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Instituto de Geociências
Faculdade de Oceanografia
Belém - PA
2023
Introdução
El Niño, um fenômeno climático recorrente, exerce uma influência substancial na
produção pesqueira de áreas de ressurgência. Nas regiões de ressurgência, ventos
predominantes que sopram da terra em direção ao oceano transportam águas profundas ricas
em nutrientes para áreas mais rasas, promovendo uma proliferação de fitoplâncton e,
consequentemente, o florescimento de toda a cadeia alimentar marinha. No entanto, durante
os episódios do El Niño, ocorrem mudanças drásticas nos padrões de vento, resultando em
uma redução ou até mesmo na supressão das águas frias e ricas em nutrientes que
normalmente sustentam a vida marinha nas áreas de ressurgência. Isso desencadeia um
impacto negativo na produtividade pesqueira, uma vez que as populações de peixes e outras
espécies marinhas enfrentam escassez de alimentos e condições adversas, afetando
significativamente a pesca e as comunidades que dependem dela. Portanto, compreender a
dinâmica do El Niño e seu impacto nas áreas de ressurgência é crucial para a gestão
sustentável dos recursos pesqueiros e a adaptação das comunidades costeiras a essas
flutuações climáticas.
Discussão
Para entendermos o processo dos efeitos causados pelo El Niño na produção
primária, primeiro iremos descrever os fenômenos associados.
A ressurgência costeira ocorre segundo Pinet (2014), quando o vento sopra
paralelamente à costa em uma direção específica (dependendo do hemisfério), ele causa um
transporte de Ekman que afasta a água superficial da costa. Como resultado, a água mais
profunda precisa subir para preencher o espaço deixado pela água retirada, como mostra a
figura 1.
Figura 1: Transporte de Ekman ao longo de uma costa levando à ressurgência de
água fria ao longo da costa. À esquerda: Vista plana. Ventos do norte ao longo de uma costa
oeste no hemisfério norte causam transportes de Ekman afastando-se da costa. À direita:
Seção transversal. A água transportada para o mar deve ser substituída pela água que emerge
de abaixo da camada mista. Fonte: Introduction to Physical Oceanography (Stewart).
Regiões de ressurgência são muito produtivas, pois são as águas mais frias de fundo
que estão carregadas de nutrientes, com a ressurgência estes nutrientes alcançam a zona
eufótica, fertilizando o fitoplâncton, por isso regiões de ressurgência são locais altamente
produtivos. Podemos ter uma noção do quanto ao vermos a tabela 1 que mostra a variação da
produtividade primária anual.
No El Niño este índice é negativo, ao contrário da fase La Niña onde é positivo, tendo
como característica um aumento de 1 a 2º C na TSM (temperatura de superfície do mar), na
parte leste e central do Pacífico Tropical (VAREJÃO-SILVA, 2006). Ocorrendo um
deslocamento do centro de baixa pressão para o Pacífico central, dado que a PNM (pressão
do nível do mar) vai reduzindo no Tahiti e aumentando em Darwin, as águas do oeste do
Pacífico se resfriam (dado o enfraquecimento dos ventos alísios de sudeste), levando a uma
subsidência, criando uma corrente para o leste do Pacífico, com águas quentes se dirigindo na
faixa equatorial do Pacífico (VAREJÃO-SILVA, 2006). A figura 3 mostra essa “língua de
água quente” se movendo.
Figura 3: O El Niño, com as indicações dos ventos alísios e a formação da corrente de água
quente se voltando para o leste do Pacífico. Fonte: Fundamentos de Oceanografia (Pinet).
Anomalias da TSM
Figura 4: Impactos observados do El Niño no Pacífico Oriental (PO) e Central (PC)
em variáveis biológicas e física durante 1997-2012. Aumentos e diminuições são indicados
por anomalias positivas (vermelhas) e negativas (azuis), respectivamente. Em todos os
painéis, o pontilhado indica onde os coeficientes de regressão linear são significativos ao
nível de confiança de 90% ao longo de todo o período de 1997-2012. Fonte: Impact of El
Niño Variability on Oceanic Phytoplankton (Racault et al.). Adaptado.
Os impactos causados podem ser sintetizados nos quadros 1 e 2, o que podemos ver
é que temos algumas espécies vencedoras e outras que em face dos eventos climáticos sofrem
consideravelmente com as perdas causadas na biomassa de fitoplâncton. Quando da
ocorrência de uma La Niña temos uma inversão nos impactos, dado que a La Niña é um
evento extremo da situação padrão de alta produtividade da ressurgência.
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