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Quando encarada do ponto de vista da sua realização material, a representação está
ligada à tecnicidade dos dispositivos de fabricação dos signos, mas não se confina a
essa óptica; ela compromete decisivamente a análise das materialidades com outro tipo
de questões incontornáveis, que se prendem com o envolvimento desses signos na vida
social e na sua complexa dinâmica de funcionamento.
Enquanto representações (sistemas de significação), as imagens adquirem uma
função simbólica. O conceito chega a aproximar-se da realidade da transfiguração: em
terminologia litúrgica, “representação” designa “um caixão vazio sobre o qual se
estende uma mortalha para uma cerimónia fúnebre”. A ligação primordial da imagem ao
drama da morte fica ainda patente na França dos séculos XIV a XVI, quando o ritual
fúnebre de manter exposto o corpo do rei durante quarenta dias (como o melhor
substituto do morto) é trocado pela utilização de uma efígie muito realista do falecido.1
Nesta circunstância, como de um modo geral, representar equivale a tornar presente um
ausente. Vão neste sentido os dois significados propostos para o termo pelo Shorter
Oxford English Dictionary: “1) Representar algo é descrever ou apresentar isso, chamá-
lo à mente pela descrição ou retrato ou imaginação; colocar uma semelhança disso
perante nós, à nossa mente ou aos nossos sentidos; como, por exemplo, na frase: ‘Esta
imagem representa o assassinato de Abel por Caim.’ 2) Representar também significa
simbolizar, substituir, ser um espécimen...., como na frase ‘No Cristianismo, a cruz
representa o sofrimento e a crucificação de Cristo.’”2
O vocábulo “representação” designa uma ligação entre linguagem e cultura,
permitindo referir os mundos dos objectos, pessoas e acontecimentos, sejam estes reais
ou ficcionais. Enquanto representações sociais, as imagens constituem filtros ou
focalizações selectivas que aplicamos à realidade circundante e que são decorrentes de
interesses e estereótipos que nos tornam sensíveis a determinados aspectos dessa
realidade, ao mesmo tempo que nos levam a ignorar, ocultar ou desprezar outros tantos.
1
Cf. DEBRAY, Régis. Vida e morte da imagem – uma história do olhar no ocidente. Vozes, 1994, pág.
24-25
2
HALL; Stuart. Representation – cultural representations and signifying practices. Sage, 1997, pág. 16
2
[Figura 2. SpringOf47]
3
Sendo parte integrante dos sistemas mental e linguístico-semiótico, é na instância da
cultura, enquanto meio particular onde germinam e se desenvolvem estes dois sistemas
(e, por outro lado, enquanto produto deles), que as representações se manifestam e
exprimem.