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INFERTILIDADE, REPRODUÇÃO ASSISTIDA, CUIDADOS ENFERMAGEM

Algumas definições:

Casais que após 2 anos de atividade sexual regular, “Resultante de uma falência do processo reprodutivo
sem a utilização de métodos contracetivos, não que está subjacente, muitas vezes, uma afeção
conseguem engravidar. orgânica quer feminina, quer masculina”

“Distúrbio dos mecanismos fisiológicos da Crise importante que comporta uma dimensão física,
reprodução constitui um problema médico-social psíquica, emocional e sociocultural.
generalizado e de progressiva incidência, que atinge Atualmente, o termo infértil é aplicado caracteristicamente
uma assinalável camada da população procriativa.” ao casal e não a um único indivíduo, pois culturalmente a
fertilidade é apenas reconhecida como parte integrante de
um relacionamento heterossexual.
Infertilidade afeta 12% dos casais de todo o Mundo,
e cerca de 5% na população em idade reprodutiva.

Em Portugal cerca de 9%-10%


(266 088 e 292 996 mulheres (casais) inférteis)

Etiologia da Infertilidade
Conceitos

• CASAL INFÉTIL Feminina


Aquele que não obteve gravidez após um relacionamento
sexual de um ano, sem o emprego de qualquer método de
Psicológica ou
anticoncepção. Alguns autores estendem este período por Masculina
Psicogénica
dois anos.

• INFERTILIDADE
Dificuldade em ter filhos. Existe fecundação, mas o produto
de conceção não é viável. Desconhecida Mista

• ESTERILIDADE
Impossibilidade de ter filhos por falência do sistema reprodutor
(ex: azoospermias)
• INFERTILIDADE PRIMÁRIA
• HIPOFERTELIDADE Infertilidade Fisiológica de uma primeira gravidez
utilizada para englobar os conceitos de infertilidade e
esterilidade e traduz a incapacidade biológica de ter filhos. • INFERTILIDADE SECUNDÁRIA
Incapacidade fisiológica de uma segunda ou mais
gravidezes

Questões da Infertilidade

A fecundação é o processo pelo qual um ovócito e um


Na puberdade inicia-se a maturação dessas células e a
espermatozoide se unem, dando origem a um zigoto ou
produção dos ovócitos de forma cíclica (de 28 em 28
embrião.
dias) que se vai manter durante toda a vida reprodutiva.
Esta união ocorre no aparelho genital feminino, mais
Em cada ciclo ovulatório a libertação do óvulo maduro
concretamente na trompa de Falópio da mulher.
ocorre aproximadamente a meio do ciclo e é induzida
Pressupõe que haja uma adequada produção de gâmetas por um aumento da hormona LH.
(ovócitos e espermatozoides), que as trompas estejam em
A mulher encontra-se então, no seu período fértil.
bom estado e que o coito ocorra no momento adequado.
Durante o coito, milhões de espermatozoides libertados
A mulher tem, ao nascer, cerca de 40 000 de células
no interior da vagina têm de passar pelo colo do útero e
germinativas em cada ovário.
ascender pela cavidade uterina até às trompas de
Na puberdade inicia-se a maturação dessas células e a Falópio, onde encontram o óvulo.
produção dos ovócitos de forma cíclica (de 28 em 28 dias)
que se vai manter durante toda a vida reprodutiva.
Muitos perdem-se durante o percurso, chegando ao óvulo A probabilidade que um casal, sem problemas de fertilidade,
apenas algumas dezenas. Quando um espermatozoide tem de alcançar uma gravidez, em cada ciclo natural, é cerca
consegue penetrar no óvulo, ocorre imediatamente um de 25 a 30%.
bloqueio, que impede a entrada de outros Na população geral, percentagem de aborto espontâneo e a
espermatozoides. de gravidez múltipla são aproximadamente 15% e 12%,
A partir desse momento, o ovócito fecundado irá sofrer respetivamente.
uma série de alterações, que têm como objetivo a criação
e desenvolvimento de um embrião.
À medida que ocorrem as primeiras divisões celulares, o
embrião desce pela trompa até à cavidade uterina onde
chega por volta do 4.º dia após a fecundação.
Se houver nidação e gravidez surgem alterações hormonais
que impedem o aparecimento da menstruação.

INFERTILIDADE FEMININA
A Esterilidade / Infertilidade está a aumentar nos países desenvolvidos.

Este facto pode ser atribuído a fatores relacionados com o estilo de vida atual:
- relações sexuais mais precoces e com maior número de parceiros,
aumentando o risco de infeções de transmissão sexual;
- gravidezes planeadas para idades mais tardias;
- aumento da prevalência da obesidade ou de baixo peso;
- tabagismo; stress profissional.

Na mulher, podemos considerar as seguintes causas:

Ausência de ovulação (que não implica necessariamente ausência de


FATOR menstruação) ou a disovulação (insuficiência do corpo amarelo),
OVÁRICO poderão ser resolvidas através de fármacos indutores da
ovulação

Ausência de trompas após cirurgia ou obstrução tubar devido a


laqueação, infeções ou endometriose, não permitem o encontro
entre óvulos e espermatozoides, e consequentemente a
ocorrência de fecundação.
Presença de aderências pélvicas provocadas por cirurgias ou
FATOR TUBAR
infeções locais, pode levar à perda de mobilidade das trompas,
que ficam sem capacidade para captar o óvulo no momento da
ovulação.
Patologia tubar é a principal indicação para a realização de uma
Fecundação in Vitro.

Presença de patologia intrauterina (pólipos, miomas, sinéquias –


cicatrizes/aderências que ocorrem no tecido endometrial após
manipulação cirúrgica, infeções,…) pode dificultar a fixação do
FATOR UTERINO embrião ao útero. A cirurgia por via endoscópica (histeroscopia
cirúrgica) é geralmente o tratamento adequado.
Nas situações de infeção do endométrio - endometrite – recorre-
se à terapêutica com antibióticos
Infeções, quistos ou cirurgias do colo do útero são situações que
podem alterar a qualidade e quantidade do muco produzido, e
FATOR assim dificultar a ascensão dos espermatozoides para a cavidade
CERVICAL uterina.
Estes problemas podem resolver-se com terapêutica médica
e/ou com Inseminação Intrauterina (IIU).

Endometriose é uma doença de provável causa imunológica, que


se caracteriza pela presença de células endometriais (idênticas às
do revestimento interno do útero) noutras localizações: trompas,
ovários, peritoneu, … Estas células tornam -se mais ativas
durante a menstruação, podendo provocam dores e formação de
ENDOMETRIOSE quistos nos ovários.
No tratamento da endometriose podem usar-se medicamentos
que inibem a função do ovário (pílula, danazol) ou recorrer a
terapêutica cirúrgica.
A Fecundação in vitro é também uma indicação terapêutica
nestas situações.

A fertilidade diminui naturalmente à medida que a idade vai


avançando.
IDADE Isto acontece porque a quantidade e a qualidade dos óvulos
presentes no ovário vai diminuindo (escassa reserva folicular),
esgotando-se na menopausa.

Doenças Doenças Doenças


ENDOCRINOLÓGICAS ONCOLÓGICAS AUTOIMUNES

Os tumores malignos da escavação pélvica As doenças autoimunes são doenças em


podem obrigar a cirurgia, com remoção de que o sistema imunológico pode agredir o
A diabetes, a disfunção da tiroide órgãos vitais à fertilidade. Mesmo no próprio organismo.
e a hiperprolactinemia, entre cancro da mama é por vezes necessário
outras, podem ser responsáveis A mulher pode criar anticorpos contra os
retirar ambos os ovários, ficando a doente espermatozoides do marido, impedindo
por distúrbios da ovulação ou em menopausa.
prejudicar a qualidade dos óvulos que estes fecundem o óvulo, ou ainda
e do endométrio. A radioterapia da região pélvica e a produzir anticorpos na cavidade uterina
quimioterapia podem provocar atrofia dos que vão dificultar a implantação do
ovários, com destruição dos óvulos. embrião.

ANOMALIAS DO CARIÓTIPO CAUSA DESCONHECIDA

Em cerca de 10% dos casos de infertilidade não se encontra nenhum


O cariótipo é um exame que permite analisar a fator causal, parecendo que tudo está bem em ambos os membros
constituição cromossómica de um indivíduo. É do casal.
geralmente efetuado através de uma análise de
sangue. A indicação para tratamento de Fecundação in Vitro é uma
possibilidade e, nessa altura, podem detetar-se algumas anomalias
Na mulher, uma alteração do número ou da estrutura pois é possível observar os ovócitos, os espermatozoides, a
dos cromossomas pode estar associada a alterações da fecundação e o desenvolvimento embrionário.
ovulação, produção de óvulos imaturos ou anormais,
ou ainda a falência prematura do ovário. Podem encontrar-se ovócitos de má qualidade, ausência de
fecundação ou anomalias do desenvolvimento embrionário.
INFERTILIDADE MASCULINA

As células reprodutoras masculinas - os espermatozoides- são


produzidos nos testículos, através de um processo que é controlado
por hormonas e que demora cerca de 70 dias.

Os espermatozoides são constituídos por cabeça (onde se encontra o


núcleo celular que contém 23 cromossomas), porção intermédia
(onde se produz a energia) e por cauda/flagelo que permite os seus
movimentos.

Os espermatozoides saem do testículo por canais que constituem a


via seminal e que têm início no epidídimo. Continuam pelos vasos
deferentes, seguindo pelos canais ejaculadores que atravessam a
próstata e terminam na uretra.

Durante a ejaculação, os espermatozoides vão juntar-se às secreções


procedentes das vesículas seminais e da próstata, que são úteis para
a sua sobrevivência e progressão, constituindo o esperma.

A capacidade reprodutora do homem depende de uma função sexual


(ereção e ejaculação) e uma função espermatogénica (formação de
espermatozoides) normais.

A fertilidade masculina pode sofrer alterações quer por diminuição


da quantidade e/ou qualidade dos espermatozoides, quer pela
impossibilidade mecânica de depositar o esperma no fundo da vagina Se um casal com atividade sexual regular que
durante o coito (impotência eréctil, ausência de ejaculação). não utiliza qualquer método contracetivo, não
consegue conceber ao fim de um ano, justifica-
Num casal estéril, a causa da esterilidade é masculina em cerca de 40% dos se iniciar estudos de esterilidade em ambos os
casos, feminina noutros 40% e mista, nos restantes 20%. membros do casal.

Estudos de Esterilidade

ESPERMOGRAMA
Aceita-se como normal a presença de mais de 20 milhões de
Análise do esperma para determinar a quantidade de espermatozoides por mililitro de esperma, com um mínimo de 50% de
espermatozoides (concentração), assim como a formas móveis e progressivas, e pelo menos 30% das formas
qualidade do respetivo movimento (mobilidade) e da estruturalmente normais.
forma (morfologia) dos mesmos.
Um resultado anormal pode evidenciar diversas alterações:
• Azoospermia: Ausência de espermatozoides
• Oligozoospermia: Diminuição da quantidade deespermatozoides
• Astenozoospermia: Diminuição da mobilidade
• Teratozoospermia: Diminuição das formas normais
• Necrozoospermia: Diminuição das formas vivas
Caso se confirme o diagnóstico de esterilidade de causa masculina é
conveniente a observação do marido em consulta de Urologia / Andrologia

ANÁLISES HORMONAIS BIÓPSIA TESTICULAR ESTUDOS GENÉTICOS


Consistem na determinação Permite estudar o processo de formação Em alguns casos mais complexos de fator
no sangue das hormonas que dos espermatozoides (espermatogénese) masculino, devem ser realizados estudos
controlam o funcionamento e das suas possíveis alterações, mediante cromossómicos no sangue (Cariótipo).
testicular. a extração de uma pequena amostra de Em casos selecionados pode ser necessário
tecido do testículo. É realizado em regime realizar o estudo dos cromossomas nos
de ambulatório com anestesia local. espermatozoides ou estudos de genética
molecular (por exemplo, microdelecções do
cromossoma Y, mutações do gene da fibrose
quística).
TRATAMENTO da esterilidade masculina Uma vez concluído o estudo andrológico, é estabelecido um
possível tratamento em função da causa.

Tratamentos Médicos
Em alguns casos de diminuição da produção testicular de
espermatozoides, podem ser realizados tratamentos
hormonais. Quando não é possível efetuar um tratamento
Em caso de suspeita de infeção seminal, devem realizar- se específico e se após a preparação do esperma no
tratamentos antibióticos. laboratório existir um número suficiente de
espermatozoides de boa qualidade, deve considerar-se
a possibilidade de realizar técnicas de reprodução
Cirurgia Andrológica
assistida: inseminação artificial intrauterina conjugal
Nos casos em que existe obstrução (pós-infeciosa, por
(IAC), fecundação “in vitro” (FIV) ou microinjeção
laqueação dos deferentes -vasectomia), ausência
intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
congénita de parte da via seminal ou ausência de
ejaculação (lesões medulares), é possível a aspiração de
espermatozoides testiculares (TESA), para serem utilizados
numa fecundação “in vitro”. Quando tal não seja possível, a única alternativa
• Em alguns casos de obstrução da via seminal, pode médica será recorrer a uma inseminação artificial com
tentar-se a sua reparação, unindo os extremos esperma de dador anónimo (IAD).
saudáveis mediante microcirurgia.
• Se existir varicocelo (varizes das veias espermáticas)
pode haver indicação para esclerose ou laqueação
cirúrgica da veia espermática.

DIAGNÓSTICO de INFERTILIDADE / ESTERILIDADE

Existem uma série de exames destinados a avaliar a(s) causa(s) esterilidade.


Cada um exame avalia diversos fatores, podendo estar indicados diferentes exames para cada caso específico.

1. Análises Hormonais
2. Registo da temperatura
3. Ecografia ginecológica
4. Histerossalpingografia (HSG)
5. Histeroscopia (HSC)
6. Teste pós-coital (teste de SIMS - Hühner)
7. Espermograma
8. Biópsia do Endométrio
9. Cateterismo uterino
10. Celioscopia Diagnóstica

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