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Exame anatomopatológico de

placenta: Importância e indicações


Raphael Javert
rjavert@gmail.com
Objetivos
1) Revisar a formação e fisiologia da placenta durante a gestação
2) Ensinar a técnica de exame placentário e suas principais desordens
3) Mostrar as indicações de seu encaminhamento para exame HP
A importância da análise de placenta
A placenta é o marco fisiológico do binômio mãe-filho, que carrega toda a
história gestacional intrauterina.

Muitas vezes é o único tecido viável para análise (grande maceração fetal,
abortamento anembrionário, nascido vivo em estado grave).

Exame de principal importância para descobrir a causa mortis de nati- e


neomorto, sendo na maioria das vezes mais valiosa que a necropsia.
Origem Embrionária
A placenta se origina do 4º ao 10º dia,
com a implantação do blastocisto e
sua camada mais externa
(trofoblasto) levando a alterações do
endométrio (aumento do estroma,
aumento da permeabilidade vascular,
apoptose do endométrio, etc)
conhecida como transformação
decidual
Desenvolvimento
Conforme os trofoblastos avançam junto com
o mesoderma extraembrionario e formam
vilosidades; parede de vasos uterinos
maternos são transformados, com seu
conteúdo caindo no espaço intervilositário.

As artérias espirais uterinas são convertidas


em artérias uteroplacentaria, com os
trofoblastos substituindo o endotélio e túnica
média, o que leva a um fluxo de baixa
pressão
Fisiologia
A placenta necessita ser capaz de absorver
nutrientes, eliminar toxinas, trocar gases,
metabolizar substâncias e impedir a entrada
de elementos nocivos.

Isso ocorre devido a barreira


hematoplacentaria (trofoblasto, estroma,
endotélio)

Além disso é responsável pela produção de


diversos hormônios (HCG, PCH, progesterona,
estrogênio, etc)
Técnica de exame macroscópico
A placenta da segunda metade da gestação é
formada por um disco placentário de duas faces
(fetal e materna), membranas e o cordão umbilical

Idealmente apresenta uma forma discóide ou ovóide


e peso compatível com a IG

Placentas pequenas para IG têm menos reserva


fisiológica e estão associadas a redução da perfusão.

Já uma placenta grande por si não oferece riscos


para o bebê, mas está associada a doenças como
diabetes, incompatibilidade do Rh, doença de
depósito, neoplasias.
Cordão e vasos
Mesmo após o parto, ainda se espera uma
congestão e dilatação nos vasos, incluindo os
do cordão umbilical.

O cordão umbilical normalmente apresenta 3


vasos (2 artérias e 1 veia) com uma geleia
brancacenta e se insere central ou
paracentral

A medida do cordão também tem seu valor


de análise, pois cordões longos podem se
enrolar no feto, enquanto curtos não
permitem uma boa movimentação
intrauterina.
Membranas
As membranas normais são transparentes,
lisas e brilhantes.

Sua alteração de cor costuma ser devido a


impregnação de mecônio (verde),
descolamento (marrom) ou inflamação
(opaco).

Idealmente se inserem marginais a placenta,


com alteração da inserção sendo sinal de
separação placental crônica.
Face materna
É dever do obstetra observar a face materna da placenta!
Pois certas alterações implicam em grande risco materno.

A face materna normal tem aspecto lobular


vermelho-vinhoso.

A integridade desta face da placenta (decídua) deve


sempre ser avaliada, pois um fragmento retido pode levar
a hemorragia pós parto!

Enquanto alguns coágulos são esperados, se houver


grande quantidade aderência firme retroplacentária,
organização ou indentação estamos diante de um possível
descolamento de placenta.

Casos de DPP agudo podem não configurar depressão


Face fetal
A face fetal é recoberta por uma
membrana transparente que permite
ver os troncos e vasos da placenta

Deve ter cuidado com a presença de


bridas aderidas, pois tais achados
podem levar ao não desenvolvimento
de membros e face.
Síndromes de diagnóstico placentário
Algumas condições podem ser inferidas apenas com exame da placenta,
sendo de grande auxílio no diagnóstico. Dentre as quais:

● Infecções
● Hipoperfusão materna
● Trombose fetal
● Hemossiderose difusa
Infecções placentárias ascendentes
Geralmente causadas por bactérias
da flora vaginal (E. coli; S. agalatiae;
Klebsiella)

Apresenta opacidade das membranas


na macroscopia, sendo representadas
na micro por infiltrado neutrofílico
podendo acometer cordão.

Bebês que nascem nessas condições


podem evoluir para sepse neonatal.
Infecções hematogênicas
Apesar das mães serem assintomáticas, os
RN dessas condições podem apresentam
diversas constelações sindromicas para
cada agente etiológico.

Mas de forma geral, cursam com vilosite,


dismaturidade vilositaria, placenta
edemaciada com membranas
hipotransparentes
Hipoperfusão vascular materna
Diversas doenças podem levar a
hipoperfusão, especialmente
hipertensão arterial, pré-eclampsia e
lesão de vasos por doenças
reumatológicas (SAF, LES, ES, etc)

Ao exame podemos observar áreas


de infartos difusamente, hematoma
retroplacentário (macro), hipotrofia
das vilosidades e vasculopatia
decidual (micro)
Hemossiderose difusa corioamniótica
Se traduz na sequência
descolamento-oligodraminia.

Parto é geralmente pré termo, associada


ao tabaco e multiparidade, e pode causar
comprometimento neurológico.

Na macroscopia se observam membranas


marrons esverdeadas e sinais de
sangramento crônico na periferia.

Na microscopia se observam macrófagos


pigmentados na placa coriônica.
Trombose fetal
A trombose da vasculatura fetal é uma causa
severa de morbidade neonatal,
especialmente do SNC.

O principal fator são alterações do cordão


umbilical que lentificam o fluxo sanguíneo
(como nós, inserção marginal ou
velamentosa, diâmetro curto, etc)

Assim se verá infarto na face fetal e


imaturidade das vilosidades.
Repercussões
O exame da placenta tem como objetivo atuar no esclarecimento de
diagnósticos materno-infantil e prever eventuais complicações para a vida
reprodutiva da mãe ou desenvolvimento do filho.

As alterações vasculares costumam ter carácter crônico ou ao menos


reincidivante durante a gestação e sua documentação ajuda no planejamento
do pré-natal seguinte.

Por outro lado, muitas das doenças fetais levam ao comprometimento do SNC
do filho, necessitando de diagnóstico rápido e forte prevenção secundária e
terciária.
Indicações do exame anatomopatológico
Não há diretrizes oficiais para o exame de placenta. E como há um número
reduzido de patologista, se torna inviável mandar de todos os partos.

Cabe à equipe de saúde na sala de parto, após uma análise rápida, se valer do
bom senso e selecionar os casos que mais se beneficiariam desse exame. (RN
em berçário de alto risco, gravidez com complicação grave, natimorto e
neomorto precoce, alterações grosseiras na placenta)
Referências
GARCIA, A. AZOUBEL, R. A placenta humana: morfologia e patologia fetal e
perinatal. Atheneu 1986

GILBERT-BARNESS, E. Potter’s Pathology of the Fetus, Infant and Child. 2nd Ed;
Elsevier 2007

KIERZENBAUM, A. TRES, L. Histology and Cell Biology: An Introduction to


Pathology. 5th Ed. Elsevier 2019

FAYE-PETERSEN, O M. HELLER, D S. JOSHI, V V. Handbook of placental


pathology. 2nd Ed. Taylor & Francis 2006
Muito obrigado

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