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Diálogos entre a (nova) Lei do 'Governo Digital' e a L

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PRO

OPINIÃO & ANÁLISE

DIREITO DIGITAL

Diálogos entre a (nova) Lei do


‘Governo Digital’ e a LGPD
Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) precisa
regulamentar compartilhamento de dados entre órgãos
públicos

VITOR MAIMONE SALDANHA


TOMAZ MIRANDA
RENATO MALAFAIA

29/04/2021 07:04
Atualizado em 29/04/2021 às 07:05

Crédito: Unsplash
G
Dentre o recente esforço de digitalização dos
processos e desburocratização do poder
público, não há dúvida de que a Lei nº
14.129/2021 para criação do chamado
“Governo Digital” guarda extrema relevância
para o desenvolvimento tecnológico-
econômico do Brasil. Com o avanço esperado
da iniciativa do “Governo Digital” e o seu
potencial transformador, a expectativa é que a
relação governo-cidadão se torne um ativo.
Assim como ocorre na iniciativa privada, é
fundamental que a administração pública
também preste serviços aos cidadãos de forma
eYciente e (sempre que possível) inovadora.

Esse ímpeto de transformação governamental


não é inédito: inúmeros países ao redor do
mundo almejam se tornar mais inovadores e
desburocratizados, capitaneando novas ações
e buscando mais investimentos para o
desenvolvimento local. A Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), por exemplo, publicou o relatório
Embracing Innovation in Government: Global
Trends 2019, em que relata esforços e avanços
governamentais para adoção de programas
inovadores que objetivam, direta ou
indiretamente, melhorar a interação entre os
atores da sociedade.
O governo da Mongólia, por exemplo, convive
com uma realidade de falsiYcação
farmacológica extremamente danosa para a
população e para o mercado farmacêutico.
Estima-se que mais de 40% dos fármacos que
circulam no país asiático são falsos. Em
decorrência deste cenário, o governo Mongol
lançou, em parceria com uma empresa inglesa,
o Mongolian Medicine VeriYcation Program
(MMVP), que se utiliza de Inteligência ArtiYcial e
Blockchain para rastrear medicamentos de
forma conYável em toda a cadeia de
abastecimento, a Ym de identiYcar e eliminar
medicamentos falsiYcados.

No Brasil, o estado de São Paulo, com o


programa “Agentes do Governo Aberto”, visa
proporcionar a formação e certiYcação gratuita
da população em diversas áreas, como
inovação, comunicação, transparência e
processos legislativos, oportunizando a
disseminação de conhecimento para
capacitação da sociedade.

Ocorre que o processo de transformação


digital, de forma geral, é alavancado por meio
dos dados (estruturados ou não), muitos deles
dados pessoais e tratados de maneira
questionável com relação à legislação brasileira
em proteção de dados. Isso porque a Lei do
Governo Digital estimula o compartilhamento
de dados pessoais entre os entes federativos,
autarquias, empresas públicas e quaisquer
órgãos que prestem serviços públicos,
buscando otimizar a qualidade dessa
prestação. Apesar de remeter reiteradas vezes
à LGPD como diploma regulador desse
compartilhamento, fato é que o Estado
brasileiro e a administração pública não se
materializam em uma estrutura uniYcada,
sendo cada um destes órgãos um agente de
tratamento de dados independente.
Nesse sentido, a LGPD autoriza a
administração pública a tratar dados pessoais
de maneira compartilhada para a execução de
“Políticas Públicas previstas em Leis”. No
entanto, ao não reforçar os princípios de
transparência, Ynalidade, adequação e
necessidade, a Lei do Governo Digital abre
margem para um compartilhamento de dados
indiscriminado, desproporcional e, sobretudo,
desnecessário entre os órgãos, considerando a
amplitude do conceito de “Políticas Públicas
previstas em lei”.

Relembre-se que essa mesma discussão


desembocou no princípio da autodeterminação
informativa, reconhecido pelo Tribunal
Constitucional Alemão em 1982 e consagrado
no Brasil pelo Supremo Tribunal Federal (STF)
como direito fundamental.

Desta forma, para garantir a


efetiva proteção dos dados
pessoais dos cidadãos
usuários dos serviços
públicos digitais, o princípio
de atuação integrada e
compartilhamento de dados
pessoais previsto na Lei
14.129/2021 deve ser
interpretado de maneira
restritiva, visando garantir ao
cidadão a decisão em relação
ao uso dos seus dados.

Em última análise, a Autoridade Nacional de


Proteção de Dados (ANPD) deverá
regulamentar esse procedimento. O poder de
escolha do indivíduo sobre como serão
tratados seus dados pessoais deve sempre
nortear as ações do Estado na era da
sociedade da informação. E isso deve estar
previsto concretamente em lei. É a melhor
maneira de garantir e proteger o direito
fundamental à autodeterminação informativa.

VITOR MAIMONE SALDANHA – Mestrando em Direito


Empresarial pela PUC-SP. Membro do Conselho da
Associação Brasileira de Inteligência ArtiBcial - ABRIA.
Membro da Associação Brasileira de Jurimetria. Sócio no
Daniel Law.
TOMAZ MIRANDA – Mestre em Direito Digital pela
Université Paris 1 Panthéon. Coordenador do Grupo de
Trabalho sobre adequação à LGPD da Comissão de
Privacidade e Proteção de Dados da OAB/RJ. Sócio no
Daniel Advogados.
RENATO MALAFAIA – Advogado especializado em Direito
Digital, Proteção de Dados e Segurança da Informação na
Daniel Law, titular de certiBcado CIPP/E, Bacharel em Direito
pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado
em Direito e Tecnologia da Informação pela Escola
Politécnica de Engenharia da Universidade de São Paulo.

C O M PA RTILHE

Os artigos publicados pelo JOTA não reVetem


necessariamente a opinião do site. Os textos
buscam estimular o debate sobre temas
importantes para o País, sempre prestigiando a
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