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Noções de Matemática Financeira

Leonardo Muniz e Thiago Jacomino


Noções de Matemática Financeira

1 Introdução

Quer nos conhecer? Então clique aqui


De modo geral, Matemática Financeira estuda as operações de empréstimos. Isso significa que
apresentaremos os principais conceitos que facilitam o entendimento de que o valor do dinheiro varia
de acordo com o tempo. Ora, imagine que você tenha que escolher entre ganhar R$ 100,00 hoje ou
na semana que vem. Qual decisão você tomaria? Bom, eu escolheria hoje. Afinal, os valores são
iguais em tempos diferentes e como não gosto de esperar, prefiro ter essa grana agora.

A situação muda se ao invés de ganhar hoje os R$ 100,00 você receber uma promessa de pagamento
de R$ 120,00 após uma semana. Logicamente, você precisará pensar um pouco. Mesmo sabendo que
120 é maior que 100, para ficar com os 100 reais você precisará ter certeza que com esse dinheiro
conseguirá investi-lo de tal maneira que após uma semana terá um retorno superior a 120 reais. Do
contrário, não será um bom negócio, portanto, seria melhor esperar uma semana e ficar com os R$
120,00 mesmo.
Das operações de empréstimos, temos várias situações correntes no dia a dia onde aplicamos os
conhecimentos e técnicas da Matemática Financeira. Vejamos algumas:

• Empréstimo pessoal;

• Financiamento imobiliário;

• Valor futuro de uma série de depósitos;

• Comprar ou alugar um imóvel;

• Previdência.

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O presente material tem por objetivo estimular o estudo do valor do dinheiro no tempo. Assim,
esperamos que o leitor entenda os conceitos de Juros, Montante, Taxa de Juros, Capital e Amor-
tização. Para isso, vamos iniciar com uma revisão sobre porcentagem. Embora acreditemos que
os estudantes estejam familiarizados com cálculos envolvendo porcentagem, precisamos endossar as
ações sucessivas, tanto para acréscimo quanto para desconto. Nesse sentido, as funções exponenciais
são fundamentais para entendermos o comportamento de uma aplicação financeira ao longo do
tempo.

Ao final de cada seção, teremos uma lista de exercícios cujo propósito é treinar o(a) estudante
para avaliações internas ou externas. Mas, por favor, não estude apenas para realizar uma prova.
Estude para conhecer. Procure entender os conceitos aqui expostos e pesquise sobre como esses temas
influenciam sua vida e a de seus colegas.

Ademais, acreditamos que “Noções de Matemática Financeira” contribui significativamente para


a formação da cidadania. Isto quer dizer que os(as) estudantes são conduzidos(as) a um pensar com
criticidade antes de tomar uma decisão financeira.

Esperamos que goste do nosso material. Foi produzido para te ajudar, aluno(a).

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2 Revisão de porcentagem

Figura 1: Acesso em 04/04/2020

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/12/governo-controle-precos-tabelar-
mascara-alcool-gel-agua-coronavirus.htm.

A figura acima retrata uma reportagem sobre o aumento, alarmante, do preço do álcool em gel e
máscaras durante o período de enfrentamento do coronavírus (Covid-19) no Brasil.

Perceba que o preço, expresso em reais, não é anunciado, mas sim o percentual de aumento. É
muito comum usarmos porcentagem (%) para representar aumentos ou descontos, sem ter a necessi-
dade de expressar o valor dos produtos em moeda corrente. Além disso, podemos usar porcentagem
quando queremos ter uma noção de comparação. Aumentar até 161% causa um enorme espanto ao
mesmo tempo em que nos sentimos indignados. A informação numérica indica que, independente do
preço inicial, os valores do álcool em gel e da máscara aumentaram significativamente. Como você
se sentiria se o salário do trabalhador aumentasse 161%? E você sabe o significado de um aumento
de 161%?

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2.1 Definição de porcentagem

Porcentagem nada mais é que uma fração (ou razão) cujo denominador é igual a 100. A escolha
do 100 não foi aleatória, mas sim com o objetivo de facilitar (mensurar) a comparação. Essas razões
de denominador 100 são chamadas de porcentagem, taxas percentuais ou razões centesimais.

O símbolo escolhido para porcentagem foi o % (lê-se “por cento”) e ele omite o denominador 100
da fração. Portanto:

8 159 0, 5 32, 7
8% = , 159% = , 0, 5% = e 32, 7% = .
100 100 100 100

De um modo formal, temos que:

i
i% = (1)
100
Observe que qualquer número real, x, pode ser escrito na forma percentual. Para isso basta
100
multiplicar o número pela fração (equivalente a 100 %). Por exemplo, o número 4,2 pode ser
100
escrito como 420%.

Porcentagem pode ser expressa na forma decimal, bastando, para isso, realizar uma divisão por
100 ou simplesmente “andar com a vírgula” duas casas para esquerda. Assim, temos:

13% = 0, 13, 0, 29% = 0, 0029, 4, 5% = 0, 045 e 387% = 3, 87.

2.2 Cálculo percentual

Para calcular i% de algum valor x, basta efetuar a seguinte operação:

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i
·x (2)
100

Portanto, temos que 30% de 400 é igual a 120.

De fato,

30 30 · 400 12000
· 400 = = = 120
100 100 100

Note que poderíamos simplificar antes de efetuar a conta. Assim:

30
· 4
 = 30 · 4 = 120
00
100


Você também poderia resolver utilizando a porcentagem na forma decimal, onde 30% = 0, 30,
logo:

0, 30 · 400 = 120

Muitos alunos e alunas preferem fazer esse tipo de exercício por “regra de três”.

100 % =⇒ 400
30 % =⇒ x

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Portanto,

100 400
=
30 x
100 · x = 400 · 30

100 · x = 12000
120
00

x =
1
00


x = 120

Exemplo:
A figura a seguir retrata um terreno plano de 360 m2 . O proprietário vai destinar uma área de lazer
para seus filhos de 108 m2 . Qual percentual a área de lazer ocupará de todo o terreno?

Solução:

A área de lazer ocupará 108 m2 dos 360 m2 do terreno, logo, para resolver o problema
proposto, basta expressar a fração correspondente à área de lazer em porcentagem.
108
Portanto, = 0, 30 = 30% Logo a área de lazer corresponde a 30% da área do
360
terreno.

Você consegue fazer esse exercício por “regra de três”?

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2.2.1 Exercícios de fixação

1.Represente as frações abaixo na forma percentual.

7 1 3 3 1 8
a) = b) = c) = d) = e) = f) =
10 5 20 4 8 25

2. Calcule:

a) 30% de 1500. b) 12% de 120. c) 27% de 900. d) 55% de 300.

e) 98% de 450. f) 0,4 % de 880. g) 127% de 32. h) 16,4 % de 5.

3. Sabendo que 45% de um número equivalem a 36, determine esse número.

4. Em uma turma de 40 alunos, 45% são meninos. Quantos meninos e meninas tem a turma?

5. (ENEM 2012) Um laboratório realiza exames em que é possível observar a taxa de glicose de
uma pessoa. Os resultados são analisados de acordo com o quadro a seguir.
Um paciente fez um exame de glicose nesse laboratório e comprovou que estava com hiperglicemia.
Sua taxa de glicose era de 300 mg/dL. Seu médico prescreveu um tratamento em duas etapas. Na
primeira etapa ele conseguiu reduzir sua taxa em 30% e na segunda etapa em 10%.

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Ao calcular sua taxa de glicose após as duas reduções, o paciente verificou que estava na categoria
de:
a) hipoglicemia. b) normal. c) pré-diabetes d) diabetes melito. e) hiperglicemia

6. (ENEM 2002) A capa de uma revista de grande circulação trazia a seguinte informação, relativa
a uma reportagem daquela edição:
“O brasileiro diz que é feliz na cama, mas debaixo dos lençóis 47% não sentem vontade de fazer
sexo”.
O texto abaixo, no entanto, adaptado da mesma reportagem, mostra que o dado acima está
errado:
“Outro problema predominantemente feminino é a falta de desejo - 35% das mulheres não sentem
nenhuma vontade de ter relações. Já entre os homens, apenas 12% se queixam de falta de desejo”.
Considerando que o número de homens na população seja igual ao de mulheres, a porcentagem
aproximada de brasileiros que não sentem vontade de fazer sexo, de acordo com a reportagem, é:

a) 12% b) 24% c) 29% d) 35% e) 50%

Não conseguiu resolver as questões 5 ou 6? clique aqui para aquela ajudinha.

2.3 Acréscimos e descontos

Toda vez que denotamos uma mercadoria, por exemplo, pela taxa percentual de 100%, estamos
nos referindo ao valor “cheio” dessa mercadoria. Ou seja, se um tênis custa R$ 160,00, esse valor
corresponde a 100% do preço do produto. Suponha agora que você negociou com o vendedor um
desconto de 15% para pagamento à vista. Então você irá pagar 100% do preço pedido pelo tênis?
Como você obteve um desconto de 15%, então você irá pagar apenas 100% − 15% = 85% do valor
do produto. Logo, o valor a ser pago é de:

0, 85 · 160 = 136 reais

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Agora, suponha que ao invés de desconto, o preço do tênis tenha tido um reajuste ou acréscimo
de 15%. Como o preço “cheio” correspondia a 100%, o novo preço será de 100% + 15% = 115%.
Assim, o tênis custará:

1, 15 · 160 = 184 reais

Poderíamos até criar uma pequena fórmula:

Pf = Pi · (1 ± i) (3)

Onde:

Pf ⇒ Preço final

Pi ⇒ Preço inicial

i ⇒ Taxa percentual

O sinal depende se for acréscimo (+) ou desconto (−).

Utilizamos esses conceitos para falar de descontos e


acréscimos sucessivos. Vamos tomar o seguinte exemplo.

Exemplo:
Um tênis de R$ 160,00 teve um aumento de 15%. No mês seguinte, teve mais um aumento de 5%.
Na Black Friday estava com um desconto de 20%. Qual o valor do tênis na Black Friday?

Solução:

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Um erro bastante comum é achar que um desconto de determinada porcentagem, seguido


de um acréscimo de mesma porcentagem, trata-se de operações de valores equivalentes.

No exemplo acima, você poderia pensar que, se houve um acréscimo de 15% e outro
acréscimo de 5%, então têm-se um acréscimo de 20%, o que não é verdade. Você consegue
constatar isso realizando os cálculos passo a passo?

Pois bem, vamos resolver o exemplo. Você não precisa calcular os acréscimos e o desconto
um de cada vez, apesar de ser realmente possível operar dessa maneira. Mas vamos pensar
o seguinte:

• Aumento de 15% equivale a 115% = 1, 15

• Aumento de 5% equivale a 105% = 1, 05

• Desconto de 20% equivale a 80% = 0, 80

Assim, temos:
160 · 1, 15 · 1, 05 · 0, 80 = 154, 56

Note que, apesar de ter dois acréscimos, um de 15% e um de 5%,


seguido de um desconto de 20%, essas operações não são equivalentes,
uma vez que o preço do tênis não volta a ser R$160,00. Isso ocorre
porque as taxas são calculadas em cima de valores diferentes, resul-
tando assim em resultados diferentes.

2.3.1 Exercícios de fixação

7. Em abril, João ganhava R$ 2000,00 por mês. Em maio, ele ganhou um reajuste de 2% no
salário e, em junho, foi promovido e ganhou um aumento de 8%.

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Qual o salário de João em julho?

a) R$ 2010,00 b) R$ 2203,20 c) R$ 3127,00 d) R$ 2200,00 e) R$ 2183,40

8. Com a chegada do Coronavírus no Brasil, o preço do álcool em gel em determinado estabe-


lecimento subiu 161%. Após denúncias da sociedade junto ao Procon, uma autarquia de proteção
e defesa do consumidor, esse estabelecimento sofreu uma fiscalização, sendo autuada a pagar multa
e obrigada a retornar com preço do álcool em gel ao que era praticado antes da Pandemia. Sendo
assim, esse estabelecimento deverá reduzir o preço do álcool em gel em aproximadamente:

a) 50% b) 62% c) 75% d) 100% e) 161%

9. (UFAM) Duas irmãs, Júlia e Beatriz, têm uma conta poupança conjunta. Do total do saldo,
Júlia tem 60% e Beatriz 40%. A mãe das meninas recebeu uma quantia extra em dinheiro e resolveu
realizar um depósito exatamente igual ao saldo da caderneta. Por uma questão de justiça, a mãe
disse às meninas que o depósito será dividido igualmente entre as duas.
Nessas condições, a participação de Beatriz no novo saldo:

a) aumentou para 50%


b) diminuiu para 30%
c) aumentou para 45%
d) permaneceu 40%
e) diminuiu para 35%

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10. (UFMG) O preço de venda de determinado produto tem a seguinte composição: 60% refe-
rentes ao custo, 10% referentes ao lucro e 30% referentes a impostos.
Em decorrência da crise econômica, houve um aumento de 10% no custo desse produto, porém,
ao mesmo tempo, ocorreu uma redução de 20% no valor dos impostos. Para aumentar as vendas do
produto, o fabricante decidiu, então, reduzir seu lucro à metade.
É correto afirmar, portanto, que, depois de todas essas alterações, o preço do produto sofreu uma
redução de:

a) 5% b) 10% c) 11% d) 19% e) 20%

3 Juro Composto

“ Durante o período capitalista surge um grupo especial de capitalis-


tas que vivem exclusivamente dos juros recebidos por seu dinheiro, que
foi emprestado. São os financistas. Subentende-se que os financistas
também são exploradores, como os capitalistas industriais, visto que os
juros recebidos provém da mais-valia criada pelos operários assalaria-
dos.”(ROBERT, 1989, p.74)

Você já deve ter ouvido falar que o mundo gira em torno de dinheiro. E, muitas vezes, quem não
tem dinheiro tem que tomar emprestado, seja para comprar um carro, uma casa, uma Tv nova ou
até mesmo para pagar um tratamento de saúde. O dinheiro que você tem pode significar a diferença
entre morrer ou prolongar a sua existência. Acontece que, nessa de emprestar dinheiro, os bancos vão
enriquecendo muito e com pouco esforço. Por outro lado, os pobres, ao tomarem quantias empresta-
das, tendem a empobrecer mais ainda por conta dos altos juros cobrados por instituições financeiras,
os financistas.

Nessa seção, você vai entender como funciona a cobrança de juros por parte dos bancos e insti-
tuições financeiras e, assim, poder analisar opções e tomar a melhor decisão possível. A questão não
está no fato de não pagar juros, porque quem não tem dinheiro paga juros, mas em estudar qual a

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opção gera menor perda de dinheiro.

Uma aplicação bastante comum é a Poupança. Vamos supor que você irá deixar um capital de R$
1000,00 aplicado na Poupança durante 1 ano (12 meses). Considere ainda que a taxa de rentabilidade
seja de 0,3% ao mês.1 Sendo assim, ao final do primeiro mês você terá:

1◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) = 1000 · 1, 003 = 1003 reais

Ao final do segundo mês, o rendimento será em cima dos R$ 1003,00. Então, terá aproximada-
mente:

2◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) = 1000 · (1 + 0, 003)2 = 1000 · 1, 0032 = 1006, 01 reais

No terceiro mês, terá aproximadamente:

3◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) = 1000 · 1, 0033 = 1009, 03 reais

Seguindo esse raciocínio, ao final de 1 ano terá aproximadamente:

12◦ mês: 1000 · 1, 00312 = 1036, 60 reais

Uma síntese pode ser observada na tabela a seguir:

Valor inicial 1◦ mês 2◦ mês 3◦ mês ··· 12◦ mês

1000 1000 · (1, 003)1 1000 · (1, 003)2 1000 · (1, 003)3 · · · 1000 · (1, 003)12
| {z } | {z } | {z } | {z }
1000 1003 1006,01 1009,03 ··· 1036,60

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Isso quer dizer que o banco promete um acréscimo de 0,3 % sobre o valor que permaneceu na Poupança por 1 mês.

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Dessa maneira, o rendimento de R$ 36,60 é referente ao juros da aplicação na Poupança pelo


período de 12 meses e R$ 1036,60 é chamado de Montante (Capital + Juros). Note que o juros do
mês seguinte incide sobre o juros do mês anterior, sendo assim, uma aplicação de juros sobre juros,
mais conhecido como Juros Compostos. Dessa forma, podemos induzir uma fórmula:

M = C · (1 + i)n (4)

Onde, i é a taxa de juros e n o período de tempo.


Observação 1: Você percebeu que os valores dos montantes, descritos na tabela, formam uma
progressão geométrica de razão 1, 003?

Quer relembrar o conceito de Progressão Geométrica? Então clique aqui


Observação 2: Ao utilizar a fórmula acima, devemos sempre expressar a taxa i e o período n na
mesma unidade de tempo. Se a taxa for i = 3% a.m. e o tempo n = 2 anos, devemos usar o n = 24
meses, por exemplo.

3.0.1 Valor Presente e Valor Futuro

A importância de se ter em mente o significado de Valor Presente e Valor Futuro está centrada
em entender que o valor de uma determinada quantia não depende apenas de seu valor absoluto, mas
também em que época ou período ele está atrelado. É fácil concordar que R$ 1000,00 hoje não tem
o mesmo valor que R$ 1000,00 daqui a um ano. Ou você discorda? Tudo bem se discordar, mas será
que com 1000 reais hoje você conseguiria fazer, exatamente, as mesmas compras de 1 ano atrás?

A fórmula de juros compostos (4), vista anteriormente, permite que você desloque quantias no
tempo.

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O Valor Futuro (VF ) de um Valor Presente (VP ) daqui a n períodos de tempo, é denotado por:

VF = VP · (1 + i)n (5)

De mesma forma, o Valor Presente (VP ) de um Valor Futuro (VF ) de n períodos de tempo, é
denotado por:

VF
VP = (6)
(1 + i)n

Portanto, se quisermos deslocar um valor presente para o futuro, após n períodos de tempo,
basta multiplicar esse valor por (1 + i)n . Mas, se precisar deslocar o valor futuro para o presente,
então você deve dividir esse valor por (1 + i)n .

O objetivo ao expor essa ideia de deslocamento do dinheiro é para resolvermos exercícios, pois
devemos comparar valores em uma mesma data.

Exemplo:

(Unicamp) O valor presente, VP , de uma parcela de um financiamento, a ser paga daqui a n


meses, é dado pela fórmula abaixo, em que r é o percentual mensal de juros (0 ≤ r ≤ 100) e p é o
valor da parcela.

VF
VP = h r in
1+
100
a) Suponha que uma mercadoria seja vendida em duas parcelas iguais de R$ 200,00, uma a ser
paga à vista, e outra a ser paga em 30 dias (ou seja, 1 mês). Calcule o valor presente da mercadoria,
VP , supondo uma taxa de juros de 1% ao mês.

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b) Imagine que outra mercadoria, de preço 2p, seja vendida em duas parcelas iguais a p, sem
entrada, com o primeiro pagamento em 30 dias (ou seja, 1 mês) e o segundo em 60 dias (ou 2 meses).
Supondo, novamente, que a taxa mensal de juros é igual a 1%, determine o valor presente da mer-
cadoria, VP , e o percentual mínimo de desconto que a loja deve dar para que seja vantajoso, para o
cliente, comprar à vista.

Solução:

No item a), o valor presente da mercadoria é a soma dos valores presentes de cada parcela.
Como a primeira parcela foi paga no ato da compra, seu valor presente é R$ 200. Já a
segunda parcela foi paga após 1 mês, logo devemos trazer essa parcela um mês do futuro:
200 200
VP = ï ò1 = ≈ 198, 02
1 1, 01
1+
100
Dessa maneira, o valor presente da mercadoria é de, aproximadamente, 200 + 198, 02 =
398, 02 reais.

Já no item b), devemos trazer as duas parcela para o valor presente. Sendo assim, o valor
presente da mercadoria será:

p p
VP = ï ò1 +  1 2

1 1 + 100
1+
100
p p
= +
1, 01 1, 012
1, 01p + p
=
1, 012
2, 01p
=
1, 0201
≈ 1, 97p

Logo, o percentual mínimo de desconto que a loja deverá dar é de:


2p − 1, 97p
= 0, 015 = 1, 5%
2p

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Teve dificuldade para entender? Sem problemas! Clique aqui e assista o vídeo explicando
a resolução do exercício.

3.0.2 Exercícios de fixação

11. Calcule o montante de uma aplicação de R$ 10.000,00, considerando uma taxa de juros de
20% a.a. por um período de 5 anos.

12. Um investidor aplicou R$ 12.000,00 a juros compostos, durante 2 anos, à taxa de 1,5 % a.m.
Qual o valor dos juros recebidos?

13. José Carlos aplicou R$ 10.000,00 e aplicará mais R$ 10.000,00 daqui a 3 meses num fundo de
investimento que rende juros compostos à taxa de 1,3 % a.m. Qual será seu montante daqui a 9 meses?

14. Lúcia comprou um exaustor, pagando R$ 180,00, um mês após a compra e R$ 200,00, dois
meses após a compra. Se são pagos juros mensais de 5 % sobre o saldo devedor, qual o preço à vista?

15. (Fgv 2013) Uma mercadoria é vendida com entrada de R$500,00 mais 2 parcelas fixas mensais
de R$ 576,00. Sabendo-se que as parcelas embutem uma taxa de juros compostos de 20% ao mês, o
preço à vista dessa mercadoria, em reais, é igual a

a) 1.380,00. b) 1.390,00. c) 1.420,00. d) 1.440,00. e) 1.460,00.

16. (Ufrn 2013) Maria pretende comprar um computador cujo preço é R$ 900,00. O vendedor
da loja ofereceu dois planos de pagamento: parcelar o valor em quatro parcelas iguais de R$ 225,00,
sem entrada, ou pagar à vista, com 5% de desconto. Sabendo que o preço do computador será o
mesmo no decorrer dos próximos quatro meses, e que dispõe de R$ 855,00, ela analisou as seguintes
possibilidades de compra:

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Opção 1: Comprar à vista com desconto.


Opção 2: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 1% de juros compostos ao mês e comprar,
no final dos quatro meses, por R$ 900,00.
Opção 3: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 1% de juros compostos ao mês e comprar
a prazo, retirando, todo mês, o valor da prestação.
Opção 4: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 2,0% de juros compostos ao mês e com-
prar, três meses depois, pelos R$ 900,00.

Entre as opções analisadas por Maria, a que oferece maior vantagem financeira no momento é a

a) opção 2. b) opção 1. c) opção 4. d) opção 3.

17. (Mackenzie 2012) Maria fez um empréstimo bancário a juros compostos de 5% ao mês.
Alguns meses após, ela quitou a sua dívida, toda de uma só vez, pagando ao banco a quantia de
R$10.584,00. Se Maria tivesse pago a sua dívida dois meses antes, ela teria pago ao banco a quantia de

a) R$ 10.200,00 b) R$ 9.800,00 c) R$ 9.600,00 d) R$ 9.200,00 e) R$ 9.000,00

18. (Ufpe 2013) Um capital é aplicado a uma taxa anual de juros compostos e rende um montante
de R$ 15.200,00 em 3 anos, e um montante de R$ 17.490,00 em 4 anos. Qual o valor inteiro mais
próximo da taxa percentual e anual de juros?

a) 12 b) 13 c) 14 d) 15 e) 16

19. (Fgvrj 2012) O senhor Haroldo deposita hoje R$ 10.000,00 e depositará R$ 12.000,00 daqui
a 3 anos em um fundo que rende juros compostos à taxa de 10% ao ano. Seu montante, daqui a 4
anos, pertencerá ao intervalo:

a) [27500 ;27600] b) [27600 ;27700] c) [27700 ;27800] d) [27800 ;27900] e) [27900 ;28000]

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20. (Cftmg 2011) O capital de R$ 2.000,00 , aplicado a taxa de 3% a.m. por 60 dias, gerou um
montante M1 e o de R$ 1.200,00 , aplicado a 2% a.m. por 30 dias, resultou um montante M2 . Se as
aplicações foram a juros compostos, então,

a) a soma dos montantes foi de R$ 3.308,48.


b) a soma dos montantes foi de R$3.361,92.
c) a diferença em modulo entre os montantes foi de R$ 897,80.
d) a diferença em modulo entre os montantes foi de R$ 935,86.

3.1 De olho no ENEM!

21. (ENEM 2000) João deseja comprar um carro cujo preço à vista, com todos os descontos
possíveis, é de R$ 21.000,00, e esse valor não será reajustado nos próximos meses. Ele tem R$
20.000,00, que podem ser aplicados a uma taxa de juros compostos de 2% ao mês, e escolhe deixar
todo o seu dinheiro aplicado até que o montante atinja o valor do carro.
Para ter o carro, João deverá esperar:
a) dois meses, e terá a quantia exata.
b) três meses, e terá a quantia exata.
c) três meses, e ainda sobrarão, aproximadamente, R$ 225,00.
d) quatro meses, e terá a quantia exata.
e) quatro meses, e ainda sobrarão, aproximadamente, R$ 430,00.

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 21.


22. (ENEM 2015) Um investidor inicia um dia com x ações de uma empresa. No decorrer desse
dia, ele efetua apenas dois tipos de operações, comprar ou vender ações. Para realizar essas opera-
ções, ele segue estes critérios:

19
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

I. Vende metade das ações que possui, assim que seu valor fica acima do valor ideal (Vi);

II. Compra a mesma quantidade de ações que possui, assim que seu valor fica abaixo do valor
mínimo (Vm);

III. Vende todas as ações que possui, quando seu valor fica acima do valor ótimo (Vo);

O gráfico apresenta o período de operações e a variação do valor de cada ação, em reais, no


decorrer daquele dia e a indicação dos valores ideal, mínimo e ótimo.

Quantas operações o investidor fez naquele dia?


a) 3 b) 4 c) 5 d) 6 e) 7

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 22.


23. (ENEM 2009) João deve 12 parcelas de R$ 150,00 referentes ao cheque especial de seu banco
e cinco parcelas de R$ 80,00 referentes ao cartão de crédito. O gerente do banco lhe ofereceu duas
parcelas de desconto no cheque especial, caso João quitasse esta dívida imediatamente ou, na mesma
condição, isto é, quitação imediata, com 25% de desconto na dívida do cartão. João também poderia
renegociar suas dívidas em 18 parcelas mensais de R$ 125,00.

20
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Sabendo desses termos, José, amigo de João, ofereceu-lhe emprestar o dinheiro que julgasse
necessário pelo tempo de 18 meses, com juros de 25% sobre o total emprestado.
A opção que dá a João o menor gasto seria:
a) renegociar suas dívidas com o banco.
b) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação das duas dívidas.
c) recusar o empréstimo de José e pagar todas as parcelas pendentes nos devidos prazos.
d) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação do cheque especial e pagar as parcelas
do cartão de crédito.
e) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação do cartão de crédito e pagar as parcelas
do cheque especial.

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 23.


24. (ENEM 2015) Um casal realiza um financiamento imobiliário de R$ 180 000,00, a ser pago
em 360 prestações mensais, com taxa de juros efetiva de 1% ao mês. A primeira prestação é paga
um mês após a liberação dos recursos e o valor da prestação mensal é de R$ 500,00 mais juro de 1%
sobre o saldo devedor (valor devido antes do pagamento). Observe que, a cada pagamento, o saldo
devedor se reduz em R$ 500,00 e considere que não há prestação em atraso.
Efetuando o pagamento dessa forma, o valor, em reais, a ser pago ao banco na décima prestação
é de:
a) 2075,00 b) 2093,20 c) 2138,00 d) 2255,00 e) 2300,00

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 24.


25. (ENEM 2019) Uma pessoa se interessou em adquirir um produto anunciado em uma loja.
Negociou com o gerente e conseguiu comprá-lo a uma taxa de juros compostos de 1% ao mês. O
primeiro pagamento será um mês após a aquisição do produto, e no valor de R$ 202,00. O segundo
pagamento será efetuado um mês após o primeiro, e terá o valor de R$ 204,02. Para concretizar a
compra, o gerente emitirá uma nota fiscal com o valor do produto à vista negociado com o cliente,

21
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

correspondendo ao financiamento aprovado.


O valor à vista, em real, que deverá constar na nota fiscal é de:
a) 398,02 b) 400,00 c) 401,94 d) 404,00 e) 406,02

Clique aqui para uma resolução em vídeo da questão 25.


26. (ENEM 2017) Um empréstimo foi feito à taxa mensal de i%, usando juros compostos, em
oito parcelas fixas e iguais a P.
O devedor tem a possibilidade de quitar a dívida antecipadamente a qualquer momento, pagando
para isso o valor atual das parcelas ainda a pagar. Após pagar a 5a parcela, resolve quitar a dívida
no ato de pagar a 6a parcela.

A expressão que corresponde ao valor total pago pela quitação do empréstimo é:

ñ ô
1 1
a) P · 1 + i
+
i 2
1 + 100

ñ 1 + 100 ô
1 1
b) P · 1 + i
+ 2i

ñ 1 + 100
1 + 100 ô
1 1
c) P · 1 + i 2
 + i 2

ñ 1 + 100
1 + 100 ô
1 1 1
d) P · i
+ 2i
+ 3i

ñ 1 + 100 1 + 100 1 + 100 ô
1 1 1
e) P · i
+ i 2 + i 3
1 + 100 (1 + 100 )

1 + 100

Desafio:

(ENEM 2018) Um contrato de empréstimo prevê que quando uma parcela é paga de forma
antecipada, conceder-se-á uma redução de juros de acordo com o período de antecipação. Nesse caso,
paga-se o valor presente, que é o valor, naquele momento, de uma quantia que deveria ser paga em
uma data futura. Um valor presente P submetido a juros compostos com taxa i, por um período de

22
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

tempo n, produz um valor futuro V determinado pela fórmula

V = P · (1 + i)n

Em um contrato de empréstimo com sessenta parcelas fixas mensais, de R$ 820,00, a uma taxa de
juros de 1,32% ao mês, junto com a trigésima parcela será paga antecipadamente uma outra parcela,
desde que o desconto seja superior a 25% do valor da parcela.
Utilize 0,2877 como aproximação para ln( 43 ) e 0,0131 como aproximação para ln(1, 0132).
A primeira das parcelas que poderá ser antecipada junto com a 30a é a:

a) 56a b) 55a c) 52a d) 51a e) 45a

4 Séries Periódicas Uniformes


Uma série periódica uniforme ocorre quando temos o compromisso de pagar ou depositar uma
certa quantia, não variável, periodicamente, ou seja, os pagamentos ou depósitos ocorrem em in-
tervalos de tempos igualmente espaçados e sendo o mesmo valor sempre. Vamos explicar como as
ideias de Valor Presente e Valor Futuro são fundamentais para o entendimento das operações de
empréstimos e capitalizações2 .

4.1 Valor atual de um série periódica uniforme de pagamento

Suponha que um empréstimo possa ser pago em n parcelas iguais durante n períodos de tempo.
Queremos saber qual o valor de cada parcela.
Para resolvermos esse problema precisamos saber qual será o valor tomado como empréstimo, a taxa
de juros cobrada e o período. Definimos então as seguintes variáveis:

2
“Capitalização” é um termo muito usado em Matemática Financeira quando se quer inferir a ideia de rendimento
de um capital após um período de tempo..

23
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Va =⇒ Valor atual de uma série periódica uniforme de pagamentos.


Esse valor é a quantia tomada emprestada. Em alguns problemas pode ser interpretado
como o valor à vista de um produto.

i =⇒ Taxa de juros da operação de empréstimo.


Em alguns problemas é interpretado como taxa de retorno ou mesmo como valor
percentual do dinheiro.

P =⇒ Valor da parcela.
Esse é o valor pago ao final de cada unidade do período a ser considerado.

n =⇒ Períodos de tempo.

Atente para o fato que devemos considerar concordantes o período e a taxa de juros, ou seja, eles
devem estar na mesma unidade de tempo.
A figura a seguir ilustra uma série periódica uniforme de pagamento.

O valor atual da série é o somatório das parcelas atualizadas na data da concessão do empréstimo,
ou seja, na data zero. Isso quer dizer que devemos deslocar cada parcela para a data zero e somá-las.
O esquema a seguir retrata a situação.

24
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Portanto, temos a seguinte equação:

P P P P
Va = + + + ... +
(1 + i) (1 + i)2 (1 + i)3 (1 + i)n

Observe que a equação anterior pode ser escrita de “trás para frente”:

P P P P P
Va = + + ... + + +
(1 + i)n (1 + i)n−1 (1 + i)3 (1 + i)2 (1 + i)

Fizemos isso para que você percebesse mais facilmente que a equação acima se trata de uma soma
P
de termos em progressão geométrica cujo primeiro termo é a1 = e a razão q = (1 + i) e,
(1 + i)n
qn − 1
portanto, podemos usar a fórmula3 Sn = a1 · .
q−1
Desse modo, aplicando a referida fórmula, teremos:

3
Precisando relembrar essa fórmula? Clique aqui.

25
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

P (1 + i)n − 1
Va = ·
(1 + i)n (1 + i) − 1

(1 + i)n − 1
Va = P · (7)
(1 + i)n · i

Exemplo:

Um bem custa, hoje, R$ 8000,00 e será pago em 10 parcelas mensais e iguais. Determine o valor
de cada parcela se a taxa de juros for igual a 8% am.

Solução:

Aplicando a equação (7) temos, Va = 8000, i = 0, 08 e n = 10, de onde:

1, 0810 − 1
8000 = P ·
1, 0810 · 0, 08

Com auxílio de uma calculadora, façamos 1, 0810 ≈ 2, 16. Assim:

1, 16
8000 = P ·
2, 16 · 0, 08
1, 16 · P
8000 =
0, 1728
8000 · 0, 1728 = 1, 16 · P

1382, 4 = 1, 16 · P (trocamos de lado os membros da equação)

1, 16 · P = 1382, 4
1382, 4
P =
1, 16
P ≈ 1191, 72

Logo o valor de cada parcela será próximo de R$ 1191,72.

26
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

O exemplo acima ilustra exatamente o procedimento adotado no comércio varejista.

Exemplo:

Na venda de um eletrodoméstico, uma loja anuncia o pagamento em 6 prestações mensais de R$


1250,00 cada uma, sem entrada. Qual o preço à vista, sabendo-se que a loja cobra no financiamento
juros compostos, à taxa de 3,2% am?

Solução:

O valor do preço à vista do eletrodoméstico será o valor atual da série uniforme de paga-
mentos. Assim temos:

(1 + 0, 032)6 − 1
Va = 1250 ·
(1 + 0, 032)6 · 0, 032
1, 0326 − 1
Va = 1250 ·
1, 0326 · 0, 032

Tomando 1, 0326 ≈ 1, 208 temos:

0, 208
Va = 1250 ·
1, 208 · 0, 032
0, 208
Va = 1250 ·
0, 038656
Va ≈ 6726

Portanto o preço à vista será R$ 6726,00.

Observações:

1. Note que de “grosso modo” quem comprar o eletrodoméstico paga 6 × 1250 = R$ 7500,00,

27
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

valor superior a R$ 6726,00. Entretanto esse tipo de comparação não é adequada visto que valores
financeiros devem ser comparados em uma mesma data. Por outro lado a comparação entre os va-
lores R$ 7500 e R$ 6726,00 permite uma rápida análise do “quanto” se perde com a compra parcelada.

2. É comum o seguinte pensamento: “se a taxa de juros é 3,2% ao mês, então ao decidir pagar à
vista devo ter esse percentual de desconto em cada parcela, somando-as para formar o preço à vista.”
Se o pensamento acima fosse correto, então cada parcela teria um desconto de R$ 40,00 (= 1250 ×
0, 0032), ou seja, a prestação seria de R$ 1210,00. Portanto, o valor à vista seria igual a R$ 7260,00.
Este raciocínio é equivocado, pois a conta 6 × 1210 considera que os valores das parcelas não sofrem
alterações na data zero e isso não é verdade.

4.2 Valor futuro de um série periódica uniforme de depósitos

Suponha que uma pessoa deposite mensalmente, todo dia 10, por exemplo, R$ 200,00 num período
de um ano em uma Caderneta de Poupança que rende juros de 0,8 % am. Qual será o valor disponível
para resgate imediatamente após o 12o depósito?
Inicialmente, note que o valor final, ou montante, não será R$ 2400,00 (= 12 × 200), pois a
cada depósito feito, teremos um rendimento diferente por causa do tempo de permanência de cada
parcela na Poupança. O problema em questão é que para cada depósitos de R$ 200,00 os juros
vão diminuindo. Isso se dá pelo fato de que os tempos de aplicação desses capitais vão encurtando.
Pensando de maneira concreta: imagine um depósito de R$ 200,00 feito em janeiro de um determinado
ano. O montante gerado por esse capital em dezembro é maior que o montante gerado pela aplicação
de um capital de R$ 200,00 em novembro do mesmo ano. Visto que os períodos de tempos de
aplicação dos depósitos são diferentes.
Vamos generalizar o problema.
Suponha que n depósitos sejam feitos em n períodos no valor de D unidades monetárias4 em
cada depósito. Os depósitos ocorrem nas datas 1,2,3,...,n − 1,n. Queremos saber o montante dessas
aplicações ao final do n-ésimo depósito.
4
Real, Dólar, Euro...

28
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Chamaremos o valor do montante de Vf (valor futuro).

A figura a seguir retrata a situação:

Para calcular o valor futuro (Montante) devemos deslocar os depósitos para uma mesma data,
nesse caso para a data n. Portanto, deslocaremos todos os depósitos para a referida data e somaremos
os valores.
A figura a seguir ilustra o que queremos dizer.

29
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Assim, o cálculo do valor final será:

Vf = D + D(1 + i) + · · · + D(1 + i)n−1 .

Novamente recaímos em uma soma de n termos em progressão geométrica cuja razão q = (1 + i)


e o primeiro termo igual a a1 = D.
Logo, aplicando a fórmula da soma dos termos de uma progressão geométrica, teremos:

(1 + i)n − 1
Vf = D ·
1 + i − 1

(1 + i)n − 1
Vf = D · (8)
i

Voltando ao problema inicial:


Suponha que uma pessoa deposite mensalmente, todo dia 10, por exemplo, R$ 200,00 num período
de um ano em uma Caderneta de Poupança que rende juros de 0,8 % am. Qual será o valor disponível
para resgate imediatamente após o 12o depósito?
Solução:

Como D = 200, i = 0, 008 e n = 12, temos:

(1 + 0, 008)12 − 1
Vf = 200 ·
0, 008
(1, 008)12 − 1
= 200 ·
0, 008

Fazendo (1, 008)12 ≈ 1, 1 temos:

30
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

0, 1
Vf = 200 ·
0, 008
Vf = 2500.

Portanto, o valor disponível para resgate, imediatamente após o 12o depósito, será de,
aproximadamente, R$ 2500,00.

4.2.1 Exercícios de fixação

27. Um banco concede um empréstimo a uma pessoa cobrando 10 prestações mensais de R$


700,00 cada uma, sem entrada. Qual o valor emprestado, sabendo que o banco cobra juros compos-
tos, à taxa de 4% a.m.?

28. Uma pessoa deposita mensalmente R$ 700,00 num fundo que rende juros compostos, à taxa
de 1,3 % a.m. São feitos 25 depósitos. Qual será o montante no instante após o último depósito?

29. Um funcionário de um banco deseja saber o valor atual de uma série de 12 prestações mensais,
iguais e consecutivas, de R$ 150,00, capitalizadas a uma taxa de 5% ao mês. Utilizou a fórmula do
valor presente e efetuou os cálculos corretamente, utilizando a aproximação (1, 05)12 = 1, 80. Assinale
a alternativa que apresenta o valor atual, da série em questão, mais próximo do encontrado por esse
funcionário.

a) R$ 1 315,50 b) R$ 1 333,50 c) R$ 1 365,50 d) R$ 1 383,50 e) R$ 1 395,50

30. Um loja financia a compra de um eletrodoméstico no valor à vista de R$ 1.300,00, em três


prestações mensais iguais, sem entrada, isto é, a primeira das prestações com vencimento um mês
após a compra. Sabendo-se que a taxa de juros utilizada é de 5% ao mês. O valor da prestação é

a) R$ 454,63. b) R$ 477,36. c) R$ 498,33. d) R$ 501,63. e) R$ 3.540,16.

31
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

31.(CVM-Analista de Mercado de Capitais) Pretende-se trocar uma série de oito pagamentos


mensais iguais de R$ 1.000,00, vencendo o primeiro pagamento ao fim de um mês, por outra série
equivalente de doze pagamentos iguais, vencendo o primeiro pagamento também ao fim de um mês.
Calcule o valor mais próximo do pagamento da segunda série considerando a taxa de juros compostos
de 2% ao mês.
Tome 1,08 como uma boa aproximação para 1, 024 .

a) R$ 750,00 b) R$ 693,00 c) R$ 647,00 d) R$ 783,00 e) R$ 716,00

32. (Sefaz - RJ)(2010) Uma empresa parcela a venda de seus produtos que podem ser financiados
em duas vezes, por meio de uma série uniforme de pagamentos postecipada. A taxa de juros efetiva
cobrada é de 10% ao mês no regime de juros compostos e o cálculo das parcelas é feito considerando-
se os meses com 30 dias.
Se um indivíduo comprar um produto por R$ 1.000,00, o valor de cada prestação mensal será:

a) R$ 525,68. b) R$ 545,34. c) R$ 568,24. d) R$ 576,19. e) R$ 605,00.

33. Determine o montante de uma série de 60 depósitos mensais de R$ 150,00 cada a juros de
0,5% ao mês.

34. Supondo juros de 1% a.m., quanto Ana deve investir mensalmente, durante 10 anos, para
obter ao fim desse prazo, um valor próximo de R$ 46008,00?

35. Uma transportadora pretende comprar um caminhão dentro de 24 meses e estima que seu
preço nessa data será R$ 90000,00. Para alcancar seu objetivo, ele resolve fazer 24 depósitos mensais
de x reais cada um num fundo que rende 1,5% ao mês, de modo que no instante do último depósito
o saldo dessas aplicações seja R$ 90000,00.

a) Qual o valor de x?

32
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

b) No dia em que foi feito o 18o depósito, surgiu uma emergência e a empresa teve que sacar todo
o saldo das aplicações. Qual era o valor desse saldo?

36. O salário líquido do Sr. Ernesto é R$ 3000,00 por mês. Todo mês ele poupa 10% de seu
salário líquido e aplica essa poupança num fundo que rende juros compostos, à taxa de 2% ao mês.

a) Qual seu saldo no fundo, no dia em que fez o segundo depósito?

b) Quantos depósitos deverá fazer para ter um saldo de R$ 7289,00 no dia do último depósito?

5 Gabarito
1) a) 70% b) 20% c) 15% d) 75% e) 12,5% f) 32%

2) a) 450 b) 14,4 c) 243 d) 165 e) 441 f) 3,52 g) 40,64 h) 0,82

3) 80 4) 18 meninos e 22 meninas 5) [D] 6) [B] 7) [B] 8) [B] 9) [C] 10) [A]

11) R$ 24.883,20 12) R$ 5.154,03 13) R$ 22.038,52 14) R$ 352,83

15) [A] 16) [C] 17) [C] 18) [D] 19) [D] 20) [C] 21) [C] 22) [B] 23) [E]

24) [D] 25) [B] 26) [A] Desafio: [C] 27. R$ 5677,63 28. R$ 20522,65 29.[B]

30.[B] 31.[B] 32.[D] 33. R$ 10465,50 34. R$ 200,00 35. a) R$ 3143,17

b) R$ 64401,59 36. a) R$ 606,00 b) 20 depósitos

33
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Referências
[de CARVALHO u. a. 2009] CARVALHO, Luiz Celso S. de ; Spuza ELIA, Bruno de ; DECO-
TELLI, Carlos A.: Matemática Financeira Aplicada. Rio de Janeiro : FGV, 2009

[CHAVANTE und PRESTES 2016] CHAVANTE, Eduardo ; PRESTES, Diego: Quadrante


matemática: 2o ano: ensino médio, 1. ed. São Paulo : Edições SM, 2016

[IEZZI u. a. 2004] IEZZI, Gelson ; HAZZAN, Samule ; DEGENSZAJN, David: Fundamentos


da Matemática Elementar - vol. 11. São Paulo : Atual, 2004

[LIMA u. a. 2006] LIMA, Elon L. ; CARVALHO, Paulo Cezar P. ; WAGNER, Eduardo: A


Matemática do Ensino Médio - Vol. 2. Rio de Janeiro : SBM, 2006

[MISSAGIA und VELTER 2006] MISSAGIA, Luiz ; VELTER, Francisco: Aprendendo Matemá-
tica Financeira. Rio de Janeiro : Campus, 2006

[ROBERT 1989] ROBERT, Jozsef: A origem do dinheiro. Rio de Janeiro : Global editora, 1989

[RODRIGUES und de Melo MENDES 2007] RODRIGUES, José A. ; Melo MENDES, Gilmar
de: manual de aplicação de Matemática Financeira. Rio de Janeiro : FGV, 2007

[SM 2014] SM, Edições: Ser protagonista: matemática: revisão: ensino médio, volume único, 1.
ed. São Paulo : Edições SM, 2014

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