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e de Telecomunicações)
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Sumário
Ocorre que as fronteiras no mundo digital ficaram quase nulas, pois é possível
comprar um produto na China sem sair da frente do computador e receber o mesmo
na porta da sua casa, aqui no Brasil.
Entretanto este novo modelo de comércio acarretou grandes problemas
envolvendo a “Internet”, desde a definição do conceito até a navegação dos dados.
Histórico
Antes de conceituar a “Internet”, faz-se necessário um breve histórico desde
o seu surgimento até os dias atuais.
A “Internet” em seus primórdios (final da década de 60) surgiu com objetivo
militar uma vez que neste período o mundo estava no período chamado Guerra Fria.
As duas potências, Estados Unidos da América e a União Soviética, buscavam o
domínio tecnológico principalmente no campo militar e astronáutico.
A intenção estadunidense era de descentralizar as informações da capital
Washington e também de manter a comunicação mesmo se houvesse obstáculos.
Diante disso,
“[…] com a internet, os esquemas de informações sigilosas durante a Guerra
Fria estavam seguros, pois tais informações ocorriam de forma descentralizada,
fazendo com que os Estados Unidos não perdessem o poder de comunicação entre
os seus vários locais estratégicos”.
Para que a rede de comunicação fosse interrompida seria necessário destruí-
la completamente e não somente um meio ou alguma parte. E para piorar ainda mais
a estratégia do inimigo, as informações estavam descentralizadas do qual não
bastava somente destruir todas as ligações, mas também todos os locais onde
estavam armazenadas. Esse foi o objetivo da rede ARPANET quando surgiu.
Historicamente, data-se que em setembro de 1969 houve a primeira conexão
entre computadores na Universidade da Califórnia, Estados Unidos da América. Essa
rede era a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network). Uma rede,
como já dito antes, com fins militares. Porém, a rede começou a expandir
rapidamente naquela época, e em 1970 ela já estava com ligações na costa leste
dos Estados Unidos da América. Em 1972 por meio de Ray Tomlinson incorporou a
rede o e-mail onde o “at” foi substituído pelo “@” dado ao fato deste símbolo ser
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computador para outro), correio eletrônico trafegam suas informações. WWW seria
então
“[…] um conjunto de padrões e tecnologias que possibilitam a utilização da
Internet por meio de programas navegadores, que por sua vez tiram todas as
vantagens desse conjunto de padrões e tecnologias pela utilização do hipertexto e
suas relações com a multimídia, como som e imagem, proporcionando ao usuário
maior facilidade na sua utilização, e também a obtenção de melhores resultados”.
Denota-se de tudo o que foi exposto que a “Internet” e também o próprio
mundo da informática estão em constante mudança e transformação. A “Internet”
hoje é utilizada basicamente para fins comerciais para os usuários domésticos
diferentemente do que ocorrera inicialmente, pois
“A Web, que inicialmente objetivava fins militares e acadêmicos, passou a ter
uma utilização em massa com fins primordialmente econômicos como instrumento
de uma política globalizante e neoliberal, representando o principal elemento de
modificação das velhas estruturas, promovendo a 'digitalização'.”
Passa-se agora para o estudo do conceito de “Internet”.
Conceito
Da conceituação da “Internet” começam a surgir os problemas.
Sheila do Rocio Cercal Santos Leal entende a “Internet” como “[…] um sistema
transnacional de comunicação, operacionalizado por um conjunto de computadores
interligados, permitindo a consulta, recepção e transmissão de dados (textos, sons e
imagens), entre pessoas físicas e jurídicas e entre máquinas (sistemas auto-
aplicativos), de um ponto a outro do planeta”.
Essa conceituação peca ao tentar exemplificar os tipos de dados. Estes não
se restringem somente a textos, sons e imagens, aliás vão muito além como por
exemplo vídeos, programas. Assim, dados seriam todo o código (uma informação
que poderá ser utilizada pela máquina ou não, como no caso de um vídeo baixado
no www.youtube.com e enviado no mesmo formato de exibição no browser para uma
máquina que não possui o programa que o leia – Adobe Flash Player ou similar –,
será apenas um arquivo de dados sem utilidade) transmitido pela rede sendo útil ou
não ao seu destino. Aliás, o microcomputador atualmente trabalha as informações
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telefonia sem fio (celular). Há necessidade de entender também que houve uma
evolução tecnológica desde então o que talvez naquele momento não poderia ser
vislumbrado. Exemplificando, hoje é possível comprar músicas pelo telefone celular.
Com precisão, as palavras do ilustre professor Fábio Ulhoa Coelho ao definir
o que é comércio eletrônico.
“Comércio eletrônico é a venda de produtos (virtuais ou físicos) ou a prestação
de serviços realizadas em estabelecimento virtual. A oferta e o contrato são feitos
por transmissão e recepção eletrônica de dados. O comércio eletrônico pode realizar-
se através da rede mundial de computadores (comércio internáutico) ou fora dela”.
Por fora dela entende-se como as redes fechadas de computadores que são
conhecidas como Extranets, e elas também podem conectar a “Internet”.
Por seu turno, Alexandre Libório Dias Pereira aduz que o comércio eletrônico,
e citando diversos exemplos de negociações por este meio, “[…] traduz-se na
negociação realizada por via eletrônica, através do processamento e transmissão
eletrônicos de dados, incluindo texto, sons, imagens. Entre tais negociações
destacam-se as de bens e serviços, a entrega de linha de conteúdo multimídia, as
transferências financeiras eletrônicas, o comércio eletrônico de ações, conhecimento
de embarque eletrônico, leilões comerciais, concepção e engenharia em cooperação,
contratos públicos, comercialização direta ao consumidor e serviços pós-vendas”.
Ricardo Gesteira Ramos de Almeida, assim idealiza o comércio eletrônico “[…]
a atividade consistente na compra e venda de produtos, independentemente da sua
natureza física ou virtual, ou a prestação de serviços, realizados por intermédio dos
meios eletrônicos de transmissão de dados, envolvendo ainda as formas de
pagamento eletrônico atualmente disponíveis”.
Diante disso, para a relação consumerista, o comércio eletrônico existe se for
realizado em um estabelecimento virtual visto que pouco importa se o produto é
virtual (download de um programa, MP3) ou não virtual (celular, notebook) pois não
é a natureza do objeto do contrato que define, mas sim a forma da aceitação
que no caso ocorre em um estabelecimento virtual.
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nenhuma cláusula poderá ser alterada unilateralmente por uma das partes. Porém
este princípio não é absoluto como explica Maria Helena Diniz:
“O ato negocial, por ser uma norma jurídica, constituindo lei entre as partes, é
intangível, a menos que ambas as partes o rescindam voluntariamente ou haja a
escusa por caso fortuito ou força maior (CC, art. 393, parágrafo único), de tal sorte
que não se poderá alterar seu conteúdo, nem mesmo judicialmente. Entretanto, tem-
se admitido, ante o princípio do equilíbrio contratual ou da equivalência material das
prestações, que a força vinculante dos contratos seja contida pelo magistrado em
certas circunstâncias excepcionais ou extraordinárias eu impossibilitem a previsão
de excessiva onerosidade no cumprimento da prestação (Lei n. 8.078/90, arts. 6º, V,
e 51; CC, arts. 317, 478, 479 e 480)”.
Conforme aduz Maria Helena Diniz, há a possibilidade dos contratos serem
revistos uma vez que o mesmos devem ser vistos em um contexto social e não
somente na vertente individualista do qual outrora acontecia.
3- Princípio da relatividade dos contratos ou dos efeitos do negócio jurídico
contratual. Dispõe que o contrato somente obriga as partes, isto é, os efeitos
vinculam somente entre os contratantes, não prejudicando nem beneficiando
terceiros.
4- Princípio da boa-fé. Trata-se de um princípio ligado a interpretação dos
contratos. Maria Helena Diniz define este princípio na forma como que as partes
devem agir no decorrer do contrato, isto é, com lealdade, honestidade, honradez e
probidade.
O Código Civil no Art. 113 traz que “Os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração”. Aliás, Sílvio
Salvo de Venosa ao discorrer sobre este princípio denota que “[…] devem ser
examinadas as condições em que o contrato foi firmado, o nível sociocultural dos
contratantes, o momento histórico e econômico”. Novamente tem se que o contrato
deve ser avaliado conforme o contexto em que fora celebrado.
Imprescindível diferenciar a boa-fé objetiva da subjetiva. Assim “Na boa-fé
subjetiva, o manifestante de vontade crê que sua conduta é correta, tendo em vista
o grau de conhecimento que possui de um negócio. Para ele há um estado de
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consciência ou aspecto psicológico que deve ser considerado. A boa-fé objetiva, por
outro lado, tem compreensão diversa. O intérprete parte de um padrão de conduta
comum, do homem médio, naquele caso concreto, levando em consideração os
aspectos sociais envolvidos”.
A boa-fé que deve ser adotada é a objetiva tendo em vista que possui um
patamar como base de comparação, além de que não há em nenhum momento a
exclusão do contexto em que o mesmo fora realizado.
A boa-fé deve ser entendida como “[…] um dever de agir de acordo com os
determinados padrões sociais estabelecidos e reconhecidos” haja vista que é um
ilícito civil a prática contrária a ela conforme preceitua o Art. 187 do Código Civil
Brasileiro, “Comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou
pelos bons costumes”.
Também não se pode olvidar que a função social do contrato também possui
a necessidade da boa-fé dos celebrantes.
5- Princípio do consensualismo. Maria Helena Diniz destaca este princípio
inerente aos contratos pois eles, via de regra, não precisam de qualquer forma
especial visto que somente alguns que precisam ser solenes para serem válidos.
Formação, Conclusão e Elementos dos Contratos
O contrato também possui elementos necessários para a sua formação até à
conclusão.
Primeiramente, como ora citado, o contrato é antes de tudo um negócio
jurídico e por isso os elementos aplicáveis a este também aplicam-se aquele. Isto é,
o Art. 104 do Código Civil é plenamente aplicável ao contrato, isto é, “I – agente
capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita
ou não defesa em lei”.
Entretanto, o elemento de maior importância no contrato é a vontade, haja
vista que este é ponto fundamental de distinção do negócio jurídico para o ato jurídico
e também porque no contrato há a necessidade da vontade das partes ao celebrar.
Quanto as formas de manifestação contratual torna-se necessário esclarecer
que a sua forma é livre para celebrar desde que não seja defesa em lei (Art. 104 do
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Código Civil). Existe também o contrato que podem ser celebrado por sinal como
ocorre no lanço do leilão. Quanto ao que tange ao silêncio, a regra geral segundo a
doutrina, utilizando as palavras de Sílvio de Salvo Venosa é de que “[…] quem cala
não afirma, mas também não nega; não diz nem sim, nem não; não rejeita nem
aceita”. O próprio Código Civil no Art. 111 é expresso ao afirmar que “O silêncio
importa anuência, quando as circunstâncias ou usos o autorizarem, e não for
necessária a declaração de vontade expressa”.
Os contratos, durante a sua formação, costumam possuir as seguintes fases:
1 – Negociações preliminares ou tratativas ou puntuação; 2 – Oferta ou policitação
ou proposta; e 3 – Aceitação ou oblação.
Primeiramente é necessário fazer uma análise deste período denominado pré-
contratual que também pode ser caracterizado como um período de “negociações
preliminares” entre as partes. Poderá ocorrer a existência de um contrato preliminar,
em que “[…] as partes preordenam o que será disposto no definitivo, mas com
contrato em si já é definitivo”. É necessário frisar que negociações preliminares é
distinto de contrato preliminar, pois este pode gerar responsabilidade pelo seu não
cumprimento desde que assim as partes tenham celebrado.
Em um outro momento ocorre a oferta ou a proposta. Neste caso o proponente
envia para o oblato uma proposta descrevendo os principais pontos do contrato.
Importante dizer que essa proposta possui efeito vinculante conforme o Art. 427 do
Código Civil que dispõe que “A proposta de contrato obriga o proponente, se o
contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias
do caso”. Já o Art. 428 do mesmo diploma traz as causas em que deixará de ser
obrigatória a proposta, e também a segunda parte do Art. 427.
Por seu turno, Maria Helena Diniz esboça quais são os caracteres
fundamentais da proposta, a saber: a) trata-se de uma declaração unilateral de
vontade direcionado a outra parte com quem pretende contratar; b) reveste de força
vinculativa, exceto se não resultar do contrário os termos conforme o disposto do já
citado Art. 427; c) é receptícia a declaração pois o fim dela é ser recebida pela outra
parte que poderá ser pessoal ou impessoal, podendo então neste caso ser uma
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Solenes são aqueles que necessitam de uma forma especial prescrita em lei,
como disposto no Art. 108 do Código Civil que versa sobre a necessidade de
escritura pública. Já os não solenes, não necessitam de uma forma especial,
cabendo as partes realizarem da forma que melhor entenderem.
c) Contratos formais e informais
Diferencia-se pelo fato de ser escrito ou não.
Continuando, ainda há uma outra classificação sendo que esta baseia-se em
relação à existência ou sem disciplina legal regulamentando.
a) Contratos nominados e inominados
Nominados são aqueles que possuem um nome, enquanto que os inominados
não.
b) Contratos típicos e atípicos
Típicos são aqueles que estão previsto e regulado na Lei, por outro lado, os
atípicos não estão previsto, cabendo as partes ajustar conforme as necessidades
(Art. 425 do Código Civil).
Outra classificação ocorre no que tange a sua execução.
a) Contratos de execução imediata
Aqueles no qual finalizam-se em um só momento. Existem também os de
execução instantânea diferida de uma vez só, entretanto em um outro momento.
b) Contratos de execução continuada
São aqueles do qual há necessidade de mais de um ato em um lapso
temporal.
Há também uma classificação baseada na pessoa do contratante.
a) Contratos pessoais ou intuitu personae e contratos impessoais
Os pessoais tratam-se de um contrato onde juridicamente a pessoa é
importante na relação, enquanto que o impessoal não. No impessoal o que busca é
somente o cumprimento daquele contrato não importando por quem o fizer.
E, por fim, a classificação da qual é feita em relação de um contrato com outro.
a) Contratos principais
Que existem por si só, independentemente de um outro.
b) Contratos acessórios
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São aqueles que precisam de um outro, o principal, para existir. Não existindo
mais o principal, ele também deixará de existir. Exemplo clássico é a fiança no
contrato de locação.
Dos fatos, Atos e Negócio Jurídico
Faz-se necessário realizar um estudo sobre os fatos, atos e negócios jurídicos
uma vez que os contratos englobam-se como um negócio jurídico.
Primeiramente, nas palavras de Sílvio Salvo de Venosa, a definição de fatos
jurídicos que são “ todos os acontecimentos, eventos que, de forma direta ou indireta,
acarretam efeito jurídico”. Para Maria Helena Diniz, “ seriam os acontecimentos,
previstos em norma de direito, em razão dos quais nascem, se modificam, subsistem
e se extinguem as relações jurídicas”. Para Antônio Junqueira de Azevedo como o
“[…] nome que se dá a todo fato do mundo real sobre o qual incide a norma jurídica”.
Neste mesmo sentido é também a lição de Francisco Amaral.
Os fatos jurídicos classificam-se em sentido amplo (lato sensu) e em sentido
estrito (stricto sensu). Para o primeiro tipo são os fatos que independem da vontade
humana para seu acontecimento, como por exemplo o terremoto, as ventanias.
Todos eles decorrem de fatos naturais que poderão acarretar consequências
jurídicas. Por sua vez, os fatos jurídicos em sentido estrito, para Maria Helena Diniz,
“seria o acontecimento independente da vontade humana que produz efeitos
jurídicos, criando, modificando ou extinguindo direitos”.
O fato também pode ser dependente da vontade humana, podendo este ser
voluntário ou não (involuntário) em contraposição ao fato natural que pode ser
ordinário ou extraordinário (casos fortuitos).
O fato jurídico em sentido estrito também classifica-se em ordinário e
extraordinário. Para o primeiro há um tempo, uma forma de prazo para o seu
surgimento enquanto que para o último seria uma forma irresistível como o caso
fortuito e força maior.
Os fatos jurídicos em sentido estrito, “[…] numa classificação mais estreita”,
são atos jurídicos. Sílvio de Salvo Venosa define como “[…] aqueles eventos
emanados de uma vontade, quer tenham intenção precípua de ocasionar efeitos
jurídicos, quer não”. Maria Helena Diniz como “[…] o que gera consequências
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CONTRATOS ELETRÔNICOS
Percorrida essa breve introdução com a “Internet”, comércio eletrônico e por
último com os contratos na em sua forma tradicional, já se torna possível trabalhar a
ideia de contrato eletrônico pois os pilares de sustentação deste instituto já foram
formados.
Conceito
O contrato eletrônico se inicia com um ponto controvertido na doutrina. Trata-
se da sua própria conceituação e nomenclatura.
Erica Brandini Barbagalo faz uma explana sobre a controvérsia na
nomenclatura e esclarecendo o porque de adotar o termo contrato eletrônico ao invés
de outros temos. Esclarece a autora que, primeiramente o termo eletrônico vem da
Física e estuda-se neste ramo da ciência o que tange ao comportamento dos
circuitos elétricos. Aliás a comunicação feita entre os microcomputadores realiza-se
por meio de impulsos elétricos, do qual o termo mais certo para o contrato é o
“eletrônico” devido ao fato de transmitir por este meio. Ocorre todavia que há outras
nomenclaturas como o contrato cibernético, digital, por computador e por
fim, informático. Por seu turno, o cibernético está relacionado com a comunicação
em rede. Já o digital liga-se diretamente ao mundo da informática e somente através
de computadores. Contratos por computador, aqueles que são feitos e celebrados
somente por meio deles. E por fim, o informático, aqueles que se relacionam com a
disciplina de contratos de serviços de informática como o contrato de manutenção de
servidores, de homepage. Em outras palavras, o objeto do contrato informático neste
último envolve serviços e produtos relacionados à informática.
Como se percebe, o termo mais correto é o contrato “eletrônico” tendo em
vista que a informação não trafega somente via microcomputadores atualmente e
que o objeto do contrato não se finda em produtos de informática, mas em qualquer
tipo de objeto seja material ou imaterial, desde que lícito.
Assim, contrato eletrônico, na posição de Maria Helena Diniz, é “[…] o contrato
virtual que opera-se entre o titular do estabelecimento virtual e o internauta, mediante
transmissão de dados”. Ocorre, que o conceito de contrato eletrônico não se delimita
somente ao comércio eletrônico em que o internauta acessa a página da empresa
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E por fim, Fábio Ulhoa Coelho define contrato eletrônico como o “[…]
celebrado por meio de transmissão eletrônica de dados. A manifestação de vontade
dos contratantes (oferta e aceitação) não se veicula nem oralmente, nem por
documento escrito, mas pelo registro em meio virtual (isto é, despapelizado)”.
O que denota dessas diversas tentativas de definição é que todas tangem para
a necessidade de que a celebração seja feita pela transmissão de dados de um
contraente para o outro, não importando qual o dispositivo utilizado, seja um
notebook, um microcomputador ou um smartphone, e também qual o objeto da
relação seja ele material ou imaterial.
Classificação
Um outro ponto de suma importância é a classificação dos contratos
eletrônicos uma vez que auxilia no estudo no diz respeito ao momento de formação
e o seu respectivo local. Isso consequentemente implicará em saber qual a legislação
aplicável, foro competente e se é entre ausentes ou não.
Aliás, José Wilson Boiago Júnior denota que a manifestação de vontade pode
ocorrer de diversas formas, como também a forma do qual será utilizado o
equipamento para a celebração, seja imediato ou não.
A classificação mais adotada pela doutrina e que a presente monografia
também adotará é a que divide os contratos eletrônicos em três categorias:
intersistêmicos, interpessoais e interativos. Essa classificação é adotada por Sheila
do Rocio Cercal Santos Leal e segundo essa doutrinadora foi inicialmente feita por
Manoel J. Pereira dos Santos e por Mariza Delapieva Rossi. Neste mesmo sentido,
a posição de Marcos Gomes da Silva Bruno. José Wilson Boiago Júnior aderiu a essa
classificação da Mariza Delapieva Rossi, entretanto citando que Erica Brandini
Barbagalo também a utiliza. Vinicius Roberto Prioli de Souza usa essa classificação
citando como fonte esses dois últimos doutrinadores, José Wilson Boiago Júnior
e Erica Brandini Barbagalo.
Contudo, antes de adentrar a classificação ora adotada, convém discorrer
sobre outras classificações citadas pela doutrina.
César Viterbo Martos Santolim classifica os contratos eletrônicos de três
formas, entretanto citando todas o computador como forma de celebração: a)
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utilizando como simples meio de comunicação para que possa externar a vontade;
b) utilizando como um local de encontro das vontades já aperfeiçoadas; c) como um
instrumento para ajudar as partes a formar a vontade.
Jorge José Lawand possui uma forma de classificação pela forma elaborada
o contrato: a) contratos elaborados por e-mail; b) leilão virtual ou pregão eletrônico;
c) contratos por clique e contrato eletrônico on-line e off-line.
Manoel J. Pereira dos Santos também classifica-os em contratos concluídos
por computador e em contratos executados por computador, sendo que o primeiro
ajuda na celebração do contrato e o último apenas como forma de comunicação.
João Vicente Lavieri adota a seguinte classificação: a) computador empregado
apenas como instrumento de comunicação; b) computador atuando como
instrumento para auxiliar a formação e manifestação da vontade, e esta sub-divide-
se em interação por e-mails ou por banco de dados; c) dois ou mais computadores
programados para efetivarem a contratação entre si.
Por fim, uma outra classificação é a de Patricia Peck Pinheiro. Para esta
doutrinadora há somente duas formas distintas os contratos eletrônicos, os
contratos-tipo e os contratos específicos. Os contratos-tipo são aqueles em que é
imposto a outra parte sem possibilidade de discutir as cláusulas. Trata todos iguais
e assemelha-se aos contratos de adesão. Já os contratos específicos ao serem
elaborados verificará caso a caso a peculariedade de cada contratante.
Passa-se então à classificação adotada neste estudo.
Contratos Eletrônicos Intersistêmicos
Trata-se daqueles contratos que previamente já haviam sido estipuladas as
cláusulas e que o computador serve apenas como meio de execução dele. Em outras
palavras, a vontade já havia se manifestado anteriormente e o meio eletrônico é
apenas a forma de execução do mesmo.
Esse tipo de contratação também é conhecida como “contratação em rede
fechada”.
José Wilson Boiago Júnior afirma que essa contratação em rede fechada “[…]
necessita de um prévio acordo entre os contratantes, e, além do mais, o acesso se
torna restrito àqueles que fazem parte do acordo”. Continua o mesmo autor
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César Viterbo Matos Santolim e Sheila do Rocio Cercal Santos Leal, sendo que esta
cita o entendimento de Miguel Angel Moreno Navarrete que se baseia na doutrina
italiana ao citar que “[…] as decisões são tomadas pelas máquinas e não pelos
contratantes”.
Em suma, a doutrina resume esta categoria no fato de que os contratos são
formados por meio da transmissão de dados, porém as cláusulas fora ajustada antes.
Essa forma de contratação geralmente ocorre em uma rede fechada de comunicação
com protocolos conhecido por ambas as partes e serve apenas para diminuir o gasto
operacional.
Contratos Eletrônicos Interpessoais
Diversamente do anterior, neste há uma interação entre as pessoas e esta
ocorre por meio da troca de mensagens eletrônicas, sendo que é obrigatória a sua
realização no mundo virtual.
A doutrina entende a existência de contratos eletrônicos interpessoais de
forma simultânea e não simultânea. Os de forma simultânea são aqueles celebrados
em tempo real. Erica Brandini Barbagalo informa que a celebração ocorre por
pessoas conectada ao mesmo tempo e com a resposta em um curto espaço de
tempo.
Como por exemplo têm-se os chats e programas de mensagens instantâneas
para realizar a celebração em curto espaço de tempo. Leal, Boiago Júnior, Souza e
Teixeira entendem que nestes casos a celebração contratual é entre presentes. Isso
é notório uma vez que os chats pressupõem a existência de duas pessoas
interagindo simultaneamente assim como ocorre programas de mensagens
instantâneas. Aliás, nestes últimos, alguns deles oferecem a opção de
videoconferência em que é possível não somente utilizar texto para comunicar-se,
mas também visualizar a outra pessoa e até conversar como se fosse um aparelho
de telefone.
Já os não simultâneos ocorre um lapso temporal entre a oferta e aceitação.
Leal, Boiago Júnior, Souza e Teixeira exemplificam com os e-mails e também por
meio dos sites de leilão virtual. E consequentemente encaixa-se então como
celebração entre ausentes esta modalidade.
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José Wilson Boiago Júnior faz uma observação importante sobre essa
modalidade de e-mail da qual “[…] se a troca de e-mails for simultânea, o contrato
deverá ser considerado instantâneo, e assim, deverá ter aplicação de todo o estudo
sobre os contratos entre presentes”. Este mesmo autor pondera trazendo o
entendimento de Erica Brandini Barbagalo, sendo que esta se apoia no entendimento
de Erica Aoki, no qual o correio eletrônico é interpessoal não instantânea, pois
embora
[…] seja muito rápida, esta não pode ser considera instantânea. Isso porque,
para se ter acesso à mensagem enviada via correio eletrônico, é necessário nova
interação com o computador, ou seja, o conteúdo da mensagem não chega ao
conhecimento do destinatário involuntariamente: é necessário que este execute nova
ação para que possa acessar o conteúdo da mensagem recebida, o que retira a
instantaneidade da comunicação.
Em suma, entendesse que essa categoria da qual a proposta e a celebração
do contrato deverá ocorrer de modo on-line por meio de mensagens podendo ser ou
não de forma instantânea.
Contratos Eletrônicos Interativos
Essa categoria, como se verá adiante, indubitavelmente tornou-se uma das
modalidades de negociação mais utilizada pela população em geral graças a sua
utilização em massa no comércio eletrônico B2C.
Esse tipo de contrato também é conhecido como clickwrap ou contrato por
clique e neste sentido Jorge José Lawand faz as seguintes observações:
“Na esfera da contratação no ambiente do comércio eletrônico os negócios
jurídicos por clique são amplamente utilizados e são conhecidos no direito
comparado como click-through agreements. São assim designados, haja vista
seus termos serem aceitos através da confirmação digital na tela do monitor do
computador, no mais das vezes utilizando o mouse. Em muitos casos o operador do
web site oferece as mercadorias ou serviços para venda, e o consumidor adquire
completando e transmitindo uma ordem de compra disposta na tela do computador.
A partir do momento em que se configura a aceitação, o contrato considera-se
formado. Esses contratos equiparam-se aos contratos por adesão, pois, se o
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mensagens que pode ser simultânea entre as partes ou não. Diante disso, é um
contrato eletrônico interpessoal e não interativo.
Por fim, os contratos eletrônicos interativos “[…] resultam de uma relação de
comunicação estabelecida entre uma pessoa e um sistema previamente
programado”. Trata-se dos sites de compras pela “Internet” por meio de lojas virtuais
(v.g., www.livrariasaraiva.com.br , www.submarino.com.br , www.americanas.com.br
entre outros) nos quais o cliente efetua cliques para realizar a compra. Não há uma
interação entre as partes, é somente entre o cliente e o sistema.
Princípios da Contratação Eletrônica
Trata-se de um problema que somente parte da doutrina tem enfrentado, uma
vez que há muitas particularidades nos contratos eletrônicos. No caso, serão
arrolados somente os mais importantes.
Princípio da Equivalência Funcional
Este princípio versa sobre a validade de um negócio jurídico celebrado no
meio virtual como se fosse realizado no mundo físico.
Em outras palavras, o escopo do
“[…] princípio da equivalência funcional, é a garantia de que, aos contratos
realizados em meio eletrônico, serão reconhecidos os mesmos efeitos jurídicos
conferidos aos contratos realizados por escrito ou verbalmente”.
Com mais clareza, Fábio Ulhoa Coelho esclarece:
“[…] o princípio da equivalência funcional é o argumento mais genérico e
básico da tecnologia jurídica dos contratos virtuais. Afirma que o registro em meio
magnético cumpre as mesmas funções do papel. Assim as certezas e incertezas que
podem exsurgir do contrato-e não são diferentes das do contrato-p”.
Há tentativas de reconhecer a validade dos contratos eletrônicos como por
exemplo a Lei Modelo da UNCITRAL sobre o comércio eletrônico em seu Art. 5º que
dispõe no seguinte teor:
“Artigo 5 – Reconhecimento jurídico das mensagens de dados
Não se negarão efeitos jurídicos, validade ou eficácia à informação apenas
porque esteja na forma de mensagem eletrônica.”
E o Art. 11 da mesma lei:
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Ocorre, todavia, que os contratos muitas vezes formam-se por meio da oferta
principalmente no comércio eletrônico B2C. O Código Civil, o Código de Defesa do
Consumidor, o projeto de lei 4.906 de 2001, e a Lei Modelo da UNCITRAL trazem
disposições a respeito disso.
O Código de Defesa do Consumidor dispõe no Art. 35 que, “[…] se o
fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou
publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha: […]”
Desde que seja conforme o Art. 30 do mesmo diploma:
“[…] toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por
qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços
oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se
utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado”.
Diante disso, Ana Paula Gamboji Carvalho sobre a responsabilidade frente a
legislação consumerista, assevera que
“[…] a retirada antecipada e injustificada da oferta terá como consequência
não mais a mera sujeição do proponente ao pagamento de perdas e danos, mas a
negação de quaisquer efeitos jurídicos à revogação, permanecendo a oferta do
fornecedor eficaz e o cumprimento da obrigação nela contido obrigatório, salvo outra
escolha exercida por parte do consumidor”.
Complementando sobre o comércio eletrônico e a oferta, Ricardo Luiz
Lorenzetti assevera que
“[…] em primeiro lugar é necessário precisar se o web site contém uma série
de elementos essenciais e suficientes para constituir uma oferta. Em caso afirmativo,
é uma oferta ao público, vinculatória ser for um contrato de consumo, que se conclui
no momento em que o usuário transmite a declaração de aceitação. Se não contiver
os elementos constitutivos de uma oferta, trata-se de um convite a ser oferecido; o
'navegante' é quem oferece e o contrato se completa a partir do momento em que
ele recebe a aceitação da parte do provedor”.
A posição de Lorenzetti é muito importante pois há a ênfase nos elementos
importantes para se caracterizar uma oferta. Faltando os requisitos para a oferta, o
autor não entende que haja oferta, porém apenas um convite.
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Convém lembrar que o Art. 30 do projeto de lei prevê que as normas de defesa
e proteção do consumidor vigente no país são aplicáveis ao comércio eletrônico do
qual já fora explicado.
O Projeto de Lei foi mais além acompanhando a Lei Modelo da UNCITRAL ao
dispor no Art. 32 as formas de cumprimento de uma relação consumerista.
“Art. 32 Para o cumprimento dos procedimentos e prazos previstos na
legislação de proteção e defesa do consumidor, os adquirentes de bens, serviços e
informações por meio eletrônico poderão se utilizar da mesma via de comunicação
adotada na contratação para evitar notificações e intimações extra-judiciais.
§ 1º Para fins no disposto no caput deste artigo, os ofertantes deverão, no
próprio espaço que serviu para o oferecimento de bens, serviços e informações,
colocar à disposição dos consumidores área específica, de fácil identificação, que
permita o armazenamento das notificações e intimações, com respectiva data de
envio, para efeito de comprovação.
§ 2º O ofertante deverá transmitir uma resposta automática aos pedidos,
mensagens, notificações e intimações que lhe forem enviados eletronicamente,
comprovando o recebimento.”
Percebe-se que o Projeto de Lei visa resguardar o consumidor e também para
que haja um canal direto entre a empresa e o consumidor uma vez que, geralmente,
não há uma loja física para o cliente questionar, reclamar etc. Com essa área
específica diminui um pouco este problema e também que há um comprovante
dessas notificações. E neste ponto o projeto de lei merece aplausos. Muitas vezes
nas lojas físicas, as reclamações e notificações são somente verbais e não há
nenhuma comprovação (protocolo) destas. No ambiente virtual, isto não ocorrerá e
como já fora dito, e o Art. 3º do Projeto de Lei que descreve que não serão negados
efeitos jurídicos, validade e eficácia jurídica pelo fator de ter sido feito em forma
eletrônica.
E por fim, a Lei Modelo disciplina no Art. 15 a questão do tempo e do lugar da
oferta (mensagem eletrônica).
40
Diante disso, a empresa deve ser prevenir e criar um ambiente seguro para
as negociações e isso somente é possível caso use as tecnologias específicas para
isso tanto para assegurar a identificação das partes como na autenticidade das
informações transmitidas.
Como é notório, o mundo da informática é muito inconstante no sentido do uso
de determinada tecnologia. O que é utilizado hoje, amanhã já não poderá ser tão
usado, sendo substituído por outros. Como exemplo têm-se as unidades removíveis
de informação. Há 20 anos utilizava-se as fitas cassete para armazenar informações
ou levar para um outro lugar, depois o disquete (8, 5,25 e por fim o de 3 e meia
polegada). Houve uma tentativa de usar os zip-driver mas sem sucesso. Surge então
o CD-ROM e sua popularização, assim como o DVD-ROM. Mas mesmo assim, havia
ainda os disquetes. Até que surgiram os pen-drives e os cartões de memória
decretando o fim dos disquetes, passando para um novo conceito de memória e
transporte de dados.
Por isso, qualquer tentativa de regulamentação no sentido que querer
estabelecer um determinado uso de tecnologia pode ser perigoso. A tecnologia que
hoje é praticamente impossível de popularizar, pode não ser amanhã.
Ocorre, todavia, que há divergências entre os Tribunais de Justiça sobre o
comércio eletrônico no que tange a segurança e responsabilidades. O Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, ao contrário do supra citado do Rio de Janeiro, entende
que o ambiente eletrônico não é seguro e que há responsabilidade objetiva do
comerciante eletrônico devido à hipossuficiência do consumidor. Neste sentido:
“REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. COMÉRCIO
ELETRÔNICO. INTERNET. SITE DE ANÚNCIOS. MERCADO LIVRE. PRODUTO
ENVIADO E NÃO PAGO. FRAUDE AO ACUSAR O PAGAMENTO, APTA A ILUDIR
O VENDEDOR. RESPONSABILIDADE DA EMPRESA INTERMEDIADORA. DANOS
MORAIS NÃO CONFIGURADOS. MERO TRANSTORNO INERENTE À NATUREZA
DO NEGÓCIO.
1. Vendedor que demanda contra empresa de comércio eletrônico em razão
de negócio malsucedido com outro particular. Postagem fraudulenta de correio
eletrônico ao vendedor, como se partisse do site de anúncios, acusando o
49
realizar porém difíceis de reverter. Utiliza-se números primos grandes para fatorar.
Mesmo sendo considerado complexo há notícias de que não é perfeito e já houve
ataques a esse sistema. Aliás, no mundo da informática não existe nada cem por
cento seguro haja vista como exemplo o avanço tecnológico da última década.
Esse sistema criptográfico se divide em simétrico e assimétrico.
O sistema simétrico ou com chave secreta (secret-key) é aquele o qual existe
somente uma senha, isto é, somente uma chave, sendo que esta é privada. As duas
partes devem saber essa senha privada para poder criptografar e descriptografar
(codificar e descodificar). Esse sistema já traz inicialmente um problema, a senha
deve ser conhecida pelas partes o que poderá acarretar problemas de segurança.
Por sua vez, o sistema assimétrico ou com chave pública (public-key) possui
duas chaves que fazem um par, sendo uma chave pública e a outra chave privada.
A chave pública é utilizada para enviar e criptografar, já a chave privada serve para
descriptografar a mensagem e verificar quem enviou através do prévio conhecimento
da chave pública do remetente. É um sistema seguro e torna-se mais seguro ainda
ao passo de utilizar chaves maiores. Nos EUA, o governo determina que deve ser
enviado uma cópia da chave com um tradutor para o órgão competente. Isso deve-
se ao fato de evitar a circulação de mensagens ilícitas como de terroristas,
traficantes, e outros. No Brasil existe apenas um decreto, o 2.910 de 29.12.1998,
tratando do assunto da criptografia mas sem falar no tamanho dessa chave. Aliás,
pode-se dizer que é prejudicial o uso de uma chave gigante para um país que não
tiver um controle sobre isso uma vez que pode tornar-se quase impossível realizar a
quebra (descoberta) dessa senha privada.
Este sistema assimétrico possui a vantagem de que as partes não precisam
saber chave privada de ninguém o que aumenta a segurança conforme já dito,
diferenciando-se da simétrica onde as duas devem saber a chave privada.
Augusto Tavares Rosa Marcacini destaca que o simples uso da criptografia
não garante segurança pois existem sistemas de criptografia fracos e fortes. A
segurança estaria então relacionada ao tamanho da chave e a consistência do
algorítimo usado.
52
“Para cada usuário que precisa de um par de chaves, tome dois grandes
números primos, p e q, e descubra seu produto n, que é chamado de de módulo.
Escolha um número e, menor que n e primo de (p – 1)(q – 1); isto é, ela não possui
fatores em comum com eles. Depois descubra o inverso de e, chame-o de d, mod (p
– 1)(q – 1) de modo que ed=1 mod (p – 1)(q – 1). (O algoritmo de Euclides, um
teorema matemático tradicional, pode ser usado para determinar d). Depois de fazer
todos esses cálculos, o par (n, e) torna-se a chave pública, e a chave privada é d. Os
dois grandes fatores primos p e q devem ser mantidos em segredo, ou então,
destruídos, já que, se alguém pudesse fatorar n em p e q, a chave privada d, poderia
ser obtida”.
E continua o autor exemplificando o processo criptográfico assimétrico:
“Um exemplo simplificado pode ajudar a ilustrar claramente o processo de
encontrar uma chave. Lembre-se que, na verdade, esses números geralmente
possuem mais de 100 dígitos.
Para começar, selecione dois (grandes) números primos, p e q. Tomemos
como exemplo os valores p = 7 e q = 13. Assim, p x q = 91 = n.
A chave de criptografia, e, não deve ter nenhum fator em comum com (p – 1)(q
– 1):(p – 1)(q – 1) = 6 x 12 = 72
Selecione 43 aleatoriamente para ser e. Escolha d de mode que: Ed = 1 mod
72
Usando o algoritmo de Euclides, d, é calculado para ser 67.
A chave pública é o par (n, e), neste caso (91, 43); a chave privada é d, neste
caso 67. Os fatores p e q são mantidos em segredo, ou então destruídos.
COMO USAR NOVO PAR DE CHAVES
Como eu posso codificar uma mensagem usando minha nova chave?
Suponha que Bob deseja me enviar uma mensagem que chamarei de m. Bob usaria
minha chave pública (91, 43) da seguinte maneira:
Bob cria o texto criptografado c ao efetuar a exponenciação c = m43 mod 91.
Para decodificar a mensagem, eu também vou efetuar uma exponenciação, usando
minha chave privada: m = c67 mod 91. Já que eu sou o único que conhece d, minha
chave privada (neste caso 67), só eu posso decodificar a mensagem de Bob”.
54
decifrado da assinatura (X), isto significa que foi o titular da chave privada que gerou
a assinatura”.
Cumpre-se dizer que a assinatura digital precisa de um certificado digital para
atestar se chave pública realmente pertence ao que consta nela. O papel da
autoridade certificadora é basicamente de criar o par de chaves criptográficas e esta
autoridade emite um certificado que consta a chave pública toda vez que é emitido
um documento eletrônico, para prova a autenticidade e integridade da mensagem.
No Brasil, a regulamentação ocorreu primeiramente pelo Decreto 3.505, de 13
de junho de 2000, que instituiu a Política de Segurança da Informação nos órgãos e
entidades da Administração Pública Federal e posteriormente teve outros decretos
sobre a matéria.
Um marco importante foi a Medida Provisória 2.200 de 28 de junho de 2001
que institui a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira – ICP Brasil – que em seu
Art. 1º estatuía a finalidade de “garantir a autenticidade, a integridade e a validade
jurídica de documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das
aplicações habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de
transações eletrônicas seguras”. Houve outras duas medidas provisórias reeditando.
Não obstante, o projeto de Lei 4.906/2001 também versa sobre a matéria com
a seguinte dicção:
“Art. 4º As declarações constantes de documento eletrônico presumem-se
verdadeiras em relação ao signatário, nos termos do Código Civil, desde que a
assinatura digital:
I – seja única e exclusiva para o documento assinado;
II – seja passível de verificação pública;
III – seja gerada com chave privada cuja titularidade esteja certificada por
autoridade certificadora credenciada e seja mantida sob exclusivo controle do
signatário;
IV – esteja ligada ao documento eletrônico de tal modo que se o conteúdo
deste se alterar, a assinatura digital estará invalidada;
V – não tenha sido gerada posteriormente à expiração, revogação ou
suspensão das chaves.”
56
que possui efeito erga omnes, enquanto que na anulabilidade os efeitos convergem
somente entre as partes. Uma outra espécie de nulidade também usada é a de
nulidade absoluta e relativa. A absoluta remonta a violação de normas públicas, isto
é, a ordem pública podendo ser alegada por qualquer pessoa enquanto que na
relativa somente as partes podem arguir (Art. 166 e seguintes).
Também não se pode esquecer dos atos inexistentes não são atos nulos ou
anuláveis, mas como não havidos.
Há de se dizer que a invalidade poderá ser total quando alcançar todo o
negócio jurídico, ou parcial, ficando válido a parte restante. Esta é a dicção do Art.
184 do Código Civil, “…, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará
na parte válida, se esta for separável…”.
Requisitos Essenciais para a Validade dos Contratos
Os requisitos ou pressupostos essenciais que a doutrina entende como
essencial para o negócio jurídico são: a) sujeito capaz; b) objeto lícito, possível,
determinado ou determinável; e c) forma da exteriorização da vontade livre.
Sujeito
O primeiro pressuposto relativo ao sujeito é a forma de exteriorização da
vontade, sendo que esta deve ser consciente, pois caso seja inconsciente esta será
inexistente. Diante disso, Marcos Bernardes de Mello divide o problema do sujeito
em dois pontos, o primeiro na capacidade de agir e o segundo na perfeição da
vontade.
A capacidade de agir do agente é capacidade de exercer os direitos e praticar
os atos jurídicos necessários. Via de regra todos são capazes, e a exceção é ser
incapaz. Ocorre que a incapacidade pode ser relativa como absoluta, sendo então
nulo os atos praticados em discordância a esta incapacidade, como por exemplo o
negócio celebrado por um menor de 16 anos (Art. 166, I, do Código Civil), e o que
está entre 16 e 18 anos feito sem assistência (Art. 171, I, do Código Civil).
Diante disso, a incapacidade poderá ser por idade, sanidade e condição
cultural.
Por idade, é considerado absolutamente incapaz o menor de 16 anos
conforme o Art. 3º, I, do Código Civil, sendo que dos 16 ao 18 é considerado
59
razões metajurídicas e pelo fato de que os atos são, em sua grande maioria, tão
irrelevantes que raramente constituem objetos de um litígio judicial (por exemplo,
compra de um pão ou chocolate)”.
E continua a mesma autora aduzindo que “[…] caso, todavia, o ato praticado
por um jovem absolutamente incapaz se torne objeto de disputa dos tribunais, o juiz
deverá, na verdade, aplicar a lei e declarar a sua nulidade. Somente
excepcionalmente poderá um ato desta espécie, dado o seu valor econômico
irrelevante, ser considerado válido. Os contratos eletrônicos não são ainda, contudo,
tão habituais a ponto de poderem ser vistos como os atos cotidianos de um menor
de idade. Apesar de sua simplicidade técnica, eles apresentam certa complexidade
em face, principalmente, dos métodos de pagamentos comuns na Internet (cartão de
crédito, autorização para débito em conta, etc.). Portanto, caso um contrato eletrônico
celebrado por um adolescente de 15 anos se torne objeto de uma disputa judicial, a
sua nulidade deverá ser reconhecida pelo magistrado.”
Em suma, caso o ato de um menor seja questionado judicialmente, o mesmo
poderá ser declarado nulo caso menor de 16 anos o que praticou o ato e anulável se
tiver entre 16 e 18 anos. Entretanto, existe uma exceção para os relativamente
incapazes, conforme o que estatui o Art. 180 do Código Civil. O menor não poderá
escusar-se da obrigação caso tenha omitido sua idade dolosamente. Em outras
palavras, caso o relativamente menor inclua dados falsos sobre a sua idade, o
mesmo não poderá se escusar, arcando os responsáveis dele com as obrigações
assumidas.
Um outro problema no que tange a validade de um negócio jurídico refere-se
a identificação das partes. Sabe-se que nos meios eletrônicos há uma certa facilidade
em conseguir omitir a verdadeira identidade. Como é sabido, torna-se imprescindível
em um negócio jurídico saber com quem realmente está sendo celebrado. Há
diversos problemas aqui. Não basta simplesmente preencher um determinado
formulário para atestar se realmente é aquela pessoa, usando aquele determinando
número de cartão de crédito, ou então acessando da casa do titular por meio de seu
próprio computador. Isso não traz a segurança devida nas relações jurídicas pela
62
escritos, que são aqueles em que o fato vem registrado através da palavra escrita,
em papel ou outro material adequado”.
Entende a doutrina que mesmo não sendo citado no diploma processual civil
o documento eletrônico como prova, o mesmo é admissível em juízo. O Art. 332 do
Código de Processo Civil estatui que “todos os meios legais como os moralmente
legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a
verdade dos fatos, […] ” ou seja, não há proibição das provas eletrônicas, ressalvado
no caso de ser obtida ilicitamente (invadir a microcomputador ou outro dispositivo de
dados sem a permissão do proprietário) ou imoral.
O Art. 131 do mesmo diploma assevera que o juiz “apreciará livremente a
prova, atendendo aos fatos e circunstâncias constantes dos autos, ainda que não
alegados pelas partes; […]”. O juiz poderá apreciar as provas eletrônicas, mas
sempre com um certo cuidado pois trata-se de uma prova obtida por um outro meio,
o digital, e não físico.
Maurício de Souza Matte traz uma explicação sobre a diferença entre
documento eletrônico e tradicional que merece ser transcrita:
“Outra característica que diferencia um 'documento eletrônico' de um
'documento tradicional', é que aquele, ao contrário deste, nem sempre estará preso
ao meio físico que o criou, apesar de necessariamente estar ligado a um meio físico
e, por este fato e frente aos novos meios de armazenamento informatizados, por não
existirem impedimentos para que o documento eletrônico criado em uma máquina
seja transferido ou copiado para outra, mantendo ou não suas características (ex:
danos no transporte das informações, ataques de hackers ou crackers, entre
outros), no mesmo sentido como ocorre com cópias reprográficas ou fotocópias. A
forma como é guardado também difere, pois apesar de estar inteligível no momento
de sua criação, sua forma pura de armazenamento é de difícil compreensão pelo
homem, necessitando de aplicativos específicos para torná-lo compreensível.”
Percebe-se que assim como o usuário deve conhecer os meandros em que
está utilizando em sua navegação ou em sua compra pela “Internet”, o juiz também
deverá conhecer para não realizar equívocos sobre a tecnologia, visto que poderá
66
utilizar esta prova e inclusive em sua fundamentação como por exemplo a decisão
do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
O projeto de Lei 4.906 de 2001 recepciona o documento eletrônico e define
em seu Art. 2º como “[…] a informação gerada, enviada, recebida, armazenada ou
comunicada por meios eletrônicos, ópticos, óptico-eletrônicos ou similares”. Em
outras palavras, está sendo dada validade para o documento eletrônico haja vista
que este projeto de lei trata também da questão da segurança neste ambiente.
Sheila do Rocio Cercal Santos Leal elenca quatro requisitos para a validade
do documento eletrônico: a) Confidencialidade dos dados; b) Autenticidade; c)
Integridade e; d) Não repúdio. Estes requisitos apresentados pela autora são
praticamente os mesmos apresentados por José Wilson Boiago Júnio[ do qual fora
tratado quando se discutia a criptografia. Neste mesmo sentido José David Silva
Junior, este advogado aduz que: “[…] um documento eletrônico produzido em estrita
relação com os critérios anteriormente expendidos tem plena força probatória para
constituir, modificar ou extinguir direitos, o que impede o magistrado, na apreciação
dos casos concretos, de abusar do poder de mitigar os meios de provas, segundo
mera convicção pessoal, alheia à realidade do litígio para usurpar-se da função do
próprio legislador, competente para fixar o processo de produção e o processo de
recepção da prova. O juiz deve atuar apenas como julgador, e se subjugar ao
processo de produção, de recepção e do conhecimento da prova.”
Diante disso, pode ser instruído um processo com um documento eletrônico
desde que preenchidos os requisitos para a sua validade e o magistrado não poderá
negar o seu uso, podendo inclusive utilizar ele em sua fundamentação conforme já
tratado aqui.
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