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— Homem ou mulher?
— Mulher.
— Deixou recado?
— ok! ok!
Uns dez minutos depois, estava pondo em ordem uns papéis, quando o telefone bate
novamente. O contínuo, que atendeu, berrou:
— Aristides!
Larga o serviço e apanha o telefone. Era uma voz feminina que, a princípio, não
identificou. A pessoa perguntava: — “Não me conheces mais?”. Aristides, já
impaciente, foi quase grosseiro:
— Quer dizer quem fala? Estou ocupadíssimo e não posso perder tempo.
— Sou Dorinha.
— Bem. E você?
— Navegando.
— Comigo? E quando?
— Já.
Combinaram o encontro, para daí a vinte minutos, numa sorveteria da rua da Carioca.
Aristides largou o serviço, que estava atrasadíssimo, e correu para o elevador. Daí a
dez minutos, estava no local. Encontrou-a mais linda, mais fresca do que nunca.
Diante da mulher que nunca deixara de amar, não se conteve. Com o coração
disparando, começou:
— Eu preciso de um favor teu. Mas quero que prometas que não pensarás mal de
mim.
— Meu marido partiu hoje, ao meio-dia, para São Paulo. De hoje para amanhã, eu
sou uma espécie de solteira ou, então, de viúva. De qualquer maneira, uma mulher
livre. Pensei em você, que merece toda a minha confiança e… Está compreendendo?
— Mais ou menos.
E ela:
Deslumbrado, exclama:
— Oh, Dorinha!
Protesta, veemente:
— Explicação nenhuma! Basta o fato em si! Você está aqui, comigo, a meu lado, e
não interessam os motivos, argumentos, nada!
Quando entraram, uns quinze minutos depois, no apartamento, Aristides não sabia o
que dizer. Ainda uma vez, Dorinha toma a iniciativa:
Atônito, pergunta:
— Era a explicação que eu queria te dar e que tu recusaste. O meu marido, ontem,
discutiu comigo e me deu uma bofetada. Estou aqui por causa da bofetada. Mas amo
o meu marido e só meu marido.
Responde:
— Depende. Se meu marido me bater outra vez, já sabe: — eu telefono pra ti.
Mas quando a porta fechou-se atrás da pequena, ele caiu, de joelhos, no meio do
quarto, mergulhou o rosto nas mãos e soluçou como uma criança.
Durante uma semana, ele foi o ser mais humilhado e mais ofendido da Terra. Dizia de
si para si: — “A cínica! A cínica!”. E pior é que era incapaz de sentir atração por
qualquer outra mulher. Uns quinze dias depois, ele atende o telefone: — era ela.
Perguntava, alegremente:
— Vamos lá, outra vez?
Encontraram-se outras vezes, sempre em função de novas bofetadas. Até que, uma
tarde, entre um beijo e outro, ela exclama:
— Por quê?
E Dorinha:
— Tu não percebeste que não houve bofetada nenhuma? Que meu marido não me
esbofeteou nunca? E que eu te amo, te amo e te amo?