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RESUMO
Observações clínicas indicam que os indivíduos com disfunções no da articulação escapulotorácica envolvem a combinação de rotação
complexo articular do ombro descrevem o movimento de retorno da inferior (eixo perpendicular ao plano da escápula), inclinação anterior
elevação dos membros superiores (MMSS) como mais doloroso que a (eixo medial-lateral) e rotação interna (eixo vertical) seja o retorno rea-
elevação. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura lizado no plano frontal (retorno da abdução), sagital (retorno da flexão)
sobre as características biomecânicas da articulação escapulotoráci- ou no plano escapular. Dessa forma, o retorno da elevação dos MMSS
ca no retorno da elevação dos MMSS em indivíduos saudáveis e com resulta em reversão dos movimentos escapulotorácicos que ocorrem
disfunções no complexo articular do ombro. Para isso, foram realiza- durante a elevação, mas apresenta diferenças significativas nas posi-
das pesquisas nas bases de dados MedLine (PubMed), LILACS, Scielo ções angulares da articulação escapulotorácica em relação à elevação,
e PEDRo seguida de busca manual e, após análise de um total de 232 principalmente para os movimentos de rotação interna e inclinação
estudos encontrados, 14 foram selecionados por atenderam aos crité- anterior. A escassez de estudos que avaliaram as características biome-
rios de inclusão previamente estabelecidos. Desses, oito investigaram cânicas da articulação escapulototácica em indivíduos com disfunções
características cinemáticas, seis características eletromiográficas, sendo no complexo articular do ombro limita a compreensão da cinemática e
que dois estudos investigaram as duas características associadas e ape- atividade muscular nessa população específica.
nas dois apresentaram resultados relacionados a indivíduos com dis-
funções no complexo articular do ombro. Os resultados desses estudos Palavras-chave: Biomecânica, Escápula, Membros Superiores,
demonstraram que, durante o retorno, os movimentos tridimensionais Eletromiografia
ABSTRACT
Clinical observations have shown that subjects with disorders of the shoul- of the scapulothoracic joint involved a combined movement of downward
der joint complex describe the lowering of the arms to be more painful than rotation (axis perpendicular to the scapular plane), anterior tilt (medial-
their elevation. The relevance of the scapulothoracic joint is important in lateral axis), and internal rotation (vertical axis) in the frontal (lowering of
understanding the kinematics and muscle activity in the shoulder joint arm abduction), sagittal (lowering of arm flexion), and scapular planes.
complex, as well as the specific features of the arm-lowering movement. Thus, the lowering of the arms is considered to be a reverse movement of
Therefore, the aim of this study was to conduct a critical review of the bio- the scapulothoracic movements during arm elevation. However, there are
mechanical characteristics of the scapulothoracic joint during the lowering significant differences in angular positions of the scapulothoracic joint
of the arms in healthy subjects and in subjects with shoulder disorders. A when compared to arm elevation, especially in the downward rotation and
computerized search was performed in MEDLINE, SCIELO, LILACS and PE- tilt movements. The isolated muscular activity and the co-activation of the
Dro databases. Manual searching was then done and, after analyzing the scapulothoracic muscles gradually lessen during the lowering of the arms
232 studies that were found, 14 remained eligible to be included according and show lower magnitude than during the elevation phase. The scarcity of
to the inclusion criteria previously established. Of these, eight investigated studies that assess the biomechanical characteristics of the scapulothoracic
kinematic characteristics and six, electromyographical characteristics. Two joint in individuals with shoulder disorders limits the understanding of kine-
studies analyzed both characteristics, and only two gave results related matics and muscle activity in this specific population.
to individuals with shoulder disorders. The results of these studies showed
that during the lowering of the arms, the three-dimensional movements Keywords: Biomechanics, Scapula, Upper Extremity, Electromyography
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Cota EG, Faria CDCM.
ACTA FISIATR. 2011; 18(2): 83 – 90 Características biomecânicas da articulação escapulotorácica no retorno da elevação dos membros superiores: uma revisão da literatura
MMSS ocorre aumento da rotação interna Ebaugh DD, Medida tridimensional Retorno da elevação completa Inclinação anterior/ posterior,
Spinelli BA dinâmica – Sistema no plano escapular em tarefa rotação superior/ inferior,
escapular em relação ao tórax, através do eixo eletromagnético de alcance sentado em cadeira rotação interna/externa
(2010)20
vertical, que se mantém ao longo do movimen- Eletromiografia de superfície (sem contato com a escápula) Atividade EMG dos músculos
to, progredindo com leve aumento da rotação durante o movimento dinâmico Ângulos: 130º, 90º, 50º e 30º TA, TD e SA
externa ao término do retorno.7,8,16 Yano Y, et al Medida tridimensional Retorno da elevação completa Inclinação anterior/ posterior,
(2010)21 dinâmica – Sistema no plano escapular rotação superior/ inferior,
McClure PW, et al7 compararam os eletromagnético rotação interna/externa
movimentos de elevação e retorno dos
GC: Grupo Controle; SI: síndrome do impacto; CIVM: contração isométrica voluntária máxima;
MMSS, encontrando diferença na orienta- SA: Serrátil Anterior, TT: Trapézio Transverso; TA: Trapézio Ascendente; TD: Trapézio Descendente; SI: síndrome do impacto,
ção escapular entre esses dois movimentos, EMG: atividade eletromiográfica, EMGI: atividade eletromiográfica integrada
sendo,em média, 5º maior no retorno para o
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movimento de rotação superior durante am- ram uma relação de 0.37º de rotação inferior Por outro lado, Ludewig PM, et al 8 relata-
plitudes médias de retorno da elevação de escapulotorácica para cada grau de movi- ram maior inclinação posterior da escápula, em
60º e 120º nos planos sagital e frontal. Bra- mento umeral durante o retorno e 0.43º de média de 2º, durante o retorno quando compa-
man et al,16 avaliaram a relação entre a eleva- rotação superior na elevação, indicando que rado à elevação. Esses autores também compara-
ção glenoumeral e a rotação superior esca- maior contribuição da articulação escapulo- ram os movimentos de retorno da elevação nos
pular durante os movimentos de elevação e torácia ocorreu durante a elevação quando planos frontal, sagital e escapular, encontrando
retorno dos MMSS. Esses autores encontra- comparado ao retorno. maior rotação interna da articulação escapulo-
Tabela 2 - Resultados dos estudos que apresentaram as características biomecânicas da articulação escapulotorácica
durante o retorno da elevação dos membros superiores em indivíduos saudáveis
Estudo Resultados
Bull ML, et al Apenas análise descritiva: Diminuição gradativa da atividade EMG da porção ascendente do músculo trapézio e da porção inferior do músculo serrátil anterior.
(1990)12 Retorno da elevação no plano escapular:
TA: atividade EMG cessou no término do retorno em 13 participantes ou antes do término em 12 participantes
Porção inferior de SA: atividade EMG cessou antes do término da adução
Retorno da flexão no plano sagital:
TA: a atividade EMG cessou no término da extensão em 13 participantes ou antes do término em 12 participantes
Porção inferior de SA: atividade EMG cessou antes do término, com exceção de dois participantes.
Nos casos em que ambos os músculos cessaram a atividade EMG antes do término, a atividade da porção inferior de SA
cessou antes de TA nos movimentos de retorno da elevação no plano escapular e de retorno da flexão.
Filho JG, et al Apenas análise descritiva: Diminuição gradativa da atividade EMG de todas as porções do músculo trapézio durante
(1991)13 o retorno do movimento de elevação máxima no plano escapular e no plano sagital (retorno da flexão)
McClure PW, et al Apenas análise descritiva: Reversão dos movimentos de rotação superior rotação externa e inclinação posterior durante o
(2001)7 retorno da elevação no plano escapular, no plano sagital (retorno da flexão) e no plano frontal (retorno da abdução)
Plano escapular: reversão dos movimentos de rotação superior
Em média (DP): 50º (4,8), rotação externa em média: 24º(12,8) e inclinação posterior em média: 30º( 13) no plano escapular
Orientação escapular maior, em média de 5º, sendo maior para o movimento se rotação superior aos 120º e 60º
de posicionamento umeral no retorno, independente do plano de realização do movimento
Braman JP, et al Descritivamente, houve aumento da rotação interna escapular do inicio do retorno até 130º
(2009)16 de posicionamento glenoumeral, seguido por gradual redução da rotação interna escapular.
Estatisticamente, não houve diferença significativa entre elevação e retorno para rotação interna e inclinação posterior.
Valor mínimo de 33,2º± 5,2 e máximo 42,8º ± 8,7 (p< 0,05) para rotação interna. Redução do movimento de inclinação posterior
com inclinação anterior máxima de -11,8º ± 4,9 aos 15º e inclinação posterior máxima de 9,8º ± 7,5º aos 145º de posicionamento umeral.
Yoshizaki K, et al Retorno do movimento de rotação superior em média de 32,2º ± 5,6º para o lado dominante e 31,8º ± 5,8º para o lado não dominante.
(2009)19 Não houve diferença estatisticamente significativa para o movimento de rotação superior entre lados.
Descritivamente, houve declínio gradual da atividade EMG de todos os músculos e atividade EMG menor, quando
comparado à elevação. Houve diferença estatisticamente significativa na atividade EMG da porção descendente do
músculo trapézio entre lado dominante e não dominante (p<0,049), sendo menor no lado não dominante.
Ebaugh DD, Rotação externa escapular significativamente maior (p<0,01) em média 3,3º no retorno, quando comparado à elevação. Não
Spinelli BA houve diferença significativa entre as fases de elevação e retorno para rotação superior e inclinação posterior
(2010)20 Quantidade de atividade EMG durante o retorno significativamente menor dos músculos serrátil anterior, em média 48,9+/- 6,1 mV, porção
ascendente do trapézio, em média 71,8 +/- 13,2 mV e porção descendente do trapézio, em média 45,3 +/- 12,3 mV, em relação à elevação.
Redução de 61%, 42% e 39% na atividade EMG para as porções ascendente e descendente do músculo trapézio e do músculo serrátil anterior, respectivamente.
Yano Y, et al (2010)21 Reversão dos movimentos de rotação superior em média de 37,6 ± 7.2º no lado dominante e 44,8 º ± 6.8 no lado não
dominante; rotação interna em média de 37,9±- 6,5º no lado dominante e 39,5 ± 5,9 no lado não dominante; inclinação
posterior em média de 36,8 ±12,2º para o lado dominante e de 37,1 ± 12º no lado não dominante.
Não houve diferença estatisticamente significativa entre os lados para rotação superior (p=0,24), inclinação posterior (p=0,07) e rotação interna (p=0,98)
Fase terminal do retorno:
Escápulas bilaterais rodaram superiormente em 9 participantes, ocorrendo mais movimento
articular glenoumeral e menos movimento escapular (tipo glenoumeral).
Escápulas bilaterais não rodaram inferiormente em 4 participantes, ocorrendo mais movimento articular escapular e menos movimento
glenoumeral ( tipo escapulotorácico). Em 8 participantes ocorreram movimentos distintos entre lado dominante e lado não dominante.
Diferença significativa entre os dois tipos de movimento glenoumeral e escapulotorácico (p<0,02).
Vinte e seis ombros tipo glenoumeral e dezesseis ombros tipo escapulotorácico.
DP: desvio padrão, EMG: eletromiografia, SA: Serrátil Anterior, TT: Trapézio Transverso; TA: Trapézio Ascendente; TD: Trapézio Descendente
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torácica durante o retorno da flexão (diferença mente.22 A quantidade de coativação foi signi- Cinemática e atividade muscular
média de 7º) e menor rotação interna durante o ficativamente menor que a atividade muscular da articulação escapulotorácica
retorno da abdução dos MMSS (diferença mé- isolada, com diminuição progressiva de ambas durante o retorno da elevação
dia de 7.5º) em relação ao plano escapular. durante o movimento de retorno. Além disso, dos membros superiores em
Yano Y, et al 21 identificaram dois tipos os níveis de coativação de cada grupo sinérgico indivíduos com disfunções no
distintos de movimento escapular no térmi- foram significativamente diferentes durante o complexo articular do ombro
no do retorno em indivíduos saudáveis, que retorno dos MMSS.22 Dois estudos6,15 investigaram características
consistiram na presença de rotação superior e Um dos estudos evidenciou que a ativida- biomecânicas, sendo que um deles investigou
ausência de rotação superior escapular. Esses de muscular da porção ascendente do músculo a cinemática 6 e o outro a atividade muscular
autores também identificaram dois tipos de trapézio e da porção inferior do músculo serrá- escapulotorácica,15 durante o retorno da eleva-
movimentos durante a elevação e o retorno til anterior cessou antes do término do retorno ção dos MMSS em indivíduos com disfunções
dos MMSS: escapulotorácico e glenoume- em alguns participantes. Nesses casos a ativi- no complexo articular do ombro (Tabela 3). Os
ral. O primeiro tipo se caracterizou por mais dade do músculo serrátil anterior cessou antes dois estudos6,15 que investigaram esses desfe-
movimento escapular e menos movimento da porção ascendente do músculo trapézio.12 chos durante o retorno da elevação dos MMSS
glenoumeral, enquanto o tipo glenoumeral se Em três estudos14,19,21 houve a comparação compararam indivíduos saudáveis com indiví-
caracterizou por menos movimento escapular da cinemática e da quantidade de atividade duos com síndrome do impacto no ombro.
e mais movimento glenoumeral.21 A atividade muscular da articulação escapulotorácica en- Borstad & Ludewig6 avaliaram a cinemáti-
muscular escapulotorácica foi investigada em tre lados dominante e não dominante. Em dois ca escapular durante o retorno dos MMSS em
seis estudos.12-14,19, 20,22 estudos14,21 não foi encontrada diferença signi- trabalhadores sintomáticos e assintomáticos
Em síntese, todos eles demonstraram que ficativa entre lados com relação à cinemática 21 com exposição a realização de trabalho acima
ocorreu declíneo gradual da quantidade de e à atividade muscular,14 mas em um estudo19 da cabeça. Os autores desse estudo compa-
atividade eletromiográfica dos músculos esta- houve diferença significativa entre o lado do- raram a orientação escapular em diferentes
bilizadores da escápula (trapézio ascendente, minante e o não dominante para a atividade posições glenoumerais (120º, 100º, 80º, 60º
transverso, descendente e serrátil anterior) eletromiográfica. A atividade da porção des- e 40º) e evidenciaram diferenças significa-
durante o retorno da elevação dos MMSS no cendente do músculo trapézio foi menor no tivas na rotação interna escapular durante o
plano escapular, além de menor quantidade de lado não dominante quando comparado ao retorno aos 100º de posicionamento umeral,
atividade eletromiográfica quando comparado lado dominante durante o retorno.19 ocorrendo, em média, 1.2º a mais desse mo-
ao movimento de elevação. vimento em ambos os grupos. O grupo com
Faria CDCM, et al14 não encontraram di- Cinemática e atividade muscular síndrome do impacto apresentou alteração
ferenças significativas na atividade muscular da articulação escapulotorácica significativa na cinemática da articulação es-
(% CIVM) da porção ascendente do músculo durante o retorno da elevação capulotorácica quando comparado ao grupo
trapézio nas fases entre os ângulos de 150º e dos membros superiores após de indivíduos assintomáticos, em média, 1.8º
90º na qual houve níveis similares de atividade tarefa de fadiga a mais de rotação interna apenas no posicio-
muscular com redução significativa da ativida- De acordo com a literatura pesquisada, dois es- namento glenoumeral de 120º quando com-
de eletromiográfica nas demais fases do retorno tudos17,18 avaliaram o retorno da elevação dos parado ao grupo controle durante o retorno
da elevação dos MMSS. A porção transversa do MMSS em uma condição especial de avaliação da elevação dos MMSS.6
músculo trapézio apresentou maior similarida- da cinemática18 e da atividade muscular17 após Faria et al15 compararam a atividade mus-
de na quantidade de atividade muscular entre uma tarefa de fadiga da musculatura escapulo- cular isolada dos músculos serrátil anterior e
todas as fases durante o retorno, ocorrendo di- torácica. A tarefa de fadiga que precedeu a ava- porções ascendente, transversa e descendente
ferença significativa apenas nas fases entre inicio liação das características biomecânicas duran- do músculo trapézio e a coativação dos pares
do retorno até o ângulo de 90º e de fases entre te o retorno da elevação consistiu em manter sinérgicos serrátil anterior / porções ascen-
60º e o término do movimento. isometricamente a posição de “push-up”, modi- dente e serrátil anterior / porção transversa
A atividade da porção descendente do mús- ficada por apoiar os pés em “step” com a inten- do músculo trapézio durante o retorno entre
culo trapézio também foi estudada pelos autores, ção de manter a relação angular de 90º entre a indivíduos saudáveis e com síndrome do im-
demonstrando redução significativa na quantida- posição do úmero e o tronco.17,18 pacto no ombro durante o retorno. Os autores
de de atividade eletromiográfica nas fases entre o Borstad et al, evidenciaram que a tarefa de não encontraram diferença significativa entre
inicio do retorno até 90º e do ângulo de 90º ao fadiga contribuiu significativamente para o au- grupos na atividade eletromiográfica isolada
término do movimento de retorno e nas fases mento na quantidade de rotação interna e redu- de todos os músculos avaliados e na coativação
entre 90º ao término do movimento. O músculo ção da quantidade de inclinação posterior nos da porção ascendente do músculo trapézio /
serrátil anterior apresentou a maior redução na maiores ângulos de posicionamento glenoume- serrátil anterior.
quantidade de atividade eletromiográfica, sendo ral durante o retorno da elevação dos MMSS. Foram evidenciadas diferenças estatistica-
o único músculo que apresentou diminuição sig- Os autores também encontraram efeito signifi- mente significativas entre os grupos na coativa-
nificativa dos níveis de atividade eletromiográfica cativo do tempo nesses movimentos, indicando ção entre os músculos trapézio transverso / ser-
entre todas as fases analisadas.14 que a tarefa contribuiu para aumentar a taxa de rátil anterior, sendo significativamente menor
A coativação entre pares sinérgicos for- rotação interna e inclinação da articulação es- no grupo com síndrome do impacto. Houve
mados pelos músculos serrátil anterior e as cápulotorácica durante o retorno. Entretanto, redução na atividade eletromiográfica durante o
porções ascendente, descendente e transversa não houve interação ou efeitos principais signi- movimento completo de retorno dos membros
do músculo trapézio foi investigada em outro ficativos entre a tarefa de fadiga e o movimento superiores em ambos os grupos e lados, exceto
estudo dos mesmos autores citados anterior- de rotação inferior da escápula.18 entre as fases de 150º e 120º e 120º e 90º.15
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apresentando um padrão reverso ao da eleva- miográfica entre as fases do ínicio do retorno indivíduos a atividade do músculo serrátil an-
ção com maior ativação muscular no inicio e até 90º e do ângulo de 90º ao término do movi- terior cessou antes da porção ascendente do
menor ativação no final do retorno.14 De acor- mento.14 De acordo com a localização do centro músculo trapézio ascendente. Dessa forma, a
do com Faria et al,14 isso pode estar relacio- instantâneo de rotação, o trapézio descendente atividade muscular reduzida ou ausente desses
nado ao tipo de contração muscular em cada tem maior braço de força rotatória acima do ân- músculos pode contribuir para aumentar a ro-
movimento, a diferenças cinemáticas, às rela- gulo de 90º de posicionamento glenoumeral. tação inferior no término do retorno.
ções entre o comprimento do braço de força Entretanto, Faria et al,14 encontraram dife- A fadiga muscular é uma condição que
rotatória muscular e o centro instantâneo de renças significativas da atividade eletromiográ- pode contribuir para o desequilíbrio na ação
rotação descritos por Bagg & Forrest.25 fica da porção descendente entre as fases de 90º dos músculos da articulação escapulotorácica
Considerando as descrições biomecânicas ao término do retorno, indicando a ação da por- e disfunções cinemáticas associadas.18 Ela re-
realizadas por Bagg & Forrest,25 durante a ele- ção descendente até o término do movimento duz a capacidade do músculo de produzir força
vação, o centro instantâneo de rotação inicial- de retorno da elevação dos MMSS. A porção e a atividade eletromiográfica costuma aumen-
mente localiza-se próximo à raiz da espinha da transversa do músculo trapézio apresentou lon- tar a medida que o músculo se fadiga porque,
escápula e gradualmente, com a elevação dos go platô, indicando maior similaridade entre as na tentativa de manter o nível de tensão ativa
membros superiores, desloca-se em direção à fases. Diferenças significativas de atividade ele- no músculo, outras unidades motoras são re-
região da articulação acromioclavicular. Essa tromiográfica da porção transversa do músculo crutadas para compensar a força de contração
mudança altera o comprimento do braço de trapézio foram encontradas entre fases do início diminuída das fibras fatigadas.23
força rotatória dos músculos escapulotorácicos. ao ângulo de 90º e entre 60º e o término do mo- Dois estudos avaliaram a cinemática18 e ati-
O músculo serrátil anterior é o único que se vimento de retorno dos MMSS.14 vidade muscular17 após tarefa de fadiga em indi-
mantém em vantagem mecânica durante todo O único estudo encontrado que compa- víduos saudáveis, que consistiu em manter iso-
o movimento de elevação, o que pode explicar rou atividade muscular isolada e coativação metricamente a posição de “push-up”. A tarefa
o aumento progressivo em sua atividade eletro- entre indivíduos com e sem síndrome do im- de fadiga aumentou a quantidade de rotação in-
miográfica25 ao longo da elevação dos MMSS. pacto foi realizado por Faria CDCM, et al15 Os terna e reduziu a inclinação posterior nos maio-
Inicialmente, o músculo serrátil anterior autores evidenciaram diferenças significativas res ângulos glenoumerais durante o movimento
e a porção ascendente do músculo trapézio entre grupos somente na quantidade de coati- de retorno da elevação dos MMSS.18
apresentam comprimento adequado do braço vação do par de músculos trapézio transverso/ A tarefa contribuiu para o aumento na ati-
de força para realizar rotação superior da es- serrátil anterior, cuja coativação foi significa- vidade eletromiográfica do músculo trapézio
cápula. Entretanto, a mudança do centro ins- tivamente menor durante o movimento de ascendente nos ângulos glenoumerais de 120º,
tantâneo de rotação em direção a articulação retorno nos indivíduos com síndrome do im- 90º e 60º durante o retorno da elevação dos
acromioclavicular após 90º de elevação ume- pacto, exceto entre os ângulos de 150º e 90º.15 MMSS e houve redução significativa na coa-
ral reduz o comprimento do braço de força Entretanto, os autores do estudo não avaliaram tivação do par sinérgico serrátil anterior/tra-
da porção ascendente do músculo trapézio e a coativação entre os músculos serrátil anterior pézio descendente após a tarefa.17
aumenta o da porção descendente do músculo e trapézio descendente. Considerando a literatura pesquisada nes-
trapézio. Portanto, o pareamento de forças en- Borstad & Ludewig6 encontraram aumen- ta revisão, é evidente a necessidade de padro-
tre os músculos serrátil anterior/porção ascen- to significativo da rotação interna em indiví- nização da terminologia usada para a descrição
dente do trapézio no inicio da elevação altera duos com síndrome do impacto no ângulo dos movimentos da articulação escapulotorá-
gradualmente para o pareamento entre serrá- de 120º de posicionamento glenoumeral, que cica devido à variabilidade entre os estudos.
til anterior/ porção descendente do trapézio leva a maior deslocamento posterior da borda A Sociedade Internacional de Biomecâ-
ao final do movimento completo de elevação medial. Esses autores também evidenciaram nica26 apresenta recomendações para a pa-
umeral em pessoas saudáveis.25 A atividade ele- aumento significativo da rotação inferior aos dronização desses termos, considerando o
tromiográfica apresenta-se similar quando o 40º e 60º de posicionamento glenoumeral no movimento da escápula em relação ao tórax.
músculo não tem braço de força rotatória. 25 grupo sintomático, quando comparado ao gru- Recentes estudos que avaliaram a cinemática
O músculo serrátil anterior apresenta van- po assintomático. escapulotorácica têm utilizado essas recomen-
tagem mecânica durante todas as fases do mo- A rotação inferior da escápula durante o dações,8,16 enquanto outros estudos conside-
vimento de retorno, mesmo com a mudança retorno da elevação dos MMSS é realizada, ram o movimento da articulação escapulotorá-
do centro instantâneo de rotação. Isso explica principalmente, pelos músculos trapézio as- cica em relação à coluna vertebral.21,19
a diminuição significativa da atividade eletro- cendente e serrátil anterior.2 Em condições em Devido à variação da terminologia, deve-se
miográfica entre todas as fases do retorno.14 O que são avaliados os movimentos funcionais discernir corretamente a referência usada para
comprimento do braço de força das diferentes como no retorno da elevação dos MMSS, os descrição dos movimentos de rotação interna
porções do músculo trapézio difere devido à músculos não se contraem isoladamente. e rotação externa da escápula. Esta revisão da
mudança na localização do centro instantâneo De acordo com Faria et al, 15 a coativação literatura utilizou as recomendações da So-
de rotação. A porção ascendente do músculo eletromiográfica de pares sinérgicos deve ser ciedade Internacional de Biomecânica26 para
trapézio apresenta atividade muscular similar considerada ao comparar grupos de indivídu- a descrição dos movimentos da articulação
nas fases entre os ângulos de 150º e 90º nas os com e sem síndrome do impacto, pois a ati- escapulotorácica. Outra limitação encontrada
quais sua posição não apresenta vantagem me- vidade muscular isolada pode não representar nos estudos incluídos nesta revisão foi a va-
cânica, com redução significativa nas demais características clínicas e funcionais relevantes. riabilidade das posições de avaliação e planos
fases do retorno da elevação dos MMSS.14 A Um estudo 12 evidenciou que a atividade mus- de movimento, que foram padronizados em
porção descendente do músculo trapézio apre- cular ao término do retorno varia entre indi- alguns estudos14,15,22 enquanto em outros estu-
sentou redução significativa na atividade eletro- víduos saudáveis e evidenciou que em alguns dos 16,20 não houve padronização e consistiu na
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realização de atividades funcionais. A ausência disfunções no complexo articular do ombro, 13. Guazzelli Filho J, Furlani J, Freitas V. Electromyo-
graphic of the trapezius muscle in free movements
de padronização nas posições de avaliação e além de fornecer informações objetivas sobre of the arm. Electromyogr Clin Neurophysiol.
planos de movimento limita a comparação dos sinergias musculares presentes durante os 1991;31(2):93-8.
resultados dos estudos. movimentos funcionais. 14. Faria CD, Teixeira-Salmela LF, Goulart FR, Gomes PF.
Comparisons of electromyographic activity of scapular
Além disso, é importante apontar que A ausência de padronização das posições muscles between elevation and lowering of the arms.
a escassez de estudos que avaliaram as ca- de avaliação da articulação escapulotorácica, Physiother Theory Pract.2008; 24(5):360-71.
racterísticas biomecânicas da articulação terminologias para descrever os movimentos, 15. Faria CDM, Teixeira-Salmela LF, Goulart FRP, Mo-
raes GFS. Scapular muscular activity with shoulder
escapulotorácica em indivíduos com disfun- planos de movimento e métodos de análise re- impingement syndrome during lowering of the arms.
ções no complexo articular do ombro limita presentam limitações para avaliação dos movi- Clin J Sport Med. 2008; 18(2):130-6.
a compreensão da cinemática e atividade mentos escapulares e limita a comparação entre 16. Braman JP. Engel SC, LaPrade RF, Ludewig PM. In
vivo assessment of scapulohumeral rhythm during
muscular nessa população específica. Além os estudos. Além disso, os métodos de avaliação unconstrained overhead reaching in asymptomatic
de terem sido encontrados apenas dois es- da cinemática escapular têm custo elevado, difi- subjects. J Shoulder Elbow Surg. 2009; 18(6):960-7.
tudos6,15 que investigaram as características cultando sua utilização na clínica. Futuras pes- 17. Szucs K, Navalgund A, Borstad JD. Scapular muscle
activation and co-activation following a fatigue task.
biomecânicas da articulação escapulotoráci- quisas devem padronizar a posição de avaliação, Med Biol Eng Comput. 2009; 47(5):487-95.
ca em indivíduos com disfunções no com- os planos de movimento e realizar a avaliação 18. Borstad JD, Szucs K, Navalgund A. Scapula kinema-
plexo articular do ombro, ambos incluíam associada da cinemática com a ativação muscu- tic alterations following a modified push-up plus task.
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indivíduos com síndrome do impacto do lar em indivíduos saudáveis e com disfunções 19. Yoshizaki K, Hamada J, Tamai K, Sahara R, Fujiwara
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