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ARTIGO REVISÃO

Sinequia vulvar: uma condição ainda desconhecida.


VULVAR SYNECHIA: A STILL UNKNOWN CONDITION.

Brennda Mesquita Ferreira e Vanuza Maria Rosa


DOI – 10.5935/2236-5117.2022v59a278

RESUMO
Brennda Mesquita Ferreira– Afiliação(ões): [1] - Unifimes, Medicina -
Trindade - GO - Brasil
Sinequia vulvar refere-se à uma condição clínica E-mail:brenndaamesquitaa@gmail.com
benigna em que o introito vaginal é coberto pelas
faces internas dos pequenos lábios, na linha média. Vanuza Maria Rosa – Afiliação(ões): [2] - Unifimes, Medicina - Trindade
- GO - Brasil
A incidência relatada é de 0,6-5% entre as meninas E-mail: vanuzamariarosa@gmail.com
pré-púberes. Não há uma etiologia definida, porém
sabe-se que alguns fatores como hipoestrogenismo Total: 2 autores

podem estar associados à gênese. Embora seja uma


condição assintomática, benigna e com bom prog-
nóstico na grande maioria dos casos, pode trazer Correspondência: Brennda Mesquita Ferreira
complicações se não tratada. O manejo pode ser
E-mail: brenndaamesquitaa@gmail.com
clínico ou cirúrgico. O presente trabalho objetiva
revisar os aspectos etiológicos, comparar o que há
de mais atualizado sobre o tratamento clínico ver-
sus cirúrgico da sinequia vulvar na pediatria e dar Recebido em 16-05-2022. Aceito em 24-06-2022.

mais visibilidade do tema à prática clínica. A me- Conflito de interesses: Nada a declarar.

todologia utilizada foi revisão descritiva-narrativa Fonte de financiamento: Não

da literatura disponível sobre o tema usando as se- É Ensaio Clínico? Não

guintes bases de dados: PubMed, SciELO e Google


Acadêmico e os descritores: sinequia vulvar, tera-
pêutica e pediatria, em conjunto com o operador ABSTRACT
booleano AND. A partir da revisão, foi observado
que há diversos possíveis fatores etiológicos e que Vulvar synechia refers to a benign clinical condi-
não há consenso sobre qual a melhor prática a ser tion in which the vaginal introitus is covered by
adotada: clínica ou cirúrgica. Isso porque as taxas the inner surfaces of the labia minora, in the mi-
de sucesso e recidiva descritas são semelhantes dline. The incidence found is 0,6-5% of prepubertal
entre as diferentes abordagens. Chama atenção a girls. There’s no defined etiology, but it’s known
prevalência ainda subestimada e casos subdiag- that some factors such as hypoestrogenism may
nosticados, devido à falta de conhecimento sobre be associated to genesis. Although it’s an asymp-
a condição. Conclui-se que há necessidade de uma tomatic, benign condition with good prognosis in
maior divulgação do tema e também de mais estu- most cases, there may be complications when left
dos randomizados com grupo controle para que o untreated. Management can be clinical or surgical.
tratamento seja preciso e baseado em evidências This paper aims to review the etiological aspects,
científicas. compare the most up-to-date information on cli-
nical versus surgical treatment of vulvar synechia
Palavras-chave: terapêutica, pediatria, sinequia in pediatrics and give more visibility of the topic
vulvar. to clinical practice. The methodology used was a

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descriptive-narrative review of the available litera- de oclusão, pode haver dificuldade em eliminar a
ture on the subject using the following databases: urina, levando a uma maior probabilidade de infec-
PubMed, SciELO and Google Scholar and the des- ções urinárias e genitais na criança.4
criptors: labia minora synechia, therapeutics and
pediatrics, with the Boolean operator AND. From A questão psíquica, tanto da paciente quanto da fa-
the review, it was observed that there are several mília envolvida nesta condição pode gerar grandes
possible etiological factors and that there’s no con- repercussões. Há um estigma de aberração, anor-
sensus on the best practice to be adopted: clinical malidade e/ou de hermafroditismo, que não se
or surgical. This is because the rates of success and confirmam, diante o caráter benigno da condição.5
recurrence described are similar between the dif-
ferent approaches. There are still underestimated A conduta da sinequia vulvar pode ser expectan-
prevalence and underdiagnosed cases, due to the te, clínica, através do uso de pomadas ou cirúrgica,
lack of knowledge about the condition. It’s conclu- não havendo consenso estabelecido sobre a melhor
ded that there’s a need for greater dissemination terapêutica a ser instituída.2
of the topic and also for more randomized studies
with a control group so that the treatment is accu- Diante do exposto, os autores estabeleceram co-
rate and based on scientific evidences. mo objetivos desta revisão de literatura revisar os
aspectos etiológicos e comparar o que há de mais
Keywords: labia minora synechia, therapeutics, atualizado a respeito do tratamento clínico versus
pediatrics. cirúrgico da sinequia vulvar na pediatria, a fim de
facilitar a tomada de decisões terapêuticas atua-
INTRODUÇÃO lizadas e auxiliar na maior visibilidade do tema à
prática clínica, chamando a atenção para o sub-
Sinequia vulvar, também conhecida como aderên- diagnóstico da condição.
cia de pequenos lábios vaginais, refere-se à uma
condição clínica em que o introito vaginal, locali- METODOLOGIA
zado abaixo do clitóris é coberto superficialmente
pelas faces internas dos pequenos lábios, na linha A metodologia deste trabalho consiste em uma re-
média, formando uma membrana translúcida. Com visão descritiva-narrativa da literatura disponível
isso, o canal vaginal pode encontrar-se ocluído de sobre o tema, com finalidade de comparar o ma-
maneira parcial ou total, podendo ou não estarem nejo clínico versus cirúrgico da sinequia vulvar na
descobertos o orifício uretral e vaginal.1 pediatria. Assim, a pesquisa foi realizada nas se-
guintes bases de dados: PubMed, SciELO e Google
A incidência encontrada nas meninas pré-púberes Acadêmico e utilizando os descritores sinequia
varia entre 0,6-5%1. Observa-se o pico de incidên- vulvar, terapêutica e pediatria, em conjunto com
cia em meninas abaixo dos 2 anos de idade, sendo o operador booleano AND.
incomum a ocorrência em recém-nascidas e após
a puberdade.2 Definidos como critérios de inclusão estão os arti-
gos disponíveis na íntegra, gratuitos, nos idiomas
Não há uma etiologia definida para a afecção até o português, inglês e espanhol. Artigos que não se
presente momento. Acredita-se que fatores como enquadrem nos critérios acima foram automati-
hipoestrogenismo, processos inflamatórios geni- camente excluídos. Entre os artigos selecionados,
tais, higiene inadequada e traumas podem estar aqueles duplicados e aqueles que não condizem
lincados à gênese da aderência labial.1 com o objetivo proposto após a leitura do resumo
também foram excluídos. Entre os artigos encon-
É uma condição benigna, diagnosticada pelo exa- trados, foram utilizados os treze que melhor discu-
me físico e que na grande maioria dos casos não tiram o assunto e preencheram todos os critérios
causa sintomas3. No entanto, a depender do grau mencionados.

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RESULTADOS Em razão de grande parte dos quadros clínicos
serem assintomáticos, a afecção pode passar des-
A sinequia vulvar tem sua prevalência subestimada percebida e sua prevalência consequentemente ser
na população pediátrica, em grande parte, devido subestimada.6 O fato do exame físico ginecológico
ao desconhecimento sobre a afecção. Tal fato leva nem sempre ser realizado ou mesmo ser realizado
a uma discussão e visibilidade ainda restritas do de forma superficial, contribui, junto a ausência de
assunto, contribuindo de forma substancial para o manifestações clínicas, para o subdiagnóstico.7
subdiagnóstico. Mesmo quando corretamente diag-
nosticada, há de se ressaltar a falta de consenso so- Alguns estudos indicam que o índice verdadeiro
bre o melhor tratamento a ser estabelecido, visto seria de 38,9% das meninas antes da puberdade.
que as taxas de sucesso e recidiva são semelhantes Tais estudos ressaltam ainda o fato de que algumas
entre os diferentes métodos existentes. O que já es- pacientes sejam encaminhadas erroneamente co-
tá fundamentado, é que se trata de uma condição mo suspeita de malformação vaginal e/ou abuso
benigna, com bom prognóstico e auto resolutiva sexual6 e que investigação adicional sem necessi-
em 100% dos casos até a puberdade. dade seja feita, atrasando o tratamento e levando a
custos de saúde não necessários, além do impacto
Desta forma, esta revisão de literatura contribui emocional para paciente e família.7
tornando o tema familiar à prática clínica dos
médicos assistentes, a fim de sanar estas lacunas. A etiologia não está ainda totalmente definida, sen-
Além disso, colabora para o conhecimento a res- do proposta por várias teorias. Sabe-se até o mo-
peito dos diferentes fatores relacionados à sua mento que o gatilho necessário para o surgimento
etiologia, possíveis medidas preventivas e condu- é o dano superficial da mucosa vaginal e que se tra-
ta oportuna, sendo uma ferramenta de ajuda para ta de uma condição multifatorial.8 Desse modo, vá-
a tomada de decisão atualizada, o que propicia ao rios fatores podem estar associados à gênese, sendo
paciente acesso precoce às medidas de prevenção o hipoestrogenismo e a inflamação vulvovaginal os
e ao melhor tratamento disponível, a fim de evitar principais envolvidos na patogenia.6
complicações clínicas e psicológicas relacionadas à
sinequia vulvar. O hipoestrogenismo, que é fisiológico na pré-pu-
berdade, como fator que predispõe a sinequia vul-
DISCUSSÃO var é explicado em razão dos níveis hormonais e
sua relação com a faixa etária. Em crianças infe-
Sinequia vulvar, coalescência ou aderência dos pe- riores a 3 meses de idade, a presença do estrógeno
quenos lábios vaginais é uma condição clínica be- materno oriundo da gravidez é um fator protetor,
nigna adquirida, em que o orifício externo da vagi- assim como a partir dos 6 anos de idade, em que
na é coberto superficialmente por uma membrana se inicia a produção endógena do hormônio, ante-
translúcida na linha média, decorrente da fusão cedendo a puberdade. A ocorrência da aderência
das faces internas dos lábios menores, obstruindo labial na idade pré-puberal é explicada pelos baixos
parcial ou completamente o introito vaginal e a níveis de produção de estrógeno, que culmina no
uretra.6 ressecamento e atrofia da mucosa vaginal, favore-
cendo a inflamação e a fusão dos lábios menores.6
A incidência em meninas pré-púberes de até 6 anos
de idade varia de 0,6 a 5%, sendo o pico de ocor- Ainda, casos durante a puberdade são raros e quan-
rência por volta do segundo ano de vida, sendo do acontecem, resolvem-se espontaneamente, de-
incomum em recém-nascidas e após a puberdade. vido à crescente produção hormonal que ocorre
Contudo, muito raramente pode ocorrer imediata- nessa faixa etária. Aplicação tópica de cremes à ba-
mente antes ou durante a puberdade, no pós-parto, se de estrogênio com altos índices de sucesso tam-
voltando a ser comum na terceira idade.6 bém dá suporte à teoria da deficiência estrogênica.6

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A inflamação local pode ser causada por vulvovagi- Dentre os possíveis achados no quadro clínico
nites, eczema, trauma, uso de roupas apertadas, má sintomático, podem ocorrer retenção de urina,
higiene dos genitais, pouca troca de fraldas duran- obstrução do jato, dificuldade miccional, disúria,
te o dia, limpeza excessiva e uso de sabonetes ou pseudoincontinência urinária, prurido vaginal,
agentes irritantes que levam à dermatite vulvar.6 vulvovaginites e até infecções bacterianas do tra-
to urinário como bacteriúria assintomática, cisti-
A inflamação por vulvovaginites ocorre em virtude te e pielonefrite. Em raros casos pode evoluir pa-
de doenças infecciosas causadas por Chlamydia tra- ra distensão vesical e hidronefrose.6 Mesmo que
chomatis, Candida, Trichomona vaginalis, Streptococcus apresente sintomas, ressalta-se que a sinequia não
do grupo A, Gardnerella vaginalis, Neiserria gonor- interfere no desenvolvimento sexual nem na ferti-
rhoeae.2 Em adição, o pH neutro das secreções vagi- lidade da criança.8
nais em meninas pré-púberes, propicia a inflama-
ção e infecção.9 Quando não causa sintomas, pode ser diagnos-
ticada pelos cuidadores durante a higiene ínti-
Tanto a limpeza demasiada da região quanto a falta ma da criança e/ou pela avaliação do pediatra.6
de higiene dos genitais podem predispor à inflama- Apesar de ser um achado frequente e benigno,
ção. A primeira, em razão dos microtraumas cau- a constatação da diferença na anatomia vul-
sados à vulva, levando a uma irritação mecânica e var, provoca ansiedade e receio nos cuidadores,
por fim, adesão dos lábios menores. Já a segunda, visto que há um estigma de aberração, anor-
devido ao longo contato da região com fezes e uri- malidade e/ou de hermafroditismo, que não se
na, propicia um processo inflamatório pelo contato confirmam.8
com bactérias, parasitas e fungos.9
As evidências identificadas em estudos mostram
Dessa forma, o processo inflamatório da mucosa que a aderência labial é fator de risco para o desen-
vaginal e da pele vulvar levam à perda do epité- volvimento de vulvovaginites e infecções do trato
lio superficial escamoso. Durante a reepitelização urinário, as quais ocorrem em 3-5% na população
do tecido, ocorre uma disfunção dos macrófagos e geral de meninas e em mais de 40% nas que apre-
fibroblastos locais com a formação de aderências sentam sinequia.11
fibrosas na linha média, causando a fusão dos pe-
A
quenos lábios vaginais. Um ciclo vicioso é formado, O diagnóstico da sinequia vaginal é feito através
perpetuando a sinequia, visto que a aderência tam- do exame físico, pelo médico pediatra e não requer
bém facilita a ocorrência de inflamação.2 exames complementares e nem imagiológicos.6

Já por volta dos 3 anos de idade, as crianças deixam Ao exame físico, a vulva encontra-se aplanada,
de usar fraldas e se mantêm na posição ortostática sem evidência dos pequenos lábios, que estão
com mais frequência, o que permite a abertura dos unidos em uma membrana obstruindo o orifício
lábios vaginais. Por consequência, ocorre menos vaginal.6 Em grande parte dos casos, a membrana
inflamação local e uma redução na incidência de estende-se desde a comissura posterior vulvar até
casos de sinequia.8 o clitóris, deixando orifício de passagem da urina
livre. Menos comumente, ela é parcial, cobrindo
É postulado que a cor da pele também atua como em parte o óstio vaginal.10 Os grandes lábios e o
fator constitucional no desenvolvimento da ade-B clitóris não apresentam alterações. O que reforça
rência labial. Meninas brancas e meninas negras a confirmação do diagnóstico é a presença de um
com hipopigmentação da mucosa vulvar são aco- exame físico normal ao nascimento, podendo-se
metidas com mais frequência.10 No entanto, não há excluir uma malformação congênita.6
fisiopatologia básica que explique esse aumento da
prevalência observada. Exames laboratoriais de sangue, urina e cultura
podem ser colhidos em caso suspeita de infecção

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associada, causada por bactérias, fungos ou O uso do estrogênio tópico justifica-se por pro-
parasitas, a fim de instituir um tratamento mover a cicatrização e reepitelização do tecido6,
específico adicional.6 graças a presença de receptores de estrogênio na
vulva11, reduzir a resposta inflamatória, aumentar
Faz-se fundamental a diferenciação entre uma a deposição de colágeno, estimular a angiogênese
condição congênita e a sinequia vulvar, que é uma e contração da lesão.6
afecção adquirida. A distinção está na linha mé-
dia formada pela fusão dos lábios menores, que é Devem ser aplicados sobre a membrana, delicada-
ausente no quadro congênito e é de característica mente, fazendo uma pequena pressão, duas vezes
translúcida na aderência vaginal.2 ao dia, durante 2-4 semanas e por até 8 semanas.
Os efeitos adversos que podem surgir são hiper-
Outro diagnóstico diferencial que deve ser descar- pigmentação vulvar e areolar, irritação da pele,
tado é o trauma, podendo ser acidental ou inten- telarca, sangramento vaginal, leucorreia, desen-
cional, como nos casos de abuso sexual.6 Deve-se volvimento de pelos púbicos e raramente puber-
excluir também agenesia vaginal,7 ambiguidade dade precoce, que cessam com a interrupção do
sexual, líquen escleroso6 e hímen imperfurado.9 tratamento. A taxa de sucesso está entre 50-100%2
e o índice de recorrência de 11%.13 É recomenda-
Até o presente momento, não há um consenso es- do manter a aplicação do hormônio após a reso-
tabelecido sobre a melhor terapêutica a ser ado- lução do quadro, 1 vez à noite, no mínimo por 2
tada, em razão da etiologia não estar certamente semanas.6
definida.1 Sobretudo, deve ser respeitada a indivi-
dualidade de cada caso e as evidências cientificas Como adjuvante, pode ser utilizada a vaselina duas
disponíveis sobre o assunto. vezes ao dia por 30 dias após a separação dos pe-
quenos lábios. Ademais, as medidas não farmacoló-
A conduta varia desde expectante, que diz respeito gicas já citadas também colaboram para a eficácia
à observação e acompanhamento do caso, trata- do tratamento clínico e para evitar recidivas.1
mento clínico e até separação cirúrgica, nos casos
em que a sintomatologia do quadro é importante O creme tópico de betametasona a 0,05% é outra
ou quando não houve resolução com as medidas opção para o tratamento, visando reduzir o proces-
anteriores.2 so inflamatório da mucosa e pele vulvares.2 O uso
deste creme para sinequia vaginal é extrapolado do
O manejo conservador, inclui medidas não farma- sucesso e segurança no tratamento da fimose.6
cológicas com instruções de higiene dos genitais,
cuidado com as roupas íntimas, sobre o uso de fral- A aplicação deve ser feita na membrana duas vezes
das, remoção de substâncias irritantes e prevenção por dia durante 4-6 semanas, com eficácia em tor-
de vulvovaginites. É suficiente na maioria dos casos no de 70% e sem os efeitos secundários do estrogê-
assintomáticos em crianças pré-púberes, com estu- nio. A maioria das crianças necessitam de apenas
dos que mostram resolução espontânea em um ano um ciclo de aplicação. A taxa de recorrência é de
de 80% e de 100% até a puberdade.2 23%. Os efeitos adversos da betametasona tópica
são eritema, foliculite, prurido, vesículas, hipertri-
O tratamento clínico, conta com o uso de medidas cose e atrofia da pele.6
farmacológicas, quando a conduta expectante não
mostra resultado ou quando o caso clínico é sinto- A separação manual ou cirúrgica dos lábios vagi-
mático. A aplicação tópica de cremes à base de es- nais é indicada sob anestesia geral, para minimizar
trogênio entra como conduta de primeira escolha12, traumas emocionais e psicológicos.12 A realização
podendo estes serem estrogênios equinos conjuga- do procedimento sem qualquer método anestési-
dos, estradiol ou promestrieno.2 co é desaconselhada por ser dolorosa e propiciar
formação de fibrose, cicatriz e consequentemente

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nova aderência.6 É realizada em casos que não res- do exame físico pediátrico, entendendo os fatores
ponderam às terapias anteriores, recorrências, desencadeantes, para instituir o tratamento de for-
adesões completas e profundas, quando a sintoma- ma oportuna, prevenindo possíveis complicações e
tologia é expressiva e em casos graves de obstrução aflição dos cuidadores, além de evitar intervenções
urinária.6,12 A taxa de sucesso varia de 80 a 100% e desnecessárias.
a de recidiva está entre 12-40%, similar aos outros
métodos.6 CONCLUSÃO

O uso de creme de estrogênio após o procedimento Diante de todo o exposto, ressalta-se que a sinequia
mostrou-se benéfico ao estimular a reepitelização e vulvar tem sua prevalência ainda subestimada e é
evitar recidivas.6 Cremes antibióticos também po- uma condição frequentemente subdiagnosticada.
dem ser associados, sendo aplicados 3 vezes ao dia. Até o presente momento, o que se conhece sobre
Em conjunto, dar banhos quentes de assento por 7 a epidemiologia, fisiopatologia e propedêutica foi
dias após a cirurgia também é recomendado.8 descrito na literatura através de estudos observa-
cionais de série de casos em hospitais. Assim, da-
Em um estudo observacional realizado por dos e informação sobre a epidemiologia, etiologia,
Mahmood e colaboradores em 2020, com 273 pa- manejo são provenientes de evidências de baixo
cientes entre 0 e 5 anos apresentando sinequia impacto.
vaginal sintomática, mas sem outras anormalida-
des, o método de separação manual foi utilizado. O Conclui-se que embora ambas as formas de mane-
primeiro procedimento foi realizado com retorno jo, clínico e cirúrgico, tenham taxas semelhantes
agendado após 1 mês. Vinte e seis (9,52%) pacien- de sucesso e recidiva dos diferentes trabalhos revi-
tes abandonaram o tratamento. Duzentos e vinte sados, necessitamos de mais dados, oriundos prefe-
e três crianças (91,2%) obtiveram sucesso na sepa- rencialmente de estudos randomizados com grupo
ração após o primeiro mês. Vinte e quatro (8,79%) controle para uma tomada de decisão baseada em
pacientes tiveram recidiva e foram operadas no- evidências científicas e não apenas na experiência
vamente. Após 1 mês da segunda cirurgia, 100% do médico assistente, permitindo dessa forma, um
não apresentavam mais sinequia. Nenhum outro manejo mais preciso. Nesse sentido, é necessário
método de separação foi adotado, apenas orienta- ainda uma ampla divulgação do tema para que a
ções de higiene e uso de creme antibiótico após o condição clínica seja conhecida, para que assim,
procedimento.4 diminua a frequência dos subdiagnósticos.

Pode-se observar que as taxas de resolução e recor- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


rência são semelhantes entre os métodos. Sabe-se
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