A dentina é recoberta pelo esmalte na superfície coronária e pelo
cemento na superfície radicular. A polpa dental é constituida por tecido conjuntivo frouxo que ocupa a cavidade interna do dente e é composta por células, vasos, nervos, fibras e substâncias intercelular. Anatomicamente a polpa está dividida em polpa coronária e polpa radicular, correspondendo à coroa e à raiz anatômicas. A polpa dental, geralmente permanece sã durante a vida, a menos que o suprimento sangüíneo apical seja interrompido por excessiva força ortodôntica ou trauma agudo. A maioria das condições patológicas pulpares inicia-se com a remoção de uma ou de ambas as barreiras de proteção, quer por cárie dental, fraturas, erosão e abrasão. A perda de uma dessas barreiras resulta na comunicação do tecido pulpar com a cavidade bucal através dos canalículos dentinários. Sob essas condições, insultos térmicos, osmóticos, hidrostáticos e químicos podem atuar sobre uma grande variedade de células pulpares tais como odontoblastos, células endoteliais, nervosas e da musculatura lisa vascular. Para entender como essas condições podem conduzir danos à polpa é importante compreender o COMPLEXO DENTINA-POLPA Dentina Tecido mineralizado de natureza conjuntiva, avascular e acelular que constitui a maior parte do elemento dental, dando à este sua forma. Principal responsável pela cor amarelada dos dentes. É constituída por uma estrutura tubular, o que lhe garante certa resiliência e elasticidade; absorvendo assim as forças mastigatórias impedindo que o esmalte (friável) se frature. É produzido pelos odontoblastos que se encontram na polpa. Se dispõem ao redor da polpa coronária e radicular protegendo-a de danos. Os odontoblastos secretam matriz orgânica da dentina, que é formada por fibrilas colágenas do tipo 1 e substância fundamental, que posteriormente se mineraliza. Túbulos Dentinários Percorrem toda a dentina de forma sinuosa, são formados pela sua mineralização ao redor dos prolongamentos odontoblásticos. São mais numerosos na porção mais interna da dentina. São prenchidos pelos prolongamentos e pelo fluido dentinário. Fases da diferenciação do Odontoblasto Célula Ectomesenquimal > Pré-Odontoblastos > Odontoblastos Mineralização da Dentina O inicio da mineralização se dá nas vesículas da matriz, corpos arredondados ou ovais, rodeados de membrana lipídica, com tamanho variado, produzidos pelos odontoblastos. Nestas vesículas ocorre a deposição de Hidroxiapatita. Depois a mineralização se estende por toda a matriz orgânica, independente destas vesículas, com progressão globular, a calcificação se estende para as fibrilas e espaços interfibrilares próximos à este glóbulos de calcificação. Tipos de Dentina Dentina Primária: é aquela fisiologicamente formada até o fechamento do ápice radicular. Compreende a Dentina do Manto e a Circumpulpar. Dentina do Manto: é formada pelos pré-odontoblastos e sua mineralização depende das vesículas da matriz, tem menor porcentagem de matéria mineral comparada com a da dentina circumpulpar. É a camada mais externa da dentina, é a dentina q forma juntamente com o esmalte a junção amelo-dentinária. Dentina circumpulpar: é a maior parte em espessura total da dentina. Compreende a dentina peritubular e a intertubular. Dentina peritubular: constitui a parede dos túbulos dentinários, sendo hipermineralizada em comparação com a intertubular. Não aparece nos preparos histológicos por descalcificação.É formada por toda a vida e pode obliterar os túbulos, durante estímulos de cárie e abrasão, formando assim a dentina esclerótica. Dentina Intertubular: Ocupa a maior parte da dentina preenchendo os espaços entre os túbulos. Dentina Interglobular: São áreas de dentina hipomineralizadas localizadas nas áreas mais externas da dentina coronária. São resultados da fusão inadequada dos glóbulos de mineralização. Linhas incrementais de Von Ebner: como a formação de dentina segue ciclos de longas fases de mineralização seguidas de fases de repouso, fica determinado linhas perpendiculares aos túbulos, que demarcam o inicio e o termino de cada fase. Quando existe a acentuação destas linhas indica-se momentos de distúrbios metabólicos como doenças e o nascimento. Camada Granulomatosa de Tomes: durante a formação da dentina radicular, os prolongamentos odontoblásticos se ramificam profusamente, dando a esta dentina um formato granuloso. Pré-Dentina: camada não mineralizada que permanece mesmo no dente totalmente formado que separa a dentina mineralizada da camada de odontoblastos adjacente. Dentina Secundária: estruturalmente similar a dentina primária, é depositada em todas as paredes do dente de forma fisiologia durante a vida do individuo. Esta deposição ocorre preferencialmente da lingual dos dentes anteriores e na oclusal dos posteriores. Dentina Reacional: Estruturalmente irregular e depositada na tentativa dos odontoblastos de formar um barreira contra estímulos nocivos Dentina Reparativa: formada por células indiferenciadas da polpa originando um tecido osteioíde. Permeabilidade dentinária Os canalículos dentinários convergem para a polpa, porque a superfície da área da junção dentina-esmalte é maior. Isto resulta em uma concentração de substâncias que penetram muito mais em área próxima à polpa, do que na área da junção amelo-dentinária. Permeabilidade dentinária Garberoglio & Brännströn (1982), observaram que a superfície de área do total de canalículos dentiná-rios na junção amelo-dentinária corresponde a 1 por cento; o meio da espessura da dentina, em 10 por cento, e próximo à polpa, em 45 por cento. As implicações clínicas desse fato são que, como a dentina é removida, tanto mecanicamente pelo profissional como por processos patológicos, a dentina remanescente torna-se mais permeável porque apresenta canalículos com maior diâmetro, e a dentina torna-se mais fina, aumentando, assim, a difusão. Desse modo, escavações necessárias na dentina, aumentam o potencial de irritação da polpa por agentes químicos ou bacterianos. Permeabilidade dentinária Este fato é um forte indício para a necessidade de colocar uma base protetora em cavidades profundas antes da restauração final. A convergência dos canalículos dentinários é também responsável pela diminuição da microdureza da dentina. A dentina próxima à polpa tem mais canalículos dentinários e menos matriz calcificada intercanalicular por unidade de área que a dentina periférica. Outra variável importante que afeta a permeabilidade dentinária é a superfície de área de dentina exposta. Obviamente um preparo para uma restauração de coroa total removerá maior quantidade de esmalte e promoverá maior área de difusão do que uma pequena restauração oclusal. A característica da superfície da dentina também pode modificar a permeabilidade dentinária. Polpa Tecido conjuntivo frouxo, não mineralizado, vascular e povoado por diversos tipos celulares como: odontoblastos, células indiferenciadas, fibroblastos, células endoteliais, neurônios e células da glia, hemácias e células do Sistema Imune. Tanto a dentina quanto a polpa são formados a partir da diferenciação das células ectomesenquimais da papila dentária. Juntamente com a dentina formam um complexo estrutural e funcional que dá a vitalidade ao elemento dentário. É formado por camadas periféricas de células, comumente divididas em camada odontoblástica, a região subodontoblástica e a região central da polpa. Camada Odontoblástica: é a camada mais externa da polpa, se localiza logo abaixo da pré-dentina é formada por odontoblastos dispostos um ao lado do outro, unidos por junções comunicantes. Deve se lembrar que este odontoblastos tem prolongamentos que avançam para o interior da dentina. Região subodontoblástica: A região subodontoblástica se divide em duas sub-regiões, sendo uma pobre em células e a outra rica em célula Zona Pobre em células: região com menor número de células, é atravessada por prolongamentos das células adjacentes, vasos sanguíneos, linfáticos e fibras nervosas amielínicas. Região Rica em células: Constituída por indiferenciadas que emitem seus prolongamentos para a zona acelular. Região Central da polpa: Tecido conjuntivo frouxo singular, devido sua organização e sua localização, rodeado por dentina. As células mais abundantes são os fibroblastos com aspecto fusiforme e longos prolongamentos, sendo encontrados em diversos estágios de atividade. Também são encontradas células indiferenciadas. Células do sistema imune podem ser encontradas, sobretudo, no estado inflamatório. Reação Pulpar à penetração de substâncias Se o fluido pode mover-se através da dentina exposta e causar dor dentinária ou hipersensibilidade, então outras substâncias também penetram na dentina e podem alcançar a polpa. Embora o microrganismo não possa penetrar imediatamente na dentina, nos casos de cáries, a dentina cariada ou produtos da placa dental, quando colocados sobre a dentina, podem causar severa reação pulpar. A diferença entre esses extremos (sem inflamação x abscesso) é muito importante, provavelmente, devido às diferenças na concentração pulpar dessas substâncias injuriosas. HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA Normalmente a dentina está recoberta pelo esmalte ou cemento e, assim não está disponível à estimulação direta. Quando as terminações periféricas dos canalículos estão expostas, falamos em dentina hipersensível, quando de fato ela se apresenta com muita sensibilidade. HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA Muitos pacientes sofrem de hipersensibilidade dentinária após um tratamento cirurgico periodontal, remoção de cálculos e ou alisamentos das raízes, mas isto ocorre, também, espontaneamente nos casos de retrações gengivais normais, que expoem a superfície das raízes na cavidade bucal. A espessura (50 a 100 micrometros) de cemento que recobre a raiz é, então, ligeiramente removida pela escovação dos dentes, resultando na exposição dos canalículos dentinários aos estímulos mecânicos, osmóticos ou térmicos. HIPERSENSIBILIDADE DENTINÁRIA 40% dos pacientes que relatam hipersensibilidade dentinária inicial após as condições mencionadas, têm essa sensibilidade diminuida. A perda de sensibilidade deve ser em virtude da diminuição da capacidade dos fluidos moverem-se através dos canalículos dentinários. Esse fato deve ser devido à oclusão dos canalículos dentinários, na distância que vai da superfície à polpa. Mecanismos de Diminuição da Sensibilidade Dentinária Precipitação de fosfato de cálcio salivar nos canalículos dentinários - O sal fosfato de cálcio da saliva pode passivamente precipitar-se nos canalículos dentinários. A saliva que é freqüentemente supersaturada com fosfato de cálcio. A saturação depende de muitas variáveis tais como o fluxo salivar, pH, e concentração. Adsorção do plasma (derivado protêico nos canalículos) - Outra explicação possível para a diminuição da hipersensibilidade é o fato de que o plasma, por si ou através das proteinas plasmáticas, tais como o fibrinogênio e gama globulina, podem diminuir o movimento fluídico através da dentina. Adsorção de constituintes salivares - A saliva contém várias proteinas, bactérias, células epiteliais, etc, e esses constituintes podem penetrar nos canalículos dentinários. As glicoproteinas da saliva podem, também, penetrar nos canalículos e assim, bem como as bactérias podem obstruir o mesmo. Depósito de material cristalino intracanalicular - Em contraste com os mecanismos passivos de redução dos movimentos fluídicos através da dentina e além disso, na redução da sensibilidade dentinária, as atividades dos odontoblastos podem, também, conduzir à oclusão dos canalículos. Secreção de material protêico no interior dos canalículo - Os odontoblastos quando irritados podem não morrer e podem secretar colágeno muito rapidamente por um pequeno período de tempo, o que causa a oclusão parcial ou total dos canalículos. Histopatogenia da dor odontogênica e não odontogênica A dor facial de origem odontogénica decorrente dos dentes e estruturas de suporte deve ser sempre considerada em qualquer análise de um paciente com dor facial. As fontes comuns de dor odontogénica incluem: Cárie dentária na dentina, Cárie dentária na polpa dentária, Infeção pulpar, Necrose pulpar, Abcesso Periapical / Periodontal, Dentes fraturados, Trauma dentário Histopatogenia da dor odontogênica O tecido pulpar responde com dor a qualquer estimulação direta. O início da dor pode ser provocada ou é aparentemente espontânea, muitas vezes apresentando-se como um problema de diagnóstico quando não se observa nenhuma fonte dentária óbvia. A qualidade e a duração deste tipo de dor odontogénica pode apresentar-se com uma qualidade semelhante à nevralgia do trigémio . Histopatogenia da dor não odontogênica O sistema trigeminal é, dentre os pares cranianos, o responsável pelas manifestações das dores faciais, sendo o mais complexo entre todos eles, pois sofre a influência de diversos outros mecanismos neurais, inclusive dos primeiros nervos cervicais da medula espinhal. Este fato faz com que as informações que ascendem à córtex, em muitas vezes, sejam distorcidas, levando pacientes e profissionais a se confundirem no correto diagnóstico o que leva a terapias inadequadas e onerosas. As odontalgias respondem por aproximadamente 75% de todas as dores orofaciais. Existem, no entanto, outras manifestações dolorosas que se manifestam nos dentes, sem que o órgão pulpar ou tecidos periodontais estejam envolvidos na gênese da dor, o que altera completamente a estratégia de terapia. Dentre eles encontram-se as dores referidas, neuropatias, cefaléias primárias, entre outras. São discutidos mecanismos neurais, manifestações clínicas e terapia destes quadros álgicos.