Você está na página 1de 24

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/283122004

Comportamento das variáveis força e resistência abdominal e sentar e


alcançar no Projeto Esporte Brasil - PROESP-BR

Article · June 2008

CITATIONS READS

0 136

2 authors, including:

Alexandre Luis Ritter


Prefeitura Municipal de Porto Alegre
16 PUBLICATIONS 30 CITATIONS

SEE PROFILE

All content following this page was uploaded by Alexandre Luis Ritter on 24 October 2015.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


127

COMPORTAMENTO DAS VARIÁVEIS FORÇA E


RESISTÊNCIA ABDOMINAL E SENTAR E
ALCANÇAR NO PROJETO ESPORTE BRASIL –
PROESP-BR
Alexandre Luis Ritter
Fernanda Zago Guedes

Resumo
A postura corporal é resultado da interação de
fatores culturais, psicológicos, ergonômicos e biológi-
cos. Equilíbrio muscular e amplitude de movimento são
características individuais que contribuem na adequação
da postura. Ocorrência de dor pode ser observada quan-
do essas características deixam de existir, provocando de-
créscimo na qualidade de vida do sujeito. O objetivo deste
estudo é verificar o comportamento e as correlações das
variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sen-
tar e Alcançar no banco de dados do PROESP-BR. Na
pesquisa observou-se que há uma grande prevalência de
sujeitos abaixo da zona referenciada de saúde em ambas
as variáveis, ocorrendo isso em ambos os sexos e em
todas as idades. Todavia, não foi observada correlação
adequada entre as variáveis, evidenciando a existência de
outros fatores que podem estar favorecendo o arranjo
postural.

Palavras-chave
Postura corporal, força abdominal, amplitude de
movimento, qualidade de vida.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


128

Abstract
Body posture is a resultant of the interaction of
cultural, psychological, ergonomics, and biological factors.
Muscular balance and range of motion are individual
characteristics that contribute to a postural adequacy. Pain
occurrence may be observed when these characteristics no
longer exist, leading to a decreased quality of life. The aim
of this paper was to verify how Abdominal Strength and
Endurance Test and Sit and Reach Test behave and correlate
to each other in PROESP-BR data base. A great prevalence
of subjects under health target zone in both variables was
verified, among boys and girls, and over all ages. In spite of
that, no adequate correlation between the variables was
observed, which showed that there would be other factors
that may be acting on the postural arrangement.

Keywords
Body posture, abdominal strength, range of motion,
quality of life.

INTRODUÇÃO

A qualidade de vida é um conceito que agrega uma série de outras variá-


veis. Domínio psicológico, nível de independência, relações sociais, meio ambi-
ente, espiritualidade e físico são fatores que podem dar pistas de como o sujeito
se sente frente ao seu grupo social. No domínio físico, uma faceta importante é a
dor e o desconforto. A magnitude de ocorrência dessa faceta pode influenciar no
resultado final de uma avaliação da qualidade de vida do tipo proposto pela Or-
ganização Mundial da Saúde – WHOQOL (FLECK, 2000).

Dentre as diferentes afecções álgicas, a dor nas costas é uma das mais co-
muns e que mais causam afastamento do trabalho e das atividades cotidianas (FER-

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


129

NANDES et al., 2007). As dores nas costas são de difícil diagnóstico em função de
suas diferentes fontes de origem. A reorganização da dinâmica corporal tendo em
vista as atividades do cotidiano e o enfraquecimento/fortalecimento desequilibra-
do do corpo humano podem ser importantes causas dessas afecções.

A postura corporal humana é o resultado de um processo constante que


vem ocorrendo ao longo de milhões de anos de evolução da espécie. Desde o
momento em que os primeiro hominídeos começaram a apoiar o peso do corpo
exclusivamente sobre os pés, inúmeras alterações estruturais se processaram.
A articulação coxo-femural e a coluna talvez tenham sido os segmentos que mais
alterações sofreram nesse processo.

O quadril rodou posteriormente para acomodar a sustentação da coluna


que sofreu alterações nas suas curvas fisiológicas para dar conta das novas tarefas
às quais o novo homem foi submetido. Esse processo está em curso, pois as tarefas
cotidianas têm imposto ao homem a necessidade de encontrar novos arranjos
posturais. (Figura 1)

Figura 1 – Novas demandas culturais, necessidade de novos arranjos corporais


Fonte: http://www.eq.uc.pt/jorge/aulas/ambiente/pc/coisasdanet/net-evolucao.gif

As estruturas biológicas (dentre outros aspectos como os culturais e os


ergonômicos, por exemplo) que suportam a realização dessas tarefas do cotidiano

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


130

são inúmeras. Basicamente, os músculos responsáveis pela estabilização da coluna


vertebral são os flexores e extensores da articulação coxo-femural e os flexores e
extensores da coluna. Dentre o primeiro grupo, pode-se citar como muito impor-
tante para a mobilidade da coluna o músculo ílio-psoas e, para o segundo grupo, os
músculos abdominais (reto abdominal, oblíquo externo e interno).

O conjunto do músculo ílio-psoas é composto medialmente pelo psoas


maior e lateralmente pelo ilíacus. Esses músculos, associados ao quadrado lom-
bar, compõem o principal conjunto da região posterior da parede do abdômen.
A função principal do ílio-psoas é a flexão da coxa e, quando a coxa está fixada,
aquele músculo é o principal responsável pela flexão da coluna. Além disso, re-
presenta um músculo importante na manutenção da postura ortostática, já que
ele previne a hiperextensão da articulação coxo-femoral (BYRD, 2005). Sua loca-
lização (origem e inserção) é responsável, dentre os aspectos músculos-esqueléti-
cos, pela determinação do grau da lordose lombar.

Figura 2 – Conjunto de músculos que se situam na parede do abdômen.


Fontes: www.nubodysfitness.com/enews/november2004/fitnessfacts.htm
www.cascadewellnessclinic.com/graphics/2artgfx/29psoas.gif

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


131

O aumento da curvatura da lordose lombar, associada a sua perda de


mobilidade funcional, pode acarretar a limitação na amplitude de movimento da
coluna vertebral. O músculo ílio-psoas encurtado pode aumentar a curva lordó-
tica que, por sua vez, também pode reduzir a mobilidade da coluna.

A quantidade de movimento que uma articulação realiza, ou seja sua


mobilidade num determinado plano é chamada de amplitude de movimento
(ADM). A posição de referência ou inicial para se medir toda a ADM, exceto as
rotações no plano transversal, é a anatômica. A ADM normal também sofre
variações entre os indivíduos, tendo influência de fatores como idade, sexo e a
execução ativa ou passiva da mensuração do movimento (NORKIN e WHITE,
1997).

No caso da ADM da coluna, tem-se observado que o peso corporal e a


hora do dia em que é feita a análise da mobilidade também são variáveis interve-
nientes na amplitude de movimento (ENSINK et al., 1996).

Além disso, muitos são os fatores limitantes da ADM, como os ligamen-


tos, a cápsula articular, a tensão passiva do músculo, a proximidade dos tecidos
moles e o contato das superfícies articulares. Entretanto, acredita-se que os mús-
culos sejam, em grande escala, os maiores limitadores dos movimentos articula-
res (KAPANDJI, 1997).

Quadro 1: amplitudes de movimento ósseo da coluna vertebral


(adaptado de Kapandji, 1997)

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


132

Outro fator limitante é a falta de equilíbrio entre os músculos como, por


exemplo, entre a musculatura posterior e anterior. A falta de força na musculatu-
ra abdominal (região anterior) provoca um desequilíbrio postural e uma conse-
qüente sobrecarga na coluna que tende a hiperextender. O oposto ocorre quan-
do há uma lassidão muscular dos eretores da coluna (região posterior) e então o
tronco tende a fletir (MYERS, 2003).

Além das variáveis mencionadas, deve ser levado em consideração o tipo


de teste utilizado para medir a ADM da coluna. Muitos testes como o Teste “ponta
dos dedos no chão” (Fingertip-to-Floor Method) e o Teste “Sentar e Alcançar”
(Seat and Reach) não diferenciam o movimento da coluna do movimento da arti-
culação do quadril, fornecendo um resultado que não se limita à amplitude de
flexão da coluna. Da mesma forma, o Teste de Força e Resistência Abdominal
(Seat up), além de medir o desempenho dos músculos abominais, por sua forma de
execução, verifica também a participação do músculo ílio-psoas.

Apesar dessas limitações por suas características de execução, ambos os


testes não podem ser desqualificados enquanto medidas precisas e objetivas. Seus
protocolos de aplicação são bastante claros e o resultado é de fácil entendimento
(PROJETO ESPORTE BRASIL, 2006).

Objetivo

Este trabalho visa a verificar o comportamento das variáveis Força e Resis-


tência Abdominal e teste de Sentar e Alcançar a partir de dados do PROESP-BR.

Questões de pesquisa

- Qual o comportamento em diferentes idades das variáveis Força e Re-


sistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


133

- Qual o comportamento em meninos e meninas nas variáveis Força e


Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Qual o comportamento em diferentes idades de meninos e meninas


das variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Qual a prevalência de sujeitos na zona saudável nas variáveis Força e


Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar?

- Há correlação entre as variáveis Força e Resistência Abdominal e Teste de


Sentar e Alcançar?

- Qual a proporção de crianças em risco de prevalência de dor nas cos-


tas, levando-se em consideração as variáveis Força e Resistência Abdomi-
nal e Teste de Sentar e Alcançar?

MÉTODO

O presente trabalho é um estudo transversal de viés eminentemente quanti-


tativo. Utilizou-se de estatística descritiva e inferencial para alcançar seus resultados.

População e amostra

Este estudo foi realizado com base no banco de dados do PROESP, com
informações coletadas entre 2003 e 20061 .

A amostra é composta de 67227 crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos


de idade provenientes do Distrito Federal e de todos os Estados da Brasil. O
quadro 2 apresenta dados relativos à amostra deste estudo.

1
O acesso ao banco de dados do PROESP-BR foi gentilmente franqueado pela sua coordena-
ção. Especial agradecimento ao Dr. Adroaldo Cézar de Araújo Gaya (Coordenado Geral do
Grupo de Pesquisa) pela prontidão em atender nossos pedidos de informação.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


134

Quadro 2 - Descrição da amostra

Análise estatística

Para responder às questões de pesquisa foi utilizada a estatística descriti-


va mediante análise de freqüência e a estatística inferencial através da ANOVA
One-way, teste t de Student e correlação linear de Pearson.

RESULTADOS

A seção de resultados está subdividida em seis subseções, corresponden-


tes às questões de pesquisa explicitadas anteriormente. Foi avaliada a existência
de diferença significativa entre as variáveis com a utilização do teste t de Student
para amostras independentes e da ANOVA One-way e do teste post-hoc de Bon-
ferroni.

Comportamento das variáveis em diferentes idades

Na variável Força e Resistência Abdominal, foi verificada diferença esta-


tisticamente significativa entre todas as faixas etárias. Foi observada, apenas entre

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


135

os 16 e 17 anos, uma diminuição significativa. A variável Sentar e Alcançar não


apresentou o mesmo comportamento. Entre os 7 e os 8 anos não houve variação
significativa. Há um aumento significativo entre os 8 e 9 anos (p=0,047). Entre
os 9 e os 14 anos não há variações significativas. Entre os 14 e 15 anos há um
novo aumento significativo de desempenho no teste (p=0,000) e entre os 15 e 17
anos, não há variações significativas.

Figura 3 – Comportamento das variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar

Tabela 1 – Comportamento das variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


136

Comportamento das variáveis entre meninos e meninas

As variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcançar na totali-


dade da amostra apresentaram um diferença estatisticamente significativa entre
meninos e meninas (p=0,000). Na Figura 4, está representada a média dos gru-
pos e, na Tabela 2, há dados pormenorizados dos resultados.

Figura 4 – Média das variáveis agrupadas por sexo

Tabela 2 – Dados das variáveis agrupados pelo sexo dos participantes

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


137

Comportamento das variáveis entre meninos e meninas de diferentes


idades

Na variável Força e Resistência Abdominal para o grupo masculino, foi


verificado um aumento estatisticamente significativo entre as idade de 8 e 9 anos,
assim como entre os 10 e 16 anos. Entre os 16 e 17 anos, foi observada uma
diminuição estatisticamente significativa no desempenho deste teste. No grupo
feminino, foi observado um aumento nesse desempenho entre os 9 e 10 anos,
11 e 13 anos. Entre os 16 e 17 anos observou-se uma diminuição estatisticamente
significativa.

Na variável Sentar e Alcançar para o grupo masculino, foi observa-


do um aumento estatisticamente significativo apenas entre as idades de 14 e
15 anos. Para o grupo feminino, não se observou nenhuma diferenças esta-
tisticamente significativa entre nenhuma faixa de idade. Na Figura 5, está
representado o comportamento das variáveis. Na Tabela 3, estão os dados
completos.

Na avaliação entre o grupo masculino e o grupo feminino, em dife-


rentes idades, observou-se que o primeiro tem desempenho significativamente
superior em todas as faixas de idade para a variável Força e Resistência Abdo-
minal. O inverso ocorre com a variável Sentar e Alcançar, na qual o grupo
feminino tem médias significativamente superiores ao grupo masculino em to-
das as faixas de idade.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


138

Figura 5 – Comportamento das variáveis agrupadas por idade e por sexo

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


139

Tabela 3 – Comportamento das variáveis em diferentes idades para os grupos masculino e


feminino

Prevalência de sujeitos na zona saudável

Para o estabelecimento da prevalência de sujeitos na zona saudável para


aptidão física (ZSApF), foram utilizados os parâmetros do PROESP.

O que se observa nesses dados é que na variável Força e Resistência


Abdominal do grupo masculino, em torno de 1/3 da amostra se encontra abaixo
da zona saudável recomendada (25,6%-31%). No grupo feminino, esse resultado
é um pouco pior, ficando a prevalência geral em torno de 35% (32,1%-40,5%).

Em relação à variável Sentar e Alcançar, a situação é bem pior, tanto para


o grupo masculino como para o grupo feminino. No primeiro, os percentuais
abaixo da zona saudável recomendada situam-se em torno de 32,4% - 62,1%.
Dados semelhantes são observados no grupo feminino, 33,2% - 66,6%.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


140

Figura 6 – Freqüência da ZSApF para Força e Resistência Abdominal

Figura 7 – Freqüência da ZSApF para Sentar e Alcançar

Tabela 4 – Freqüência observada nos grupos de idade e sexo em relação à Zona Saudável
para Aptidão Física para Força e Resistência Abdominal

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


141

Correlação entre as variáveis em estudo

Foi verificada, em um primeiro momento, a existência de correlação en-


tre as variáveis em toda a amostra. Considera-se uma correlação aceitável a partir
do r=0,50. Para este grupo foi observada uma correlação significativa, porém
muito baixa (r=0,105; p=0,000). Em um segundo momento, foi verificada a exis-
tência de correlação entre as variáveis com a amostra agrupada por sexo. Além
disso, foi observada uma correlação significativa, mas também muito baixa
(I r=0,129; p=0,000 - H r=0,156; p=0,000). Ambas as informações estão repre-
sentadas na Figura 8.

Foi ainda verificada a existência de correlação entre as diferentes faixas


de idade e sexo. Os resultados se repetem, sendo encontrada a correlação mais
alta (r=0,237; p=0,000) entre as variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar
e Alcançar para o grupo do sexo feminino de sete anos. Essa correlação apesar
de significativa continua sendo muito baixa. A relação completa das correlações
está apresentada na Tabela 5.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


142

r=0,129; p=0,000 r=0,156; p=0,000

Figura 8 – Correlação entre as variáveis na totalidade da amostra e agrupada por sexo

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


143

Tabela 5 – Correlação entre as variáveis agrupadas por idade e sexo

Sujeitos em situação de risco de dor

A dor nas costas pode ser um sintoma de alguma desorganização ou


desequilíbrio muscular entre flexores (i.e. abdominais e ílio-psoas) e extensores
da coluna. Jones et al. (2005) analisaram informações de adolescentes com e sem
dor recorrente nas costas. A regressão logística apontou reduzida amplitude de
movimento do quadril, flexão lateral da coluna, mobilidade sagital da lombar e
Força e Resistência Abdominal (medida pelo seat up) são fatores de risco para a
prevalência de dor nas costas.

No PROESP, é possível verificar a prevalência de participantes com 14 e


15 anos com níveis abaixo dos limites saudáveis tanto na medida do Sentar e
Alcançar (que equivaleria ao teste de Schober modificado aplicado por Jones et
al., 2005) como no teste Força e Resistência Abdominal (Seat up). Se fossem con-
siderados apenas estes dois fatores de risco, poderíamos encontrar até 22,07% do

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


144

grupo feminino de 14 anos com possível quadro dor. Na Figura 9, são apresenta-
das as prevalências de risco dos grupos masculino e feminino de 14 e 15 anos de
idade.

Figura 9 – Freqüência suposta de adolescentes com risco de dor nas costas

DISCUSSÃO

Os dados aqui relatados em relação aos índices de desempenho das vari-


áveis Força e Resistência Abdominal e Teste de Sentar e Alcançar estão em con-
sonância com os dados relatados pelo Grupo PROESP (2006).

Os dados apresentados pelos autores (op cit) se referem à população de


escolares do Estado do Rio Grande do Sul. Com relação à Força e Resistência
Abdominal, foi observada diferença estatisticamente significativa entre os gru-
pos masculino e feminino em todas as idades. Os dados do PROESP-RS apon-
tam para aumentos significativos para o grupo masculino apenas entre as idades
de 11 e 12 e 13 e 14 anos, diferentemente deste estudo. Aqui foi encontrada
diferença estatisticamente significativa (p<0,05) em quase todas as faixas de ida-
de, com exceção daquela compreendida entre os 8 e 10 anos. Em ambos os
estudos foi observada diminuição no desempenho do grupo masculino entre os
16 e 17 anos, e, neste estudo, essa diferença foi significativa.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


145

No grupo feminino, os dois grupos de população têm resultados seme-


lhantes apenas para as faixas de idade entre 16 e 17 anos, quando ocorre uma
diminuição significativa no desempenho da tarefa. Nos dois estudos, há um in-
cremento de desempenho ao longo do tempo, contudo tal aumento é significati-
vo entre os 9 e 10 e 11 e 13 anos de idade.

Com relação à variável Sentar e Alcançar, os dados referentes ao PRO-


ESP-RS e ao PROESP-BR concordam quando afirmam que o desempenho do
grupo feminino é significativamente superior ao grupo masculino em todas as
faixas de idade. Exceção ocorre nos 8 e 9 anos de idade, pois no PROESP-RS
essa diferença não é significativa e no PROESP-BR ela é observada.

Quando a variável Sentar e Alcançar é analisada ao longo do tempo nos


grupos masculino e feminino, os dois bancos de dados apresentam algumas dife-
renciações. No PROESP-RS, o grupo masculino apresenta uma tendência de
queda no desempenho entre os 7 e 10 anos, uma estabilização entre os 10 e 11
anos e uma tendência de aumento entre os 11 e 16 anos. Nos dados do PRO-
ESP-BR, essa tendência de queda é observada entre os 7 e 8 anos e posterior-
mente entre os 9 e 12 anos. Há então uma tendência de aumento significativo
apenas entre os 14 e 15 anos de idade. Uma tendência de queda é mais uma vez
vista entre os 16 e17 anos.

Em relação ao grupo feminino, os dados do PROESP-RS apresentam


uma tendência de redução entre os 7 e 10 anos (significativa entre 7-8 anos). Há
então uma melhora a partir dos 10 anos, com estabilização aos entre os 13 e 14
anos. Entre os 14 e 15 e 16 e 17, há um aumento significativo de desempenho
dessa tarefa. Nos dados do PROESP-BR, esses resultados são contraditórios. É
observada uma tendência de melhora no desempenho entre as idades de 7 e 16
anos e uma tendência de queda entre os 16 e 17 anos de idade.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


146

Análises posteriores sobre as influências regionais devem ser efetuadas


para tentar encontrar onde se localizam as diferenças nos resultados. Questões
como diferentes períodos de maturação sexual, hábitos de vida e de exposição a
práticas desportivas regulares e estados nutricionais em regiões diferentes pode-
riam ser fatores contribuintes para esses resultados incongruentes.

Os dados provenientes dos dois bancos de dados se mostram congru-


entes em relação à variável Força e Resistência Abdominal, uma vez que no
PROESP-RS a prevalência de abaixo da zona saudável para o grupo masculino
e feminino é de 53% e 66%, respectivamente. Nos dados dos PROESP-BR,
esses resultados são de 48% e 59%. Já os dados referentes à zona saudável da
variável Sentar e Alcançar, nos dois bancos de dados, apresentam algumas dis-
crepâncias. No PROESP-RS, a prevalência abaixo da zona saudável para os
grupos masculino e feminino é de 58% e 60%, respectivamente. Nos docu-
mentos do PROESP-BR, esses resultados são de 28% e 34%. Tal discrepância
pode estar localizada nos parâmetros utilizados em ambos os estudos. Se não
for isso, novos estudos precisam ser feitos para tentar encontrar a razão de
tamanha diferença, assim como sugerido anteriormente em relação às diferen-
ças regionais.

Em relação à análise da correlação entre as variáveis, não foi encontrada


nenhuma correlação significativa entre as variáveis Força e Resistência Abdomi-
nal e Sentar e Alcançar. Isso pode dever-se ao fato de o teste de sentar e alcançar
não mensurar somente a flexibilidade da coluna, mas sim de toda musculatura
posterior.

ENSINK et al. (1996), em seu estudo, compararam diferentes técnicas


de medida da mobilidade da coluna lombar em diferentes períodos do dia. Um
dos testes utilizados foi o “Teste ponta dos dedos no chão” (Fingertip-to-Floor
Method - FFM), em que, durante uma posição máxima de flexão do tronco, com

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


147

os joelhos completamente estendidos e os braços soltos em direção ao chão, a


distância da ponta do dedo médio até o chão é medida em centímetros. Sabe-se
que esse teste é um parâmetro incorreto na medida da ADM lombar, visto que
ele não diferencia os movimentos da coxa e da lombar e tampouco leva em con-
sideração a diferença de comprimento dos membros superiores. Da mesma for-
ma, a técnica de Schober também depende do comprimento dos músculos ísqui-
os-tibiais.

Outros fatores importantes que podem influenciar na ADM lombar são


o aquecimento dos músculos participantes e as mudanças na estrutura dos dis-
cos; dispersão do líquido para fora do núcleo pulposo do disco pode levar a uma
diminuição da tensão dos ligamentos anteriores e posteriores e dos músculos,
resultando num aumento da ADM lombar.

O estudo de ENSINK et al. (1996) é o primeiro a demonstrar provar de


que a confiabilidade e a validade dos métodos de medir a ADM lombar são
influenciadas pela hora do dia – o que concorda com os achados de Krämer e
Gritz (apud ENSINK et al., 1996), que mostraram diferentes alturas dos discos
intervertebrais durante a manhã e a noite.

No que se refere ao risco de se observar dor nas costas quando há um


fraco desempenho nas variáveis Força e Resistência Abdominal e Sentar e Alcan-
çar, os dados levantados neste estudo são preocupantes. A prevalência de risco
de dor nas costas em torno de 15% e 20% para os grupos masculino e feminino
respectivamente está em consonância com estudos internacionais de prevalência
de dor nas costas em populações desta faixa etária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo fazer uma breve e restrita avali-
ação do comportamento das variáveis relacionadas à saúde Força e Resistência

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


148

Abdominal e Sentar e Alcançar. Tais variáveis são componentes que necessitam


ser avaliados quando se pensa em estudar a postura corporal humana por sua
relação direta com os músculos que dão equilíbrio à coluna vertebral e a articula-
ção do quadril. Tal estudo está intimamente ligado às questões referentes à qua-
lidade de vida em geral e de crianças e adolescentes em específico. Quadros de
dor aguda, recorrente ou crônica podem afetar o desempenho das atividades
diárias e, por conseqüência, a qualidade de vida.

De forma alguma, os resultados aqui apresentados são conclusivos, pois


carecem de um olhar mais atento, contudo mostram que há necessidade de um
estudo mais aprofundado dessas variáveis que, em teoria, deveriam estar correla-
cionadas.

Sugere-se, para estudos futuros, agregar um instrumento que verifique a


prevalência de dor nas costas, a fim de identificar sua relação com a Força e
Resistência Abdominal e o teste de Sentar e Alcançar. Poder-se-ia realizar tam-
bém um estudo utilizando a análise fatorial, análise discriminante ou regressão
logística para verificar que outros fatores biológicos podem estar influenciando
estas variáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BYRD, J.W.T. Evaluation and Management of the Snapping Iliopsoas Tendon.


Techniques in Orthopaedics. n. 20, v. 1, p. 45-51, 2005.
ENSINK F.B., SAUR P., FRESE K., SEEGER D, HILDEBRAND T J. Lumbar
Range of Motion: Influence of Time of Day and Individual Factors on
Measurements. Spine. n. 21, v. 11, p. 1332-8, 1996.
FERNANDES P.M., SABINO NETO M., VEIGA D.F., ABLA L.E.F.,
MUNDIM C.D.A., JULIANO Y., FERREIRA L.M. Dores na coluna: avaliação
em pacientes com hipertrofia mamária. Acta Ortopédica Brasileira. n. 15, v. 4,
p. 227-230, 2007.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008


149

FLECK M.P.A. O instrumento de avaliação de qualidade de vida da Organização


Mundial da Saúde (WHOQOL-100): características e perspectivas. Ciência e
Saúde Coletiva n. 5, v. 1, p. 33-38, 2000.
JONES M.A., STRATTON G., REILLY T., UNNITHAN V.B. Biological risk
indicator for recurrent non-specific low back pain in adolescent. Br. J. Sports
Med. n. 37, p. 137-140. 2005.
KAPANDJI, I.A. Fisiologia Articular: Volume 2. 4. ed. São Paulo: Editora
Manole, 1980.
MYERS T.W. Trilhos anatômicos. Meridianos miofasciais para terapeutas
manuais e do movimento. Barueri, SP: Manole 2003.
NORKIN C.C., WHITE J.D. Medida do Movimento Articular: Manual de
Goniometria. 2. ed. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 1997.
PROJETO ESPORTE BRASIL – PROESP. Disponível em <http://
www.proesp.ufrgs.br>. Acesso em: 04/dez/2006.

Diálogo Canoas n. 12 p. 127 - 149 jan-jun 2008

View publication stats

Você também pode gostar