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1 Introdução

Do ponto de vista geral abordarei aqui os temas eutanásia, aborto, violência


doméstica, estupro, clonagem humana e embriões humanos.

A eutanásia levanta atualmente importantes questões no campo da Bioética.


Alguns a enxergam como um instrumento de alívio para os que perderam a
dignidade de viver; outros a veem como algo similar ao assassinato. O termo
"eutanásia" deriva do grego e significa "boa morte", ou seja, uma morte sem
sofrimento - mais precisamente, uma morte para evitar o sofrimento
desnecessário. Atualmente utilizam-se várias designações para a eutanásia:
eutanásia ativa e passiva; eutanásia voluntária, não voluntária e involuntária.
Muitos autores se referem ainda aos termos distanásia, mistanásia e
ortotanásia.

A violência doméstica pode acontecer entre pessoas com laços de sangue,


como pais e filhos, ou pessoas unidas de forma civil, como marido e esposa ou
genro e sogra.
Apesar do nome, este ato de violência nem sempre ocorre dentro da mesma
casa. A violência doméstica pode ser subdividida em violência física,
psicológica, sexual, patrimonial e moral. Também é considerada violência
doméstica o abuso sexual de uma criança e maus tratos em relação a idosos.

O aborto em uma rápida distinção entre os aspectos jurídicos e a medicina. O


aborto no plano jurídico é a interrupção de uma gestação a qualquer tempo
antes do nascimento, neste sentido muitos juristas julgam que o aborto é sim
um crime de homicídio.
Dentro do conceito da Medicina o aborto é a interrupção de uma gravidez até o
final das 22 semanas de gestação.

A clonagem humana é um assunto que a maior parte das pessoas só considera


no sentido reprodutivo, ou seja, a replicação de um humano, mas na verdade o
que a maior parte dos cientistas investiga é a replicação das células da pessoa
e não a pessoa em si. No entanto ambas merecem a mesma atenção visto que
em termos éticos e morais têm as mesmas implicações.
Assim começo por distinguir dois tipos ou dois meios de utilizar a clonagem: a
clonagem terapêutica – que é utilizada para fins de investigação biomédica – e
a clonagem reprodutiva – que é utilizada com a finalidade de reproduzir
indivíduos geneticamente idênticos.
2 Objetivo Geral

O presente trabalho tem por objetivo fixar o olhar na eutanásia voluntária, já


que esta enfrenta uma situação de bastante controvérsia e polêmica social e
médica.

No aborto baseando-se na socialização do assunto com toda a sociedade,


enfocando no que diz respeito à legalidade do aborto e aderir a um
posicionamento social; religioso; político; moral e ético. Sem levar em
consideração opiniões preconceituosas ou baseadas em fatos religiosos.
No estupro refletindo os aspectos legais acerca do estupro, baseado em um
levantamento bibliográfico.

Na clonagem humana não apenas na criação de copias geneticamente iguais


mas no estudo da clonagem humana com objetivo de obter células estatais
para ajudar na cura e tratamento de doenças.

Nos embriões humanos

Em violência doméstica
3 Revisão literária

3.1Embriões humanos.

Prof. Dr. Dirceu Henrique Mendes Pereira


Diretor Clínico da Profert

Os informativos anteriores, abordando a investigação propedêutica do casal


infértil, foram essenciais como alicerces preciosos para a abordagem
terapêutica que será motivo desta comunicação. Cabe salientar que o
tocoginecologista atualizado tem plena condição de orientar os cônjuges no
resgate da sua fertilidade, mantendo uma relação médico-paciente conquistada
há vários anos tão importante para o estado emocional do casal.

Uma vez estabelecido o diagnóstico da infertilidade, o profissional deve apelar


ao seu senso crítico para decidir sobre o tratamento do casal. Alguns
parâmetros são cruciais para orientar a conduta: a idade feminina, a
complexidade do caso, os recursos técnicos disponíveis e a condição
socioeconômica. Vale lembrar que as etapas devem ser seguidas oferecendo
inicialmente recursos terapêuticos mais simples, desde que eficazes sob a
ótica da medicina baseada em evidência.

Condições que exigem encaminhamento imediato para a fertilização in


vitro (FIV)

Patologia tubária

Obstrução tubária bilateral, lesão tuboperitoneal moderada/ grave, ausência


congênita ou cirúrgica de tubas. Em algumas situações é possível indicar a
salpingoplastia em primeira instância levando-se em conta o grau de
comprometimento do oviduto, a fertilidade masculina, a idade feminina e a
habilidade cirúrgica da equipe médica.

Alterações seminais

Oligoastenoteratospermia moderada/grave, azoospermia obstrutiva,


azoospermia germinativa. A maioria dessas condições exige a aplicação da
injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), particularmente as
azoospermias. Essa técnica propiciou o aparecimento de vários procedimentos
cirúrgicos para obtenção de espermatozoides do epidídimo e/ou testículo,
revertendo à fertilidade a uma legião de homens até então considerados
estéreis.

Alterações morfofuncionais dos ovários

Ausência congênita ou cirúrgica, falência ovariana precoce, refratariedade de


receptores gonadotrópicos — estados clínicos que selam a possibilidade da
mulher engravidar. Graças ao programa de ovulodoação, a paciente pode
resgatar sua fertilidade.
Comprometimento uterino

Ausência congênita ou cirúrgica do útero, sinequia extensa, metrose de


receptividade, adenomiose grave etc. Nesses casos a indicação é a cessão
temporária do útero de uma parente próxima, procedimento permitido pelo
Conselho Federal de Medicina(CFM) desde 1992.

Doenças genéticas

O diagnóstico genético pré-implantacional (DGPI) realizado mediante biópsia


embrionária foi uma grande conquista aplicada na FIV, permitindo a
transferência de embriões saudáveis e mitigando o sofrimento de inúmeros
casais. Atualmente as doenças oriundas de anomalias estruturais ou gênicas
podem ser reconhecidas pela técnica de FISH ou PCR, respectivamente, com
índice de acerto elevado.

Adversidade imunológica

A presença de anticorpos antiespermatozoides no homem ou na mulher pode


interferir na fecundação. Antes da FIV, os tratamentos eram insatisfatórios,
valendo-se da abstinência sexual ou uso de preservativo por período de 6 a 12
meses para dessensibilizar a barreira imunitária; ou ainda o uso de corticoide
em alta dose com o objetivo de promover imunossupressão. Felizmente, o
advento da ICSI trouxe um novo alento, de tal sorte que o índice de fertilização
dos óvulos se assemelha ao de outras causas de infertilidade.

Doença metabólica grave

Alguns quadros clínicos como a síndrome plurimetabólica grave contraindicam


a gravidez em decorrência do alto risco maternofetal. Essa condição requer a
transferência de embriões para uma mãe substituta.

Neoplasia maligna em idade reprodutiva

Cada vez mais, cresce a procura para a preservação da fertilidade em


mulheres acometidas por doença neoplásica. Uma das mais preocupantes é o
câncer de mama que está aparecendo em idade mais precoce, acometendo a
mulher em plena fase reprodutiva. Hoje é mandatório criopreservar tecido
ovariano ou oocistos antes de radioterapia ou quimioterapia. As duas opções
dependem da FIV quando a mulher for liberada para engravidar.
Recentemente, o congelamento de oocisto pelo método de vitrificação tem
dado resultados espetaculares, com taxa de recuperação de 80% a 90% e taxa
de gravidez similar à de embriões frescos.

Relacionamento homo afetivo

A sociedade contemporânea está vivendo grandes transformações sociais, de


tal sorte que o conceito de família está mudando gradativamente. É
compreensível que duas pessoas do mesmo sexo nos procurem com o objetivo
de ter filhos, e isso pode envolver os recursos da FIV para atingir tal objetivo. A
normatização do CFM elaborada em 1992 não previu essa situação, de modo
que deve-se efetuar uma consulta ao Conselho Regional Estadual para atender
a essa solicitação com o intuito de garantir respaldo de natureza ética. Mais do
que nunca, a sociedade brasileira clama por uma legislação regulamentadora
das técnicas de reprodução assistida, que contemple os avanços científicos e
sociais da atualidade.

Condições em que a FIV deve ser indicada na sequência do tratamento

A investigação básica e/ou complementar foi essencial para a decisão de


indicar a FIV nas situações anteriores, onde essa técnica é a única alternativa
eficaz. No entanto, a resolução da infertilidade pode ser conquistada mediante
outros procedimentos mais simples e menos onerosos, atendendo ao apelo do
custo-benefício.

Quando o canal genital está livre de obstrução ou aderências, o sêmen


apresenta-se normal ou levemente alterado, os ovários são passíveis de
responder adequadamente à estimulação medicamentosa, o tocoginecologista
deve tentar inicialmente o coito programado ou a inseminação intrauterina, a
depender de cada caso. A escolha dos indutores de ovulação, bem como do
esquema a ser utilizado deve ser criteriosa para se obter resultados
satisfatórios e evitar a iatrogenia médica, tais como o hiperestímulo ou a
gestação múltipla. Após quatro tentativas sem êxito, deve-se indicar a FIV,
como já foi salientado anteriormente.

A infertilidade sem causa aparente (ISCA) merece comentários especiais em


consequência das peculiaridades que a cerca. Os meios semióticos não
invasivos atuais não conseguem detectar nenhuma anormalidade no tocante à
permeabilidade do canal genital feminino, no seminograma, e no sistema
hipotálamo-hipofisárioovariano. A avaliação complementar (endoscópica,
imunológica e biologia molecular) também não revela alterações significativas
que possam estar implicadas na fertilidade do casal. Embora a maioria
recomende a inseminação intrauterina, com estimulação ovariana e
beneficiamento do sêmen, já existe uma corrente de pesquisadores que
preconiza a FIV, alegando que o casal se expôs durante vários meses sem
lograr o seu objetivo e que a técnica extracorpórea consegue suplantar defeitos
no mecanismo da ovulação, da captação ovular, da fertilização, do micro-
ambiente e do transporte tubário. Esse raciocínio é particularmente aplicado à
mulher com idade acima dos 37 anos que inicia a jornada crepuscular da
fertilidade, exibindo taxas expressivas de embriões aneuploides, embora os
exames semióticos não expressem alterações significativas.

A endometriose pélvica é outra entidade nosológica que pode condicionar


repercussões diversas sobre o arcabouço reprodutivo, afetando as tubas, a
relação tubo-ovariana, os ovários, o leito de implantação etc.. Quando está em
estádio moderado/grave ou avançado não há dúvida sobre a indicação de FIV,
pois os resultados são estaticamente significativos. No entanto, quando o
estadio é mínimo/leve, a mulher deve ser observada como portadora de ISCA,
merecendo a mesma orientação terapêutica explicitada anteriormente.
A produção independente, alusão dada à mulher que não tem parceiro
constituído, é contemplada pela resolução do CFM. A inseminação intrauterina
com sêmen de doador é a primeira escolha, reservando-se a FIV para
situações especiais ou após quatro tentativas frustradas.

A síndrome dos ovários policísticos (SOP) tem resposta favorável com o citrato
de clomifeno; no entanto, quando ocorre resistência à estimulação com esse
agente farmacológico é necessário usar as gonadotrofinas para se obter
resposta monofolicular ou dois a três folículos no máximo, para não expor a
mulher a hiperestímulo ovariano ou gestação múltipla. Não são raras as
possibilidades de iatrogenia, razão pela qual a indicação de FIV é mais segura
possibilitando a criopreservação de óvulos e a transferência de embriões
congelados em ciclos subsequentes.

A hostilidade do muco cervical, impeditiva da ascensão dos espermatozoides, é


indicação inicial de inseminação intrauterina, conferindo resultado satisfatório
desde que os outros fatores de infertilidade estejam normais. Se não
conseguirmos gravidez ao cabo de quatro ciclos, convém indicar FIV na
sequência.

Bibliografia: Bibliografia: http://www.profert.com.br/fasciculos/fiv/ - acessado


em 18/10/2014

3.2 Eutanásia

Eutanásia e Morte Assistida

O processo de vida-morte é amplamente discutido no âmbito bioético. A


discussão não gira em torno somente da interrogação sobre a morte, sob o
aspecto de decisões que consideram apenas o resultado final da eutanásia,
mas também considera o tema sob a perspectiva de que tudo aquilo situado
entre o nascer e o morrer, ou seja, as concepções do “viver” também devem
ser relevantes para o debate. Intimamente relacionados a essas concepções
de “viver” surgem divergências nos conceitos de sofrimento e qualidade, ou
precariedade de vida.

A eutanásia vem sendo entendida em seu sentido literal, com o significado de


“boa morte” (Etimologicamente - eu = bom/boa; thánatos = morte), ou seja, sem
dor e sem sofrimento.

A discussão sobre o tema é retomada, então, apoiada em cinco


transformações: modificações sociais que propiciaram o nascimento da
bioética; os avanços das técnicas de manutenção da vida; a ocorrência de
diversas situações que levantaram a discussão sobre a eutanásia e o suicídio
assistido; o envelhecimento da população e a ocupação de leitos e recursos da
saúde pública; e a aprovação de leis autorizando a eutanásia em alguns países

No Brasil, a eutanásia ainda é considerada crime, sendo assim, é mantido um


“pacto de silêncio” nas unidades de assistência pública, que acaba tomando tal
decisão às escuras. O assunto é excluído da discussão pelo Ministério da
Justiça, vetando qualquer discussão sobre o tema por considerá-lo muito
polêmico e passível de criar muitos distúrbios inesperados em época de
eleição.

Há ainda outros conceitos que dividem a eutanásia quanto ao ato em


Eutanásia ativa, Eutanásia passiva e Eutanásia de duplo efeito; e quanto ao
consentimento do enfermo em Eutanásia voluntária, Eutanásia involuntária
Eutanásia não voluntária. Ainda surgem mais conceitos no que se refere ao fim
da vida. São eles: Suicídio assistido, Distanásia, Ortotanásia e Mistanásia,
sendo a ortotanásia controversa, tendo em vista a definição de “tempo de
morrer”, no entanto, o julgamento da data parece não ter sentido. Tendo tais
conceitos em mente, é possível discutir os prós e os contras sobre este tema,
questão bioética que pode ser chamada de controvérsia sobre a moralidade da
eutanásia.

Há argumentos contra e a favor a este fator, sendo eles: O princípio da


sacralidade da vida e o argumento da “ladeira escorregadia” contra, que diriam
que a vida é um bem concedido por Deus, ou uma dádiva natural, sagrada.
Portanto, a vida não poderia ser interrompida de modo algum, deixando a
dúvida de se a vida é realmente um bem, e a quem caberia esta decisão; e as
possíveis consequências dessa prática. Os argumentos a da prática da
eutanásia são o princípio de qualidade de vida e o da autonomia pessoal, que
dizem que a qualidade de vida é um princípio geral, não possui valor universal
e atribui um valor à vida que é aplicável somente se possuir qualidade,
cabendo ao dono da vida decidir sobre sua vida e sua morte, visando a
liberdade de escolha do homem que padece. Lembrando que o princípio de
qualidade de vida pode coincidir com o princípio de autonomia, à medida que o
paciente deve ter liberdade para julgar a qualidade da própria vida como boa
ou ruim a fim de preservar-lhe a sacralidade.

A eutanásia pressupõe assim aceitação e amparo em relação ao próximo,


avaliando a sacralidade, a qualidade da vida do enfermo e sua autonomia.
Neste âmbito, a compaixão vem à tona e supera o argumento de “ladeira
escorregadia”. Se a vontade do doente representa a última fronteira para a
prática da eutanásia e as decisões passam a ser guiadas pela compaixão, o
risco desta mesma se estender a práticas obscuras já não surge mais.

O médico que agisse guiado pela solidariedade ao sofrimento e praticasse a


eutanásia a pedido do paciente pautar-se-ia na certeza de que a deliberação
livre sobre o momento de morrer é um direito inalienável da pessoa e deve ser
respeitado em nome da manutenção de sua dignidade.

Torna-se consensual a sacralidade da vida, sendo que a abreviação de uma


vida sem a autorização do enfermo ainda é considerada crime, porém não sua
intocabilidade, sendo impossível fornecer apenas uma resposta à pergunta “a
quem pertence a vida?”; como consequência reconhece-se o direito pessoal de
autoridade sobre a própria vida. A despenalização da eutanásia não se torna
ofensiva justamente por não tornar obrigatória a prática da eutanásia em casos
de sofrimento intenso, mas permitir se o paciente julga necessário. Por fim,
resta a regulamentação da ação social necessária para que os que optam pelo
fim da vida em casos-limite não transformem o agente ativo em homicida.

Embora muito se tenha incrementado no campo conceitual da eutanásia,


devido ao surgimento da bioética principalmente, muitos pontos ainda
permanecem insolúveis nas discussões sobre o tema que têm como principais
argumentos os princípios éticos da sacralidade da vida, da qualidade de vida,
da autonomia e o argumento da chamada “ladeira escorregadia”. As
discussões contínuas tendem, portanto, a prosseguir visando à minimização
dos embates éticos sobre o tema de forma a buscar uma regulamentação
judicial a respeito mais condizente com esses princípios éticos.

Bibliografia: http://www.rc.unesp.br/biosferas/0009.php - acessado 18/10/2014

3.3 Aborto

Aborto: Proibição ou Legalização?

Aborto é a remoção ou expulsão prematura de um embrião ou feto do útero,


resultando na sua morte.

Um aborto pode ser espontâneo, ocorrendo acidental ou naturalmente.


Induzido, como o terapêutico que é realizado quando a saúde da gestante
corre perigo ou quando o feto apresenta problemas congênitos fatais ou
enfermidades graves, ou ainda para reduzir seletivamente o número de fetos
no caso de gravidez múltipla; ou o aborto eletivo, provocado por qualquer outro
motivo.

Os procedimentos mais utilizados para induzir um aborto de até nove semanas


são químicos, por uso de medicamentos como RU-486 e metotrexato. Já
gestações com mais tempo recorrem a métodos como: aspiração-sucção,
dilatação & curetagem, dilatação & evacuação, prostaglandina, envenenamento
salino, injeção intra-cardíaca e dilatação & extração. Há também uma grande
variedade de procedimentos abortivos feitos pelas próprias mulheres e por
pessoal não capacitado, que resulta em complicações e danos à saúde.

O aborto é um assunto muito polêmico, principalmente no campo ético. Existem


tanto movimentos a seu favor como o de legalização do aborto induzido
chamado pró-escolha - que defende a dignidade da maternidade da mulher, os
direitos reprodutivos, o acesso à educação sexual, a contracepção, e os
tratamentos de fertilidade – quanto contra, como o movimento pró-vida,
defende o direito à vida do embrião, e atuam com campanhas esclarecendo
mães sobre os perigos do aborto.

Os movimentos engajados na legalização do aborto, além de defenderem o


direito de abortar a gravidez, listam benefícios trazidos com este não só à
mulher, mas também à toda sociedade, com a diminuição de clínicas
clandestinas, criação de clínicas legalizadas, aumento da segurança dos
procedimentos abortivos, diminuição de gastos no SUS em atendimentos por
complicações pós-aborto, queda do número de mortes pelo procedimento, e o
controle populacional.

Argumentações contra o aborto incluem a banalização da prática se legalizada,


a banalização da vida consequentemente, os problemas e complicações que o
aquele pode causar; desde os mais leves como diarréias, náuseas e vômitos,
até infecções, hemorragias e óbito, e problemas psicológicos, como a síndrome
pós-abortiva. Alguns estudos tentam relacionar o câncer de mama ao aborto,
bem como provar que o feto sente dor mesmo no ventre materno, e apesar de
serem pesquisas inconcluídas, são usadas como fatores negativos.

No Brasil, o aborto é considerado crime contra a vida, mas de acordo com a


legislação é permitido em casos de gravidez por estupro, ou que colocam a
vida da mãe em risco. De acordo com o artigo “Estimativas de aborto induzido
no Brasil e Grandes Regiões (1992-2005)”, escrito por Mario Francisco Giani
Monteiro e Leila Adesse, em 2005, foram registrados 1.054.242 abortos
induzidos, e 20% das mulheres tiveram que ser hospitalizadas em
consequência de complicações.

As taxas abortivas em países onde o aborto é considerado crime, como nosso


país, são consideravelmente grandes, enquanto que em países onde a prática
é legal, há amplo acesso à educação sexual e aos métodos anticoncepcionais,
as taxas de abortamento são reduzidas, pequenas se comparadas com as
taxas brasileiras. Logo, conclui-se que se a legalização do aborto no Brasil não
soluciona o problema, ao menos deixará de tratar como criminosas as
mulheres que realizam abortos induzidos. Não somente se tratando do aborto,
mas da gravidez indesejada, e até mesmo as doenças sexualmente
transmissíveis, podem ser evitadas com programas mais efetivos sobre
educação sexual, planejamento familiar e acesso aos métodos contraceptivos
modernos. Para diminuir as taxas de aborto, é preciso trabalhar na base
instrucional do Brasil, aumentando a qualidade de vida dos brasileiros e
melhorando a educação.

Bibliografia: http://www.rc.unesp.br/biosferas/0012.php - acessado 18/10/2014


3.4 Violência doméstica

Violência e a educação familiar

Violência doméstica é a violência, explícita ou velada, literalmente praticada


dentro de casa ou no âmbito familiar, entre indivíduos unidos por parentesco
civil (marido e mulher, sogra, padrasto) ou parentesco natural (pai, mãe, filhos,
irmãos, etc). Inclui diversas práticas, como a violência e o abuso sexual contra
as crianças, maus-tratos contra idosos, e violência contra a mulher e contra o
homem geralmente nos processos de separação litigiosa além da violência
sexual contra o parceiro.

Pode ser dividida em violência física — quando envolve agressão direta, contra
pessoas queridas do agredido ou destruição de objectos e pertences do
mesmo (patrimonial); violência psicológica — quando envolve agressão verbal,
ameaças, gestos e posturas agressivas, juridicamente produzindo danos
morais; e violência sócio-económica, quando envolve o controle da vida social
da vítima ou de seus recursos económicos. Também alguns consideram
violência doméstica o abandono e a negligência quanto a crianças, parceiros
ou idosos. Enquadradas na tipologia proposta por Dahlberg; Krug, na categoria
interpessoais, subdividindo-se quanto a natureza Física, Sexual, Psicológica
ou de Privação e abandono. Afetando ainda a vida doméstica pode-se incluir
da categoria autodirigida o comportamento suicida especialmente o suicídio
ampliado (associado ao homicídio de familiares) e de comportamentos de auto-
abuso especialmente se consideramos o contexto de causalidade. É mais
frequente o uso do termo "violência doméstica" para indicar a violência contra
parceiros, contra a esposa, contra o marido e filhos. A expressão substitui
outras como "violência contra a mulher". Também existem as expressões
"violência no relacionamento", "violência conjugal" e "violência intra-familiar".

No caso da Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes (VDCA),


Azevedo (2004) define essa modalidade de violação como todo ato ou omissão
praticado por pais, parentes ou responsáveis, contra crianças e/ou
adolescentes que – sendo capaz de causar à vítima dor ou dano de natureza
física, sexual e/ou psicológica – implica de um lado, numa transgressão do
poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da Infância,
isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser
tratados como sujeitos e pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

Note que o poder num relacionamento envolve geralmente a percepção mútua


e expectativas de reação de ambas as partes calcada nos preconceitos e/ou
experiências vividas. Uma pessoa pode se considerar como subjugada no
relacionamento, enquanto que um observador menos envolvido pode discordar
disso.

Muitos casos de violência doméstica encontram-se associados ao consumo de


álcool e drogas, pois seu consumo pode tornar a pessoa mais irritável e
agressiva especialmente nas crises de abstinência. Nesses casos o agressor
pode apresentar inclusive um comportamento absolutamente normal e até
mesmo "amável" enquanto sóbrio, o que pode dificultar a decisão da parceira
em denunciá-lo.

Violência e as doenças transmissíveis são as principais causas de morte


prematura na humanidade desde tempos imemoriais, com os avanços da
medicina, disponibilidade de água potável e melhorias da urbanização a
redução das doenças infecciosas e parasitárias, tem voltado o foco da saúde
pública para a ocorrência da violência. Contudo como observa Minayo e Souza
este é um fenômeno que requer a colaboração interdisciplinar e ação
multiprofissional, sem invalidar o papel da epidemiologia para o
dimensionamento e compreensão do problema alerta para os riscos de
reducionismo e necessidade de uma ação pública.

Estatisticamente a violência contra a mulher é muito maior do que a contra o


homem.Um estudo realizado em Araçatuba, município no Estado de São Paulo,
concluiu, quanto à relação autor-vítima naquela localidade, que 1.496 (81,1%)
das agressões ocorreram entre casais, 213 (11,6%) entre pais/responsáveis e
filhos, e 135 (7,3%) entre outros familiares. Esse mesmo estudo referindo-se
acerca dos motivos da agressão, os chamados “desentendimentos domésticos”
que se referem às discussões ligadas à convivência entre vítima e agressor
(educação dos filhos; limpeza e organização da casa; divergência quanto à
distribuição das tarefas domésticas) prevaleceram em todos os grupos, fato
compreensível se for considerado que o lar foi o local de maior ocorrência das
agressões. Para muitos autores, são os fatos corriqueiros e banais os
responsáveis pela conversão de agressividade em agressão. Complementa
ainda que o sentimento de posse do homem em relação à mulher e filhos, bem
como a impunidade, são fatores que generalizam a violência.

Há quem afirme que em geral os homens que batem nas mulheres o fazem
entre quatro paredes, para que não sejam vistos por parentes, amigos,
familiares e colegas do trabalho. A cultura popular tanto propõe a proteção das
mulheres (em mulher não se bate nem com uma flor) como estimula a
agressão contra as mulheres (mulher gosta de apanhar) chegando a aceitar o
homicídio destas em casos de adultério, em defesa da honra. Outra suposição
é que a maioria dos casos de violência doméstica são classes financeiras mais
baixas, a classe média e a alta também tem casos, mas as mulheres
denunciam menos por vergonha e medo de se exporem e a sua família.
Segundo Dias 5 o fenômeno ocorre em todas as classes porém mais visíveis
entre os indivíduos com fracos recursos econômicos.

A violência praticada contra o homem também existe, mas o homem tende a


esconder mais por vergonha. Pode ter como agente tanto a própria mulher
quanto parentes ou amigos, convencidos a espancar ou humilhar o
companheiro. Também existem casos em que o homem é pego de surpresa,
por exemplo, enquanto dorme. Analisando os denominados crimes passionais
a partir de notícias publicadas em jornais Noronha e Daltro 6 identificaram que
estes representam 8,7% dos crimes noticiados e que destes 68% (51/75) o
agressor era do sexo masculino (companheiro, ex-companheiro, noivo ou
namorado) nos crimes onde a mulher é a agressora ressalta-se a circunstância
de ser o resultado de uma série de agressões onde a mesma foi vítima.
Índice

 a. Gênero

 b. Estratégias de controle

a. Gênero

É impossível discutir a violência doméstica sem discutir os papéis de género, e


se eles têm ou não têm impacto nessa violência. Algumas vezes a discussão
de género pode encobrir qualquer outro tópico, em razão do grau de emoção
que lhe é inerente.

Quando as mulheres passaram a reclamar por seus direitos, maior atenção


passou a ser dada com relação à violência doméstica, e hoje o movimento
feminista tem como uma de suas principais metas a luta para eliminar esse tipo
de violência. O primeiro abrigo para mulheres violentadas foi fundado por Erin
Pizzey (1939), nas proximidades de Londres, Inglaterra. Isso aconteceu na
década de 1960. Pizzey fez certas críticas a linhas do movimento feminista,
afirmando que a violência doméstica nada tinha a ver com o patriarcado, sendo
praticada contra vítimas vulneráveis independentemente do sexo.

Vale ressaltar que os homens vítimas de violência doméstica, em função de


encontrarem-se em uma sociedade sexista, acabam por não denunciar a
violência que sofrem em âmbito familiar, tanto por vergonha quanto pelo fato de
que a sociedade e as autoridades dão pouca atenção e auxílio a homens que
denunciam. A situação de violência doméstica contra homens pode então
chegar aos extremos de graves mutilações ou homicídio onde a vítima nem ao
menos é ouvida.

b. Estratégias de controle

Como resposta imediata, além do atendimento adequado as vítimas de


violência tanto nos aspectos físicos como psicossociais, urge reconhecer a
demanda nos termos epidemiológicos que se apresenta. Com essa intenção
vem se estabelecendo no Brasil. O sistema de notificação de
notificação/investigação individual da violência doméstica, sexual e/ou outras
violências através das secretarias estaduais e municipais de saúde após
promulgação da lei nº 10778, de 24 de novembro de 2003 que estabeleceu a
notificação compulsória, no território nacional, do caso de violência contra a
mulher que for atendida em serviços de saúde públicos ou privados.

Além das dificuldades de produzir informações fidedignas da amplitude desses


agravos face a natureza burocrática dos sistemas de informação e cultura de
omitir tais agravos vergonha ou descrédito nas instituições públicas por parte
das vítimas a complexidade do aparelho de Estado ou setores da
administração publica onde se insere essa assistência resulta tanto na
assistência inadequada a estas como no controle social do fenômeno violência
ou seja a prevenção destas ocorrências e punição dos agressores.

1. Para se ter uma ideia da complexidade do fenômeno basta


examinarmos a dimensão da rede de instituições envolvidas as
Unidades de Saúde do SUS (Pronto Atendimento, Setores de
Emergência e da Assistência Hospitalar; Serviços de Saúde Mental) o
CRAS Centro de Referência de Assistência Social do SUAS – (Sistema
Único de Assistência Social); o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o
órgão responsável em fiscalizar se os direitos previstos no Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA) e o Conselho Municipal dos Direitos da
Criança e do Adolescente que administra o Fundo para Infância e
Adolescência, a Secretarias de governo (Secretarias de Ação Social, da
Mulher, etc), Delegacia da Mulher, Vara de Família e Juizado de
Menores etc. A noção rede de serviços propõem a integração dessas
instituições contudo as modificações institucionais envolvem
determinações de natureza política e cultural ainda inteiramente
compreendidas ou controláveis

Bibliografia: Minayo, M. C. de S.; Souza, E. R. de. Violência e saúde


como um campo interdisciplinar e de ação coletiva. História,
Ciências, Saúde— Manguinhos, IV(3):, nov. 1997-fev. 1998 –
acessado:18/10/2014

3.5 Estupro

A culpabilização da mulher, vítima de estupro, pela conduta do seu


agressor.

Lívia Magalhães
Publicado em 04/2014

O IPEA constatou que muitos brasileiros culpam as mulheres vítimas de


estupro pela conduta dos seus agressores. Os dados obtidos apenas
confirmam a perpetuação de uma cultura patriarcal e a sua desconstrução é
um grande desafio do nosso país.

O esclarecimento do conceito de estupro na legislação brasileira e dos


aspectos culturais da nossa sociedade é essencial para a compreensão do
resultado da pesquisa do IPEA, que apontou que a maioria dos brasileiros
culpa a mulher, vítima do estupro, pela conduta do seu agressor. O objetivo,
portanto, desse breve artigo é incentivar uma reflexão sobre as possíveis
causas desse diagnóstico e as medidas necessárias para a desconstrução da
cultura de culpabilização da mulher pelo seu próprio estupro.
O crime de estrupo no Brasil.

O crime de estupro é considerado hediondo, nos termos da Lei nº 8.072, de 25


de julho de 1990 (art. 1º, V), tanto na modalidade tentada ou consumada,
abrangendo o estupro cometido com violência (real ou presumida) e grave
ameaça. Em virtude dessa natureza, o crime de estupro, em todas as suas
modalidades, submete-se a um tratamento penal mais rigoroso, como por
exemplo, a insuscetibilidade de anistia, graça e indulto, assim como da fiança.

Quanto à sua classificação, apenas nos últimos anos a legislação brasileira foi
alterada para reconhecer explicitamente a dignidade e a liberdade sexual das
pessoas, tanto do homem quanto da mulher, como um bem jurídico protegido.
Até 2009, o estupro era classificado como um “crime contra os costumes”, ou
seja, o bem jurídico protegido era “a conduta sexual adaptada à conveniência e
disciplina sociais” (HUNGRIA, p. 103-104, 1956) ou “um mínimo ético ligado
aos comportamentos sexuais” (GRECO, p. 463, 2009). Inquestionável que a
expressão “crimes contra os costumes” era extremamente conservadora e
indicava um norte para o comportamento sexual imposto pelo Estado às
pessoas por conveniências sociais. Ressalte-se que, até alguns anos atrás,
somente a “mulher honesta” era tutelada por alguns tipos penais e o estupro
cometido pelo próprio marido era questionado, uma vez que havia a
obrigatoriedade do “débito conjugal” (MASSON, p. 795, 2013).

A figura típica do estupro consistia em “constranger mulher à conjunção carnal,


mediante violência ou grave ameaça”. Dessa forma, o ato de subjugar a vítima
ao ato sexual era dirigido sempre contra uma mulher e a conduta do agente,
sempre do sexo masculino, estava restrita à conjunção carnal (penetração
vaginal). Ocorrendo ato libidinoso diverso da conjunção carnal, a conduta era
tipificada como atentado violento ao pudor.

O crime de estupro era processado mediante ação penal privada, ou seja, à


exceção dos casos de violência real (Súmula 608, STF), era escolha da vítima
acusar ou não o seu estuprador. A vítima deveria, portanto, oferecer queixa
contra o seu agressor, no prazo decadencial de 6 meses (art. 38, CPP), para
possibilitar a persecução criminal. Caso contrário, o criminoso não seria
julgado, muito menos condenado. Por fim, diante do princípio da
disponibilidade, a ofendida poderia desistir de dar início à ação penal ou de
prosseguir na lide (perdão do ofendido) até o trânsito em julgado da sentença
condenatória (ALVES, p. 88, 2010).

A partir da sanção da Lei n° 12.015, de 7 de agosto de 2009, o estupro passou


a ser classificado como um crime contra a dignidade e liberdade sexual.
Acertadamente, o legislador definiu que no crime de estupro, o bem jurídico
tutelado é a liberdade sexual, ou seja, a liberdade das pessoas, seja do sexo
feminino ou masculino, de ”escolher seu parceiro sexual, e com ele, praticar o
ato desejado no momento que reputar adequado” (MASSON, p. 796, 2013).

O art. 213 do Código Penal passou a tipificar o estupro no ato de “constranger


alguém, mediante violência e grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”, portanto, tanto
a vítima quanto o agressor podem ser homens ou mulheres, o que demonstra
uma verdadeira evolução da lei penal em tutelar com isonomia a liberdade
sexual dos brasileiros, independente do gênero. A conduta perpetrada consiste
tanto na conjunção carnal quanto qualquer ato libidinoso, como por exemplo, o
coito anal. O estupro ocorrerá também quando, apesar de não ocorrer contato
físico de natureza erótica entre o estuprador e a vítima, houver o envolvimento
corporal do ofendido no ato de cunho sexual (MASSON, p. 798, 2013), desde
que exista a presença física (NUCCI, p. 47, 2013).

A ação penal não é mais privada, mas pública condicionada à representação,


ou seja, a vítima deve autorizar, no prazo de decadencial de 6 meses (art. 38,
CPP), que o Estado (autoridade policial e Ministério Público) dê início à
persecução criminal. A vítima poderá se retratar da representação até o
oferecimento da denúncia (e não do recebimento), impedindo o Ministério
Público de promover a ação penal. A Súmula 608 do STF perdeu seu
fundamento de validade, uma vez que foi editada à época em que o estupro
era crime de ação penal privada (MASSON, p. 804, 2013). Portanto, em regra,
nos termos legais, tanto o estupro com violência real ou presumida, simples ou
qualificado, serão processados mediante ação penal pública condicionada.

Todavia, há uma exceção legal. Se a vítima do estupro for menor de 18 anos –


sendo menor de 14 anos será tipificado como estupro de vulnerável – a ação
penal será pública incondicionada, o que significa que independe de qualquer
providência da vítima ou do seu representante legal a iniciativa e o
prosseguimento da ação penal. Não se questiona o interesse do ofendido, pois
o interesse do Estado se sobrepõe ao da vítima (ALVES, p. 71,2010).

Em contrapartida, imperioso diferenciar o estupro ocorrido no âmbito doméstico


e familiar daquele perpetrado por um agressor desconhecido. A Lei 11.340, de
7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, foi inserida no
ordenamento jurídico para coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, razão pela qual criou mecanismos especiais, diferenciando o
processamento desses crimes, o atendimento policial e a assistência do
Ministério Público nas ações judiciais.

Nesse sentido, a Lei Maria da Penha define que a violência doméstica e


familiar contra a mulher consiste em “qualquer ação ou omissão baseada no
gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico ou
patrimonial: I – no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas; II – no âmbito da família, compreendida como a
comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados,
unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III – em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independente de coabitação.”

A Lei Maria Penha prevê no seu art. 16 que nas ações penais públicas
condicionadas à representação da ofendida só será admitida a renúncia à
representação perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal
finalidade, antes do recebimento da denúncia, e ouvido o Ministério Público.
Todavia, o Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2012, no julgamento da
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4424 e da Ação Declaratória de
Constitucionalidade (ADC) 19, conferiu a esse artigo interpretação conforme a
Constituição Federal, estabelecendo a natureza incondicional das ações penais
em caso de crimes de lesão (inclusive as lesões leves), ou seja, elas
independem da representação da vítima.

Portanto, o estupro cometido no âmbito doméstico e familiar receberá


tratamento diferenciado, com a aplicação das normas previstas pela Lei Maria
da Penha, além das disposições previstas no Código Penal e Código de
Processo Penal e da jurisprudência recente do STF que conferiu natureza
incondicional à ação penal nos casos de crime de lesão por violência
doméstica. Por outro lado, ao estupro perpetrado por qualquer outro agressor
serão aplicadas tão somente as disposições previstas no Código Penal e no
Código de Processo Penal, sendo processada mediante ação penal pública
condicionada à representação.

A vítima, o agressor e o crime.

Apesar da acertada alteração legislativa que ampliou a abrangência da vítima


de estupro, alcançando a vítima de qualquer gênero, a Nota Técnica “Estupro
no Brasil: uma radiografia segundo os dados da saúde” – primeira pesquisa
que traçou um perfil dos casos de estupro no Brasil a partir de informações de
2011 do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da
Saúde (Sinan) – apontou que 89% das vítimas de estupro são do sexo
feminino. Do total, 70% são crianças e adolescentes. Dessa forma, são as
mulheres, principalmente as crianças e as adolescentes, as maiores vítimas do
crime de estupro em nosso país.

A maioria esmagadora dos agressores é do sexo masculino,


independentemente da faixa etária da vítima, sendo que as mulheres são
autoras do estupro em apenas 1,8% dos casos. Quando a vítima é criança
4,1% dos agressores são os próprios pais ou padrastos e 32,2% são amigos ou
conhecidos da vítima. Em geral, 70% dos estupros são cometidos por parentes,
namorados ou amigos/conhecidos da vítima, forte indício de que o inimigo
aproveita a relação de suposta confiança da vítima e da cultura da violência
doméstica. Ainda de acordo com a Nota Técnica, 24,1% dos agressores das
crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos
da vítima.

Todavia, à medida que a idade da vítima aumenta o indivíduo desconhecido


passa a figurar como principal autor do estupro. Na fase adulta, este responde
por 60,5% dos casos. Quando o agressor era conhecido, a residência era o
local principal onde ocorria o estupro, independentemente da idade da vítima.
Por outro lado, quando o agressor era desconhecido, a via pública assumiu
posição de destaque, sendo que, para o caso dos adultos, a incidência de
estupro nesses locais correspondeu a 2,3 vezes aquela verificada nas
residências.
Em 2011, foram notificados no Sinan 12.087 casos de estupro no Brasil, o que
equivale a cerca de 23% do total registrado na polícia em 2012, conforme
dados do Anuário 2013 do FBSP. A pesquisa estima que no mínimo 527 mil
pessoas são estupradas por ano no Brasil, no entanto, destes casos, apenas
10% chegam ao conhecimento da polícia.

Por fim, o IPEA ressalta que os dados coletados estão condicionados ao fato
da vítima de estupro ter procurado os estabelecimentos públicos de saúde,
uma vez que os dados foram coletados do Sinan (Ministério da Saúde). Dessa
forma, os resultados obtidos devem ser observados com certa cautela, uma
vez que muitos casos não foram registrados e há possibilidade de haver algum
processo seletivo que interfira na veracidade dos fatos, ou seja, apenas
determinado tipo de vítima de estupro procurar atendimento médico no sistema
público de saúde.

Cultura patriarcal e a culpabilização da mulher pelo estupro.

Segundo o estudo apresentado pelo IPEA, a violência de gênero é um reflexo


direto da ideologia patriarcal, que demarca os papéis e as relações de poder
entre homens e mulheres. A cultura do machismo, disseminada muitas vezes
de forma implícita, coloca a mulher como objeto de desejo e de propriedade do
homem, o que termina legitimando e alimentando diversos tipos de violência,
entre os quais o estupro. Tal argumento é capaz de justificar a ocorrência
preponderante no Brasil dos estupros contra as mulheres (89% das vítimas)
perpetrados pelos homens (98,2% dos agressores).

As pesquisas citadas causaram tamanho alvoroço exatamente por esse motivo:


relembrou os brasileiros, e principalmente as brasileiras, de que, infelizmente,
ainda vivemos em uma sociedade patriarcal. Ou seja, nossa organização social
ainda é baseada na crença da dominação de homens sobre as mulheres, que
por sua vez devem se sujeitar à sua autoridade e vontade. Inegável que nas
últimas décadas as mulheres ganharam espaço na vida pública, porém o
ordenamento patriarcal é reiteradamente reforçado em nossa cultura pela
própria sociedade, seja na desvalorização das mulheres em todos os aspectos,
seja na aceitação implícita da violência sexual.

A pesquisa afirma que o fenômeno da violência contra as mulheres, que


consiste em um poderoso instrumento de perpetuação da ordem patriarcal,
normalmente está relacionado a algumas características: a) é visto como
aceitável (dentro de alguns limites); b) é naturalizado como algo pertencente à
sociedade e inerente às relações entre homens e mulheres; c) o agressor tem
sua responsabilidade atenuada, seja porque não estava no exercício pleno da
consciência, ou porque é muito pressionado socialmente, ou porque não
consegue controlar seus instintos; d) e a mulher é vista como responsável pela
violência, porque provocou o homem, seja porque não cumpriu com seus
deveres de esposa e de “mãe de família”, seja porque de alguma forma não se
comportou da maneira esperada socialmente.

De fato, a existência das características apontadas pode ser comprovada pelos


dados do IPEA. De acordo com o SIPS sobre a “Tolerância social à violência
contra as mulheres”, 63% dos brasileiros concordaram, total ou parcialmente,
que “casos de violência dentro de casa devem ser discutidos somente
entre os membros da família”. No mesmo sentido, 89% dos entrevistados
concordaram que “a roupa suja deve ser lavada em casa”; e 82% que “em
briga de marido e mulher não se mete a colher”. Comprovado, portanto, que
a maioria da população brasileira ainda possui uma visão de família nuclear
patriarcal (com alguns contornos contemporâneos) e entendem que deve
ocorrer a intervenção do público na esfera privada apenas quando os conflitos
familiares se tornarem extremamente violentos.

Quanto à violência sexual contra as mulheres de forma abrangente, a


percepção majoritária da sociedade brasileira, segundo a pesquisa do IPEA, é
no sentido de culpabilizar a mulher, fato que pode ser considerado
consequência direta da cultura patriarcal. Tal conclusão pode ser comprovada
pela concordância de 58% dos entrevistados de que “se as mulheres
soubessem como se comportar, haveria menos estupros”. Tal afirmação
apenas reforça a premissa equivocada de que os homens não conseguiriam
controlar seus apetites sexuais e as mulheres seriam responsáveis por
provocá-los. Resumindo: para evitar o estupro a mulher deve comportar-se
adequadamente. A violência sexual poderia ser considerada, de certa forma,
uma espécie de correção para as mulheres que não se comportaram da forma
esperada socialmente, seja com atitudes liberais seja com o uso de roupas
sedutoras.

A culpabilização da vítima pela violência sexual sofrida é uma prática comum


na cultura oriental, tão conhecida pela desvalorização da mulher e pela sua
submissão irrestrita às vontades do homem. Na Índia, por exemplo, em um
caso de estupro coletivo, a mulher violentada foi considerada tão culpada
quanto seus estupradores. De acordo com a imprensa indiana um guru
espiritual chamado Bapu afirmou que a vítima deveria ter sido mais gentil com
os violentadores, se quisesse preservar sua vida: “Ela deveria ter chamado os
agressores de irmãos e ter implorado para que eles parassem. Isso teria
salvado sua dignidade e a sua vida.” Parece ficção, mas a estória é verídica.

No entanto, culpar a mulher por figurar como vítima de violência sexual


acontece tanto nas religiões orientais quanto ocidentais. De acordo com notícia
veiculada pelo site Portal News, o padre Don Piero Corsi, da cidade de San
Terenzo, na Itália, afixou na porta da igreja um comunicado dizendo que a
culpa da violência sexual é das mulheres. Segundo o padre, “as mulheres com
roupas justas se afastam da vida virtuosa e da família e provocam os piores
instintos dos homens”. O padre afirmou ainda que “o homem fica louco porque
as mulheres são arrogantes e autossuficientes”.

Os exemplos apresentados objetivam apenas demonstrar que o fenômeno da


culpabilização da mulher pelo seu próprio estupro não se restringe ao Brasil ou
aos países da América Latina. Ele contamina diversos países,
preponderantemente aqueles nos quais a cultura do machismo ainda insiste
em perdurar, causando inúmeros conflitos e julgamentos despropositados
acerca da conduta da vítima, atenuando desarrazoadamente a conduta do
agressor, que deveria ser o principal foco.
Sônia Rovinski, psicóloga judiciária do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul e autora do livro Danos psíquicos em mulheres vítimas de violência, diz que
esta culpabilização não é algo novo e que está longe do fim. “Historicamente, a
mulher, no imaginário coletivo, sempre esteve associada a esta coisa de
provocar o homem. É cultural. Se o homem perde o controle e comete uma
agressão, a culpa não é dele, é da mulher que o seduziu. Isto é impregnado na
sociedade desde as conversas no bar até a esfera judicial. Quantas vezes a
gente ouve sobre a moça do bairro que foi violentada, mas andava por aí no
escuro de roupas curtas?”, questiona. “É claro que muita coisa mudou de 20
anos para cá, antes essa discussão nem existia. Mas, ainda hoje, quem
deveria proteger, como a polícia e a própria justiça, acaba questionando a real
participação da mulher nestes casos”, aponta.

Portanto, a violência contra a mulher possui um caráter complexo e possui


estreita relação com as categorias de gênero, classe e raça/etnia e suas
relações de poder. Tais relações, por sua vez, estão norteadas por uma ordem
patriarcal proeminente na sociedade brasileira, a qual atribui aos homens o
direito de dominar e controlar suas mulheres. A culpabilização da mulher,
vítima de estupro, pela conduta do seu agressor, por conseguinte, pode ser
considerada uma das consequências desse ordenamento social patriarcal e a
sua eliminação total depende de mudanças bruscas na sociedade brasileira.

Consequência da culpabilização da mulher.

De acordo com a literatura, são graves as consequências do estupro, que se


estendem no campo físico, psicológico e econômico. Além das lesões que a
vítima pode sofrer nos órgãos genitais (principalmente nos casos envolvendo
crianças), quando há o emprego de violência física, muitas vezes ocorrem
também contusões e fraturas que podem acarretar a morte da vítima. O
estupro pode gerar ainda uma gravidez indesejada – situação na qual a mulher
poderá realizar o aborto legalmente, nos termos do art. 128, inciso II do CP – e
levar a vítima a contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST).

Segundo o IPEA, os dados obtidos com a pesquisa são alarmantes, pois além
das mazelas de curto prazo, o estupro gera no indivíduo consequências de
longo prazo, como diversos transtornos, incluindo depressão, fobias,
ansiedade, abuso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e síndrome de
estresse pós-traumático. Tal fenômeno gera também consequencias sobre a
sociedade em geral, pois há perda de produtividade e a violência doméstica
reforça um padrão de aprendizado, que é em seguida compartilhado nas ruas.

Ainda, quanto ao estupro contra crianças e adolescentes, “As consequências,


em termos psicológicos, para esses garotos e garotas são devastadoras, uma
vez que o processo de formação da autoestima - que se dá exatamente nessa
fase - estará comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos
relacionamentos sociais desses indivíduos”, aponta a pesquisa realizada pelo
IPEA.

Somada à todas as mazelas elencadas, figura a culpa da vítima. No entanto,


não se trata apenas da culpa da própria vítima pela agressão sexual sofrida,
com pensamentos recorrentes de que nada teria acontecido se ela tivesse
agido diferente. A culpa surge da sociedade machista que cria uma punição
extra-oficial para a mulher, afirmando que ela certamente deve ter dado motivo
para a agressão, usando roupas “inapropriadas”, sendo supostamente
promíscua, andando desacompanhada à noite ou confiando em pessoas
desconhecidas. Dessa forma, a culpabilização da vítima pelo seu próprio
estupro pode ser classificada como uma verdadeira tortura psicológica contra a
mulher, que além de todo sofrimento físico e psicológico pós-estupro, também
é penalizada socialmente pelo comportamento doentio do seu estuprador.

Eliminação da cultura patriarcal e da culpabilização da mulher pelo


estupro.

Em abril de 2011, surgiu a “Marcha das Vadias” – movimento internacional de


mulheres criado na cidade de Toronto – Canadá, em resposta ao comentário
de um policial de que “para evitar estupros em uma universidade, as mulheres
deveriam parar de se vestir como “sluts” (vadias, em português).” Assim, teve
início a SlutWalk, em que mais de 3 mil mulheres canadenses foram às ruas
para protestar contra o discurso de culpabilização das vítimas de violência
sexual e de qualquer outro tipo de violência contra as mulheres. A partir daí,
diversas manifestações semelhantes (SlutWalk, Marcha de las Putas, Marcha
das Vadias) ocorreram em mais de 30 cidades, em diversos países – como
Costa Rica, Honduras, México, Nicarágua, Suécia, Nova Zelândia, Inglaterra,
Israel, Estados Unidos, Argentina e Brasil.

As mulheres da “Marcha das Vadias” lutam pelo seu direito de ir e vir, seu
direito de se relacionar com quem e da forma que desejarem e seu direito de
se vestir da maneira que lhes convier sem a ameaça do estupro, sem a
responsabilização da vítima e sem sofrer nenhum tipo de humilhação,
repressão ou violência. A motivação principal da “Marcha das Vadias” é a
situação, compartilhada por mulheres de todo o mundo, de cerceamento da
liberdade e da autonomia, de medo de sofrer violência e da objetificação
sexual.

Recentemente, em resposta à pesquisa do IPEA, especialmente no que tange


ao fato de que 65,1% dos brasileiros concordam, total ou parcialmente, que
"mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas", a
jornalista Nana Queiroz criou a campanha “Eu não mereço ser estuprada”, que
já conta com mais de 44 mil adesões em um evento criado no Facebook. A
manifestação consiste na postagem de fotos onde as mulheres seguram
cartazes com frases repudiando o estupro e a violência contra a mulher.
Celebridades já aderiram à campanha e o movimento foi citado inclusive pela
presidente Dilma Roussef. Nana denuncia que, por ter idealizado o movimento,
já sofreu centenas ameaças na internet de estupro e outras formas de
agressão, além de mensagens de apologia ao estupro.

De fato, a violência contra a mulher tem raízes profundas que estão situadas
ao longo da história da humanidade. No entanto, apesar da dificuldade da
desconstrução dessa cultura de violência contra a mulher, grandes mudanças
ocorreram no Brasil ao longo dos anos, em virtude de fortes mobilizações que
combateram a violência de gênero. A articulação social em movimentos
próprios, somada a uma intensa busca por parcerias com o Estado, para a
resolução desta problemática, resultou em uma série de conquistas.

Uma das gloriosas conquistas das mulheres consistiu na aprovação da Lei nº


11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, que criou instrumentos de
combate a violência doméstica e familiar contra a mulher. Além da articulação
no âmbito nacional, o não cumprimento dos compromissos firmados em
Convenções Internacionais acarretou uma denúncia ao Sistema Internacional,
através da Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos
Estados Americanos (OEA), que após a avaliação do caso, publicou em 2001 o
Relatório nº 54, que dentre outras constatações, recomendou que o Brasil
desse prosseguimento e intensificasse o processo de reforma legislativa que
evite a tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violência
doméstica contra as mulheres no Brasil.

Por conseguinte, a Lei nº 11.340/2006 caminhou em direção ao cumprimento


das determinações da Convenção de Belém do Pará e da Convenção para a
Eliminação de Todas as Formas de Violência contra as Mulheres (CEDAW),
além de regulamentar a Constituição Federal. Indubitavelmente, a Lei Maria da
Penha consiste no maior exemplo brasileiro do sucesso da articulação social
no combate à violência contra a mulher. O caminho foi longo e árduo, porém é
a prova de que os movimentos sociais promovidos pela indignação da
sociedade produzem resultados concretos.

Paralelamente, a implementação pelo governo de ações pontuais específicas


como a concretização de políticas públicas que promovam a igualdade entre
homens e mulheres e um ordenamento jurídico adequado e coerente com as
expectativas e demandas sociais, dentre as quais figura a garantia da punição
do estuprador, são medidas necessárias, tanto para a redução dos índices de
violência contra a mulher quanto para a desconstrução da cultura patriarcal
brasileira.

No entanto, não basta a existência de um ordenamento que tenha vigência


jurídica. Ele deve ter vigência social, isto é, deve ser aceito e aplicado pelos
membros da sociedade. Nesse viés, o combate ao fenômeno da violência
contra mulher não é função exclusiva do Estado. A sociedade deve se
responsabilizar, no sentido de não aceitar conviver com este tipo de violência,
pois, ao se manter inerte, ela contribui para a perpetuação da impunidade.

A desconstrução da cultura patriarcal e a eliminação da culpabilização da


mulher pela conduta dos seus agressores são desafios que, por certo, exigem
a atuação conjugada da sociedade civil e do governo brasileiro. A questão da
conscientização da natureza histórica da desigualdade de gênero e suas
consequências, primordialmente a culpabilização da mulher vítima de estupro,
precisa ser trabalhada com intensivas políticas públicas, campanhas
publicitárias e com movimentos sociais organizados. Da mesma forma, um
ordenamento jurídico adequado em consonância com as expectativas da
sociedade é essencial para o fim proposto. Tais medidas certamente não são
as únicas soluções e não irão desconstruir imediatamente a ordem patriarcal
vigente, porém são degraus na longa busca pelo fim da desvalorização da
mulher brasileira.

Bibliografia: http://jus.com.br/artigos/27429/a-culpabilizacao-da-mulher-vitima-
de-estupro-pela-conduta-do-seu-agressor/1 – acessado em 18/10/2014.

3.6 Clonagem humana

Dráuzio Varella
Texto recebido e aceito para publicação em 28 de junho de 2004.

SERIA UM CRIME, permitir sob qualquer pretexto, a clonagem de seres


humanos. Da mesma forma, é um crime o que está para acontecer: impedir por
lei o uso de células-tronco embrionárias no tratamento de doenças graves.
Para justificar ambas as afirmativas, é preciso voltar às nossas origens.

Quando um espermatozoide fecunda o óvulo na trompa, a célula resultante faz


duas, quatro, oito... cópias idênticas de si mesma. Após 72 horas, já surgiram
cerca de cem células agrupadas (o blastocisto) que vão se implantar no útero.

Na fase em que o embrião tem de 32 a 64 células, elas se organizam segundo


dois destinos: as que estão situadas mais externamente darão origem à
placenta e à bolsa amniótica; as da parte interna, muito mais versáteis, irão
formar todos os tecidos do futuro organismo. Essas células pluripotentes,
capazes de se diferenciar em mais de duzentos tipos celulares para constituir
tecidos como fígado, coração, pulmão, recebem o nome de células-tronco. À
medida que as células-tronco do blastocisto continuam a multiplicar-se, essa
capacidade de formar qualquer tecido é perdida.

Uma das descobertas mais fantásticas do século XX foi a que resultou na


clonagem da ovelha Dolly. Nesse experimento, pesquisadores escoceses
retiraram o núcleo contendo material genético (DNA) de um óvulo e nele
introduziram o DNA retirado de uma célula mamária adulta, já diferenciada.
Para surpresa do mundo, depois de quase trezentas tentativas, a célula
resultante gerou Dolly.

A importância dessa descoberta – que certamente dará a Ian Wilmut e seus


companheiros do Instituto Roslin um futuro Prêmio Nobel de Medicina – foi
demonstrar que células adultas podem ser reprogramadas e voltarem a formar
células-tronco.

Dada essa explicação inicial, é possível entender a diferença entre clonagem


reprodutiva e clonagem terapêutica:

• na clonagem reprodutiva, o núcleo de uma célula adulta é introduzido no


óvulo "vazio" e transferido para um útero de aluguel, com a finalidade de gerar
um feto geneticamente idêntico ao doador do material genético;
• na clonagem terapêutica, as células-tronco jamais serão introduzidas em
algum útero. O DNA retirado de uma célula adulta do doador também é
introduzido num óvulo "vazio", mas, depois de algumas divisões, as células-
tronco são direcionadas no laboratório para fabricar tecidos idênticos aos do
doador, tecidos que nunca serão rejeitados por ele.

Independentemente de julgamentos morais, a clonagem reprodutiva deve ser


proibida por lei, porque não existe a menor segurança de que bebês gerados
por meio dela serão bem formados. Na clonagem terapêutica, no entanto, os
tecidos são obtidos em tubos de ensaio.

Imagine leitora, que seu filho fique paraplégico, ou seja, afetado por uma
doença genética incapacitante, como a distrofia muscular. A clonagem
permitirá retirar o DNA de uma célula da pele do menino (ou sua, se ele tiver
um doença genética), introduzi-lo num óvulo "vazio" e produzir no laboratório
células-tronco, que poderão ser enxertadas na medula espinal para repor os
neurônios perdidos, ou na musculatura, para recompor músculos enfraquecidos
pela distrofia.

A clonagem terapêutica oferece a possibilidade de repor tecidos perdidos por


acidente ou pelo passar dos anos e de tratar doenças neuromusculares,
infartos, derrames cerebrais, Alzheimer e outras demências, cegueira, câncer e
muitas outras.

Até que essa tecnologia encontre seu lugar na clínica, há problemas técnicos
difíceis de resolver, mas o Brasil é um dos poucos países que tem o privilégio
de contar com pesquisadores preparados para enfrentar tal desafio, desde que
nossos legisladores não cometam o crime que estão prestes a cometer.

Em fevereiro deste ano, a Câmara dos Deputados, pressionada pelas


bancadas religiosas, votou a Lei de Biossegurança, banindo do universo
científico qualquer tipo de clonagem. As justificativas para essa decisão
ditatorial, imposta mesmo aos que não pensam como eles, são as seguintes:

• nos tecidos dos adultos, também existem células-tronco capazes de substituir


aquelas obtidas através da manipulação de células embrionárias;
• os fins terapêuticos não justificam "a eliminação de vidas humanas, mesmo
que estas, como é o caso dos embriões, se encontrem no estágio inicial do
desenvolvimento";
• o homem quer "brincar de Deus" ao propor a clonagem, reprodutiva ou
terapêutica.

Comecemos pelo primeiro argumento, o único que pode ser discutido com
racionalidade. De fato, foram identificadas células pluripotentes em tecidos
adultos como medula óssea, sistema nervoso e epitélio. Entretanto, todas as
evidências sugerem que sua capacidade de diferenciação seja limitada e que a
maioria dos tecidos humanos não pode ser obtida a partir delas.

Quanto ao segundo, em nome de princípios religiosos, pessoas que se dizem


piedosas julgam mais importante a vida em potencial existente num
agrupamento microscópico de células obtidas em tubo de ensaio do que a vida
de uma mãe de família que sofreu um infarto ou a de um adolescente numa
cadeira de rodas. Estivessem elas ou tivessem um filho nessa situação,
recusariam realmente esse tipo de tratamento?

Finalmente, o terceiro argumento. Dizer que o homem assumiria a função de


Deus, só porque é capaz de introduzir o DNA de uma célula adulta no interior
de um óvulo, convenhamos, é amesquinhar o papel do criador do céu e da
Terra.

O projeto de lei que proíbe autoritariamente a clonagem terapêutica, já


aprovada pelos deputados e que será submetido ao Senado, conta com o
repúdio frontal da comunidade científica. Sua aprovação obrigará as pessoas
que tiverem dinheiro a buscar fora do Brasil os tratamentos baseados nessa
tecnologia. Aos mais pobres, restará o recurso de sempre: pedir a Deus que
tenha piedade de nós.

Dráuzio Varella, médico cancerologista, foi um dos pioneiros no tratamento de


Aids no Brasil. Trabalhou como voluntário na Casa de Detenção do Carandiru.
É autor de Estação Carandiru (Companhia das Letras).
Texto publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo, em 1º de maio de
2004.

Bibliografia:http://www.scielo.br/scielo.php?
pid=S010340142004000200018&script=sci_arttext - Acessado em 18/10/2014

4 Conclusão

Tentamos abordar o processo de clonagem humana apresentamos alguns


argumentos a favor e contra este processo, ha muitos aspectos a serem
analisados, o (X) da questão é. Nós seres humanos estamos preparados para
lidar com essa nova tecnologia que pode ser uma grande fonte de benefícios
ou malefícios para a humanidade.

Analisamos as possíveis conseqüências da clonagem humana e no entanto é


sem dúvida ela é uma das mais controvérsias e revolucionárias novidades da
história humana.

Conclusão- reprodução humana


O roteiro rigoroso de investigação básica e/ou complementar do casal infértil
constitui o alicerce sobre a Reprodução assistida no consultório Quando indicar
fertilização in vitro qual se podem tomar decisões terapêuticas adequadas.
Diante dos resultados da propedêutica, o tocoginecologista poderá indicar em
primeira instância a FIV, nas condições de incapacidade tubária, inadequação
grave do sêmen, ausência congênita ou cirúrgica de órgãos reprodutivos,
alterações genéticas, comportamento social homo afetivo etc.. Em outras
situações em que o canal genital apresenta-se íntegro ou passível de correção
cirúrgica, o sêmen encontrasse normal ou levemente alterado e os ovários
tenham condições morfofuncionais adequadas, recomenda-se tratamento de
baixa complexidade por um período de quatro a seis ciclos. Em benefício do
casal, é interessante migrar para a FIV se não houver a conquista da gravidez.
A mulher acima de 37 anos que se aproxima do declínio reprodutivo requer
atenção especial e não deve ser exposta a técnicas que não logrem reais
benefícios ao seu tratamento; cabendo ao médico não procrastinar
demasiadamente o seu encaminhamento em detrimento da sua evolução.

Bibliografia: http://www.profert.com.br/fasciculos/fiv/

Assim sendo, defendemos a prática da eutanásia como legítimo exercício não


só da medicina, mas de um direito doindivíduo que se encontre na fase
terminal de sua vida. Entendemos que é necessário que haja o consentimento
do paciente ou, este não podendo emanar sua vontade, o consentimento de
seus familiares.

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