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Artigo Original

Análise do apoio dos pés no


chão e a sua correlação com as
Disfunções Biomecânicas da
Articulação Ílio-sacra
Analysis of the support of the feet in the ground and your correlation with the Dysfunctions Biomechanics of
the Ílio-sacred Articulation

OLIVEIRA, André Pêgas de1 , OTOWICZ, Iurguen2.

RESUMO
Pretende-se analisar entre os indivíduos, segundo o tipo de disfunção ilíaca apresentada, a ocorrência de
efeitos da técnica corretiva empregada na modificação dos apoios plantares, observando a tendência ao pé
cavo, normal ou plano dos indivíduos manipulados e a prevalência ou não dessas alterações logo após a
manipulação osteopática. Utilizamos uma amostra de 35 indivíduos de ambos os sexos, os quais foram subme-
tidos a uma avaliação das suas articulações sacro-ilíacas, através do teste de Gillet. Em seguida realizaram
apoio estático sobre um pedígrafo, registrando-se então a impressão plantar. Após essa etapa, os indivíduos
passaram por uma manipulação osteopática para correção da disfunção ilíaca apresentada e tiveram um novo
registro dos apoios plantares. Com os resultados, os indivíduos foram divididos em 2 grupos de acordo com o
tipo de disfunção ilíaca apresentada: à direita anterior (DDA) e posterior (DDP). O mais numeroso foi aquele
portador de disfunção direita posterior (DDP), com 21 indivíduos, seguido por aqueles com disfunção direita
anterior (DDA), com 14. Os resultados mostram que um grande percentual de indivíduos (57%) sofreu alguma
alteração no apoio plantar após a manipulação ilíaca, alterando a sua classificação dentro dos critérios utiliza-
dos na pesquisa. Os indivíduos com DDP sofreram alterações que tendiam ao cavo em sua maior parte e os
indivíduos com DDA tenderam à normalização do apoio plantar. Conclui-se com isso que existe uma relação
biomecânica descendente entre a articulação ílio-sacra e os pés, haja vista que logo após a manipulação
1
Fisioterapeuta, osteopática observou-se sensíveis alterações no apoio plantar dos indivíduos.
docente da
UNIOESTE, FAG e
Escola de Terapia Palavras-chave: osteopatia, apoio plantar, disfunção ílio-sacra, estática.
Manual e Postural
Internacional,
Osteopata C.O.

2
Acadêmico do 4o ABSTRACT
ano de
Fisioterapia da It is intended to analyze the individuals, according to the type of dysfunction presented ilíaca, the occurrence
UNIOESTE – of effects of the used corrective technique in the modification of the plantar supports, observing the tendency
Universidade
Estadual do Oeste
to the concave, normal or plain foot of the manipulated individuals and the prevalence or not of these alterations
do Paraná - soon after the osteopathic manipulation. It was used a sample of 35 individuals of both sexes, who had been
Cascavel-PR. submitted to an evaluation of their sacro-ilíacs joints, through the test of Gillet. After that these same individuals
Artigo recebido had carried through static support on a pedígrafo, having registered their plantar impression. After that stage,
em 12 de the individuals had passed for an osteopathic manipulation for correction of the presented ilíac dysfunction and
novembro de
2003; aprovado
again had the register of the plantar supports. The individuals were divided in 2 groups according to the type of
em 03 de março presented ilíac dysfunction: to the previous right (DDA) and hind (DDP). The most numerous group was that
de 2004. carried of hind right dysfunction (DDP), with 21 individuals, followed for those with previous right dysfunction
Endereço para (DDA), with 14. The results show that a great percentage of individuals (65%) suffered some alteration in the
correspondência: plantar support after the ilíac manipulation, modifying its classification of the criteria used in the research. The
Prof. André Pêgas individuals with (DDP) suffered alterations that tended to the concave in its largest part and the individuals with
de Oliveira, Rua
Recife, 384 (DDA) tended to the normalization of plantar support. It is concluded there is a biomechanics descending
Centro relationship between the ílio-sacred articulation and the feet, it has seen that soon after the osteopathic
CEP:85810-030
Cascavel-PR manipulation a sensitive alteration was observed in the plantar support of the individuals.
E-mail:
andrecursos@pop.com.br
iurguen@hotmail.com Key words: osteopathy, plantar support, ílio-sacred dysfunction, static

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INTRODUÇÃO OBJETIVOS direito e esquerdo, foi avaliada
Segundo BIENFAIT (1989), O presente estudo teve como através do teste de Gillet (LEE,
“os apoios dos pés no chão objetivo verificar se existe uma 2001; BIENFAIT, 1997) conforme
condicionam toda a estática. Não correlação biomecânica entre a pode ser visto na Foto 1.
há boa estática sem bons apoi- articulação ílio-sacra e os pés,
os, sejam as deformações dos pela integração osteomuscular
pés causa ou conseqüência da entre as estruturas citadas, atra-
estática deficiente”. Ainda, con- vés das correções das disfunções
forme BRICOT (1998), “uma ilíacas, repercutindo em altera-
deformação ou assimetria qual- ções na descarga realizada pelos
quer dos pés repercutirá sem- pés no chão em todos os indiví-
pre mais acima e necessitará de duos estudados.
uma adaptação do sistema Por se tratar de um tema pou-
postural”. co explorado e dispormos na lite-
Estas citações despertam à ratura de algumas considerações
importância da boa estática, que associam o ilíaco (articulação Foto 1 - Teste de Gillet
Fonte: O autor
condicionada pelo bom apoio ílio-sacra) e o apoio plantar, bus-
dos pés no chão, e demonstra camos analisar entre os indivídu- Este consiste na avaliação
que a análise da sua mecânica os, segundo o tipo de disfunção biomecânica o qual mostra onde
patológica pode se tornar im- ilíaca apresentada, a ocorrência está a fixação na articulação sa-
precisa ao ser realizada isola- de efeitos da técnica corretiva cro-ilíaca. Ela pode estar no bra-
damente, tornando por muitas empregada na modificação dos ço menor, o que configura um
vezes o tratamento terapêutico apoios plantares, observando a ilíaco posterior no mesmo lado,
ineficaz por não relacionar uma tendência ao pé cavo, normal ou ou no braço maior, que configura
estrutura às outras. plano dos indivíduos manipulados um ilíaco anterior do mesmo lado.
Com relação à biomecânica e a prevalência dessas alterações O indivíduo esteve em pé e o
ascendente, KAPANDJI (2000) logo após a manipulação terapeuta atrás abaixado com
afirma que “a cintura pélvica é osteopática. seus olhos na altura da pelve do
considerada um conjunto que indivíduo. O terapeuta palpa as
transmite forças para a coluna MATERIAIS E MÉTODOS duas espinhas ilíacas póstero-su-
vertebral e membros inferiores. Os indivíduos analisados par- periores (EIPS) com o polegar, e
O conjunto formado pela colu- ticiparam de maneira voluntária pede para o indivíduo realizar
na vertebral, pelo sacro, ilíaco e esclarecida da presente pesqui- uma flexão de quadril e joelho até
e membros inferiores constitu- sa, sendo todos pertencentes à os 90o. O polegar do lado do
em um sistema articulado: por comunidade acadêmica da movimento deve abaixar. Se as-
um lado na articulação coxo- UNIOESTE (Universidade Estadu- sim o fizer, consideramos a arti-
femoral e por outro, a articula- al do Oeste do Paraná), campus culação sacro-ilíaca livre. Caso
ção sacro i l í a c a ”. Estas de Cascavel. contrário, devemos avaliar onde
interações entre as articulações Os critérios de inclusão eram está a fixação, colocamos então
da cintura pélvica e as suas in- o indivíduo apresentar uma o polegar que estava na EIPS
fluências sobre as estruturas à disfunção ilíaca direita anterior ou deste lado sobre o braço menor
distância, seja ascendente ou posterior, ter idade entre 19 e 23 (um dedo acima) e o outro dedo
descendentemente caracteri- anos e que pudesse receber uma ao seu lado, na mesma horizon-
zam a biomecânica estática. manipulação osteopática na tal. Pede-se então nova flexão de
Quando da existência de quais- disfunção ilíaca apresentada. Foi membros inferiores. Se o polegar
quer alterações de apoio, sejam utilizada uma amostra de 35 indi- sobre o braço abaixar este está
elas causativas ou não, obser- víduos de ambos os sexos. livre, caso contrário, existe uma
vam-se compensações adjacen- Para o desenvolvimento e fixação neste braço. O mesmo
tes e, evolutivamente, à distân- análise dos dados utilizou-se procedimento é repetido para o
cia, as quais são reunidas de como instrumento de mensuração braço inferior.
forma específica quando relaci- um pedígrafo (pedigrama), o qual Constatada a fixação na arti-
onadas com determinadas registrou as pressões exercidas culação sacro-ilíaca direita, o in-
assimetrias. Diante do que foi pelos pés, individualmente, du- divíduo teve então os seus dois
citado pelos referidos autores, rante a realização de uma des- apoios plantares registrados indi-
é possível acreditar que a inter- carga de peso unipodal e estática vidualmente sobre o pedígrafo e
relação funcional entre as es- com o pé descalço sobre o referi- em seguida o mesmo passou por
truturas da pelve e dos pés é do aparelho, o qual proporcionou uma manipulação osteopática cor-
bastante provável, e que a bus- o registro e a visualização das retiva na região correspondente.
ca da sua veracidade torna-se possíveis alterações de apoio Esta intitulada de Técnica de
importante e interessante para plantar dos indivíduos. Thompson (RICARD, 2000) é re-
a comunidade e terapeutas. A pelve, ilustrada pelos ilíacos alizada com o indivíduo em

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do mediopé (região com descar-
ga de peso impressa).
Com a finalidade de se anali-
sar e qualificar a repercussão da
manipulação ilíaca observou-se os
registros plantares anteriores e
posteriores à manipulação. Para
isso, classificamos as impressões
plantares utilizando a classifica-
ção do pé plano segundo VALENTI
Fotos 2 e 3 – Manipulação ilíaca posterior e anterior. (1979) apud BARROCO (2003),
Fonte: O autor
o qual utiliza os seguintes
decúbito ventral (DV) sobre uma gem nesse ponto inicial, a qual era parâmetros: pé cavo, quando o
mesa de drop. Quando o ilíaco projetada até o segundo interdígito. indivíduo tem a largura da impres-
está posterior (Foto 2), o lado a Após, outras duas linhas (L2 e L3), são plantar do médiopé (istmo)
ser manipulado é colocado em paralelas à primeira, eram traçadas menor que 1/3 da medida do
extensão de quadril e extensão nas duas bordas (medial e lateral) antepé. Pé normal, quando o in-
de joelho. A mão que manipula da região do antepé. Com essas divíduo tem a largura da impres-
fica sobre a superfície dorsal da duas linhas traçadas, tomava-se a são plantar do médiopé (istmo)
crista ilíaca (EIPS) e a mão que medida entre elas, com graduação correspondente a 1/3 da largura
coloca os parâmetros sobre a su- em milímetros, a qual corresponde da impressão plantar do antepé.
perfície ventral da coxa distal, à medida da largura da região do Grau 1, corresponde ao pé que,
com suporte do terapeuta para a antepé. na sua impressão plantar, apre-
perna do indivíduo, o movimento senta a largura do médiopé su-
corretivo é aplicado de forma oblí- perior a 1/3 da largura do antepé.
qua em direção à mesa de drop. Grau 2 é considerado o pé que
Se a disfunção for anterior (Foto possui a medida do médiopé su-
3), então as mãos sobrepostas perior a ½ da largura do antepé.
tomam um contato com o ísquio Grau 3 é o pé que apresenta a
homolateral e realizam um impul- medida da região de médiopé
so em direção ao solo. superior à largura do antepé e
Logo após, o indivíduo realizou Grau 4 corresponde ao pé plano
mais uma vez o apoio estático so- que apresenta um abaulamento da
bre o pedígrafo, a fim de colher no- borda medial, surgindo a imagem
vamente as impressões plantares. semilunar lateral. (Figura 2)
Os indivíduos que passaram
pela manipulação ilíaca foram divi-
didos em 2 grupos de acordo com
o tipo de disfunção ilíaca, ou seja: Figura 1- Representação das linhas de
referência.
disfunção direita posterior (DDP) e Fonte: O autor
disfunção direita anterior (DDA). A
verificação das alterações nos re- Logo após encontramos a me-
gistros plantares levou em conside- dida da região do mediopé, a qual
ração não apenas o pé homolateral é delimitada anteriormente pelos
à disfunção , como também o pé metatarsos e posteriormente pelo
contralateral à mesma. início da curvatura do calcâneo.
Com as impressões plantares Essa medida foi obtida da seguin-
obteve-se as medidas das des- te maneira: tendo como referên-
cargas de peso. Tal medida foi cia a linha L1, traçamos outras
obtida tomando-se a divisão do duas linhas perpendiculares à ela
pé em 3 regiões: antepé (região ( L4 e L5) na região correspon-
que compreende os artelhos e os dente ao ponto mais extremo do
dedos); mediopé (compreenden- retropé (L4) e na região mais ex-
do a região do arco plantar longi- trema do antepé (L5), excluindo
Figura 2 - Classificação da impressão plantar
tudinal); e retropé a qual a região dos dedos. Com o ponto segundo os critérios de VALENTI (1979).
corresponde ao calcâneo. médio da distância entre as linhas A = Normal; B = Grau 1; C = Grau 2; D = Grau
3; E = Grau 4
Inicialmente encontramos o L4 e L5, traçamos outra linha per-
ponto médio transversal da região pendicular à linha L1, a qual indi- Fonte: BARROCO, R; VIANA, S; SALOMÃO, O.
Pé plano adquirido do adulto por disfunção do
do retropé. Em seguida com auxílio ca a região do mediopé e de onde tendão tibial posterior. Sociedade Brasileira de
de uma régua simples, traçamos com o auxilio de uma regra to- Medicina e Cirurgia do pé. São Paulo – SP,
2003, pg 16.
uma linha L1 (Figura 1) com ori- mamos a medida em milímetros

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RESULTADOS DISFUNÇÃO ILÍACA X INDIVÍDUOS
Os 35 indivíduos da pesquisa
estão divididos em 2 grupos de
acordo com a disfunção ilíaca,
anterior ou posterior. Sendo que
21 (60%) apresentaram disfunção
ilíaca direita posterior (DDP) e 14
(40%) disfunção ilíaca direita an-
terior (DDA). (Gráfico 1)
No grupo com disfunção ilíaca
direita posterior (DDP), dos 21
indivíduos, 12 (57,14%) apresen-
taram alguma alteração na clas- Gráfico 1- Distribuição dos indivíduos por disfunção ilíaca.
sificação do tipo de pé após a ma- Fonte: O autor
nipulação e, considerando os dois
pés desses 12 indivíduos (num
TABELA 1 - DISTRIBUIÇÃO DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NOS
total de 24 pés portanto), 16 des-
PÉS DOS INDIVÍDUOS DO GRUPO COM DDP
ses pés tiveram alguma mudan-
ça na classificação quanto ao tipo
de pé, de ambos os lados
Dos 16 pés do grupo com DDP
(Tabela 1), 5 (31,25%) passa-
ram do normal para o cavo, sen-
do quatro no pé esquerdo e um N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1; P2 = Pé plano tipo 2.
no pé direito; 2 (12,5%) passa-
ram do cavo para o normal, sen-
do um em cada lado; 3 (18,25%) TABELA 2 - DISTRIBUIÇÃO DAS ALTERAÇÕES OCORRIDAS NOS
passaram do pé plano tipo I para PÉS DOS INDIVÍDUOS DO GRUPO COM DDA
o pé normal, sendo um no pé di-
reito e dois no esquerdo; 1
(6,25%) passou do normal para o
pé plano tipo I, no pé direito; 3
(18,25%) passaram do pé plano
tipo I para o cavo, sendo um no pé
N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1; P2 = Pé plano tipo 2.
direito e dois no esquerdo; 1
(6,25%) passou do tipo cavo para
o pé plano tipo I no pé esquerdo e
apenas 1 (6,25%) indivíduo pas-
sou do pé plano tipo II para o pé
plano tipo I, ocorrido no pé direito.
No grupo com disfunção ilíaca
direita anterior (DDA), de um to-
tal de 14 indivíduos, 8 (57,14%)
apresentaram alguma alteração
na classificação do tipo de pé após
a manipulação, e, considerando os
dois pés desses 8 indivíduos (num
total de 16 pés portanto), 10 des-
ses pés tiveram alguma mudança
nessa classificação quanto ao tipo
de pé, de ambos os lados.
Destes 10 pés (Tabela 2), 3
Gráfico 2 - Distribuição dos indivíduos com alguma alteração de apoio e distribuição de pés com
(30%) passaram do normal para o alteração após a manipulação.
cavo, sendo um no pé esquerdo e Fonte: O autor
dois no pé direito; 3 (30%) pas-
saram do cavo para o normal, sen- passou do tipo cavo para o pé pla- alguma alteração de apoio plan-
do um no pé esquerdo e dois no no tipo I, ocorrido no pé direito. tar em um ou em ambos os pés e
pé direito; 2 (20%) passaram de Tendo em vista o total de in- um total de 26 pés (37%) com
pé plano tipo I para o normal, sen- divíduos (35) e o total de pés (70), alguma alteração após a manipu-
do um de cada lado; 1(10%) pas- houve uma incidência de 20 indi- lação ilíaca (Gráfico 2).
sou do pé plano tipo I para o cavo, víduos (57%) que apresentaram Classificando as alterações
sendo no pé esquerdo e 1 (10%)

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posterior, concordando com os
TABELA 3 - DISTRIBUIÇÃO DAS MUDANÇAS DE CLASSIFICAÇÃO
achados da presente pesquisa.
DOS TIPOS DE PÉS, CONSIDERANDO AS DUAS DISFUNÇÕES
Com relação à Tabela 2 que
ILÍACAS.
apresenta o grupo com DDA,
também considerando valores
totais, notamos uma tendência
a normalização das medidas em
mediopé, onde, dentre 10 pés
com alteração após a manipu-
N = Normal; C = Cavo; P1 = Pé plano tipo 1; P2 = Pé plano tipo 2. lação, 5 passaram à normalida-
de, tanto de cavo como de pla-
no tipo 1 para normal.
DISFUNÇÃO ILÍACA DIREITA Na Tabela 3, que mostra as
alterações no tipo de pé consi-
derando as duas disfunções
ilíacas, percebe-se generica-
mente uma maior tendência ao
cavo, com 12 pés; seguida de
normalização com 10. Esse re-
sultado demonstra que, de for-
ma geral, em nosso trabalho a
manipulação ilíaca levou a uma
tendência de diminuição do
apoio plantar no arco externo
(região de mediopé).
Gráfico 3 - Distribuição percentual das alterações nos pés considerando as duas disfunções ilíacas. Finalmente, percebe-se no
Fonte: O autor Gráfico 3 que a repercussão da
manipulação osteopática ocor-
ocorridas nos pés dos indivídu- com alterações relacionadas reu de maneira quase que equi-
os por tipo de pé (conforme (Gráfico 3), 12 (46%) destas valente entre os lados de apoio
VALENTI, 1979) antes e após a foram no lado homolateral à no pé, porém com prevalência
manipulação considerando as disfunção e 14 (54%) no lado percentual do lado esquerdo. Ou
duas disfunções ilíacas, de um contralateral. seja, manipulando o lado direi-
total 26 pés alterados (Tabela to, além de poder haver altera-
3), 8 (30,8%) passaram do nor- DISCUSSÃO ção de apoio homolateral, o pé
mal para o cavo (N=>C), sen- Observando-se a Tabela 1, contralateral também poderá
do três direito e cinco esquer- considerando valores totais po- sofrer mudança em seu apoio.
do; 5 (19,2%) passaram do demos perceber com esses da- Segundo (LÓPEZ 2001;
cavo para o normal (C=>N), dos que além de ser o grupo GAGEY e WEBER, 2000), para
sendo três direito e dois es- (DDP) com a maior quantidade entender qual a relação do con-
querdo; 5 (19,2%) passaram do de indivíduos, foi o que mais junto pelvipodálico devemos
pé plano tipo I para o normal apresentou alterações do pé lembrar destes dois conceitos:
(P1=>N), sendo dois direito e normal passando ao cavo a posição das peças óssea do
três esquerdo; 1 (3,8%) passou (N=>C) e do pé plano tipo 1 corpo é determinada pelo tônus
do normal para o plano tipo I passando ao mesmo cavo dos músculos que nelas são in-
(N=>P1), sendo do lado direi- (P1=>C), o que evidencia uma seridos e que as superfícies ar-
to; 4 (15,4%) passaram do pla- grande tendência de indivíduos ticulares têm seus próprios ei-
no tipo I para o cavo (P1=>C), com essa disfunção ilíaca apre- xos mecânicos que definem a
sendo um direito e três esquer- sentarem uma diminuição no amplitude e dirigem os movi-
do; 2 (7,7%) passaram do cavo apoio plantar em mediopé após mentos das peças ósseas. En-
para o plano tipo I (C=>P1), manipulados. Além disso, nes- tão, qualquer mudança do tônus
sendo um de cada lado e 1 se grupo estava o único caso de causará modificações posicionais
(3,8%) passou do plano tipo II pé plano tipo 2, o qual teve uma sutis nas peças esqueléticas cujas
para o plano tipo I (P2=>P1). diminuição de apoio plantar em amplitudes virão marcadas pelos
Não encontramos nenhum indi- mediopé passando à plano tipo eixos mecânicos das articulações
víduo com pé plano tipo III e IV 1, o que reforça a tendência ao à que fazem parte. E m r a z ã o
em nossa pesquisa. cavo nesses indivíduos. Na nos- desse duplo comando, uma al-
Considerando novamente sa observação clínica, percebe- teração tônica mínima desenca-
as duas disfunções ilíacas (DDA mos uma tendência ao cavo em deará uma cascata de modifi-
e DDP), com um total de 26 pés pessoas com disfunção sacroilíaca cações topológicas sobre todo
conjunto pelvipodálico, desde a

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planta do pé até a pelve. disfunção ilíaca, e também de- apoio plantar. Constata-se que
CONCLUSÃO vido ao fato de as alterações uma melhora da função ílio-
Conclui-se com essa pes- ocorrerem em um percentual sacra após a manipulação
quisa que existe uma relação elevado da nossa amostra. osteopática traz um alívio
biomecânica entre a articula- Há uma tendência ao cavo biomecânico às estruturas
ção ílio-sacra e o apoio dos pés em indivíduos com disfunção osteomusculares intimamente
no chão. Devido principalmen- ilíaca direita posterior. Já nos relacionadas e que uma cas-
te à presença de alterações vi- indivíduos com disfunção ilíaca cata de alterações descenden-
síveis na descarga de peso direita anterior houve uma tes homo e contralateral ocor-
lapoio
o g o plantar.
após a correção da tendência à normalização do re, com reflexo imediato no

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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