos tristes pairem sobre a
minha mente. Chegamos ao hotel que era moderno,
bem diferente da arquitetura dos outros prédios e
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casas da cidade. Como eu não falo


italiano, Douglas se encarregou de falar com as
pessoas. Assim que pegou a chave, Douglas me
ajudou com as malas e subimos de elevador até o
nosso andar.
Por algum motivo desconhecido eu estava
nervosa, ansiosa, como se fosse a nossa primeira
vez novamente e eu fosse totalmente inexperiente.
Douglas fechou a porta atrás de nós e enquanto ele
colocava nossas malas num canto do quarto, eu
passeava pelo mesmo. Caminhei até a janela e com
a mão direita afastei a cortina, olhando a paisagem
maravilhosa do canal de Viena.
Senti o corpo de Douglas encostar no meu
pelas minhas costas, suas mãos estavam em minha
cintura enquanto ele distribuía beijos pelo meu
pescoço. Seus beijos eram quentes e molhados, e
apenas me beijando ali, ele já conseguia me deixar
totalmente excitada. Me virei e passei meus braços
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pelo seu pescoço, iniciando um beijo lento,


enquanto mordia o lábio dele e chupava, depois
agarrei o seu cabelo e aumentei o ritmo de nosso
beijo. Agora o beijando com intensidade, paixão e
urgência. Douglas desceu as mãos de minha cintura
até a minha bunda e me puxou para cima, fazendo
com que eu colocasse as pernas em volta de sua
cintura.
Ele deu alguns passos e me pressionou contra
uma parede, pude sentir o seu membro duro roçar a
minha intimidade por cima da fina calcinha de
renda que eu estava usando. Abaixei uma das
minhas mãos e puxei a sua blusa, terminando de
tirá-la por completo com as duas mãos. Alisei seu
peitoral liso e voltei a beijá-lo. Cada vez que as
nossas línguas se encontravam era como se mil
explosões acontecessem em meu corpo.
Eu amava o fato de que nunca parecia ter o
suficiente dele, de que toda vez que transamos, nos
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entregamos de corpo e alma. Douglas me tirou da


parede e deu alguns passos comigo até que meu
corpo atingiu a cama, ele se afastou por um
momento e tirou sua calça e seus sapatos, ficando
apenas de cueca. Eu amo o corpo do meu marido,
amo cada detalhe, cada músculo, amo o fato de que
quando estamos transando, totalmente entregues ao
prazer, suas costas me cobrem e eu posso apertá-las
e passar minhas unhas por elas.
Douglas tirou as sapatilhas de meus pés e logo
em seguida me ajudou a tirar o vestido, pude ver a
surpresa presente em seu olhar quando percebeu
que eu não usava nada além da fina calcinha de
renda branca por baixo do vestido. Mordi o lábio
sorrindo e ele me acompanhou com um sorriso
safado estampado em seu rosto.
— Você é uma danada, minha esposa. —
Douglas falou e se abaixou para começar a beijar a
minha barriga.
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Eu amo a sensação que a boca dele em minha


pele causa, amo o fato de eu ser tão sensível ao seu
toque. Douglas continuou subindo até chegar em
meu seio, passou a língua pelo bico do seio direito,
ato que fez com que eu sentisse todos os pelos do
meu corpo se arrepiarem. Curvei meu corpo
involuntariamente assim que ele começou a passar
a língua repetidas vezes ali. Depois que descobriu o
quanto sou sensível nessa região, Douglas passou a
adorar me torturar.
Confesso, não tem tortura mais gostosa que
essa. Ele sabe exatamente o que fazer para me levar
a loucura. Deixei que os meus gemidos escapassem
pela minha boca, queria que ele parasse com a
tortura e me possuísse, mas eu sabia que ele não
facilitaria. Apertei minhas pernas sentindo meu
sexo pulsar de desejo.
— Amor... — Sussurrei em um gemido e
mordi meu lábio. — Preciso de você.
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Ele parou e sorriu de lado.


— Achei que nunca pediria, amor.
Douglas me ajudou a tirar a calcinha e tirou a
cueca. Antes que ele pudesse começar a segunda
fase de sua tortura, o puxei para cima e comecei a
beijá-lo com intensidade, forcei meu corpo contra o
seu, sentindo seu membro duro sobre a minha
barriga. Forcei ainda mais o corpo contra o dele e o
fiz deitar na cama, fiquei de quatro ao seu lado na
cama e desci passando a língua pelo seu
abdômen até chegar no ponto onde eu queria.
Segurei o seu membro com a mão direita e comecei
a passar a língua pela cabeça dele, primeiramente
movimentos lentos, depois o coloquei em minha
boca, começando a chupar como o meu doce
preferido. Enquanto descia e subia com a minha
boca em volta do seu membro, passava a minha
língua pela sua glande.
Douglas grunhia enquanto eu aumentava o
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ritmo, parei em sua glande, dando atenção especial


a ela, passando a minha língua rapidamente por ali.
— Amor, melhor você parar agora. Isso é
tortura. — Ele falou com a voz rouca de prazer.

Apenas olhei para ele sob os cílios e continuei,


coloquei-o por inteiro na minha boca,
chupando, lambendo e mordiscando. Continuei
aumentando o ritmo, com ajuda da minha mão fiz
movimentos rápidos pelo corpo de seu membro
enquanto chupava apenas a cabeça. Senti Douglas
estremecer sob o meu toque e aumentei o ritmo,
chupando e sugando mais. Não demorou muito
para que ele explodisse em minha boca, continuei
chupando-o até que todo o seu gozo estivesse
dentro da minha boca. Assim que o corpo dele
relaxou, parei de chupá-lo.
— Você quer matar o seu amor? — Ele falou
com um sorriso no rosto.
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— Só se for de prazer. — Falei e mordi o


lábio.
— Preciso estar dentro de você. — Ele falou
puxando meu corpo contra o seu. Passei uma das
minhas pernas sobre o seu corpo e fiquei sobre ele,
passando minhas mãos sobre o seu abdômen.
Sabia que precisava estimulá-lo novamente,
levei minhas mãos até os meus seios e comecei a
me estimular na frente dele, sabia o quanto ele
amava isso.
— Você tirou a noite para me torturar. —
Falou com uma voz rouca.
Comecei a me mover sobre o seu membro,
sentindo-o endurecer sob a minha pele. Me inclinei
para beijar Douglas, um beijo lento e sensual,
mordendo seu lábio, chupando-o, chupando sua
língua, ouvindo-o grunhir em minha boca. Ele
apertou as suas mãos em minha cintura, me
forçando contra o seu membro que já estava
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duro novamente. Me levantei e o posicionei em


minha entrada, descendo lentamente sobre ele,
sentindo todo o prazer tomar conta de meu corpo.
Amava a sensação dele dentro de mim, me
preenchendo e me completando. Apoiei uma das
minhas mãos sobre o peito de Douglas e comecei a
me mover para cima e para baixo, gemendo a cada
vez que ele entrava em mim novamente.
Aumentei o ritmo, sentando em seu membro
com mais vontade. Adorava o prazer que sentia ao
cavalgar nele, amava a sensação de poder, de
entrega e de paixão que tomava conta da minha
mente. Douglas levantou seu corpo e me envolveu
num abraço, esse simples ato foi capaz de
intensificar o prazer que eu estava sentindo. Foi
capaz de me levar aos céus. Do nada ele se afastou
e despejou um tapa em minha bunda, o ardor se
misturou com prazer e um gemido alto escapou
pela minha boca. Aproximei nossos corpos
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novamente e cravei minhas unhas em suas costas,


tentei abafar o meu gemido com o seu ombro, mas
não adiantou.
— Amo ouvir o seu prazer. — Falou
mordendo minha orelha. — Te quero de quatro. —
Sussurrou e eu confirmei com a cabeça.
Me desvencilhando dele logo em seguida e
ficando de quatro, Douglas se posicionou atrás de
mim e começou a me penetrar lentamente. Assim
eu conseguia sentir ainda mais prazer, conseguia
senti-lo por inteiro. Ele começou com estocadas
lentas, deslizou a mão pelas minhas costas até o
meu cabelo, o agarrou e girou em volta da sua mão,
puxando a minha cabeça para trás e dando um tapa
em minha bunda. Ele começou a dar estocadas mais
fortes e rápidas, fazendo com que um prazer
intenso tomasse conta do meu corpo. Ele soltou o
meu cabelo e com as duas mãos segurou a minha
cintura. Me puxando contra o seu corpo
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rapidamente. Senti um calor conhecido tomar conta


de meu ventre.
Minhas pernas começarem a tremer, tentei
controlar o orgasmo que viria, mas não consegui,
me entreguei ao prazer. Douglas se entregou junto,
deixamos nossos corpos caírem na cama, suados e
satisfeitos. Não totalmente satisfeitos, essa frase
parecia não existir em nosso dicionário. Apoiei a
minha cabeça no peito dele e fechei os olhos.
— Eu vou te amar para sempre. — Falei num
sussurro, sentindo o sono chegar.
— Eu cuidarei para que o nosso amor nunca
morra. Eu te amo, minha rainha. — Douglas falou
passando a mão pelo meu cabelo.
Me entreguei ao sono ali, nos braços do
homem que eu amava e que eu tinha certeza
absoluta que ainda me faria muito feliz.

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Fim.

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Agradecimentos
Mais um livro chega ao fim, e com ele mais
uma história de amor tem o seu final feliz.
Primeiramente eu preciso agradecer a Deus, por ter
me dado inspiração e ter entregue essa história em
minhas mãos. Eu também devo muito à minha
mãe, que me apoiou muito durante a escrita dessa
história, sempre me cobrando e puxando a minha
orelha para eu escrever.
Aos meus leitores, essas pessoinhas
maravilhosas que compartilharam comigo todos
esses sentimentos, que não desistiram da
história, mesmo eu atrasando as postagens,
pausando e me enrolando toda. Obrigada por cada
crítica, cada visualização e cada comentário. Amo
vocês!

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Obrigada à minha revisora fodástica, Sara. O


que seria de mim sem essa baixinha?! Obrigada
pela paciência que tem comigo e por salvar as
minhas histórias dos meus erros grotescos. Amo
você, baixinha!
Obrigada às minhas editoras, três mulheres
maravilhosas que me deram essa super chance de
ter o meu trabalho reconhecido. Mí, Carlie e
MRosa. Vocês têm um lugar especial no meu
coração. Obrigada por todo carinho e dedicação.
Obrigada também às meninas da Nix, essas
divas maravilhosas que me dão tanto apoio, que me
incentivam e me ajudam sempre. Vocês são a
minha família literária, amo muito vocês e torço
pelo sucesso de cada uma.

Beijos,

Ana Paula Vilar.


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