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E URBANISMO
Programa de necessidades
e anteprojeto
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A construção de um edifício é um fenômeno complexo. Ela envolve
relações de interdependência entre recursos, profissionais e saberes
distintos. Uma tentativa de simplificação desse fenômeno pode ser feita
para trazer maior clareza quanto a sua estrutura, ressalvadas as distorções
inerentes a operações redutivas. Sendo assim, podemos afirmar que a
construção de um edifício apresenta duas fases: projeto e obra, e que a
fase projetual, por sua vez, divide-se em etapa inicial, intermediária e final.
Neste capítulo, você estudará as etapas iniciais do projeto: do pro-
grama de necessidades ao anteprojeto. Reconhecerá que são essas as
etapas garantidoras da qualidade da edificação, uma vez que representam
o momento em que o projetista tem controle do todo, e as consequências
das decisões tomadas podem ser rapidamente reavaliadas. Além disso,
você reconhecerá o partido geral, além de técnicas para sua avaliação.
Como até aquele momento a viagem era apenas uma ideia, uma mudança no
planejamento original seria fácil e envolveria apenas um redirecionamento
para outro destino. Agora, imagine que a mesma alteração fosse proposta na
véspera da sua viagem, quando as passagens aéreas já estivessem compradas,
o hotel confirmado a reserva e algumas agências de turismo já houvessem
enviado para o seu e-mail orientações sobre os passeios programados. Certa-
mente seria possível abandonar o planejamento, esquecer os gastos feitos até
aquele momento e elaborar um roteiro alternativo. No entanto, não há dúvida
de que a mudança no segundo cenário seria mais custosa, tanto em termos
de recursos como de energia.
Algo semelhante ocorre com o projeto arquitetônico. A origem do verbo
projetar é a palavra latina proiectus, que é a união do prefixo pro (à frente)
com iactus (particípio passado do verbo iacere, jogar). Esse "jogar à frente"
chegou até nós com o sentido de planejar algo. Logo, o projeto arquitetônico
corresponde ao planejamento da arquitetura. Trata-se de uma ferramenta para
testar, validar e invalidar hipóteses de concretização de um edifício. Assim
como no exemplo da viagem, nas etapas iniciais desse projeto, correções
ou alterações de curso são mais fáceis, pois envolvem menos interferência
no trabalho de outras pessoas e menor custo. Tradicionalmente, os teóricos
dividem o projeto de arquitetura em três fases: inicial, intermediária e final.
A nomenclatura não é consensual, Ludovico Quaroni (1980) afirma existir
uma fase inicial de “aproximação”; uma fase de “anteprojeto”, intermediária,
na qual uma proposta é desenvolvida em nível esquemático levando em conta
as críticas apresentadas pelo cliente e pelo projetista; e uma fase “executiva”,
destinada aos executores do projeto arquitetônico. Alfonso Corona Martínez
(2000) chama essas fases de “croquis preliminares”, “anteprojeto” e “projeto”.
A nomenclatura mais comum, no entanto, que é a mesma adotada pela Norma
Técnica (NBR) 6492, que disciplina a representação de projetos de arquitetura,
é a divisão do projeto em estudo preliminar, anteprojeto e projeto executivo
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS — ABNT, 1994).
Essas etapas dizem respeito à maneira de desenvolver um projeto arquitetô-
nico. Em relação ao objeto, existe outra ferramenta chamada programa de
necessidades, que é um documento que descreve as necessidades, exigências
e expectativas do cliente.
Programa de necessidades
O programa de necessidades é um instrumento cujo objetivo é trazer maior
entendimento para o que deve ser feito; qual será o objeto do projeto. Conforme
a NBR 6492, não se trata de uma fase do projeto, mas sim da “(...) caracterização
do empreendimento cujo(s) edifício(s) será(ão) projetado(s)” (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉ CNICAS — ABNT, 1994, p. 4). Ao enco-
mendar um projeto de arquitetura, o cliente, em geral, tem uma ideia do que
está contratando: uma casa ou um edifício para determinado terreno, uma
loja em uma sala comercial etc. Essa noção inicial também já pode estar um
pouco desenvolvida: uma casa com três quartos ensolarados e uma piscina. O
programa de necessidades é a formalização dessas demandas, daí seu nome.
Quanto a sua forma, geralmente é apresentado como uma lista de ambientes
ou funções que podem vir acompanhados de informações complementares,
como áreas e dimensões mínimas e máximas, dimensões de equipamentos
que devem ser considerados e alturas.
Trata-se, portanto, de um documento que reúne expectativas (conside-
rações objetivas e subjetivas em relação ao projeto) e exigências de ordem
técnica (previstas em normas, por exemplo). Portanto, sua elaboração tem
chances maiores de êxito se for elaborada em conjunto pelo cliente (pois
conhece melhor do que ninguém suas expectativas) e pelos projetistas, que
contam com o saber técnico para auxiliá-los. Esse instrumento individualiza
o objeto; logo, é possível utilizar desde técnicas simples (questionário para os
clientes) a técnicas sofisticadas como pesquisa de marketing e levantamentos
a partir de bancos de dados de projetos semelhantes, como em projetos
de incorporação imobiliária. Independentemente das técnicas adotadas,
sua função é criar subsídios para que os projetistas possam elaborar uma
proposta precisa com base em critérios objetivos e na formalização de
critérios subjetivos.
Por fim, adiantando os pontos que veremos a seguir, a congruência entre
o projeto e o programa de necessidades é uma das técnicas de avaliação da
solução adotada.
Estudo preliminar
O estudo preliminar é a primeira aproximação feita pelo projetista em relação
ao problema. É, por definição, uma etapa de alto grau de abstração. Imagine,
por exemplo, que você desenha um esquema de distribuição dos espaços de
uma residência em uma folha de papel. As linhas que o grafite de sua lapiseira
deixou no papel representam paredes de alvenaria? Se representam, qual a sua
espessura? 15, 25, 30 cm? É natural, e veremos que também é desejável, que
essas e outras definições não sejam abordadas nesse primeiro momento. É mais
importante que a atenção e a energia do projetista estejam concentradas em
aspectos mais amplos do projeto, como a relação das partes da edificação com
o entorno, dos espaços previstos no programa de necessidades entre si, e em
estratégias compositivas, para citar alguns exemplos. Uma das críticas feitas
ao lançamento de projetos de arquitetura diretamente no computador, seja em
softwares de CAD (Computer Aided-Design ou, em português, “desenho assis-
tido por computador”), ou ainda ferramentas mais sofisticadas como softwares
BIM (Building Information Model ou, em português, Modelo da Informação
da Construção), é o grau de precisão e definição que essas ferramentas exigem
desde os estágios iniciais, o que pode constituir uma distração principalmente
para aqueles que estão iniciando o estudo da arquitetura.
A NBR 6492 destaca que nesta primeira fase do projeto “(...) devem estar
representados os elementos construtivos, ainda que de forma esquemática,
de modo a permitir a perfeita compreensão do funcionamento do programa e
partido adotados, incluindo níveis e medidas principais, áreas, acessos, deno-
minação dos espaços, topografia, orientação” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS — ABNT, 1994, p. 5).
Giorgio Grassi (2003) é um arquiteto e teórico italiano que sustenta que uma
boa solução arquitetônica sempre expressa o problema de onde se parte. Uma
das interpretações que pode ser dada a essa afirmativa é que um bom projeto
Anteprojeto
O Instituto de Arquitetos do Brasil (2007, documento on-line) define o anteprojeto
como “[...] a configuração final da solução arquitetônica proposta para a obra,
considerando todas as exigências contidas no programa de necessidades e o estudo
preliminar aprovado pelo cliente”. Se no estudo preliminar é comum, e desejável,
que soluções distintas sejam colocadas à prova, há um momento, no entanto, em
que essa postura se mostra inviável. Imagine que, para um determinado edifício,
um escritório de arquitetura chegasse a três opções viáveis para construção e
desenvolvesse as três até o nível de detalhamento. Isso seria ignorar uma das
finalidades de um projeto, que é promover o uso racional e otimizado de recursos.
Ao mesmo tempo que um projeto de arquitetura define uma possibilidade ele exclui
A tríade vitruviana
Marcus Vitruvius Pollio apresentou, na sua obra De architectura, uma tentativa de sistema-
tização daquilo que seriam os três elementos fundamentais da arquitetura: firmitas, que se
refere à estabilidade e ao aspecto construtivo da arquietura; utilitas, associada à utilidade
ou finalidade da construção; e venustas, correspondente à beleza e à apreciação estética.
LUGAR CONSTRUÇÃO
FORMA
condição INTERNA ao projeto PERTINENTE
ESTRUTURAS
PROGRAMA
FORMAIS
ALIATA, F. Estrategias proyectuales: los géneros del proyecto moderno. Buenos Aires:
Sociedad Central de Arquitectos, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS — ABNT. NBR 6492: representação
de projetos de arquitetura. Rio de Janeiro, 1994.