Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2 Introdução
serviços ecossistêmicos, que a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou a década de
2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas da ONU. Enquanto a
degradação ambiental já afeta negativamente o bem-estar de mais de 3 bilhões de pessoas
no planeta, estimativas sugerem que a restauração centenas de milhões de hectares de terras
degradadas até 2030 pode promover amplos benefícios econômicos e ambientais até 20301.
Ações de restauração de ecossistemas podem contribuir com várias agendas, como a que
dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Convenção sobre a Biodiversidade
(CBD), ambas da ONU, e ainda com os temas da Economia Regenerativa e da Intensificação
Sustentável.
A restauração ecológica (ou de ecossistemas) é compreendida como o processo de
auxílio ao restabelecimento de um ecossistema que foi degradado, danificado ou destruído.
As ações nesse processo buscam retornar um ecossistema à sua trajetória histórica, a partir
da adoção de um ecossistema de referência (SER, 2004). Ou seja, a restauração visa ao
restabelecimento dos processos ecológicos sem se preocupar em retornar o ecossistema
degradado à sua condição original, e reúne também aspectos culturais e técnicos (Moraes et
al., 2010; Engel & Parrotta, 2008).
O entendimento de que a restauração deve incorporar valores econômicos e sociais
aos valores ecológicos possibilita que a restauração seja debatida no âmbito da paisagem e
seja inserida nos debates para o desenvolvimento de um modelo de produção agropecuária
mais sustentável. De acordo com a Sociedade Internacional para Restauração Ecológica
(SER) um dos seis conceitos-chave que fundamentam as melhores práticas para a
restauração recomenda envolver ativamente todos os atores envolvidos desde o início do
projeto, o que se constitui na base para o sucesso da restauração em longo prazo (McDonald
et al., 2016).
O diagnóstico correto dos fatores de degradação é fundamental para o
estabelecimento das ações e dos indicadores que vão auxiliar no monitoramento da
restauração. Tanto o diagnóstico quanto a proposição de ações devem considerar cientistas,
técnicos e atores locais, para que benefícios ecológicos, econômicos e sociais sejam
alcançados (Jones et al., 2018). Para o alcance dessa ampla gama de benefícios,
restauradores sugerem que o conceito de serviço ecossistêmico deve ser incorporado à
ciência, à prática e às políticas públicas da restauração ecológica, e mesmo orientando o
planejamento do uso da terra, incluindo sistemas de produção multifuncionais, que atendam
a produção de alimentos e promovam a oferta de serviços ecossistêmicos (Tolvanen &
Aronson, 2016).
A possibilidade de benefícios a partir da restauração dos ecossistemas, como a
conservação da biodiversidade a mitigação dos efeitos negativos do aquecimento global, tem
exigido uma constante adaptação dos conceitos e objetivos da restauração ecológica nos
últimos 30 anos, priorizando abordagens interdisciplinares para a solução dos problemas
causados pela degradação ambiental (Perring et al., 2015). Além da incorporação à prática
da restauração de avanços no conhecimento estabelecidos por teorias ecológicas clássicas,
muitas técnicas usadas na restauração foram desenvolvidas ou aprimoradas na atividade
agropecuária, como as adotadas no controle de plantas invasoras ou no plantio de plantas
fixadoras de nitrogênio atmosférico pela associação com bactérias fixadoras (Perring et al.,
2015; Moraes et al., 2010).
No entanto, para que a restauração seja adotada em larga escala e possa trazer os
benefícios esperados, é necessário definir claramente o escopo da restauração ecológica,
diferenciando-a das chamadas boas práticas agrícolas (Woodworth, 2017). Definições
incertas e uma má comunicação desses conceitos pode prejudicar o planejamento dos
projetos e confundir os atores interessados, falhando em explorar esse grande potencial da
restauração.
Os acordos assumidos pelo Brasil para a restauração em larga escala (as metas de
Aichi, estipuladas na Convenção de Diversidade Biológica, a Iniciativa 20×20 e o Bonn
1
Em https://agropos.com.br/2019/03/onu-institui-decada-da-restauracao-de-ecossistemas/;
acesso em fevereiro de 2021.
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
Challenge) podem inspirar a adoção de um novo modelo econômico para o Brasil, em que
uma economia de baixo carbono pode atrair mais recursos e gerar mais lucros (Barros et al.,
2020). O que está sendo chamado de Retomada Verde da economia é uma oportunidade de
integrar políticas públicas importantes no campo do desenvolvimento rural sustentável, como
o Plano ABC e o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). Para uma
empresa de pesquisas como a EBP, um setor de relações internacionais atuante pode
identificar como a gestão de projetos da empresa pode se organizar para acessar recursos
internacionais, disponibilizados por órgãos de expressão global, que possam financiar
pesquisas agropecuárias e ambientais.
A gestão das atividades de cooperação internacional da EBP é dividida em três
subáreas: Cooperação Científica, Cooperação Técnica e Políticas Globais (Nascimento &
Castro, 2020). Essas subáreas representam ferramentas distintas na atuação estratégica
internacional da empresa, contribuindo tanto para o compartilhamento do conhecimento e das
tecnologias geradas pelas suas pesquisas, quanto para a capacitação e o aprendizado de
seus pesquisadores. A cooperação técnica atua no sentido de atender demandas do estado
brasileiro, e é financiada por recursos da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do
Ministério de Relações Exteriores (MRE), e de parceiros internacionais. A cooperação
científica é financiada por recursos orçamentários destinados à EBP, investidos na elaboração
de projetos chamados estruturantes e que tem em laboratórios implantados no exterior sua
principal estratégia de atuação. As restrições orçamentárias podem assim ter afetado a
cooperação internacional na EBP, e parcerias pública-privadas sofrem restrições para serem
implementadas (Spielman & Grebmer, 2006).
Em permanente renovação, atendendo à constante atualização do estado da arte na
agropecuária e na área ambiental, a gestão de projetos de pesquisa na EBP é orientada pelo
macroprocesso de inovação tecnológica (conjunto de processos com atividades que são
estabelecidas a partir de demandas tecnológicas, que por sua vez subsidiam o planejamento
e execução de projetos, cujas soluções devem ser validadas e transferidas para a sociedade),
mas esse foco de inovação não atingiu ainda as atividades de cooperação internacional.
A inovação pode ser decomposta em quatro camadas: incremental (inovação dos
processos), tecnológica (que visa a ativos tecnológicos no futuro), estratégica (visando a
cenários futuros) e disruptiva (que propõe mudanças culturais para a empresa). A adoção da
inovação na gestão de eventuais mudanças demanda, inicialmente, um diagnóstico da cultura
organizacional, e como a construção de estratégias dialoga com essa cultura. É fundamental
uma avaliação do alinhamento organizacional, em função da liderança, da cultura e do
planejamento estratégico.
A bem estabelecida gestão de projetos tem, dessa forma, que ser contemplada no
exercício de gestão de mudanças. Na gestão de mudança, a ferramenta conhecida como
Competing Value Framework (CVF) mostra o risco de assumir extremos, como na oposição
entre modelos organizacionais de sistemas abertos e o de processos internos. O CFV é uma
ferramenta útil para se avaliar a estrutura organizacional, no nível de processos e de
lideranças, por exemplo (Yu, 2009). É uma ferramenta interessante para ser usado para
construir um alinhamento organizacional.
Finalmente, esse debate todo tem que considerar um cenário de constantes
mudanças. Redes de pesquisa recomendam que a inovação seja orientada por uma visão de
futuro sustentável, apoiada na experimentação e aprendizagem, propondo renovação em
políticas, processos de inovação, modelos de parceria e de governança (Holanda-Júnior et
al., 2020). Um entendimento moderno da agricultura defende que o segmento, em nível
internacional, deve ser visto como parte de um grande conjunto de sistemas interligados que
incluem clima, saúde, ecologia e mercados, entre outros, promovendo a migração de uma
intensificação baseada em alto consumo de energia para uma intensificação agroecológica
(Nelson, 2020), desde que superados os desafios de governança e de capacitação (Kamanda
et al., 2017). A pesquisa internacional em agricultura pode trazer grandes contribuições à
elaboração de políticas públicas e a proposição de soluções orientadas ao desenvolvimento
rural sustentável (Ripoll et al., 2017).
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
Dessa forma, vale questionar quais são as características da inovação que devem
compor e orientar o delineamento da estratégia internacional na EBP, da capacitação de
pesquisadores à transferência de conhecimento e tecnologia para outros países. A empresa
precisa ter bem definidos quais são os objetivos no seu esforço de cooperação internacional,
e como esses objetivos podem alinhar a pesquisa agropecuária com os desafios para a
restauração de ecossistemas, tema que deve ser aliado dos desafios impostos ao setor
agropecuário.
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
3 Objetivo
4 Procedimentos metodológicos
5 Resultados preliminares
5.1 Mapa estratégico da EBP
A fim de organizar a entrega de produtos e resultados para a sociedade, e levando em conta
grandes tendências pelas quais o setor agropecuário vem passando (Embrapa, 2020), a EPB
criou um mapa estratégico com os valores que orientaram a definição dos objetivos
estratégicos da empresa (Figura 1). Dentre os impactos desejados pelas suas pesquisas está
justamente a busca pela sustentabilidade na agricultura.
Figura 1. Mapa estratégico da EBP, criado a partir da avaliação das megatendências que têm
afetado o setor agropecuário no Brasil.
A busca identificou 76 projetos, sendo que 18 compartilham mais de dois temas (Tabela 1).
Dos temas em torno da restauração o termo mais utilizado é Recuperação de Áreas
Degradadas (30 projetos). O termo restauração aparece de variadas formas (Restauração
Ecológica, Restauração Florestal, Restauração Ambiental e mesmo nos projetos de
Recuperação de Áreas Degradadas), em 20 projetos; em 10 desses projetos o termo
restauração aparece nos seus objetivos.
Tabela 1. Resumo das buscas na base Quaesta de projetos envolvendo termos associados a
ações de restauração ecológica e adequação ambiental. Fonte:
www.embrapa.br/quaesta.
Palavra-chave (termo de busca) No. de projetos
"Restauração Ecológica" e "Adequação Ambiental" 8
Adequação Ambiental 6
Recuperação de Áreas Degradadas 16
Restauração Ambiental 3
Restauração Ecológica* (RA, RE, RF, RAD) 20
Restauração Florestal 5
Sistemas Agroflorestais 30
Sistemas Silvipastoris 6
Dos temas abrigados pelo Arranjo Sustrural, 30 projetos são referentes a sistemas
agroflorestais, e seis a sistemas silvipastoris, sugerindo o grande potencial de abordagem
desses sistemas na proposição de ações visando à restauração florestal e à adequação
ambiental de propriedades rurais. Os sistemas agroflorestais têm sido vistos, pela legislação
brasileira inclusive, como um dos métodos de recomposição de áreas para cumprimento das
demandas legais por proprietários rurais.
Um outro detalhe que deve ser evidenciado é o baixo número de projetos que adotam o termo
Restauração Ambiental, sugerindo que esse não é o termo mais adequado para o
estabelecimento de objetivos na elaboração de projetos. Para facilitar enfim que as pesquisas
agropecuárias na EPB tenham interlocução com os desafios da restauração de ecossistemas,
há uma aparente necessidade de consolidar os conceitos e princípios adotados para a
restauração ecológica (McDonald et al., 2019).
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
6 Resultados esperados
Meses
Atividades planejadas
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Definição do tema X
Revisão de literatura X X X X X X X
Entrega do projeto de pesquisa X
Caracterização dos ambientes
interno e externo que têm interface
X X X X
com a restauração de ecossistemas
nos projetos de pesquisa na EBP
Identificação das forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças às ações
X X
de cooperação internacional na
EBP
Elaboração de canvas para a
formulação estratégica para
demonstrar como a Cooperação
internacional (capacidade,
expertise ou conhecimento X X
acumulado) na EBP pode colaborar
com agendas internacionais, no
contexto da restauração de
ecossistemas
Entrega dos Resultados
X
Preliminares
Entrega da monografia X
Entrega da apresentação da defesa X
Defesa da monografia X
Projeto de pesquisa; Resultados preliminares; entrega da monografia; Entrega da apresentação da defesa
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
8 Referências Bibliográficas
Embrapa. 2020. VII Plano Diretor da EBP: 2020–2030 / EBP. – Brasília, DF: EBP. 31 p.
Engel, V.L. & Parrotta, J.A.. 2008. Definindo a restauração ecológica: tendências e
perspectivas mundiais. In: Kageyama, P.Y.; Oliveira, R.E.; Moraes, L.F.D.; Engel, V.L.;
Gandara, F.B. (eds.) Restauração Ecológica de Ecossistemas Naturais. FEPAF, Botucatu.
340p.
FlexM4I. 2020. Flexible methodology 4 innovation. Disponível em:
https://flexmethod4innovation.com/. Acesso em novembro de 2020.
Gerhardt, T.E. & Silveira, D.T. (org.) 2009. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2009. 120 p.
Holanda Junior, E. V.; Amancio, C. O. da G.; Farias, J. L. de S.; Borba, M. F. S. 2020. Ciência,
tecnologia e inovação para a inclusão social e produtiva da agricultura familiar brasileira.
In: BITTENCOURT, D. M. de C. (Ed.). Estratégias para a agricultura familiar: visão de
futuro rumo à inovação. Brasília, DF: Embrapa. P. 67-94.
Jones, H.P., Jones, P.C., Barbier, E.B., Blackburn, R.C., Rey Benayas, J.M., Holl, K.D.,
McCrackin, M., Meli, P., Montoya, D., Mateos, D.M., 2018. Restoration and repair of Earth’s
damaged ecosystems. Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 285.
Kamanda, J.; Birner, R.; Bantilan, C. 2017. The “efficient boundaries” of international
agricultural research: A conceptual framework with empirical illustrations. Agricultural
Systems, 150: 78-85.
Kristjanson, P.; Reid, R.S.; Dickson, N.; Clark, W.C.; Romney, D.; Puskur, R.; MacMillan, S.;
Grace, D. 2009. Linking international agricultural research knowledge with action for
sustainable development. PNAS, 106 (13): 5047–5052.
Mcdonald, T., Gann, G.D., Jonson, J., Dixon, K.W. 2016. Padrões internacionais para a prática
da Restauração Ecológica – incluindo princípios e conceitos chaves. Society for Ecological
Restoration. 48 p.
Moraes, L.F.D., Campello, E.F.C., Franco, A.A. 2010. Restauração florestal: o diagnóstico de
degradação ao uso de indicadores ecológicos para o monitoramento das ações. Oecologia
Australis, 14: 437–451.
Nascimento, P.P. & Castro, A.C. 2020. Embrapa and the international scientific collaboration:
from Green Revolution catching-up to technological leadership in tropical agriculture.
Desenvolvimento em debate, 8 (2): 85-107.
Nelson, R. 2020. Viewpoint: International agriculture’s needed shift from energy intensification
to agroecological intensification. Food Policy, 91: 101815.
doi.org/10.1016/j.foodpol.2019.101815.
Perring, M.P.; Standish, R.J.; Price, J.N.; Craig, M.D.; Erickson, T.E.; Ruthrof, K.X.; Whiteley,
A.S.; Valentine, L.E.; Hobbs, R.J. 2015. Advances in restoration ecology: rising to the
challenges of the coming decades. Ecosphere, 6 (8), art. 131.
Pinheiro, B.; Genin, C.; Feltran-Barbieri, R.; Romeiro, V.; Barros, A.C.; Bassi, A.; Lucena,
A.F.P; Andrade, A.L.; Szklo, A.; Cunha, B.; Silva, F.; Angelkorte, G.; Feres, J.; Garrido, L.;
Garaffa, R.; Studart, R.; Schaeffer, R.; Keneally, S. 2020. Uma Nova Economia para uma
Nova Era: Elementos para a Construção de uma Economia Mais Eficiente e Resiliente
para o Brasil. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/publicacoes/nova-economia-brasil-
eficiente-resiliente-retomada-verde. Acesso em fevereiro de 2021.
Porter, M. E. 1985. Competitive advantage, creating and sustaining superior performance.
New York, The Free Press, Macmillan. 557 p.
Projeto de Pesquisa – Monografia PECEGE
Ripoll, S.; Andersson, J.; Badstue, L.; Büttner, M.; Chamberlin, J.; Erenstein, O.; Sumberg, J.
2017. Outlook on Agriculture, 46(3): 168–177.
Santin, D.M.; Vanz, S.A.S; Stumpf, I.R.C. 2016. Internacionalização da produção científica
brasileira: políticas, estratégias e medidas de avaliação. Revista Brasileira de Pós-
Graduação, 13 (30): 81-100.
SER, Society for Ecological Restoration. 2004. Princípios da SER International sobre a
restauração ecológica. SER, Society for Ecological Restoration International, 15.
http://www.ser.org/
Spielman, D.J & von Grebmer, K. 2006. Public–Private Partnerships in International
Agricultural Research: An Analysis of Constraints. Journal of Technology Transfer, 31: 291–
30.
Tolvanen, A. and J. Aronson. 2016. Ecological restoration, ecosystem services, and land use:
a European perspective. Ecology and Society, 21(4):47.
Woodworth, P. 2017. Can Ecological Restoration Meet the Twin Challenges of Global Change
and Scaling Up, Without Losing Its Unique Promise and Core Values? Annals of the
Missouri Botanical Garden, 102(2): 266-281.
Xu, K.; Hitt, M.A.; Brock, D.; Pisano, V.; Huang, L.S.R. 2021. Country institutional environments
and international strategy: A review and analysis of the research. Journal of International
Management, 27: 100811. https://doi.org/10.1016/j.intman.2020.100811.
Yu, T. 2009. A Review of Study on the Competing Values Framework. International Journal of
Business and Management, 4 (7): 37-42.