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Índice

Objectivos...................................................................................10
1. Introdução.............................................................................11
2. Drogação e Circuito de Recompensa do Cérebro..............12
2.1. Resenha Histórica do Uso de Drogas.............................15
2.2. Conceito de Droga...........................................................16
2.3. Consumo de Drogas........................................................17
2.3.1. Causas do consumo de drogas.....................................18
2.4. Drogodependência...........................................................18
2.5. Características das Drogas.............................................20
2.6. Tipos de Drogas...............................................................21
3. Sistema de Recompensa.......................................................21
3.1. Neurónios Dopaminérgicos............................................23
3.2. Drogas e Prazer...............................................................24
4. Conclusão..............................................................................26
5. Referências Bibliográficas...................................................27

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Objectivos

Objectivos Gerais
O objetivo do presente artigo é apresentar uma reflexão de caráter histórico

Objectivos Especificos
-

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1. Introdução

Este trabalho aborda as questões relacionadas com o consumo de drogas e seus efeitos
e o circuito de recompensa do cerebro. Constatou-se que o consumo de drogas é uma realidade
em Angola e que o álcool é a droga com prevalência mais elevada. A liamba e o tabaco têm
ainda taxas de prevalência altas. A heroína é a é a droga com prevalência mais baixa Os
consumos começam na adolescência pelo haxixe, a gasolina, a liamba e o álcool. A heroína é a
droga que é consumida com idades mais elevadas.

Antes do tratamento o álcool, seguido do tabaco e da liamba são as drogas consumidas


com mais frequência, enquanto o haxixe e a heroína são tem frequências de consumo baixas. O
álcool é a substância preferida da amostra. O tabaco e a liamba são, também, substâncias com os
toxicodependentes tendem a gostar. A heroína e o haxixe são as substâncias que vão menos ao
encontro dos interesses dos toxicodependentes. O trabalho é a principal forma de encontrar
meios financeiros para adquirir droga.

A fraude e a família são também usadas como forma de financiar os consumos. No


entanto, o roubo é praticado por alguns toxicodependentes e o tráfico de drogas tem uma
prevalência residual. Na maior parte dos casos, os consumos são, portanto, sustentados sem
recurso a actividades desviantes.

Os consumos são efectuados sobretudo em grupo, com os amigos. Os comportamentos


de risco relacionados com o consumo de drogas são residuais. O crime com maior prevalência é
o roubo, seguido da fraude e da agressão. Todos estes crimes foram praticados pelo menos um
terço dos toxicodependentes. A receptação é o crime menos praticado. O tráfico de drogas,
apesar de ter o crime com prevalência baixa, é o que apresenta maior incidência. Os restantes
crimes têm também taxas de incidência relativamente próximas e sempre superiores 1 crimes
em cada 2 meses.

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2. Drogação e Circuito de Recompensa do Cérebro

De maneira geral, o que é necessário compreender é que o uso de substâncias


psicoativas sempre esteve presente na vida dos homens, seja ela pelo uso recreativo ou
para fins ritualísticos. O consumo de drogas é uma realidade presente nas civilizações, o
que o diferencia para os tempos atuais são, principalmente, os controles estatais sobre
tal consumo.

Antes do aparecimento das políticas proibicionistas, as práticas de uso de


drogas encontravam-se em um estado de relativa liberdade e não eram alvo de nenhuma
preocupação estatal, seja da saúde pública, seja dos riscos individuais, seja dos corpos.
Isto até o início do século XX, quando surge o problema “droga”. Mesmo considerando
a premissa de que o uso de drogas não é algo novo, que o homem sempre obteve prazer
através do uso de psicoativos, que em toda sua vivência tomou substâncias psicoativas
como uma forma de escape, entre outros motivos, o modelo atual do Estado moderno
segue como uma prática punitivista e repressiva. É seguindo esta prática que hoje
estamos vivendo uma crise do probicionismo.

As drogas consideradas ilícitas como a maconha, cocaína e anfetaminas foram


proibidas na fase inicial do estabelecimento das políticas proibicionistas. Algumas delas
foram durante certo tempo de uso restrito, de uso médico e receitado, como a morfina,
muito usada no século XIX para controle da dor e na obstetrícia. Um outro exemplo,
ainda do século XIX é o da cocaína. Na década de 1880, por motivações científicas, o
médico Sigmund Freud, fundador da psicanálise, estudou a droga, elaborando
posteriormente o estudo “Ober coca” (Freud, 1884) na qual defendia o consumo da
droga para fins médicos, para o tratamento da ansiedade e da depressão. Posteriormente
a substância deixa de ser considerada um medicamento e passa a ser considerada uma
droga proibida, ilícita.

(...) Para determinar se a droga se destinava a consumo pessoal, o juiz atenderá à


natureza e à quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que
se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e pessoais bem como à conduta e
aos antecedentes do agente.

(Godoy, 2014)

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Percebemos no exemplo dado acima, sobre a corrupção policial, como a
distinção projetada pela justiça produz inconsistências ao ser trabalhada na prática, já
que o critério para diferenciação é subjetivo. Assim, fica claro que um morador de
favela residente em um local que possui tráfico de drogas pode facilmente ser
apreendido como traficante. O que permite compreender o perfil da maioria daqueles
que são presos por tráfico de drogas.

“As pessoas que são presas, pelas pesquisas que produzimos,


normalmente são rés primárias que portavam pequenas quantidades. Não
conseguimos neutralizar as grandes redes de distribuição”.
(Pimenta, 2016)

É essa conjunção entre local, condições da ação, circunstâncias sociais e


pessoais que abre a possibilidade de que qualquer jovem, pobre, morador de favela
possa ser preso por tráfico de drogas. Essa seletividade, assim, se junta as redes de
corrupção como os principais motivos para ter tantos presos por tráfico de drogas.

Outro fator importante, informado pela Infopen, é que para as mulheres houve
um aumento de encarceramento por tráfico de drogas de 34% em 2005 para cerca de
63%, em 2016.

De forma geral, “os criminosos autuados e presos pela conduta descrita como
tráfico de drogas são constituídos por homens e mulheres extremamente pobres,
com baixa escolaridade e, na grande maioria dos casos, detidos com drogas sem
portar nenhuma arma.”.

(Zaccone, 2007: 11)

Essa seletividade penal acima ressaltada por Orlando Zaccone explica a


diferença de tratamento em relação ao crime, segundo ele “os grandes postos de venda
de drogas ilícitas na Barra, por exemplo, se localizam em áreas residenciais de acesso
privado, como apartamentos e condomínios, espaços onde a polícia não tem entrada
franqueada” (ibidem). Ao contrário do pobres e moradores de favela que têm suas casas
invadidas. Em resumo, a lei de drogas e as práticas policiais de combate ao tráfico de
drogas, fazem parte de um quadro mais geral de arbitrariedade e discriminação.

(...) Hoje em dia, o principal alvo da arbitrariedade policial são os mais vulneráveis
e indefesos da sociedade brasileira: o pobre, o trabalhador rural e sindicalistas,

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grupos minoritários, crianças e adolescentes abandonados, muitos vivendo nas
ruas. Muita dessa violência é alimentada por uma discriminação enraizada na
sociedade contra os pobres e as minorias raciais, que são em sua maioria vítimas de
homicídio. A prisão arbitrária e a tortura são práticas policiais muito comuns.

(Pinheiro, 1997: 2)

Como dito acima, a lei de drogas brasileira sempre é debatida pensando na sua
eficácia. É sempre a visão de um combate diário que predomina: seja o combate por
meio da repressão policial, muitas vezes de forma truculenta, ao tráfico de drogas, seja o
combate em uma forma mais branda, com investimentos voltados para a assistência dos
usuários. A repressão ao tráfico é sem dúvida a principal ação do Estado: as medidas
repressivas ainda são vistas como o principal mecanismo para a redução da violência
nas cidades e a diminuição do tráfico de drogas no Brasil. Para muitos ainda vale a frase
“olho por olho, dente por dente”. A violência do crime deve ter uma resposta à altura. É
o que ressalta Pinheiro (1997: 4) ao dizer que “é muito forte o apelo para que os atos de
violência se legitimem como facilitadores de resolução de conflitos”.

A relação entre o tráfico de drogas e violência é um sentido construído pelos


media, produzindo que todas as pessoas envolvidas no comercio de drogas ilícitas
são bárbaros e insuscetíveis de recuperação, sendo o recrudescimento penal o único
caminho possível para o Estado na questão das drogas.

(Zaccone, 2007: 122)

Não pretendo, contudo, dizer que não existem comportamentos violentos por
parte de alguns usuários da cocaína, droga esta que está no centro do meu estudo, mas,
sim, afirmo a necessidade de olhar para o quadro mais geral, para podermos perceber a
situação de quem sofre abusos de forma restrita dentro do ambiente familiar.
Continuando sobre o tema da estigmatização dos usuários de drogas, lembremos das
diversas campanhas morais, muitas vezes apelando para os valores religiosos, em que
determinados comportamentos são considerados sagrados ou puros, e outros profanos
ou impuros. Lembremos, por exemplo, das perseguições religiosas no século XV, ou da
Santa Inquisição em que o mal deveria ser exterminado através do fogo.

(...) Ah! Disse que era viciado, doente... dei uma de maluco. Nessas horas tem
que apelar!” Para se fazer de louco o rapaz teatralizou: “falei frases desconexas
e até mesmo simulei um surto para poder convencer os policiais que era um
caso perdido!

(Fontana, 2011: 146)

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(...) Se tiver pega de carro não vai ser o pegueiro, vai ser o jovem que dirigia o
carro tal, tem nome, mas traficante não, virou uma categoria fantasmática, é 30
uma categoria policial que migrou para a academia, para o jornalismo, para a
psicologia e que não tem cara, não é mais humana. É uma coisa do mal.

Zaccone (2007).

Podemos então perceber que a figura de usuário e traficante carregam em suas costas
um estereótipo construído pela visão policial e intensificado socialmente no meio da população.

Mas como o estereótipo é construído? Le se dá através das performances dos


corpos, como o jeito de andar ou de se vestir – o comportamental associado ao
estilo de vida, a sua classe econômica, seus gostos.

(Bourdieu, 1979: 240)

A repressão aos negros se dá través desta estigmatização criada em conjunto com a


mídia que articula a imagem de um traficante como sendo um rapaz pobre e negro. Este
estereótipo é conduzido para afirmar um preconceito social e o medo generalizado é produzido
através destes artifícios.

Na verdade, o “medo” do traficante, o pavor das drogas ilícitas e dos seus efeitos
sobre o comportamento dos jovens, a necessidade de se combater o “crime
organizado” e guerrear contra um inimigo declarado, justificam, no Brasil, a
manutenção da militarização do modelo repressivo contra as drogas.’’

(Machado, 2010: 7)

Já pude observar o medo de algumas pessoas ao ver um jovem negro entrando em um


ônibus, nos olhares em relação a este rapaz ficam claro a tentativa de distanciamento e a
preocupação com sua própria segurança. Em outra ocasião, num diálogo em uma roda de
amigos, surgiu o tema da criminalidade. Devo dizer que sempre tive um contato próximo e um
diálogo aberto com meus amigos em relação aos problemas sociais que o Brasil está passando.
Apesar de pensar de forma divergente da deles, a contribuição nesta roda de amigos me ajudou
a pensar nesta monografia os impactos da droga de forma geral. A discursão sobre o tema trazia
vários sentimentos diferentes, às vezes na forma de compreensão e noutras de desentendimento.
Para estes meus amigos de forma geral, existia uma possibilidade de melhoria social, através de
uma série de ações mais firmes e solidas que resultassem no controle comportamental da classe
perigosas.

2.1. Resenha Histórica do Uso de Drogas

As primeiras experiências humanas com as drogas deram-se através do consumo de


plantas e seus derivados. A partir do século XIX teve lugar o desenvolvimento da 2ª fase desse

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fenómeno. Assim começa a produção de novas plantas mais potentes de drogas. Nesta fase
aparecem as drogas consideradas semi-sintéticas como a heroína, sintetizada, em 1874, a partir
da morfina por Wright.

Assim Wright (2000) realça que os Opiáceos são extraídos de uma planta designada
pupila do sono papa ver somniferum, cultivada no sul da Ásia. É um produto de secreção de
planta recolhido da incisão das cápsulas que aparecem sob forma de seiva branca que coagula e
seca ao sol.

Segundo Pastor (2001), cerca do ano 1500 a.C., existiram indicações da utilização da
folha coca como anestésico para a cirurgia cerebral; relata também que a cocaína produz uma
acção anti-fadiga; o aumento do nível de glicose no sangue; acelera a pressão arterial; aumenta
efectividade cardíaca e melhor; ventilação pulmonar.

O início do século XX é o ponto de viragem em termos de diminuição da aceitação da


cocaína. Existem dados que evidenciam o seu potencial aditivo e a capacidade para induzir
complicações psíquicas, quando se consome em grandes quantidades. Em 1914, os Estados
Unidos proibiram as bebidas e produtos contendo cocaína. As experiências humanas com droga
deram-se através de consumo de plantas a milhares de anos, estas drogas eram consideradas
naturais.

A partir do século XIX, teve lugar o desenvolvimento de uma 2ª fase desse fenómeno.
Nesta fase, o ser humano isola-se dos princípios activos vegetais (alcalóide) para produção de
novas e potentes drogas, mas continua a dependência nas plantas. Aparecem assim as drogas
consideradas semi-sintéticas, como a heroína, sintetizadas, em 1874, apartir da morfina por C.R.
Wright.

Uma 3ª fase começa efectivamente quando uma substância psicoactiva é sintetizada


totalmente em laboratório, sem precursores vegetais. As 1ª experiência deste tipo tiveram a sua
origem a partir da 2ª metade do século XIX e concretizaram-se no inicio do século XX, estando
em pleno desenvolvimento a partir de então.

2.2. Conceito de Droga

Segundo a Organização Mundial da Saúde (O.M.S) em 2006, definiu que droga é


toda substância introduzida no organismo causando alterações e o mau funcionamento do
mesmo. Este conceito é excessivamente amplo, nele pretende incluir-se não só de
considerarmos popularmente como “droga”, mas também todo tipo de fármacos.

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“Toda substância que, introduzida no corpo por qualquer dos mecanismos de
administração clássicos dos medicamentos (inalação, ingestão, fricções etc.) ou
novos (administração parenteral, endovenosa, etc.), tenha tal produto utilidade
terapêutica ou não seja capaz de produzir uma modificação na conduta do
sujeito, condicionada pelos efeitos imediatos, (psicoactividade) ou persistentes,
de tal natureza que existe uma evidente renuncia ao uso continuado do produto”

(Freixa, 1981)

Droga (fr. droga; ing.drug), segundo a acepção francesa, substância que possui
probabilidades farmacológicas na medida em que conduza uma tolerância e a uma dependência
e, na maioria das vezes, à toxicomania. A tradução e o uso da palavra anglo-saxónica drug são
impróprias; este último termo corresponde a qualquer substância natural ou artificial que,
devido á natureza química, a estrutura a função de certos órgãos. Ao contrário deste sentido
alargado, é conveniente reservar o uso da palavra droga ás substâncias, ilegais ou não, utilizadas
para um fim teoricamente não farmacêutico de busca de prazer, de evitamento de dor física ou
psicológica ou de redução dos (efeitos do desmame).

Uma molécula, uma substância farmacológica ou um medicamento não se torna uma


droga se não a partir do momento em que se esta a produzir, num determinado indivíduo, efeitos
que lhe provocam a necessidade imperiosa de querer repetir a experiência produzida pelo
consumo. Este último ponto explica a importância dos ensaios pré-clínicos que precedem a
colocação de um medicamento no mercado.

Entre as drogas mais conhecidas, podem citar-se o haxixe, e os seus derivados,


os derivados das substâncias opiáceos, os alucinógenos e outras substâncias
com efeitos, psicadélicos, os psicoestimulantes (anfetaminas, cocaína), o álcool
e as preparações alcoólicas, o 12 tabaco e as diversas preparações que contêm
nicotina, as preparações que contêm cafeína e os seus derivados (café, chá, etc ).

(Doron & Parot, 2001).

2.3. Consumo de Drogas

Entende-se por consumo de drogas a utilização de substâncias químicas que podem


ter repercussões nefastas no organismo, isto é, a nível mental, de orientação e de
consciência. O Consumo de drogas é comparável ao desenvolvimento de qualquer
carreira convencional e conta de uma serie de etapas: mais se avança por este
caminho maior é o compromisso e como consequência, diminui a probabilidade de
se conseguir caminho alternativo.

(Coombs, 1976; Coombs, 1981a).

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Sendo assim, o consumo de drogas ao ser ilegal e perigoso, em potência, oferece um
risco considerável e pode ser, portanto um desafio. A experiência de droga pode supor também
um reconhecimento considerável por parte dos elementos da mesma idade. Os indivíduos e
jovens do grupo de adolescente vêm o desvio à lei como brilhante, emocionante e atrevido.

Segundo a O.M.S (2006), Um jovem drogado arrastado pela polícia, achou o acto
como excitante e como algo que valia a pena. E ficou contente com esta aventura. Outros jovens
experimentam a droga para entrar no grupo dos drogados. Comportamento de risco é o conjunto
de acções realizadas por um individuo causando probabilidade de danos ao nível da vida.

2.3.1. Causas do consumo de drogas

Algumas das mais comuns causas do consumo de drogas são:

Falta de suporte familiar;

Pobreza;

Falta de escolaridade;

Desemprego;

Síndrome de abandono;

Más companhias;

Depressão económica;

Lares superpovoados.

2.4. Drogodependência

A dependência é um estado teoricamente bem caracterizado mas, praticamente, difícil


de estabelecer, nomeadamente se se considerar uso de certos medicamentos (ansiolíticos, mais
também opiáceos); além disso, é preciso avaliar a prescrição e a absorção destas substâncias em
termos de custos benéficos para o sujeito.

A busca ou o consumo das substâncias particulares é tão antiga como o mundo vegetal
donde a maior parte delas provém, e o homem (tal como os animais) aprendeu a conhecêlas, a
evita-las, a consumi-las e até mesmo a sacraliza-las. É interessante considerar que as moléculas
vegetais possuem receptores específicos no cérebro, aptos a reconhecê-las e com os quais elas
interagem para produzir os seus efeitos.

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Devido os seus potenciais efeitos deletérios, para além do prazer ou do alivio
procurado, as drogas encontram-se no seu centro de um problema social que se tornam mais
dramático pelo carácter ilícito da sua obtenção. A procura e a oferta constituem um mercado
relevante ao qual se acho conveniente chamar “ o meio da droga “ que rege o acesso ao tóxico e
o custo de uma dose absorvida. A distinção entre droga dura, menos dura e tolerada é mais
social que médica não tem uma base científica rigorosa.

Entre as drogas que possuem efeitos nocivos consideráveis e que colocam problemas
reais de saúde pública, podem citar-se o álcool e o tabaco: a nicotina e o álcool são drogas legais
cujo consumo é encorajado em numerosas sociedades.

Face a estes flagelos, os barbitúricos ou os opiáceos colocam problemas de menor


importância numa sociedade. A definição de uma substância como drogas ou não, resulta de
decisões de certos sectores da sociedade; é por isso que os produtos àbase de álcool ou de
nicotina são arbitrariamente excluídos da classificação.

Finalmente, por razões ainda mal compreendidas, o efeito de uma determinada


droga está sujeito a grandes diferenças individuais e as pesquisas relativamente ás
bases biológicas, epigenéticas e genéticas destas diferenças são tão importantes
como as pesquisas relacionadas com os efeitos padrão neuro-farmacológicos.

(Doron & Parot, 2001).

“Síndrome caracterizado por um modelo de comportamento no qual se dá absoluta


prioridade ao uso de uma droga ou classe de drogas contrastando esta conduta com
os demais comportamentos que o sujeito antes considerava como a mais
importante”.

(O.M.S,1982).

A isto a que ter em conta o seguinte: a “dependência” não é simplesmente o resultado


de uns efeitos imediatos ou agudos do produto e a conduta conducente a repetidaexperiência dos
efeitos.

“É uma situação complexa na qual a estrutura social a que está emerso o sujeito, as
relações grupais e exposição ao produto formam um enredo que expressa o
comportamento do drogado que origina não só uma conduta de procura mas os
câmbios e modificações de relações do sujeito com a família, com o seu modo de
trabalho e com seu grupo a que pertence, de tal magnitude ao pertencer no tempo
que na ausência de acções farmacológicas conhecidas, o sujeito vive a superação
do produto com angústia e ansiedade e com um modelo de procura característico
para cada espécie do produto”.

(Freixa
, 1981).

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Sendo assim, a dependência é um padrão desadaptado da utilização de substâncias
levando a défice ou sofrimento clinicamente significativo manifestado por três ou mais dos
seguintes: ocorrendo em qualquer ocasião no mesmo período de 12 meses.

Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes:, necessidade de quantidades


crescentes de substância para atingir a intoxicação ou o efeito desejado. Diminuição do efeito
com a utilização continuada da mesma quantidade de substância.

Abstinência, manifestada por qualquer um dos seguintes:, Síndrome de abstinência


característica da substância. A mesma substância, ou outra relacionada, é consumida para evitar
ou aliviar os sintomas de abstinência.

A substância é consumida, frequentemente, em quantidades superiores ou durante o


período mais prolongado do que se pretendia inicialmente.

Desejo persistente ou esforços continuados para parar os consumos.

Dispêndio de grande quantidade de tempo em actividades necessárias a sua obtenção e


utilização, bem como para recuperação dos seus efeitos.

É abandonada ou está diminuída a participação em importantes actividades sociais,


ocupacionais ou recreativas, devido à utilização da substância.

A utilização da substância é continuada apesar da existência de um problema


persistente ou recorrente, físico ou psicológico, provavelmente causado pela
utilização da referida substância.

(Yurrita, 2009).

2.5. Características das Drogas

Antes de entrar no tema da classificação das drogas, convém tratar os problemas que
qualquer taxonomia comporta assim deve considerar-se:

Uma mesma droga pode produzir distintos efeitos: segundo a situação do consumo,
segundo o sujeito consumidor (personalidade, hábito, etc.), segundo a via e forma de
administração e, sobretudo, segundo a dose administrada.

Uma droga nunca produz um só efeito sobre o comportamento: o álcool, por exemplo,
é um depressor, produz sono, é um anestésico, pode produzir alucinações etc.

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Aos efeitos sobre o comportamento se designa de forma vaga e indeterminada: os
diferentes termos (euforizantes, alucinogénios, etc.), são, além disso, utilizados frequentemente
com diferentes significados por distintos autores e investigadores.

Segundo Lewin (1924), apesar destas inconveniências, vamos dar algumas das
classificações mais relevantes:

Eufóricas: ópio, morfina, heroína, coca, cocaína, etc. – suspendem as faculdades de


emotividade e percepção, pondo o sujeito num estado físico e psíquico.

Fantásticas: mes, Calina, cannabis. São agentes das ilusões, de forma sensações.

Inebrantias: éter, clorofórmio, álcool etc. São embriagantes, depois de uma primeira
fase de excitação cerebral, dá lugar a uma depressão de tal excitabilidade.

Hipnóticas: barbitúricos, brómio, cloral. Produzem sono.

Excitantes: cafeína, cacau, café, chá, noz de cola, arsénio sem alterar a procuram um
estado de estimulação cerebral subjectivamente.

2.6. Tipos de Drogas

A O.M.S (1957) publicou a classificação de drogas em grupos. Baseando-se nos


estudos de Yurrita (2009), as substâncias psicoativas classificam-se em:

Psicolépticos ou depressores do S.N. C. reduzem a actividade do S.N.C. provocam


relaxamento, lentificação psicomotora.

Psicoanalépticos ou estimulantes do S.N. C. incrementam a actividade do S.N.C.,


aumenta a vigília, reduzem a sensação de fadiga, em alta dosagem, provoca excitação extrema.

Psicodislépticos ou perturbadores do S.N.C. alteram a percepção da realidade


(sensopercepção) e humor.

3. Sistema de Recompensa

Conheça, de forma resumida, o mecanismo de ativação do sistema de recompensa das


principais drogas de abuso.

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1. Cocaína

A cocaína se liga à bomba de recaptação da dopamina na fenda sináptica, fazendo com


que ocorra prolongação do efeito de prazer e felicidade com concomitante ativação do sistema
de recompensa. Além da dopamina, a coca impede a recaptação de serotonina, responsável pelo
controle do humor, e atuante indireta do sistema de recompensa.

2. Anfetaminas

As anfetaminas provocam uma maior eliminação de dopamina nas vesículas pré-


sinápticas, promovendo maior quantidade desse neurotransmissor na fenda sináptica. Elas
também causam diminuição de sua recaptação, mas muito menos quando comparado a cocaína.

3. Etanol

O etanol atua, principalmente, sobre as vias dos sistemas GABAérgico, além de


estimular o sistema serotoninérgico e inibir o sistema glutamatérgico, provocando seus efeitos
sistêmicos e psíquicos. Sugere-se que o etanol provoque uma maior liberação de dopamina na
fenda sináptica, ativando o sistema de recompensa.

4. Nicotina

Assim como o etanol, a ativação de recompensa da nicotina também é indireta, através


do glutamato. Ao se ligar aos receptores nicotínicos do sistema colinérgico, promove a liberação
do glutamato, que, por ser um neurotransmissor excitatório, atua aumentando a liberação de
dopamina na área de recompensa. Ela também promove a inibição do GABA, ou seja, evita que
ocorra atividade inibitória sobre o excesso de dopamina, prolongando a sensação eufórica e
prazerosa.

5. Maconha

A maconha é constituída por vários canabinóides, como tetrahidrocanabinol (THC),


canabinol (CBN) e canabidiol (CBD). O THC é o mais abundante, sendo responsável pelos
efeitos psicoativos da droga. O organismo possui receptores canabinóides naturais, CB1 e CB2,
acoplados à proteína G, encontrados em grande concentração na ATV e NAcc. Supõe-se que a
ligação do THC com esses receptores promova uma maior liberação de dopamina e ativação da
área de recompensa.

6. Opióides

Assim como na maconha, o organismo possui três receptores naturais para os


opióides, sendo apenas um, o μ, responsável pelos efeitos de prazer causados no uso da droga.

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Essas substâncias ao se ligarem aos receptores na ATV e no NAcc promovem o envio de um
sinal que aumenta a liberação de dopamina, ativando o sistema de recompensa. Assim como a
nicotina, os opióides são capazes de inibir a inibição provocada pelo GABA, tornando os efeitos
da dopamina na fenda sináptica mais duradouros.

Como refere Marques-Teixeira (1998): "...um conceito-chave para a compreensão


deste tipo de interacções é o de recompensa, que constitui uma propriedade característica de
muitas drogas aditivas...".

Efectivamente, a dopamina representa um papel central quanto às propriedades


adictivas das drogas e como referem Angel e col. (2000): "...os neurónios dopaminérgicos,
representam, pelo lugar privilegiado que ocupam, no seio do sistema nervoso central e pela sua
implicação no controlo dos comportamentos afectivos e nas emoções (entre as quais o prazer), a
«via comum» quanto à acção da maior parte das «drogas».

3.1. Neurónios Dopaminérgicos

Os neurónios dopaminérgicos enviam projecções divergentes, para diferentes regiões


cerebrais, a partir dos seus corpos celulares reunidos no mesencéfalo, em núcleos que
constituem a substância negra e a área tegmental ventral.

Os neurónios dopaminérgicos que emergem da substância negra, projectam-se


sobretudo para o estriado, estrutura cerebral implicada no controlo da motricidade e os que se
manifestam a partir da área tegmental ventral, dirigem os seus axónios para as áreas corticais e
subcorticais, particularmente para o córtex pré-frontal (projecções mesocorticais) e o nucleus
accumbens (projecções mesolímbicas). Estas estruturas anatómicas estão relacionadas com os
processos mnésicos, as reacções comportamentais referentes à emotividade e ao controlo dos
comportamentos afectivos e motivacionais.

Esta localização particular dos neurónios dopaminérgicos confere-lhes um lugar


estratégico na estrutura cerebral e permite-lhes o controlo do equilíbrio entre as referidas áreas
corticais e subcorticais. Estes neurónios estabelecem, conforme a situação com a qual o
indivíduo se confronta uma hierarquia relativamente às diferentes estruturas que inervam. Se,
num determinado momento, estes neurónios activarem uma certa zona do cérebro,
posteriormente, vão activar outras, porque foi recebida uma informação diferente, relacionada
com um acontecimento novo que surgiu.

Os neurónios dopaminérgicos exacerbam o papel funcional das estruturas que


inervam, sendo simultaneamente, «indicadores» que registam e decifram o significado das

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ocorrências (internas e externas) e «decisores» que implicam as estruturas que devem intervir na
resposta.

Do ponto de vista funcional, os neurónios dopaminérgicos são particularmente


sensíveis às condições ambientais, como as referentes às situações de ansiedade e de stress.
Além disso, as diversas estruturas que inervam, fazem-nos intervirsimultaneamente em funções
motoras, emotivas, motivacionais e cognitivas. Eles respondem a estímulos que, pelo menos no
animal, correspondem a situações com um significado, que o hábito e a aprendizagem, fizeram
adquirir.

Assim, embora os neurónios dopaminérgicos tenham uma importância, que lhes é


reconhecida no controlo da motricidade, não será o movimento por si mesmo que activa estas
células, mas antes, o seu início efectuado na sequência de um estímulo significativo. Nesta
perspectiva, é a abertura da porta do biotério - susceptível de prevenir da aproximação de
alimento - que origina a reacção de orientação do animal, antecedida e acompanhada pela
activação dos neurónios dopaminérgicos.

Como referem Angel, P. e col, (2000): "...os neurónios dopaminérgicos (em particular
as projecções mesolímbicas) apenas são activados por estímulos que adquiriram previamente
um sentido e um significado, através da história e do desenvolvimento do animal ou do
indivíduo, em particular nos domínios, emocionais e/ou motivacionais...".

3.2. Drogas e Prazer

Pela sua implicação no controlo dos estados emotivos - e pela sua activação por
estímulos que adquiriram previamente um significado emocional - os neurónios dopaminérgicos
pertencem, com as estruturas límbicas que inervam (nucleusaccumbens, córtex pré-frontal e
certas regiões do hipotálamo), a um «sistema de recompensa» cerebral que, como refere
Marques-Teixeira (1998): "...de uma forma natural, está na base dos comportamentos que
asseguram a manutenção da vida...".

Este conceito, emergiu da descoberta do fenómeno de auto-estimulação intracraniana


(Olds, J. e Milner, P., 1954), verificado na sequência da administração operante, em contexto
laboratorial, de pequenas descargas eléctricas em várias estruturas neuroanatómicas do rato, que
começava depois a apoiar-se na alavanca ligada ao eléctrodo, que havia sido implantado
experimentalmente no seu cérebro, tendo em vista a repetição da experiência vivenciada.

Constatou-se, que um tal comportamento não satisfazia aparentemente qualquer


necessidade fisiológica e que o animal, podia reservar todo o seu tempo e a sua energia a auto-

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estimular-se, passando inclusivamente a descurar as suas necessidades mais vitais (fome, sede,
sono), até à morte. Em consequência, tornou- se aparente a hipótese, da existência no cérebro de
um sistema de recompensa que produziria, pela sua estimulação, uma «satisfação cerebral», ou
referindo de outro modo, um prazer.

Este fenómeno pode efectivamente ser aproximado do prazer (efeitos hedonistas,


estimulantes e euforizantes) obtido pelas drogas. Quando se activam as zonas de recompensa do
cérebro por um meio exterior como seja a estimulação eléctrica, impede-se o acesso das
informações internas, e o animal (e por extrapolação o indivíduo), experimenta um bem-estar. A
generalidade das drogas, actua conforme este mesmo princípio. Neste âmbito, a acção
farmacológica devida a uma modificação da recaptação neuronal (psicoestimulantes) ou à
estimulação de certos receptores (outras substâncias) substitui, a este propósito, a acção da
corrente eléctrica.

A área tegmental ventral (o núcleo mesencefálico que reúne os corpos celulares dos
neurónios dopaminérgicos sensíveis ao «prazer»), constitui a região que dá lugar ao
comportamento mais importante de auto-estimulação. Esta estrutura é integrada por vários
receptores como, opiáceos, nicotínicos, canabinóides e gabaminérgicos que permitem às drogas
estimular, directa (cannabis, nicotina) ou indirectamente (morfina, heroína) a actividade
dos neurónios dopaminérgicos. Relativamente ao álcool, a sua acção sobre o sistema
dopaminérgico parece resultar de processos, simultaneamente directos e indirectos.

Os neurónios dopaminérgicos e em particular as suas projecções mesolímbicas,


constituem a «via comum» quanto à acção da maioria das «drogas», resultando da sua
respectiva ingestão, o desenvolvimento desta transmissão.

Como referem Angel, P. e col. (2000): “... esta convergência do efeito das diferentes
substâncias adictivas sobre os neurónios dopaminérgicos (mesolímbicos) explica as sensações,
em particular de prazer, experimentadas aquando da toma de «droga» e permite compreender
porque é que o toxicodependente pode substituir sem dificuldade, um produto por outro. Ela
explica de igual modo à dependência psíquica, isto é, a necessidade compulsiva, quase
irreprimível, de consumir a substância adictiva, a fim de experimentar os seus efeitos de reforço,
que origina um comportamento de procura activa do produto.".

Todavia, o sistema dopaminérgico nos efeitos de reforço das drogas, não parece
estar implicado de forma exclusiva.

Marques- Teixeira (1998)

Contudo, os sistemas bioquímicos envolvidos na recompensa face às drogas são essencialmente


três: sistema dopaminérgico, sistema dos opiáceos e sistema.

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4. Conclusão

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5. Referências Bibliográficas

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Darcourt,G.(1994),«Économie psychique et dependence»,in Fournier , E.; Gaultier ,
M .; piva,I , Bismutii ,I.(1972),«Intoxication chronique parles adolescence.

2. AGUIAR, Carlos Henrique. Violência e Estado punitivo no Brasil contemporâneo:


crônicas.
Angel, p, Angel, s.1989. famille et toxicomanie, paris,Editions Universitaires.
Babikian, H 1973 «Report at American Academy of Psychoanalysis» cit. por D.
BARBOSA, Antônio Rafael. Um abraço para todos os amigos: Algumas considerações.

3. BASTISTA, Nilo. Mídia e sistema penal no capitalismo tardio. Rio de Janeiro:


Editora D.Bailly,J.L.VENISSE.(eds.)Dépendance et conduites de mortes anunciadas.
Publicado pelo Programa De Pós-Graduação Em Ciências Jurídicas, dependence, paris,
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5. J.M.(1980),«Aspects biochimiques de la douleur»,in opiacés», Ann. Med. Int.


Flinn, w.R.(1973),«Drug abuse as a defense in adolescence», paris.Gallimard.

6. Revan, 2002. sobre o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Niterói: Ed. EDUFF, 1998.
UFPB - PRIMA FACIE, 2011. Zimmerman,the jornal.Addiction Reserch foundation of
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