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Avaliação da força de reação do solo durante a marcha com e sem a utilização de

bandagem funcional nos músculos flexores plantares do tornozelo - um estudo piloto

Article · January 2010

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8 authors, including:

Fábio Juner Lanferdini Rocha Clarice

Universidade Federal de Santa Maria Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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Gustavo Balbinot Cleiton Correa

University Health Network Canoas City
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ac artigo científico

Avaliação da força de reação

do solo durante a marcha
com e sem a utilização de
bandagem funcional nos
músculos flexores plantares
do tornozelo - um estudo
piloto
LANFERDINI Fábio Juner 1, ROCHA Clarice Sperotto dos Santos 1,2,
BALBINOT Gustavo 1,3, GUIMARÃES Verena 2, CORREA Cleiton 1,
PINHO Alexandre Severo do 3, BOHRER Roberta Castilhos Detânico 3,
ZARO Milton Antônio 1,3

1 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

2 Centro Universitário Metodista do IPA
3 Laboratório de Pesquisa em Biomecânica do IBTeC

Resumo

A bandagem funcional tem sido muito utilizada como forma
de tratamento de lesões, estabilização articular e facilitação da
ativação muscular. Contudo somente nos últimos anos a mes-
ma tem sido investigada sobre os seus efeitos no desempenho
muscular - ex. forças de reação do solo (FRS). Portanto, o objeti-
vo deste estudo piloto foi investigar os efeitos do
posicionamento da bandagem funcional sobre os músculos
flexores plantares do tornozelo durante a marcha descalça. Para
isso foram investigadas as componentes vertical e ântero-pos-
terior da FRS de um sujeito do sexo masculino durante a marcha
(5 Km/h). Para a maioria das variáveis analisadas não houve
diferenças consideráveis entre as duas situações: com e sem
bandagem. Verificou-se redução no tempo de contato (TC), este
podendo estar relacionado a alterações no Impulso de frenagem
e no Impulso de propulsão. Desse modo, conclui-se que a dinâ-
mica da marcha se altera com a utilização da bandagem funci-
onal, mas não a magnitude das forças envolvidas no movimen-
to. Futuros estudos que venham a investigar um grupo de sujei-
tos são necessários para identificar com maior fidedignidade
os efeitos e alterações da bandagem funcional na marcha de
sujeitos saudáveis.

Palavras-chave: bandagem funcional, forças de reação do solo, marcha

Abstract
Functional taping has been used as a treatment of injuries, joint
stabilization and facilitation of muscle activation however only
in recent years it has been investigated concerning their effects
on muscle performance (e.g. ground reaction forces). Therefore,
the purpose of this preliminary study was to investigate the
effects of taping placement on ankle plantar flexor muscles
during walking. Therefore we investigated the ground reaction
forces from one male subject during walking (5 km/h). For
most variables there were no significant differences between
the two situations: with and without banding. A reduction in
contact time (CT), this being probably related to changes in
braking impulse and propulsion impulse. Thus we concluded
that the dynamics of gait changes with the use of taping, but not
the magnitude of forces involved in the movement. Future
studies with a larger group of subjects are needed to investigate
the effect of taping on gait of healthy subjects with higher
reliability.

Keywords: taping, groups reaction forces, walking

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artigo científico.pmd 76 7/10/2010, 16:17


Introdução
A bandagem funcional tem sido ampla-
mente utilizada na área da reabilitação. A
utilização dessa técnica pode estar rela-
cionada com diversos objetivos como,
por exemplo: melhora da estabilização
articular (Purcell et al. 2009), facilitação
ou inibição da ativação muscular (Slupik
et al. 2007) ou promoção de
reposicionamento patelar (Christou,
2004).
As bandagens funcionais são con-
feccionadas em material com proprieda-
des elásticas e auto-adesivas que permi-
tem a realização dos movimentos de for-
ma mais funcional do que as bandagens
rígidas (Purcell et al. 2009). Por esse mo-
tivo, elas têm sido muito utilizadas na
área esportiva tanto no tratamento quan-
to na prevenção de lesões. A maioria dos
estudos com utilização de bandagem in-
vestiga o efeito de estabilização da mes-
ma posicionada sobre uma articulação
específica.
Dentre estes estudos, alguns têm in-
vestigado os efeitos da técnica Low-dye
sobre a pressão plantar de sujeitos sau-
dáveis. O' Sullivan et al. (2008) investi-
garam esta técnica de posicionamento de
bandagem sobre a pressão plantar de
sujeitos saudáveis durante a marcha. Os
autores encontram alterações na marcha
destes sujeitos, reduzindo a pressão plan-
tar na região do retropé. Russo e
Figura 1: Bandagem funcional posicionada sobre os músculos flexores plantares
artigo científico.pmd 77
Chipchase (2001) também investigaram
os efeitos da mesma técnica sobre a pres-
são plantar de sujeitos saudáveis duran-
te a marcha. Os autores encontram redu-
ção na pressão plantar no antepé, contu-
do, também encontraram aumento no
retropé. Os mesmos sugerem que as al-
terações na pressão plantar com o uso da
bandagem (Low-dye) alteram a pressão
plantar em sujeitos com pés normais.
Segundo McGregor et al. (2005) os
efeitos positivos na utilização da
bandagem podem estar relacionados
com a alteração na ativação muscular,
com a diminuição da sensação de dor
através da estimulação de receptores sen-
sitivos e com a melhora na
propriocepção a partir da ativação de re-
ceptores cutâneos.
Os efeitos do uso das bandagens
foram avaliados em diferentes regiões
do corpo humano através de diversos ti-
pos de análise: avaliação da atividade elé-
trica muscular através da técnica da
eletromiografia (Christou, 2004;
Macgregor et al., 2005), avaliação do
torque muscular (Slupik et al. 2007), ava-
liação da translação da articulação
talocrural (Wilkerson et al. 2005), estudo
dos ângulos de pronação e supinação da
articulação subtalar através da técnica da
cinemetria (Nishikawa et al. 2002) e aná-
lise de imagens da articulação do joelho
utilizando-se a ressonância magnética
(Derasari et al. 2010).
7/10/2010, 16:17
artigo científico ac
Apesar do grande número de estu-
dos em que foram analisadas as altera-
ções de parâmetros de locomoção, quan-
do da utilização de diferentes métodos
de medição, tratando-se de plataformas
de força, poucos estudos foram encon-
trados na literatura. Portanto, o objetivo
do presente estudo foi analisar as com-
ponentes vertical (Fz) e ântero-posterior
(Fx) da FRS em duas situações: marcha
descalça com e sem o uso de bandagem
funcional nos músculos flexores planta-
res do tornozelo em indivíduos saudá-
veis.
Materiais e métodos
O estudo foi realizado no Laboratório de
Pesquisa em Biomecânica do Instituto
Brasileiro de Tecnologia do Couro Cal-
çado e Artefatos (IBTeC), em Novo Ham-
burgo/RS. A amostra foi constituída de
um sujeito do sexo masculino, com ida-
de: 29,5 anos; massa: 69,5 Kg; estatura:
175,5 cm.
Instrumentos
A aquisição dos dados cinéticos de
FRS foi realizada através da utilização de
duas plataformas de força AMTI (mode-
lo OR6-7), taxa de amostragem de 2.000
Hz, disparadas por um trigger de 50N,
com buffer de 10% do sinal pré trigger.
As plataformas de força estavam alinha-
das a duas fotocélulas - equipadas com
Outubro 2010 77
ac artigo científico
sensores de infravermelho e conectadas
a um cronômetro digital (CASIO HS-3 com
unidade de medida: 1/100 de segundo),
para o controle da velocidade de progres-
são, a uma distância de três metros entre
elas. A marcha foi realizada com uma
velocidade de 5km/h (±10%).
Para os testes com bandagem, foi uti-
lizada a bandagem funcional marca (Nitto
Denko Kinesiology Tape) sobre a pele
revestindo os músculos gastrocnêmio
medial e lateral no sujeito com o objeti-
vo de favorecer a ativação dos músculos
flexores plantares do tornozelo (Figura
1).
Procedimento de coleta de dados
Inicialmente, o sujeito foi submeti-
do a um processo de adaptação e treina-
mento da marcha, em que foi realizada
caminhada em linha reta sobre as plata-
formas, colocando um pé em cada plata-
forma sempre dentro do intervalo de ve-
locidade estipulado. A seguir, iniciou-se
a coleta de dados, sendo adquiridos cin-
co ciclos de marcha completos para cada
condição: sem e com bandagem, estan-
do o sujeito descalço. Esse procedimen-
to foi adotado para evitar que possíveis
efeitos após a retirada da bandagem in-
Figura 2: Representação dos valores força de reação do solo nas curvas de forca vertical e ântero-posterior
78 Outubro 2010
artigo científico.pmd 78
terferissem no teste sem bandagem. Para
todas as passadas, sempre o pé direito
fez contato com a primeira plataforma e
o pé esquerdo com a segunda platafor-
ma. Antes de cada condição (com e sem
uso da bandagem) as plataformas foram
zeradas e foi realizada uma aquisição de
10 segundos com o sujeito em posição
semi-estática sobre cada plataforma para
que fosse possível a normalização dos
dados em função do peso corporal do
sujeito.
Processamento dos dados
Os procedimentos de análise dos
dados foram realizados por meio de uma
rotina no software LabVIEW® 8.5 (National
Instruments Corporation Austin, Texas,
USA). Foram adquiridas, calculadas e ana-
lisadas para as 5 curvas das componen-
tes vertical e Antero-posterior da FRS,
com (C) e sem (S) o uso da bandagem fun-
cional, para os membros inferior direito
(MID) e esquerdo (MIE) as seguintes vari-
áveis: valores médios do primeiro (PPFC
e PPFS) e segundo (SPFC e SPFS) picos de
força, tempo para o PPF (TPPFc e TPPFs) e SPF
(TSPFc e TSPFs), tempo de contato (TCC e
TCS), Impulso vertical (IvertC e IvertS),
Impulso vertical do PPF (IvertPPFC e
7/10/2010, 16:17
IvertPPFS), porcentagem do impulso verti-
cal no PPF (IvertPPF%C e IvertPPF%S), Impulso
de frenagem (IfrenagemC e IfrenagemS), Impul-
so de propulsão (IpropulsãoC e IpropulsãoS) e
Taxa de aceitação de peso (TAPC e TAPS),
conforme pode ser visualizado na Figu-
ra 2. Para a caracterização dos dados foi
utilizada a estatística descritiva, sendo
calculada as médias para os parâmetros
analisados.
Resultados e Discussão
A Figura 3 permite identificar o compor-
tamento das curvas de força vertical (FZ)
e ântero-posterior (FX) em situações de
caminhada: com e sem bandagem funci-
onal nos músculos flexores plantares.
A partir da observação dos gráficos
da Figura 3 identifica-se que o formato
da curva das componentes de FRS verti-
cal e ântero-posterior foram bastante se-
melhantes quando comparados mem-
bros direito e esquerdo, com e sem a uti-
lização da bandagem funcional, plotadas
de forma sobreposta as 5 tentativas (Fi-
gura 3a e 3d e Figura 3b e 3e). Da mesma
forma, pode-se identificar essa seme-
lhança quando sobrepostas as curvas
médias, com e sem a utilização da

bandagem funcional, para ambos os
membros (Figura 3c e 3f).
Além do formato das curvas verifi-
ca-se que os valores obtidos para os di-
ferentes eventos usualmente analisados
em curvas de força de marcha, tais como
primeiro e segundo picos de força, tam-
bém foram muito próximos para as duas
situações e ambos os membros. A seme-
lhança observada nas curvas de força
entre os membros direito e esquerdo de-
monstra, qualitativamente, a simetria do
sujeito analisado no estudo.
A Tabela 1 mostra os valores médi-
Figura 3: Comportamento da força de reação do solo (FRS) durante a caminhada com e sem bandagem funcional. Onde 3a, 3b e 3c = Membro
inferior direito e 3d, 3e e 3f = Membro inferior esquerdo. Forças de reação do solo vertical (Fvert) e ântero-posterior (Fap) são representadas
juntas nas figuras 3c e 3f
artigo científico.pmd 79
os do primeiro (PPFC e PPFS) e segundo
(SPFC e SPFS) picos de força, tempo para o
PPF (TPPFc e TPPFs) e SPF (TSPFc e TSPFs), tem-
po de contato (TCC e TCS), Impulso verti-
cal (IvertC e IvertS), Impulso vertical do
PPF (IvertPPFC e IvertPPFS), porcentagem do
impulso vertical no PPF (IvertPPF%C e
Ivert PPF%S), Impulso de frenagem
(IfrenagemC e IfrenagemS), Impulso de
propulsão (IpropulsãoC e IpropulsãoS), além da
Taxa de aceitação de peso (TAPC e TAPS).
A partir dos resultados expostos na
Tabela 1 verifica-se que, de modo geral,
a utilização da bandagem propiciou uma
7/10/2010, 16:17
artigo científico ac
diminuição dos valores médios para a
maioria das variáveis, tanto para o mem-
bro inferior direito como para o esquer-
do.
O primeiro pico de força é caracteri-
zado pelo valor máximo de força de rea-
ção do solo vertical no momento de con-
tato do calcanhar com o solo durante para
a execução do passo durante a marcha
(Figura 2). Segundo Amadio (1996) esta
variável, apresentando valores entre 1,00
e 1,20 vezes o peso corporal são consi-
derados normais, para indivíduos sau-
dáveis. Já o segundo pico de força ocorre
Outubro 2010 79
ac artigo científico

Tabela 1: Valores médios das variáveis de força e tempo, com e sem o uso da bandagem funcional no MID e MIE durante um protocolo de
caminhada

80 Outubro 2010

artigo científico.pmd 80 7/10/2010, 16:17


na fase de propulsão do pé para impulsi-
onar o mesmo para o passo seguinte du-
rante a marcha, correspondendo ao va-
lor máximo de força de reação vertical
durante a fase propulsão (Figura 2).
Neste estudo os valores de primeiro
e segundo picos de força estão dentro do
considerado normal, conforme Amadio
(1996), porém a aplicação da bandagem
funcional sobre os músculos flexores
plantares não alterou a magnitude do PPF
e do SPF. Estes resultados podem estar
relacionados aos resultados de
Ifrenagem (N.s), que ficou reduzido com
o uso da bandagem funcional. Por outro
lado, houve incremento do Ipropulsão
(N.s) com a utilização da bandagem fun-
cional.
Caracterizada pela tangente da reta
que une os pontos de 10 a 20% do início
da curva de força de reação vertical do
solo ao primeiro pico de força, a taxa de
aceitação do peso (TAP) consiste na for-
ma como o sujeito está amortecendo o
primeiro impacto na fase de recepção do
peso.
Com relação a esta variável identifi-
cam-se na Tabela 1 valores médios ligei-
ramente menores quando da utilização
da bandagem, para ambos os membros.
No trabalho de Soriano et al. (2010), em
que foram investigados os efeitos da
bandagem funcional nos grupos muscu-
lares flexor-plantar e fibulares, embora
tenham sido adquiridos dados de pres-
são plantar, também não foram obtidas
diferenças nas variáveis com a utiliza-
ção de bandagem funcional.
O objetivo do posicionamento da
bandagem utilizado no presente estudo
foi baseado na hipótese de facilitar a ati-
vação muscular (Christou, 2004;
Macgregor et al., 2005) e verificar se essa
facilitação poderia interferir nas variá-
veis cinéticas avaliadas. Assim, os resul-
tados deste estudo parecem confirmar
que o uso da bandagem funcional reduz
o TC relacionando estes resultados aos
valores de impulso de frenagem e pro-
pulsão. Contudo, este estudo precisa ser
mais bem elucidado, já que existe uma
artigo científico.pmd 81
escassez de estudos que tenham investi-
gado o efeito do uso da bandagem funci-
onal sobre músculos e sua interferência
na marcha e/ou corrida em sujeitos sau-
dáveis a partir da utilização de platafor-
mas de força.
Conclusão
O uso da bandagem funcional nos mús-
culos flexores plantares do tornozelo
reduziu o TC, consequentemente o TC
do PPF e do SPF, estas variáveis possivel-
mente estão relacionadas à redução do
Ifrenagem e incremento do Ipropulsão,
além de reduzir a TAP durante a marcha a
5 Km/h.
No presente estudo de caso, embora
se tenha analisado os resultados de um
único sujeito pode-se perceber que os da-
dos obtidos a partir da medição em pla-
taformas de força nas situações propos-
tas não apresentaram diferenças consi-
deráveis e passíveis de uma análise mais
fidedigna.
Isso pode ser em função de que as
maiores alterações proporcionadas pelo
uso da bandagem funcional tenham na-
tureza na interação músculo-tendínea e
não na aplicação das forças propriamen-
te ditas. Em outras palavras, a dinâmica
se altera, mas não a magnitude das for-
ças envolvidas no movimento.
Trabalhos futuros devem ser
direcionados a investigar melhor os efei-
tos da técnica da bandagem sobre estas
variáveis com um maior "n" amostral e
também a partir da utilização de outro
método de medição associado. Outra
possibilidade é testar a utilização da téc-
nica de bandagem em mais de um grupo
muscular simultaneamente.
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