HORA DE DORMIR

Texto adaptado de um conto de Fernando Sabino

Cena: menino(a) de pijama na sala vendo televisão, entra o pai coloca e começa o dialogo:
Pai - Mas o que é isso? Vai dormir menino!
Filho(a) - Por que não posso ficar vendo televisão?
Pai - Porque você tem que dormir.
Filho(a) - Por quê?
Pai - Por que está na hora, ora essa?
Filho(a) - Hora essa, o que é isso?
Pai - Além do mais, isso não é programa para menino(a).
Filho(a) - Por quê?
Pai - Porque é assunto de gente grande, que você não entende.
Filho(a) - Pois eu estou entendendo tudo.
Pai - Mas não serve para você. É impróprio.
Filho(a) - Então vai ter mulher pelada?
Pai - Ora que bobagem é essa? Ande, vá dormir que você tem colégio amanhã cedo.
Filho(a) - Mais todo o dia eu tenho.
Pai - Está bem, todo dia você tem. Agora desligue isso e vá dormir.
Filho(a) - Espera um pouquinho.
Pai - Não espero não.
Filho(a) - Você vai ficar vendo e eu não vou.
Pai - Fico vendo não, pode desligar. Tenho horror de televisão. Vamos, obedeça a seu pai.
Filho(a) - O(A)s outro(a)s menino(a)s dormem todos tarde, só eu que durmo cedo.
Pai - Não tenho nada que ver com os outros meninos: tenho que ver com meu filho. Já para a cama.
Filho(a) - Também eu vou para a cama e não durmo, pronto. Fico acordado a noite toda.
Pai - Não comece com coisa não, que eu perco a paciência.
Filho(a) - Pode perder.
Pai - Deixa de ser malcriado.
Filho(a) - Pois sim, foi você mesmo que me criou.
Pai - O quê? Isso é maneira de falar com seu pai?
Filho(a) - Falo como quiser, e pronto.
Pai - Não fique respondendo não: cale essa boca.
Filho(a) - Não calo. A boca é minha.
Pai - Olha que eu ponho de castigo.
Filho(a) - Pode pôr.
Pai - Venha cá! Se der mais um pio, vai levar umas palmadas.
Filho(a) - (o garoto(a) se cala e faz um bico)
Pai - Quem é que anda lhe ensinando esses modos? Você esta ficando é muito insolente.
Filho(a) - Ficando o quê?

Pai - Atrevido, malcriado. Eu com sua idade já sabia obedecer. Quando é que eu teria coragem de responder a meu
pai como você faz. ele me descia o braço, não tinha conversa. Eu porque sou mole, você fica abusando...(pausa)
quando ele falava está na hora de dormir, estava na hora de dormir.

Filho(a) - Naquele tempo não tinha televisão.

Pai - Mas tinhas outras coisas.

Filho(a) - Que outras coisas?

Pai - Ora essa, deixe de conversa. Vamos desligar esse negocio. (O pai dirige-se a televisão é a desliga) Pronto
acabou-se. Agora é tratar de dormir.

Filho(a) - Chato

Pai - Como? Repete, para você ver o que acontece.

Filho(a) - Chato

Pai - Tome, para você aprender. (O pai da uma tapa no garoto(a)) E amanhã fica de castigo, está ouvindo? Para
aprender as ter respeito a seu pai.

Filho(a) - (fica chorando e fungando com de cabeça baixa)

Pai - E não adianta ficar aí chorando feito bobo. (Pausa) venha cá.

Filho(a) - (o garoto(a) não se move) Amanhã eu não vou ao colégio.

Pai - Vai sim senhor. E não adianta ficar fazendo essa carinha, não pense que me comove. (Pausa) Anda, venha cá.

Filho(a) - Você me bateu... (e vai devagar ao encontro do pai)

Pai - Bati porque você mereceu. (Pausa) Pronto, já acabou, pare de chorar. Foi de leve, não doeu nem nada. (Pausa)
Peça perdão a seu pai e vá dormir.

Filho(a)- (fica calado com um bico enorme)

Pai - Por que você é assim meu(minha) filho(a)? Só para me aborrecer. Sou tão bom para você, você não
reconhece. Faço tudo que você me pede, os maiores sacrifícios. (Pausa) Todo dia trago para você uma coisa da rua.
(Pausa)Trabalho o dia todo por sua causa mesmo, e quando chego em casa para descansar um pouco, você vem
com essas coisas. Então é assim que se faz?

Filho(a) - (continua calado emburrado(a))

Pai - Então você não tem pena de seu pai? (Pausa) Vamos! tome a benção e vá dormir.

Filho(a) - Papai.

Pai - Que é?

Filho(a)- Me desculpe

Pai - Está desculpado. Deus o abençoe. Agora vai.

(Os dois começam a andar para a escada do palco juntos ai o garoto(a) para)

Filho(a) - Pai.

Pai - O que foi agora?

Filho(a) - Por que não posso ficar vendo televisão?

(O pai põem a mão na cabeça olha pro filho(a) e fecha cortina.