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No Acto Uniforme de Filiação norte americano, a procriação medicamente assistida (PMA) é definida
como o “método de causar gravidez sem ser através de coito”. Entre nós, alguns autores usam a
expressão para agrupar o conjunto de técnicas destinadas á formação de um embrião humano sem a
intervenção do acto sexual.
Os processos de procriação assexuada são aqueles que podem ser efetuados com recurso apenas a
um componente genético, que tanto pode ser proveniente de uma pessoa do sexo feminino como
do sexo masculino. No seio destes processos, destaca-se a clonagem reprodutiva humana, na qual
um óvulo previamente desnucleado(privado da sua informação genética) é ” fertilizado”com uma
célula não genital que possua todos os cromossomas necessários para dar origem a um ser humano
(por exemplo, uma célula mamaria, intestinal ou estomacal).O embrião resultante da introdução da
célula somática no ovulo desnucleado é transferido para o útero de uma pessoa, culminando o
processo com o nascimento de uma criança que reproduzira ,quase fielmente ,aquela pessoa que
forneceu a célula somática.
Atendendo á particularidade dos processos de procriação assexuada, o nosso texto irá centrar-se
nos outros processos, os de procriação medicamente assistida sexuada, em que se inserem técnicas
muito utilizadas, como é o caso da inseminação artificial (IA), da fertilização in vitro seguida da
transferência de embriões para o útero (FIVETE), da transferência intratubária de gametas (GIFT),
zigotos (ZIFT) ou embriões (TET), e da injeção intracitoplasmática de esperma (ICSI).
A IA consiste na introdução de esperma nos órgãos genitais femininos sem ser por intermedio da
copula. Na GIFT, óvulos e espermatozoides, previamente preparados em laboratório, são
transferidos para o interior das trompas uterinas de modo a que ai se de a sua fusão.
Quando um casal se submete a uma das técnicas de procriação medicamente assistida sexuada, é
comum distinguir em razão da proveniência das células reprodutoras. Se os espermatozoides e os
ovócitos provem do próprio casal estamos na presença de procriação medicamente assistida
homologa. Se os ovócitos não provem do casal, tendo havido recurso a um dador, a alguém que é
exterior ao casal, a procriação diz-se heteróloga. É o que sucede, por exemplo, se na inseminação
artificial, o esperma introduzido nos órgãos genitais de mulher casada não pertencer ao
marido8situacao em que a inseminação artificial é designada pelas siglas IAD)
Um casal com infertilidade (definida como um ano a tentar engravidar sem sucesso) terá
indicação formal para ser avaliado por um especialista em medicina da reprodução. O casal
não recorre a uma técnica, mas a alguém com o conhecimento e ferramentas, para, no menor
espaço de tempo, diagnosticar e resolver o problema, recorrendo à técnica de PMA mais
indicada em cada caso, na eventualidade de alguma ser necessária.
Uma mulher sem parceiro ou um casal de mulheres também necessitará de técnicas de PMA
para engravidar, nomeadamente com recurso a espermatozoides de dador.
Em todas estas situações deve ser realizada consulta num centro de procriação medicamente
assistida, público ou privado.
A consulta, seja realizada num hospital público ou particular, deve ser feita num centro
autorizado pelo Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida ou em articulação
com este. Nem todos os hospitais públicos possuem centro de PMA, mas, normalmente,
todos têm uma consulta para estudo e posterior articulação com um centro de PMA noutra
instituição. Os centros privados funcionam habitualmente de forma autónoma. Todos
obedecem a um conjunto de regras e legislação específica para o uso das técnicas de PMA.
Depois existem outros fatores importantes, como o tipo de infertilidade (se existir). Um casal jovem
cujo elemento masculino não possua ou possua muito poucos espermatozoides será o exemplo
típico de uma probabilidade de sucesso elevada. Uma mulher sem parceiro e sem história de
infertilidade poderá ter maior probabilidade de gravidez que outra a tentar engravidar há 3 anos
sem causa identificada.
Durante um ano existem cerca de 12 tentativas para engravidar (Num ciclo regular o número de
ovulações corresponde às menstruações observadas). Numa inseminação podemos ter apenas um
folículo e um ovócito, pelo que dependemos muito da qualidade desse ovócito para o sucesso.
Numa FIV, se colhermos mais ovócitos, temos maior probabilidade de pelo menos um ter a
qualidade necessária para gerar um ser humano saudável.
Daí que a idade seja tão importante, pois a mulher terá tendência a diminuir a quantidade e
qualidade dos ovócitos. No entanto, qualquer um destes fatores poderá compensar, de certo modo,
o outro. Uma mulher jovem com pouca quantidade de ovócitos (baixa reserva ovárica) pode ter uma
boa probabilidade de gravidez pela qualidade desses ovócitos. Uma mulher de 42 anos pode ter uma
excelente reserva ovárica e, ao serem obtidos 15 ovócitos num tratamento FIV, a probabilidade de
algum(s) deles ser geneticamente perfeito aumenta proporcionalmente, em relação a um caso
semelhante em que são obtidos 4 ovócitos.
Um resultado negativo é sempre um evento indesejado, mas provável em PMA. Em média, menos
de metade dos casais engravida em cada tratamento. Muitas vezes são necessários múltiplos
tratamentos até ser alcançada a tão desejada criança. Uma técnica falhada é sempre um evento
causador de grande dor, especialmente se sobreposto a uma infertilidade de longa duração e outros
tratamentos prévios.
Apesar de muito variável o sucesso das técnicas FIV, pelas razões descritas, está descrito em cerca
de 40% para mulheres com menos de 35 anos até 22% após os 38 e menos de 10% após os 40 anos.
Aqui definimos sucesso como uma criança nascida viva.
A IIU ainda varia mais com o caso articular, podendo, nos casos com indicação para este tipo de
tratamento, oscilar entre os 10 e 20%. Inseminações em mulheres jovens sem infertilidade poderão
ter taxas de sucesso ainda mais elevadas.
Questões bioéticas e a PMA
Várias questões éticas se levantam quando abordamos este tipo de tratamentos. A legislação tem
acompanhado a evolução da sociedade nesta temática.
As vantagens das técnicas de PMA enquanto tratamento de uma doença ou ao proporcionar saúde
no contexto emocional e de realização do ser humano são inegáveis. Simultaneamente, contribui
para o nascimento de crianças que são altamente desejadas e, espera-se, futuramente amadas e
protegidas.
Como desvantagens são, por vezes, apontados aspetos associados às complicações relacionadas com
a gemelaridade. Os gémeos têm uma incidência muito aumentada nos beneficiários de técnicas de
PMA, que pode ultrapassar os 25%. No entanto, este é um risco que pode ser controlado,
transferindo tendencialmente apenas um embrião em cada tratamento. Em Portugal e na restante
Europa, as transferências de 3 ou mais embriões são praticamente inexistentes.
Existem ainda preocupações relacionadas com a seleção de características ou sexo dos bebés
(proibida nesta prática), com as doações de células reprodutivas, as questões sociais acerca dos
beneficiários das técnicas (quem tem direito, até quando) e com as crianças nascidas das técnicas
(como herdarem, por exemplo, alguns dos problemas causadores de infertilidade).
Estas questões têm sido alvo de debate constante e originaram várias alterações na consciência
social e na lei e regulamentações da área ao longo dos anos.
O debate franco acerca de todas estas questões é importante, de forma a evitar a ignorância sobre
todas as implicações (boas e más) da atuação na PMA e apurar a atividade de forma
consensualmente ética para a nossa sociedade.
No Serviço Nacional de Saúde (SNS) são realizados tratamentos financiados pelo erário
público, obedecendo a regras de acessibilidade. Frequentemente um hospital não possui
centro de PMA, articulando-se habitualmente com outro hospital do serviço público que o
tenha. Os centros privados também carecem de licença específica para funcionar, obedecendo
à lei geral em termos de acessibilidade para tratamentos.
A fertilização in vitro produz um efeito colateral negativo: a criação de embriões que excedem o
número daqueles que clinicamente podem ser implantados numa mulher ou daqueles que o casal
aceita que venham a ser transferidos para o útero ou para as trompas da mulher. Surge assim uma
questão eticamente muito sensível, que para alguns100 ilustra o carácter indesejável da utilização
desta categoria de técnicas. Qual o destino a dar aos embriões excedentários?
Devem ser conservados para serem usados pelo casal originariamente beneficiário ou por outro
casal? Devem ser destruídos, mantidos indefinidamente num estado de criopreservação ou
utilizados para fins de investigação científica?
A solução está em aberto, porque depende do estatuto que for reconhecido ou concedido ao
embrião humano. Designadamente se se entender que o embrião não passa de um mero
aglomerado de células humanas, não chocará a possibilidade de ser destruído ou usado para fins de
investigação científica. Mas se se considerar que o embrião é um ente vivo da espécie humana que
irá ser uma pessoa, então o único destino configurável será a sua afectação a um projecto parental.
Na dúvida, pro embrião; penso que se deve seguir a solução que mais protege e dignifica o embrião.
Por isso, há que encarar a sua implantação post mortem como um desvio lícito ao princípio da
biparentalidade, em contraste com o juízo que merece a inseminação artificial de uma mulher ou a
fecundação in vitro, mediante o uso de esperma do outro membro do casal já falecido. E, na falta de
A lei da Procriacao Medicamente Assistida não fixa um numero máximo de ovócitos a inseminar em
cada processo-mas não consagra o principio geral de que apenas deve ser criado o número
considerado necessário para o êxito do processo de fertilização in vitro, ” de acordo com a boa
prática clinica e os princípios do consentimento informado.”
O Art 22,n3, da LPMA entende ser licita a transferencia de embrião para o membro feminino do
casal de beneficiários originários, após morte do membro masculino, destinada a “permitir a
realização de um projeto parental claramente estabelecido por escrito antes do falecimento do pai,
decorrido que seja o prazo considerado ajustado a adequada ponderação da decisão”.
Conclusão
É cada vez mais recorrente o uso da PMA nos dias de hoje. Quer pela autonomia e independencia da
mulher- na sua árdua batalha de reconhecimento socio-economico-;como na decadência da
instituição Casamento .A ambição de alcalcarmos o sucesso e ascencao profissional tem retirado
tempo na organização pessoal e familiar sendo a PMA um subterfugio de extensão do tempo.