Você está na página 1de 7

MEDICINA TRADICIONAL IRANIANA

Professor Farshād ʾĀmīnī Behbahānī

Transcrição: André Protóclito


Diagramação: San

SUMÁRIO

Medicina Tradicional Iraniana


Introdução.................................................................................................2
Diferentes Nomes da Medicina Iraniana Tradicional..............................2
Lógica Aristotélica: Causa Material..........................................................4
Lógica Aristotélica: Causa Formal............................................................4
Lógica Aristotélica: Causa Eficiente.........................................................5
Lógica Aristotélica: Causa Final...............................................................6
Seis Princípios Essenciais...........................................................................7

1
INTRODUÇÃO
Os alunos tradicionais iranianos, no início de sua formação tradicio-
nal, familiarizam-se com as leis da natureza e seus componentes, incluindo
elementos, humor, temperamentos, anatomia, espíritos, faculdades e suas
ações. Na etapa seguinte, os alunos se familiarizam com os sinais e as causas
das doenças, que são muito semelhantes ao que hoje é conhecido como se-
miologia e etiologia na medicina convencional. A próxima etapa é aprender
as regras ou leis dos tratamentos — quase trezentas leis. Ao aprender essas
leis, os alunos se tornam aptos a se familiarizar com a escolha de diferentes
tratamentos, que incluem tratamentos à base de ervas, minerais, animais (o
que significa usar produtos de animais), manuais (o que significa manipu-
lação ou cirurgias menores) ou até mesmo psicológicos, com base nas con-
dições e nos critérios do paciente.
A diferença nesse estilo de treinamento é a lógica aristotélica, que é
enfatizada. A lógica aristotélica pode ser incluída, ou usada, em qualquer
nível de aprendizado da medicina tradicional iraniana. Por exemplo, a lógi-
ca aristotélica explica os elementos como componentes da natureza, a lógi-
ca aristotélica explica os sinais e o diagnóstico, a lógica aristotélica ajuda a
escolher o tratamento adequado para o paciente e assim por diante. Na
perspectiva da lógica aristotélica, para uma melhor compreensão de um ob-
jeto ou fenômeno, quatro causas precisam ser consideradas: causa material,
causa eficiente, causa formal e causa final.

DIFERENTES NOMES DA MEDICINA IRANIANA


TRADICIONAL
Medicina tradicional iraniana, ou persa, refere-se a todas as nações
que estavam dentro do território do Império Persa, que usavam essa escola
de medicina. Outro nome é medicina yūnānī, referindo-se a Yūnān, que é
como os estudiosos iranianos e árabes chamam as regiões costeiras e as ilhas
do Mar Mediterrâneo. Antes disso, Yūnān era uma ilha, que hoje está afun-
2
dada e não sabemos onde fica, governada por Hermes Trismegisto, que ti-
nha os dons da realeza, da sabedoria e da profecia. Uma estranha particulari-
dade do povo dessa ilha é que eles nunca se esqueciam de nada, de modo que
puderam desenvolver uma cultura que governou o mundo naquela época,
muito semelhante à Atlântida do Timeu de Platão. Portanto, se nomearmos
essa escola de medicina como medicina atlante, não seria de se admirar.
Outro nome é medicina árabe, porque a maioria das fontes desse ti-
po de medicina foi traduzida ou escrita em árabe, de mil anos atrás até hoje.
Medicina tradicional islâmica é outro nome, que se refere a todas as nações
no território do ʾIslām e, por causa disso, alguns filtros causaram a exclusão
de alguns tratamentos ou uma mudança neles para que fossem aceitáveis
na religião do ʾIslām. Medicina uigur se refere à nação islâmica no Oeste da
China que usava esse tipo de medicina — em combinação com a medicina
chinesa, é claro. Ela também é chamada de medicina humoral, porque esse
sistema de medicina trabalha com os quatro humores. Medicina natural é
outro nome para ela, diferindo, é claro, da medicina natural que é praticada
atualmente nos Estados Unidos e na Europa; a medicina natural refere-se à
natureza como a principal administradora do corpo, que é um dos princí-
pios essenciais dessa escola de medicina.
Medicina hipocrática refere-se a Hipócrates, um cientista grego que
também é conhecido como o pai da medicina. Ele foi o primeiro a escrever
sobre esse tipo de medicina e a difundiu fora de sua família, ensinando es-
tudantes fora de sua família. Ele é muito apreciado nessa escola de medici-
na, e seus trabalhos são traduzidos, além do trabalho de Galeno, de quem
também podemos chamar esse tipo de medicina de medicina galênica. Ela
também é chamada de medicina de Avicena, referindo-se a Avicena, ou ibn
Sīnā, outro cientista, famoso como o Príncipe da Medicina, que foi o pri-
meiro a explicar essa escola de medicina pela lógica aristotélica e a aprimo-
rou para outro nível.
Todas as nações do Império Persa ou do território islâmico podem
associar o nome de seu país a esse tipo de medicina e chamá-la de sua medi-
cina tradicional. Podemos também encontrar esse tipo de medicina mistu-
rada à medicina popular do México, trazida pelos conquistadores espa-
3
nhóis para a América do Sul — há uma crença nos quatro humores, ou
quatro elementos, nesse tipo de medicina, conhecida como medicina tradi-
cional mexicana, embora, obviamente, a medicina tradicional mexicana
não se limite apenas à medicina tradicional yūnānī ou persa.

LÓGICA ARISTOTÉLICA: CAUSA MATERIAL


Quando falamos de causa material, devemos fazer a seguinte pergun-
ta: qual ingrediente, ou matéria-prima, fornece o tecido do objeto ou fenô-
meno físico? Por exemplo, do ponto de vista da medicina convencional,
bactérias, moléculas químicas envolvidas em quimiotaxia, glóbulos bran-
cos, o órgão envolvido, e o hipotálamo são as causas materiais de uma febre
infecciosa. Do ponto de vista da medicina tradicional, o órgão infectado, o
humor úmido (que é suscetível à infecção), o coração, o vapor do órgão in-
fectado, e o espírito vital são as causas materiais da febre infecciosa. O trata-
mento, nesse nível, é eliminar a causa material, que pode ser manipulada,
ou seja, as bactérias, do ponto de vista da medicina convencional, e o hu-
mor úmido, na medicina tradicional. Na medicina convencional, usamos
antibióticos para eliminar as bactérias e, na medicina tradicional, usamos
um agente seco, ou medicamentos, para secar o humor úmido. Secura con-
tra a umidade. Por esse motivo, na medicina tradicional iraniana, chama-
mos os antibióticos de secadores de passagem.

LÓGICA ARISTOTÉLICA: CAUSA FORMAL


O fenômeno é definido, por meio de todas as características que o
distinguem de outros fenômenos, pelas suas causas formais. Por exemplo,
na febre infecciosa, um paciente suando, com o rosto vermelho e ruboriza-
do, com temperatura de 40°C, medida por um termômetro auricular, com
inchaço e feridas em um dos membros são as causas formais. Do ponto de
vista da medicina tradicional, a sensação de calor pelo paciente ou pelo
médico é a causa formal da febre, além do inchaço, é claro. O tratamento,
nesse nível, é principalmente uma terapia sintomática e não tem utilidade
4
ou benefício para o paciente. Por exemplo, usar anti-inflamatório tópico na
ferida ou usar antitranspirante no rosto do paciente é uma terapia de causa
formal, mas, em algumas exceções, não temos escolha de terapia de causa
formal, como é o caso quando a manipulação, ou cirurgia, de um osso fra-
turado ou de uma articulação deslocada é a única opção de tratamento que
temos. Outro exemplo é o dos cálculos renais: usamos a litotripsia para o
tratamento de cálculos renais, que, obviamente, é um tratamento de causa
formal, mas é o principal tratamento que temos.

LÓGICA ARISTOTÉLICA: CAUSA EFICIENTE


A causa eficiente explica qual qualidade, ou força, criou o fenômeno.
Por exemplo, em uma febre infecciosa, a reação do hipotálamo às molécu-
las liberadas pelas bactérias que compõem a infecção e o calor que se inicia
a partir do metabolismo são a causa eficiente da febre. Do ponto de vista da
medicina tradicional iraniana, um calor que afeta os humores úmidos, o
calor do vapor da infecção, e a queima do espírito vital são as causas eficien-
tes da febre. O tratamento, nesse nível, poderia ser o uso de antipirético
central e regulador de temperatura, como o paracetamol, de acordo com a
medicina convencional, e o uso de um agente de resfriamento oral ou tópi-
co na medicina tradicional iraniana.
Às vezes, há uma sobreposição entre causa eficiente e causa formal.
O calor é uma causa formal da febre infecciosa, ou seja, uma temperatura
de 40°C, por exemplo, mas, considerando que o calor é a principal qualida-
de que produz a febre, o tratamento do calor é um tratamento de causa efi-
ciente. Alguns tratamentos, por outro lado, sobrepõem causa eficiente e
causa material. Por exemplo, a drenagem do pus da ferida, é claro, é um tra-
tamento de causa material, mas, por meio dessa drenagem, evacuamos os
vapores que têm calor e que são causa de inflamação do espírito vital do
ponto de vista da medicina tradicional iraniana.

5
LÓGICA ARISTOTÉLICA: CAUSA FINAL
A causa final explica o objetivo final da criação do fenômeno. Por
exemplo, na febre infecciosa, com inchaço em parte de um membro, a pre-
venção da disseminação da bactéria para outras partes do corpo poderia ser
considerada a causa final da inflação. O objetivo da febre pode ser conside-
rado o de proporcionar um ambiente hostil para as bactérias invasoras, na
medicina convencional; na medicina tradicional iraniana, a dissolução do
humor úmido pelo calor da febre pode ser considerada a causa final da fe-
bre, portanto ajudar a natureza a dissolver ou eliminar o humor úmido, é
claro, seria um tratamento de causa material e, ao mesmo tempo, um trata-
mento de causa final. Em níveis mais elevados, o objetivo da febre infeccio-
sa poderia ser considerado manter o indivíduo ou paciente longe de um
ambiente ergonomicamente inadequado e, portanto, mudar ou corrigir o
ambiente poderia ser um tratamento de causa final.
De acordo com a medicina tradicional iraniana, um curandeiro, ou
médico, deve sempre ser considerado a causa última, ou causa final, para o
melhor tratamento do paciente. Sem considerar a causa final, todos os tra-
tamentos nos outros três níveis — ou seja, de causa material, de causa for-
mal, e de causa eficiente — podem ser considerados como terapia sinto-
mática. Na medicina tradicional, acreditamos que o curandeiro, ou médi-
co, é um servo da natureza e deve seguir a direção da natureza, portanto, o
curandeiro, na medicina tradicional iraniana, além de tratar a febre, a infla-
ção e a infecção, deve administrar a dieta, o sono, a vigília, o exercício e o
descanso do paciente, considerar as emoções do paciente e avaliar seu traba-
lho e o ambiente em que vive.
Ao concluir a compreensão da causa final, entendemos as quatro
causas da lógica aristotélica. Como lição de casa, quero que você pratique e
classifique o diagnóstico e os sintomas de algumas doenças — a escolha das
doenças que você quer escolher é sua — e também classifique os tratamen-
tos que você conhece nas quatro causas da lógica aristotélica.

6
SEIS PRINCÍPIOS ESSENCIAIS
Às vezes, o objetivo final da natureza de uma doença, ou dos sinais e
sintomas de uma doença, é manter um indivíduo, ou um paciente, longe
de um ambiente ou comportamento inadequado. Um curandeiro, ao co-
nhecer o ambiente e os comportamentos adequados, pode ajudar o pacien-
te a obter um tratamento melhor para sua doença.
Há seis princípios para manter a saúde e tratar doenças, que come-
çam com o ar ou, em outras palavras, o ambiente físico em que uma pessoa
vive. Por exemplo, uma casa, uma cidade ou um país, com uma montanha
ou um mar próximo, o solo ou a areia, o vento soprando, a circulação do
ar, o ângulo da luz solar, e as estações do ano são classificados como essenci-
ais para o ar. O segundo princípio essencial é composto pelos alimentos e
bebidas que uma pessoa consome. O terceiro princípio essencial é o do
movimento e da quietude; uma pessoa, ou qualquer organismo vivo, está
se movendo ou está parado. O quarto princípio essencial é dormir ou acor-
dar; uma pessoa precisa dormir e acordar. O quinto princípio essencial —
muito importante nos tratamentos — é a retenção e a expulsão; um orga-
nismo vivo precisa manter o material necessário em seu corpo e expulsar o
material desnecessário do corpo. Por fim, o sexto princípio essencial é o psi-
cológico. Um organismo vivo experimenta sentimentos que podem afetar
seu corpo, porque ele tem consciência. Ao compreender o perturbador,
por exemplo, o medo, a felicidade, a tristeza, a raiva ou a ira, e ao usá-lo, o
curador pode alcançar outro nível de tratamento.
O princípio essencial mais eficaz dos seis é o ar, mas o gerenciamento
do ambiente é muito difícil e caro, por isso a maioria dos estudiosos acredi-
ta que o melhor e mais poderoso essencial é o gerenciamento de pertuba-
ções da mente. A felicidade, por exemplo, pode ajudar na digestão. Propor-
cionar um ambiente melhor leva a uma melhor digestão. Da mesma forma,
evitar a tristeza ou gerenciar uma posição triste pode ajudar a prevenir ou
tratar uma doença.

Você também pode gostar