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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE TECNOLOGIA
LABORATÓRIO DE HIDRÁULICA
EXPERIÊNCIA 05

FORÇA DE IMPACTO DE JATOS EM SUPERFÍCIES DEFLETORAS

Ulisses Pinheiro de Mendonça


Luiz Simão de Andrade Filho

Adaptado por:
Khalil Grisi Velôso Mendes

1. OBJETIVO

Determinação experimental de forças de impacto de jatos d’água em


superfícies defletoras.

2. BASE TEÓRICA

A Segunda Lei de Newton diz que a força resultante sobre um corpo é dada
por:

�⃗
𝑑𝑑𝑣𝑣
𝐹𝐹⃗ = 𝑚𝑚 ∙ 𝑎𝑎⃗ = 𝑚𝑚 ∙ (2.1)
𝑑𝑑𝑑𝑑

Onde 𝐹𝐹⃗ é a força resultante sobre o corpo, 𝑚𝑚 é a massa do corpo e 𝑎𝑎⃗ é a


aceleração a que o corpo está submetido, podendo ser dada em função da variação de
velocidade 𝑑𝑑𝑣𝑣⃗ do corpo, com relação ao tempo 𝑑𝑑𝑑𝑑.
Como a massa é um elemento constante, a força resultante pode ser dada
como:

𝑑𝑑
𝐹𝐹⃗ = 𝑚𝑚 ∙ 𝑎𝑎⃗ = ∙ (𝑚𝑚𝑣𝑣⃗) (2.2)
𝑑𝑑𝑑𝑑

Onde 𝑚𝑚𝑣𝑣⃗ é a quantidade de movimento do sistema.


Pela Figura 1, ao analisarmos o escoamento de um fluido por um trecho de
contudo entre as seções (1) e (2), podemos afirmar que a variação da quantidade de
movimento do sistema é dada por:

𝑑𝑑𝑚𝑚2 𝑣𝑣
����⃗2 − 𝑑𝑑𝑚𝑚1 𝑣𝑣
����⃗1
Figura 1 – Força resultante sobre o fluido em termos de vazão

Fonte: Brunetti (2008).

E, dessa forma, a força resultante (2.2) sobre o fluido no trecho é dada por:

𝑑𝑑𝑚𝑚 ����⃗
𝑣𝑣 𝑑𝑑𝑚𝑚 ����⃗
𝑣𝑣
𝐹𝐹⃗ = 2 2 − 1 1 (2.4)
𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑑𝑑𝑑𝑑

Considerando que:

𝑑𝑑𝑑𝑑
𝑄𝑄𝑚𝑚 =
𝑑𝑑𝑑𝑑

E aplicando na equação 2.4, temos:

𝐹𝐹⃗ = 𝑄𝑄𝑚𝑚2 ����⃗


𝑣𝑣2 − 𝑄𝑄𝑚𝑚1 ����⃗
𝑣𝑣1 (2.5)

Em um sistema de regime permanente, sabemos que a vazão se mantém


constante. Assim:

𝑄𝑄𝑚𝑚1 = 𝑄𝑄𝑚𝑚2 = 𝑄𝑄𝑚𝑚

Com isso, aplicando na equação 2.5, a força resultante sobre o fluido, é dada
por:

𝐹𝐹⃗ = 𝑄𝑄𝑚𝑚 (𝑣𝑣 ����⃗1 )


����⃗2 − 𝑣𝑣 (2.6)

Na Figura 2, ao analisarmos todas as forças atuantes sobre o fluido que escoa


pelo mesmo trecho da Figura 1, podemos concluir que ele sobre influência das forças de
pressão pela superfície lateral do contudo e das forças tangenciais (tensão de cisalhamento),
devido às camadas do fluido. Dessa forma, a força resultante sobre a parcela de fluido
𝑑𝑑𝐴𝐴𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 é dada por:
���⃗′ = −𝑝𝑝𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 ∙ 𝑛𝑛�⃗𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 ∙ 𝑑𝑑𝐴𝐴𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 + 𝜏𝜏⃗ ∙ 𝑑𝑑𝐴𝐴𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙
𝑑𝑑𝐹𝐹𝑆𝑆

E assim, a força atuante sobre o fluido, devido a superfície sólida é:

���⃗
𝐹𝐹𝑆𝑆′ = ∫ −𝑝𝑝𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 ∙ 𝑛𝑛�⃗𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 ∙ 𝑑𝑑𝐴𝐴𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 + ∫ 𝜏𝜏⃗ ∙ 𝑑𝑑𝐴𝐴𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙𝑙 (2.7)

Figura 2 – Composição das forças atuantes sobre o fluido

Fonte: Brunetti (2008).

Figura 3 – Forças atuantes sobre o fluido no conduto

Fonte: Brunetti (2008).

A partir disso, a força resultante sobre o fluido se dá pelo somatório de todas


as forças atuantes, ou seja:

𝐹𝐹⃗ = ���⃗
𝐹𝐹𝑆𝑆′ + (−𝑝𝑝1 𝐴𝐴1 𝑛𝑛�⃗1 ) + (−𝑝𝑝2 𝐴𝐴2 𝑛𝑛�⃗2 ) + 𝐺𝐺⃗ (2.8)

���⃗′ , temos que:


Aplicando a equação 2.6 na equação 2.8 e isolando 𝐹𝐹𝑆𝑆

���⃗
𝐹𝐹𝑆𝑆′ = (−𝑝𝑝1 𝐴𝐴1 𝑛𝑛�⃗1 ) + (−𝑝𝑝2 𝐴𝐴2 𝑛𝑛�⃗2 ) + (−𝑄𝑄𝑚𝑚 (𝑣𝑣 ����⃗1 )) + 𝐺𝐺⃗
����⃗2 − 𝑣𝑣

Então, para descobrir a força que o fluido exerce sobre a superfície sólida,
basta utilizar o princípio da Terceira Lei de Newton. Ou seja, se a superfície sólida exerce
uma força sobre o fluido, o fluido também exerce uma força sobre a superfície sólida, de
���⃗′ ). Assim, a força que o fluido exerce
mesma intensidade e sentido contrário (𝐹𝐹⃗𝑆𝑆 = −𝐹𝐹𝑆𝑆
sobre a superfície é dada por:

𝐹𝐹⃗𝑆𝑆 = −[𝑝𝑝1 𝐴𝐴1 𝑛𝑛�⃗1 + 𝑝𝑝2 𝐴𝐴2 𝑛𝑛�⃗2 + 𝑄𝑄𝑚𝑚 (𝑣𝑣 ����⃗1 )] + 𝐺𝐺⃗
����⃗2 − 𝑣𝑣

Para fins práticos, desconsideramos o peso do fluido. Assim temos que:

𝐹𝐹⃗𝑆𝑆 = −[𝑝𝑝1 𝐴𝐴1 𝑛𝑛�⃗1 + 𝑝𝑝2 𝐴𝐴2 𝑛𝑛�⃗2 + 𝑄𝑄𝑚𝑚 (𝑣𝑣 ����⃗1 )]
����⃗2 − 𝑣𝑣 (2.9)

Figura 4 – Incidência de um jato sobre uma superfície sólida plana

Fonte: Brunetti (2008).

No caso de um jato, como na Figura 4, a pressão que atua em (1) e (2) é a


atmosférica, ou seja, 𝑝𝑝1 = 𝑝𝑝2 = 0. Então a força que o fluido exerce sobre a superfície é:

𝐹𝐹⃗𝑆𝑆 = 𝑄𝑄𝑚𝑚 (𝑣𝑣 ����⃗2 )


����⃗1 − 𝑣𝑣

Considerando que a vazão em massa pode ser reescrita em função da vazão


volumétrica e massa específica:

𝑄𝑄𝑚𝑚 = 𝜌𝜌 ∙ 𝑄𝑄

Além disso, pela Figura 4, podemos perceber que a velocidade 𝑣𝑣


����⃗2 não possui
componente na direção X, assim:

𝐹𝐹𝑆𝑆𝑥𝑥 = 𝜌𝜌 ∙ 𝑄𝑄 ∙ 𝑣𝑣1 (jato horizontal)

𝐹𝐹𝑆𝑆𝑦𝑦 = 𝜌𝜌 ∙ 𝑄𝑄 ∙ 𝑣𝑣1 (jato vertical) (2.10)

No caso em que a superfície sólida possui uma curvatura θ, como na Figura


5, é necessário encontrar a componente da velocidade depois do impacto (𝑣𝑣2 ) na direção
de atuação da força. Assim:

𝑣𝑣2𝑥𝑥 = 𝑣𝑣2 ∙ cos 𝜃𝜃 (jato horizontal)


𝑣𝑣2𝑦𝑦 = 𝑣𝑣2 ∙ cos 𝜃𝜃 (jato vertical)

Figura 5 – Incidência de um jato sobre uma superfície sólida curva

����⃗
𝒗𝒗𝟐𝟐 ����⃗
𝒗𝒗𝟐𝟐

Considerando que o módulo das velocidades antes e depois do impacto são


iguais (𝑣𝑣1 = 𝑣𝑣2 ), pois está sendo desconsiderado o atrito na superfície, a força que o fluido
exerce sobre uma superfície sólida curva é:

𝐹𝐹𝑆𝑆𝑥𝑥 = 𝜌𝜌 ∙ 𝑄𝑄 ∙ 𝑣𝑣1 ∙ (1 − 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 𝜃𝜃) (jato horizontal)

𝐹𝐹𝑆𝑆𝑦𝑦 = 𝜌𝜌 ∙ 𝑄𝑄 ∙ 𝑣𝑣1 ∙ (1 − 𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐𝑐 𝜃𝜃) (jato vertical) (2.11)

Normalmente, o atrito com a superfície sólida e as diferenças de cotas entre


os pontos são desconsiderados, mas no caso de um jato vertical, a influência das cotas é
maior e, assim, deve ser levada em consideração.
Utilizando a Equação de Bernoulli, podemos encontrar uma velocidade de
impacto (𝑣𝑣1 ) de jato em função da velocidade de saída do jato (𝑣𝑣𝑗𝑗 ) e da diferença de cotas
(ℎ) entre estes pontos. Assim:

𝑣𝑣1 = �𝑣𝑣𝑗𝑗2 − 2𝑔𝑔ℎ

Sabe-se que, experimentalmente, que a força teórica (𝐹𝐹𝑆𝑆 ) e a força real (𝐹𝐹𝑗𝑗 )
que o jato aplica sobre a superfície são diferentes. A relação entre as duas forças é chamada
de Coeficiente de Placa (𝐾𝐾𝑃𝑃 ) e é dado por:
𝐹𝐹𝑗𝑗
𝐾𝐾𝑃𝑃 = (2.12)
𝐹𝐹𝑆𝑆

3. METODOLOGIA

3.1. EQUIPAMENTO

Figura 6 – Esquema do equipamento experimental para forças de jatos

Conforme pode-se verificar na Figura 6, o sistema consiste de um invólucro


de plástico com duas janelas de acrílico. O invólucro é provido de duas tampas, também
de plástico, uma no seu topo e outra na base.
Na tampa inferior existe um dreno e um tubo vertical rosqueado no qual,
podem ser montados bocais com vários diâmetros de descarga.
Na tampa superior existe uma haste que rotaciona em torno de um eixo. A
haste é interligada à superfície defletora e à uma mola, responsável por equilibrar os
momentos de força sobre a haste. Também existe um cilindro de aço que é movido sobre a
haste conforme o jato incide sobre a superfície defletora.
A força vertical sobre a placa defletora é medida através do deslocamento
do cilindro, para equilibrar a rotação, com o auxílio da haste milimetrada. O sistema é
alimentado por um reservatório de nível constante, sendo a vazão regulada através de uma
válvula.
Dispõe-se de um bocal com diâmetro de 10 mm, além de uma superfície
defletora horizontal. A distância entre superfície defletora e o bocal é de 35 mm.

3.2. MEDIÇÃO DE VAZÃO

A determinação da vazão (Q) é feita através do método volumétrico,


utilizando-se um recipiente aferido onde recolhe-se o volume (V) e com um cronômetro,
determina-se o tempo (t) gasto para recolher este volume, então:
𝑉𝑉
𝑄𝑄 = (3.1)
𝑡𝑡

A velocidade (𝑣𝑣𝑗𝑗 ) do jato d’água é obtida através de continuidade, para as


várias vazões:

4𝑄𝑄
𝑣𝑣𝑗𝑗 = (3.2)
𝑑𝑑²𝜋𝜋

Onde 𝑑𝑑 é o diâmetro de descarga do bocal.

3.3. MEDIÇÃO DA FORÇA DO JATO

Figura 7 – Balanço dos momentos de força gerados pela força do jato

A determinação da força real que o jato d’água aplica sobre a superfície


defletora é feita através de uma mola e um cilindro de massa conhecida.
Com o jato d’água incidindo na superfície defletora, o momento gerado pela
força do jato (𝐹𝐹𝑗𝑗 ) tenderá a anular os momentos gerados pela força da mola (𝐹𝐹𝑚𝑚 ) e pela
força peso do cilindro (𝑃𝑃𝑚𝑚 ). O balanço dos momentos de força nessas condições (Figura 7)
resulta em:

𝐹𝐹𝑚𝑚 ∙ 𝑥𝑥 + 𝑃𝑃𝑚𝑚 ∙ (𝐿𝐿0 + 𝐿𝐿) = 𝐹𝐹𝑗𝑗 ∙ 𝐿𝐿0 (3.3)

No caso em que o sistema não está em funcionamento, não existe a força do


jato sendo aplicada, e a posição do cilindro se encontra na marcação 0 da haste milimetrada
(𝐿𝐿 = 0). Nestas condições, o balanço dos momentos de força é dado por:

𝐹𝐹𝑚𝑚 ∙ 𝑥𝑥 = −𝑃𝑃𝑚𝑚 ∙ 𝐿𝐿0

Substituindo na equação 3.3, temos que a força do jato é dada por:


𝑚𝑚∙𝑔𝑔∙𝐿𝐿
𝐹𝐹𝑗𝑗 = (3.4)
𝐿𝐿0

Onde 𝑚𝑚 é a massa do cilindro, 𝑔𝑔 é a aceleração da gravidade, 𝐿𝐿0 é a distância


do eixo de rotação da haste à superfície defletora e 𝐿𝐿 é a posição do cilindro na haste
milimetrada.

4. PROCEDIMENTO

a) Anotar o valor do diâmetro de saída do bocal e deslocamento do cilindro


quando não há jato d’água;
b) Abrir totalmente a válvula regularizadora;
c) Desviar o fluxo do tubo para o reservatório de medida e ao mesmo
tempo acionar o cronômetro. Quando o nível no reservatório de medida
aproximar-se de 20 litros, bloquear o cronômetro. Anotar os valores do
tempo t, do volume recolhido V e do deslocamento do cilindro L;
d) Repetir o procedimento (b) para mais cinco vazões, obtidas através do
fechamento parcial da válvula.

5. RESULTADOS

a) Para cada vazão, determinar a força do jato 𝐹𝐹𝑗𝑗 , medida através do


deslocamento do cilindro (3.4);
b) Para cada vazão, determinar a força de jato teórica 𝐹𝐹𝑆𝑆𝑦𝑦 através da
expressão (2.10). Calcular as velocidades do jato através de continuidade
(3.2);
c) Traçar num gráfico as curvas 𝐹𝐹𝑗𝑗 x 𝑣𝑣𝑗𝑗 e 𝐹𝐹𝑆𝑆𝑦𝑦 x 𝑣𝑣𝑗𝑗 ;
d) Calcular os valores do coeficiente de placa através da expressão (2.12);
e) Traçar num gráfico as curvas de 𝐾𝐾𝑃𝑃 x 𝑣𝑣𝑗𝑗 .

6. CONCLUSÕES E DISCUSSÃO

Compare os valores das forças de jato experimental Fj e teórico Fy, e discutir


as discrepâncias. Discutir o comportamento da curva Kp X Vj. Discutir sobre as possíveis
fontes de erro existentes na experiência.

7. BIBLIOGRAFIA

1. BELTAOS, S & RAJARATNAM, N. - Inpigement of Axissymetric


Developing jets- Journal of Hydraulic Research. Volume 15 - 1977- no4.
2. FOX, R. W. & Mc Donalds, A . T. Introdução à Mecânica dos Fluidos.
Guanabara Dois. 1981.
3. KAMAL, A . R. I. Fenômenos de Transferência- Experiências de
Laboratório. Editora Campus. 1982.
4. PLINT, M. A . & BOSMIRTH. Fluid Mechanics: A Laboratory Course,
Charles Griffin. 1975.
5. BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. Editora Pearson Prentice Hall (2ª
ed.). 2008.

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