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#NãoAdianta

O cigarro nas mãos do PCC:


como uma política errada
está fazendo criminosos
lucrarem muito

- e o que podemos fazer


para resolver isso hoje!
INTRODUÇÃO
No Brasil, não é incomum que uma política pública bem
intencionada produza efeitos negativos não previstos pelos
formuladores. E é isto que ocorre com a política de tributação
de cigarros. Na tentativa de reduzir o consumo de tabaco,
formularam-se diversas políticas como, por exemplo, a restrição
do consumo de cigarro em locais públicos, lei do preço mínimo e
aumento na tributação.

Contudo, nem todas essa medidas têm o mesmo grau de


eficácia. Por isso, é fundamental que o debate público avance
deixando de lado velhos preconceitos e emoções para focar no
que realmente importa: a segurança de todos os brasileiros.

Através deste e-book, iremos explicar tanto sobre como o


aumento da tributação se trata de uma medida
contraproducente quanto sobre os efeitos nocivos que ela
provoca em termos de segurança pública. Após a leitura deste
material, você irá entender:

a) Quem comanda a venda ilegal de cigarros


(e lucra com ela);

b) Os diversos canais pelos quais o cidadão


comum é prejudicado pela medida;

c) Como a política de preço mínimo e os altos


impostos influenciam nessa dinâmica perversa;

d) Como combater essa indústria do crime.

Assim, finalmente conseguiremos avançar neste debate que é


fundamental para resolver o problema da alta criminalidade
que assola o Brasil. Afinal, Não Adianta tentar tapar o sol com
a peneira quando o assunto é segurança pública.

Andre Freo
Gerente de Operações
Centro de Escolha do Consumidor

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PCC e
Comando
Vermelho:
os novos reis do
cigarro do Brasil?
1: PCC e Comando Vermelho: os novos reis do cigarro do Brasil?

Atualmente, cerca de 54% de todos os cigarros consumidos no


Brasil vêm do contrabando realizado pelo crime organizado.
Todo cigarro comprado “mais barato”, pois o brasileiro é
encarecido pela política de tributação gera lucro para
organizações criminosas. Hoje, produto de maior rentabilidade
para o crime é o cigarro ilegal.

O produto contrabandeado não passa pelas autoridades


sanitárias e é produzido em larga escala no Paraguai
especificamente para a comercialização no Brasil. A atuação
dos criminosos ocorre desde a recepção dos cigarros na
fronteira até a sua distribuição em território nacional. Os lucros
bilionários oriundos do contrabando financiam a expansão das
facções criminosas, a compra de armamento e o recrutamento
de outros criminosos dentro e fora dos presídios.

Esse esquema de tráfico e comercialização não se restringe às


proximidades da fronteira com o Paraguai. No Rio de Janeiro, a
venda de cigarros ilegais oferecem às milícias a maior parte de
seus lucros. Estima-se que US$ 330 milhões arrecadados pela
atividade são usadas para financiar outras operações ilícitas.
As milícias cariocas também são renomadas por realizar
extorsão e execuções sumárias.

Ao investigar a sua relação com o contrabando de tabaco,


foram encontradas evidências de possíveis conexões entre as
milícias e membros do Comando Vermelho, a mais poderosa
gangue de drogas do Rio de Janeiro.

De acordo com o Ministro da Justiça Sérgio Moro:

“O contrabando é de muito difícil combate. As


fronteiras são muito porosas, muitas vezes as
pessoas envolvidas no contrabando de cigarro
não se sentem envolvidas em uma atividade
ilegal. É diferente de pessoas envolvidas em
tráfico de drogas ou tráfico de armas”.

Os altos lucros obtidos pelo comércio ilegal de cigarros, inclusive,


atraiu a atenção de grupos terroristas de origem estrangeira.
Ainda em 2017, a Fundação de Defesa da Democracia (FDD)

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1: PCC e Comando Vermelho: os novos reis do cigarro do Brasil?

para a Comissão de Relações Exteriores do Senado dos Estados


Unidos soltou um relatório confirmando a presença de um grupo
extremista de origem no Oriente Médio. A organização
conhecida como Hezbollah tem atuado com a maior facção
criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Acredita-se que suas atividades tenham gerado um prejuízo de
R$ 345 bilhões somente de 2014 a 2017. Ainda de acordo com o
documento, a aliança do PCC com o Hezbollah é a grande
responsável pelo grande volume de cigarros ilegais que entram
no país todos os dias.

A situação da segurança pública no Brasil têm piorado nos


últimos anos. Então, não podemos ignorar as condições que
mais rendem lucro e poder para as organizações criminosas: o
alto preço do cigarro brasileiro.

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O maior
prejudicado?
O consumidor.
E ele não
é o único.
2: O maior prejudicado? O consumidor. E ele não é o único.

Uma vez que mais da metade dos cigarros consumidos no Brasil


é vendido de forma ilegal, esses cigarros não são submetidos a
nenhuma inspeção sanitária nem estão sujeitos as restrição a
venda para menores de idade. Em um recente comunicado, a
Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou cerca de 90
marcas de cigarros ilegais. No documento, a Anvisa salienta o
fato de que, por não pagarem impostos, esses produtos ficam
mais baratos e mais acessíveis a crianças e adolescentes.

Um outro relatório, lançado pelo Instituto Nacional do Câncer


(Inca) em 2017, o aponta os cigarros contrabandeados acabam
atraindo especialmente as pessoas de menor renda e educação.
Os maços ilegais representam mais de 50% do consumo entre
fumantes com menos de oito anos de escolaridade.

Dr. André Murad


CRMMG: 17760

E claro, além do perigo para menores de idade, há os riscos


advindos da falta de rigor sanitário e de qualidade. De acordo
com o médico André Murad, do departamento de Clínica Médica
da UFMG, uma análise realizada pela Universidade de Ponta
Grossa revelou algo surpreendente. O estudo mostrou que as
toxinas do cigarro ilegal são muito mais passíveis de serem
incorporadas pelas células. Como resultado, quem usa cigarro

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2: O maior prejudicado? O consumidor. E ele não é o único.

contrabandeado o que tem mais chances de desenvolver vários


tipos de câncer.

Murad também destacou que na mesma análise foram


encontrados nesse tipo de cigarro patas de insetos, fungos e
muitas contaminações por metais pesados. Possuem possuem
oito vezes mais chumbo, cromo, manganês e mercúrio. Tais
substâncias são tóxicas não só para a respiração, mas também
para os outros órgãos como rins e fígado.

Contudo, os prejuízos não recaem apenas para os usuários do


tabaco. Cigarros ilegais não pagam impostos, prejudicando
toda a sociedade brasileira. A enorme diferença nos preços dos
cigarros paraguaios e brasileiros é determinante para a alta
demanda pelos cigarros contrabandeados. Segundo o Idesf, um
maço paraguaio pode custar o equivalente R$ 0,70 enquanto o
brasileiro só pode ser comprado a no mínimo R$6,00. Caso a
política de preços mínimos do cigarro nacional fosse revista,
estima-se que haveria um aumento de mais de 2 bilhões em IPI.

Os vultosos recursos que deveriam ir para a União acabam


servindo para financiar o crime. Segundo o delegado da Polícia
Federal Luciano Flores de Lima, atual superintendente da PF no
Paraná, o contrabando de cigarro é uma das principais fontes
de lucros para o crime, mais do que o tráfico de drogas. O
contrabando acaba resultando também em outros crimes como
a corrupção de agentes públicos, que cedem mais facilmente a
facilitação no tráfico de tabaco do que outras drogas.

A mesma sensação de que se trata de uma atividade inofensiva


também ocorre para boa parte da população. As pessoas
acabam não percebendo o quanto o contrabando também
contribui com o cenário atual de violência.

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Uma

3
política
errada,
inúmeros
desastres.
3: Uma política errada, inúmeros desastres.

Como consequência direta da lei de preço mínimo e do altos


tributos do cigarro, os consumidores acabam recorrendo aos
cigarros ilegais. A disparidade tributária entre Brasil e Paraguai
é enorme: enquanto eles tributam o cigarro em 16%, nós
tributamos em 71%. Tal disparidade na tributação leva a preços
mais baixos garantindo uma alta demanda pelo produto.

Além disso, a regra de preço mínimo agrava ainda mais a


situação. Atualmente, o valor mínimo para a venda de cigarros
é de R$ 5 graças a da Lei 12.546, de 14 de dezembro de 2012. Já
o cigarro ilegal é comercializado pela metade desse valor.
Apesar das boa intenção, que eram utilizar os tributos
arrecadados para a saúde pública, não houve aumento de
arrecadação. Ou seja, além de gerar mais um incentivo para o
consumo do cigarro contrabandeado, a medida não conseguiu
atender a intenção original de financiar a saúde pública.

O setor de cigarros possui uma das maiores cargas tributária


do país, especialmente graças a um incremento do IPI. Esse
incremento segue uma recomendação da OMS que incentiva
países a aumentar a tributação a fim de reduzir o consumo de
tabaco. Contudo, como mostra um estudo feito pelo
pesquisador Nelson Paes, esses instrumento não tem se
mostrado muito efetivo no Brasil. Os altos tributos elevam o
preço do cigarro legal, levando o consumidor a comprar seus
cigarros no mercado ilegal. Como consequência, os que vendem
os cigarros contrabandeados têm lucros bem maiores (70%)
em relação ao produtor nacional (9%).

Há também efeitos sobre o emprego: a indústria nacional perde


em mercado, não porque as pessoas estão buscando uma vida
mais saudável; mas sim porque muitos compram cigarros ainda
mais nocivos a saúde e acabam financiando organizações

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3: Uma política errada, inúmeros desastres.

criminosas. Mas claro, embora a indústria esteja perdendo e


deixe de investir e empregar, a arrecadação - isto é, a sociedade
é que acaba sendo a maior vítima. Não adianta ignorar: altos
impostos é uma porta aberta ao mercado ilegal e ao crime.

Apesar de parecer contraintuitivo, a redução da carga tributária


irá contribuir para aumentar a receita fiscal. A recuperação dos
consumidores pelos produtores nacionais e a consequente
redução da sonegação causada pelo contrabando irão
beneficiar não só através da geração de novos postos de
trabalho como também na redução de recursos para
organizações criminosas.

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4
Como
combater
a indústria
do crime.
4: Como combater a indústria do crime.

Recentemente, para definir as soluções inteligentes, o


Ministério da Justiça criou um grupo de trabalho para estudar o
impacto de uma redução de impostos sobre cigarros. Este
grupo usou como referência estudo que estima um aumento de
cerca de R$ 7,5 bilhões no faturamento da indústria com o fim
do preço mínimo. Como consequência do fim da medida
haveria uma aumento de 2 bilhões na arrecadação graças a
migração do consumo do cigarro ilegal para o produzido
nacionalmente.

A pesquisa “Uma alternativa de combate ao contrabando a


partir da estimativa da curva de Laffer e da discussão sobre a
política de preço mínimo” foi publicada 2017 pelos economistas
Pery Shikida, Mario Margarido e Matheus Nicola. O principal
argumento dos autores é focado na elevação de impostos, que
realizada entre 2011 e 2016, levou a uma migração do consumo
do cigarro legal para o contrabandeado. Outro fator que
colaborou para essa transferência, dizem, foi a política de
preços mínimos.

O estudo argumenta que insistir na elevação de impostos para


reduzir o consumo não tem sido uma política de Estado
eficiente. Afinal, ao passo que enfraquece as empresas que
operam dentro das regras também fortalece organizações
criminosas. Assim, propõem uma estratégia alternativa, uma
vez que o consumo de tabaco não gera apenas prejuízos à
saúde.

Mostra-se evidente que é necessária uma revisão da alíquota


ótima para o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A
partir dessa revisão, a maior arrecadação de tributos será
utilizada para mitigar as externalidades negativas ligadas a
saúde causadas pelo consumo de tabaco.

Vê-se que, embora bem intencionada, a estratégia de preço


mínimo para o cigarro garante elevados rendimentos a
indústria de tabaco ilegal e também fomenta a expansão de
outras atividades criminosas. Quando se trata de de segurança
pública, não adianta ter boas intenções mas implantar políticas
com base em achismos; é necessário pensar em soluções
eficientes para as questões urgentes do Brasil.

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#NãoAdianta

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