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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

CURSO DE MEDICINA
SEXTO SEMESTRE
DISCIPLINA: NEONATOLOGIA / PEDIATRIA

PORTFÓLIO DE PEDIATRIA / NEONATOLOGIA


JAIR MARINHO DA SILVA FILHO

BARBALHA
2022
SUMÁRIO

1. IDENTIFICAÇÃO …………………………………………………………………... 03
2. APRESENTAÇÃO ……………………………………………………………….….. 04
3. FICHAMENTOS ……………………………………………………………………. 05

2.1. Alojamento conjunto …………………………………………………………………… 05

2.2. Teste de triagem de anquiloglossia …………………………………………………….. 07

2.3. Teste de triagem de cardiopatias congênitas ………………………………………….. 10

2.4. Doença hemorrágica do recém-nascido…………………………………………...…… 13

2.5. Alta hospitalar do recém-nascido ……………………..………………………………. 16

2.6. Perda de peso do recém-nascido …………….………………………………………… 18

2.7 Profilaxia para oftalmia neonatal……………………………………………………….20

2.8 Paralisia do Plexo Braquial………………………………………………………………21

4. RELATÓRIOS ……………………………………………………………………… 23

3.1. Relatório da aula prática do dia 12/12/2022 ………………………………………….. 23

3.2. Relatório da aula prática do dia 15/12/2022 ………………………………………….. 25

5. REFERÊNCIAS …………………………………………………………………….. 27

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IDENTIFICAÇÃO DO DISCENTE

Nome: Jair Marinho da Silva Filho

Matrícula: 2019020226

Turma: 30

Idade: 21

Naturalidade: Sobral-CE

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APRESENTAÇÃO

“Veja. agora é preciso correr muito para permanecermos no mesmo lugar.”

Rainha Vermelha, personagem fictícia de Lewis Carroll.

A neonatologia enquanto ciência é bastante recente, mas é área arraigada há milênios na sociedade,
existindo desde que o ser humano lobrigou a necessidade de proteger a sua prole nos primórdios de
sua vida, com o fito de preservação da sua espécie. Evoluiu-se o saber médico e inevitavelmente o
tecnicismo assenhoreou-se dessa secção dos cuidados em saúde, motivando movimentos cujo
intuito é a humanização da assistência médica, como a criação do Alojamento Conjunto, a fim de
que a responsabilidade sobre os neonatos torne a ser compartilhada com a família, como o era a
princípio, não restringindo tal atuação aos profissionais da área.

Nesse sentido, compreendo que o desafio atual da neonatologia e pediatria é amalgamar o


conhecimento técnico ao popular, para enfim caminharmos rumo a um lugar melhor, onde o
aprendizado do passado ajuda a construir o futuro.

Espero aprender muito neste módulo e confio que os obstáculos que me põem não são mais que
ventanias – só levam minha jangadinha adiante.

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ALOJAMENTO CONJUNTO

Desde os primórdios do século XX, a instituição dos hospitais como locus de acolhimento de
enfermos creditou a essas organizações o caráter de centros técnicos especializados em questões de
saúde, culminando com a hospitalização de eventos que outrora ocorriam em âmbitos domiciliares,
como o parto e parte do puerpério. A hospitalização do parto, se por um lado diminuiu
paulatinamente os índices de morte materna e neonatal, por outro lado, em virtude do tecnicismo
sobre o qual foi fundado, resultou em uma menor aproximação entre mãe e bebê logo após o parto,
posto que se tinha esse primeiro contato como possível foco de infecções para o recém-nascido,
sendo a internação em berçários distantes da genitora praxe da época.

Tendo isso em vista, na década de 1990, o Ministério da Saúde propôs a criação do Alojamento
Conjunto em maternidades, prática que, em suma, estabelece a manutenção do neonato junto a sua
mãe enquanto perdurar a sua hospitalização, com o intuito de estreitar o laço materno-infantil nas
primeiras horas de vida do bebê fora do útero do bebê materno, com estímulo à amamentação e à
participação da figura paterna nos primeiros momentos após o parto. Dessa maneira, o Alojamento
Conjunto democratizou o cuidado em saúde, tornando-o uma prática não restrita aos médicos e
demais profissionais da equipe hospitalar, mas de competência também dos responsáveis pelo
recém-nascido.

Como o desenvolvimento psicossocial do indivíduo principia aos primeiros momentos de vida,


existe a necessidade de que haja uma interação oportuna entre mãe e filho, em um ambiente
controlado, com intervenções médicas ocorrendo apenas quando necessárias forem, e isso motivou
a gênese desse programa. São benefícios do Alojamento Conjunto:

● Fortalecimento do vínculo mãe, pai e filho;


● Estímulo à amamentação o mais precoce possível;
● Participação da família como um todo nos cuidados com o neonato;
● Democratização dos cuidados em saúde;
● Empoderamento do indivíduo, na pessoa da mãe, do pai e do próprio recém-nascido;
● Mitigação de infecções associadas aos cuidado sem saúde; e

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● Aumento da interação entre pais e equipe médica,

Convém lembrar que o Alojamento Conjunto não é o melhor regime de cuidado para todas as
puérperas e neonatos. Mulheres e bebês clinicamente instáveis ou com contraindicações a esse
programa devem ser submetidos a esquemas mais apropriados para suas condições. Enquadram-se
nesses grupos, por exemplo, neonatos com incapacidade de serem amamentados, com homeostase
comprometida, com vitalidade baixa, com peso ou idade gestacional ao nascimento inadequados e
com sinais de doenças sistêmicas. Nestas situações o berçário, a Unidade de Terapia Intensiva e a
Unidade de Terapia Intensiva Neonatal são possibilidades para uma melhor estruturação do
acompanhamento médico.

A permanência no Alojamento Conjunto é variável e dependente de variáveis obstétricas, como a


via do parto, e pediátricas, como as condições do bebê. Um tempo de permanência de 24 horas
costuma ser empregado com bons resultados na maioria dos casos, sendo a alta acompanhada de
orientações providas pelo médico aos familiares, as quais são melhor abordadas no tópico “Alta
Hospitalar do Recém-nascido” (página ).

REFERÊNCIAS

1. Portaria N° 2.068, de 21 de outubro de 2016, Ministério da Saúde.


2. UNGERER, Regina LS; MIRANDA, Ana TC de. História do alojamento conjunto. J
Pediatr, v. 75, n. 1, p. 5-10, 1999.

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TESTE DE TRIAGEM DE ANQUILOGLOSSIA

A anquiloglossia, popularmente conhecida como “língua presa”, é um frênulo lingual encurtado que
diminui a mobilidade da língua. É uma anomalia congênita causada pela falha na apoptose de uma
secção de tecido embrionário lingual, o qual fica no ventre da língua, quando o normal seria o seu
desaparecimento compatível com o desenvolvimento.

A importância da identificação dessa anormalidade no período neonatal deve-se a uma possível


interferência dessa malformação no aleitamento materno, enquanto fator dificultador da sucção do
leite materno pelo bebê, correlação a qual ainda carece de mais estudos para sua comprovação, mas
que fomenta intervenções nessa senda, como a instituição de um teste de triagem para essa
disfunção nos serviços de saúde, sob a égide da Lei nº 13.002 de 20 de junho de 2014. Consoante
essa legislação, deve-se avaliar o frênulo lingual do recém-nascido de preferência ainda na
maternidade por um profissional da área da saúde capacitado para tal.

A anquiloglossia é estratificada em:

1. Leve (parcial) e
2. Grave (completa).

Diversos protocolos podem ser usados para a avaliação do frênulo lingual, sendo o Protocolo
Bristol uma opção de fácil execução e de boa sensibilidade e especificidade para a detecção da
anquiloglossia, cujo diagnóstico se baseia em 4 variáveis, quais sejam:

1. Aparência da ponta da língua;


2. Fixação do frênulo na margem gengival inferior;
3. Elevação da língua; e
4. Projeção da língua.

Com cada variável pontuando de 0 a 2, tem-se que o valor do teste varia de 0 a 8, sendo a pontuação
mínima de 0 a que indica mais fortemente a presença dessa malformação e sua possível
interferência na amamentação, enquanto que a pontuação máxima de 8 é indicativa de normalidade.

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Figura 1: Protocolo Bristol.

Escores baixos em que as dificuldades na amamentação não sejam devidas a outras condições são
indicativas de correção por intermédio de procedimento cirúrgico, apesar de que a cirurgia pode não
garantir uma melhor amamentação. Escores menores ou iguais a 3 indicam nova avaliação da
mamada e do frênulo lingual antes da alta hospitalar, sendo possível aplicar um formulário de
adequação da mamada, como se segue:

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Figura 2. Formulário para análise da amamentação.

REFERÊNCIAS

1. DA VIDA, Coordenação-Geral de Ciclos. NOTA TÉCNICA Nº 11/2021 -


COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS. Disponível em:
/https://rblh.fiocruz.br/sites/rblh.fiocruz.br/files/usuario/114/nota_tecnica_11_2021-
cocam_0.pdf

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TESTE DE TRIAGEM DE CARDIOPATIAS CONGÊNITAS

As cardiopatias congênitas críticas são doenças causadas pelo fechamento parcial ou completo do
canal arterial.

Enquadram-se nesse grupo:

1. Cardiopatias congênitas com fluxo sistêmico comprometido (coartação de aorta, e.g.).


2. Cardiopatias congênitas com fluxo pulmonar comprometido (atresia pulmonar, e.g.).
3. Cardiopatias congênitas com circulação em paralelo (transposição dos grandes vasos, e.g.)

As cardiopatias congênitas críticas estão presentes em cerca de 1 a cada 1000 recém-nascidos vivos,
sendo que aproximadamente um terço desses indivíduos evolui com alta hospitalar sem diagnóstico
oportuno ao período neonatal, o que resulta em prognósticos ruins, os quais podem causar até
mesmo o óbito do recém-nascido.

Em uma tentativa de reduzir essa estatística, a triagem neonatal para cardiopatias congênitas críticas
tem seu valor enquanto ferramenta de razoável sensibilidade e especificidade, além de bom custo-
benefício, para o rastreio de cardiopatias potencialmente fatais identificáveis no período neonatal.

Conhecido popularmente como “Teste do Coraçãozinho”, a triagem para cardiopatias congênitas


críticas é sinteticamente uma oximetria de pulso que é realizada em todos os neonatos hígidos cuja
idade gestacional ao nascimento atinja 34 semanas, sendo efetuado antes da alta hospitalar seguinte
ao parto, nas primeiras 24 ou 48 horas de vida fora do útero, preferencialmente. Afere-se a
saturação de oxigênio e a frequência de pulso do bebê mediante o acoplamento de um aparelho no
seu membro superior direito e em um dos seus membros inferiores, tendo o cuidado de manter o
ambiente em uma temperatura agradável, a fim de que o neonato não sofra de acrocianose devido
ao frio, o que pode comprometer o resultado do exame. São esperados valores maiores ou iguais a
95% de saturação periférica de oxigênio nas duas aferições – membro superior direito e membro
inferior – e diferença menor que 3% entre as duas aferições. Em caso de anormalidade, realiza-se
novo exame depois de 1 hora. Repetida a anormalidade realiza-se nova oximetria e se esta vier
novamente alterada prescreve-se um ecocardiograma a ser realizado em até 24 horas. Valores de
oximetria de pulso abaixo de 90% já são considerados como triagens positivas para cardiopatias

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congênitas críticas e se procede de imediato com investigação cardiológica e realização de
ecocardiograma.

O ecocardiograma constitui o padrão-ouro para a detecção de cardiopatias congênitas, portanto,


obviamente é superior em termos de qualidade ao teste de triagem empregado no Sistema Único de
Saúde, sendo este de valia devido ao seu valor monetário menor, a despeito da sua sensibilidade ser
bem inferior à do ecocardiograma, cujo custo para realização é bem superior.

Figura 3: Fluxograma do teste de triagem para cardiopatias congênitas críticas.

REFERÊNCIAS

1. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de cardiologia e neonatologia. Diagnóstico


precoce de cardiopatia congênita crítica: oximetria de pulso como ferramenta de triagem
neonatal. 2011.
2. Ministério da Saúde. Nota técnica N° 18/2021-COCAM/CGCIVI/DAPES/SAPS/MS

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DOENÇA HEMORRÁGICA DO RECÉM-NASCIDO

A vitamina K é uma das vitaminas lipossolúveis (K, E, D e A) de suma importância à homeostase


sanguínea. Isso porque os fatores de coagulação dependentes da vitamina K (II, VII, IX e X)
participam ativamente da cascata de coagulação sanguínea, sendo a deficiência dessa vitamina
comprometedora desse equilíbrio.

Figura 3: Cascata da coagulação sanguínea.

Acredita-se que, devido à ausência de transporte de vitamina K via transplacentária no período fetal
e via amamentação no período neonatal, bem como devido à imaturidade do trato gastrointestinal

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do recém-nascido, seja fisiológica no neonato uma diminuição transitória dos fatores de coagulação
dependentes de vitamina K, a qual ocorre por volta de dois a três dias após o nascimento, com
evolução para a normalidade em torno de dez dias depois do parto,

A doença hemorrágica do recém-nascido normalmente ocorre quando há uma perduração da


deficiência da vitamina K, com comprometimento prolongado da coagulação sanguínea, cursando
com sangramentos espontâneos.

Com o fito de evitar esse morbo, no Brasil, no Sistema Único de Saúde, na primeira prescrição da
vida do indivíduo preconiza-se a administração de vitamina K profilática.

São as principais etiologias possíveis dessa patologia:

● Coagulopatia familiar;
● Doença materna (doenças infectocontagiosas, e.g.);
● Uso de medicações; e
● Falta da administração da vitamina K imediatamente depois do nascimento.

A doença hemorrágica do recém-nascido apresenta três apresentações clínicas: precoce, clássica e


tardia.

1. Precoce: em geral acontece nas primeiras 24 horas de nascido, sendo causada mormente
pelo: uso de medicamentos pela mãe, como anticonvulsivantes (fenobarbital, fenitoína, e.g.)
e anticoagulantes orais (warfarina, e.g.).
2. Clássica: em geral acontece na primeira semana de nascido, sendo causada principalmente
pela ausência da administração de vitamina K profilática imediatamente ao nascimento,
cujos sinais são epistaxe, melena, sangramento de coto umbilical e de feridas operatórias e
raramente hemorragias intracranianas.
3. Tardia: em geral acontece entre a segunda e a décima semana de vida, também sendo
causada principalmente pela ausência da administração de vitamina K profilática
imediatamente ao nascimento, cuja apresentação clínica mais comum, encontrada em cerca
de metade dos acometidos, é sob a forma de hemorragia aguda do sistema nervoso central.

O diagnóstico é clínico e laboratorial. O coagulograma alberga os exames mais apropriados ao


diagnóstico laboratorial da doença hemorrágica do recém-nascido, em que se observa aumento do
tempo de protrombina e do tempo de tromboplastina parcial ativada, com contagem de plaquetas
normal, fibrinogênio normal e INR aumentado.

A profilaxia dessa doença se dá pela aplicação profilática de vitamina K no recém-nascido, bem


como pela administração de vitamina K em gestantes em uso de medicamentos que possivelmente
causem quadros hemorrágicos nos neonatos, sendo essa suplementação realizada nas últimas quatro
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semanas de gestação, com uma última dose periparto.

A conduta nos casos de doença hemorrágica leve é a administração de vitamina K terapêutica, já


nos casos mais graves pode ser necessária a hemotransfusão.

REFERÊNCIAS

1. BRUNETTA, Denise Menezes; PAES, Liliane Soares Nogueira; LAVOR, Maria Francielze
Holanda. Distúrbios hemorrágicos do recém-nascido.

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ALTA HOSPITALAR DO RECÉM-NASCIDO

A alta hospitalar dos bebês a termo nascidos é motivo de debate no âmbito médico. Prioriza-se que
as mães e seus bebês vão para casa ao mesmo tempo, logo, a duração da hospitalização para
neonatos depende mormente da saúde da mãe e do bebê. Em muitos casos de parto via vaginal, a
mãe e o bebê estão prontos para ir para casa 24 horas após o nascimento. Antes da alta, é mister
orientar os responsáveis pelo recém-nascido, executar um planejamento de alta e levar em conta os
fatores de risco para possíveis complicações posteriores à alta, quais sejam alguns exemplos:

● Disglicemias;
● Baixo peso ao nascer;
● Displasias do quadril;
● Adversidades psicossociais e/ou socioeconômicas;
● Antecedentes de tabagismo, alcoolismo e drogadição;
● Lesões do parto;
● Apgar baixo;
● Necessidade de estabilização pós-natal; e
● Baixo pH do cordão umbilical.

Na presença desses fatores de risco a alta hospitalar deve ser analisada com precaução.

É fundamental o diálogo entre os responsáveis pelo neonato e a junta médica hospitalar, com o fito
de esclarecer possíveis dúvidas dos pais e tranquilizá-los acerca do processo de alta hospitalar, que
costuma ser motivo de receio, principalmente em primíparas com baixo nível de orientação. São
pautas que devem ser abordadas antes da alta hospitalar:

● Importância de um ambiente harmonioso;


● Informações sobre doação de leite humano;
● Orientações sobre o calendário vacinal do recém-nascido e da puérpera;
● Alimentação saudável, com enfoque no aleitamento materno exclusivo;
● Situações em que se deve buscar atendimento médico;
● Profilaxia para infecções;

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● Desenvolvimento esperado do recém-nascido;
● Sinais incipientes de patologias (febre e hipotonia, e.g.); e
● Tópicos de segurança.

O Programa de Triagem Sanguínea Neonatal e demais rastreios realizados sob a égide do Sistema
Único de Saúde no período pós-natal facilitam a identificação e o intervencionismo precoce em
casos de recém-nascidos portadores de déficits em variegadas áreas da saúde individual. Consultas
médicas e visitas domiciliares oferecidas tanto à mãe quanto ao feto são de suma importância e
devem ser valorizadas, posto que minimizam revezes pós-natais, como infecções, novas
hospitalizações e deficiências nutricionais.

Sendo assim, a alta hospitalar em tempo oportuno pode ser instigada se acompanhada dos devidos
cuidados intrínsecos a essa prática, que residem grandemente na educação em saúde.

REFERÊNCIAS

1. Nota Técnica N° 25/2018, MS/SAS-DAPES/ da Saúde da Criança e Aleitamento Materno,


preconiza a adoção do Protocolo de Bristol e utilização do formulário de recomendação da
UNICEF.
2. Sociedade Brasileira de Pediatria. Recomendações para alta hospitalar do Recém-Nascido
Termo Potencialmente Saudável. Departamento Científico de Neonatologia (2019-2021).

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PERDA DE PESO DO RECÉM-NASCIDO

É normal que neonatos hígidos, nascidos a termo e sob regime de aleitamento materno exclusivo
passem por uma perda ponderal nos primeiros dias seguintes ao nascimento, consequente,
consoante o conhecimento hodierno, à redução de fluidos vasculares e ao uso da energia
armazenada sob a forma de panículo adiposo típicos do período neonatal. Na literatura médica
científica atual existe um debate no que concerne à definição do que viria a ser uma diminuição de
peso fisiológica do recém-nascido, o que impõe aos médicos a dificuldade de saber quando intervir
por intermédio de condutas como a alimentação suplementar por fórmula láctea.
A medida do peso infantil é um parâmetro de extrema valia no que tange à análise da proficuidade
da amamentação. Perda ponderal exacerbada ou insuficiente ganho de peso refletem uma
inadequada lactação ou uma amamentação ineficaz. Portanto, é nítida a importância de se
quantificar e de se classificar os níveis de alteração de peso neonatal, com o intuito de possibilitar a
escolha das condutas mais benéficas ao recém-nascido pelos profissionais da saúde.
Especialistas e diretrizes não entram em um consenso acerca do que configura uma perda de peso
neonatal fisiológica. Usualmente, o limiar máximo de perda de peso nas primeiras semanas de
nascimento corresponde a 7% do peso do recém-nascido, sem levar em consideração o desvio-
padrão, podendo chegar a 10%, a depender da literatura consultada. Não obstante esses valores
serem ratificados por organizações respaldadas, como a Academia Americana de Pediatria, a
International Lactation Consultant Association e a Academy of Breastfeeding Medicine, ainda há
críticas a essas definições de normal e patológico, como o fato de que a valorização excessiva de
um número absoluto finda obscurecendo sinais de alerta que não são valorizados em indivíduos
com níveis de perda de peso inferior a esse limite estabelecido.
Nesse contexto, no Brasil, a Caderneta da Criança, disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde,
constitui-se uma ferramenta de acompanhamento valiosa em relação às medidas antropométricas do
recém-nascido.

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Figura 4: Caderneta da Criança.

Dessa maneira, é fundamental que o funcionário médico esteja atento não só a percentuais definidos
como anormais, mas também aos sinais de doenças neonatais e de déficits associados à má
amamentação, para que possa intervir precoce e habilmente em situações clínicas que necessitem de
um acompanhamento mais acirrado.

REFERÊNCIAS
1. Maria Aparecida Mezzacappa, Bruna Gil Ferreira. Perda de peso excessiva em recém-
nascidos a termo amamentados exclusivamente ao seio materno em um Hospital Amigo da
Criança. Revista Paulista de Pediatria (English Edition), Volume 34, Issue 3, 2016, Pages
281-286, ISSN 2359-3482. https://doi.org/10.1016/j.rppede.2016.03.003

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PROFILAXIA PARA OFTALMIA NEONATAL

A oftalmia neonatal é uma doença oftalmológica causada por vírus, bactérias ou substâncias
químicas, sendo a Neisseria gonorrhoeae um agente etiológico comum, ocorrendo a infecção
durante o trabalho de parto, com a passagem do feto pelo canal de parto. O risco de complicações,
como a sepse, meningite e pneumonia justifica a importância da profilaxia dessa doença.

A oftalmia neonatal possui diagnóstico clínico. As principais manifestações dessa patologia são a
hiperemia conjuntival, o prurido ocular, o edema palpebral e a secreção cujo aspecto depende da
etiologia. Deve ser feito diagnóstico diferencial com a obstrução congênita das vias lacrimais, que
se manifesta por lacrimejamento constante, geralmente unilateral, além de hiperemia, edema e dor
locais.

O tratamento é melhor instituído após a identificação do agente etiológico.

A profilaxia da oftalmia neonatal deve ser realizada na 1ª hora seguinte ao nascimento. Na prática
clínica, usa-se um destes medicamentos tópicos:

Povidona a 2,5%;

Nitrato de prata a 1%;

Eritromicina a 0,5%; ou

Tetraciclina a 1%.

REFERÊNCIAS

1. DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DE NEONATOLOGIA (Brasil). Sociedade Brasileira de


Pediatria. Profilaxia da Oftalmia Neonatal por Transmissão Vertical. 9. ed. [S.I]: Revista
Residência Pediátrica, 2019. 6 p. Disponível em:
https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/22851d-
DCProfilaxia_da_Oftalmia_Neonatal_TransmVert.pdf. Acesso em: 01 jan. 2022.

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PARALISIA DO PLEXO BRAQUIAL

A paralisia do plexo braquial neonatal é a paralisia flácida neuromotora decorrente de lesão por
tração, compressão ou estiramento de uma ou mais raízes nervosas do plexo braquial durante um
trabalho de parto distócico.

O plexo braquial é uma complexa rede nervosa que dá origem a todos os nervos motores e
sensitivos do membro superior. Ele se origina a partir dos ramos anteriores dos nervos espinais C5 a
T1, que se fundem e se ramificam, se organizando em troncos e divisões, até finalmente formarem
os ramos terminais.

O estiramento é a causa mais comum de paralisia do plexo braquial, cuja lesão se dá


principalmente a nível de tronco superior (C5-C6).

São fatores de risco para paralisia do plexo braquial:

● [Fetais] Macrossomia, anormalidades congênitas, oligoidrâmnio, apresentação pélvica.


● [Maternos] Idade superior a 35 anos, pós-datismo, diabetes mellitus prévia, diabetes mellitus
gestacional, passado de paralisia do plexo braquial em outros partos, malformações uterinas,
desproporção céfalo-pélvica.
● [Peripartais] Distócia de ombro, uso de ocitocina, apresentação pélvica, extração à vácuo,
uso de fórceps, compressão direta do ombro durante o parto, período expulsivo prolongado.

Seddson e Sunderland classificaram a lesão do plexo braquial em três tipos:

1. Neuropraxia: É a lesão menos danosa. O déficit na condução se dá por estiramento simples


das fibras nervosas, com edema e hemorragias perineurais. Pode ocorrer recuperação total.
2. Axonotmese : Ocorre distensão e rompimento de fibras, com hemorragias importantes.
3. Neurotmese: É a lesão mais danosa. Há rompimento quase total do tronco do plexo braquial.
A recuperação é infrequente.

São sinais e sintomas dessa condição: Reflexo de Moro assimétrico; ausência de movimentos no
membro superior afetado; ptose, miose e enoftalmia (Síndrome de Horner); e dor à mobilização do
membro (possivelmente por fratura de clavícula associada).

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São diagnósticos diferenciais a fratura de úmero e/ou clavícula, a epifisiólise proximal do úmero e a
osteomielite neonatal.

Exames de imagem, como a radiografia simples de tórax podem ser usados para diagnóstico
diferencial com fratura de clavícula ou de úmero. Ressonância nuclear magnética e mielograma são
exames complementares de menor uso.

O tratamento é baseado na fisioterapia motora do membro, para a sua reabilitação funcional. O


tratamento cirúrgico é uma alternativa quando não há evolução do quadro satisfatória.

REFERÊNCIAS

1. BRITO, Maria Auxiliadora Ferreira; NETO, Modesto Leite Rolim. Neonatal brachial plexus
paralysis: a discussion on the light of literature. Amadeus International Multidisciplinary
Journal, v. 4, n. 7, p. 162-177, 2019. GHIZONI, Marcos Flávio et al. Paralisia obstétrica de
plexo braquial: revisão da literatura. Obstetrics brachial plexus palsy: literature review.
Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 39, n. 4, 2010

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Relatório de aula prática referente ao dia 12/12/2022 - Enfermaria neonatal do Hospital
Maternidade São Vicente de Paulo - Dra. Maria Auxiliadora

1. Anamnese

1.1. Identificação da mãe: F.G, 36 anos, do lar, casada, procedente de Penaforte.

1.2. Identificação do neonato: Maria Cecília, 16 horas de vida, sexo feminino.

1.3. Queixa principal: “Não consegue mamar”.

1.4. História da doença atual: Mãe refere que neonato nascida com 41 semanas e 01 dia de
gestação, com bom tônus, respirando confortavelmente e sem necessidade de reanimação, não
consegue ser amamentada adequadamente desde o nascimento, pois interrompe a amamentação,
estando sendo nutrida com fórmula láctea administrada por via oral com uso de colher, cuja dose é
de 70 ml de 03 em 03 horas. Nega febre, icterícia, diarreia, irritabilidade, sonolência e distensão
abdominal.

1.5. Antecedentes perinatais: 36 anos, G4P3A1, realizou 12 consultas de pré-natal, pré-natal sem
intercorrências, não fumou ou consumiu bebidas alcoólicas durante a gestação, parto vaginal sem
uso de fórceps às 41 semanas e 1 dia de gestação. RN nascido com estatura de 49cm, perímetro
cefálico de 36cm, peso de 3.452g, não fez uso de oxigênio, APGAR 9/9, fez clampeamento tardio
do cordão umbilical.

2. Exame físico

Ectoscopia: Estado geral bom, anictérica, acianótica, afebril, normocorada, mancha mongólica em
região lombar, pele de aspecto desidratado, idade de 39 semanas e 6 dias segundo o método de
Capurro.

Dados antropométricos: PC = 35cm; PT = 34cm; Estatura = 50cm.

Aparelho cardiovascular: Bulhas cardíacas normofonéticas em dois tempos, ritmo cardíaco regular,
sem sopros, 123 batimentos por minuto.

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Aparelho respiratório: Murmúrio vesicular presente em ambos hemitórax, sem ruídos adventícios.

Aparelho digestivo: Abdome semigloboso, flácido, depressível, indolor, sem abaulamentos ou


depressões, sem visceromegalias palpáveis. Ruídos hidroaéreos presentes e difusos em todos os
quadrantes abdominais.

Aparelho genitourinário: Genitália feminina de aspecto normal, ausência de epispádia ou


hipospádia.

Extremidades: Extremidades simétricas, sem sinais de TVP, Manobra de Ortolani sem alterações.

3. Hipótese diagnóstica

Hipoglicemia.

4. Condutas

4.1. Encaminhamento ao banco de leite;

4.2. Programar teste de triagem de cardiopatias congênitas graves;

4.3. Orientações gerais

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Relatório de aula prática referente ao dia 15/12/2022 - Centro de Especialidades e
Diagnósticos do Crato - Dra. Maria Auxiliadora

Visita ao posto de realização do teste de triagem sanguínea neonatal

Na manhã do dia 12 de dezembro de 2022 acompanhamos, sob a orientação da docente Maria


Auxiliadora, o serviço de teste de triagem sanguínea neonatal. A enfermeira responsável informou-
nos acerca do procedimento técnico e das particularidades da coleta, manejo, transporte e
processamento das amostras. Tivemos a oportunidade de observar o sangue da região plantar do pé
dos pacientes ser coletado nos papéis apropriados. Durante a coleta, as mães permanecem de pé
segurando o neonato, o qual apoia o queixo no ombro materno. A técnica de enfermagem que
praticava a punção posicionava-se em sedestação, defronte à acompanhante, realizava a assepsia
com álcool 70%, com a cautela de esperar a secagem plena do antisséptico, friccionava o calcanhar
do lactente para estimular a vasodilatação e puncionava, mediante o uso de lancetas específicas para
a coleta de sangue, uma das laterais da região plantar do calcanhar. Depois da coleta, posicionava a
criança em decúbito dorsal, pressionando com delicadeza o sítio da punção com um chumaço de
algodão seco, aguardando o término do sangramento para a liberação da paciente, enquanto
prestava informações gerais à acompanhante responsável pelo neonato.

A seguir, o exemplo do resultado de um teste de triagem sanguínea neonatal:

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Figura 5: resultado de um teste de triagem sanguínea neonatal.

Observe-se que no presente caso o rastreio para deficiência de biotinidase foi positivo, sendo
necessária a coleta de uma nova amostra sanguínea para exclusão de resultado falso-positivo e
conseguinte confirmação da doença em questão.

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REFERÊNCIAS

1. Portaria N° 2.068, de 21 de outubro de 2016, Ministério da Saúde.

2. UNGERER, Regina LS; MIRANDA, Ana TC de. História do alojamento conjunto. J


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