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Sumário

0.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
0.2 Revisão de porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
0.2.1 Definição de porcentagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
0.2.2 Cálculo percentual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
0.2.3 Acréscimos e descontos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
0.3 Juro Composto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
0.3.1 De olho no ENEM! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
0.3.2 Falando um pouco sobre taxas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
0.4 Séries Periódicas Uniformes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
0.4.1 Valor atual de um série periódica uniforme de pagamento . . . . . . . . . 28
0.4.2 Valor futuro de um série periódica uniforme de depósitos . . . . . . . . . 33
0.5 Sistemas de Amortização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
0.5.1 Sistema de Amortização Constante (SAC) . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
0.5.2 Sistema de Amortização Francês ou Tabela PRICE . . . . . . . . . . . . 42
0.6 Gabarito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

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Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

0.1 Introdução

Quer nos conhecer? Então clique aqui


De modo geral, Matemática Financeira estuda as operações de empréstimos. Isso significa
que apresentaremos os principais conceitos que facilitam o entendimento de que o valor do
dinheiro varia de acordo com o tempo. Ora, imagine que você tenha que escolher entre ganhar
R$ 100,00 hoje ou na semana que vem. Qual decisão você tomaria? Bom, eu escolheria hoje.
Afinal, os valores são iguais em tempos diferentes e como não gosto de esperar, prefiro ter essa
grana agora.

A situação muda se ao invés de ganhar hoje os R$ 100,00 você receber uma promessa de
pagamento de R$ 120,00 após uma semana. Logicamente, você precisará pensar um pouco.
Mesmo sabendo que 120 é maior que 100, para ficar com os 100 reais você precisará ter certeza
que com esse dinheiro conseguirá investi-lo de tal maneira que após uma semana terá um retorno
superior a 120 reais. Do contrário, não será um bom negócio, portanto, seria melhor esperar
uma semana e ficar com os R$ 120,00 mesmo.
Das operações de empréstimos, temos várias situações correntes no dia a dia onde aplicamos
os conhecimentos e técnicas da Matemática Financeira. Vejamos algumas:

• Empréstimo pessoal;

• Financiamento imobiliário;

• Valor futuro de uma série de depósitos;

• Comprar ou alugar um imóvel;

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• Previdência.

O presente material tem por objetivo estimular o estudo do valor do dinheiro no tempo.
Assim, esperamos que o leitor entenda os conceitos de Juros, Montante, Taxa de Juros, Ca-
pital e Amortização. Para isso, vamos iniciar com uma revisão sobre porcentagem. Embora
acreditemos que os estudantes estejam familiarizados com cálculos envolvendo porcentagem,
precisamos endossar as ações sucessivas, tanto para acréscimo quanto para desconto. Nesse
sentido, as funções exponenciais são fundamentais para entendermos o comportamento de
uma aplicação financeira ao longo do tempo.

Ao final de cada seção, teremos uma lista de exercícios cujo propósito é treinar o(a) estu-
dante para avaliações internas ou externas. Mas, por favor, não estude apenas para realizar
uma prova. Estude para conhecer. Procure entender os conceitos aqui expostos e pesquise
sobre como esses temas influenciam sua vida e a de seus colegas.

Ademais, acreditamos que “Noções de Matemática Financeira” contribui significativamente


para a formação da cidadania. Isto quer dizer que os(as) estudantes são conduzidos(as) a um
pensar com criticidade antes de tomar uma decisão financeira.

Esperamos que goste do nosso material. Foi produzido para te ajudar, aluno(a).

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0.2 Revisão de porcentagem

Figura 1: Acesso em 04/04/2020

Fonte: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/03/12/governo-controle-precos-
tabelar-mascara-alcool-gel-agua-coronavirus.htm.

A figura acima retrata uma reportagem sobre o aumento, alarmante, do preço do álcool em
gel e máscaras durante o período de enfrentamento do coronavírus (Covid-19) no Brasil.

Perceba que o preço, expresso em reais, não é anunciado, mas sim o percentual de aumento.
É muito comum usarmos porcentagem (%) para representar aumentos ou descontos, sem ter a
necessidade de expressar o valor dos produtos em moeda corrente. Além disso, podemos usar
porcentagem quando queremos ter uma noção de comparação. Aumentar até 161% causa um
enorme espanto ao mesmo tempo em que nos sentimos indignados. A informação numérica
indica que, independente do preço inicial, os valores do álcool em gel e da máscara aumentaram
significativamente. Como você se sentiria se o salário do trabalhador aumentasse 161%? E você
sabe o significado de um aumento de 161%?

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0.2.1 Definição de porcentagem

Porcentagem nada mais é que uma fração (ou razão) cujo denominador é igual a 100. A
escolha do 100 não foi aleatória, mas sim com o objetivo de facilitar (mensurar) a comparação.
Essas razões de denominador 100 são chamadas de porcentagem, taxas percentuais ou razões
centesimais.

O símbolo escolhido para porcentagem foi o % (lê-se “por cento”) e ele omite o denominador
100 da fração. Portanto:

8 159 0, 5 32, 7
8% = , 159% = , 0, 5% = e 32, 7% = .
100 100 100 100

De um modo formal, temos que:

i
i% = (1)
100

Observe que qualquer número real, x, pode ser escrito na forma percentual. Para isso basta
100
multiplicar o número pela fração (equivalente a 100 %). Por exemplo, o número 4,2 pode
100
ser escrito como 420%.

Porcentagem pode ser expressa na forma decimal, bastando, para isso, realizar uma divisão
por 100 ou simplesmente “andar com a vírgula” duas casas para esquerda. Assim, temos:

13% = 0, 13, 0, 29% = 0, 0029, 4, 5% = 0, 045 e 387% = 3, 87.

0.2.2 Cálculo percentual

Para calcular i% de algum valor x, basta efetuar a seguinte operação:

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i
·x (2)
100

Portanto, temos que 30% de 400 é igual a 120.

De fato,

30 30 · 400 12000
· 400 = = = 120
100 100 100

Note que poderíamos simplificar antes de efetuar a conta. Assim:

30
· 4
 = 30 · 4 = 120
00
1
00


Você também poderia resolver utilizando a porcentagem na forma decimal, onde 30% =
0, 30, logo:

0, 30 · 400 = 120

Muitos alunos e alunas preferem fazer esse tipo de exercício por “regra de três”.

100 % =⇒ 400
30 % =⇒ x

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Portanto,

100 400
=
30 x
100 · x = 400 · 30

100 · x = 12000
120
00

x =
1
00


x = 120

Exemplo
A figura a seguir retrata um terreno plano de 360 m2 . O proprietário vai destinar uma
área de lazer para seus filhos de 108 m2 . Qual percentual a área de lazer ocupará de
todo o terreno?

Solução:

A área de lazer ocupará 108 m2 dos 360 m2 do terreno, logo, para resolver o problema
proposto, basta expressar a fração correspondente à área de lazer em porcentagem.
108
Portanto, = 0, 30 = 30% Logo a área de lazer corresponde a 30% da área do
360
terreno.
Você consegue fazer esse exercício por “regra de três”?

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Exercícios de fixação

1.Represente as frações abaixo na forma percentual.

7 1 3 3 1 8
a) = b) = c) = d) = e) = f) =
10 5 20 4 8 25

2. Calcule:

a) 30% de 1500. b) 12% de 120. c) 27% de 900. d) 55% de 300.

e) 98% de 450. f) 0,4 % de 880. g) 127% de 32. h) 16,4 % de 5.

3. Sabendo que 45% de um número equivalem a 36, determine esse número.

4. Em uma turma de 40 alunos, 45% são meninos. Quantos meninos e meninas tem a turma?

5. (ENEM 2012) Um laboratório realiza exames em que é possível observar a taxa de glicose
de uma pessoa. Os resultados são analisados de acordo com o quadro a seguir.
Um paciente fez um exame de glicose nesse laboratório e comprovou que estava com hiper-
glicemia. Sua taxa de glicose era de 300 mg/dL. Seu médico prescreveu um tratamento em
duas etapas. Na primeira etapa ele conseguiu reduzir sua taxa em 30% e na segunda etapa em
10%.

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Ao calcular sua taxa de glicose após as duas reduções, o paciente verificou que estava na
categoria de:
a) hipoglicemia. b) normal. c) pré-diabetes d) diabetes melito. e)
hiperglicemia

6. (ENEM 2002) A capa de uma revista de grande circulação trazia a seguinte informação,
relativa a uma reportagem daquela edição:
“O brasileiro diz que é feliz na cama, mas debaixo dos lençóis 47% não sentem vontade de
fazer sexo”.
O texto abaixo, no entanto, adaptado da mesma reportagem, mostra que o dado acima está
errado:
“Outro problema predominantemente feminino é a falta de desejo - 35% das mulheres não
sentem nenhuma vontade de ter relações. Já entre os homens, apenas 12% se queixam de falta
de desejo”.
Considerando que o número de homens na população seja igual ao de mulheres, a por-
centagem aproximada de brasileiros que não sentem vontade de fazer sexo, de acordo com a
reportagem, é:

a) 12% b) 24% c) 29% d) 35% e) 50%

Não conseguiu resolver as questões 5 ou 6? clique aqui para aquela ajudinha.

0.2.3 Acréscimos e descontos

Toda vez que denotamos uma mercadoria, por exemplo, pela taxa percentual de 100%,
estamos nos referindo ao valor “cheio” dessa mercadoria. Ou seja, se um tênis custa R$ 160,00,
esse valor corresponde a 100% do preço do produto. Suponha agora que você negociou com
o vendedor um desconto de 15% para pagamento à vista. Então você irá pagar 100% do
preço pedido pelo tênis? Como você obteve um desconto de 15%, então você irá pagar apenas

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100% − 15% = 85% do valor do produto. Logo, o valor a ser pago é de:

0, 85 · 160 = 136 reais

Agora, suponha que ao invés de desconto, o preço do tênis tenha tido um reajuste ou
acréscimo de 15%. Como o preço “cheio” correspondia a 100%, o novo preço será de 100% +
15% = 115%. Assim, o tênis custará:

1, 15 · 160 = 184 reais

Poderíamos até criar uma pequena fórmula:

Vf = Vi · (1 ± i) (3)

Onde:

Vf ⇒ Valor final

Vi ⇒ Valor inicial

i ⇒ Taxa percentual

O sinal depende se for acréscimo (+) ou desconto


(−).

Utilizamos esses conceitos para falar de descontos e acréscimos sucessivos. Vamos tomar o
seguinte exemplo.

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Exemplo
Um tênis de R$ 160,00 teve um aumento de 15%. No mês seguinte, teve mais um
aumento de 5%. Na Black Friday estava com um desconto de 20%. Qual o valor do tênis
na Black Friday?
Solução:
Um erro bastante comum é achar que um desconto de determinada porcentagem, seguido
de um acréscimo de mesma porcentagem, trata-se de operações de valores equivalentes.

No exemplo acima, você poderia pensar que, se houve um acréscimo de 15% e outro
acréscimo de 5%, então têm-se um acréscimo de 20%, o que não é verdade. Você
consegue constatar isso realizando os cálculos passo a passo?

Pois bem, vamos resolver o exemplo. Você não precisa calcular os acréscimos e o desconto
um de cada vez, apesar de ser realmente possível operar dessa maneira. Mas vamos pensar
o seguinte:

• Aumento de 15% equivale a 115% = 1, 15

• Aumento de 5% equivale a 105% = 1, 05

• Desconto de 20% equivale a 80% = 0, 80

Assim, temos:
160 · 1, 15 · 1, 05 · 0, 80 = 154, 56

Note que, apesar de ter dois acréscimos, um de 15% e um


de 5%, seguido de um desconto de 20%, essas operações não
são equivalentes, uma vez que o preço do tênis não volta a ser
R$160,00. Isso ocorre porque as taxas são calculadas em cima de
valores diferentes, resultando assim em resultados diferentes.

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Exercícios de fixação

7. Em abril, João ganhava R$ 2000,00 por mês. Em maio, ele ganhou um reajuste de 2%
no salário e, em junho, foi promovido e ganhou um aumento de 8%.

Qual o salário de João em julho?

a) R$ 2010,00 b) R$ 2203,20 c) R$ 3127,00 d) R$ 2200,00 e) R$ 2183,40

8. Com a chegada do Coronavírus no Brasil, o preço do álcool em gel em determinado


estabelecimento subiu 161%. Após denúncias da sociedade junto ao Procon, uma autarquia de
proteção e defesa do consumidor, esse estabelecimento sofreu uma fiscalização, sendo autuada
a pagar multa e obrigada a retornar com preço do álcool em gel ao que era praticado antes
da Pandemia. Sendo assim, esse estabelecimento deverá reduzir o preço do álcool em gel em
aproximadamente:

a) 50% b) 62% c) 75% d) 100% e) 161%

9. (UFAM) Duas irmãs, Júlia e Beatriz, têm uma conta poupança conjunta. Do total do
saldo, Júlia tem 60% e Beatriz 40%. A mãe das meninas recebeu uma quantia extra em dinheiro
e resolveu realizar um depósito exatamente igual ao saldo da caderneta. Por uma questão de
justiça, a mãe disse às meninas que o depósito será dividido igualmente entre as duas.
Nessas condições, a participação de Beatriz no novo saldo:

a) aumentou para 50%


b) diminuiu para 30%
c) aumentou para 45%
d) permaneceu 40%
e) diminuiu para 35%

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10. (UFMG) O preço de venda de determinado produto tem a seguinte composição: 60%
referentes ao custo, 10% referentes ao lucro e 30% referentes a impostos.
Em decorrência da crise econômica, houve um aumento de 10% no custo desse produto,
porém, ao mesmo tempo, ocorreu uma redução de 20% no valor dos impostos. Para aumentar
as vendas do produto, o fabricante decidiu, então, reduzir seu lucro à metade.
É correto afirmar, portanto, que, depois de todas essas alterações, o preço do produto sofreu
uma redução de:

a) 5% b) 10% c) 11% d) 19% e) 20%

0.3 Juro Composto

“ Durante o período capitalista surge um grupo especial de capitalis-


tas que vivem exclusivamente dos juros recebidos por seu dinheiro, que
foi emprestado. São os financistas. Subentende-se que os financistas
também são exploradores, como os capitalistas industriais, visto que os
juros recebidos provém da mais-valia criada pelos operários assalaria-
dos.”(ROBERT, 1989, p.74)

Você já deve ter ouvido falar que o mundo gira em torno de dinheiro. E, muitas vezes,
quem não tem dinheiro tem que tomar emprestado, seja para comprar um carro, uma casa,
uma Tv nova ou até mesmo para pagar um tratamento de saúde. O dinheiro que você tem
pode significar a diferença entre morrer ou prolongar a sua existência. Acontece que, nessa de
emprestar dinheiro, os bancos vão enriquecendo muito e com pouco esforço. Por outro lado,
os pobres, ao tomarem quantias emprestadas, tendem a empobrecer mais ainda por conta dos
altos juros cobrados por instituições financeiras, os financistas.

Nessa seção, você vai entender como funciona a cobrança de juros por parte dos bancos e
instituições financeiras e, assim, poder analisar opções e tomar a melhor decisão possível. A

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questão não está no fato de não pagar juros, porque quem não tem dinheiro paga juros, mas
em estudar qual a opção gera menor perda de dinheiro.

Uma aplicação bastante comum é a Poupança. Vamos supor que você irá deixar um capital
de R$ 1000,00 aplicado na Poupança durante 1 ano (12 meses). Considere ainda que a taxa de
rentabilidade seja de 0,3% ao mês.1 Sendo assim, ao final do primeiro mês você terá:

1◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) = 1000 · 1, 003 = 1003 reais

Ao final do segundo mês, o rendimento será em cima dos R$ 1003,00. Então, terá aproxi-
madamente:

2◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) = 1000 · (1 + 0, 003)2 = 1000 · 1, 0032 = 1006, 01 reais

No terceiro mês, terá aproximadamente:

3◦ mês: 1000 · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) · (1 + 0, 003) = 1000 · 1, 0033 = 1009, 03 reais

Seguindo esse raciocínio, ao final de 1 ano terá aproximadamente:

12◦ mês: 1000 · 1, 00312 = 1036, 60 reais

Uma síntese pode ser observada na tabela a seguir:

Valor inicial 1◦ mês 2◦ mês 3◦ mês ··· 12◦ mês

1000 1000 · (1, 003)1 1000 · (1, 003)2 1000 · (1, 003)3 · · · 1000 · (1, 003)12
| {z } | {z } | {z } | {z }
1000 1003 1006,01 1009,03 ··· 1036,60
1
Isso quer dizer que o banco promete um acréscimo de 0,3 % sobre o valor que permaneceu na Poupança
por 1 mês.

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Dessa maneira, o rendimento de R$ 36,60 é referente ao juros da aplicação na Poupança


pelo período de 12 meses e R$ 1036,60 é chamado de Montante (Capital + Juros). Note que
o juros do mês seguinte incide sobre o juros do mês anterior, sendo assim, uma aplicação de
juros sobre juros, mais conhecido como Juros Compostos. Dessa forma, podemos induzir
uma fórmula:

M = C · (1 + i)n (4)

Onde, i é a taxa de juros e n o período de tempo.

Observação 1: Você percebeu que os valores dos montantes, descritos na tabela, formam
uma progressão geométrica de razão 1, 003?

Quer relembrar o conceito de Progressão Geométrica? Então clique aqui


Observação 2: Ao utilizar a fórmula acima, devemos sempre expressar a taxa i e o período
n na mesma unidade de tempo. Se a taxa for i = 3% a.m. e o tempo n = 2 anos, devemos usar
o n = 24 meses, por exemplo.

Valor Presente e Valor Futuro

A importância de se ter em mente o significado de Valor Presente e Valor Futuro está


centrada em entender que o valor de uma determinada quantia não depende apenas de seu
valor absoluto, mas também em que época ou período ele está atrelado. É fácil concordar que
R$ 1000,00 hoje não tem o mesmo valor que R$ 1000,00 daqui a um ano. Ou você discorda?
Tudo bem se discordar, mas será que com 1000 reais hoje você conseguiria fazer, exatamente,
as mesmas compras de 1 ano atrás?

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A fórmula de juros compostos (4), vista anteriormente, permite que você desloque quantias
no tempo.

O Valor Futuro (VF ) de um Valor Presente (VP ) daqui a n períodos de tempo, é denotado
por:

VF = VP · (1 + i)n (5)

De mesma forma, o Valor Presente (VP ) de um Valor Futuro (VF ) de n períodos de tempo,
é denotado por:

VF
VP = (6)
(1 + i)n

Portanto, se quisermos deslocar um valor presente para o futuro, após n períodos de tempo,
basta multiplicar esse valor por (1 + i)n . Mas, se precisar deslocar o valor futuro para o pre-
sente, então você deve dividir esse valor por (1 + i)n .

O objetivo ao expor essa ideia de deslocamento do dinheiro é para resolvermos exercícios,


pois devemos comparar valores em uma mesma data.

Se você clicar aqui vai assistir um exemplo que ilustra a ideia de deslocamento de
valores.

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Exemplo
(Unicamp) O valor presente, VP , de uma parcela de um financiamento, a ser paga daqui
a n meses, é dado pela fórmula abaixo, em que r é o percentual mensal de juros (0 ≤ r ≤
100) e p é o valor da parcela.
VF
VP = h r in
1+
100
a) Suponha que uma mercadoria seja vendida em duas parcelas iguais de R$ 200,00,
uma a ser paga à vista, e outra a ser paga em 30 dias (ou seja, 1 mês). Calcule o valor
presente da mercadoria, VP , supondo uma taxa de juros de 1% ao mês.

b) Imagine que outra mercadoria, de preço 2p, seja vendida em duas parcelas iguais a
p, sem entrada, com o primeiro pagamento em 30 dias (ou seja, 1 mês) e o segundo em
60 dias (ou 2 meses). Supondo, novamente, que a taxa mensal de juros é igual a 1%,
determine o valor presente da mercadoria, VP , e o percentual mínimo de desconto que a
loja deve dar para que seja vantajoso, para o cliente, comprar à vista.

Solução:
No item a), o valor presente da mercadoria é a soma dos valores presentes de cada parcela.
Como a primeira parcela foi paga no ato da compra, seu valor presente é R$ 200. Já a
segunda parcela foi paga após 1 mês, logo devemos trazer essa parcela um mês do futuro:
200 200
VP = ï ò1 = ≈ 198, 02
1 1, 01
1+
100
Dessa maneira, o valor presente da mercadoria é de, aproximadamente, 200 + 198, 02 =
398, 02 reais
Já no item b), devemos trazer as duas parcela para o valor presente. Sendo assim, o valor
presente da mercadoria será:

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Continuação

p p
VP = ï ò1 +  1 2

1 1 + 100
1+
100
p p
= +
1, 01 1, 012
1, 01p + p
=
1, 012
2, 01p
=
1, 0201
≈ 1, 97p

Logo, o percentual mínimo de desconto que a loja deverá dar é de:


2p − 1, 97p
= 0, 015 = 1, 5%
2p

Dificuldade para entender? Sem problemas! Clique aqui e assista o vídeo explicando
esse exemplo.

Exercícios de fixação

11. Calcule o montante de uma aplicação de R$ 10.000,00, considerando uma taxa de juros
de 20% a.a. por um período de 5 anos.

12. Um investidor aplicou R$ 12.000,00 a juros compostos, durante 2 anos, à taxa de 1,5 %
a.m. Qual o valor dos juros recebidos?

13. José Carlos aplicou R$ 10.000,00 e aplicará mais R$ 10.000,00 daqui a 3 meses num
fundo de investimento que rende juros compostos à taxa de 1,3 % a.m. Qual será seu montante
daqui a 9 meses?

14. Lúcia comprou um exaustor, pagando R$ 180,00, um mês após a compra e R$ 200,00,

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dois meses após a compra. Se são pagos juros mensais de 5 % sobre o saldo devedor, qual o
preço à vista?

15. (Fgv 2013) Uma mercadoria é vendida com entrada de R$ 500,00 mais 2 parcelas fixas
mensais de R$ 576,00. Sabendo-se que as parcelas embutem uma taxa de juros compostos de
20% ao mês, o preço à vista dessa mercadoria, em reais, é igual a

a) 1.380,00. b) 1.390,00. c) 1.420,00. d) 1.440,00. e) 1.460,00.

16. (Ufrn 2013) Maria pretende comprar um computador cujo preço é R$ 900,00. O ven-
dedor da loja ofereceu dois planos de pagamento: parcelar o valor em quatro parcelas iguais
de R$ 225,00, sem entrada, ou pagar à vista, com 5% de desconto. Sabendo que o preço do
computador será o mesmo no decorrer dos próximos quatro meses, e que dispõe de R$ 855,00,
ela analisou as seguintes possibilidades de compra:

Opção 1: Comprar à vista com desconto.


Opção 2: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 1% de juros compostos ao mês e
comprar, no final dos quatro meses, por R$ 900,00.
Opção 3: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 1% de juros compostos ao mês e
comprar a prazo, retirando, todo mês, o valor da prestação.
Opção 4: Colocar o dinheiro em uma aplicação que rende 2,0% de juros compostos ao mês e
comprar, três meses depois, pelos R$ 900,00.

Entre as opções analisadas por Maria, a que oferece maior vantagem financeira no momento
éa

a) opção 2. b) opção 1. c) opção 4. d) opção 3.

17. (Mackenzie 2012) Maria fez um empréstimo bancário a juros compostos de 5% ao mês.

20
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Alguns meses após, ela quitou a sua dívida, toda de uma só vez, pagando ao banco a quantia
de R$10.584,00. Se Maria tivesse pago a sua dívida dois meses antes, ela teria pago ao banco
a quantia de

a) R$ 10.200,00 b) R$ 9.800,00 c) R$ 9.600,00 d) R$ 9.200,00 e) R$ 9.000,00

18. (Ufpe 2013) Um capital é aplicado a uma taxa anual de juros compostos e rende um
montante de R$ 15.200,00 em 3 anos, e um montante de R$ 17.490,00 em 4 anos. Qual o valor
inteiro mais próximo da taxa percentual e anual de juros?

a) 12 b) 13 c) 14 d) 15 e) 16

19. (Fgvrj 2012) O senhor Haroldo deposita hoje R$ 10.000,00 e depositará R$ 12.000,00
daqui a 3 anos em um fundo que rende juros compostos à taxa de 10% ao ano. Seu montante,
daqui a 4 anos, pertencerá ao intervalo:

a) [27500 ;27600] b) [27600 ;27700] c) [27700 ;27800] d) [27800 ;27900] e) [27900


;28000]

20. (Cftmg 2011) O capital de R$ 2.000,00 , aplicado a taxa de 3% a.m. por 60 dias, gerou
um montante M1 e o de R$ 1.200,00 , aplicado a 2% a.m. por 30 dias, resultou um montante
M2 . Se as aplicações foram a juros compostos, então,

a) a soma dos montantes foi de R$ 3.308,48.


b) a soma dos montantes foi de R$3.361,92.
c) a diferença em modulo entre os montantes foi de R$ 897,80.
d) a diferença em modulo entre os montantes foi de R$ 935,86.

21
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

0.3.1 De olho no ENEM!

21. (ENEM 2000) João deseja comprar um carro cujo preço à vista, com todos os descontos
possíveis, é de R$ 21.000,00, e esse valor não será reajustado nos próximos meses. Ele tem R$
20.000,00, que podem ser aplicados a uma taxa de juros compostos de 2% ao mês, e escolhe
deixar todo o seu dinheiro aplicado até que o montante atinja o valor do carro.
Para ter o carro, João deverá esperar:
a) dois meses, e terá a quantia exata.
b) três meses, e terá a quantia exata.
c) três meses, e ainda sobrarão, aproximadamente, R$ 225,00.
d) quatro meses, e terá a quantia exata.
e) quatro meses, e ainda sobrarão, aproximadamente, R$ 430,00.

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 21.


22. (ENEM 2015) Um investidor inicia um dia com x ações de uma empresa. No decorrer
desse dia, ele efetua apenas dois tipos de operações, comprar ou vender ações. Para realizar
essas operações, ele segue estes critérios:

I. Vende metade das ações que possui, assim que seu valor fica acima do valor ideal (Vi);

II. Compra a mesma quantidade de ações que possui, assim que seu valor fica abaixo do
valor mínimo (Vm);

III. Vende todas as ações que possui, quando seu valor fica acima do valor ótimo (Vo);

O gráfico apresenta o período de operações e a variação do valor de cada ação, em reais, no


decorrer daquele dia e a indicação dos valores ideal, mínimo e ótimo.

22
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Quantas operações o investidor fez naquele dia?


a) 3 b) 4 c) 5 d) 6 e) 7

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 22.


23. (ENEM 2009) João deve 12 parcelas de R$ 150,00 referentes ao cheque especial de seu
banco e cinco parcelas de R$ 80,00 referentes ao cartão de crédito. O gerente do banco lhe
ofereceu duas parcelas de desconto no cheque especial, caso João quitasse esta dívida imedia-
tamente ou, na mesma condição, isto é, quitação imediata, com 25% de desconto na dívida do
cartão. João também poderia renegociar suas dívidas em 18 parcelas mensais de R$ 125,00.
Sabendo desses termos, José, amigo de João, ofereceu-lhe emprestar o dinheiro que julgasse
necessário pelo tempo de 18 meses, com juros de 25% sobre o total emprestado.
A opção que dá a João o menor gasto seria:
a) renegociar suas dívidas com o banco.
b) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação das duas dívidas.
c) recusar o empréstimo de José e pagar todas as parcelas pendentes nos devidos prazos.
d) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação do cheque especial e pagar as
parcelas do cartão de crédito.
e) pegar emprestado de José o dinheiro referente à quitação do cartão de crédito e pagar as
parcelas do cheque especial.

23
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 23.


24. (ENEM 2015) Um casal realiza um financiamento imobiliário de R$ 180 000,00, a ser
pago em 360 prestações mensais, com taxa de juros efetiva de 1% ao mês. A primeira prestação
é paga um mês após a liberação dos recursos e o valor da prestação mensal é de R$ 500,00
mais juro de 1% sobre o saldo devedor (valor devido antes do pagamento). Observe que, a cada
pagamento, o saldo devedor se reduz em R$ 500,00 e considere que não há prestação em atraso.
Efetuando o pagamento dessa forma, o valor, em reais, a ser pago ao banco na décima
prestação é de:
a) 2075,00 b) 2093,20 c) 2138,00 d) 2255,00 e) 2300,00

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 24.


25. (ENEM 2019) Uma pessoa se interessou em adquirir um produto anunciado em uma
loja. Negociou com o gerente e conseguiu comprá-lo a uma taxa de juros compostos de 1%
ao mês. O primeiro pagamento será um mês após a aquisição do produto, e no valor de R$
202,00. O segundo pagamento será efetuado um mês após o primeiro, e terá o valor de R$
204,02. Para concretizar a compra, o gerente emitirá uma nota fiscal com o valor do produto
à vista negociado com o cliente, correspondendo ao financiamento aprovado.
O valor à vista, em real, que deverá constar na nota fiscal é de:
a) 398,02 b) 400,00 c) 401,94 d) 404,00 e) 406,02

Clique aqui para uma resolução em vídeo da questão 25.


26. (ENEM 2017) Um empréstimo foi feito à taxa mensal de i%, usando juros compostos,
em oito parcelas fixas e iguais a P.
O devedor tem a possibilidade de quitar a dívida antecipadamente a qualquer momento,
pagando para isso o valor atual das parcelas ainda a pagar. Após pagar a 5a parcela, resolve
quitar a dívida no ato de pagar a 6a parcela.

24
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

A expressão que corresponde ao valor total pago pela quitação do empréstimo é:

ñ ô
1 1
a) P · 1 + i
+
i 2
1 + 100

ñ 1 + 100 ô
1 1
b) P · 1 + i
+ 2i

ñ 1 + 100
1 + 100 ô
1 1
c) P · 1 + i 2
 + i 2

ñ 1 + 100
1 + 100 ô
1 1 1
d) P · i
+ 2i
+ 3i

ñ 1 + 100
1 + 100
1 + 100 ô
1 1 1
e) P · i
+ i 2 + i 3
1 + 100 (1 + 100 )

1 + 100

Desafio (ENEM 2018)


Um contrato de empréstimo prevê que quando uma parcela é paga de forma antecipada,
conceder-se-á uma redução de juros de acordo com o período de antecipação. Nesse caso,
paga-se o valor presente, que é o valor, naquele momento, de uma quantia que deveria
ser paga em uma data futura. Um valor presente P submetido a juros compostos com
taxa i, por um período de tempo n, produz um valor futuro V determinado pela fórmula

V = P · (1 + i)n

Em um contrato de empréstimo com sessenta parcelas fixas mensais, de R$ 820,00, a uma


taxa de juros de 1,32% ao mês, junto com a trigésima parcela será paga antecipadamente
uma outra parcela, desde que o desconto seja superior a 25% do valor da parcela.
Utilize 0,2877 como aproximação para ln( 43 ) e 0,0131 como aproximação para ln(1, 0132).
A primeira das parcelas que poderá ser antecipada junto com a 30a é a:

a) 56a b) 55a c) 52a d) 51a e) 45a

25
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Clique aqui para uma resolução em vídeo do desafio.

0.3.2 Falando um pouco sobre taxas

Taxa Nominal e Taxa Efetiva

Você com certeza já deve ter se deparado com algum anúncio de empréstimo ou financia-
mento. Um erro comumente cometido pelas pessoas é não diferenciar taxas nominais e taxas
efetivas. Por exemplo, uma taxa nominal de 24% aa corresponde a uma taxa de 2% am. Assim,
quando uma pessoa contrata um empréstimo ou financiamento de 2% am, por exemplo, é bas-
tante comum achar que pagará uma taxa de juros de 24% aa, onde ela simplesmente multiplica
a taxa pelo período da operação (2% am · 12 meses = 24% aa).
O que realmente se paga de juros é conhecido como Taxa Efetiva, constituída dos juros com-
postos provenientes da Taxa Nominal. Sendo assim, uma taxa de juros de 2% am, em um ano,
corresponderá: (1 + 0, 02)12 = (1, 02)12 ≈ 1, 27. Ou seja, uma taxa anual de, aproximadamente
27%, diferentemente da taxa nominal de 24% am.

Observação: Ao se contratar um empréstimo ou um finan-


ciamento é de extrema importância ficar atento ao CET (Custo
Efetivo Total). O CET é a taxa de juros que efetivamente será
paga na operação e nele não esta inserido apenas a taxa de juros
contratada. São embutidos, por exemplo, valores correspondentes a tarifa de abertura crédito

26
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

na financeira, registro do contrato de empréstimo ou financiamento, seguro de vida, tarifa de


administração, comissões,... Ufa! Por isso é importante você ficar atento a taxa de juros do
CET, pois ela pode fazer com que a dívida aumente bastante. Fique de olho!

Taxas Equivalentes

Pelo que conversamos na subseção anterior, você já deve perceber o significado de taxas
equivalentes. Taxas Equivalentes são taxas de juros em diferentes períodos de tempo, mas
que quando aplicadas ao mesmo capital, gera o mesmo montante em um igual intervalo de
tempo. Podemos utilizar a seguinte fórmula para obter a Taxa Equivalente:

1 + I = (1 + i)n (7)

Exemplo: Considere a taxa de 3% am, qual a taxa equivalente em um trimestre?


Sabemos que um trimestre corresponde a 3 meses, então:

1 + I = (1 + 0, 03)3

1 + I = (1, 03)3

1 + I = 1, 092727

I = 1, 092727 − 1

I = 0, 092727

I ≈ 9, 27%

Dessa maneira, a taxa equivalente a 3% am no trimestre é de 9,27%.

Exercícios de fixação

27. Determine:
a) a taxa anual equivalente a 4% ao trimestre.
b) a taxa anual equivalente a 5% ao semestre

27
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

c) a taxa semestral correspondente a 1% ao mês.


d) a taxa semestral correspondente a 21% ao ano.
e) a taxa bimestral correspondente a 12% ao semestre.

0.4 Séries Periódicas Uniformes


Uma série periódica uniforme ocorre quando temos o compromisso de pagar ou depositar
uma certa quantia, não variável, periodicamente, ou seja, os pagamentos ou depósitos ocorrem
em intervalos de tempos igualmente espaçados e sendo o mesmo valor sempre. Vamos explicar
como as ideias de Valor Presente e Valor Futuro são fundamentais para o entendimento
das operações de empréstimos e capitalizações2 .

0.4.1 Valor atual de um série periódica uniforme de pagamento

Suponha que um empréstimo possa ser pago em n parcelas iguais durante n períodos de
tempo. Queremos saber qual o valor de cada parcela.
Para resolvermos esse problema precisamos saber qual será o valor tomado como empréstimo,
a taxa de juros cobrada e o período. Definimos então as seguintes variáveis:

Va =⇒ Valor atual de uma série periódica uniforme de pagamentos.


Esse valor é a quantia tomada emprestada. Em alguns problemas pode ser interpretado
como o valor à vista de um produto.

2
“Capitalização” é um termo muito usado em Matemática Financeira quando se quer inferir a ideia de
rendimento de um capital após um período de tempo..

28
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

i =⇒ Taxa de juros da operação de empréstimo.


Em alguns problemas é interpretado como taxa de retorno ou mesmo como valor
percentual do dinheiro.

P =⇒ Valor da parcela.
Esse é o valor pago ao final de cada unidade do período a ser considerado.

n =⇒ Períodos de tempo.

Atente para o fato que devemos considerar concordantes o período e a taxa de juros, ou
seja, eles devem estar na mesma unidade de tempo.
A figura a seguir ilustra uma série periódica uniforme de pagamento.

O valor atual da série é o somatório das parcelas atualizadas na data da concessão do


empréstimo, ou seja, na data zero. Isso quer dizer que devemos deslocar cada parcela para a
data zero e somá-las. O esquema a seguir retrata a situação.

29
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Portanto, temos a seguinte equação:

P P P P
Va = + 2
+ 3
+ ... +
(1 + i) (1 + i) (1 + i) (1 + i)n

Observe que a equação anterior pode ser escrita de “trás para frente”:

P P P P P
Va = n
+ n−1
+ ... + 3
+ 2
+
(1 + i) (1 + i) (1 + i) (1 + i) (1 + i)

Fizemos isso para que você percebesse mais facilmente que a equação acima se trata de
P
uma soma de termos em progressão geométrica cujo primeiro termo é a1 = e a razão
(1 + i)n
n
q −1
q = (1 + i) e, portanto, podemos usar a fórmula3 Sn = a1 · .
q−1
Desse modo, aplicando a referida fórmula, teremos:

3
Precisando relembrar essa fórmula? Clique aqui.

30
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

P (1 + i)n − 1
Va = ·
(1 + i)n (1 + i) − 1

(1 + i)n − 1
Va = P · (8)
(1 + i)n · i

Exemplo
Um bem custa, hoje, R$ 8000,00 e será pago em 10 parcelas mensais e iguais. Determine
o valor de cada parcela se a taxa de juros for igual a 8% am.
Solução:
Aplicando a equação (8) temos, Va = 8000, i = 0, 08 e n = 10, de onde:

1, 0810 − 1
8000 = P ·
1, 0810 · 0, 08

Com auxílio de uma calculadora, façamos 1, 0810 ≈ 2, 16. Assim:

1, 16
8000 = P ·
2, 16 · 0, 08
1, 16 · P
8000 =
0, 1728
8000 · 0, 1728 = 1, 16 · P

1382, 4 = 1, 16 · P (trocamos de lado os membros da equação)

1, 16 · P = 1382, 4
1382, 4
P =
1, 16
P ≈ 1191, 72

Logo o valor de cada parcela será próximo de R$ 1191,72.

31
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

O exemplo acima ilustra exatamente o procedimento adotado no comércio varejista.

Exemplo
Na venda de um eletrodoméstico, uma loja anuncia o pagamento em 6 prestações mensais
de R$ 1250,00 cada uma, sem entrada. Qual o preço à vista, sabendo-se que a loja cobra
no financiamento juros compostos, à taxa de 3,2% am?
Solução:
O valor do preço à vista do eletrodoméstico será o valor atual da série uniforme de
pagamentos. Assim temos:

(1 + 0, 032)6 − 1
Va = 1250 ·
(1 + 0, 032)6 · 0, 032
1, 0326 − 1
Va = 1250 ·
1, 0326 · 0, 032

Tomando 1, 0326 ≈ 1, 208 temos:

0, 208
Va = 1250 ·
1, 208 · 0, 032
0, 208
Va = 1250 ·
0, 038656
Va ≈ 6726

Portanto o preço à vista será R$ 6726,00.

Observações:

1. Note que de “grosso modo” quem comprar o eletrodoméstico paga 6 × 1250 = R$ 7500,00,
valor superior a R$ 6726,00. Entretanto esse tipo de comparação não é adequada visto que va-
lores financeiros devem ser comparados em uma mesma data. Por outro lado a comparação
entre os valores R$ 7500 e R$ 6726,00 permite uma rápida análise do “quanto” se perde com a
compra parcelada.

32
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

2. É comum o seguinte pensamento: “se a taxa de juros é 3,2% ao mês, então ao decidir
pagar à vista devo ter esse percentual de desconto em cada parcela, somando-as para formar o
preço à vista.”
Se o pensamento acima fosse correto, então cada parcela teria um desconto de R$ 40,00 (=
1250 × 0, 0032), ou seja, a prestação seria de R$ 1210,00. Portanto, o valor à vista seria igual
a R$ 7260,00. Este raciocínio é equivocado, pois a conta 6 × 1210 considera que os valores das
parcelas não sofrem alterações na data zero e isso não é verdade.

0.4.2 Valor futuro de um série periódica uniforme de depósitos

Suponha que uma pessoa deposite mensalmente, todo dia 10, por exemplo, R$ 200,00 num
período de um ano em uma Caderneta de Poupança que rende juros de 0,8 % am. Qual será o
valor disponível para resgate imediatamente após o 12o depósito?
Inicialmente, note que o valor final, ou montante, não será R$ 2400,00 (= 12 × 200), pois a
cada depósito feito, teremos um rendimento diferente por causa do tempo de permanência de
cada parcela na Poupança. O problema em questão é que para cada depósitos de R$ 200,00
os juros vão diminuindo. Isso se dá pelo fato de que os tempos de aplicação desses capitais
vão encurtando. Pensando de maneira concreta: imagine um depósito de R$ 200,00 feito em
janeiro de um determinado ano. O montante gerado por esse capital em dezembro é maior que
o montante gerado pela aplicação de um capital de R$ 200,00 em novembro do mesmo ano.
Visto que os períodos de tempos de aplicação dos depósitos são diferentes.
Vamos generalizar o problema.
Suponha que n depósitos sejam feitos em n períodos no valor de D unidades monetárias4 em
cada depósito. Os depósitos ocorrem nas datas 1,2,3,...,n − 1,n. Queremos saber o montante
dessas aplicações ao final do n-ésimo depósito.
Chamaremos o valor do montante de Vf (valor futuro).

A figura a seguir retrata a situação:


4
Real, Dólar, Euro...

33
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Para calcular o valor futuro (Montante) devemos deslocar os depósitos para uma mesma
data, nesse caso para a data n. Portanto, deslocaremos todos os depósitos para a referida data
e somaremos os valores.
A figura a seguir ilustra o que queremos dizer.

Assim, o cálculo do valor final será:

34
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Vf = D + D(1 + i) + · · · + D(1 + i)n−1 .

Novamente recaímos em uma soma de n termos em progressão geométrica cuja razão q =


(1 + i) e o primeiro termo igual a a1 = D.
Logo, aplicando a fórmula da soma dos termos de uma progressão geométrica, teremos:

(1 + i)n − 1
Vf = D ·
1 + i − 1

(1 + i)n − 1
Vf = D · (9)
i

Voltando ao problema inicial:


Exemplo
Suponha que uma pessoa deposite mensalmente, todo dia 10, por exemplo, R$ 200,00
num período de um ano em uma Caderneta de Poupança que rende juros de 0,8 % am.
Qual será o valor disponível para resgate imediatamente após o 12o depósito?
Solução:
Como D = 200, i = 0, 008 e n = 12, temos:

(1 + 0, 008)12 − 1
Vf = 200 ·
0, 008
(1, 008)12 − 1
= 200 ·
0, 008

Fazendo (1, 008)12 ≈ 1, 1 temos:

0, 1
Vf = 200 ·
0, 008
Vf = 2500.

35
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Exercícios de fixação

28. Um banco concede um empréstimo a uma pessoa cobrando 10 prestações mensais de


R$ 700,00 cada uma, sem entrada. Qual o valor emprestado, sabendo que o banco cobra juros
compostos, à taxa de 4% a.m.?

29. Uma pessoa deposita mensalmente R$ 700,00 num fundo que rende juros compostos, à
taxa de 1,3 % a.m. São feitos 25 depósitos. Qual será o montante no instante após o último
depósito?

30. Um funcionário de um banco deseja saber o valor atual de uma série de 12 prestações
mensais, iguais e consecutivas, de R$ 150,00, capitalizadas a uma taxa de 5% ao mês. Utili-
zou a fórmula do valor presente e efetuou os cálculos corretamente, utilizando a aproximação
(1, 05)12 = 1, 80. Assinale a alternativa que apresenta o valor atual, da série em questão, mais
próximo do encontrado por esse funcionário.

a) R$ 1 315,50 b) R$ 1 333,50 c) R$ 1 365,50 d) R$ 1 383,50 e) R$ 1 395,50

31. Um loja financia a compra de um eletrodoméstico no valor à vista de R$ 1.300,00, em


três prestações mensais iguais, sem entrada, isto é, a primeira das prestações com vencimento
um mês após a compra. Sabendo-se que a taxa de juros utilizada é de 5% ao mês. O valor da
prestação é

a) R$ 454,63. b) R$ 477,37. c) R$ 498,33. d) R$ 501,63. e) R$ 3.540,16.

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 31.


32.(CVM-Analista de Mercado de Capitais) Pretende-se trocar uma série de oito pagamen-
tos mensais iguais de R$ 1.000,00, vencendo o primeiro pagamento ao fim de um mês, por outra
série equivalente de doze pagamentos iguais, vencendo o primeiro pagamento também ao fim
de um mês. Calcule o valor mais próximo do pagamento da segunda série considerando a taxa

36
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

de juros compostos de 2% ao mês.


Tome 1,08 como uma boa aproximação para 1, 024 .

a) R$ 750,00 b) R$ 693,00 c) R$ 647,00 d) R$ 783,00 e) R$ 716,00

33. (Sefaz - RJ)(2010) Uma empresa parcela a venda de seus produtos que podem ser fi-
nanciados em duas vezes, por meio de uma série uniforme de pagamentos postecipada. A taxa
de juros efetiva cobrada é de 10% ao mês no regime de juros compostos e o cálculo das parcelas
é feito considerando-se os meses com 30 dias.
Se um indivíduo comprar um produto por R$ 1.000,00, o valor de cada prestação mensal será:

a) R$ 525,68. b) R$ 545,34. c) R$ 568,24. d) R$ 576,19. e) R$ 605,00.

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 33.


34. Determine o montante de uma série de 60 depósitos mensais de R$ 150,00 cada a juros
de 0,5% ao mês.

35. Supondo juros de 1% a.m., quanto Ana deve investir mensalmente, durante 10 anos,
para obter ao fim desse prazo, um valor próximo de R$ 46008,00?

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 35.


36. Uma transportadora pretende comprar um caminhão dentro de 24 meses e estima que
seu preço nessa data será R$ 90000,00. Para alcancar seu objetivo, ele resolve fazer 24 depósitos
mensais de x reais cada um num fundo que rende 1,5% ao mês, de modo que no instante do
último depósito o saldo dessas aplicações seja R$ 90000,00.

a) Qual o valor de x?
b) No dia em que foi feito o 18o depósito, surgiu uma emergência e a empresa teve que sacar
todo o saldo das aplicações. Qual era o valor desse saldo?

37
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

37. O salário líquido do Sr. Ernesto é R$ 3000,00 por mês. Todo mês ele poupa 10% de seu
salário líquido e aplica essa poupança num fundo que rende juros compostos, à taxa de 2% ao
mês.
a) Qual seu saldo no fundo, no dia em que fez o segundo depósito?
b) Quantos depósitos deverá fazer para ter um saldo de R$ 7289,00 no dia do último depósito?

Clique aqui para a uma resolução em vídeo da questão 37.

0.5 Sistemas de Amortização


Toda vez que tomamos um empréstimo ou financiamento, devemos ter um plano de amor-
tização da dívida. Do verbo amortizar, que significa pagar gradualmente ou em prestações;
abater parte de (dívida, empréstimo etc.), a amortização é o processo de extinção de uma dí-
vida.
Sistemas de Amortização são mecanismos financeiros criados para o pagamento de uma dívida.
As instituições financeiras utilizam tais mecanismos de maneira que a dívida seja paga em par-
celas que são compostas por duas partes: a amortização (abate a dívida) e a outra parte quita
os juros. Portanto:

P ARCELA = AM ORT IZAO + JU ROS

Existem vários sistemas de amortização, como exemplos: Sistema de Amortização Constante


(SAC), Tabela Price, Sistema Americano, Sistema de Amortização Misto (SAM), entre outros.
Dentre os sistemas existentes, os mais comumente utilizados e que veremos com mais detalhes
nessa apostila são o Sistema de Amortização Constante (SAC) e a Tabela Price, também
chamada de Sistema de Amortização Francês.

38
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

0.5.1 Sistema de Amortização Constante (SAC)

A principal característica desse sistema é que a amortização não varia ao longo do tempo.
Já os juros incidem sempre sobre o saldo devedor imediatamente após o pagamento
de uma parcela. Como o saldo devedor diminui ao longo do tempo, então os juros cobrados
mês a mês diminuem e, portanto, as parcelas diminuem ao longo do tempo.
O cálculo de cada parcela, como já dissemos, é composto de duas partes: a amortização e o
juros. No SAC, a amortização é FIXA e seu valor é obtido pela divisão entre o valor emprestado
pelo número de períodos de tempo (prazo). Os juros são calculados como o resultado do produto
(multiplicação) da taxa de juros pelo saldo devedor. Note o saldo devedor de cada parcela é a
diferença entre o valor emprestado pelas amortizações já pagas. Vamos ilustrar o procedimento
descrito de forma prática:
Ilustração
Suponha que um banco financie o valor de entrada referente à aquisição de um imóvel.
O banco propõe o pagamento de R$ 10.000,00 em 04 parcelas usando o Sistema de
Amortização Constante (SAC) para o pagamento das prestações. Vamos calcular o
valor dessas parcelas sabendo que o banco trabalha com uma taxa de juros de 5% ao mês.

Para calcular o valor de cada parcela, precisamos da amortização. Chamando esse valor
10.000
de A, teremos A = = 2.500. Portanto, cada parcela, Pk , será dada por:
4

Pk = 2500 + Jk k = 1, 2, 3 ou 4

O juros da primeira parcela, J1 , é simplesmente 5% de 10.000, pois o saldo devedor,


D0 , inicial é exatamente o valor do empréstimo.
Assim, temos, J1 = 0, 05 · 10000 = 500.
Logo,

P1 = 2500 + 500 = 3000

39
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Ilustração
Após o pagamento da primeira parcela, o saldo devedor, D1 , passa a ser de R$ 7.500,00,
pois a primeira parcela amortizou R$ 2.500,00. Desse modo a segunda parcela será:

P2 = 2500 + 0, 05 · 7500 = 2875

Para a terceira parcela o saldo devedor, D2 , será de R$ 5.000,00. Por consequência,


temos:

P3 = 2500 + 0, 05 · 5000 = 2750

Finalmente a quarta parcela será:

P4 = 2500 + 0, 05 · 2500 = 2625

A tabela a seguir sintetiza todo o processo:

Parcela Saldo Devedor Amortização Juros Valor da parcela


=k = Dk =A = Jk = Pk
0 10.000 - - -
1 7.500 2.500 500 3000
2 5.000 2.500 375 2875
3 2.500 2.500 250 2750
4 - 2.500 125 2625

Observações

1. Repare que os valores das parcelas formam um Progressão Aritmética de razão 125.

2. Note que se o saldo devedor for muito grande, um financiamento imobiliário, por exemplo,
então os juros incidentes na primeira parcela tende a ser também muito elevado.

40
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

5
Generalizando...
Um financiamento no SAC de D0 reais a ser pago em n parcelas com uma taxa de juros i,
pode ser descrito da seguinte forma:

Valor da k−ésima parcela:

Pk = A · [1 + (n − k + 1) · i] (10)

D0
Onde A = é o valor referente à amortização.
n
Exemplo
Na compra de um apartamento no valor de R$ 480.000,00, uma pessoa faz um financia-
mento em um banco, com juros de 2% am, a ser pago em 300 meses. O banco utiliza o
Sistema de Amortização Constante (SAC) para o pagamento da dívida. Qual o valor da
primeira parcela? Qual o valor da última parcela?
Solução:
Nos dois casos, basta aplicar a fórmula (10). Para a primeira parcela, tem-se k = 1 e
para última k = n = 300. Antes, porém, podemos calcular a amortização.
480.000
A= = 1600. Assim,
300

P1 = 1600 · [1 + (300 − 1 + 1) · 0, 02

= 1600 · [1 + 300 · 0, 02]

= 1600 · [1 + 6]

= 11200

Analogamente, para a última parcela, tem-se:

P300 = 1600 · [1 + (−


300  + 1) · 0, 02]
300

= 1600 · [1 + 0, 02] = 1632

5
Vamos expor, de modo direto, uma forma de calcular o valor da parcela no prazo k. O estudante mais
interessado é convidado a demostrar a validade da fórmula (10).

41
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

0.5.2 Sistema de Amortização Francês ou Tabela PRICE

Diferente do SAC, o PRICE é um sistema de amortização onde as prestações ou parcelas


são constantes em quanto que no SAC as prestações são decrescentes.
Nesse sistema a principal característica é o valor fixo das parcelas. Como os juros incidem
sobre o saldo devedor, que é decrescente, então os juros são decrescentes e a amortização é
crescente para garantir a constância das parcelas.
No PRICE as parcelas são calculadas como termos de uma série uniforme de pagamentos.
Portanto, faremos uso da fórmula (8) para construir uma tabela de empréstimo.
Dado um empréstimo financeiro no valor Va , com n parcelas de P reais a uma taxa de i%
ao período, no sistema PRICE esses valores se relacionam do seguinte modo:

(1 + i)n − 1 (1 + i)n · i
Va = P · ⇔ P = Va · (11)
(1 + i)n · i (1 + i)n − 1

O juro cobrado a cada período é calculado pelo produto da taxa pelo saldo devedor do
período anterior e a amortização é a diferença entre os valores da prestação e do juro. Estes
valores serão calculados explicitamente mais adiante, para um melhor entendimento. Vejamos
um exemplo.

Ilustração
Uma financeira concede um empréstimo de R$ 4.000,00 que deve ser pago em cinco
parcelas iguais com o primeiro vencimento um mês após a data de contratação. O
sistema de amortização francês foi o escolhido e a taxa utilizada foi de 5% am. Vamos
construir uma tabela contendo o saldo devedor, a amortizção, os juros e o valor da
prestação em cada mês.

42
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Ilustração
A primeira coisa a ser feita é calcular o valor da prestação.
(1 + i)n · i
Lembrando que P = Va · , Va = 4.000, 00, i = 0, 05 e n = 5, temos:
(1 + i)n − 1

1, 055 · 0, 05
P = 4000 ·
1, 055 − 1
P ≈ 923, 90

Portanto, cada parcela terá o valor de R$ 923,90.


O juro pago no primeiro mês será J1 = 0, 05 · 4000 = 200, logo a primeira amortização
será A1 = 923, 90 − 200 = 723, 90. O saldo devedor nesse mês, denotado por D1 ,
será calculado subtraindo do saldo devedor do mês anterior a amortização 1. Ou seja,
D1 = 4000 − 723, 90 ⇒ D1 = 3276, 10.

Para o segundo mês, temos:


J2 = 0, 05 · 3276, 10 ≈ 163, 80
A2 = 923, 90 − 163, 80 = 760, 10
D2 = D1 − A2 = 3276, 10 − 760, 10 = 2516

De forma análoga, para o terceiro mês, teremos:


J3 = 0, 05 · 2515, 90 ≈ 125, 80
A3 = 923, 90 − 125, 80 = 798, 10
D3 = D2 − A3 = 2516 − 798, 10 = 1717, 90

Procedendo da mesma forma, teremos os seguintes valores para a quarta e quinta


parcelas:
J4 = 0, 05 · 1717, 80 = 85, 89 J5 = 0, 05 · 879, 79 ≈ 44, 00
A4 = 923, 90 − 85, 89 = 838, 01 A5 = 923, 90 − 44, 00 = 879, 90
D4 = D3 − A4 = 1717, 90 − 838, 01 = 879, 89 D5 = D4 − A5 = 879, 89 − 879, 90 ≈ 0

43
Noções de Matemática Financeira
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Podemos organizar os dados acima na tabela a seguir:

Mês (n) Juros Amortização Saldo devedor Prestação


0 - - 4.000 923,90
1 200 723,90 3.276,10 923,90
2 163,80 760,10 2.516,00 923,90
3 125,80 798,10 1717,90 923,90
4 85,89 838,01 879,89 923,90
5 44,00 879,90 0 923,90

Exemplo
[Prefeitura de Campinas - SP (Auditor Fiscal Tributário Municipal)]
Um banco faz um empréstimo de R$ 60.000,00 a uma empresa com prazo de 5 anos, e
taxa de juros de 2% ao mês pelo sistema price. Ao calcular o valor da prestação mensal
por uma calculadora financeira, foi obtido o valor de R$ 1.726,00. Em cada prestação,
uma parte corresponde ao juro sobre a dívida e outra parte para amortização. Então, a
soma das amortizações das duas primeiras parcelas é de, aproximadamente:
a) R$ 2230,00.
b) R$ 5.160,00.
c) R$ 1.000,00.
d) R$ 2.390,00.
e) R$ 1.060,00

Solução:
O juros referente à primeira parcela será J1 = 60000 · 0, 02 = 1200.
Logo, a primeira amortização terá valor igual a A1 = 1726 − 1200 = 526. Portanto,
D1 = 60000 − A1 = 59474.
O juros da segunda parcela será igual a J2 = 59474 · 0, 02 = 1189, 48.
Daí concluímos que a segunda amortização será igual a A2 = 1726 − 1189, 48 = 536, 52.
Portanto, A1 + A2 = 526 + 536, 52 = 1062, 52. Letra (e).

44
Noções de Matemática Financeira
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Generalizando...6
Na tabela Price, um financiamento de D0 reais a ser pago em n parcelas com uma taxa de
juros igual a i% ao período, tem como saldo devedor no prazo k o seguinte valor:

(1 + i)n − (1 + i)k
ï ò
Dk = D0 · (12)
(1 + i)n − 1

Exercícios de fixação

38. Uma dívida, no valor de R$ 5.000,00, foi paga em 20 parcelas mensais, a primeira
delas vencendo ao completar um mês da data do empréstimo. O sistema utilizado foi o SAC
(Sistema de Amortização Constante), com taxa de 4% ao mês. Nessas condições, é verdade que:

a) a cota de juros da terceira prestação foi R$ 250,00.


b) a cota de amortização da quinta prestação foi R$ 220,00.
c) o valor da décima prestação foi R$ 350,00.
d) o saldo devedor imediatamente após o pagamento da décima-quinta parcela foi R$ 1.250,00.
e) a cota de juros da última prestação foi R$ 15,00.

39. O máximo da remuneração mensal que um indivíduo pode comprometer para paga-
mento das prestações de empréstimos é de R$ 2.000,00 e, em função da idade, tabelas atuariais
limitam o prazo do empréstimo em 100 meses.
Considerando taxa de juros de 1% ao mês, qual é o valor da amortização para o maior emprés-
timo que ele pode tomar pelo Sistema de Amortização Constante (SAC)?

a) R$ 1.000,00 b) R$ 1.300,00 c) R$ 1.500,00 d) R$ 1.700,00 e) R$ 2.000,00

6
A nota anterior se aplica aqui também. Uma dica é notar que o saldo devedor na época k pode ser obtido
como o valor da subtração entre o valor tomado como empréstimo na época k e o somatório das parcelas não
pagas.

45
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

40. Um empréstimo de R$ 1.000,00, à taxa de 10% a.a., será pago em 5 prestações anuais.
O valor da primeira prestação, a pagar pelo Sistema de Amortização Constante, e o saldo de-
vedor, após esse pagamento, serão, em reais, respectivamente de

a) 200,00 e 800,00
b) 200,00 e 900,00
c) 300,00 e 700,00
d) 300,00 e 800,00
e) 300,00 e 900,00

41. Assinale a alternativa incorreta:

a) O valor de juros, em cada período, no modelo PRICE de financiamento, vão diminuindo ao


longo do tempo enquanto que os valores das amortizações vão aumentando.
b) O valor de juros, em cada período, no modelo SAC de financiamento, vão aumentando ao
longo do tempo enquanto que os valores das amortizações são constantes.
c) O valor da prestação de um financiamento no sistema PRICE é dado pela soma entre o valor
da amortização e o valor dos juros do período.
d) Se o valor da amortização no sistema SAC de financiamento for igual a R$ 750,00 e o valor
dos juros, num certo período, for igual a R$ 83,00, então o valor da prestação nesse período
será de R$ 833,00.
e) Se o valor da amortização no sistema PRICE de financiamento é igual a R$ 750,00 e o valor
de juros, num certo período, for igual a R$ 83,00, então o valor da prestação nesse período será
de R$ 833,00.

42. Um imóvel de 100 mil reais é financiado em 360 prestações mensais, a uma taxa de juros
de 1% ao mês, pelo Sistema de Amortização Francês (Tabela Price), gerando uma prestação
de R$ 1.028,61. Reduzindo-se o prazo do financiamento para 240 prestações, o valor de cada
prestação é, em reais, aproximadamente,

46
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

Dado: (1, 01)−120 = 0, 3

a) 1.099,00 b) 1.371,00 c) 1.428,00 d) 1.714,00 e) 2.127,00

43. Uma dívida no valor de R$ 40.000,00 deverá ser liquidada em 20 prestações mensais,
iguais e consecutivas, vencendo a primeira um mês após a data da contração da dívida. Utilizou-
se o Sistema Francês de Amortização (Tabela Price), a uma taxa de juros compostos de 2,5%
ao mês, considerando o valor do Fator de Recuperação de Capital (FRC) correspondente igual
a 0,06415 (20 períodos). Pelo plano de amortização, o saldo devedor da dívida, imediatamente
após o pagamento da 2a prestação, apresenta um valor de

a) R$ 37.473,15 b) R$ 36.828,85 c) R$ 35.223,70 d) R$ 35.045,85 e) R$ 34.868,15

44. Certa pessoa física conseguiu um financiamento de R$ 120.000,00 a ser quitado em 60


prestações mensais e consecutivas, à taxa efetiva de 1% ao mês, sendo que a primeira prestação
vence em 30 dias após a concessão do financiamento. O valor da prestação mensal constante é
de R$ 2.668,80. O saldo devedor do empréstimo, após o pagamento da 1o prestação é, em R$,
é igual a

a) 118.531,20. b) 117.331,20. c) 117.600,00. d) 118.200,00. e) 117.799,20.

45. (Banestes 2018) Um empréstimo deverá ser quitado em 6 prestações mensais iguais
de R$ 670,00, segundo o Sistema de Amortização Francês (Tabela Price), com a primeira
prestação vencendo um mês após a contratação. A taxa de juros nominal é de 60% ao ano,
com capitalização mensal7 .
O saldo devedor imediatamente após o pagamento da 1a prestação será:

Dado: 1, 056 = 1, 34
7
Isso é a taxa nominal que na prática implica em trabalhar com a taxa de 5% am (60 ÷ 12 = 5)

47
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

a) R$ 2.900,00 b) R$ 2.830,00 c) R$ 2.800,00 d) R$ 2.730,00 e) R$ 2.700,00

46. Construa a planilha de amortização de uma dívida no valor de R$ 300.000,00, taxa de


4% ao mês, durante 5 meses, utilizando o sistema de amortização francês.

47. Faça a planilha de amortização de uma dívida de R$6.000,00, em oito vezes mensais, à
taxa de 2,5% ao mês pelo SAC.

0.6 Gabarito
1) a) 70% b) 20% c) 15% d) 75% e) 12,5% f) 32%

2) a) 450 b) 14,4 c) 243 d) 165 e) 441 f) 3,52 g) 40,64 h) 0,82

3) 80 4) 18 meninos e 22 meninas 5) [D] 6) [B] 7) [B] 8) [B] 9) [C] 10) [A]

11) R$ 24.883,20 12) R$ 5.154,03 13) R$ 22.038,52 14) R$ 352,83 15) [A] 16) [C]

17) [C] 18) [D] 19) [D] 20) [C] 21) [C] 22) [B] 23) [E] 24) [D] 25) [B]

26) [A] Desafio: [C] 27) a) 16,98% b) 10,25% c) 6,15% d) 10% e) 3,85%

28) R$ 5677,63 29) R$ 20522,65 30) [B] 31) [B] 32) [B] 33) [D] 34) R$
10465,50

35) R$ 200,00 36) a) R$ 3143,17 b) R$ 64401,59 37) a) R$ 606,00 b) 20 depósitos

38) [D] 39) [A] 40) [D] 41) [B] 42) [A] 43) [B] 44) [A] 45) [A]

48
Noções de Matemática Financeira
Leonardo Muniz e Thiago Jacomino

46)

Mês (n) Saldo devedor Amortização Juros Prestação


o 300000
1 244612 55388 12.000,00 67388
2 187008 57604 9.784,00 67388
3 127100 59908 7.480,00 67388
4 64796 62304 5.084,00 67388
5 0 64796 2592 67388
Total 0 300000 36940 336940

47)

Mês (n) Saldo devedor Amortização Juros Prestação


o 6000
1 5250 750 150 900
2 4500 750 131 881
3 3750 750 113 863
4 3000 750 94 844
5 2250 750 75 825
6 1500 750 56 806
7 750 750 38 788
8 0 750 19 769
Total 0 6.000 676 6676

49
Referências Bibliográficas

[de CARVALHO u. a. 2009] CARVALHO, Luiz Celso S. de ; Spuza ELIA, Bruno de ;


DECOTELLI, Carlos A.: Matemática Financeira Aplicada. Rio de Janeiro : FGV, 2009

[CHAVANTE und PRESTES 2016] CHAVANTE, Eduardo ; PRESTES, Diego: Quadrante


matemática: 2o ano: ensino médio, 1. ed. São Paulo : Edições SM, 2016

[IEZZI u. a. 2004] IEZZI, Gelson ; HAZZAN, Samule ; DEGENSZAJN, David: Funda-


mentos da Matemática Elementar - vol. 11. São Paulo : Atual, 2004

[LIMA u. a. 2006] LIMA, Elon L. ; CARVALHO, Paulo Cezar P. ; WAGNER, Eduardo: A


Matemática do Ensino Médio - Vol. 2. Rio de Janeiro : SBM, 2006

[MISSAGIA und VELTER 2006] MISSAGIA, Luiz ; VELTER, Francisco: Aprendendo


Matemática Financeira. Rio de Janeiro : Campus, 2006

[MUNIZ 2015] MUNIZ, Leonardo: Noções de Matemática Financeira no Ensino Médio.


Niterói : Dissertação de Mestrado - PROFMAT IME UFF, 2015

[ROBERT 1989] ROBERT, Jozsef: A origem do dinheiro. Rio de Janeiro : Global editora,
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[RODRIGUES und de Melo MENDES 2007] RODRIGUES, José A. ; Melo MENDES,


Gilmar de: manual de aplicação de Matemática Financeira. Rio de Janeiro : FGV, 2007

[SM 2014] SM, Edições: Ser protagonista: matemática: revisão: ensino médio, volume único,
1. ed. São Paulo : Edições SM, 2014

50

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