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Vitória Mendes S. e Melo - Odontologia 2021.

2 UFPE

AULA 4: COMPLEXO DENTINA POLPA

DENTINA
● Tecido conjuntivo mineralizado, recoberto pelo esmalte e aloja a polpa.
● Avascular e acelular (não apresenta células em seu interior, apresenta prolongamentos de células
da polpa).
● Dureza um pouco maior que a do osso (70% mineral, 18% material orgânico e 2% de água).
● Propriedade “elástica” (tem capacidade maior de absorver impacto do que o esmalte).
● Cor: a baixa translucidez, aliada a alta saturação cromática, faz da dentina a principal responsável
pela cor dos dentes naturais. Essa cor varia de acordo com a espessura da dentina: grande
espessura na região cervical - mais amarelada e uma gradual diminuição dessa espessura em
direção à incisal - menos amarelada.

Dentinogênse
● Formação centrípeta (produzida do centro para fora), portanto, a dentina mais jovem sempre estará
mais perto do odontoblasto e a primeira dentina a ser formada vai estar mais afastada, perto do
esmalte.
● Lembrando: os pré-odontoblastos produzem a dentina do manto e os odontoblastos produzem a
dentina circumpulpar.
● A dentinogênese passa por 3 FASES:
1. Diferenciação dos odontoblastos; 2. Deposição da matriz orgânica e 3. Mineralização.

**A dentina recém produzida pelo odontoblasto ainda não foi mineralizada → essa dentina é chamada de
pré-dentina! Na lâmina, aparece como um rosa bem clarinho próximo ao odontoblasto.

1ª fase: diferenciação dos odontoblastos

Quando o pré-odontoblasto produz toda a dentina do


manto, ele se divide uma última vez e forma duas
células: o ODONTOBLASTO (que vai produzir a
dentina circumpulpar - maior parte) e uma célula
indiferenciada que atua como uma célula tronco.

A partir daí, o odontoblasto não se divide mais.

2ª fase: deposição da matriz orgânica

A matriz orgânica pode ser:


● Não fibrilar (10%): são algumas proteínas. Ex: a sialoproteína dentinária (DSP) é um marcador
da dentinogênese e desempenha um papel vital na diferenciação dos odontoblastos e na
mineralização da dentina.
● Fibrilar (90%): colágeno tipo I e colágeno tipo V.

Tipos de dentina
1. Primária: dividida em dentina do manto (produzida pelos
pré-odontoblastos) e dentina circumpulpar (produzida pelos
odontoblastos).
2. Secundária
3. Terciária.
3ª fase: mineralização
● A mineralização da dentina do manto é diferente da
circumpulpar. Na do MANTO, toda matéria orgânica será
produzida e existirão várias vesículas de calcificação, com
cristais de hidroxiapatita no interior, que vão se romper e se
depositar ali, mineralizando a matriz orgânica do manto.
● Entre as vesículas de calcificação, vai haver um espaço entre
elas - áreas de hipomineralização - que aparecem na lâmina
como espaços enegrecidos. Essa dentina entre as vesículas é
chamada de DENTINA INTERGLOBULAR (menos
mineralizadas).
● Já na dentina CIRCUMPULPAR, isso não existe, ela é mais mineralizada, à medida que a matriz
orgânica é produzida, ela vai atraindo os cristais de hidroxiapatita que vão se depositando mais
uniformemente.

DENTINA PRIMÁRIA

Dentina do manto
● Produzidas por pré odontoblastos – odontoblastos imaturos;
● 10 - 30µm
● Fibrilas grossas (100nm) perpendiculares à lâmina basal
● Estabelece a junção amelodentinária

Dentina circumpulpar
● Começa quando os odontoblastos alcançam a completa diferenciação.
● Produz fibras mais finas (50nm)
● Fibras em torno do longo eixo do túbulo dentinário.

Túbulos dentinários
● O odontoblasto fica na polpa e emite um prolongamento pra dentro
da dentina e esse prolongamento fica dentro do túbulo dentinário.
● São ramificados próximo ao limite amelodentinário e mais
numerosos e mais grossos próximo à polpa (para pegar suprimento
da polpa, já que a dentina não tem vasos sanguíneos). Não são tão
grossos próximo ao esmalte porque é no esmalte onde ocorrem as
agressões.

● Os túbulos dentinários têm formato de S alongado (mais evidente na coroa).


● A angulação dos túbulos varia nas diversas regiões da dentina e isso influencia na previsão de
sensibilidade, eficácia das técnicas de ligação ou previsão de possíveis caminhos para a invasão
bacteriana. A angulação dos túbulos é diferente entre dentes superiores e inferiores
● Na raiz e em região de cúspides, o túbulo desenvolve um trajeto quase retilíneo.
● Formam uma rede para a difusão de nutrientes para toda a dentina, através dos canalículos
dentinários (conectam um túbulo a outro).
O túbulo dentinário é formado por:

→ Prolongamento do odontoblasto,
espaço periodontoblástico e bainha de
neuman.

A bainha de neuman tem a função de


controlar a mineralização dentro do
tubo em caso de obliteração do tubo.

A dentina pode ser classificada, ainda, em: INTRA/PERITUBULAR e INTERTUBULAR.

OBS.: na restauração em resina, é necessário um condicionamento com ácido e a utilizização de um


adesivo antes de “grudar” a resina. O ácido vai agir no esmalte e na dentina, “limpando” a chamada lama
dentinária (ou smear layer) presente na região e expondo as fibras colágenas da dentina pra facilitar a
penetração do adesivo e conseguir melhorar a adesão da resina ao dente.

DENTINA SECUNDÁRIA

● Formada após o fechamento da raiz e produzida ao longo da vida, em volta da parede pulpar.
● Produzida pelos odontoblastos.
● Continuação da dentina primária – deposição lenta.
● Apresenta algumas áreas sem túbulos.
● Não precisa de um processo patológico para acontecer.
● É por conta dessa dentina que uma pessoa mais velha tem uma sensibilidade menor do que uma
pessoa jovem, porque a cavidade pulpar dela vai estar mais reduzida (“preenchida” por dentina
secundária).

DENTINA TERCIÁRIA

● Há dois tipos: reacional e reparadora.


● A quantidade e a qualidade estão relacionadas ao grau do estímulo.
● Reacional: é a primeira dentina produzida em reação a algum dano, para impedir que a cárie
chegue na polpa. Irregular; produzida pelos odontoblastos; é uma barreira para afastar da agressão.
● Reparadora: é produzida por células indiferenciadas da polpa (quando a lesão avança e atinge a
polpa). Tecido tipo osteóide - osteodentina.
OUTRAS ESTRUTURAS DA DENTINA

Linhas incrementais de Von Ebner

● Linhas decorrentes da formação de dentina em padrão rítmico,


curtos períodos de repouso, perpendiculares ao túbulos.
● Quando o odontoblasto está produzindo a dentina, ele para, recua
para abrir espaço e produz outra camada. Cada vez que ele para e
recua, imprime uma marcação na dentina, então as linhas de Von
Ebner são formadas justamente por conta dessas paradas e recuos
dos odontoblastos.

OBS.: um estudo observou que os odontoblastos produzem 2 vezes mais colágeno durante o dia do que a
noite.

Linhas de Owen: distúrbios ou alterações metabólicas na fase da dentinogênese, que podem interferir na
espessura da linha.

Tratos mortos

● Processo odontoblásticos mortos por algum estímulo → são túbulos dentinários vazios.
● Refração ao microscópio ótico – se apresenta com uma cor escura.

Camada granulosa de Tomes

● Prolongamentos dos odontoblastos formam alças na camada mais externa da dentina radicular, os
espaços entre essas alças formam a camada granulosa de Tomes.
● Refração da luz do MO – se apresenta como pontos escuros na interface dentina-cemento.

POLPA DENTÁRIA

A polpa é formada por duas zonas principais: a


ZONA ODONTOGÊNICA (região periférica)
e a ZONA CENTRAL. A zona odontogênica é
dividida em: camada odontoblástica e
camada subodontoblástica (que ainda é
dividida em zona pobre em células e zona rica
em células).

Zona odontogênica – camada odontoblástica

● Uma camada de células em paliçadas


● Na coroa: células cilíndricas e mais numerosas (pseudoestratificado).
● Na raiz: células cúbicas e menos numerosas.
● Perde a capacidade de se dividir.
Zona odontogênica – camada subodontoblástica

● Zona pobre em células (Zona de Weill): 40 µm de espessura. Contém prolongamentos de células,


vasos sanguíneos e fibras nervosas amielínicas – plexo nervoso de Raschkow.
● Zona rica em células: constituída de células indiferenciadas (ou células de Köhl) e fibroblastos.
➢ Células indiferenciadas: podem se diferenciar em odontoblastos ou fibroblastos e elas
diminuem com a idade (tratamento expectante, estimula as células indiferenciadas a
produzirem dentina terciária).
➢ É a camada mais visível na polpa coronária, pois é na coroa que acontecem a maior parte
das agressões, então precisa-se de mais células indiferenciadas ali.

Zona central da polpa

● Constituída de fibroblastos – maioria;


● Poucas células indiferenciadas;
● Vasos sanguíneos;
● Meio extracelular constituído por: substância fundamental amorfa (glicoproteínas, proteoglicanas,
água, glicosaminoglicanas) e fibras colágenas tipo I e tipo III.

Inervação pulpar

● Fibras sensitivas do nervo trigêmio e ramos simpáticos do gânglio cervical superior penetram
através do forame apical.
● Plexo de Raschkow – ramificação dos nervos na camada subodontoblástica
● Alguns axônios avançam além da camada subodontoblástica, sem o revestimento da célula de
Schwann e: 1. Alcançam a pré dentina ou 2. Penetram na porção inicial do túbulo.
SENSIBILIDADE DENTINO-PULPAR: ao se remover uma cárie na dentina, tecido avascular e
acelular, por quê provoca-se dor? Há teorias que explicam sensibilidade dolorosa dentinária:

→ Teoria da estimulação direta: considera que o estímulo da dentina chegue diretamente aos axônios
que penetram a porção inicial do túbulo. Contestações: nem todo túbulo contém axônio e os axônios se
localizam apenas na porção inicial.

→ Teoria da Transdução: o odontoblasto e o seu prolongamento funcionariam diretamente como


receptores sensoriais. Capazes de fazer a transdução dos impulsos. Contestações: dúvidas quanto a
extensão do prolongamento dentro do túbulo e baixo potencial de membrana (não suficiente para fazer a
transmissão do estímulo nervoso).

→ Teoria Hidrodinâmica: baseia-se no fato dos túbulos conterem um fluido dentinário. O estímulo na
dentina provocaria a movimentação hidrodinâmica que gera uma mudança de pressão intratubular e acaba
por estimular as fibras nervosas da porção inicial dos túbulos e do plexo de Raschkow. Teoria mais aceita.

AULA 5: AMELOGÊNESE E ESMALTE

→ Fases da amelogênese: fase morfogenética, fase de diferenciação, fase de síntese, fase de maturação e
fase de proteção.

1- FASE MORFOGENÉTICA

● Fase de campânula (morfo e histodiferenciação), onde se determina a forma da coroa.


● Células do epitélio interno do órgão do esmalte sofrem mitoses.
● Nó do esmalte controla a parada em pontos específicos que vão dar o formato da coroa.

2 - FASE DE DIFERENCIAÇÃO

→ As células do epitélio interno do órgão do esmalte se diferenciam em pré-ameloblastos, que não


sintetizam esmalte, só induzem a diferenciação dos odontoblastos. Depois os pré-ameloblastos se
diferenciam em ameloblastos, que aí secretam esmalte.

3 - FASE DE SÍNTESE

● O esmalte apresenta um conteúdo orgânico e um inorgânico, o orgânico é formado por proteínas:


90% dessas proteínas são amelogeninas e 10% não amelogeninas (ameloblastina, enamelina e
tufelina). Ou seja, nessa fase há a secreção das proteínas sobre a camada de dentina.
● A mineralização do esmalte é espontânea, com cristais de hidroxiapatita que se depositam
perpendiculares à superfície da célula.
● Quando há o recuo do ameloblasto (com aproximadamente 15 – 30 µm de espessura secretada),
vai haver a formação do Processo de Tomes.
● Com isso, os cristais passam a ser produzidos e depositados em formato de prismas.
→ Esmalte interprismático ou aprismático: cristais paralelos entre si e perpendiculares à membrana.
São as primeiras camadas produzidas.
→ Esmalte prismático: produzido na face do processo de Tomes - cristais em todas as direções, é mais
resistente. A mesma composição, só difere a orientação dos cristais.

Cristais e primas do esmalte

● Os cristais são dispostos de forma repetida formando estruturas que chamamos de prismas ou
bastões do esmalte. O prisma então tem vários cristais e é a unidade morfológica do esmalte.
● Entre um prisma e outro, fica um espaço que chamamos de esmalte interprismático ou bainha
do prisma e que é uma região muito desmineralizada. Isso é importante porque essa região é mais
suscetível a cáries.

Os prismas estão menos expostos na


face oclusal, ou seja, há menos
bainhas de prismas, então a cárie entra
e depois se espalha - forma-se um
triângulo com a base voltada para
dentro do dente. Já nas superfícies
lisas dos dentes, os prismas estão mais
expostos, então é mais fácil da cárie
entrar - forma-se um triângulo com a
base voltada para o meio externo.
Condicionamento ácido do esmalte

Tipo I: Remoção preferencial dos prismas


Tipo II: Remoção da região interprismática
Tipo III: Irregular e indiscriminado

→ Expõe os prismas para facilitar a penetração do adesivo.

FINAL DA FASE DE SÍNTESE :

● Ameloblastos diminuem → perdem processo de Tomes → secretam a última camada de esmalte,


que será APRISMÁTICO.

4 - FASE DE MATURAÇÃO

● Fase pré eruptiva: tem função de destruir material orgânico e aumentar/acrescentar cristais →
mineraliza mais o esmalte.
● Fase pós eruptiva: não tem mais ameloblastos. A nossa saliva será responsável por terminar de
maturar o esmalte depois de erupcionar.

5 - FASE DE PROTEÇÃO

● Ameloblastos sofrem apoptose.


● Demais camadas do órgão do esmalte vão diminuído e formam o epitélio reduzido do órgão do
esmalte → essa camada fica sobre o esmalte, protegendo-o até a erupção
Características estruturais e da organização do esmalte

● A maior proporção dos cristais do esmalte é a hidroxiapatita.


● A apatita pode se ligar a outros radicais → o flúor tem mais afinidade com a apatita do que a
hidroxila, então, quando usado, ele acaba se ligando a apatita formando a fluorapatita, que
apresenta maior resistência aos ácidos da cárie.
● O cristal de hidroxiapatita do esmalte é igual ao da dentina, osso e cemento, só difere no tamanho.

Estrias de Retzius
● Faixas que se estendem do limite amelocementário até a superfície do esmalte.
● São linhas incrementais, perpendiculares ao sentido dos cristais.

Bandas de Hunter Schereger: é a reprodução óptica da angulação do


prisma. Está perpendicular às estrias de Retzius.

Lamelas do esmalte: regiões hipomineralizadas que chegam à


superfície externa do dente. Vão da extremidade do esmalte até a linha
amelodentinária.

Fuso do esmalte: é o prolongamento dos odontoblastos


dentro do esmalte.

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