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RESUMO
Brennda Mesquita Ferreira– Afiliação(ões): [1] - Unifimes, Medicina -
Trindade - GO - Brasil
Sinequia vulvar refere-se à uma condição clínica E-mail:brenndaamesquitaa@gmail.com
benigna em que o introito vaginal é coberto pelas
faces internas dos pequenos lábios, na linha média. Vanuza Maria Rosa – Afiliação(ões): [2] - Unifimes, Medicina - Trindade
- GO - Brasil
A incidência relatada é de 0,6-5% entre as meninas E-mail: vanuzamariarosa@gmail.com
pré-púberes. Não há uma etiologia definida, porém
sabe-se que alguns fatores como hipoestrogenismo Total: 2 autores
mais visibilidade do tema à prática clínica. A me- Conflito de interesses: Nada a declarar.
descriptive-narrative review of the available litera- de oclusão, pode haver dificuldade em eliminar a
ture on the subject using the following databases: urina, levando a uma maior probabilidade de infec-
PubMed, SciELO and Google Scholar and the des- ções urinárias e genitais na criança.4
criptors: labia minora synechia, therapeutics and
pediatrics, with the Boolean operator AND. From A questão psíquica, tanto da paciente quanto da fa-
the review, it was observed that there are several mília envolvida nesta condição pode gerar grandes
possible etiological factors and that there’s no con- repercussões. Há um estigma de aberração, anor-
sensus on the best practice to be adopted: clinical malidade e/ou de hermafroditismo, que não se
or surgical. This is because the rates of success and confirmam, diante o caráter benigno da condição.5
recurrence described are similar between the dif-
ferent approaches. There are still underestimated A conduta da sinequia vulvar pode ser expectan-
prevalence and underdiagnosed cases, due to the te, clínica, através do uso de pomadas ou cirúrgica,
lack of knowledge about the condition. It’s conclu- não havendo consenso estabelecido sobre a melhor
ded that there’s a need for greater dissemination terapêutica a ser instituída.2
of the topic and also for more randomized studies
with a control group so that the treatment is accu- Diante do exposto, os autores estabeleceram co-
rate and based on scientific evidences. mo objetivos desta revisão de literatura revisar os
aspectos etiológicos e comparar o que há de mais
Keywords: labia minora synechia, therapeutics, atualizado a respeito do tratamento clínico versus
pediatrics. cirúrgico da sinequia vulvar na pediatria, a fim de
facilitar a tomada de decisões terapêuticas atua-
INTRODUÇÃO lizadas e auxiliar na maior visibilidade do tema à
prática clínica, chamando a atenção para o sub-
Sinequia vulvar, também conhecida como aderên- diagnóstico da condição.
cia de pequenos lábios vaginais, refere-se à uma
condição clínica em que o introito vaginal, locali- METODOLOGIA
zado abaixo do clitóris é coberto superficialmente
pelas faces internas dos pequenos lábios, na linha A metodologia deste trabalho consiste em uma re-
média, formando uma membrana translúcida. Com visão descritiva-narrativa da literatura disponível
isso, o canal vaginal pode encontrar-se ocluído de sobre o tema, com finalidade de comparar o ma-
maneira parcial ou total, podendo ou não estarem nejo clínico versus cirúrgico da sinequia vulvar na
descobertos o orifício uretral e vaginal.1 pediatria. Assim, a pesquisa foi realizada nas se-
guintes bases de dados: PubMed, SciELO e Google
A incidência encontrada nas meninas pré-púberes Acadêmico e utilizando os descritores sinequia
varia entre 0,6-5%1. Observa-se o pico de incidên- vulvar, terapêutica e pediatria, em conjunto com
cia em meninas abaixo dos 2 anos de idade, sendo o operador booleano AND.
incomum a ocorrência em recém-nascidas e após
a puberdade.2 Definidos como critérios de inclusão estão os arti-
gos disponíveis na íntegra, gratuitos, nos idiomas
Não há uma etiologia definida para a afecção até o português, inglês e espanhol. Artigos que não se
presente momento. Acredita-se que fatores como enquadrem nos critérios acima foram automati-
hipoestrogenismo, processos inflamatórios geni- camente excluídos. Entre os artigos selecionados,
tais, higiene inadequada e traumas podem estar aqueles duplicados e aqueles que não condizem
lincados à gênese da aderência labial.1 com o objetivo proposto após a leitura do resumo
também foram excluídos. Entre os artigos encon-
É uma condição benigna, diagnosticada pelo exa- trados, foram utilizados os treze que melhor discu-
me físico e que na grande maioria dos casos não tiram o assunto e preencheram todos os critérios
causa sintomas3. No entanto, a depender do grau mencionados.
A inflamação local pode ser causada por vulvovagi- Dentre os possíveis achados no quadro clínico
nites, eczema, trauma, uso de roupas apertadas, má sintomático, podem ocorrer retenção de urina,
higiene dos genitais, pouca troca de fraldas duran- obstrução do jato, dificuldade miccional, disúria,
te o dia, limpeza excessiva e uso de sabonetes ou pseudoincontinência urinária, prurido vaginal,
agentes irritantes que levam à dermatite vulvar.6 vulvovaginites e até infecções bacterianas do tra-
to urinário como bacteriúria assintomática, cisti-
A inflamação por vulvovaginites ocorre em virtude te e pielonefrite. Em raros casos pode evoluir pa-
de doenças infecciosas causadas por Chlamydia tra- ra distensão vesical e hidronefrose.6 Mesmo que
chomatis, Candida, Trichomona vaginalis, Streptococcus apresente sintomas, ressalta-se que a sinequia não
do grupo A, Gardnerella vaginalis, Neiserria gonor- interfere no desenvolvimento sexual nem na ferti-
rhoeae.2 Em adição, o pH neutro das secreções vagi- lidade da criança.8
nais em meninas pré-púberes, propicia a inflama-
ção e infecção.9 Quando não causa sintomas, pode ser diagnos-
ticada pelos cuidadores durante a higiene ínti-
Tanto a limpeza demasiada da região quanto a falta ma da criança e/ou pela avaliação do pediatra.6
de higiene dos genitais podem predispor à inflama- Apesar de ser um achado frequente e benigno,
ção. A primeira, em razão dos microtraumas cau- a constatação da diferença na anatomia vul-
sados à vulva, levando a uma irritação mecânica e var, provoca ansiedade e receio nos cuidadores,
por fim, adesão dos lábios menores. Já a segunda, visto que há um estigma de aberração, anor-
devido ao longo contato da região com fezes e uri- malidade e/ou de hermafroditismo, que não se
na, propicia um processo inflamatório pelo contato confirmam.8
com bactérias, parasitas e fungos.9
As evidências identificadas em estudos mostram
Dessa forma, o processo inflamatório da mucosa que a aderência labial é fator de risco para o desen-
vaginal e da pele vulvar levam à perda do epité- volvimento de vulvovaginites e infecções do trato
lio superficial escamoso. Durante a reepitelização urinário, as quais ocorrem em 3-5% na população
do tecido, ocorre uma disfunção dos macrófagos e geral de meninas e em mais de 40% nas que apre-
fibroblastos locais com a formação de aderências sentam sinequia.11
fibrosas na linha média, causando a fusão dos pe-
A
quenos lábios vaginais. Um ciclo vicioso é formado, O diagnóstico da sinequia vaginal é feito através
perpetuando a sinequia, visto que a aderência tam- do exame físico, pelo médico pediatra e não requer
bém facilita a ocorrência de inflamação.2 exames complementares e nem imagiológicos.6
Já por volta dos 3 anos de idade, as crianças deixam Ao exame físico, a vulva encontra-se aplanada,
de usar fraldas e se mantêm na posição ortostática sem evidência dos pequenos lábios, que estão
com mais frequência, o que permite a abertura dos unidos em uma membrana obstruindo o orifício
lábios vaginais. Por consequência, ocorre menos vaginal.6 Em grande parte dos casos, a membrana
inflamação local e uma redução na incidência de estende-se desde a comissura posterior vulvar até
casos de sinequia.8 o clitóris, deixando orifício de passagem da urina
livre. Menos comumente, ela é parcial, cobrindo
É postulado que a cor da pele também atua como em parte o óstio vaginal.10 Os grandes lábios e o
fator constitucional no desenvolvimento da ade-B clitóris não apresentam alterações. O que reforça
rência labial. Meninas brancas e meninas negras a confirmação do diagnóstico é a presença de um
com hipopigmentação da mucosa vulvar são aco- exame físico normal ao nascimento, podendo-se
metidas com mais frequência.10 No entanto, não há excluir uma malformação congênita.6
fisiopatologia básica que explique esse aumento da
prevalência observada. Exames laboratoriais de sangue, urina e cultura
podem ser colhidos em caso suspeita de infecção
nova aderência.6 É realizada em casos que não res- do exame físico pediátrico, entendendo os fatores
ponderam às terapias anteriores, recorrências, desencadeantes, para instituir o tratamento de for-
adesões completas e profundas, quando a sintoma- ma oportuna, prevenindo possíveis complicações e
tologia é expressiva e em casos graves de obstrução aflição dos cuidadores, além de evitar intervenções
urinária.6,12 A taxa de sucesso varia de 80 a 100% e desnecessárias.
a de recidiva está entre 12-40%, similar aos outros
métodos.6 CONCLUSÃO
O uso de creme de estrogênio após o procedimento Diante de todo o exposto, ressalta-se que a sinequia
mostrou-se benéfico ao estimular a reepitelização e vulvar tem sua prevalência ainda subestimada e é
evitar recidivas.6 Cremes antibióticos também po- uma condição frequentemente subdiagnosticada.
dem ser associados, sendo aplicados 3 vezes ao dia. Até o presente momento, o que se conhece sobre
Em conjunto, dar banhos quentes de assento por 7 a epidemiologia, fisiopatologia e propedêutica foi
dias após a cirurgia também é recomendado.8 descrito na literatura através de estudos observa-
cionais de série de casos em hospitais. Assim, da-
Em um estudo observacional realizado por dos e informação sobre a epidemiologia, etiologia,
Mahmood e colaboradores em 2020, com 273 pa- manejo são provenientes de evidências de baixo
cientes entre 0 e 5 anos apresentando sinequia impacto.
vaginal sintomática, mas sem outras anormalida-
des, o método de separação manual foi utilizado. O Conclui-se que embora ambas as formas de mane-
primeiro procedimento foi realizado com retorno jo, clínico e cirúrgico, tenham taxas semelhantes
agendado após 1 mês. Vinte e seis (9,52%) pacien- de sucesso e recidiva dos diferentes trabalhos revi-
tes abandonaram o tratamento. Duzentos e vinte sados, necessitamos de mais dados, oriundos prefe-
e três crianças (91,2%) obtiveram sucesso na sepa- rencialmente de estudos randomizados com grupo
ração após o primeiro mês. Vinte e quatro (8,79%) controle para uma tomada de decisão baseada em
pacientes tiveram recidiva e foram operadas no- evidências científicas e não apenas na experiência
vamente. Após 1 mês da segunda cirurgia, 100% do médico assistente, permitindo dessa forma, um
não apresentavam mais sinequia. Nenhum outro manejo mais preciso. Nesse sentido, é necessário
método de separação foi adotado, apenas orienta- ainda uma ampla divulgação do tema para que a
ções de higiene e uso de creme antibiótico após o condição clínica seja conhecida, para que assim,
procedimento.4 diminua a frequência dos subdiagnósticos.