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SISTEMAS TOTALMENTE

CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO,
PLANEJAMENTO E
LONGEVIDADE
Gerson Bonfante
Pedro César Garcia de Oliveira
Estevam Augusto Bonfante
Leandro de Moura Martins
Fabio Cesar Lorenzoni

INTRODUÇÃO
Os sistemas cerâmicos representam hoje na Odontologia uma alternativa aos metais no trata-
mento protético, produzindo próteses com características superiores de biocompatibilidade
e de estética. Na maioria dos casos, principalmente em próteses anteriores, o comportamento
desses sistemas é satisfatório. Entretanto, com a crescente valorização da estética e expansão
de uso nas áreas posteriores, novos materiais mais resistentes são exigidos.

Com isso, o conhecimento dos sistemas disponíveis, da forma de processamento laboratorial


e dos procedimentos clínicos é fundamental para o cirurgião-dentista, já que os mesmos
influenciam as propriedades mecânicas das cerâmicas e a conseqüente longevidade clínica.

Dessa forma, sabendo o que se pode esperar de cada material em termos de falhas, o profissio-
nal pode julgar se o novo material oferecerá benefício quando comparado aos sistemas que
ele já usa, justificando assim a sua indicação ou não em reabilitações. É preciso ter sempre
em mente que não existe um material ideal e que não existe um sistema cerâmico que
suporte todas as situações clínicas.

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OBJETIVOS
Após leitura deste capítulo, espera-se que o leitor seja capaz de:
! conhecer a nomenclatura dos materiais cerâmicos;
! descrever os materiais e seus processamentos;
! selecionar o sistema de acordo com as necessidades estéticas e funcionais do paciente;
! indicar e planejar próteses e coroas ceramocerâmicas;
! identificar as falhas e suas causas.

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ESQUEMA CONCEITUAL

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SISTEMAS CERÂMICOS
As coroas metalocerâmicas têm sido o padrão de tratamento protético na Odontologia por
muitas razões,1,2 entre as quais se destacam as seguintes:
! excelentes resultados a longo prazo (como sucesso clínico de 97% em 10 anos);3,4
! estética aceitável;
! menor custo;
! versatilidade (podem ser usadas em aplicações que vão desde coroas unitárias até
grandes reabilitações orais).2

A eliminação das próteses com ligas metálicas, tanto por biocompatibilidade quanto por
estética, é hoje o objetivo central em ordem decrescente de interesse: das empresas, dos
cirurgiões-dentistas e dos pacientes. Mimetizar os aspectos naturais dos dentes tem levado
as empresas a investimentos que geram em coroas dentárias cerca de US$ 2 bilhões em
rendimentos ao ano, sendo 20% representadas por coroas ceramocerâmicas.5 A intensa
preocupação estética leva os cirurgiões-dentistas a indicar materiais que tenham um maior
número de similaridades com as estruturas naturais.

Conceitualmente, existem três grandes grupos de materiais: metálicos, cerâmicos e polímeros.


Logo, as cerâmicas constituem uma família (grupo) de materiais e, nessa família, existem
produtos à base de feldspato, caulim e quartzo, tais como louças de barro, utensílios domésti-
cos, porcelana chinesa e porcelana dental.

As porcelanas são um subgrupo dos materiais cerâmicos e devem ser constituídas


principalmente de feldspato, de onde se origina o termo porcelanas feldspáticas.

À medida que ocorreu uma grande evolução nas porcelanas odontológicas para aumento de
sua resistência, seus principais constituintes deram lugares a cristais (dissilicato de lítio, alumina,
zircônia). Como essa constituição foi alterada a partir da original e o felspato está em menor
concentração do que os outros materiais, ou às vezes é até mesmo inexistente, os novos
materiais utilizados na Odontologia para infra-estrutura são cerâmicas dentais revestidas por
materiais à base de feldspato ou porcelanas.

As restaurações cerâmicas foram introduzidas por Land em 1903 e apresentavam como


principal desvantagem a alta taxa de fratura, causada pela propagação de trincas inerentes
aos materiais. Esta foi a razão pela qual os metais passaram a ser utilizados como infra-
estrutura para as porcelanas nos anos 1960, ou seja, por terem alto módulo de elasticidade
(rigidez).

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A união obtida entre metal e cerâmica impede a flexão e a deformação das cerâmicas,
reduzindo a propagação de trincas e assegurando a longevidade das coroas.2

A demanda por coroas totalmente cerâmicas aumentou devido à generalização dos princípios
estéticos, à presença de linha metálica acinzentada na margem gengival das coroas metalo-
cerâmicas, parcialmente resolvida há 25 anos com a redução da infra-estrutura metálica e do
ombro cerâmico6 (Figura 29A), e à possibilidade de alergia ao metal (níquel). Essa tendência
levou McLean e Hughes, em 1965, seguindo o conceito do aumento da rigidez, a utilizar
óxidos cerâmicos como “limitadores de trincas”.7,8 Vários óxidos foram considerados, entre
eles os óxidos de titânio, de zircônio e de alumínio.

Os óxidos de alumínio, chamados de alumina, foram escolhidos por apresentarem


maior número de vantagens estéticas e mecânicas, além de baixo custo e fácil obten-
ção.

Surgiram então as porcelanas reforçadas por alumina, uma mistura de 50% (em peso) de
cristais de alumina com uma porcelana feldspática de baixa fusão, com a possibilidade de
constituírem infra-estrutura em substituição aos metais. A partir desse momento, outros
materiais (porcelanas feldspáticas reforçadas por leucita, dissilicato de lítio, alumina e zircônia)
e outras formas de processamento (porcelanas injetadas, prensadas, infiltradas e usinadas)
passaram a ser desenvolvidos. Graças a esse avanço, sistemas totalmente cerâmicos de alta
resistência tornaram-se uma alternativa real para as restaurações metalocerâmicas.

Assim como as porcelanas, as resinas compostas indiretas (cerômeros) surgiram com o


intuito de substituir o metal na busca pela estética. Os primeiros cerômeros (Ceramic Optimized
Polymer) surgiram no início dos anos 1980 com uma quantidade reduzida de partículas de
carga (20-50% em peso), além de serem compostos apenas por micropartículas, que apre-
sentam baixa resistência mecânica.9 Com o fracasso iminente desses sistemas, as empresas
buscaram outras fontes de polimerização.

As resinas eram inicialmente fotoativadas na ausência de oxigênio para evitar a


camada superficial não-polimerizada (camada de inibição). Depois foram introduzidos
os sistemas polimerizadores por meio de calor e pressão. Fontes de luz mais intensas
também foram comercializadas, mas nenhuma das tentativas de aumento da resistên-
cia mecânica foi capaz de solucionar os problemas de desgaste, infiltração marginal,
alta contração de polimerização, alta capacidade de deformação e maior sorção de
água. Por mais que se conseguisse um excelente grau de conversão monomérica,
essas resinas continuavam sendo microparticuladas.

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As resinas compostas indiretas têm praticamente a mesma composição das resinas para uso
direto. Conseqüentemente, com a evolução dos compósitos, os cerômeros também melhora-
ram, aumentando a quantidade e o tipo de carga para até 85% de partículas micro-híbridas.
Além disso, alteraram suas matrizes orgânicas constituídas por dimetacrilato de uretano e
Bis-GMA e sistemas de polimerização adicionais: sistemas fotoativados, sistemas fotoativados
complementados por luz e/ou calor e sistemas termoativados com pressão.

As alterações orgânicas, inorgânicas e ativadoras trouxeram melhorias principalmente para a


profundidade de polimerização e para o alto grau de conversão, os quais aumentam a resistên-
cia mecânica e diminuem a porosidade.9 Desse modo, as resinas indiretas passaram a ser
indicadas para restaurações intracoronárias (inlay), extracoronárias (onlay) e recobrimento de
todas as cúspides (overlay). Entretanto, as resinas de uso direto sofreram as mesmas evo-
luções e, com isso, sua indicação também foi aumentando – e o que era vantagem no caso
dos cerômeros em relação às cerâmicas deixou de sê-lo, já que os compósitos podiam de-
sempenhar o mesmo papel com custo e tempo menores.

Atualmente, os cerômeros passaram a ser mais indicados como restaurações posterio-


res múltiplas, para as quais os compósitos diretos apresentam problemas de contato
proximal, risco de polimerização incompleta e consumo de tempo.

Com a limitação no uso dos cerômeros devido à sua baixa resistência, novas formas de
reforço para as resinas foram estudadas para ampliar as indicações do material. Durante os
anos 1990, surgiram as resinas reforçadas por fibras, que se tornaram disponíveis para o
uso tanto em laboratório quanto em consultório. A utilização dessas fibras promoveu um
aumento na resistência flexural das resinas, que passaram a ser indicadas para uso em coroas
e pontes fixas de três elementos10 (Figuras 1A a J).

Contudo, a relação custo-benefício não pareceu atrativa a longo prazo, já que essas próteses
ainda apresentavam resistência inferior às cerâmicas e aos metais, além de um custo muito
elevado em relação às resinas diretas. Somado a isso, o alto índice de falhas10,11 e a deficiência
de união da resina antiga a uma nova em caso de reparo9 tornava o material limitado, razão
pela qual não será assunto de interesse neste capítulo.

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A B

C D

E F

G H

I J

Figura 1 – A) a J) Aspectos clínicos e laboratoriais antes e após tratamento de pacientes com cerômeros
reforçados por fibras anterior e posterior. Os resultados estéticos iniciais são satisfatórios. Entretanto, essas
próteses não têm estabilidade de cor e apresentam alto índice de falhas, o que as tornam limitadas quanto à
indicação.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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Entre as terminologias por meio das quais essas coroas tornaram-se conhecidas, citam-se
prótese metal-free, prótese sem metal (que incluem as cerâmicas e as resinas ou os cerômeros);
prótese all-ceramic, prótese totalmente cerâmica e prótese ceramocerâmica (que incluem
apenas as cerâmicas).

Como o termo metal-free ou sem metal relaciona-se apenas à ausência de uma


infra-estrutura com qualquer tipo de liga nobre, seminobre ou de metais básicos
(Au, Pd-Ag, Ni Cr, Co Cr, Ticp) e a cerâmica é composta por inúmeros óxidos metá-
licos (Mg, Al, K, Zr, Y, Na, Ca, Ti, Sn, Ba, Zn), a denominação de coroas ou próteses
ceramocerâmicas12,13 será utilizada neste capítulo. Tal medida pretende manter-se
coerente com a nomenclatura adotada pela Odontologia, que ao longo do tempo
denominou suas coroas pelos materiais de que são compostas, como, por exemplo,
coroa total metálica, metaloplástica e metalocerâmica.

1. Analise as afirmativas sobre os sistemas totalmente cerâmicos.


I – As coroas metalocerâmicas têm sido o padrão de tratamento protético na Odontologia
por muitas razões, entre as quais se destacam excelentes resultados a longo prazo,
estética aceitável, menor custo e versatilidade.
II – A eliminação de prótese com ligas metálicas, tanto por biocompatibilidade quanto
por estética, é hoje o objetivo central das empresas, dos cirurgiões-dentistas e dos
pacientes.
III – Conceitualmente, existem dois grandes grupos de materiais: metálicos e cerâmicos.
Estão corretas apenas as alternativas:
A) I e II.
B) I.
C) II.
D) I, II e III.
Resposta no final do capítulo

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2. Quais eram as principais desvantagens das restaurações cerâmicas quando foram intro-
duzidas por Land em 1903?

3. O que ocasionou o aumento da demanda por coroas totalmente cerâmicas?

4. Como os óxidos metálicos aumentam a resistência das cerâmicas?


A) Atuando como “limitadores de trincas”.
B) Promovendo maior união aos cimentos.
C) Formando aglomerados.
D) Diminuindo o acúmulo de placa.
Resposta no final do capítulo

5. Assinale a alternativa INCORRETA sobre os sistemas totalmente cerâmicos:


A) Assim como as porcelanas, as resinas compostas indiretas (cerômeros) surgiram com
o intuito de substituir o metal na busca pela estética.
B) As resinas compostas indiretas não apresentam a mesma composição das resinas
para uso direto.
C) As alterações orgânicas, inorgânicas e ativadoras trouxeram melhorias sobretudo na
profundidade de polimerização e no alto grau de conversão, que aumentam a resistên-
cia mecânica e diminuem a porosidade.
D) Os cerômeros passaram a ser mais indicados como restaurações posteriores múltiplas,
para as quais os compósitos diretos apresentam problemas de assegurar contato
proximal, risco de polimerização incompleta e consumo de tempo.
Resposta no final do capítulo

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TÉCNICAS DE CONFECÇÃO
Muitas vezes, o mesmo sistema ceramocerâmico pode ser confeccionado por mais de uma
técnica. O Quadro 1 apresenta uma classificação global dos sistemas ceramocerâmicos e das
suas possíveis técnicas de confecção.

Quadro 1
CLASSIFICAÇÃO GLOBAL DOS SISTEMAS CERAMOCERÂMICOS
E DAS POSSÍVEIS TÉCNICAS DE CONFECÇÃO

Cerâmicas à base de sílica Cerâmicas à base de óxidos

Cerâmicas feldspáticas Infiltrados de vidro


Usinadas ! Sirona CEREC Usinadas e ! VITA In-Ceram SPINELL
! VITABLOCS MARK II Slip Casting ! VITA In-Ceram
! VITABLOCS Triluxe ALUMINA
! VITA In-Ceram
Prensadas ! Vita PM Zirconia

Eletroforética ! VITA In-Ceram


Cerâmicas vítreas
ALUMINA
Usinadas ! DC Cream ! VITA In-Ceram
! DC Cristall Zirconia
! KaVo Everest G-Blank
! ProCAD
Sinterização densa
Prensadas ! Empress 1 Usinadas ! 3M ESPE LAVA
! Hera Ceram Press FRAME
! IPS e.max ZirCard
! KaVo Everest
Cerâmicas de dissilicato de lítio
! Sirona
Usinadas ! IPS e.max ! VITA In-Ceram AL
! VITA In-Ceram YZ
Prensadas ! Empress 2
! IPS e.max Press Prensadas ! Procera Alumina
! IPS e.max ZirPress ! Procera Zirconia

ZrO2 sinterizada por calor isostático


Usinadas ! DC Zirkon
! KaVo Everest
ZH-Blank

Fonte: Adaptado de Reis e colaboradores (2007).14

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SINTERIZAÇÃO
As cerâmicas de feldspato convencionais para cobertura são apresentadas na forma de pó e
líquido (água e/ou aglutinante) ou pasta no caso dos opacos. A mistura dos dois produz uma
massa úmida que mantém unidas as partículas de pó, tornando possível a aplicação da cerâ-
mica (opaca, dentina ou esmalte) sobre um troquel refratário ou uma infra-estrutura por
meio de pincéis ou espátulas com vibração (para aflorar excesso de água) e secagem com
pano limpo, papel absorvente, aplicação de pó seco na superfície ou secador (para evaporar
o excesso de água). Esse procedimento recebe o nome de condensação e tem como objetivo
compactar o pó, deixando a cerâmica mais forte e densa (menor porosidade), mais translúcida
e com menor contração de sinterização.9

Com a forma desejada esculpida levando em consideração a contração, a cerâmica é posicio-


nada na entrada de um forno pré-aquecido. Esse procedimento, também chamado de seca-
gem ou pré-sinterização, é realizado entre 5 e 10 minutos. O excesso remanescente de
umidade é eliminado juntamente com os gases de seu vapor que poderiam alojar-se no
interior da massa e provocar porosidades. Depois que a cerâmica está livre do excesso de
umidade, o processo de sinterização, queima, cozimento será iniciado. O forno é programado
para realizar ciclos de queima de acordo com a cerâmica utilizada.

As cerâmicas são pobres condutores térmicos. Por isso, os ciclos devem ser pro-
gramados para que a temperatura seja elevada em função do tempo, pois o aque-
cimento muito rápido pode sinterizar a superfície externa, impossibilitando que o
mesmo ocorra com a superfície interna. Os ciclos de queima (tempo e temperatura)
são fornecidos pelos fabricantes das cerâmicas.

Enquanto a temperatura vai aumentando, o pó da cerâmica sofre fusão com as outras partícu-
las, promovendo uma massa contínua que, por aproximação e união das partículas, se den-
sificará e também sofrerá uma alteração de volume (contração). Essa queima deve ser realizada
sob vácuo no momento em que se fecha a porta do forno. O vácuo auxiliará na não-inclusão
de ar e no aumento da pressão atmosférica que irá comprimir as partículas fechando os
poros.

Terminada a sinterização – que deve ser idealmente de 3 a 5 queimas para evitar alteração da
resistência, da translucidez e do coeficiente de expansão térmica –, passa-se para o resfria-
mento, que acontece após cada ciclo quando a cerâmica é exposta ao meio externo.

Devem-se evitar os extremos para o resfriamento: nem muito rápido (choque térmico),
nem muito lento (aumento do coeficiente de expansão térmica, sobretudo nas cerâ-
micas reforçadas por leucita) para evitar a formação de trincas e rachaduras.15

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Depois de ter sido dado o contorno desejado e feito o resfriamento da peça, deve-se realizar
um acabamento superficial que vedará os poros presentes na superfície e promoverá o
brilho. Esse procedimento, denominado de glazeamento, é realizado com uma cerâmica
com ponto de fusão mais baixo, a qual é posta sobre a peça e levada ao forno para a última
queima. As cerâmicas feldspáticas também sofreram evolução em sua composição para melho-
ra da resistência. Contudo, sua indicação é limitada para restaurações intra e extracoronárias
e, principalmente, como cerâmica de revestimento de infra-estrutura metálica ou cerâmica.

CERÂMICAS INJETADAS E PRENSADAS


Seguindo o conceito da fundição por cera perdida usado nas restaurações metálicas, às
cerâmicas foi aplicado o mesmo processo para a confecção dos copings ou infra-estruturas.
Primeiramente, o padrão de cera é realizado da maneira convencional e incluído no revestimen-
to9 (Figuras 2A a C). Após a presa do revestimento, o conjunto revestimento/enceramento é
aquecido a 800°C e a cera é removida, restando apenas a forma desejada. Nesse momento,
a cerâmica é aquecida e, dependendo do sistema, pode ser injetada ou prensada.

Nos sistemas injetados, lançados em 1991, a cerâmica é aquecida até se tornar fluida
(fundida) e injetada por centrifugação dentro do molde. A cerâmica resfriada é removida do
revestimento e ajustada; em seguida, a porcelana de cobertura é aplicada. As cerâmicas
usadas nessa técnica possuem óxido de magnésio, o que, em alguns casos, por meio de sua
expansão, compensa a contração de sinterização.2

Nos sistemas prensados, as cerâmicas reforçadas por leucita ou dissilicato de lítio em cilindros
(linguotes) na cor escolhida, diferentemente dos sistemas injetados, não são fundidas, mas
sim plastificadas por um forno especial de pressão a 1.100°C (prensagem a quente). Depois
dessa plastificação, a cerâmica é prensada por um êmbolo sob vácuo dentro do molde no
qual é mantida sob pressão para permitir o completo e acurado preenchimento da cavidade
do revestimento. Com a peça confeccionada (Figura 2D), ela pode ser caracterizada por
pigmentos superficiais ou pela aplicação de uma porcelana de cobertura pela técnica da
estratificação2,9 (Figuras 2E e F).

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A B

C D

E F

Figura 2 – A) Vista oclusal dos preparos parciais com margens supragengivais em esmalte. B) Enceramento da
infra-estrutura. C) Padrão de cera com os pinos formadores de conduto para prensagem da cerâmica. D)
Infra-estrutura em cerâmica prensada. E) Prova e ajuste da infra-estrutura cerâmica. F) Vista oclusal do caso
concluído.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

As técnicas de processamento têm como principal vantagem a maior adaptação


marginal quando comparadas com o processo de sinterização convencional. Acredita-
se que algumas cerâmicas assim confeccionadas não sofrem contração, o que me-
lhora a adaptação. Esses materiais também apresentam excelente estética e maior
resistência. Entretanto, tais técnicas só podem ser indicadas para próteses fixas de
três elementos até pré-molar (Figuras 3A a E) e têm alto custo, já que necessitam de
equipamentos especiais.2,9,16

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A B

C D

Figura 3 – A) Vista lateral inicial com . B) Aspecto dos preparos no modelo de trabalho. C) Vista vestibular da
infra-estrutura cerâmica prensada no modelo de trabalho. D) Vista oclusal da prova e ajuste da infra-estrutura.
E) Vista lateral final.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

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CERÂMICAS INFILTRADAS
Este processo, também conhecido como slip casting ou técnica da barbotina, é empregado
para outras utilidades há mais de 200 anos. A técnica foi melhorada por Sadoun, em 1989,
para solucionar a capacidade limitada de adição de alumina ao vidro feldspato pela sinterização
com o objetivo de aumentar a resistência.8 Essa adição de 80% de alumina possibilitou um
aumento de quatro vezes na resistência das coroas quando comparadas às porcelanas
feldspáticas.8

Todavia, sua opacidade limitava os trabalhos estéticos, o que culminou na substituição da


alumina pelo espinélio, uma mistura de magnésia (óxido de magnésio) e alumina (óxido de
alumínio) (MgO-Al2O3) que apresenta uma resistência reduzida à flexão, sendo, portanto,
indicada apenas para região anterior, mas com um ganho de reflexão e absorção de luz que
resulta em melhor estética.

A técnica consiste no preparo de uma suspensão estável, por meio de partículas de tamanho
entre 1 e 5µm e poucas partículas em torno de 20µm que são misturadas com um líquido
especial (solução de 1% de álcool polivinil) por meio de ultra-som. Essa suspensão é coloca-
da sobre um modelo de gesso poroso (gesso Paris), no qual é usado um espassador para
permitir um espaço interno pré-cimentação de 45µm, que absorve a fase líquida por
capilaridade. Esse gesso expande-se, compensando assim a contração tardia do material no
processo de sinterização.17

Após ser dado o formato desejado da infra-estrutura sobre o modelo, a estrutura


cerâmica é sinterizada por 10 horas a uma temperatura de 1.120°C. A alumina
apresenta temperatura de fusão muito elevada. Por isso, não ocorre a total densifi-
cação da fase sólida, restando apenas pontos de união nos quais as partículas se
tocam, mantendo um esqueleto poroso no formato desejado. Esse pacote denso de
partículas atua como bloqueador de trincas.17,18

Nessa etapa, um vidro de lantânio é infiltrado em quase toda a estrutura para que permita
o escape de ar, ocupando os espaços vazios e densificando a cerâmica que será levada nova-
mente ao forno a 1.100°C durante 4 a 6 horas. Depois da remoção do excesso, outra
queima de 10 minutos é realizada a 960°C para eliminar o excesso de vidro.2,17 A infiltração
do vidro, além de aumentar a resistência da estrutura, também propicia melhores caracterís-
ticas estéticas. No entanto, não exclui a necessidade do uso de cerâmicas feldspáticas de
cobertura18 (Figuras 4A a D).

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A B

C D

Figura 4 – A) Vista frontal do paciente que apresenta restaurações extensas insatisfatórias. B) Vista frontal
após preparos realizados. C) Prova e ajuste das infra-estruturas obtidas pela técnica slip casting. D) Reabilitação
estética concluída com coroas totalmente cerâmicas.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A técnica slip casting também é utilizada por sistemas que contêm 35% em peso de zircônia
(ZrO2) (Al2O3ZrO2) parcialmente estabilizada por ítrio. Essas cerâmicas foram introduzidas
para aumentar a possibilidade dos tratamentos totalmente cerâmicos, já que elas apresentam
a maior resistência entre todos os materiais cerâmicos existentes. Entretanto, devido à sua
baixa qualidade estética (opacidade), são mais recomendadas para próteses fixas posterio-
res.19

A descoberta da zircônia estabilizada por ítrio mudou o paradigma das próteses, criando
um caminho sem volta para as cerâmicas. Contudo, a confecção acarreta falhas inerentes a
todos os materiais. A manipulação, principalmente por profissionais inexperientes, inclui bolhas
no corpo do material que podem dar origem a trincas e, conseqüentemente, à fratura. Para
tentar minimizar a interferência humana, os sistemas que utilizam os processos computado-
rizados foram introduzidos pelas principais empresas do setor odontológico.

CERÂMICAS USINADAS
Independentemente do processamento do material, sempre existirão falhas. Porém, minimizar
a presença dessas falhas, que em metais, por sua habilidade de se deformar plasticamente,

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não são críticas, torna-se fundamental nos materiais friáveis. Tais falhas preexistentes corrobo-
ram com a propagação de trincas e a possível fratura catastrófica nesses materiais.

As propriedades de um material cerâmico estão relacionadas, em parte, à sua integri-


dade, e o processamento tem um enorme papel na estrutura final. Nesse sentido, a
tecnologia para as cerâmicas está no caminho da exclusão do fator humano, ou
seja, a transformação de todo o processo em um sistema computadorizado para
confecção das infra-estruturas com vistas a diminuir a grande disparidade entre
cada trabalho.

As porosidades dos sistemas ceramocerâmicos estão significativamente mais presentes em


coroas confeccionadas por técnicas manuais como as prensadas (103 a 621 poros/coroa)
quando comparadas às usinadas (1 a 17/coroa CAD/CAM).20 A principal implicação clínica
dessas porosidades (Figura 5), além da atuação como iniciadores de trincas, é o fato de
dispersarem a luz incidente, reduzindo a translucidez da restauração.21

Figura 5 – Cerâmica revestida por método manual.


Microscopia de luz polarizada caracteriza as bolhas
mais superficiais, inerentes ao processo de revestimen-
to.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Em 1983, Anderson e Oden criaram os sistemas usinados de alumina, cujos modelos


obtidos pela técnica de moldagem convencional são enviados a um laboratório credenciado
pelo sistema e escaneados por uma ponta de safira em contato com o gesso para definir a
forma tridimensional do preparo. Essa informação é enviada eletronicamente para o laboratório
central (localizado na Suécia ou nos Estados Unidos) que, por cópia e usinagem, produz um
troquel aumentado em 20% do seu tamanho original para compensar a contração de
sinterização.7,22

Por meio da prensagem a seco do pó no troquel, obtêm-se 99,9% de alumina. Completado


o processo com a sinterização a 1.550ºC, as porosidades são eliminadas e a infra-estrutura
retorna à dimensão original do troquel de trabalho (Figuras 6A a D). Esses sistemas e materiais
passaram por diversos aprimoramentos, e existem hoje duas formas de processamento

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computadorizado: o sistema de cópia e usinagem (copy-milling) e o desenhado com auxílio
do computador/usinagem com auxílio do computador (CAD/CAM - Computer-Aided Design/
Computer Assisted Manufacturing).18,19

A B

C D

Figura 6 – A) a D) Vistas frontais que demonstram a resolução estética do caso de prótese fixa anterior com
sistema CAD/CAM.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

O sistema de cópia e usinagem utiliza a tradicional técnica do enceramento, no


qual o desenho desejado é encerado pelo técnico. Ao mesmo tempo em que o
enceramento é escaneado, o bloco cerâmico é usinado. Esse sistema tem o mesmo
princípio da produção de uma chave, ou seja, por meio da cópia da original.

O sistema CAD/CAM utiliza a varredura do modelo ou, em alguns sistemas, do preparo


direto na cavidade oral. Com a imagem na tela do computador, o profissional define a forma
da estrutura a ser realizada (unidade CAD); após o término delimitado e a estrutura desenhada,
o comando é enviado a um torno (unidade CAM) no qual será usinado um bloco cerâmico.

68 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Os blocos cerâmicos usinados em ambas as técnicas também podem ser de dois tipos: parcial-
mente sinterizados ou totalmente sinterizados.2,6,23 Em geral, os sistemas que usam zircônia
parcialmente estabilizada por ítrio utilizam blocos parcialmente sinterizados devido à grande
resistência desses materiais, o que evita o maior desgaste do equipamento e torna o processo
mais rápido (green milling). Alguns estudos questionam a adaptação desses blocos parcialmen-
te sinterizados, já que sofreram processo de contração na sinterização final. Entretanto, os
totalmente sinterizados podem sofrer maior acúmulo de microtrincas por sua resistência ao
torneamento, causando uma diminuição de sua resistência à fratura.19,24

O uso da técnica CAD/CAM tornou possível a obtenção de munhões de alumina e zircônia


para implante a fim de alcançar melhores resultados estéticos em prótese sobre implante. A
utilização de munhões cerâmicos, iniciado com os de alumina e hoje recomendado com os
de zircônia devido às suas melhores propriedades mecânicas, reduz a possibilidade do apare-
cimento de uma cinta metálica e permite uma boa adaptação entre pilar e implante. Esses
munhões podem ser usinados para cada caso, ou pré-fabricados e modificados em boca por
meio da técnica convencional de preparo.

Os policristais de zircônia são hoje o material mais estudado com o uso dos sistemas
computadorizados.19 Todavia, não são os únicos materiais possíveis de serem utilizados. Os
sistemas computadorizados contam também com as cerâmicas reforçadas por leucita,
dissilicato de lítio, porcelana feldspática e alumina.

6. Muitas vezes, o mesmo sistema ceramocerâmico pode ser confeccionado por mais de
uma técnica. Quais são elas?

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 69

02_Sistemas totalmente.p65 69 26/7/2008, 11:09


7. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, relacionando as etapas de
sinterização à sua descrição.
(1) Contração ( ) As cerâmicas de feldspato convencionais para cobertura são
(2) Secagem apresentadas na forma de pó e líquido ou de pasta no caso
(3) Glazeamento dos opacos. A mistura dos dois produz uma massa úmida que
(4) Resfriamento mantém unidas as partículas de pó, o que possiblita a aplicação
(5) Condensação da cerâmica sobre um troquel refratário ou uma infra-estrutura
(6) Pré-sinterização por meio de pincéis ou espátulas com vibração e secagem
com pano limpo, papel absorvente, aplicação de pó seco na
superfície ou secador. Esse procedimento recebe o nome de
.................................... .
( ) Com a forma desejada esculpida levando-se em consideração
a contração, a cerâmica é posicionada na entrada de um forno
pré-aquecido. Esse procedimento, também chamado de
.................................... ou ....................................., é realizado
entre 5 e 10 minutos. Assim, o excesso remanescente de
umidade é eliminado juntamente com os gases de seu vapor
que poderiam alojar-se no interior da massa e provocar
porosidades.
( ) Enquanto a temperatura vai aumentando, o pó da cerâmica
sofre fusão com as outras partículas, promovendo uma massa
contínua que se densificará pela aproximação e pela união
das partículas, mas também sofrerá uma alteração de volume
(...............................). A queima deve ser realizada sob vácuo
no momento em que se fecha a porta do forno. Esse vácuo
auxiliará na não-inclusão de ar e no aumento da pressão
atmosférica que comprimirá as partículas, fechando os poros.
( ) Terminada a sinterização, que deve ser idealmente de 3 a 5
queimas (para evitar alteração da resistência, da translucidez
e do coeficiente de expansão térmica), passa-se para o
.................................. que se dá após cada ciclo quando a
cerâmica é exposta ao meio externo.
( ) Após o contorno desejado e o resfriamento da peça, deve ser
realizado um acabamento superficial que vedará os poros
presentes na superfície e promoverá o brilho. Esse procedimento,
denominado de ........................................, é realizado com
uma cerâmica com ponto de fusão mais baixo, que é posta
sobre a peça e levada ao forno para a última queima.
Resposta ao final do capítulo

70 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 70 26/7/2008, 11:09


8. Que diferenças existem entre as cerâmicas injetadas e as prensadas?

9. Que processo também é conhecido pelo termo slip casting? Em que consiste?

10. Por que a descoberta da zircônia estabilizada por ítrio mudou o paradigma das próteses,
criando um caminho sem volta para as cerâmicas?

11. Das afirmativas abaixo sobre as cerâmicas usinadas, qual delas é INCORRETA?
A) As porosidades nos sistemas ceramocerâmicos estão significativamente mais presentes
em coroas confeccionadas por técnicas manuais como as prensadas quando compara-
das às usinadas. A principal implicação clínica dessas porosidades, além da atuação
como iniciadores de trincas, é o fato de dispersarem a luz incidente, reduzindo a
translucidez da restauração.
B) Os modelos obtidos pela técnica de moldagem convencional nos sistemas usinados de
alumina são enviados a um laboratório credenciado pelo sistema e escaneado por uma
ponta de safira em contato com o gesso para definir a forma tridimensional do preparo.
C) O sistema de cópia e usinagem utiliza a tradicional técnica do enceramento, no qual
o desenho desejado é encerado pelo técnico. Ao mesmo tempo em que o encera-
mento é escaneado, o bloco cerâmico é usinado. Esse sistema tem o mesmo princípio
da produção de uma chave, ou seja, por meio da cópia da original.
D) Os blocos cerâmicos usinados podem ser de dois tipos: parcialmente sinterizados ou
totalmente sinterizados. Em geral, os sistemas que usam zircônia parcialmente estabi-
lizada por ítrio utilizam blocos totalmente sinterizados devido à grande resistência
desses materiais, evitando assim o maior desgaste do equipamento e tornando o
processo mais rápido.
Resposta no final do capítulo

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 71

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COMPATIBILIDADE ENTRE A CERÂMICA DE
INFRA-ESTRUTURA E A DE REVESTIMENTO
Como nas coroas metalocerâmicas, as infra-estruturas de cerâmica reforçadas por óxidos
recebem a cobertura de uma cerâmica feldspática. A cobertura é aplicada em camadas que
darão o formato e a estética final da restauração. Ao realizar as camadas, as próteses são
expostas a 3 ou até 5 queimas (idealmente), em que existe uma variação de temperatura
durante os ciclos. A diferença de comportamento térmico entre os materiais pode introduzir
tensões na restauração e aumentar a probabilidade de falha por fratura desse material.

O sucesso clínico das próteses ceramocerâmicas, entre outros fatores, depende das
propriedades térmicas dos materiais usados.

Nas coroas metalocerâmicas, o coeficiente de expansão térmica das ligas metálicas


deve ser em torno de 10% maior (maior contração) do que a da cerâmica (permite-se uma
diferença de 0,5 x 106/°C).25 Esse coeficiente de expansão térmica maior promoverá uma
contração ligeiramente superior do metal durante o resfriamento. Submetendo-se os metais
a uma tensão de tração e a cerâmica a forças de compressão, aumenta-se a resistência de
toda a restauração, já que tensões compressivas inibem a propagação de trincas da superfície
por manterem as bordas unidas. Entretanto, os metais são materiais dúcteis, ou seja, supor-
tam deformação plástica sem fraturar, enquanto as cerâmicas, mesmo reforçadas, são friáveis
(frágeis) e têm menor resistência a tensões de tração.15,24

Portanto, o mais desejável em um sistema ceramocerâmico seria que não existisse diferença
entre os valores de contração térmica das cerâmicas de infra-estrutura e de revestimento. As
cerâmicas de revestimento foram idealizadas para próteses metalocerâmicas, e essa diferença
no comportamento dimensional térmico não leva a problemas de compatibilidade com os
sistemas metálicos, mas pode afetar a compatibilidade térmica dos materiais usados nos
sistemas ceramocerâmicos.26,27 Outros fatores que podem influenciar a união desse conjunto
(infra-estrutura/cobertura) são a contração de queima da cerâmica e um pobre molhamento
da infra-estrutura pela cerâmica de cobertura.15,24

Ainda que o papel do coeficiente de expansão térmica na falha da porcelana de revestimento


desses sistemas seja controverso,28 idealmente os sistemas ceramocerâmicos devem ser
recobertos com porcelanas que tenham coeficiente de expansão térmica compatível com o
de sua infra-estrutura.15 Portanto, os sistemas ceramocerâmicos devem ser utilizados de prefe-
rência com o mesmo sistema cerâmico para a infra-estrutura e para o revestimento, uma vez
que os fabricantes desenvolvem os materiais para que sejam compatíveis e previnam tensões
térmicas residuais.15

72 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Independentemente do material que compõe a infra-estrutura, a confecção da co-
roa ou a prótese propriamente dita, com forma, anatomia, textura e cor, dependem
integralmente da habilidade, do aprimoramento e do conhecimento do técnico em
prótese dentária (TPD). É ele quem vai aplicar a cerâmica de revestimento com o
objetivo primário de incluir a menor quantidade possível de bolhas, trincas e falhas
na massa (corpo) cerâmica que causam o surgimento de fraturas em condições
orais na presença de umidade.

PROPRIEDADES DAS CERÂMICAS

RESISTÊNCIA
As propriedades mecânicas das cerâmicas são inferiores às dos metais em alguns aspectos.
Por exemplo, as cerâmicas são materiais reconhecidamente friáveis, ou seja, que suportam
forças compressivas, mas elas não resistem a forças de tração e não permitem deformação
maior que 0,1%,29 o que limita suas indicações. Além disso, apresentam disposição à fratura
catastrófica (ver Figura 18) devido à sensibilidade a microtrincas presentes na superfície ou
na parte interna, que funcionam como concentradores de tensões e ocasionam a sua propaga-
ção até à fratura.9

Devido à baixa resistência à fratura, de 75MPa para as porcelanas feldspáticas convencionais


(vidro), e à necessidade de um mimetismo cada vez maior ao dente natural, novos materiais
tiveram de ser desenvolvidos. A solução para o aumento da resistência à fratura dos materiais
cerâmicos está baseada no aumento de sua tenacidade, de 0,78MPa/m1/2 nas porcelanas
feldspáticas, que é a propriedade indicativa da resistência do material à fratura quando este
sofre uma trinca.9 Essas melhorias nas propriedades mecânicas basearam-se no aumento da
fase cristalina e na conseqüente diminuição da fase vítrea desses novos materiais, como a
leucita, dissilicato de lítio, alumina infiltrada por vidro, óxido de alumina altamente puro,
alumina infiltrada por vidro com 35% de zircônia parcialmente estabilizada e policristais de
zircônia tetragonal estabilizada por ítrio.

LEUCITA
O objetivo de reforçar certos materiais com a leucita foi o aumento na resistência (35-55%),
mas sem perda na estética. Contudo, o aumento da resistência flexural para 120MPa e da
tenacidade para 1,2MPa/m1/2 não trouxe um ganho significativo de resistência, que continua
relativamente baixa quando comparada a outros sistemas.30 Por esse motivo, suas indicações
ficaram limitadas a restaurações intra e extracoronárias (inlay/onlay).

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 73

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DISSILICATO DE LÍTIO
O dissilicato de lítio foi adicionado (60% de cristais) às porcelanas feldspáticas com o objetivo
de reforço e, mesmo apresentando características de um material friável (desde a propagação
de trincas até uma fratura catastrófica), a sua resistência flexural aumentou de 3 a 4 vezes em
relação às porcelanas (300 a 400MPa). Os seus valores de tenacidade ficaram entre 2,8 e
3,5MPa/m1/2.30 Logo, as restaurações feitas com esses materiais estão indicadas para áreas de
menor esforço mastigatório, facetas, coroas unitárias e próteses parciais fixas de três elementos
até segundo pré-molar.

A principal vantagem da adição do dissilicato de lítio às porcelanas feldspáticas foi


o aumento significativo na resistência sem perda da qualidade estética.

ALUMINA INFILTRADA POR VIDRO


A alumina infiltrada por vidro integra um grupo de cerâmicas compostas por maior fase
cristalina (80% de alumina) do que de vidro. Essa fase cristalina foi introduzida como um
“limitador de trincas”, porporcionando uma infra-estrutura com resistência flexural de até
600MPa (seis vezes mais do que as porcelanas) e tenacidade de 3,1 a 4,6MPa/m1/2.30 Com a
perda em termos estéticos, seus idealizadores introduziram o mesmo princípio de reforço
com acréscimo do espinélio (óxido de magnésio), o qual perde de 15 a 40% em resistência
flexural, mas obtém um ganho considerável na translucidez. Com a melhoria da resistência
desses materiais, suas indicações aumentaram, inclusive para coroas unitárias posteriores,
além de facetas, coroas e próteses fixas até segundo pré-molar.

ÓXIDO DE ALUMINA ALTAMENTE PURO


Por meio do mesmo material, mas agora em presença de partículas de alumina densamente
compactadas e com porosidade reduzida, a resistência flexural aumentou para 699MPa e a
resistência à fratura para 4,5 e 6MPa/m1/2.30 Isso aumentou o espectro de indicação para
pontes fixas posteriores de até três elementos.

ALUMINA INFILTRADA POR VIDRO COM 35%


DE ZIRCÔNIA PARCIALMENTE ESTABILIZADA
Estudos demonstram uma resistência flexural de 800Mpa e uma resistência à fratura de
6-8MPa/m1/2 para esse material.30

74 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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POLICRISTAIS DE ZIRCÔNIA TETRAGONAL ESTABILIZADA POR ÍTRIO
Os policristais constituem os materiais cerâmicos mais estáveis em termos mecânicos, graças
ao óxido de ítrio adicionado à zircônia pura para estabilizá-la em temperatura ambiente e
para gerar um material de multifases, conhecido como zircônia parcialmente estabilizada.
A resistência inicial e a tenacidade desses materiais, que o cunharam de cerâmica-aço,31 é
resultado da estabilização parcial da zircônia. Tensões de tração que atuam nas bordas da
trinca induzem a uma transformação do óxido de zircônia metaestável tetragonal para a
forma monoclínica.

Essa transformação é associada a um aumento local de 3-5% em volume, o que resulta em


tensões compressivas localizadas ao redor e nas bordas da trinca, atuando contra as tensões
de tração que levam à fratura. Essa propriedade física é conhecida como tenacificação por
transformação (Figura 7). Por meio desse fenômeno, os policristais demonstraram resistência
flexural de 900-1.200Mpa e tenacidade de 9-10MPa/m1/2, valor duas vezes maior do que o
da alumina e três vezes maior do que o do dissilicato de lítio.30,31

Tetragonal
Monoclínica
Compressão Compressão

Tração

Figura 7 – Tenacificação por transformação pelo au-


mento de volume obtido com a mudança dos cristais
de zircônia da forma estável tetragonal para a forma
monoclínica.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Embora o mecanismo de ‘’fortalecimento’’ oriundo da transformação não previna a


propagação de uma fratura, ele dificulta o seu progresso.32

ESTÉTICA

Em relação às propriedades mecânicas, as cerâmicas são inferiores aos metais; todavia,


em relação às propriedades ópticas, elas são superiores em muitos aspectos no
âmbito da Odontologia.

As porcelanas fedspáticas apresentam uma estabilidade de cor e qualidades quanto à


opacidade e translucidez por meio de diferentes cores de pó (opaco, dentina e esmalte), os

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 75

02_Sistemas totalmente.p65 75 26/7/2008, 11:09


quais são estratificados ou pigmentados para mimetizar satisfatoriamente as características
naturais do dentes.9 Outra propriedade introduzida às cerâmicas foi a fluorescência, ou
seja, emissão espontânea da luz absorvida em um comprimento de onda maior, o que confere
aos dentes um aspecto mais branco e brilhante (aspecto natural) à luz do dia.

Na Odontologia, a fluorescência é descrita pela absorção da luz ultravioleta por uma deter-
minada estrutura pela luz ultravioleta (luz negra) e a emissão pela luz visível em um espectro
azulado. A opalescência adicionada a esses materiais possibilita uma dispersão de luz de
comprimentos de onda mais curtos do espectro visível do que confere aos dentes uma apa-
rência azulada na cor refletida e uma aparência de laranja/marrom na cor transmitida.

A opalescência e a fluorescência realçadas, combinadas com a claridade óptica,


resultam em uma cerâmica de cor reativa que parece esteticamente natural sob
qualquer luz, assim como a dentição natural.33,34

Com base na seqüência dos materiais de reforço citados anteriormente, pode-se aplicar o
mesmo raciocínio quanto à estética. Entretanto, será em uma relação inversamente proporcio-
nal às propriedades mecânicas. Quanto maior a resistência, menor a estética. Os dissilicatos
de lítio permitem uma relativa translucidez, enquanto os materiais à base de alumina tiveram
de sofrer modificações, como o acréscimo de óxido de magnésio, para melhorar a translucidez
(Quadro 2). Devido a essas mudanças, as propriedades mecânicas são reduzidas.

Quadro 2
COMPARATIVO DA TRANSLUCIDEZ DE ALGUNS SISTEMAS CERAMOCERÂMICOS

In- Empress Empress 2 Procera In- In- Metalo-


Ceram AllCeram Ceram Ceram cerâmica
Spinnel Alumina Zircônia

Baixo x x x
valor,
alta
translucidez

Valor x x x x
mediano
e translucidez

Opaco, x x x
alto valor

Fonte: Adaptado de Heffernan e colaboradores (2002).35

76 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Em estudo recente,30 as cerâmicas de zircônia foram comparadas às ligas metálicas quanto à
opacidade, não sendo recomendadas para dentes anteriores. No entanto, esses materiais
não têm a aparência azulada ao redor dos tecidos moles como os metais e, nos casos de
próteses sobre implante, são capazes de cobrir os componentes metálicos.

ADAPTAÇÃO
As próteses ceramocerâmicas apresentam propriedades mecânicas e estéticas compatíveis
com o uso clínico. No entanto, a adaptação marginal e interna é entendida como um dos
mais importantes critérios para qualidade clínica e sucesso das coroas totalmente cerâmicas.
O aumento da discrepância marginal das coroas favorece a taxa de dissolução do cimento e
da microinfiltração, aumentando a retenção de placa que propicia o surgimento de lesões
cariosas ou doenças periodontais.36

Para prevenir fratura e alteração da cor de coroas totalmente cerâmicas, é necessário


tanto o uso de materiais mais resistentes ou mais translúcidos quanto a melhor
adaptação possível. Essa característica de adaptação parece estar mais relacionada
à técnica de processamento do que ao material utilizado. De acordo com as técnicas
existentes, é possível obter as cerâmicas prensadas, infiltradas (slip casting) e usina-
das.37

Os fabricantes têm melhorado os problemas de desadaptação marginal encontrado em


alguns sistemas ceramocerâmicos. Os melhores resultados têm sido encontrados para a técnica
slip casting (25 ± 18µm) e algumas técnicas de usinagem (17 ± 16µm).37 Outro fator impor-
tante é que existem diferenças nas técnicas de fabricação das cerâmicas usinadas, nas formas
(laser ou contato) e no local (preparo ou modelo) da obtenção da imagem, assim como nos
diferentes programas para elaboração do desenho. Por isso, cada sistema deve ser analisado
individualmente.

A técnica de prensagem a quente teve uma desadaptação de 44 ± 23µm, o que é clinica-


mente aceitável. No entanto, o maior problema desses sistemas refere-se às suas desadaptações
internas. Até pouco tempo, a grande maioria deles apresentava desadaptação superior a
100µm e alguns ainda permanecem assim. Os softwares dos sistemas CAD/CAM têm melhora-
do consideravelmente, permitindo espaços internos comparáveis àqueles esperados para as
metalocerâmicas. Contudo, o clínico deve ficar alerta no momento do preparo, uma vez que
bordas pouco arredondadas, como pode ocorrer na região incisal de um dente anterior pre-
parado, não permitirão espaço viável para que as fresas do sistema CAD/CAM contornem
essa região, gerando uma desadaptação indesejada.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 77

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A técnica slip casting apresenta melhores resultados. Porém, como em todos os
sistemas, a compensação das desadaptações depende da técnica de cimentação
adesiva.37,38

BIOCOMPATIBILIDADE
Todos os sistemas cerâmicos têm condutividade térmica reduzida, o que resulta em me-
nor potencial de irritação pulpar. Uma pequena porcentagem da população é hipersensível
às ligas dentais que contêm metais nobres e básicos, como paládio e níquel. Devido à sua
estabilidade química, os sistemas ceramocerâmicos eliminam esse problema.

A biocompatibilidade da zircônia, avaliada tanto in vitro quanto in vivo, não apresentou


efeitos adversos. Esses materiais também sofrem menor acúmulo de microrganismos quando
comparados ao titânio. Além disso, a infra-estrutura à base de zircônia tem radiopacidade
semelhante à do metal que reforça a avaliação radiográfica da restauração, o que possibilta
a verificação de excessos ou desadaptações. Essas características tornam os sistemas
ceramocerâmicos biocompatíveis.31

12. Assinale a alternativa correta sobre a compatibilidade entre a cerâmica de infra-estrutura


e de revestimento:
A) Como nas coroas metalocerâmicas, a infra-estrutura de cerâmicas reforçadas por
óxidos pode receber a cobertura de qualquer tipo de cerâmica.
B) A cobertura é aplicada em camadas que darão o formato e a estética final à restaura-
ção.
C) Ao realizar as camadas, as próteses são expostas a 3 ou até 5 queimas (idealmente)
sem variação de temperatura durante os ciclos.
D) Apesar da diferença de comportamento térmico entre os materiais, não há tensões
na restauração ou aumento da probabilidade de falha por fratura do material.
Resposta no final do capítulo

78 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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13. Por que nas coroas metalocerâmicas o coeficiente de expansão térmica das ligas metálicas
deve ser em torno de 10% maior do que a da cerâmica?

14. Qual o papel do TPD na confecção da coroa ou da prótese propriamente dita?

15. “As propriedades mecânicas das cerâmicas são inferiores às dos metais em alguns aspec-
tos”. Justifique esta afirmação.

16. Complete o quadro com os tipos de restaurações indicadas a partir dos seguintes materiais:

Leucita

Dissilicato de lítio

Alumina infiltrada por vidro

Óxido de alumina altamente puro

Alumina infiltrada por vidro com 35%


de zircônia parcialmente estabilizada

Policristais de zircônia tetragonal


estabilizada por ítrio

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 79

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17. A propriedade que mais evoluiu nas cerâmicas atuais foi:
A) estética.
B) resistência.
C) adaptação.
D) custo.
Resposta no final do capítulo

18. O que torna a infra-estrutura de óxido de zircônio estabilizada por ítrio mais resistente
do que as demais cerâmicas?
A) O tamanho das partículas.
B) O método de processamento.
C) O fenômeno de tenacificação por transformação.
D) A compatibilidade com as porcelanas de revestimento.
Resposta no final do capítulo

19. Quais são os problemas ocasionados pela adaptação deficiente das cerâmicas?
A) Diminuição da estética.
B) Diminuição da resistência.
C) Dissolução do cimento.
D) Todas as alternativas estão corretas.
Resposta no final do capítulo

PLANEJAMENTO EM PRÓTESES CERAMOCERÂMICAS


Nas últimas três décadas, a preocupação com a estética, de modo global, passou a ocupar
lugar de grande destaque, sendo que na Odontologia não poderia ser diferente, já que os
pacientes passaram a manifestar a “necessidade” de ter um sorriso harmonioso. Para muitos
deles, esse sorriso significava ausência de metal. Por isso, materiais restauradores diretos
(resinas compostas) e indiretos (polímeros e cerâmicas reforçadas) passaram a fazer parte do
cotidiano dessa área.

Acredita-se que o fator mais extraordinário surgiu com a possibilidade de se fazer coroas
unitárias e próteses parciais fixas sem metal, algo quase inimaginável até meados do século
passado. Hoje se tenta expandir sua aplicação a implantes dentários, empregando-se mate-
riais cerâmicos de zircônia, com base na ampla aplicação desse material em próteses de
quadril e cabeça de fêmur.

80 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Não deixa de ser fantástica, inovadora e tentadora a possibilidade de se eliminar o metal
das próteses, já que este é o responsável pelo impedimento da passagem de luz (translucidez),
o que gera dentes artificiais menos estéticos. Porém, é necessária uma boa dose de parcimônia
quanto às suas indicações e ao seu emprego, pois ainda não há evidências clínicas e científi-
cas de que esses produtos possam apresentar longevidade compatível com as restaurações
metalocerâmicas em todas as situações. Desse modo, podem-se considerar algumas indica-
ções e limitações para esse tipo de material.

INDICAÇÕES E LIMITAÇÕES DAS PRÓTESES CERAMOCERÂMICAS


As próteses ceramocerâmicas são genericamente indicadas em casos de:
! elementos isolados (anterior/posterior);
! próteses parciais fixas pequenas de até três elementos (anterior/posterior);
! pacientes sem hábitos parafuncionais.

Entre as limitações das próteses ceramocerâmicas, encontram-se:


! dentes mal posicionados na arcada;
! pacientes com hábitos parafuncionais;
! dentes com coroas clínicas curtas;
! espaço interoclusal pequeno;
! próteses fixas extensas (dois pônticos ou mais);
! presença de cantiléver;
! próteses fixas obtidas em peça única (monobloco).

Quando ocorre perda de um elemento dentário causada por cárie, trauma ou problema
periodontal, essa falha poderá ser reposta de várias maneiras, com próteses parciais removíveis,
fixas adesivas, fixas convencionais ou implantes dentários. Na escolha de próteses fixas
convencionais, o princípio desse tratamento consiste em apoiar o dente ausente (pôntico)
em pelo menos dois dentes adjacentes (pilares) a esse espaço. Para tanto, há necessidade de
desgaste nesses dentes (preparos) a fim de que haja espaço suficiente para a acomodação do
material restaurador.

Em algumas situações, o profissional depara-se com dentes-pilar já despolpados, com a pre-


sença ou não de um núcleo metálico ou com qualquer outro material restaurador. Porém, em
algumas situações, esses mesmos dentes pilares encontram-se polpados e, muitas vezes,
hígidos, o que leva ao desgaste de uma quantidade significativa de estrutura coronária (esmalte
e dentina).

Aproximadamente 63% de estrutura coronária são removidas durante o preparo


para uma coroa total metalocerâmica, ao passo que para as coroas totais
ceramocerâmicas esse percentual pode atingir até 73%.39

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 81

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Nos casos de coroas isoladas, desde que tomados os cuidados necessários durante o prepa-
ro de dentes polpados, o percentual de desgaste não chega a comprometer a vitalidade
pulpar.40 Contudo, em próteses parciais fixas, muitas vezes a presença de dentes-pilar com
forma e posições desfavoráveis (por exemplo, giroversão, extrusão) pode acarretar desgaste
coronário excessivo para que haja paralelismo entre esses dentes pilares.

Este é um fator indispensável para a correta adaptação da futura prótese, principalmente em


próteses ceramocerâmicas. Nas próteses metalocerâmicas tem-se a alternativa de adaptar
os retentores individualmente e unir em boca para a confecção da solda, alternativa indispo-
nível nas próteses totalmente cerâmicas. Além disso, o desgaste adicional pode causar uma
lesão pulpar irreversível.23,41-43

Em casos de perda unitária, a colocação de um implante resulta em menos compli-


cações biológicas após cinco anos do que uma prótese fixa. Se combinada a uma
coroa metalocerâmica, a expectativa de sobrevida será ainda maior (95,4%) quan-
do comparada a uma ceramocerâmica (91,2%).44

Outro fator a ser considerado é o cuidado com a indicação desses tipo de restauração para
pacientes portadores de hábitos parafuncionais, como apertamento e bruxismo. Esses
pacientes, durante a parafunção, desenvolvem forças oclusais com intensidade acima do
normal e fora do longo eixo (forças oblíquas), o que gera uma tensão por cisalhamento e
pode acarretar tanto o deslocamento da peça quanto a fratura da cerâmica de revestimento,
já que este tipo de material resiste muito bem às forças de compressão, mas de forma insa-
tisfatória às forças de tração e cisalhamento.45-47 Por outro lado, foi observado 98,4% de
sucesso com coroas do sistema ceramocerâmico infiltrado, sendo que muitos pacientes avalia-
dos eram portadores de parafunção. Os autores do estudo concluíram que esses pacientes
não devem ser excluídos do tratamento com próteses ceramocerâmicas.48

Considerando a menor resistência das coroas puras de cerâmica em relação às metalocerâmicas,


um outro fator limitante para esse tipo de restauração são os casos de coroas clínicas curtas
e um espaço interoclusal reduzido. Nesses casos, é preciso trabalhar com próteses que,
muitas vezes, têm uma espessura diminuta, o que acarreta enfraquecimento da estrutura
com conseqüente fratura.49 Além disso, o planejamento de próteses fixas extensas e a presença
de cantiléveres são situações que não indicariam esse tipo de prótese, sobretudo para a
região posterior, apesar da existência de alguns relatos na literatura sobre a avaliação de
próteses ceramocerâmicas com presença de cantiléver.48,50 Por isso, como será descrito poste-
riormente, o desenho da infra-estrutura pode ter um papel decisivo no aumento da resistên-
cia do material nessas situações.

Nos casos de próteses fixas, cujos retentores são coroas totais, uma das técnicas de moldagem
mais utilizadas é com casquete, pois oferece inúmeras vantagens, como baixo custo, menor

82 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 82 26/7/2008, 11:09


índice de distorção do material de moldagem e adequado afastamento gengival. Não raramen-
te, quando se utiliza essa técnica, os casquetes nem sempre são retirados durante a moldagem,
sendo preciso “encaixá-los” posteriormente no molde em uma posição aparentemente cor-
reta. Nas próteses fixas metalocerâmicas, esse fato trará pouco prejuízo, já que não se con-
feccionam próteses com estrutura metálica fundida em peça única (monobloco), cuja adapta-
ção correta seria praticamente impossível. Assim, os retentores são adaptados aos pilares
individualmente e unidos para serem soldados, compensando vários fatores negativos, como
o posicionamento dos casquetes no molde e a contração de expansão que os vários materiais
sofrem durante uma fundição.

Para as próteses ceramocerâmicas, o ideal é o afastamento com fio retrator e a


moldagem com uma silicona de adição, já que se trata do material com melhor
estabilidade dimensional.

PREPARO PARA AS PRÓTESES CERAMOCERÂMICAS


O preparo para coroas totais, elementos isolados ou retentores de próteses parciais fixas,
independentemente do material restaurador escolhido, é regido por princípios biomecâni-
cos.51 Durante a fase de planejamento protético, a escolha do material restaurador é importan-
te no sentido de orientar a execução clínica do preparo a ser feito. Assim, os conceitos
básicos sobre a biomecânica dos preparos cavitários não podem ser esquecidos; porém, são
necessárias adaptações para adequá-los a essa nova classe de material, principalmente no
que diz respeito à quantidade de desgaste do elemento dentário. Sabe-se que existe uma
relação direta entre a espessura do material restaurador e a sua rigidez estrutural. No que
concerne às próteses ceramocerâmicas, algumas considerações devem ser postuladas.

A redução da superfície axial deve resultar em uma espessura mínima, variando entre 1,3
a 1,5mm, com uma expulsividade em torno de 8 a 10º, resultando em suporte e resistência
adequados à cerâmica e com ângulos arredondados entre a parede gengival e axial.42,52

A redução oclusal/incisal deve ser suficiente para garantir a resistência estrutural do material
restaurador (dentes posteriores) e a estética (dentes anteriores); contudo, a altura do preparo
é essencial para a resistência aos esforços laterais, sobretudo em coroas clínicas curtas, já que
nesses casos ocorre uma concentração de esforços devido à pouca superfície. A quantidade
ideal da redução dessas superfícies está por volta de 2,0mm, desde que não ultrapasse um
terço da distância cervicoclusal, considerando-se o tamanho original da coroa, com riscos de
prejuízos mecânicos e biológicos5 (Figura 8). Essa quantidade preconizada de desgaste dentário
seria o suficiente para promover uma infra-estrutura com espessura de cerâmica o mais
uniforme possível, o que diminuiria as chances de fratura.53

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 83

02_Sistemas totalmente.p65 83 26/7/2008, 11:09


Figura 8 – Espessuras do desgaste axial e oclusal e
inclinações das paredes axiais do preparo para coroas
ceramocerâmicas.
Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Luiz Góes de Oliveira.

O término do preparo é, para a maior parte dos materiais totalmente cerâmicos, um ombro
de 90º arredondado entre as paredes axiais e cervicais, com espessura em torno de 1,0 a
1,5mm em todas as faces e, sempre que possível, em esmalte54 (Figura 9).

Independentemente do sistema cerâmico, términos com ângulos maiores do que


100º e/ou bisel, chanfro raso, chanferete e lâmina de faca estão totalmente contra-
indicados. Quando possível, o ideal é que o término da restauração fique apoiado
em esmalte47 (Figura 10).

Figura 9 – Término cervical do tipo ombro arredonda- Figura 10 – Modelo de trabalho que demonstra as
do para coroas ceramocerâmicas. características do preparo.
Fonte: Arquivo de imagens do Dr. José Luiz Góes de Oliveira. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

84 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 84 26/7/2008, 11:09


COROAS UNITÁRIAS E PRÓTESES FIXAS
Quando se planeja uma restauração indireta para determinado caso, devem ser considerados
alguns fatores, como, por exemplo, coroa isolada ou prótese fixa, extensão da prótese, loca-
lização (anterior ou posterior) e material restaurador. Essa avaliação é de fundamental impor-
tância, uma vez que, dependendo das respostas, muitas vezes é preciso mudar o planeja-
mento inicial.

Caso uma restauração com coroas metalocerâmicas seja o material de eleição, muitas dessas
dúvidas, se não todas, estarão resolvidas, já que esse material se presta, de maneira altamen-
te satisfatória, para qualquer dessas situações, desde que se obedeça a uma série de caracte-
rísticas técnicas para que se preservem as condições de resistência da estrutura. No en-
tanto, para as restaurações totalmente cerâmicas, os sistemas cerâmicos devem ser selecio-
nados de acordo com as situações presentes, em uma combinação que envolva estética
(dentes anteriores) e resistência (dentes posteriores), visto que a escolha incorreta do material
cerâmico poderá levar a um fracasso a curto prazo.

A seleção do tipo de material cerâmico a ser utilizado deve ser realizada nas etapas
iniciais de planejamento e preparo com finalidade protética, quando então se ava-
liam as características estéticas e de resistência do material indicado.

Com freqüência, o TPD tende a modificar a decisão do cirurgião-dentista menos atento


quando tem em mãos o modelo de trabalho (por exemplo, faz uma coroa de alumina em vez
de metalocerâmica). Se essa mudança é feita sem adequação do preparo e análise das espes-
suras das coroas provisórias, pode resultar em espessuras insuficientes (menores do que 1,0mm)
ou excessivas (maiores do que 2,0mm), o que gera fracassos precoces.

INFRA-ESTRUTURA PARA ELEMENTOS UNITÁRIOS


Nos casos de coroas isoladas, o planejamento e a escolha do material representam, até
mesmo pela peculiaridade do caso, uma escolha mais simples: nesse caso, tem-se uma coroa
protética apoiada e cimentada sobre uma estrutura dentária polpada ou despolpada, com
sua porção coronária reconstruída com núcleo de preenchimento em resina composta ou
núcleo metálico fundido.

Independentemente do substrato, uma estrutura radicular sustentada por um teci-


do periodontal sadio suportará, na maioria das vezes, a coroa de forma bastante
satisfatória.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 85

02_Sistemas totalmente.p65 85 26/7/2008, 11:09


O desenho de uma infra-estrutura para a confecção de próteses unitárias metalocerâmicas
deve seguir alguns requisitos:51
! ângulos internos arredondados;
! infra-estrutura com dimensões aproximadas de dois terços da restauração final;
! presença de uma cinta metálica na superfície lingual com altura ideal de aproximada-
mente 2,5mm e espessura mínima de 0,3 a 0,5mm do coping.

Esses requisitos servem tanto para os dentes anteriores quanto para os posteriores, sendo
que, para estes últimos, a cinta metálica lingual deverá estender-se para as regiões proximais
(poste proximal), em uma extensão que pode variar de acordo com os requisitos oclusais,
como nos casos em que os contatos oclusais ocorrerão na crista marginal. Isso faz com que a
cerâmica não apresente uma extensão cervicoclusal muito grande (4 a 5mm), o que torna a
restauração altamente suscetível à fratura.

Para as próteses ceramocerâmicas, deve-se ter um maior cuidado com o desenho da infra-
estrutura, pois ele apresentará uma espessura que pode variar de 0,4mm nas faces livres até,
no máximo, 0,8mm na superfície oclusal.55 Nota-se que as infra-estruturas são desenhadas
empiricamente e sem grandes cuidados, resultando com freqüência em fracassos. Então,
pergunta-se:
! Por que são vistas com grande freqüência infra-estruturas totalmente cerâmicas sem
nenhuma estrutura de reforço, como é preconizado para as metalocerâmicas, já que
muitos trabalhos relatam fraturas em regiões marginais e, especialmente, em áreas de
conexão?39,56
! Por que uma linha de término cervical com espessura que varia de 1,0 a 1,2mm não é
normalmente aproveitada com uma infra-estrutura com maior espessura nessa região?

Para próteses ceramocerâmicas, preconiza-se uma infra-estrutura que siga os


mesmos princípios de resistência indicados para as coroas metalocerâmicas, com
cinta lingual e poste proximal que podem estender-se até a superfície oclusal na
região de crista marginal, mantendo assim o contato oclusal do dente antagonista
com a cerâmica de infra-estrutura (mais resistente), em vez de com a cerâmica de
revestimento. Entretanto, na região cervical, toda a estrutura de reforço deve ser
coberta com porcelana de revestimento, pois as cerâmicas de infra-estrutura não
sofrem glazeamento, ficando rugosas e propensas ao acúmulo de biofilme micro-
biano.

As infra-estruturas para coroa ceramocerâmica construídas com reforço e poste proximal


têm sido sugeridas desde 1979.57 Esse reforço é constituído de uma cinta cervical de 2mm de
altura e 1mm de espessura, localizada preferencialmente na cúspide de contenção, conectada
a um poste proximal da mesma espessura que se extende 3,5mm em direção à oclusal ou até
a crista marginal, região de contato com o antagonista (Figuras 11A a H). O princípio dessa
modificação de desenho baseia-se na possibilidade de prover maior rigidez à infra-estrutura
e melhor suporte à cúspide de contenção.

86 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 86 26/7/2008, 11:09


A B C D

E F G H

Figura 11 – Modificação da infra-estrutura proposta para as coroas unitárias. A) e E) Vista proximal e oclusal
da metalocerâmica modificada e B) e F) convencional. C) e G) Alumina modificada e D) e H) convencional.
Fonte: Bayardo-Gonzáles (2007).58

Em 2007, Bayardo-Gonzáles58 avaliou a resistência à fratura de infra-estruturas metalocerâ-


micas e ceramocerâmicas, com e sem reforço da cinta lingual e poste proximal (Tabela 1).
Encontraram-se resultados significativamente decrescentes de resistência das coroas metalo-
cerâmicas com reforço, seguida das sem reforço, alumina com reforço e sem. Ou seja, a
utilização de reforço aumenta consideravelmente a resistência da restauração e parece ter
grande potencial de aplicação clínica. Recentemente, esse aspecto foi enfatizado em termos
clínicos também para as coroas com infra-estruturas de zircônia (embora não sistematicamente
avaliada).

Tabela 1
VALORES MÉDIOS OBTIDOS COM O TESTE DE RESISTÊNCIA À FRATURA POR COMPRESSÃO

Estrutura Kgf

Coroa metalocerâmica com reforço 237,63*


Coroa metalocerâmica sem reforço 171,73*
Coroa ceramocerâmica com reforço 127,58*
Coroa ceramocerâmica sem reforço 93,91*

Fonte: Bayardo-Gonzáles (2007).58

Os asteriscos à direita do valor de resistência à fratura indicam diferença estatisticamente significante.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 87

02_Sistemas totalmente.p65 87 26/7/2008, 11:09


De acordo com a nossa experência clínica, tem havido um benefício notável na
modificação de desenho.59 As características dos desenhos das infra-estruturas são
de grande importância para compensar a friabilidade das cerâmicas odontológicas,43,60
já que esse tipo de material permite uma deformação plástica de apenas 0,1%.29

INFRA-ESTRUTURA PARA PRÓTESE PARCIAL FIXA


Diferentemente das próteses fixas metalocerâmicas, em que dois e, às vezes, até três pônticos
consecutivos podem ser utilizados, as próteses ceramocerâmicas devem ter um pôntico, tan-
to na região anterior quanto na região posterior, para serem indicadas com segurança.

Se para as coroas unitárias há, na maioria das vezes, uma situação mecânica favorável, para
as próteses parciais fixas essa situação é bem mais complexa. Por isso, devem ser feitas
algumas considerações físicas. Nesses casos, tem-se uma estrutura que se comporta como a
“lei das vigas”.

Uma viga suspensa (pôntico) está apoiada em dois pontos adjacentes (dentes-pilar),
fazendo com que, quando a estrutura seja submetida à ação compressiva de uma
força no centro da porção suspensa, exigirá uma força de resistência no sentido
oposto, fazendo com que essas forças se equilibrem. Então, é fácil supor que, quan-
to mais extensa for essa barra, menor será sua resistência, fazendo com que esta
venha a sofrer deformações plásticas devido à flexão e tornando-se o “calcanhar-
de-Aquiles” desse tipo de estrutura.

Assim, uma largura e, sobretudo, uma altura maior na região dos conectores faz com que a
resistência aumente. Se em estruturas metálicas uma altura mínima de conector de 4mm2 na
região anterior e 6mm2 na região posterior é suficiente para uma resistência satisfatória,61 em
estruturas de cerâmica pura é necessária uma área mínima de 12mm2 (3mm de largura x 4mm
de altura) na região anterior e 16 a 20mm2 na região posterior24,40,62-64 (Figuras 12A e B).

4mm 4mm
A B

Figura 12 – A) e B) Altura e espessura dos conectores recomendadas para as próteses ceramocerâmicas.


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

88 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Por essa razão, as próteses fixas ceramocerâmicas estão contra-indicadas para dentes-
pilar com coroas clínicas curtas, especialmente na região posterior. Não se pode esquecer
que, durante o planejamento desse tipo de restauração, é preciso prever espaço na região
cervical para um correto posicionamento do tecido gengival, o que possibilita a correta
higienização por parte do paciente, além do espaço interoclusal. Por isso, a exemplo das
coroas unitárias, recomendamos que o contato oclusal seja feito à custa da cerâmica de
infra-estrutura, e não da cerâmica de revestimento. Também deve haver uma barra corrugada
de no mínimo 2,5mm de altura na superfície lingual (Figuras 13A a I).

A B C

D E F

G H I

Figura 13 – A) Infra-estrutura de prótese de três elementos sem estrutura de reforço. B) a I) Características


das infra-estruturas de próteses fixas ceramocerâmicas posteriores com a presença de cintas linguais, postes
proximais e barra corrugada, além de contatos oclusais sobre a infra-estrutura cerâmica. Ressalta-se a impor-
tância do recobrimento da cinta lingual da infra-estrutura com a porcelana de revestimento.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Outra questão a ser considerada é a extensão mesiodistal do espaço edêntulo, ou seja, o


comprimento do pôntico. Estudos demonstram que o tamanho máximo seria de 8 a 9mm
para próteses fixas anteriores e de 10 a 11mm para as posteriores65 (Figuras 14A e B). Em
pesquisa conduzida com o objetivo de avaliar as extensões médias de pônticos tanto na
região anterior quanto na posterior em próteses fixas confeccionadas com infra-estrutura
aluminizada, encontraram-se extensões médias de pônticos de 6,8mm para próteses anteriores
e 8,1mm para posteriores.50

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 89

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A B

Figura 14 – A) e B) Extensões mesiodistais anteriores (até 9mm) e posteriores (até 11mm) do espaço endêntulo.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

De acordo com o mesmo princípio físico que rege a “lei das vigas”, se a extensão da
barra for duplicada no sentido mesiodistal, a resistência será diminuída pela meta-
de. Disso decorre a orientação para que se confeccione a prótese fixa ceramocerâmica
com apenas um pôntico. Da mesma forma, se a área de conexão for duplicada (de
6mm2 para 12mm2) às custas da direção horizontal (vestibulolingual), também será
dobrada a resistência da infra-estrutura.

Caso a duplicação da área de conexão seja feita no sentido vertical (cervicoclusal), a resistên-
cia será aumentada em oito vezes. Decorre de tal aumento da resistência a importância desse
conceito, que ainda permite manter adequados os espaços para a higienização e para a
fisioterapia oral.

90 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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20. Analise as afirmativas a seguir sobre o planejamento em próteses ceramocerâmicas:
I – Quando ocorre perda de um elemento dentário causada por cárie, trauma ou proble-
ma periodontal, essa falha poderá ser reposta de várias maneiras, com próteses
parciais removíveis, fixas adesivas, fixas convencionais ou implantes dentários.
II – Em algumas situações, o profissional depara-se com dentes-pilar já despolpados,
com a presença ou não de um núcleo metálico ou com qualquer outro material
restaurador. Porém, em algumas situações, esses mesmos dentes-pilar encontram-
se polpados e, muitas vezes, hígidos, o que leva ao desgaste de uma quantidade
significativa de estrutura coronária.
III – Nos casos de coroas isoladas, desde que tomados os cuidados necessários durante o
preparo de dentes polpados, esse percentual de desgaste não chega a comprometer
a vitalidade pulpar.
Estão corretas as apenas as alternativas:
A) I.
B) I e II.
C) II e III.
D) I, II e III.
Resposta no final do capítulo

21. Existem muitos fatores que influenciam a longevidade das próteses ceramocerâmicas.
Qual o fator que mais preocupa clínicos e fabricantes?
A) Doença periodontal.
B) Mobilidade dentária.
C) Alta atividade cariogênica.
D) Hábitos parafuncionais.
Resposta no final do capítulo

22. Assinale a alternativa INCORRETA quanto às indicações das próteses ceramocerâmicas:


A) Coroas clínicas curtas.
B) Elementos isolados.
C) Próteses fixas pequenas.
D) Pacientes sem hábitos parafuncionais.
Resposta no final do capítulo

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 91

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23. Por que nos casos de coroas isoladas, tanto o planejamento quanto a escolha do material
representam uma escolha mais simples?

24. Em coroas isoladas ceramocerâmicas, a fim de aumentar a resistência, o desenho da


infra-estrutura deve ter:
A) uma cinta metálica e aumento da espessura da cerâmica.
B) um poste proximal e aumento da espessura da cerâmica.
C) poste proximal e cinta metálica.
D) somente o aumento da espessura da cerâmica de revestimento.
Resposta no final do capítulo

25. Por que é necessário maior cuidado com o desenho da infra-estrutura para as próteses
ceramocerâmicas?

26. Em próteses fixas ceramocerâmicas, qual deve ser, para as regiões anterior e posterior,
respectivamente, a extensão máxima do pôntico, assim como a área mínima do conector?
A) 9mm e 11mm; 12mm2 e 16mm2.
B) 11mm e 9mm; 12mm2 e 16mm2.
C) 8mm e 9mm; 8mm2 e 20mm2.
D) 10mm e 12mm; 16mm2 e 20mm2.
Resposta no final do capítulo

92 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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CIMENTAÇÃO
As principais funções de um agente cimentante são ajudar nos princípios mecânicos (reten-
ção e estabilidade) e, principalmente, preencher a interface dente/restauração, evitando que
esse espaço seja preenchido por bactérias e cause a degradação do suporte. Portanto, o
cimento ideal deveria ter características de resistência e ser insolúvel aos fluidos bucais, o que
poucos cimentos efetivamente apresentam.

Os mecanismos de retenção de uma restauração sobre um dente preparado divi-


dem-se em união mecânica, micromecânica e molecular, sendo que as duas últimas
apresentam características de adesão.66

Como principal exemplo de união mecânica, pode-se citar o cimento de fosfato de zinco,
que não apresenta aderência molecular, mas apenas um embricamento mecânico entre a
peça e o dente. Nesse caso, um preparo dental correto, com paredes opostas quase paralelas,
que impossibilita a retirada da restauração sem o cisalhamento do cimento, torna-se um
grande aliado quando da utilização desse tipo de cimento.

Como exemplo de união micromecânica, podem-se citar os cimentos resinosos, que apre-
sentam uma resistência à tensão que varia entre 30 a 40MPa (cinco vezes mais do que o
cimento de fosfato de zinco). Quando usados sobre uma superfície irregular, podem criar
uma ligação micromecânica bastante eficaz. A superfície irregular necessária para esse tipo
de ligação pode ser produzida no esmalte (condicionamento com ácido fosfórico a 37%), em
algumas peças cerâmicas injetadas, prensadas e de revestimento, por meio de condiciona-
mento com acido hidrofluorídrico e também em peça metálica (jateamento com partículas
de óxido de alumínio e aplicação de um primer).

Já na união por aderência molecular, participam forças físicas (bipolares, Van der Waals) e
químicas (iônicas, covalentes) entre as moléculas de duas substâncias diferentes. Os cimen-
tos de policarboxilato e ionoméricos apresentam algumas qualidades adesivas. Porém, a
aderência molecular não pode ser considerada um mecanismo de união independente, mas
sim uma maneira de melhorar as retenções mecânicas e micromecânicas, bem como de
reduzir a microinfiltração.

A seguir, serão abordadas algumas das principais propriedades dos agentes cimentantes.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 93

02_Sistemas totalmente.p65 93 26/7/2008, 11:09


BIOCOMPATIBILIDADE
Os agentes cimentantes disponíveis atualmente demonstram bom comportamento biológico,
ainda que possam ser detectados alguns efeitos adversos na resposta pulpar sob circunstâncias
específicas.67 Trabalhos histológicos comprovam que esse fenômeno tende a ocorrer devido
ao uso incorreto do cimento ou a uma espessura de dentina remanescente menor do que
1mm (em conseqüência da difusão do monômero ou de um preparo dentário incorreto). 68,69

Relatos apontam a sensibilidade pós-operatória dos cimentos ionoméricos, embora


alguns estudos demonstrem que esse fenômeno pode estar associado mais à contaminação
bacteriana ou à dessecação da dentina.43 Já para os cimentos resinosos, a biocompatibilidade
está na dependência do grau de conversão dos monômeros durante a polimerização e da sua
capacidade de difusão até a polpa.70

ADESÃO

O fenômeno da adesão é considerado o principal fator para a redução das microin-


filtrações.

Os cimentos resinosos adesivos apresentam maior retenção e maior resistência mecânica


quando comparados aos cimentos de fosfato de zinco, aos cimentos de ionômero de vidro e
ao ionômero modificado por resina. 71,72 Porém, tanto os cimentos resinosos quanto os de
ionômero modificados sofrem contração durante a sua polimerização, podendo ocorrer ten-
sões que, por sua vez, levam a falhas adesivas,73 ocasionando infiltração dos fluidos orais e
bactérias, além de sensibilidade pós-operatória. O uso de proteção pulpar com hidróxido
de cálcio ou oxalato de potássio pode reduzir a tensão de coroas cimentadas com esse tipo
de cimento.74

ESPESSURA DA PELÍCULA
A espessura da película de um agente cimentante pode interferir diretamente no sucesso de
uma restauração, pois um escoamento deficiente pode acarretar um acúmulo de cimento na
superfície oclusal interna da coroa, com conseqüente desajuste na porção cervical que, por
sua vez, torna-se suscetível ao acúmulo de placa.75 Essa espessura da película pode ser
influenciada por vários fatores, como manipulação, proporção incorreta pó/líquido e tempe-
ratura. Um cimento resinoso dual, por exemplo, apresenta maior espessura quando manipu-
lado em temperaturas mais baixas, ao contrário do que ocorre com um cimento ionomérico.76

94 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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Os cimentos resinosos, que têm uma espessura de película média de 60µm, têm
apresentado maior incidência de coroas dasadaptadas, provavelmente devido à alta
viscosidade das resinas. Já os cimentos de fosfato de zinco e ionômero de vidro
modificado têm espessuras médias de 25µm.74

SOLUBILIDADE
O ideal seria que houvesse um cimento insolúvel aos fluidos orais, o que na realidade não
acontece. O cimento de fosfato de zinco é, entre os materiais disponíveis no mercado, o
que apresenta maior solubilidade, principalmente na presença de ácidos orgânicos, como os
ácidos lático, acético e cítrico, todos encontrados na saliva.71 Os cimentos de ionômero
convencionais também têm demonstrado alta suscetibilidade à umidade durante a sua
presa, devendo ser protegidos contra a umidade inicial,77,78 diferentemente dos cimentos de
ionômero modificados, que são menos suscetíveis à umidade. Já os cimentos resinosos são
os que apresentam menor solubilidade; porém, devido à sua viscosidade, tendem a uma
maior espessura de película.74

MICROINFILTRAÇÃO

Qualquer agente cimentante deveria ser resistente à microinfiltração a fim de evitar


a penetração bacteriana, responsável por respostas pulpares desfavoráveis que com-
prometem a longevidade de uma restauração.79

Os cimentos de fosfato de zinco e ionômero de vidro parecem ser mais capazes de limitar o
metabolismo bacteriano do que os resinosos.80 Os cimentos que contêm flúor em sua com-
posição apresentam efeito anticariogênico, aspecto muito importante na cimentação de co-
roas protéticas em pacientes com alto índice de cáries.

O crescimento bacteriano que ocorre em próteses ou restaurações cimentadas pode ou


não causar lesão pulpar, dependendo da capacidade da polpa de responder à irritação com a
formação de uma dentina reparadora, assim como da permeabilidade e da espessura da
dentina subjacente.81 Portanto, a capacidade de resistir à microinfiltraçao e evitar a coloniza-
ção bacteriana assume um papel muito importante na função de um agente cimentante.

RESISTÊNCIA DE UNIÃO
Um cimento ideal deveria ter propriedades mecânicas suficientes para resistir às forças funcio-
nais e, eventualmente, parafuncionais. Algumas propriedades mecânicas dos cimentos, como
módulo de elasticidade, resistência ao cisalhamento e à tração, têm sido temas de vários

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 95

02_Sistemas totalmente.p65 95 26/7/2008, 11:09


estudos, cujos resultados favorecem os cimentos resinosos, como demonstrado por Groten e
Pröbster.82 Ao avaliarem a resistência à fratura de coroas em cerâmica pura, os autores en-
contraram maiores valores para os cimentos resinosos.

TRATAMENTOS: PEÇA PROTÉTICA E SUBSTRATO


Durante o tratamento reabilitador com próteses parciais fixas, independentemente do
material restaurador final previamente selecionado, a estrutura dentária encontra-se restitu-
ída com coroas provisórias cimentadas com cimentos temporários.

Antes da cimentação final, algumas dúvidas tendem a levar os profissionais às seguintes


perguntas: “Qual cimento usar e por quê? Devo realizar algum tratamento sobre o elemento
dental ou na peça protética ou em ambos?”. Esses questionamentos são bastante pertinentes.

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que essas dúvidas referem-se aos casos de preparos para
coroas totais, já que nos casos de preparos parciais (por exemplo, inlay/onlay/facetas/próteses
adesivas) a cimentação final indicada deverá ser sempre com cimento resinoso, com trata-
mento prévio tanto do substrato quanto da prótese. Isso ocorre porque a pouca área prepa-
rada não seria capaz de reter adequadamente a peça protética somente com um cimento
com características de retenção mecânica (por exemplo, fosfato de zinco).

Para preparos de coroas totais, cuja retenção da prótese está relacionada com os princípios
mecânicos dos preparos, a escolha do agente cimentante estará mais relacionada com o tipo
de material restaurador: próteses metalocerâmica ou ceramocerâmica. No primeiro caso, a
utilização de cimentos de fosfato de zinco ou ionoméricos (convencional ou modificado)
parece ser a escolha mais prudente e racional, já que esses cimentos vêm sendo utilizados
para essa função há décadas e com resultados altamente satisfatórios. A única preocupação
prévia é promover uma correta limpeza do elemento dentário com um detergente a fim de
remover restos do cimento provisório e jatear o interior da peça com partículas de óxido de
alumínio, que criam microrretenções que ajudarão no embricamento mecânico da peça com
o dente.83

Para o caso de próteses ceramocerâmicas, os cimentos mais indicados são os resinosos e


os ionoméricos modificados, pois promoverão um aumento da retenção através da ade-
são.84-86 Embora haja estudos que demonstram a possibilidade de cimentação das restaura-
ções à base de zircônia com cimento de fosfato de zinco,87 elas estão sendo preteridas devido
à sua alta solubilidade e opacidade.71 Um fator de extrema importância não pode ser
desconsiderado: o que está sob a restauração? Um dente polpado ou despolpado? Caso seja
despolpado, existe um núcleo metálico fundido ou um núcleo de preenchimento com um
pino (rosqueado/cimentado) preenchido na sua porção coronária com resina composta ou
cimento de ionômero de vidro? Em outras palavras, qual o substrato dentinário ao qual será
unida a restauração final?

96 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 96 26/7/2008, 11:09


Um cimento resinoso nada mais é do que uma resina composta com menor quan-
tidade de carga (partículas) adicionada a diluentes, o que diminui sua viscosidade,
aumenta sua fluidez e faz com que este tenha um escoamento próximo dos cimen-
tos de fosfato de zinco e ionômero de vidro. Nos casos para os quais está indicado
o cimento resinoso, este deverá unir-se à restauração; para que isso ocorra, tanto o
dente quanto a restauração devem receber um tratamento prévio.

A fase de cimentação final em próteses ceramocerâmica pode ser considerada uma etapa
crucial, que envolve o uso de materiais adesivos com tempo de trabalho limitado e ainda a
fragilidade apresentada por esse tipo de restauração antes da cimentação. A manipulação
das restaurações deve ser cuidadosa: elas não podem ser pressionadas nem forçadas durante
a prova de assentamento a fim de evitar trincas ou, inclusive, fraturas. Essas restaurações
somente apresentarão uma resistência à compressão satisfatória após a completa polimerização
do agente cimentante.

O ideal seria que a cimentação com cimento resinoso fosse realizada com isolamen-
to absoluto, pois isso impede a contaminação com saliva e fluidos gengivais. Como
na maioria das vezes nos deparamos com términos subgengivais, esse procedimen-
to torna-se impraticável. Porém, faz-se necessário um correto isolamento relativo.

Em situações de término cervical intra-sulcular em dentina, com presença de transudato


gengival, pode-se tentar o controle dessa umidade com aplicação de fios de algodão com
agente hemostático no sulco gengival, em vez da tentativa traumática de retração gengival
para o isolamento absoluto. Nesses casos, também pode ser mais prudente a utilização de
cimento de ionômero de vidro modificado por resina, que acrescenta às suas boas proprieda-
des (liberação de flúor, resistência mecânica e união à dentina) a baixa solubilidade no meio
oral, semelhante aos cimentos resinosos.

TRATAMENTO DA SUPERFÍCIE INTERNA DA PEÇA


A restauração normalmente já inicia seu processo de degradação nos desgastes realizados
no laboratório e nos ajustes feito em boca. Portanto, a criação de microrretenções com jatos
de óxido de alumínio na superfície de cimentação da coroa cria danos adicionais que podem
comprometer a resistência da restauração, seja ela de alumina ou zircônia. Logo, tal procedi-
mento deve ser evitado.88,89

Para as porcelanas feldspáticas, faz-se condicionamento com ácido fluorídrico a 7-10%


durante 1 a 4 minutos. Para as cerâmicas à base de leucita, o tempo é de 1 minuto e 30
segundos, enquanto os dissilicatos de lítio necessitam de 20 segundos para promover
aumento das microrretenções (Figuras 15A a E).

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 97

02_Sistemas totalmente.p65 97 26/7/2008, 11:09


A B

C D

Figura 15 – A) a E) Prótese finalizada para cimentação


sendo protegida com cera (a fim de evitar dano da
área estética) para condicionamento com ácido
fluorídrico a 10% por 20 segundos e aplicação de
silano.
E Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Após esses tempos, segue-se a lavagem abundante com água corrente e posterior seca-
gem com ar. Para as próteses confeccionadas em alumina, o condicionamento com ácido
fluorídrico está contra-indicado, pois o ácido age na matriz vítrea, causando a sua desintegração
e enfraquecendo a peça. Por isso, apenas o jateamento interno está indicado. A seguir, faz-

98 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 98 26/7/2008, 11:09


se a aplicação do agente de silanização que reagirá com a porção cristalina da porcelana
e com a porção orgânica do cimento resinoso, atuando na ligação química entre as estruturas
e a aplicação do adesivo.

TRATAMENTO DOS DIFERENTES SUBSTRATOS

DENTES POLPADOS
Em casos de dentes polpados, deve-se proceder às seguintes etapas:
! remoção cuidadosa do cimento provisório com atenção especial aos tecidos gengivais;
! limpeza do dente suporte com pedra-pomes e água (Figura 16A);
! lavagem e secagem de forma leve;
! condicionamento do esmalte (se houver) e da dentina com ácido fosfórico a 37% por
15 segundos (Figura 16B). Exceção feita aos sistemas adesivos que apresentam primers
com monômero ácido, para os quais o ataque ácido é dispensado;
! lavagem abundante com água corrente e secagem com leves jatos de ar. O ideal é a
utilização de papel absorvente, pois evitará a desidratação da dentina;
! redução do movimento dos fluidos nos túbulos dentinários e conseqüente controle da
sensibilidade pós-operatória. Para tanto, pode-se adicionar nessa fase a aplicação de
dessensibilizantes à base de oxalato, que reagirão na subsuperfície condicionada da
dentina, formando oxalato de cálcio e ocluindo os túbulos;90
! aplicação do adesivo conforme orientação do fabricante, sendo que o adesivo com
melhores resultados é o de três passos (Figura 16C);
! remoção dos excessos de adesivo e fotopolimerizaçao (deve-se aguardar cerca de 1
minuto antes da fotopolimerização para haver uma apropriada evaporação dos solven-
tes dos adesivos e a sua melhor penetração entre as fibras colágenas);
! seleção do sistema de cimentação final, respeitando-se as características de cada sis-
tema restaurador e seguindo-se as orientações do fabricante;
! manipulação do agente cimentante, que é levado na superfície interna da peça
protética, de acordo com as orientações do fabricante. O conjunto é levado ao preparo
sob pressão manual para o devido escoamento, e os excessos devem ser removidos
antes da reação química (polimerização) do conjunto (Figuras 17A a C).

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 99

02_Sistemas totalmente.p65 99 26/7/2008, 11:09


A B

Figura 16 – A) a C) Tratamento do substrato dentário


com condicionamento com ácido fosfórico a 37%
por 15 segundos e aplicação do sistema adesivo.
C Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A B

Figura 17 – A) a C) Procedimento de cimentação


adesiva, aplicação do cimento, assentamento da peça
e caso concluído.
C Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

100 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 100 26/7/2008, 11:09


Os principais agentes cimentantes resinosos apresentam três tipos de polimerização:
autopolimerização (química), fotopolimerização (física) e dual (químico- física), sendo
estas últimas através de uma fonte de luz fotopolimerizadora. Para as coroas ceramo-
cerâmicas, devido à pouca ou nenhuma passagem de luz através das I.Es. cerâmicas,
a lógica orienta para a seleção de um cimento autopolimerizável.

DENTES DESPOLPADOS
Em casos de dentes despolpados, as etapas dependerão do tipo de núcleo. Em casos com
núcleo metálico fundido, as etapas serão as seguintes:
! remoção cuidadosa do cimento provisório com atenção especial aos tecidos gengivais
e também à porção coronária do núcleo;
! microrretenção da porção coronária do núcleo com broca esférica de pequeno diâmetro
e aplicação de um primer para metal;
! realização do condicionamento no remanescente dentinário próximo ao término do
preparo, assim como da cimentação.

Em casos com núcleo com pinos reconstruídos com resina composta, as etapas serão:
! remoção cuidadosa do cimento provisório;
! realização do condicionamento no remanescente dentinário próximo ao término
(hibridização) e no substrato de resina (limpeza);
! aplicação de adesivo com os mesmos cuidados antes mencionados;
! realização dos ajustes finais após a cimentação;
! avaliação do ajuste oclusal e polimento com pontas montadas com óxido de alumínio
e borracha abrasiva ou pastas para o restabelecimento do polimento similar ao obtido
no glazeamento.

Considerando-se que a cimentação final é uma das fases, embora não a última, de um
tratamento reabilitador, a meta de qualquer profissional é atingir uma cimentação adequada
capaz de manter a prótese inerte frente aos tecidos biológicos com os quais está em contato.
Além disso, deve unir efetivamente a prótese ao dente pilar, colaborando com os princípios
mecânicos de retenção e estabilidade. Nos casos das próteses ceramocerâmicas, deve-se
ainda aumentar a rigidez da peça, sobretudo quando esta for cimentada com cimento resinoso
autopolimerizável, o qual impede a passagem de luz. Por todas essas razões, cada vez mais
se tem observado uma preferência por esse tipo de cimentação.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 101

02_Sistemas totalmente.p65 101 26/7/2008, 11:09


27. As características de resistência e adaptação estão mais relacionadas a que fator?
A) Material.
B) Processamento.
C) Partículas.
D) Nenhuma das alternativas anteriores.
Resposta no final do capítulo

28. As vantagens dos sistemas cerâmicos, quando comparados aos metálicos, são:
A) custo e estética.
B) custo e biocompatibilidade.
C) apenas biocompatibilidade.
D) estética e biocompatibilidade.
Resposta no final do capítulo

29. Qual dos agentes cimentantes a seguir não apresenta o princípio da adesão?
A) Cimento de ionômero de vidro.
B) Cimento de ionômero de vidro modificado por resina.
C) Cimento de fosfato de zinco.
D) Cimento resinoso.
Resposta no final do capítulo

30. Complete o quadro com informações a respeito de algumas das principais propriedades
dos agentes cimentantes:

Biocompatibilidade

Adesão

Espessura de película

Solubilidade

Microinfiltração

Resistência de união

102 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 102 26/7/2008, 11:09


31. Por que a fase de cimentação final em próteses ceramocerâmicas pode ser considerada
uma etapa crucial?

32. Assinale a alternativa INCORRETA sobre tratamento da superfície interna da peça:


A) A restauração normalmente já inicia seu processo de degradação nos desgastes rea-
lizados no laboratório e nos ajustes feitos em boca.
B) Para as porcelanas feldspáticas, faz-se condicionamento com ácido fluorídrico a
7-10% durante 1 a 4 minutos; para as cerâmicas à base de leucita, o tempo é de 1
minuto e 30 segundos, enquanto os dissilicatos de lítio necessitam de 5 minutos
para promover aumento das microrretenções.
C) Para as próteses confeccionadas em alumina, o condicionamento com ácido fluorídrico
está contra-indicado.
D) A aplicação do agente de silanização reagirá com a porção cristalina da porcelana e
com a porção orgânica do cimento resinoso, atuando na ligação química entre as
estruturas e a aplicação do adesivo.
Resposta no final do capítulo

33. Qual deve ser o tratamento interno de peças confeccionadas em alumina previamente à
cimentação?
A) Jateamento com partículas de óxido de alumínio.
B) Condicionamento com ácido fluorídrico por 4 minutos.
C) Condicionamento com ácido fluorídrico por 40 segundos.
D) Condicionamento com ácido fosfórico por 15 segundos.
Resposta no final do capítulo

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 103

02_Sistemas totalmente.p65 103 26/7/2008, 11:09


34. Numere a segunda coluna de acordo com a primeira, relacionando o tipo de núcleo ao
tratamento de dentes despolpados adequado:
(1) Núcleo metálico fundido ( ) Remoção cuidadosa do cimento provisório com
(2) Núcleo com pinos atenção especial aos tecidos gengivais e também
reconstruídos com da porção coronária do núcleo.
resina composta ( ) Microrretenção da porção coronária do núcleo
com broca esférica de pequeno diâmetro e
aplicação de um primer para metal.
( ) O condicionamento deverá ser realizado no
remanescente dentinário próximo ao término e
no substrato de resina. Aplicação de adesivo.
( ) O condicionamento deverá ser realizado no
remanescente dentinário próximo ao término do
preparo, assim como a cimentação.
( ) Após a cimentação, são realizados os ajustes
finais e a avaliação do ajuste oclusal. Sempre
deve ser feito o polimento com pontas montadas
com óxido de alumínio e borracha abrasiva ou
pastas para o restabelecimento do polimento
similar ao obtido no glazeamento.
Resposta no final do capítulo

FRACASSOS DAS PRÓTESES CERAMOCERÂMICAS


A compreensão a respeito de como os fracassos em prótese parcial fixa acontecem é de
fundamental importância para que medidas preventivas, durante todas as fases da reconstru-
ção protética, possam ser tomadas. Contudo, esta não é uma abordagem recente, pois traba-
lhos na década de 1960 já se preocupavam em responder a questões como:
! Por quanto tempo uma coroa unitária ou uma prótese fixa extensa deveria apresentar-
se sem falhas que justificassem a sua substituição?
! Quais seriam as principais razões e fatores de risco que levariam aos fracassos?
! Os controles rotineiros dos nossos pacientes seriam capazes de evitar ou de prorrogar
a perda de peças protéticas fixas?

As pesquisas que avaliam as causas dos fracassos primeiramente preocuparam-se em responder


estas e outras questões em relação às próteses metaloplásticas e metalocerâmicas. Atualmente,
focam sua atenção nas próteses ceramocerâmicas.

104 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 104 26/7/2008, 11:09


Considerando que as pesquisas clínicas teorizam e qualificam as causas do insucesso
e apontam os principais fatores de risco para situações clínicas específicas, por que
não utilizar esses dados a favor de uma longevidade clínica maior, aumentando a
satisfação pessoal tanto do profissional quanto do paciente?

Se existem limitações para os sistemas cerâmicos, estas deveriam ser respeitadas para
aumentar a sobrevida dos trabalhos protéticos. Por exemplo, uma limitação para o sistema
ceramocerâmico quase que absoluta na literatura e unânime entre os fabricantes relaciona-
se aos pacientes que apresentam hábitos parafuncionais, como os bruxômanos, e a indicação
principal para a reconstrução protética nesses pacientes ainda é a metalocerâmica, com alte-
rações no desenho da infra-estrutura como a superfície oclusal em metal. Outro elo frágil
está na área de conexão entre o pôntico e o pilar das infra-estruturas cerâmicas, com cada
sistema cerâmico apresentando áreas mínimas específicas.

Se as áreas de conexão são conhecidas, mas não são respeitadas, aumenta o risco
de fratura precoce em detrimento da ausência de critério durante a seleção do
sistema cerâmico a ser utilizado pelo profissional.

O conceito de fracasso é amplo e dividido de acordo com a origem biológica, mecânica,


técnica ou combinada e reparável ou irreparável. Assim, na ocorrência de pequena fratura da
porcelana de revestimento de uma coroa ceramocerâmica, que pode ser reparada através de
um simples procedimento de polimento ou de reanatomização com auxílio de sistema adesivo
e de resina composta sem a substituição da peça, essa situação é classificada como uma
complicação técnica reversível.

Quando a prótese não é substituída, ela é normalmente considerada como sobrevivente.


Porém, a situação de fratura que permitiu reparo deve ser considerada fracasso ou sucesso?
Em termos de material, seria fracasso porque houve fratura; em termos clínicos, seria sucesso
porque a peça não foi substituída. Assim, a abordagem das falhas e dos insucessos é um
assunto que ainda provoca muita polêmica e discussão, tanto na literatura específica quanto
em congressos e reuniões da classe.

A comparação dos resultados obtidos por diferentes estudos sobre a longevidade das coroas
ceramocerâmicas não é uma tarefa fácil devido à grande variabilidade de fatores que influen-
ciam os resultados finais. Entre eles, ressalta-se a diferença entre os sistemas cerâmicos, as
condições e o período de tempo das avaliações, a variabilidade conceitual do termo “falha”,
a localização da coroa (anterior ou posterior), a técnica e o tipo de cimento utilizado durante
a cimentação, a análise estatística e os critérios de inclusão e de exclusão dos indivíduos
nesse tipo de pesquisa. Por isso, as projeções sobre a real efetividade do tratamento protético
com esses novos sistemas cerâmicos podem ser consideradas, no mínimo, de difícil discussão.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 105

02_Sistemas totalmente.p65 105 26/7/2008, 11:09


Fica evidente que, entre os fatores anteriormente mencionados, o que mais chama atenção
refere-se aos critérios de inclusão e exclusão dos possíveis candidatos a pacientes das pesquisas
clínicas que acompanham o comportamento das coroas totalmente cerâmicas a longo prazo.
O critério de exclusão que aparentemente mais preocupa os clínicos e os fabricantes são os
hábitos parafuncionais,91-93 como o bruxismo ou o apertamento de dentes. Com a exclusão
de tais pacientes, é provável que a taxa de sucesso a longo prazo de qualquer tipo de restaura-
ção protética seja superestimada. Sabe-se que as falhas que ocorrem com esses novos sistemas
cerâmicos freqüentemente se relacionam com pacientes que desenvolveram hábitos para-
funcionais durante o período de acompanhamento das pesquisas.

Atividade cariogênica intensa,94,95 higiene oral inadequada,94 doença periodon-


tal,91,92,96 nível de inserção óssea87 e mobilidade dentária92 são fatores adicionais
investigados durante o processo de seleção dos possíveis candidatos como critérios
de exclusão. Contudo, em trabalhos a longo prazo com coroas metalocerâmicas,
esse raciocínio de inclusão e exclusão de pacientes é pouco visto.

Os índices de fracasso das próteses ceramocerâmicas são comparados com os índices das
próteses metalocerâmicas, pois estas têm sido pesquisadas por vários centros e algumas têm
acompanhamentos a longo prazo. O tempo de acompanhamento clínico das coroas cera-
mocerâmicas ainda é restrito, sendo em média de 5 anos para quase todos os sistemas
totalmente cerâmicos, o que constitui um fator complicador durante a análise dos dados
entre os sistemas.

COROAS UNITÁRIAS
Como as opções entre os sistemas ceramocerâmicos são relativamente recentes, poucos são
os dados disponíveis que contribuem efetivamente para que um paralelo entre os sistemas
seja traçado. Para avaliar a influência das inúmeras variáveis que corroboram para o surgimento
dos fracassos em próteses ceramocerâmicas, torna-se necessária uma análise individualizada
dos principais fatores contribuintes.

COROAS UNITÁRIAS COM SUPORTE CONVENCIONAL


(LIGAMENTO PERIODONTAL)
A taxa média de falha anual de coroas ceramocerâmicas é de 1,38%, enquanto para as
metalocerâmicas essa taxa é de 0,89%, com estimativa de falha em 5 anos de 93,3 e de
95,6%, respectivamente.6 Quando se analisa separadamente cada sistema ceramocerâmico,
observa-se que a taxa média anual de falhas é estimada em 0,74% para as coroas de alumina
densamente sinterizada, de 0,94% para coroas cerâmicas injetadas e de 1,13% para as
coroas infiltradas.6 Ao se considerar tais resultados, não se encontrou diferença estatisticamente

106 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 106 26/7/2008, 11:09


significativa e pode-se deduzir que, quando se avalia o comportamento clínico de coroas
unitárias, não há diferença em relação ao sistema utilizado.

Quando os valores das taxas de sobrevida são agrupados de acordo com a posição na
boca, torna-se evidente que as próteses localizadas na região anterior (forças de 9 a 11kgf)
apresentam sobrevida superior às localizadas na região posterior, tanto para o sistema
ceramocerâmico quanto para o metalocerâmico, em detrimento de um maior carregamento
oclusal que se desenvolve naturalmente na região posterior (de 40 até 90kgf).71,97,98

Observa-se maior incidência de substituições para as coroas metalocerâmicas na


região anterior em detrimento de necessidades estéticas, devido ao surgimento da
cinta metálica e do escurecimento da região marginal.

A complicação biológica mais freqüentemente relacionada com as coroas ceramocerâmicas


refere-se à perda de vitalidade pulpar, com taxa anual média de 0,43%. A mesma taxa de
fracasso relacionada com a perda de vitalidade pulpar foi observada com as próteses
metalocerâmicas. Em relação à incidência de cárie, observou-se que há uma taxa anual de
0,37% para as coroas ceramocerâmicas e de 0,64% para as metalocerâmicas.6 Essa diferença
encontrada entre as taxas de fracasso relacionadas com a recidiva de cárie pode ser explicada
pelo fato de que o tempo de exposição encontrado nos trabalhos que avaliaram as coroas
metalocerâmicas é maior em relação aos encontrados nas ceramocerâmicas.

A complicação mecânica mais freqüente encontrada nas coroas unitárias ceramocerâmicas


é a fratura da infra-estrutura cerâmica (Figura 18), estando relacionada com uma taxa anual
de falhas de 1,17%.6

Figura 18 – Fratura catastrófica de uma coroa anterior


ceramocerâmica.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A fratura da infra-estrutura cerâmica pode estar intrinsicamente relacionada com os cuidados


técnicos durante as fases de confecção dessas estruturas cerâmicas, já que a incorporação de
falhas como trincas e bolhas pode decorrer de procedimentos imprecisos. Da mesma forma,

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 107

02_Sistemas totalmente.p65 107 26/7/2008, 11:09


a falta de atenção, tanto do cirurgião-dentista quanto do TPD com relação à espessura da
infra-estrutura, pode determinar a falha precoce dessas coroas totalmente cerâmicas. A infra-
estrutura cerâmica deveria apresentar em seu desenho características semelhantes às que
são observadas nas infra-estruturas metálicas, como o poste proximal e a cinta lingual, com
o objetivo de promover um aumento na resistência à fratura das coroas totalmente cerâmicas
e de oferecer maior suporte à cerâmica de revestimento.

COROAS UNITÁRIAS COM SUPORTE POR IMPLANTE


Nessa situação particular, a sobrevida dos sistemas ceramocerâmicos, independentemente
da região na boca (anterior ou posterior), é significativamente inferior em um prazo de 5
anos (91,2%) quando comparada às restaurações metalocerâmicas (95,5%). Essa complicação
técnica ocorre ou devido à fratura catastrófica, ou devido à falha na porcelana de revesti-
mento.44

PRÓTESES FIXAS
A comparação dos resultados obtidos para as próteses fixas convencionais ceramocerâmicas
em relação às metalocerâmicas torna-se difícil em função do pequeno número de trabalhos
publicados que avaliaram os sistemas totalmente cerâmicos e que contemplaram um número
reduzido de coroas em um curto período de tempo, com média de 4 anos. As pesquisas que
estudaram o comportamento clínico das pontes fixas metalocerâmicas são numerosas e contam
com um grande número de próteses avaliadas, com tempos de acompanhamento clínico
superior a 10 anos.

Estima-se que existam taxas de complicações 2,11 vezes maiores para as pontes fixas
ceramocerâmicas em relação às pontes metalocerâmicas.23 No entanto, quando se comparam
as pontes fixas ceramocerâmicas e metalocerâmicas, existe uma diferença estatisticamente
significativa. A taxa de falhas relacionada com as pontes fixas totalmente cerâmicas ainda é
maior quando comparadas com as metalocerâmicas, tornando-se imprescindível que o plane-
jamento desse tipo de prótese fixa seja muito criterioso e cuidadoso.

De forma semelhante às coroas unitárias totalmente cerâmicas, as pontes fixas


ceramocerâmicas também apresentam taxas de complicações relacionadas com a
recidiva de cárie menores do que as encontradas com o sistema metalocerâmico e
novamente a explicação pode estar relacionada com o fato de um maior período de
tempo de exposição encontrado para as reconstruções metalocerâmicas.

Em uma pesquisa de avaliação clínica de pontes fixas de três elementos em zircônia, foram
encontradas cáries secundárias em 10,6% das reconstruções, dado atribuído a desadaptações
marginais.99 A perda de vitalidade pulpar é outra complicação freqüentemente encontrada

108 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 108 26/7/2008, 11:09


em ambos os sistemas ceramocerâmico e metalocerâmico, apresentando taxas de sobrevida
diferentes, mas sem relevância estatística. Isso pode ser atribuído ao fato de que a necessida-
de de redução da estrutura dentária em ambos os sistemas é a mesma; portanto, o risco da
perda da vitalidade pulpar é comparável.

A principal razão do fracasso de pontes fixas de cerâmicas aluminizadas é a fratura da


infra-estrutura cerâmica, e a diferença no processo de construção pode influenciar o desempe-
nho clínico (Figuras 19A a F e 20A e B). A técnica que utiliza o sistema CAD/CAM através da
usinagem de blocos cerâmicos apresenta uma infra-estrutura final com uma menor incorpora-
ção de falhas internas, como as microfissuras, e com uma qualidade estrutural cerâmica
superior à técnica manual.

A B

C D

E F

Figura 19 – Limite da indicação de prótese fixa de três elementos (o mesmo caso demonstrado nas Figuras 3A
a E) feita de dissilicato de lítio que falhou após 5 anos de uso. A) e B) Vista frontal e oclusal da região
reabilitada. No detalhe de A, observa-se que o pôntico foi recuperado pelo paciente e levado para análise em
microscopia de luz polarizada (C) que, por sua vez, permite a identificação geral dos traços de fratura e que
neste ângulo chama atenção (círculo) para s área de desgaste oclusal oriunda ou de atividade parafuncional,
ou de ajuste pós-cimentação. Como os estresses de tensão por tração originam-se na área gengival do conector,
é lá também que se origina normalmente a fratura, seguindo em direção à oclusal (setas), como se pode
verificar na fotomicrografia de varredura nas áreas de conexão mesial (D) e distal (E). A região circulada nas
Figuras E e magnificada na F representa a área de união do material da infra-estrutura com a porcelana de
revestimento. Esta última deixa traços chamados hackles e wake hackles (ponteira) que indicam a propagação
final da fratura em direção à oclusal.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 109

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A B

Figura 20 – A) e B) Fratura na área de conector em região anterior (lateral).


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Outro fator relacionado a esse tipo de falha diz respeito à não-observação de conceitos
fundamentais de prótese fixa, como a lei das vigas (Figuras 21A a C). Não se deve supor
que as teorias básicas que orientam a prática da prótese fixa não se aplicam aos sistemas
totalmente cerâmicos. Pelo contrário, como esses sistemas são reconhecidamente menos
resistentes do que os metalocerâmicos, tais conceitos são de extrema relevância durante as
fases de planejamento e de execução das manobras protéticas.

A B

Figura 21 – A), B) e C) Fratura na área de conector


(principal falha desses sistemas) em região posterior
(primeiro pré-molar).
C Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

110 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

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As infra-estruturas em zircônia estabilizadas por ítrio representam o material cerâmico mais
recente no arsenal de opções dos cirurgiões-dentistas disponível para a reabilitação dos
pacientes. A taxa de sucesso encontrada para a infra-estrutura em zircônia é de 100%.6,93,99,100
Contudo, a causa primária de falhas desse sistema encontra-se na fratura da porcelana de
revestimento, com taxas de 4,3 (1,5 anos),100 15 (2 anos)93 e 13%(3 anos).99

O sistema metalocerâmico apresenta taxas de fratura da porcelana de revestimento de


0,101 12102 e 5,5%103 em períodos superiores a 15 anos. Fica evidente que o elo fraco desse
sistema está nas propriedades mecânicas deficientes das porcelanas de cobertura disponíveis
para o sistema à base de zircônia. Esta precisa de refinamentos urgentes para que possa ser
considerada uma alternativa capaz de oferecer sucessos à altura das restaurações me-
talocerâmicas.

Outra possível causa de tais taxas de fraturas pode estar relacionada com o fato de que os
sistemas CAD/CAM fornecem estruturas com espessura uniforme que pode comprometer a
espessura da cerâmica de revestimento, a qual pode apresentar uma espessura final superior
a 2,0mm, o que a torna mais frágil em relação aos esforços realizados na cavidade oral. Uma
alternativa viável nessas situações seria propor a modificação do desenho da infra-estrutura
para que esta recebesse uma porcelana de revestimento com espessura uniforme, o que seria
ideal.

A terapia com restaurações ceramocerâmicas possibilitou aos cirurgiões-dentistas a substi-


tuição das infra-estruturas metálicas por cerâmicas, produzindo próteses com características
de biocompatibilidade e de estética superiores. Contudo, não existe um único material que
preencha todas as necessidades do profissional para as mais variadas situações clínicas. O
sucesso com essa modalidade de prótese depende da seleção do sistema cerâmico, da técnica
de confecção e do sistema de cimentação de acordo com as situações clínicas.

Não existe um sistema universal que dê suporte à aplicação em todas as situações.


Mesmo considerando os avanços no material cerâmico que aumentaram a sua resis-
tência e a sua utilização em larga escala, as próteses não apresentam o desempenho
desejado ou esperado, com taxa anual de falhas de aproximadamente 3% ao ano,
com elevado índice de fraturas na região posterior e em pontes fixas nas quais as
forças geradas são maiores.104

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 111

02_Sistemas totalmente.p65 111 26/7/2008, 11:09


35. Existem limitações para os sistemas cerâmicos?

36. Como é dividido o conceito de “fracasso” das próteses ceramocerâmicas?

37. Como deve ser classificada a fratura da cerâmica de revestimento que pode ser polida ou
reparada com resina composta e sistema adesivo?
A) Como um sucesso.
B) Como uma falha mecânica reversível.
C) Como uma falha mecânica irreversível.
D) Como uma falha biológica.
Resposta no final do capítulo

38. Qual é a complicação biológica relacionada com maior freqüência às coroas ceramoce-
râmicas?

112 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 112 26/7/2008, 11:09


39. Quais as taxas médias anuais de recidiva de cárie para os sistemas ceramocerâmico e
metalocerâmico, respectivamente?
A) 0,37 e 1,17%.
B) 0,37 e 0,64%.
C) 0,43 e 1,13%.
D) 2,11 e 0,74%.
Resposta no final do capítulo

40. Qual a a principal razão do fracasso das pontes fixas de cerâmicas aluminizadas?

41. Por que as infra-estruturas em zircônia estabilizadas por ítrio representam o material
cerâmico mais recente no arsenal de opções do cirurgião-dentista disponível para a rea-
bilitação dos pacientes?

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 113

02_Sistemas totalmente.p65 113 26/7/2008, 11:09


Este caso foi realizado nas clínicas do curso de pós-graduação em Reabilitação Oral da
Faculdade de Odontologia de Bauru/USP.

Figura 22 – Aspectos do sorriso da paciente: per- Figura 23 – Aspectos clínicos antes do tratamen-
cebe-se inversão do sorriso, falta de uniformida- to, vista frontal: notam-se os mesmos problemas
de nas cores dos dentes, coroas nos incisivos com já citados, além de raízes escurecidas e restaura-
forma e cor indesejadas, sorriso até pré-molares. ção extensas posteriores.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores. Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 24 – Vista oclusal superior: diastemas,


giroversão, lateral com metal aparecendo, restau-
rações insatisfatórias.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

114 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 114 26/7/2008, 11:09


A B

Figura 25 – A) e B) Vista lateral direita e esquerda: presença de reabsorção óssea na região dos pônticos
(sentido oclusogengival). O elemento 24 foi extraído antes do tratamento.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A B

Figura 26 – A) e B) Vista oclusal dos preparos realizados e suas respectivas coroas provisórias: já
servindo de diagnóstico não só para estética, mas também para verificação da espessura e da desoclusão.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A B

Figura 27 – A) e B) Modelo de trabalho e infra-estruturas confeccionadas pela técnica slip casting:


percebe-se que, na região de maior esforço mastigatório, onde a extensão ultrapassava a recomendada
para próteses ceramocerâmicas, foi realizada uma infra-estrutura metálica.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 115

02_Sistemas totalmente.p65 115 26/7/2008, 11:09


A B

Figura 28 – A) e B) Prova e ajuste da infra-estrutura: assim como o registro oclusal para remontagem
em articulador e a porcelana aplicada.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

A B

Figura 29 – A) e B) Peças protéticas: coroas ceramocerâmicas e ponte fixa metalocerâmica com ombro
cerâmico.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

116 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 116 26/7/2008, 11:09


A B

C D

Figura 30 – A) a D) Vistas frontal, lateral e oclusal do trabalho cimentado.


Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

Figura 31 – Vista do sorriso da paciente com res-


tabelecimento dos princípios estéticos.
Fonte: Arquivo de imagens dos autores.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 117

02_Sistemas totalmente.p65 117 26/7/2008, 11:09


42. Na região posterior foi usada uma coroa metalocerâmica devido à extensão do espaço
protético. Qual seria a extensão máxima permitida no caso de próteses ceramocerâmicas
posteriores?
A) 13mm.
B) 07mm.
C) 11mm.
D) 09mm.
Resposta no final do capítulo

43. Nos casos em que não é possível a utilização de coroas ceramocerâmicas, qual seria a
outra alternativa para minimizar a presença da linha acinzentada (azulada) em tecidos
gengivais finos?
A) Coroas de compômero puras.
B) Ombro cerâmico.
C) Coroas metalocerâmicas convencionais.
D) Facetas cerâmicas.
Resposta no final do capítulo

44. Em relação às críticas feitas neste capítulo a respeito do desenho das infra-estruturas, em
que aspecto as infra-estruturas ceramocerâmicas do caso clínico falharam?

Resposta no final do capítulo

45. Nas Figuras 26A e B, podemos analisar os preparos realizados. Quais são as características
dos preparos para coroas ceramocerâmicas?

Resposta no final do capítulo

118 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 118 26/7/2008, 11:09


46. Quais seriam, além da limitação quanto à extensão, as outras limitações para a indicação
das coroas ceramocerâmicas?

Resposta no final do capítulo

47. As infra-estruturas do caso clínico foram confeccionadas pela técnica slip casting. A
quais materiais podemos estar fazendo referência?
A) Alumina infiltrada por vidro.
B) Espinélio.
C) Alumina infiltrada por vidro com 35% de zircônia parcialmente estabilizada.
D) Todas as alternativas estão corretas.
Resposta no final do capítulo

48. Não se pode descobrir exatamente, pela técnica de confecção, qual material foi utilizado.
Por sua propriedade estética, porém, qual estaria indicado para o caso clínico?

Resposta no final do capítulo

49. De acordo com a resposta anterior, qual seria o tipo de falha esperado para esse sistema?

Resposta no final do capítulo

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 119

02_Sistemas totalmente.p65 119 26/7/2008, 11:09


CONCLUSÃO
Nos últimos 30 anos, os materiais cerâmicos evoluíram significativamente não só em termos
de composição, mas também nas formas de processamento. Tendo em vista que as proprieda-
des dos materiais dependem de sua estrutura, e que esta é influenciada pela composição e
pela técnica de processamento, os materiais cerâmicos tiveram sua aplicabilidade ampliada.
Entretanto, a estética, que foi o objetivo inicial e que estava limitada pela resistência, conduziu
os fabricantes ao caminho de materiais que resistissem cada vez mais às forças mastigatórias
fisiológicas.

Ao alcançar os materiais que apresentam a tão almejada resistência, a Odontologia deparou-


se com uma situação parodoxal: quanto mais se busca a estética, menos resistência se ob-
tém. O inverso também é verdadeiro, ou seja, na tentativa de obter materiais cerâmicos
semelhantes aos metais nas propriedades mecânicas, mais esses materiais também se asseme-
lham aos metais nas propriedades ópticas. Além disso, embora esses materiais tenham melho-
rado suas propriedades mecânicas, o índice de falhas supera os índices encontrados para as
próteses metalocerâmicas.

Parece evidente que novos sistemas e técnicas serão desenvolvidos e que a minimi-
zação do fator humano será alcançada com maior precisão. No entanto, não existe
hoje na Odontologia um material que seja ideal e que possa ser indicado para todas
as situações.

Torna-se cada vez mais importante a constante atualização por parte dos profissionais para
que possam indicar os materiais de acordo com suas propriedades e as necessidades estéticas
e funcionais do paciente, baseados em conhecimentos científicos (Quadro 3).

120 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 120 26/7/2008, 11:09


Quadro 3
INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE OS SISTEMAS CERÂMICOS: MATERIAIS, PROCESSAMENTOS,
INDICAÇÕES E FALHAS

Sistemas Materiais Processamentos Indicações Falhas

Cerâmicas Feldspática Sinterização Inlay, onlay, Fratura


à base convencional, facetas e catastrófica
de sílica prensada ou revestimento de todo o
usinada de infra-estrutura conjunto (infra-
estrutura/
porcelana de
cobertura)

Leucita Prensada ou Inlay, onlay,


usinada facetas e coroas
unitárias anterior

Dissilicato Prensada ou Inlay, onlay,


de lítio usinada facetas, coroas
unitárias e próteses
fixas até pré-molar

Cerâmicas Alumina Slip casting, Infra-estruturas A principal falha


à base prensada ou para coroas em casos de
de óxidos usinada unitárias e próteses fixas é
próteses parciais a fratura dos
fixas de até três conectores
elementos até
pré-molar

Espinélio Slip casting, Infra-estruturas


prensada ou para coroas
usinada unitárias e
próteses parciais
fixas de até três
elementos
anteriores

Zircônia Slip casting, Próteses parciais Fratura da


prensada ou fixas de até três porcelana
usinada elementos de cobertura
posteriores

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 121

02_Sistemas totalmente.p65 121 26/7/2008, 11:09


RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS
Atividade 1
Resposta: A

Atividade 4
Resposta: A
Comentário: Os óxidos são partículas com maior resistência que o vidro (porcelana) e, com
isso, limitam a propagação das trincas que precisam desviar o percurso para sua continuação,
dificultando todo o processo.

Atividade 5
Resposta: B
Comentário: As resinas compostas indiretas têm praticamente a mesma composição das
resinas para uso direto.

Atividade 7
Resposta: 5; 2/6; 1; 4; 3

Atividade 11
Resposta: D

Atividade 12
Resposta: B

Atividade 17
Resposta: B
Comentário: Tendo ainda como maior desafio a possibilidade de uso em todos os casos, os
fabricantes, seguindo o conceito do reforço com óxidos, aumentaram consideravelmente a
resistência das cerâmicas. No entanto, esse aumento da resistência trouxe uma redução na
estética, razão pela qual certos materiais podem ter opacidade comparada às dos metais.

Atividade 18
Resposta: C
Comentário: O ítrio é utilizado como estabilizador do óxido de zircônio na forma tetragonal
em temperatura ambiente. Essa forma tetragonal do cristal é mais resistente do que a mono-

122 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 122 26/7/2008, 11:09


clínica. Entretanto, quando existe uma força que atua em algum defeito (trinca) do material,
essa forma tetragonal torna-se monoclínica, levando a um aumento de volume de 3 a 5%
nas bordas da trinca, o que promoverá uma força contrária à de sua propagação.

Atividade 19
Resposta: D
Comentário: A adaptação é uma propriedade importante das cerâmicas; porém, a desadap-
tação interna pode alterar a cor da prótese devido à maior quantidade de cimento. Quando
desadaptada, a prótese fica na dependência do cimento utilizado, e as cerâmicas não permi-
tem deformação. Quanto maior a quantidade de cimento em contato com a saliva, maior
será a dissolução do cimento e a conseqüente microinfiltração.

Atividade 20
Resposta: D

Atividade 21
Resposta: D
Comentário: Mesmo considerando os avanços obtidos com o material cerâmico que aumenta-
ram sua resistência à fratura, planejar próteses ceramocerâmicas para pacientes que apresen-
tam hábitos parafuncionais, como o bruxismo ou o apertamento de dentes, ainda representa
um grande desafio para os profissionais da Odontologia. Pacientes com tais hábitos desenvol-
vem elevadas cargas oclusais durante a atividade parafuncional, as quais podem ser pouco
toleradas por alguns sistemas cerâmicos, como os reforçados por dissilicato de lítio e os
aluminizados.

Atividade 22
Resposta: A
Comentário: Devido à necessidade de um desgaste mais acentuado, os dentes com coroas
clínicas curtas não estão indicados para esse tipo de prótese, pois pode haver um comprometi-
mento biomecânico (comprometimento da biologia pulpar/periodontal e comprometimento
mecânico devido à falta de retenção e de estabilidade).

Atividade 24
Resposta: C
Comentários: As infra-estruturas de próteses ceramocerâmicas devem seguir os mesmos princí-
pios das metalocerâmicas, ou seja, reforço na infra-estrutura com uma barra lingual e poste
proximal, principalmente em dentes posteriores, já que nesses casos há necessidade de maior
resistência, além de não comprometer a estética.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 123

02_Sistemas totalmente.p65 123 26/7/2008, 11:09


Atividade 26
Resposta: B
Comentário: Considerando que próteses ceramocerâmicas devem ser confeccionadas com
apenas um pôntico, este não deve exceder 11mm na região anterior e 9mm na posterior, já
que extensões maiores aumentam a flexão da peça, causam enfraquecimento e fratura. Para
a área dos conectores, a extensão mínima deve ser de 12mm2 para a região anterior e 16mm2
para a posterior, uma vez que áreas menores poderiam causar o mesmo problema relatado
para a extensão dos pônticos.

Atividade 27
Resposta: B
Comentário: A resistência está relacionada com os itens citados nas alternativas, mas a adapta-
ção parece estar relacionada somente com o tipo de processo para obtenção das coroas,
porque o mesmo material usado com diferentes formas de fabricação apresenta adaptações
diferentes.

Atividade 28
Resposta: D
Comentário: As cerâmicas, além de serem materiais com maior translucidez, também são
bioinertes (não interagem com o organismo) e algumas, como a zircônia, são bioativas (auxiliam
o organismo nos processos fisiológicos).

Atividade 29
Resposta: D
Comentário: O cimento de fosfato de zinco apresenta apenas embricamento mecânico com
a peça e o dente preparado, não tendo nenhuma característica de adesão.

Atividade 32
Resposta: B
Comentário: Os dissilicatos de lítio necessitam de 20 segundos para promover aumento das
microrretenções.

Atividade 33
Resposta: A
Comentário: Próteses ceramocerâmicas confeccionadas em alumina não devem ser condicio-
nadas com nenhum tipo de ácido antes da cimentação, pois isso pode causar uma desintegra-
ção da matriz vítrea, enfraquecendo a infra-estrutura.

124 SISTEMAS TOTALMENTE CERÂMICOS: CONSTRUÇÃO, PLANEJAMENTO E LONGEVIDADE

02_Sistemas totalmente.p65 124 26/7/2008, 11:09


Atividade 34
Resposta: 1; 1; 2; 1; 2

Atividade 37
Resposta: B
Comentário: A conceituação de falha e sucesso é controversa. A falha pode ter várias classifi-
cações, como mecânica, biológica, técnica ou combinada, reversível ou irreversível. Embora
na situação exposta não tenha sido necessária a substituição da peça protética, ocorreu uma
falha, a qual deve ser classificada como uma falha mecânica, pois está relacionada com o
material cerâmico, e reversível, pois não houve a necessidade da substituição do trabalho
protético.

Atividade 39
Resposta: B
Comentário: Embora a taxa anual média de recidiva de cárie para as próteses do sistema
metalocerâmico seja maior do que para as do sistema ceramocerâmico, deve-se considerar
que as próteses metalocerâmicas estão em uso por um período de tempo maior do que as
ceramocerâmicas. É preciso que sejam feitas pesquisas abrangendo períodos maiores de
tempo para as próteses ceramocerâmicas a fim de elucidar se essa diferença será mantida ou
alterada.

Atividade 42
Resposta: D
Comentário: Extensão mesiodistal do espaço edentado, ou seja, o comprimento do pôntico
deve ter o tamanho máximo de 10 a 11mm para próteses fixas anteriores e de 8 a 9mm para
as posteriores.

Atividade 43
Resposta: B
Comentário: A presença da linha metálica acinzentada na margem gengival das coroas meta-
locerâmicas, parcialmente resolvida há 25 anos atrás com a redução da infra-estrutura metálica
e do ombro cerâmico.

Atividade 44
Resposta: Devido à ausência das estruturas de reforço, como poste proximal e cinta lingual.

PRO-ODONTO | ESTÉTICA | SESCAD 125

02_Sistemas totalmente.p65 125 26/7/2008, 11:09


Atividade 45
Resposta: A redução da superfície axial deve resultar em uma espessura mínima, variando
entre 1,3 a 1,5mm, com uma expulsividade em torno de 8 a 10º, resultando em suporte e
resistência adequados à cerâmica e com ângulos arredondados entre a parede gengival e
axial. Quanto ao desgaste oclusal, a redução é de 2,0mm, desde que não ultrapasse 1/3 da
distância cervicoclusal, considerando o tamanho original da coroa, com riscos de prejuízos
mecânicos e biológicos.

Atividade 46
Resposta: Dentes mal posicionados na arcada, pacientes com hábitos parafuncionais, dentes
com coroas clínicas curtas, espaço interoclusal pequeno, presença de cantiléver, próteses
fixas obtidas em peça única (monobloco).

Atividade 47
Resposta: D
Comentário: Além da alumina infiltrada por vidro, esta técnica também é utilizada por sistemas
que contêm 35% em peso de zircônia (Al2O3ZrO2) parcialmente estabilizada por ítrio. Para
trabalhos de maior exigência estética, recomenda-se a substituição da alumina pelo espinélio,
mistura de magnésia (óxido de magnésio) e alumina (óxido de alumínio) (MgO-Al2O3).

Atividade 48
Resposta: Para este caso, poderiam ser usadas as cerâmicas processadas pela técnica slip
casting com alumina ou espinélio. Como se trata de prótese anterior e coroas unitárias, o
material mais indicado seria a cerâmica com óxido de magnésio (espinélio).

Atividade 49
Resposta: As próteses à base de óxido de magnésio têm melhores características estéticas.
No entanto, sua resistência diminui de 15 a 40% em relação à alumina. Sendo assim, o tipo
de falha do sistema seria, se ocorrer, a fratura catastrófica.

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Agradecemos à FAPESP (2005/04581-1), CNPq PEC-PG e Capes (4695/06-2) pelo apoio


concedido em trabalhos citados no texto. Ao departamento de Prótese Dentária da
Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. À Hitachi e à New York University College
of Dentistry, departamento de Biomateriais e Biomimética, onde foram realizadas as
imagens de microscopia de luz polarizada e de varredura.

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