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Alexandre Zamuner
Médico Perito
CRMSC 16708
LAUDO MÉDICO
Eu, Alexandre Augusto Zamuner, Perito do Juízo nomeado e compromissado nos autos
da reclamação trabalhista acima, tendo efetuado as diligências necessárias ao cumprimento de seu
mandato, venho apresentar laudo pericial e requerer a sua juntada aos autos para os fins de direito.
INTRODUÇÃO
DATA DA PERÍCIA: 24/10/2018 15:05:00
LOCAL DA PERÍCIA: 1ª Vara Cível - Comarca Joaçaba -SC
MOTIVO DA PERÍCIA:
Realização de prova técnica, mediante perícia, para avaliação da existência ou não de nexo
causal da doença que porventura acomete a parte autora, com seu trabalho realizado na reclamada.
OBJETO DA PERÍCIA
AÇÃO DE CONCESSÃO/CONVERSÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO
METODOLOGIA UTILIZADA NO LAUDO
Procedeu-se inicialmente a verificação do termo de audiência para identificação do objeto da
perícia. Em complementação verificou-se a inicial do processo para se definir o pedido existente nos
autos.
Realizou-se o resumo estudando a inicial e a defesa bem como efetuou-se análise detalhada
dos documentos existentes nos autos trazidas pelas partes em litigio. Solicitamos também sempre
que necessário documentos adicionais.
Marcada a perícia médica as partes presentes foram identificadas. Questionados então os
dados profissiográficos e as condições de trabalho existentes na reclamada.
Iniciado o ato médico foram feitos anamnese e exame físico compatíveis como os pedidos da
inicial e defesa. Para estabelecimento do nexo causal e valoração do dano corporal foi realizada
pesquisa bibliográfica referente ao caso em questão, tanto em literaturas nacionais como
internacionais. Por fim foram respondidos aos quesitos porventura realizados.
QUALIFICAÇÃO DA RECLAMADA
Nome da reclamada: BONATO COUROS CURTIDORA LTDA
CPF No: 08.532.621/0001-28
Atividade da Empresa: 1529 - Fabricação de artefatos de couro não especificados
anteriormente
QUALIFICAÇÃO DO RECLAMANTE
Nome: DILSON MIGUEL MACIEL DA ROZA
Data de Nascimento: 29/09/1963 - 55 Anos
Profissão ou Ofício devidamente habilitado: Classificador de couros
Dominância: Destro
HÁBITOS
Tabagismo: Ex-tabagista
DOCUMENTOS
CPF: 462.102.299-72
DADOS PROCESSUAIS
ATESTADOS:
ATESTADO DA DRA. ENEMARA NO DIA 22 DE AGOSTO DE 2018: CITA PACIENTE COM DPOC,
FIBROSE PULMONAR DISPNEIA E TOSSE AOS ESFORÇOS. CID J44 0 CID J84 1
DADOS PROFISSIOGRÁFICOS
Contrato de trabalho
Foi admitido(a) na reclamada em 16/06/2016 e desligado(a) da empresa em 15/08/2017.
Aposentadoria no INSS:
Não houve aposentadoria pelo INSS
HISTÓRICO CLÍNICO-OCUPACIONAL
O autor alega na inicial que foi admitido em 16/06/2016 na empresa Bonato couro, entrou na
função de operador de máquina para enxugar couro, ficando 7 meses nesta função. Depois foi alocado
na rebaixadeira de couro. Tempo total de trabalho nesta empresa com essas duas funções um ano e
dois meses.
Que, na execução de sua atividade laboral, esteve exposto a elementos nocivos à sua saúde
(cromo), e que ocasionou o desenvolvimento de doenças respiratórias.
Logo após a entrar na empresa na função de enxugar couro, diz que iniciou com tosse e falta
de ar leve esporadicamente, e que sintomas respiratórios iniciaram aproximadamente há dois anos
assim que entrou na empresa.
Que a máquina liberava o pó do couro, informa não ter recebido nenhum material de proteção,
porém afirma que quando estava na função de enxugar couro recebeu material de proteção (luva,
avental)
Tabagista por 20 anos, 1 maço dia, mas relata ter parado há aproximadamente 15 anos.
Atualmente diz tratar diabetes, não sabe especificar qual o tipo nem o tratamento que usa.
Turno laboral na empresa de couro era de 8 horas diárias com uma hora de intervalo,
Antes deste emprego trabalhava como autônomo basicamente na construção civil em função
não especificada como auxiliar e zelador
EXAME FÍSICO
ATITUDE RESPOSTA
Cooperativo Sim
Atento Não
Apático Não
Hostil Não
Evasivo Não
Cauteloso Não
PONTOS FUNDAMENTAIS
• A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é um estado de doença caracterizado por
uma limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é geralmente
progressiva e associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases
nocivos.
• O fator de risco mais importante para a DPOC é a fumaça do cigarro. O cachimbo, o
charuto e outros tipos de uso do tabaco populares em muitos países também são fatores de risco para
a DPOC.
Em todas as oportunidades possíveis os indivíduos que fumam devem ser incentivados a
parar.
• Um diagnóstico de DPOC deve ser levado em consideração em qualquer indivíduo com
sintomas e uma história de exposição aos fatores de risco. O diagnóstico deve ser confirmado pela
espirometria.
DA DOENÇA
CID DESCRIÇÃO
J44 Outras doenças pulmonares obstrutivas crônicas
J841 Outras doenças pulmonares intersticiais com fibrose
DO NEXO PROFISSIONAL
Fundamentado nas associações entre patologias e exposições constantes das listas A e B do
anexo II do Decreto nº 3.048, de 1999.
AGENTES ETIOLÓGICOS OU FATORES
CID DESCRIÇÃO DE RISCO DE NATUREZA RESULTADO
OCUPACIONAL
1. Cloro gasoso (X47.; Z57.5) (Quadro IX)
2. Exposição ocupacional à poeira de sílica livre
(Z57.2) (Quadro XVIII)
Outras doenças 3. Exposição ocupacional a poeiras de algodão,
linho, cânhamo ou sisal (Z57.2) (Quadro XXVI)
pulmonares Possui Nexo
J44 4. Amônia (X49.; Z57.5)
obstrutivas 5. Anidrido sulfuroso (X49.; Z57.5) Profissional
crônicas 6. Névoas e aerossóis de ácidos minerais (X47.;
Z57.5)
7. Exposição ocupacional a poeiras de carvão
mineral (Z57.2)
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Outras doenças
pulmonares Não possui Nexo
J841
intersticiais com Profissional
fibrose
DO NEXO INDIVIDUAL
Conclusão
AVALIAÇÃO DO PERITO
Trabalhadores da indústria do couro podem ser expostos a quantidades muito altas de cromo,
principalmente o cromo trivalente (Cr (III)) (ASTDR, 2002c), em soluções ou ligado a proteínas (poeira
do couro) (Stupar et al., 1999).
Poucos estudos descrevem diretamente a toxicidade do Cr (III), particularmente em exposição
por inalação, e essa falta de informações resultam na incerteza sobre o risco associado a exposição
ao Cr (III) (EPA, 1998; Medeiros et al., 2003).
Cumpre ressaltar que o tabagismo de longa data é suficiente para justificar as alterações
encontradas nos exames complementares disponíveis nos autos.
O estabelecimento de nexo concausal, eventual participação de fatores ambientais no
desenvolvimento ou no agravamento de sua doença somente se comprovaria mediante a realização
de exames específicos pelo autor e prova de que esteve exposto aos compostos nocivos, de forma
habitual e permanente e sem o devido uso de equipamentos de proteção individual adequados.
Sem análises realizadas in loco das atividades realizadas pelo autor sobre
condições/exposição ao risco/USO correto do EPI, não é possível concluir com exatidão o risco
ocupacional e seu nexo, porém é fato que a patologias encontrada, em origem multicausal, extra
laboral/idade/tabagismo.
Outras doenças também não ocupacionais podem estar causando as alterações encontradas,
entre as quais destacam-se: fibrose pulmonar idiopática, cardiopatia hipertensiva.
Contudo, a maior probabilidade é que as alterações detectadas decorram do tabagismo ao
longo de toda a sua vida pregressa
Com relação à sua capacidade laborativa, o autor está parcialmente e
permanentemente inapto para atividades que demandem esforço físico excessivo, como por exemplo,
caminhadas longas, correr, carregamento de peso, ou exposição a poeiras e fumos metálicos,
estabeleço como DII a data em que este perito constatou o quadro devido a inexistência de elementos
probatórios da incapacidade em data anterior
Fora esses critérios, está plenamente apto para qualquer outra atividade laboral
I. Através dos exames e dos fatos narrados pelo Autor há confirmação de que o
mesmo possui problemas respiratórios?
Resposta: Sim, Enfisema e Fibrose Pulmonar CID 10 J44 J84
III. As doenças que sofre o Autor impedem que o mesmo execute atividades
braçais? Em caso positivo, por quanto tempo deve ficar afastado de exercer suas
atividades laborativas?
Resposta: Não
IV. As doenças que sofre o Autor são resultantes de seu ambiente de trabalho,
em que tinha contato direto com sal de crômio e seus derivados?
Resposta: Sem análises realizadas in loco das atividades realizadas pela autora
sobre condições ergonômicas, não é possível concluir com exatidão o risco ocupacional e
seu nexo, porem é fato que as patologias encontradas, em origem multicausal, extra
laboral/idade/tabagismo longa data
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IX. Concorda o Sr. Perito com as informações constantes nos atestados e demais
exames existentes nos autos?
Resposta: A priori o atestado/laudo/parecer médico não deve ter sua validade recusada,
posto que esteja sempre presente a presunção de lisura e perícia técnica do profissional
emitente.
QUESITO JUÍZO:
a) Apresenta o(a) autor(a) doença que o(a) incapacita total ou parcialmente (em
relação ao grau de incapacidade) para o exercício da atividade profissional que vinha
exercendo? Em que consiste e qual a origem da tal moléstia?
Resposta: Com relação à sua capacidade laborativa, o autor está parcialmente e
permanentemente inapto para atividades que demandem esforço físico excessivo, como por
exemplo, caminhadas longas, correr, carregamento de peso, ou exposição a poeiras e fumos
metálicos. Fora esses critérios, está plenamente apto para qualquer outra atividade laboral.
c) Acaso totalmente incapaz o(a) autor(a) para exercer sua profissão, está
também incapacitado(a) total ou parcialmente (em relação ao grau de incapacidade) para
o exercício de qualquer outra atividade que pudesse lhe garantir a subsistência?
Resposta: Com relação à sua capacidade laborativa, o autor está parcialmente e
permanentemente inapto para atividades que demandem esforço físico excessivo, como por
exemplo, caminhadas longas, correr, carregamento de peso, ou exposição a poeiras e fumos
metálicos. Fora esses critérios, está plenamente apto para qualquer outra atividade laboral.
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CONCLUSÃO E ENCERRAMENTO
De acordo com a perícia realizada, concluo o trabalho a que fui designado, tendo o
mesmo sido elaborado dentro dos preceitos éticos, técnicos e legais e trazemos assim
elementos aos autos para serem submetidos à apreciação e serem auxiliares no
convencimento do Juízo.
É meu parecer.
Nada havendo mais a relatar, dou por encerrado e lavro o presente Laudo Pericial que
contém 12 páginas, numeradas sequencialmente.
Coloco-me à disposição para o que for necessário
BIBLIOGRAFIA:
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Doenças respiratórias crônicas. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
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