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RESUMO
Este ensaio trata do dilema entre escolarização da literatura, enquanto a segunda é captada pela
primeira de maneira meramente mecânica afim da esola realizar, enfim, sua função social; e a
literatura escolarizada onde se produz conteúdo pensando no uso em determinadas faixas etárias e
objetivos pedagógicos e como isso pode ser ruim para a produção no sentido artístico e mesmo
cognitivo das crianças e jovens. Afinal, até que ponto uma literatura não pode ser universal a ponto
de agradar e ensinar a todos, respeitados determinados aspectos de comportamento e linguagem, por
exemplo?
1. INTRODUÇÃO
Magda Soares nos deixou recentemente - faleceu em 1 de janeiro de 2023. Nas suas biografias da
internet é apontada não só como uma das maiores referências em alfabetização, mas também como
uma grande teórica. Sua ideia de que a fala é inata, enquanto a escrita é cultural e precisa ser
desenvolvida, traz reflexões importantes inclusive sobre as ideias meritcrátas de que “se esforçando,
é possível aprender sozinho”. Segundo os estudos da autora, em linhas gerais a criança não aprende
a ler e a escrever sozinha.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O ensino da literatura no Brasil é objeto de estudo de inúmeros especialistas e linhas de pesquisa -
sem contar o estudo espontâneo que se faz a partir dos trabalhos acadêmicos pelo país. O contraste
da inovação presente nas reflexões acadêmicas aparecem em descompaço com as políticas públicas
e principalmente, com a prática de ensino.
Enquanto as políticas públicas são mais complexas de serem atualizadas - reflitamos rapidamente
que nos últimos dez anos saimos de um governo democrático e participativo (Dilma II), para um
governo eleito a partir de golpe parlamentar e jurídico que, inclusive, conseguiu imprimir
importantes mudanças na estrutura da educação, travando criações de novas universidades públicas
e aprovando sem o embasamento nesessário o Novo Ensino Médio (Temer), até chegarmos a um
governo que simplesmente secou os investimentos em educação e deteriorou até onde pôde a área,
privilegiando o desenvolvimento do privado sobre o serviço público (Bolsonaro). Somente a partir
de 2023 parecemos ter nova chance de sugerir mudanças nas políticas públicas através dos
conselhos e chamadas de participação popular (Lula III) - a prática do dia a dia é mais próxima de
mudanças e adaptações. Mas, porquê não se faz?
A injustiça social, traço extremamente presenta na sociedade brasileira, se reflete no dia a dia da
sala de aula quando o professor é minimizado de importância e valorização, em paralelo à injustiça
fora da sala de aula que interfere diretamente dentro dela - famílias com fome que levam o aluno a
ir para a escola apenas para se alimentar; famílias sem tempo para o acompanhamento escolar, o
que dificulta o reforço ao ensino / aprendizagem (e aqui há um elo com uma das teorias de Magda,
de que a criança não aprende só, mas não apenas na sala de aula é que ela terá aprendizado. É
preciso que o ensino continue na casa, com o dia a dia do aluno sendo o exemplo maior dos
contextos vistos em sala de aula), entre outras mazelas para citar apenas as mais graves.
Dentro dessa problemática da desvalorização do professor, a falta de tempo para que este reflita /
pesquise métodos de ensino termina por engessar o ensino. Quando Magda pensa sobre as
“instâncias de escolarização da Literatura Infantil”, biblioteca, a literatura em si e a leitura/estudos
orientados, ela nos traz as necessárias reflexões sobre como a biblioteca é distribuída, onde pode ser
seus livros, quem orienta, que tempo de livro é possível, entre outras importantes considerações.
Tudo isso para abordar o questão: essa escolarização se faz de maneira eficaz?
Inevitavelmente chegamos à reflexão não apenas dos métodos de leitura disponíveis, mas
principalmente: como a orientação é dada (lembremos que o aluno não aprende só), além das
condições e estímulos. Ao abordarmos a análise da “leitura de livros como instância de
escolarização da literatura”, Magda nos leva a pensar sobre a diferença entre o ler por prazer e o ler
por obrigação - ainda que se mascare os objetivos por trás da sugestão de leituras na escola, esses
objetivos existem. Ela setencia: “a literatura é sempre e inevitavelmente escolarizada, quando dela
se apropria a escola”.
Quando Magda parte para a análise da “Literatura e estudo de textos com Instância de escolarização
da literatura” ela apresenta uma forte crítica ao recorte / descontextualização das obras nos
exercícios de literatura, sendo esse um dos principais problemas da escolarização da literatura.
Segundo ela é nevitável, em algum momento, esse recorte, mas faz-se necessária uma
contextualização mínima, ainda que o dia a dia da sala de aula não permita diretamente essa
premissa - e aqui uma observação dos autores do ensaio: o modelo de contextualização do Enem é
um bom exemplo de contextualização mínima que pode solucionar esta questão apresentada.
Quando partimos para a “seleção de gêneros autores e obras”, Magda vai além da mera análise e
podera sobre a mercantilização da Literatura, como a produção por encomenda é danosa e o que
afinal poderia ser uma literatura original e orgânica.
Voltando ao começo de seu texto, quando cita Carlos Drummond de Andrade, a premissa é
verdadeira: é duvidoso pensar numa literatura infantil quando a literatura é universal (obvio,
respeitando-se questões de moral e nível de escrita). E aqui abrem-se dois caminhos: a literatura
pode ser orgânica e espontânea, lida por absolutamente todos; e a literatura pode ser produzida com
o objetivo de ser escolarizada - aqui nos pensamos que é o auge da reflexão da autora: porque tanto
se reflete sobre escolarização da literatura ou literatura escolarizada, e esta segunda, parece aqui dar
o sentido À reflexão da originalidade das produções. Ora: eu posso fazer uma literatura pensada
especialmente para ser usada na sala de aula, e apenas nela.
Este “apenas nela” é outro problema, porque segundo Magda, embasada por diversos exemplos,
existem contextos de literatura infantil usados na sala de aula que não têm nexo ou coerência.
Embasados nas reflexões de pensadores canônicos de nossa eduçação, como Paulo Freire ou Darcy
Ribeiro, é preciso sim preocupar-se sobre como o aluno vai entender um conteúdo que não tem a
ver com seu contexto? Então esse exercício será apenas depositivo, sem qualidade de conteúdo ou
ganho cognitivo?
Ao fragmentar o texto e fazer suas transferências do livro de literarua ao livro didático, a autora
reflete sobre como é danoda a escolarização da literatura no sentido que há pouco cuidado na
qualidade técnica para as escolhas, apontando exemplos de poemas pobres, repetição dos mesmos
autores - aqui cabe uma observação que casa com as orientações do professor Jair Pereira de
Oliveira em suas aulas: canonizar a literatura faz com que estejamos sempre viciados nos mesmos
autores e sua maneira de ver o mundo. Se nossa literatura é vasta e plural, é pobre para o processo
de ensino limitar o aluno aos mesmos autores. Partindo dessa reflexão, e casando-a com outros
momentos desta pós graduação, fica cada vez mais evidente a necsssidade de transpassar a “colcha
de retalhos” que é a literatura brasileira para a sala de aula atravé de metáforas como a própria
colcha, para que o aluno interiorize tanto que a literatua é plural, como que é literatura não apenas
livros, mas também a canção e a cultura popular, por exemplo.
3. CONCLUSÃO
Fragmentação e pseudotextos. Ao criticar fortemente a escolarização da literatura através do modo
de operar das práticas de ensino, do estímulo à leitura aos exercícios, a autora aponta um caminho
inevitável que é a própria escolarização, mas reflete sobre outros caminhos. Quando ela aponta os
erros, falhas e limitações dos modelos contemporâneos de ensino que foram escritos em 2006 mas
persistem no mesmo 2023, a autora e nós, autores deste ensaio, acreditamos que é a partir deles que
a gente pode pensar em no mínimo o que não fazer na sala de aula. Aqui vamos mais à fundo na
nossa reflexão e clamamos por uma sala de aula em constante processo de contextualização e
interação com o dia a dia. Para além da literatura tradicional, em livros, a internet e as prórpias ruas
são celeiros de produção literária rica. Para além disso a cultura popular, tradicional ou
contemporânea, são outro elemento de forte apelo literário, no sentido que podem despertar nos
jovens o desejo por pesquisar origens, influencias, outras abordagens sobre a arte.
O desafio de escolarizar a literatura de maneira eficaz tem mil soluções e elas precisam ser testadas,
mas prescedem a essas a premissa básica de boas condições de trabalho para o professor, para que
ele volte a ser pesquisador e tenha tempo de acompanhar o desenvolvimento de seus alunos. Por
fim, é importantíssimo refletir sobre a literatura escolarizada, em muitos casos danosas para os
alunos justamente por não ter originalidade. Não esqueçamos que a literatura é arte, e por tanto é
preciso que estimulemos a nossos jovens o consumo do que é artístico e original, caso contrário, tal
qual essa literatura serve apenas para entupir as estantes, também o conhecimento desses alunos
será limitado e sem originalidade ou leitura de mundo. Os desafios, como se vê, são muitos, mas as
possíveis soluções também.
4. BIBLIOGRAFIA
CANDIDO, Antonio. Indivíduo e a pátria. In: _____ Formação da literatura brasileira. Volume 2.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. (p. 11-40)
CANDIDO, Antonio. A consciência literária. In: _____ Formação da literatura brasileira. Volume 2.
Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. (p. 285-316)
COSSON, Rildo. Literatura em todo lugar. In _____: Círculos de leitura e letramento literário. São
Paulo: Contexto, 2018.
SOARES, Magda. A escolarização da literatura infantil e juvenil. In: EVANGELISTA, Aracy Alves
Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiani (organizadoras).
Escolarização da leitura literária. 2ª ed., 3ª reimp. Belo Horizonte: Autêntica, 2011.