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CAPÍTULO 13
AS PRINCIPAIS CAUSAS E DESFECHOS DA RUPTURA
ESPLÊNICA EM RECÉM-NASCIDOS
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Fundamentos e Práticas Pediátricas e Neonatais – Edição III
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dado que o baço está bem protegido no qua- O tratamento da ruptura esplênica não é
drante abdominal superior esquerdo. Os consensual, ficando a cargo do médico a esco-
achados mais comuns de hemorragia esplênica lha de como manejar o caso, a depender dos
neonatal são a palidez ou anemia e descolora- sintomas e da presença ou não de fatores hemo-
ção ou distensão abdominal. Dessa forma, a dinâmicos. Ou seja, embora existam opções de
tríade: anemia, distensão abdominal e choque, tratamento conservadoras viáveis para ruptura
é a apresentação típica de hemorragia intra- esplênica, o tratamento operatório faz-se neces-
abdominal em neonatos (CHANG et al., 2021). sário quando há instabilidade hemodinâmica,
Além disso, caso ocorra uma anemia grave aco- hemorragia contínua ou comprometimento de
plada com palidez, encontrada principalmente órgãos vitais (ADAMU et.al., 2012).
em partos que se apresentem difíceis, a ultras- O manejo clínico é fundamental e muito ci-
sonografia (USG) abdominal deve ser feita com tado como conduta primária diante do diagnós-
urgência (DESCAMPS et al., 2017). Em caso tico de ruptura e/ou hemorragia esplênica. O
de suspeita de sangramento subcapsular com tratamento conservado da lesão esplênica inclui
escape para a região intraperitoneal deve ser monitoramento dos sinais vitais, repetição em
feito USG abdominal ou tomografia computa- série do exame físico e do hematócrito até a es-
dorizada (TC) (MULINGE, I; JOSHI, S; tabilização hemodinâmica. (GOKCEBAY et
KAMAT, M; 2017), também utilizadas como al., 2019). Casos com hemorragia intensa, diag-
instrumentos para o diagnóstico da ruptura es- nóstico de hemofilia, choque hemorrágico ou
plênica (CHANG et al., 2021). O reconheci- outras condições de descompensação hemodi-
mento imediato do choque hemorrágico com os nâmica, indicam ressuscitação volêmica imedi-
resultados radiológicos que confirmem o san- ata (com transfusão de glóbulos vermelhos até
gramento visceral é de extrema importância 40 mL/kg) e administração de Fator VIII re-
para prevenir a mortalidade e minimizar a combinante até seu nível se manter em 100% e
morbidade em neonatos afetados (MOREIRA, o paciente estabilizar. (MOREIRA, A; DAS,
A e DAS, HRISHIKESH, 2018). A raridade dos HRISHIKESH, 2018). Alguns relatos de caso
casos de ruptura esplênica somada aos sintomas descreveram melhora no quadro e não necessi-
inespecíficos também dificulta o diagnóstico, dade de intervenção cirúrgica posterior, mas na
que por vezes é feito apenas na necropsia ausência de boa resposta ao tratamento inicial,
(ADAMU et.al., 2012). a laparotomia exploradora e esplenectomia
A verdadeira ruptura espontânea do baço foi estão indicadas (BADAWY et al., 2018).
descrita pela primeira vez por Peskin e Orloff A ruptura esplênica em neonatos é uma rara
em 1958. Existem quatro critérios: 1. Sem his- emergência cirúrgica associada a alta mortali-
tória de trauma; 2. Nenhuma evidência de dade (RAATS et al., 2021). A abordagem cirúr-
doença; 3. Nenhuma evidência de aderências gica diante de um quadro de ruptura esplênica é
periesplênicas ou cicatrizes do baço. O baço tida como uma emergência. Visto que a causa
deve estar normal no exame macroscópico e da ruptura pode ser secundária a outras condi-
histológico, além dos achados de hemorragia e ções, sejam elas congênitas ou decorrentes do
ruptura (TIBONI et al., 2015). parto, como onfalocele, hemofilia, lesão hepá-
tica e até mesmo a própria lesão esplênica, os
sintomas e a intervenção podem inicialmente
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ser inespecíficos. Na ocorrência de ascite e he- abdominal neonatal que pode estar associada
morragia abdominal intensa, o tratamento de por vezes à hemorragia esplênica. Portanto, a
escolha é a laparotomia, que na confirmação da tríade clássica é a anemia, distensão abdominal
ruptura esplênica resulta em esplenectomia para e o choque, sendo de grande importância tam-
controlar o sangramento. Alguns autores reco- bém os achados dos exames de imagem como
mendam a laparotomia exploratória de imedi- ultrassonografia de abdome e tomografias com-
ato, assim que o diagnóstico é feito, mas não é putadorizadas. Assim, a baixa incidência e os
uma posição consensual dado o alto risco de sintomas inespecíficos impactariam menos no
sepse e morte do recém-nascido. Outra opção e fechamento do diagnóstico, possibilitando o
tratamento invasivo já citado na literatura é o seu reconhecimento e início de tratamento
tratamento endovascular através da emboliza- precoce (CHANG et al., 2021; ADAMU, I,
ção proximal ou distal, a depender do caso, da et.al., 2012).
artéria esplênica. Essa modalidade de interven- Portanto, os tratamentos, apesar de não
ção foi citada por Rong et al em 2017 e mostrou terem um consenso, seguem a linha de monito-
desfechos menos fatais comparados à esplenec- rizar e controlar os sinais vitais, repetindo o
tomia (ADAMU, I, et.al., 2012). Apesar da exame físico e o hematócrito do paciente até
escolha de tratamento aumentar ou diminuir a estabilizá-lo hemodinamicamente, podendo ser
ocorrência de algumas complicações, como a usada a transfusão de glóbulos vermelhos e a
sepse, existem outros preditores de mortalidade administração do Fator VIII, em casos mais gra-
neonatal que podem culminar em desfecho ne- ves e específicos de ruptura com instabilidade
gativo, como insuficiência pulmonar e o nível hemodinâmica persistente. Por outro lado, em
de prematuridade (SAXENA, A; RAICEVIC, casos em que esse tratamento inicial conserva-
M, 2018). dor não mostra bons resultados, a intervenção
realizada por laparotomia exploratória e esple-
CONCLUSÃO nectomia são usados como opção de tratamento
mais invasivos. Além disso, a embolização
Nesse contexto, constata-se que a ruptura
proximal ou distal da artéria esplênica também
esplênica do baço em neonatos é uma rara
é citada como método alternativo para a esple-
emergência cirúrgica, porém alcança altas
nectomia. Dessa maneira, fica evidente a
porcentagens de mortalidade quando acontece,
importância do diagnóstico precoce para o
sendo necessária uma atenção redobrada em
início do tratamento, sobretudo para garantir a
relação as suas etiologias com o propósito de
hemostasia do paciente, reduzindo significati-
preveni-las ou diagnosticá-las precocemente.
vamente a mortalidade e a morbidade neonatal
Como exemplos de causas de ruptura do baço,
advinda da ruptura esplênica (MOREIRA, A;
temos os traumas no decorrer do canal do parto
DAS, HRISHIKESH, 2018; BADAWY, X; et
– mais frequente dos fatores causais –
al., 2018; ADAMU, I, et.al., 2012).
hemofilias, uso materno de medicamentos anti-
epilépticos, entre outros (RAATS et al., 2021;
GOKCEBAY et al., 2019; JOSHI et al., 2017).
Para isso, deve-se estar atento aos sinais clí-
nicos mais comuns de hemorragia intra-
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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