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em sala de aua
práicas ereflexÙs
Organizadores:
UFRGS
NIUE/UFRGS
EDITORA
© dos autores
1' edição: 1998
Direitos desta cdição:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
eAssociação dos Geógrafos Brasileiros -Seção Porto Alegre
Reviso: Maria da Glória Almeida dos Santos
Gabriela Carvalho Pinto
Mônica Ballejo Canto
Capa: Paulo Silveira, apartir da concepção de Rudinei Kopp
Editoração eletrônica: Lucas Frota Strey
táveis conflitos. O espaço reflete isso e, por sua vez, condiciona anossa própria
intencionalidade.!
'Prédios e estradas são obra humana (intencionalidade) mas, uma vez construídos., não são mais simples obje
tos da paisagem. Induzem-nos a comportamentos, requerem respeito a regras. Não colocamos a geladeira em
qualquer peça da casa e nem os carros andam pelas calçadas.
Geografia em salu de aula/13
não só um desequilíbrio
mos ver no desequilibrio ambiental
mas, sobretudo, um desequilíbrio entre
perdendo com essa destruiço dos recursos
lucro com o descaso/destruição do
os seres humanos, isto é, nem
naturais. H£ uma
minoria
meio ambiente. Há que se atentar que
que muitos trabalham
homem-ntaioadosrtndaureobtzsaemaétm
por exemplo, as relações subumanas em elou
tambéméum desequilibrio do homem com a natureza ecom Os seus sermSs0 vivem. para,
H£ quese ver também o processo histórico que provoca um aumento da.
da natureza: a "industrialização", ou seja,
não se pode fazer um
discurso
de que industrialização é sempre sinônimo de progresso". Omesmo vale para o
improvável: "se os homens não
destruilçinãoear
cuidado de não se passar uma visão
a natureza, seria melhor.. ", Utopia
como mero sonho ou choro é
como possibilidade a construir é
dispensável.
deespositruistievma,
sociedade (não
d) Aexistência de classes sociais em qualquer somos iSSo,
iguais como uma população de animais) que têm interesses distintos e, por todos
entram em conflitos. Exemplo: ao invés de priorizarmos os produtos 3ori
plantados devemos falar dos sujeitos que produzem no campo. "ImpossíyelInão rela-
perceberemos que os
cionar conflitos com desigualdades sociais." Daí interesses
entre oS sem-terra eos latifundiários não são os mesmos. É impossível entender
sociedades modermoe
osespaços geográficos sem perceber a conflitiVidade das
Cuidado, no entanto, para não confund1rm0s confiito com "banditisnmo»
componen
mera violência, sinônimo de página policial. Essa é uma faceta com
tes sociais, sem dúvida, mas o que nos interessa aqui são oS setores, as classes
A violência
oS grupos, Ocoletivo distinto da população, que entram em conflito.
policialémuito mais restrita, não chega a ser algo organizado por um grupo
o crime
como resposta a uma carência social (talvez, como exceção, tenhamos
organizado do Rio de Janeiro).
e) A visualização-leitura de mapas é uma necessidade constante. E neces
sária sua utilização constante para que os alunos possam ver do que falamos.
-é
Explorar os mapas, bem como fotos e imagens - seja de TV ou de revistas
uma matéria-prima fundamental para o estudo de geografia. Levá-los para sala,
expô-los na biblioteca sem deixá-los enrolados nas estantes. Mostrar que se trata
de uma linguagem muito específica que deve ser bem elucidada para que se posSa
retirar o máximo de informações deste instrumento didático.
f) E preciso falar dos processos que dão origem às paisagens que vemos. A
existência de um país chamado Brasile a sua própria condição de "subdesenvolvido"
não pode ser considerado como algo estáico/imutável que não foi uma construçao
produzida pelos próprios homens, sejam eles moradores ou não deste pais.
Em outras palavras, para poder entender qualquer fenômeno geograico,
explica-
asirazões, as
necessáriocompreender os fatores que ogeraram. E, muitas vezes,internacionalmente.
çÇões para os fatos se encontram nas relações que se estabelecem
4Desculpe o costume (machista) de linguagem. Onde se lê "homem" leia-se seres humanos.
Geografa em salu de aula/|S
areligião- não sóno Oriente Médio - cria fronteiras. As diferenças sociais criam espaços diferentes. As
grades, cercas e muros são fronteiras geográficas muito importantes em nossas cidades.
16/Geografiaem sala deaula
prática o ditado que diz que as "aparências enganam". Os contrastes são grandes
mesmo dentro de um mesmo pais, que dizer de um continente? Nas palavras da
Pereira et al. (v.3, p.94):
Em suma, identificar um pais como sendo africano não indica, a principio,
suas carao
d
teristicas, sejam elas fisicas, culturais ou econômicas. A comprovada diversidade
continente não autoriza a fregüente associação que se faz entre Africa, negros, selva
miséria. Eapenas mais um estereótipo.
Priorizar as diferenças talvez seja uma boa chave para evitar a monotonia
eoperigo de trilharmos sempre pelo caminho mais fácil das semelhanças (entre
paises, entre regiões, etc.).
1)Cada lugar coresponde/exige a adoção de certas regras e certos compor
tamentos. Por exemplo: uma escola permite um comportamento diferente de uma
igreja. São espaços distintos. E até mesmo um espaço único permite diferentes
regrasconforme o horário: uma sala de aula em prova ou durante o recreio. São
e, ao mesmo tempo não são, 0 mesmo espaço.
Enfim, a geografia precisa procurar entender as paisagens não sópela apa
rência. Precisadesvendar os significados dos lugares. Os lugares apresentam
uma hierarquia de valores e sensações, nem sempre democráticas ou agradáveis.
Exemplos: "Vájápara o seu lugar". Quando percebemos que estamos perdidos
temos uma sensação de insegurança, pois não reconhecemos os lugares mesmo
que eles possuam prédios, avenidas, veiculos e pessoas como nossa cidade natal.
Por que o medo,então? Porque mudou a "relação" com o espaço. CremoS, por
tanto,que devemos colocar como central para nossos alunos aseguinte questão:
"Como nosapropriamos dos lugares e os transformamos?
Cada sociedade produz uma geografia de acordo com seu objetivos. Mais
importante do que localizar érelacionar os lugares e as sociedades que ali habitam,
sempre tendo em mente a globalização da sociedade mundial que cada vez mais
se integra, ainda que com diferentes poderes e direitos (Estados Unidos e Etiópia
se integram, mas não têm os mesmos poderes).
Se nossos alunos puderem ter na geografia um instrumento útil de leitura do
mundo, estaremos ajudando aconstruir não só uma escola como uma sociedade
mais críticae indignada contra toda e qualquer miséria humana.
Geografia em sala de aula/17
ANEXO
A
CERCA (S. Rosa, C. Amaral e F. Furtado)
Fazendo cerca na Fazenda do Rosário
Resto de toco velho mandado pelo vigário
Meu camarada, eu moro aqui do lado
Oterreno que tu cerca játá cercado
Não entendi a assertiva do compadre
Se éleichama o doutor
Se émilagre chama o padre
muito simples, tu veja ali na frente
Tá vendoolaranjal, minha cerca passa rente
Que dia quente, tem feito muito calor
Daqui hápouco, meu vizinho vÁ um disco voador
Se visse ele pedia para descer
Quem sabe se um marciano
consegue te esclarecer
Omeu compadre, cêtávendo assombração
Cê num é advogado, cê num é tabelião
Nem por isso eu deixeide fazer o justo
Se o sujeito enxerga torto
Geografia em sala de aula/19
Textopublicadooriginalmente no Boletim Gaúcho de Geografia, n.21, 1996, elaborado quando oautor trabalhava
no ensino fundamental, na Escola Municipal São Pedro, e assessorava a rede municipal em geografia.